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CAPÍTULO 11: PROJETO DE LEI DA CÂMARA 5069/2013 – CRIMINALIZA A REALIZAÇÃO DE ANÚNCIO DE MEIO ABORTIVO OU INDUZIMENTO AO ABORTO Déborah Dias Gonçalves Ingrid Oliveira Janaína Vasconcelos Ferreira João Paulo Rezende Maria Rita de Cassia Prado da Silva Marinna Silva Santos INTRODUÇÃO O presente trabalho tem a finalidade de abordar um tema especificamente polêmico, arguindo acerca Do Projeto de Lei da Câmara 5069/2013, que trata da criminalização de realizar anúncio de meios abortivos ou induzimento ao aborto. Para interpelar esse assunto será visto por intermédio deste, o aborto no Brasil, considerado como crime contra a vida humana pelo Código Penal, em vigor desde 1940. Sendo uma questão constitucional , o art. 5º claramente cita entre os cinco direitos mais relevantes considerados fundamentais ,o direito à vida. Sendo abordado também, a influência da mídia no comportamento humano, o que é extremamente perigoso para nossa evolução sociocultural, e liberdade de pensamentos. “Em sua maioria o indivíduo não percebe ou não reconhece. A mídia influencia na política, nos hábitos, no consumo e no "desconhecimento" de determinados fatos que são importantes para a processo de libertação do homem.” ( RESULTADO DE PESQUISA , CURSO DE PSICOLOGIA UNEP, 2011) Assim chegando ao assunto almejado, o PLC 5069/2013 e a criminalização da conduta de anunciar meio abortivo ou indutivo ao aborto, tendo uma prévia introdução acerca do assunto em geral, espera-se ,porquanto, que esta pesquisa seja de grande proveito intelectual, uma vez que traz de forma rápida os conceitos principais acerca do tema proposto. 1. ABORTO NO BRASIL Vindo a ser citado explicitamente na legislação do Código Penal do Império em 1830, o aborto é a interrupção da gravidez por parte da pessoa ou terceiro. É considerado crime, havendo exceções em apenas alguns casos. Júlio Fabbrini Mirabete (2006, p.93) enuncia como aborto: “O aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. É a morte do ovo, embrião, ou feto, não implicando necessariamente a sua expulsão. O produto da concepção pode ser dissolvido, reabsorvido pelo organismo da mulher ou até mumificado, ou pode a gestante morrer antes de sua expulsão. Não deixará de haver no caso o aborto”. É importante salientar que as principais formas de aborto são divididas entre as não puníveis e não previstas em lei, sendo atípicos, subdividindo-se ainda entre o aborto natural ou espontâneo, acidental ou culposo. Os abortos típicos e jurídicos estão previstos em lei, todavia não são puníveis, sendo estes previstos no artigo 128, incisos I e II. No primeiro caso é o aborto terapêutico, que ocorre quando não há outro meio de salvar a vida da gestante; e o outro é considerado sentimental e humanitário, pois é autorizado em caso de estupro. O aborto eugênico, quando o feto apresenta graves e irreversíveis defeitos genéticos, como anencefalia, deixou de ser crime em 2012. Por fim, os abortos típico, antijurídico e culpável estão previstos em lei e são puníveis, podendo ser doloso ou econômico. Os artigos do Código Penal, no auto aborto (art. 124) a pena é de detenção, de 1 a 3 anos; no aborto provocado por terceiro, sem consentimento (art. 125), a pena é de reclusão, de 3 a 10 anos; no aborto consensual (art. 126), a pena é de reclusão, de 1 a 4 anos. Se a gestante for absolutamente incapaz, a pena do aborto consensual também será de 3 a 10 anos. Nas hipóteses de aborto legal tem-se uma discussão envolvendo controvérsias quanto a situação moral, ética e legal da prática divide-se em dois grupos, sendo eles os “pró-vida”, que vão contra a prática do aborto, defendendo que o feto é uma pessoa e deve ter os mesmos direitos que qualquer outro cidadão; e os “pró-escolha”, que gritam pelo direito das mulheres quanto a liberdade individual, podendo decidir sob seu próprio corpo. O aborto diante estupro ou atentado violento ao pudor (artigo 213 do Código Penal) é permitido com o consentimento da gestante, ou caso seja incapaz, exige-se consentimento de seu representante legal. O artigo 128, inciso II exclui a ilicitude do ato, uma vez que acarretaria danos maiores à mulher ao gerar um filho fruto de um crime. Os abortos terapêuticos são recomendados por médicos a fim de proteger a saúde física e mental da gestante devido intercorrência de enfermidade de natureza grave na gestante. Encaixando-se em aborto terapêutico, a gestação de feto anencéfalo é considerada gravidez de risco, pois este pode ser gerado em posição anormal, havendo perigo de hemorragias, acúmulo de líquido no útero ou deslocamento de placenta. A discussão é recente, haja vista que a prática deixou de ser reconhecida como crime apenas em 2012. Em 2013, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) realizou uma estimativa indicando que mais de 8,7 milhões de brasileiras com idade entre 18 e 49 anos já praticaram ao menos um aborto. Destes, 1,1 milhões foram abortos provocados. 2. A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NO COMPORTAMENTO HUMANO Mídia pode-se dizer como meios de comunicação em geral, canais e ferramentas para produção e a transmissão de informações e que atingem a grande massa de pessoas. Esta serve para estabelecer uma comunicação entre a pessoa ou empresa que queira comunicar-se e o público alvo, atualmente engloba as novelas, minisséries, propagandas televisivas, panfletos, internet e pode influenciar significativamente em todos os aspectos da vida das pessoas, pois determina modos de vida, relacionamentos e maneiras de agir frente a diversas situações que o indivíduo pode encontrar durante a vida. O comportamento e o sentimento das pessoas podem ser influenciados pela presença de outras, replicando seus comportamentos inconscientemente, principalmente na infância e adolescência em que os indivíduos estão mais aptos a captarem informações fora do âmbito familiar. Há ainda aqueles que levam o que a mídia traz como verdade absoluta e irrevogável, aceitando facilmente o que a mídia oferece e dependendo dá informação recebida isso pode ter consequência catastrófica na vida do indivíduo e/ou de outros, alterando a autoimagem, exercendo grande atuação na construção da personalidade do indivíduo e na maneira de ser, agir e sentir. Como a mídia impõe regras de comportamento, muitas pessoas idealizam suas vidas conforme essas regras que se não cumpridas fazem com que estes indivíduos se tornem frustrados e infelizes. Ela é capaz de trazer estímulos suficientes para que alguém pratique uma ação que antes era contrária aos seus ideais. Com grande poder de persuasão, a mídia pode alterar o modo de vida de uma pessoa e até mesmo de uma sociedade, a preocupação é de que forma as pessoas são influenciadas pela mídia e que tipo de informação elas absorvem, como uma "faca de dois gumes", tanto tem seu lado positivo como um significativo lado negativo, basta saber filtrar o que realmente é necessário e até que ponto usar as informações que a mídia traz utilizando-se de uma análise crítica. O debate acerca da descriminalização do aborto está em alta e com grande força nos noticiários brasileiros neste segundo semestre de 2015, quando o Projeto de Lei 5069/2013 passou a ser divulgado com mais amplitude. Tal projeto fora elaborado pelo deputado federal Eduardo Cunha para discutir a revisão do crime de aborto e das medidas utilizadas no tratamento da mulher que sofrer violência sexual. O assunto ganhou destaque nos últimos meses do ano, com a votação do Projeto de Lei 5069/2013na Câmara. Apesar de várias propostas de leis com temas atuais, a polêmica maior de tal documento deriva da proibição de uso de medicamentos como a pílula do dia seguinte e a condução da violentada à delegacia para a denuncia. Entre todos os meios midiáticos, a maior veiculação de noticias sobre a discussão relativa à descriminalização do aborto no Brasil dá-se na mídia online com um caráter informativo e opinativo de pouca profundidade histórica, cientifica ou legal, que cria um trame de debates de caráter extremamente pessoal entre indivíduos pró-vida e a favor do aborto. Tais debates não possuem dimensão suficiente para abarcar as noções de Direito, especialmente o ramo Constitucional, para fundamentar os pontos e contrapontos fundamentais para a compreensão contextualizada da polêmica. Há manipulação da mídia em deixar de apresentar informações relevantes sobre aspectos técnicos e jurídicos da tramitação das iniciativas voltadas à descriminalização do aborto. Um exemplo é a não divulgação de que o PL 5069 tem por objetivo substituir a redação do art. 126 do Código Penal, na qual se lê “Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante” por ”Art. 126-A. Induzir ou instigar a gestante a praticar aborto ou ainda lhe prestar qualquer auxílio para que o faça, ressalvadas as hipóteses do art. 128.” . Assim a predominância de formações discursivas nas quais o discurso opinativo induzem ao desvirtuamento do sentido real, técnico e jurídico de princípios, normas e conceitos consolidados no ordenamento jurídico brasileiro, o que gera uma não produção de sentido que ocorre com o emprego de ideologias e expressões como “aborto legal”,” dignidade da mulher”. “ direito do próprio corpo”, “ reprodução “ e “ feminismo” em associação com o abortamento . Através dos textos divulgados, tanto online quando em periódicos físicos, induzem a correlações simplificadoras como aborto e a redução da criminalidade, ou controle de natalidade, ou garantia da melhoria da saúde da mulher. Isto geralmente é facilitado à medida que são omitidas informações sobre as consequências, em termos de saúde pública, da legalização do aborto em países desenvolvidos, ou até mesmo do impacto disso na cultura do país. 3. O PROJETO DE LEI 5069/2013 E A CRIMINALIZAÇÃO DA CONDUTA DE ANUNCIAR MEIO ABORTIVO OU QUE INDUZA AO ABORTO O projeto de lei complementar 5069 apresentado em 27 de fevereiro de 2013 de autoria dos deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ), Isaías Silvestre (PSB/MG), João Dado (PDT/SP), André Moura (PSC/SE), Arolde de Oliveira (PSD/RJ), Máriton Benedito (PT/RO), Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP), Áureo Lídio (PRTB/RJ), Lincoln Portela (PR/MG), João Campos (PSDB/GO), Roberto de Lucena (PV/SP), Marcos Rogério (PDT/RO) e José Linhares (PP/CE) tem como finalidade a adição do artigo 127-A ao Código Penal Brasileiro. A elaboração do projeto pretende converter em crime a conduta do agente que induzir, instigar ou auxiliar a gestante a abortar, já que a lei atual apenas prevê a pena de prisão para os envolvidos diretamente no aborto, ou seja, a gestante e quem nela realizar as manobras abortivas. É importante ressaltar que a conduta de anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto, já é prevista pelo vigente ordenamento jurídico pela Lei das Contravenções Penais (DL 3688/41), assim o PL tenciona transformar e punir como crime uma contravenção penal que é hoje punida apenas com multa. Nos termos do projeto, o anúncio de processo, substância ou objeto destinado a provocar o aborto, induzir ou instigar gestante a usar substância ou objeto abortivo, instruir ou orientar gestante sobre como praticar aborto, ou prestar-lhe qualquer auxílio para que o pratique, ainda que sob o pretexto de redução de danos cominaria em pena de detenção de quatro a oito anos. O parágrafo primeiro do artigo 127-A ainda estabelece uma pena maior na circunstância de o agente é funcionário da saúde pública, ou exerce a profissão de médico, farmacêutico ou enfermeiro: reclusão se cinco a dez anos. Por fim, o parágrafo segundo prevê o aumento das penas de um terço a se o sujeito passivo (gestante) for menor de idade. O principal autor do projeto, deputado Eduardo Cunha, usa como justificativa para tal uma possível “imposição da legalização do aborto por organizações internacionais de ideologia neo-malthusiana de controle populacional que estariam supostamente ligadas a interesses intrinsecamente capitalistas”. Para Cunha, o sistema jurídico brasileiro encontra-se mal aparelhado para enfrentar essa ofensiva internacional, que seria contrária à vontade da posição majoritária da sociedade brasileira que se opõe ao aborto. O aparente objeto da reforma legislativa é a garantia da efetividade das normas constitucionais, que preceituam a inviolabilidade do direito à vida. Nessa linha de pensamento, surge a necessidade de específica previsão legal para condutas como o induzimento ao aborto. Consoante o entendimento dos autores do projeto, a criação do novo artigo coibiria, através da punição mais gravosa, a participação ou interferência de funcionários da saúde pública, médicos, farmacêuticos ou enfermeiros nesses tipos de delito. O aumento de pena deriva do julgamento de que essa categoria é “obrigada” a resguardar o direito a vida, inadmitindo, portanto, a relativização da prerrogativa constitucional. Além dos aspectos já apresentados, pela proposta, a vítima de estupro teria que comprovar que houve a consumação do delito previsto pelo artigo 213 do Código Penal mediante apresentação de boletim de ocorrência e exame de corpo de delito para conseguir a autorização para o procedimento de aborto. Atualmente, basta a palavra da gestante de que foi estuprada. Essa mudança se daria em razão da modificação da Lei de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (L.12845/13) pelo referido projeto. Esse tópico foi extremamente criticado, já que a proposta mitigaria a prerrogativa de atendimento humanitário em serviços de saúde. Não é razoável que a mulher tenha que ser submetida a exames invasivos após tamanha violência para poder requerer um direito previsto pela Lei Penal em seu artigo 128, II. Aprovado pela CCJ, o projeto de Eduardo Cunha deverá ser analisado pelo plenário da Câmara e Senado antes de se tornar lei. Embora o PL 5069/2013 esteja sendo aceito pela maioria da Câmara, parte significativa dos deputados considera as medidas um retrocesso. Na realidade, esses parlamentares temem a margem de consequências ainda não previstas pela lei que esse projeto ensejar, caso da temida restrição do uso da “pílula do dia seguinte” que é hoje comercializada livremente em qualquer farmácia. Tal temor resulta da proposta feita pela maioria da CCJ de inclusão no texto uma alteração à lei editada pelo Governo Federal, que define como “profilaxia da gravidez” a “medicação com eficiência para prevenir a gravidez”. Nesse contexto, através da PL 5069/13, o termo profilaxia da gravidez poderia se referir ao “procedimento ou medicação, não abortivos, com eficiência precoce para prevenir gravidez resultante de estupro”. Colocados esses aspectos, surge a concepção de que questões puramente ideológicas não devem incidir na criação ou modificação de leis. De fato, a legislação deve ter como pressuposto básico a proteção à pessoa humana e não às crenças e ideais particulares. Ademais, o direito a informação é constitucionalmente tutelado e todo projeto de lei que ameace, ainda que discreta ou aparentemente, prerrogativas consolidadas devem passar por uma rigorosa, responsável e coerente análise. A discussão acerca do abortoé importante questão de saúde pública em um país em que práticas abortivas clandestinas respondem pela quinta maior causa de morte de mulheres gestantes. Que cada um saiba, portanto, distinguir até que ponto é conveniente ou inadmissível privar, valendo-se da lei penal, a mulher de informações de cunho medicinal ou submetê-la a comprovar o que salta aos olhos: a dimensão e a gravidade dos episódios de violência que tantas brasileiras sofrem diariamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pauta-se como consideração ao término de estudo supra não somente nas Leis acerca do tema, mas também no problema sociológico, cultural que rodeiam o assunto em tela. Tentando sempre nos manter extremamente imparciais, para que se chegue a uma opinião crua, e individual. Assim concluímos que em questão não somente do PLC 5069/2013, mas de todo contexto do aborto, haverá sempre idéias controversas, todas elas com uma base sólida, sendo científica, religiosa, social ou cultural. REFERÊNCIAS Barbosa, Diego. A Criminalização do Aborto no Brasil. Disponível em: http://jurisdiego.jusbrasil.com.br/artigos/111207115/a-criminalizacao-do-aborto- no-brasil. Acesso em 11/11/2015. CIARDO, Fernando. Do Aborto - Artigo 124 a 128 do Código Penal. Disponível em: http://ferciardo.jusbrasil.com.br/artigos/177420435/do-aborto-artigo-124-a- 128-do-codigo-penal. Acesso em 11/11/2015 Coimbra, Celso Galli. Mídia sobre aborto no Brasil: análise da comunicação online no discurso de ONGs feministas e da grande imprensa na perspectiva do Direito. 2006. Porto Alegre (RS) MELO, Felipe. As 7 maiores mentiras sobre o PL 5069. Disponível em: https://felipeoamelo.wordpress.com/2015/10/31/as-7-maiores-mentiras-sobre-o- pl-5069/. Acesso em 11/11/2015 MELO Jacira. A POLÊMICA DO ABORTO NA IMPRENSA. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/viewFile/12159/11429. Acesso em 11/11/2015. SANTOS, Bruno Droghetthi . Saiba em quais circunstâncias o aborto é legal. Disponível em : http://www.saudeesustentabilidade.org.br/index.php/saiba-em- quais-circunstancias-o-aborto-e-legal/. Acesso em 11/11/2015. SANTOS, Débora. Supremo decide por 8 a 2 que aborto de feto sem cérebro não é crime. Disponível em http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/04/supremo-decide-por-8-2- que. Acesso em 11/11/2015.
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