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Distúrbios ósseos, articulares e reumatológicos Maria Nívea Bezerra da Silva – BIOMED 2023.2 Doenças Reumatológicas Não Autoimunes Artrite: Inflamação das articulações, caracterizada como SINTOMA quando dita de forma isolada. Termos como artrite reumatoide, osteoartrite, artrose, são considerados DOENÇAS. Osteoartrite/artrose/osteoartrose/reumatismo → Desgaste das cartilagens que revestem as articulações (principalmente as sinoviais), normalmente se manifestando de forma localizada. É a primeira mais prevalente dentre as não autoimunes, a segunda é a osteoporose. - As monoartrites são mais comuns. - Em doenças reumatológicas autoimunes, é comum que haja artrites simétricas ou poliartrites. - A osteoporose é muito comum em mulheres pós- menopausadas, isso acontece pois nesse período há uma baixa de estrógeno, que funciona como regulador positivo da osteoprogesterina, dessa forma, com baixos níveis, não há como impedir a superativação da via RANK-RANKL, a responsável pelo processo de reabsorção óssea. Seu diagnóstico padrão-ouro é a densitometria óssea. [Marcadores de Síntese (Formação óssea)] Osteocalcina – Principal proteína não-colagênica dos ossos. Possui algumas limitações como ser muito instável in vivo e pouco estável in vitro, além de aumentar seus níveis com a dieta. Osteoprogesterina Fosfatase alcalina óssea – Possui uma vantagem que é mensurá-la. Dentre os três marcadores citados, é considerada a melhor, uma vez que sua sensibilidade e especificidade são maiores. - Geralmente, os marcadores de bioquímicos de reabsorção óssea são considerados melhores que os de síntese, para informar se o seguimento de tratamento do paciente está ocorrendo de forma adequada ou necessita de ajustes. [Marcadores de Reabsorção Óssea] Cálcio urinário – Sofre muita interferência metabólica, apesar de ser um teste barato. Hidroxiprolina urinária (aminoácido modificado muito encontrado no colágeno tipo 1) – Representa de 10 – 13% da hidroxiprolina metabolizada no osso. Peptídeos interligadores do colágeno tipo 1 – Mais sensíveis e mais específicos que os outros marcadores de reabsorção e síntese. o Piridinolina (PYD) o Deoxipiridinolina (DPD) – Melhor das 2. - Ambos são marcadores urinários, o que se torna um interferente em pacientes com problemas renais. !!! OBS.: A fosfatase ácida também pode ser utilizada como marcador de reabsorção óssea. - As extremidades do colágeno tipo 1 se linearizam, formando regiões denominadas telopeptídeos terminais, esses telopeptídeos são também utilizados como marcadores, sendo considerados os melhores de todos, podem ser de dois tipos: o CTx (Carbono terminal) – Consegue ser medido no soro (vantagem), não sofre influência do ciclo circadiano, hormonal, nem da dieta, é estável in vitro e in vivo. o NTx (Amino terminal) – Sua única diferença em relação do CTx é que não pode ser mensurado no soro. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) É uma doença inflamatória sistêmica crônica, de causa desconhecida, que não possui cura e que segue uma evolução de exarcebações e remissões alternadas. - Afeta predominantemente mulheres em idade reprodutiva (9-10x mais). - O que se sabe é que a reação começa na pele, através da exposição aos raios-UV, fazendo com que os queratinócitos entrem em apoptose, gerando autoanticorpos contra os antígenos nucleares dos apoptossomos. ▪ A idade de início da doença varia de 2 a 90 anos ▪ Prevalência na população = 1:2000 (estimativa conservadora) ▪ Brasil → 200mil + de mil diagnósticos por ano - É uma doença poligênica, normalmente é solicitado um HLAgrama para fazer um rastreio genético quando se tem suspeitas de LES ou outra condição autoimune. - A identificação de genes de susceptibilidade constitui uma área ativa de investigação: HLA-DR2 e HLA-DR3 conferem aumento moderado no risco de LES. [Comprometimentos durante fase de atividade] Comprometimento de múltiplos sistemas orgânicos durante os períodos de atividade da doença. - As manifestações menos frequentes são as cardíacas, pulmonares e linfáticas. Figura: Representação da vasculite periungueal, condição em que os vasos sanguíneos das extremidades dos dedos se tornam mais superficiais, sendo atacados pelo componente autoimune da doença, formando úlceras. - Normalmente o rash cutâneo só está presente em pacientes com atividade da doença. [Lesões Cutâneas] - Os autoantígenos nucleares (Exemplos.: snRNP, anti-Ro, etc.) concentram-se em vesículas encontradas na superfície dos queratinócitos que sofrem apoptose. - A luz UV, que exacerba a atividade da doença na maioria dos pacientes com LES, por poder induzir apoptose dos queratinócitos. [Associação do Lúpus Eritematoso Sistêmico com Deficiências Genéticas] O autoanticorpo se liga ao autoantígeno, sendo acrescidos pela ligação do sistema complemento na porção Fc do autoanticorpo, formando um grande imunocomplexo que é levado até o glomérulo, onde causará um dano físico no rim, induzindo a nefrite lúpica. Características Imunológicas do LES [Principais características imunológicas] → Presença de autoanticorpos dirigidos contra múltiplos antígenos nucleares: • DNA de filamento duplo • DNA de filamento simples • Histonas • Nucleossomos • snRNP (small nuclear ribonucleoprotein particle): Complexos nucleares de proteína e RNA altamente conservados que atuam no processamento do RNAm; → Presença de numerosos outros autoanticorpos: - Os complexos Ac+Ag podem lesar os tecidos ao ativar o complemento e ao ocupar receptores Fc dos macrófagos e em outras células inflamatórias. Autoanticorpos: Anti-plaquetas e anti-eritrócitos, causando trombocitopenia e anemia hemolítica. Também há baixa de plaquetas, eritrócitos e linfócitos, condição conhecida como pancitopenia. - Anormalidades das células T e B - Ocorre declínio dos níveis séricos de complemento (C3 e C4 principalmente) durante as exarcebações da atividade da doença. - Normalmente para medir a atividade do complemento se utiliza um teste chamado CH50, nele utiliza-se uma placa de 96 poços com hemácias de ovelha sensibilizadas por imunoglobulinas humanas, no fim é adicionado o soro do paciente em titulações seriadas para verificar se há complemento disponível ou não, caso esteja, o meio fica turvo. - O resultado é dado baseado na quantidade máxima de titulações que lisa pelo menos 50% das hemácias que estão no fundo da placa. - No paciente lúpico o CH50 diminui, pois há menos complemento disponível. - Num indivíduo saudável normalmente o CH50 se encontra dentro da faixa de valores de referência considerada normal. Diagnóstico do Lúpus Eritematoso Sistêmico ▪ Critérios ACR: Diagnóstico do LES. ▪ SLEDAI score: Atividade do LES. ▪ Quantificação do Complemento: C3 (90,0 a 180,0 mg/dL), C4 (10,0 a 40,0 mg/dL) e CH50 (60 a 144 U CAE). → Autoanticorpos: • FAN: Indicação da presença ou não de autoanticorpo. • Determinação do autoanticorpo: anti-DNAss, anti- Sm, anti-DNAds, etc. CRITÉRIO DE ENTRADA OBRIGATÓRIO – Fator antinuclear (FAN) com título ≥ 1:80 nas células HEp-2 ou teste equivalente positivo. ↓ Se ausente, não classificar como LES. Se presente, aplicar os critérios adicionais. ↓ CRITÉRIOS ADICIONAIS 1. Dentro de cada domínio, apenas o critério de maior escore é contado para a pontuação total. 2. A ocorrência de um critério em apenas uma ocasião é suficiente. 3. Os critérios não precisam ocorrer simultaneamente. 4. Não considerar um critério se houver uma explicação mais provável que o LES. ↓ Domínios e critérios clínicos Escore Domínios e critérios imunológicos Escore Constitucional Febre 2 Anticorpos antifosfolípides Anticardiolipina ou anti-BPG1 OU anticoagulante lúpico2 Hematológico Leucopenia Trombocitopenia Hemólise autoimune 3 4 4 Complemento C3 ou C4 baixos C3 e C4 baixos 3 4 Neuropsiquiátrico Delirium Psicose Crise epilética 2 3 5 Anticorpos específicos para LES Anti-dsDNA ou anti-Sm 6 Mucocutâneo Alopécia não cicatricial Úlceras orais Lúpus cutâneo subagudo ou discoide Lúpus cutâneo agudo 2 2 4 6 Serosite Derrame pleural ou pericárdico Pericardite aguda 5 6 Musculoesquelético Envolvimento articular 6 Renal Proteinúria > 0,5g/24h Nefrite lúpica classe II ou V Nefrite lúpica classe III ou IV 4 8 10 ↓ PONTUAÇÃO TOTAL ↓ Classifique como lúpus eritematoso sistêmico se pontuação ≥ 10. !!! OBS.: É obrigatório que se tenha PELO MENOS UMA pontuação nos domínios clínicos. Importância do laboratório clínico no diagnóstico do LES Determinação do SLEDAI score – Importante para verificar a atividade da doença. É avaliado normalmente de 6 em 6 meses para verificar se o paciente lúpico entrou em remissão. Os sintomas vasculares e do SNC são os mais perigosos para um paciente com LES. Já os musculoesqueléticos e renais são menos graves. Normalmente, se o paciente se encontra estável, é admissível que seu score aumente ATÉ 3 PONTOS desde a última consulta, mesmo que ainda esteja abaixo do ponto de corte (10 pontos). ➢ PESO 8 Convulsão – Início recente, excluindo-se outras causas (metabólicas, infecciosas, uso de drogas, etc.) Psicose – Distúrbio grave na percepção da realidade: alucinações, incoerências, pensamento ilógico, bizarro e desorganizado, comportamento catatônico. Excluir uremia e uso de drogas. Síndrome crônica cerebral – Função mental alterada com comprometimento da orientação, memória e outras funções intelectuais, com início rápido e flutuação do quadro clínico. Inclui turvação da consciência com redução da capacidade de concentração, distúrbio da percepção, incoerência na fala, insônia ou hipersonia diurna, com aumento ou diminuição da atividade psicomotora. Excluir causas metabólicas, infecciosas ou uso de drogas. Distúrbios visuais – Modificações retinianas do LES: Presença de corpos citóides, hemorragias retinianas, exsudatos serosos ou hemorrágicos da coroide ou neurite óptica. Excluir hipertensão, infecção ou uso de drogas. Distúrbios dos pares cranianos – Neuropatia sensitiva ou motora envolvendo os pares cranianos. Cefaleia lúpica – Cefaleia intensa persistente. Não responde aos tratamentos habituais. AVC – Acidente vascular cerebral (AVC) de acometimento recente. Excluir aterosclerose. Vasculite – Ulceração, gangrena, nódulos digitais dolorosos, infartos periungueais, hemorragias subungueais, biópsia sugestiva de vasculite. ➢ PESO 4 Atrite – Mais de duas articulações acometidas, com dor e sinais flogísticos (calor, rubor e edema). Miosite – Mialgia ou fraqueza proximal, associada a elevação da creatinofosfoquinase, aldolase, ou eletromiografia ou biópsia muscular sugestivas. Cilindrúria – Cilindros hemáticos ou céreos no sedimento urinário. Hematúria – Mais de cinco hemácias por campo no sedimento urinário. Excluir litíase, infecção e outras possíveis causas. Proteinúria – Mais de 0,5g em 24 horas. Piúria – Mais de cinco leucócitos por campo no segmento urinário. Excluir infecções. ➢ PESO 2 Novo “rash” cutâneo – “Rash” do tipo inflamatório de início recente ou recorrente. Alopécia – Alopécia difusa ou localizada de início recente ou recorrente. Úlceras mucosas – Úlceras orais ou nasais de início recente ou recorrente. Pleurite – Dor pleurítica com artrite, derrame ou espessamento pleural. Pericardite – Dor pericárdica com pelo menos um dos componentes artrite ou derrame. Complemento baixo – Diminuição de C3, C4 ou CH50. Anti-DNA – Aumento de 25% acima dos valores de referência. ➢ PESO 1 Febre – > 38ºC excluindo causas infecciosas. Trombocitopenia –MEMBRANAR. C) Padrão nuclear pontilhado: Reflete a presença de anticorpos dirigidos contra constituintes nucleares não-DNA. [Subtipos dos Padrões Nucleares Pontilhados no FAN] 1. PADRÃO NUCLEAR PONTILHADO GROSSO: ▪ Anti-Sm (Ag Smith) = 20-30% dos pacientes com LES. ▪ RNP (ribonucleoproteínas) = 30-40% dos pacientes com LES. - Obrigatório no diagnóstico de doença mista do tecido conjuntivo (DMTC) e também aparece em esclerose sistêmica (SS). - A esclerose sistêmica é uma doença de pele, uma das mais difíceis de ser tratada na reumatologia, cursando com três componentes: 1 fibroso, 1 de vasculite e 1 de autoimunidade. A pele se apresenta extremamente fibrosa. Os órgãos também se tornam fibrosos, sendo o mais limitante o pulmão. Pode ser difusa (corpo inteiro) ou limitada (dos cotovelos aos dedos e dos joelhos aos pés). - Um acontecimento conhecido como Fenômeno de Raynaud (FRy) - consequência da vasculite periungueal, quando ocorrem mudanças bruscas de temperatura a coloração das extremidades dos dedos se altera - é muito característico da esclerose sistêmica, entretanto, também ocorre no paciente lúpico ou com doença mista do tecido conjuntivo. - A doença mista do tecido conjuntivo é a pior de todas as doenças reumatológicas, pois é uma mescla de três doenças: o lúpus, a esclerose sistêmica e a dermatomiosite. 2. PADRÃO NUCLEAR PONTILHADO FINO: ▪ Anti-SSA/Ag Ro (proteína citoplasmática ligada ao RNA) = 40% dos pacientes com LES e na 60-70% Síndrome de Sjögren. ▪ Anti-SSB/Ag La (co-fator da RNA polimerase) = 40% dos pacientes com LES e na 60-70% Síndrome de Sjögren. ▪ Anti-Jo-1 e Mi-2 = Polimiosite e dermatomiosite. ▪ Anti-Scl-70 (Ag proteína de 70kDa, identificada como uma topoisomerase I) = 75% dos pacientes com Esclerodermia. - A Síndrome de Sjögren é uma doença autoimune que ataca as glândulas exócrinas, que cursa com dois sintomas muito característicos: a xeroftalmia (olhos secos) e a xerostomia (boca seca) desenvolvendo o que se conhece por língua geográfica, necessitando inclusive da utilização de saliva e lágrimas artificiais. - O lúpus (3:1), a esclerose sistêmica (7:1) e a síndrome de Sjögren (7:1) são mais prevalentes em mulheres. - A dermatomiosite é uma doença autoimune que atinge pele e músculos, uma característica comum é a formação de placas eritematosas descamativas na regiões metacarpo- falangeanas e ao redor das pálpebras. Já a poliomiosite atinge somente os músculos. 3. PADRÃO NUCLEAR PONTILHADO FINO DENSO: - A célula em divisão apresenta decoração em pontilhado intenso e grosseiro dos cromossomos na placa metafásica – Mais comum na prática – LEDGF (anti-p75). 4. PADRÃO NUCLEAR PONTILHADO FINO DENSO QUASE HOMOGÊNEO. D) Padrão nucleolar RNA nucléolo-específico (OU NUCLEOLAR HOMOGÊNEO): Coloração homogênea no núcleo. Padrão raro no LES, está mais frequentemente associado à esclerodermia ou à polimiosite-dermatomiosite. ▪ Anti-PM/SCL – Síndrome de sobreposição (Poliomiosite + esclerose sistêmica). ▪ Anti-to/th – Esclerose sistêmica. ▪ Anti-B23 (nucleofosmina) – Esclerose sistêmica, câncer, doença do enxerto vs. hospedeiro e síndrome dos anticorpos fosfolípides. E) Padrão nucleolar aglomerado - Nucléolo disposto em cacho de uva, normalmente com três regiões de intensidade fluorescente – Está normalmente mais associado a esclerose sistêmica (SS) com hipertensão pulmonar. ▪ Anti-fibrilarina F) Padrão nucleolar pontilhado - Representado por 5 a 10 pontos na placa metafásica. Pode estar associado ao lúpus caso o autoanticorpo ASE esteja presente. ▪ Anti-Nor-90 ▪ Anti RNA polimerase I – Esclerose sistêmica grave. ▪ Anti ASE – Lúpus. G) Padrão nucleolar centrêmero (centromérico) - É produzido por anticorpos anti-centrômero, sendo tipicamente observado em pacientes com esclerodermia limitada. - Está muito associado a esclerose sistêmica periférica, também denominada de CREST, sigla que é um acrônimo para os sinais clínicos principais da doença: ▪ Calcinose (nódulos de cálcio subcutâneos) ▪ Raynoud ▪ Esôfago deficiente (desmotilidade esofágica) ▪ S esclerodactilia (excesso de deposição de colágeno que deforma os dedos) ▪ Telangiectasia (surgimento de pequenos vasos da superfície da pele) Interpretação de Padrões A. Padrão nuclear homogêneo (Placa metafásica positiva – CARACTERÍSTICA DESSE PADRÃO). B. Padrão nuclear pontilhado grosso (Placa metafásica negativa – OBRIGATÓRIO NO NUCLEAR PONTILHADO). C. Padrão nucleolar centromérico (A placa metafásica não se apresenta de uma forma homogênea). D. Padrão nucleolar homogêneo (Todas as células com nucléolos bem definidos). E. Padrão nuclear citoplasmático (Citoplasma achatado). F. Padrão misto (Demarcação de duas grandes áreas, nesse caso, o citoplasma e o nucléolo). G. Aparelho mitótico (Núcleo, nucléolo e citoplasma negativos). - A placa metafásica é mais achatada, e seu estado (positivo ou negativo) deve ser obrigatoriamente relatado no laudo do FAN. !!! OBS.: O padrão nuclear pontilhado fino denso, que está mais associado aos indivíduos saudáveis, apresenta placa metafásica positiva e pode ser facilmente confundido com o padrão nuclear pontilhado fino, que apresenta placa metafásica negativa e está muito relacionado a diversas doenças. Padronização dos Laudos • Modelo de laudo - Não existe relação entre título e atividade da doença. O teste não permite predizer prognóstico. Não tem valor para acompanhamento de tratamento. - Pontilhado fino denso - Pessoas saudáveis mesmo que autos títulos 1:1200. ▪ Faz LEDFG, se +, NÃO TEM DOENÇA REUMÁTICA. Interpretação de Resultados do FAN - O padrão de um teste FAN positivo deve ser interpretado com cautela, visto que o soro de um paciente com qualquer doença reumática pode conter numerosos autoanticorpos contra diferentes constituintes nucleares. - Pode haver diferentes anticorpos no soro em diferentes títulos, de modo que a diluição do soro pode modificar o padrão observado. - Pode dar positivo em indivíduos normais (~13%) ▪ Valor preditivo positivo para LES do FAN+ => 12% ▪ Valor preditivo negativo para LES do FAN- => 99,9% de não ter lúpus eritematoso. - Títulos: geralmente LES moderados (1/160-1/320) a altos ↑ 1/640 e em pessoas sadias ~ 1/80. Anti-DNA ▪ Imunofluorescência indireta - IFI (c. luciliae – Parasita) - Utilizada para identificar as estruturas presentes no parasita chamadas de cinetoplastos (ricas em DNA ativo). É uma forma de especificação/identificação para o LES, não rastreio. - Os parasitas se encontram previamente imobilizados na placa com o autoantígeno conhecido (ds-DNA), em seguida, aplica-se o soro do paciente, caso haja presença de anti-DNA ocorrerá a conjugação e será possível visualizar após a adição de um conjugado fluorescente. - A diluição começa em 1/10. - Referência normal: Negativo até 1/10 Controle de qualidade de Fluorescência Validação diária de título baixo (1/80) → IFI depende de cinco fatores: 1. Sistema óptico (microscópio) 2. Potência da lâmpada (20, 50 ou 100W) 3. Concentração do conjugado 4. Soros controles de reatividade mínima (1/80) 5. Observador Pesquisa dos autoanticorpos em doenças reumáticas autoimunes Métodos de detecção (rastreamento): ▪ Imunofluorescência indireta em células Hep-2 (FAN) ▪ ELISA Método de identificação (especificação): ▪ Imunodifusão dupla ▪ Hemaglutinação passiva ▪ ELISA ▪ Western-blot ▪ Imunoprecipitação - Western-blot e imunoprecipitação são poucos utilizados devido a serem testes muito manuais com várias etapas, abrindo uma grande margem para erros. Imunodifusão dupla Baseia-se na formação de linhas de precipitação em gel de agarose. Simples e barata. - Em uma lâmina histológica é polimerizado gel de agarosedesenhando círculos concêntricos. No centro coloca-se o soro do indivíduo e ao redor, os autoantígenos. Também pode ser feito o contrário, um autoantígeno no centro cercado pelas amostras de diversos pacientes. - A amostra o os autoanticorpos se difundem no meio. Se eventualmente o autoanticorpo estiver presente, ocorre a formação de linhas de precipitação. - Caso as linhas se cruzem, é necessário refazer o teste (falso positivo). Imunodifusão radial Baseia-se na formação de linhas de precipitação em gel de agarose. É mais específica e possui uma baixa possibilidade de falsos positivos ou negativos serem obtidos. - Um kit pronto vem acompanhado de recipientes com os materiais necessários para realizar o teste. Um deles contém o polímero, que já está embebido com o autoantígeno, este é espalhado pela placa e uma vez que se solidifica pode-se adicionar as amostras. - É adicionado um controle patológico alto e um negativo, e compara-se os resultados dos pacientes para que se dê o laudo. Imunoeletroforese A imunoeletroforese é uma técnica laboratorial que combina a eletroforese e a imunodetecção para separar e identificar proteínas com base em suas propriedades de carga e reatividade com anticorpos. 1º Eletroforese Inicial: A amostra contendo as proteínas é aplicada em uma matriz de gel, geralmente agarose ou poliacrilamida. A aplicação é feita em um poço no gel. 2º Eletroforese: Um campo elétrico é aplicado ao gel, permitindo que as proteínas se movam através do gel com base em suas cargas elétricas. As proteínas mais carregadas movem- se mais rapidamente do que as menos carregadas, resultando em uma separação das proteínas com base em sua carga. 3º Imunodifusão: Após a eletroforese, o gel é tratado com anticorpos específicos para as proteínas de interesse. Os anticorpos reagem com as proteínas alvo, formando complexos antígeno-anticorpo. 4º Revelação: A localização dos complexos antígeno- anticorpo é revelada, muitas vezes usando corantes específicos ou detecção radiográfica. ELISA Indireto Uma placa de microtitulação é revestida com o antígeno de interesse. Isso cria uma superfície onde os anticorpos presentes na amostra podem se ligar. Após o revestimento, a placa é bloqueada com uma solução de bloqueio (geralmente contendo leite em pó ou albumina de soro bovino) para evitar ligações inespecíficas. A amostra contendo os anticorpos é adicionada à placa. Se houver anticorpos específicos para o antígeno revestido na placa, eles se ligarão. A placa é lavada para remover qualquer material não ligado. Um anticorpo secundário, que é específico para os anticorpos humanos (por exemplo, anti-IgG), é adicionado à placa. Este anticorpo secundário é conjugado a uma enzima. A placa é novamente lavada para remover o anticorpo secundário não ligado. Um substrato específico para a enzima (por exemplo, peroxidase) é adicionado. A enzima converte o substrato em um produto detectável, muitas vezes colorido ou fluorescente. !!! OBS.: A maioria dos laboratórios modernos utiliza somente o ELISA para diagnóstico. Autoanticorpos anti-eritrocitários • Teste de Coombs ou Hemaglutinação direto - Método que permite a identificação da presença de anticorpos fixados sobre as hemácias. Princípio do método: Os anticorpos que recobrem as hemácias podem ser identificados pela adição de anticorpos anti-gamaglobulina humana. - Teste positivo: Indica a presença de anticorpos aderidos às hemácias, formam-se pontes entre elas, levando ao fenômeno visível de aglutinação (Botão de aglutinação). Artrite Reumatóide - É uma doença que cursa com o sintoma de artrite (inflamação das articulações). • Epidemiologia - Incidência e prevalência variáveis entre as diferentes regiões. o Europa e EUA: 1%, taxas mais baixas entre os descendentes asiáticos e africanos. o Brasil: 1% o Faixa etária: 30 aos 50 anos - Agregação familiar: Caráter hereditário (herança poligênica) - Predomínio no sexo feminino (3 – 4:1). • Manifestações clínicas - Sintomas sistêmicos: Fadiga, mal-estar, febre, dores musculoesqueléticas, calcinose, uveíte, angiogênese ocular, vasculite periungueal, problemas hematológicos. - Sintomas articulares: Achatamento do arco plantar do pé, mão em pata de camelo. - Manifestações extra articulares: Vasculite, atrofia da pele e do músculo, nódulos subcutâneos, linfadenopatia, esplenomegalia e leucopenia. • Etiopatogenia multifatorial • Fatores genéticos - Vários genes estão implicados na susceptibilidade a AR: Estrutura das moléculas do MHC tipo II: HLA. • Fatores hormonais - Células B produtoras de autoanticorpos expostas ao estradiol são mais resistentes a apoptose – desequilíbrio da auto tolerância. - Receptores de estrógeno são expressos em sinoviócitos semelhantes a fibroblastos (FLS) aumentando a produção de metaloproteinases na sinóvia. - Aumenta a produção de IFN-gama. - Aumentam a produção de TNF-alfa em células de linhagem macrófagos. • Fatores ambientais - Tabagismo: Libera substâncias adjuvantes na ativação da imunidade inata. - Agentes infecciosos: Infecção direta da sinóvia, ativação da imunidade inata. - Mimetismo molecular: Induz a uma resposta imune adaptativa autorreativa. Critérios Classificatórios para Artrite Reumatóide O critério de diagnóstico do paciente com artrite reumatóide se inicia pela avaliação das articulações com dor. Tabela de Índice de Atividade da Artrite Reumatóide – Acompanhamento da progressão da doença. ELEMENTOS SDAI CDAI DAS DAS28 Nº de articulações edemaciadas Contagem simples (0 – 28) Contagem simples (0 – 28) Contagem articular mais extensa (0 – 2,86) Raiz quadrada da contagem simples (0 – 1,48) Nº de articulações dolorosas Contagem simples (0 – 28) Contagem simples (0 – 28) Raiz quadrada do índice de Ritchie (0 – 4,77) Raiz quadrada da contagem simples (0 – 2,96) Reagentes de fase aguda PCR em mg/Dl (0,1 – 10) -------- Logaritmo transformado da VHS (0,23 – 1,51) Logaritmo transformado da VHS (0,49 – 3,22) Avaliação da saúde global pelo paciente --------- --------- EVA em mm (0 – 0,72) EVA em mm (0 – 1,40) Avaliação da atividade de doença pelo paciente EVA em cm (0 – 10) EVA em cm (0 – 10) -------- -------- Avaliação da atividade de doença pelo médico EVA em cm (0 – 10) EVA em cm (0 – 10) -------- -------- Escore total Contagem simples (0,1 – 86) Contagem simples (0 – 76) Necessita de calculadora (0,23 – 9,87) Necessita de calculadora (0,40 – 9,07) Comentários O cálculo é simples, porém, não é imediato (PCR) O cálculo é simples e imediato Além da calculadora, necessita da VHS Além da calculadora, necessita da VHS SDAI – Índice de atividade da doença; CDAI – Índice clínico de atividade de doença; DAS – Índice de atividade de doença; DAS28 – Índice de atividade de doença (28 articulações); PCR – Proteína C reativa; VHS – Velocidade de hemossedimentação; EVA – Escala visual analógica. O CDAI (não utiliza nenhuma prova inflamatória inespecífica) e o DAS28 são mais utilizados. Uma avaliação mais objetiva da atividade da doença deve ser feita utilizando-se algum dos índices de atividade clínica como DAS, DAS28, CDAI e SDAI. Os escores desses índices indicam atividade da doença e ajudam a observar eficácia do esquema de tratamento. Achados laboratoriais da Artrite Reumatoide - Leucócitos normais ou discretamente aumentados - Anemia discreta - Aumento da proteína C reativa (PCR) - Fator reumatóide – FR: • 4% dos jovens • 25% dos idosos • Falsos positivos com neoplasiasde células B - Anticorpo anti-CCP Fator reumatóide (FR) 10-15% de indivíduos sadios – baixos títulos (subtipo IgM) Artrite reumatóide: títulos elevados de IgM, presença de IgG e IgA Potencializar a avidez e tamanho dos imunocomplexos, melhorando o clearance. - Positiva em 50-90 % dos pacientes com AR. - Pode apresentar positividade em outras doenças difusas do tecido conjuntivo (SS, LES, Esclerodermia, etc.), também na cirrose, fibrose pulmonar idiopática, endocardite bacteriana subaguda, tuberculose, sífilis, toxoplasmose, mononucleose, entre outras. • Papeis do FR na patologia articular - O FR específico para as células B, captura e apresenta antígeno estranhos como um complexo imune para as células T - O FR se liga a superfície da cartilagem, que contém um complexo imune, e ativa o complemento. Pesquisa através da Prova do Látex ou da reação de Waaler Rose Regan: Partículas de látex estabilizadas e sensibilizadas com gamaglobulina humana purificada são aglutinadas macroscopicamente quando o fator reumatóide está presente na amostra em concentrações iguais ou maiores que 8 UI/mL. Reação de Aglutinação - O tamanho dos complexos Ag-Ac depende das concentrações relativas de Ag e Ac. Grandes complexos são formados em concentrações de Ag e Ac multivalentes denominadas zona de equivalência; os complexos são menores quando há um excesso relativo de Ag ou Ac. Anticorpo anti-CCP Anti Peptídeo Citrulinado Cíclico - Autoanticorpo contra antígenos citrulinados. - Possui uma positividade maior e especificidade maior que o fator reumatóide. - Produzidos localmente por sinoviócitos junto com fator reumatóide podendo contribuir para o processo inflamatório e destrutivo articular. → Locais que ocorre citrulinação: • Fibrina • Citoqueratina • Vimentina • Filagrina • Colágeno - Relação com gravidade da doença reumatóide. - Detectado por ELISA – detecção de anticorpos contra o CCP no soro humano. Espondilite Anquilosante - Afeta primariamente a coluna e as articulações lombo- sacras. - Artrite articular periférica em 30% dos casos. Infiltrado inflamatório nas articulações sacro-ilíacas na coluna e vértebras. • FR e FAN negativos (-) → Achados laboratoriais: • Anemia leve em 25% dos casos • 90% dos indivíduos são HLA-B27 positivos. Artrite psoriática - É uma poliartrite erosiva assimétrica que ocorre em cerca de 25% dos pacientes com psoríase. • FR e FAN negativos (-) → Achados laboratoriais: • HLA-B27 positivo em torno de 35% dos casos (menos que na espondilite). • HLA-CW4 – Psoríase Febre reumática Doença reumática, inflamatória, de origem autoimune, em resposta do organismo a infecções pelo estreptococo do grupo A (Streptococcus pyogenes). Sintomas: Febre, poliartrite, nódulos subcutâneos, prostração e sintomas cardíacos. → Achados laboratoriais: 1. Cultura de garganta positiva para a bactéria (os sintomas devem ser levados em consideração no diagnóstico). 2. Anticorpo anti-streptolisina O (ASO) elevado. Eleva-se no início da infecção e diminui gradativamente. Pode ser confundido com outro tipo de infecção por Streptococcus do grupo A. Gota Doença caracterizada pela elevação de ácido úrico no sangue e surtos de artrite aguda secundários ao depósito de cristais de monourato de sódio. Afeta pequenas articulações das extremidades. Localização típica (75% dos pacientes): metatársico falangiana do dedo grande do pé. Outras: Joelho e tornozelo (50% dos pacientes). → Achados laboratoriais: • Elevação do ácido úrico (pode ocorrer também na AR, artrite séptica). Artrite séptica Doença infecciosa das articulações e, em alguns casos, suas manifestações podem simular o princípio de uma artrite reumatóide. As bactérias que são responsáveis pela infecção articular variam de acordo com a idade. ➢ Início da infância: Staphylococcus aureus; ➢ Fase tardia da infância: S. aureus, Streptococcus e Pneumococcus; ➢ Fase adulta: S. aureus, Streptococcus, Pneumococcus e Gonococcus. → Achados laboratoriais: • Leucocitose • Análise de líquido sinovial: cultura positiva para as bactérias supracitadas • Diminuição da glicose (mais de 40mg/dL a menos que a sérica). Provas Inespecíficas dos Distúrbios Ósseos e Articulares [Hemograma] • Leucocitose: Aumento no número total de leucócitos. • Trombocitopenia: Diminuição do número normal de plaquetas. • Anemia [Urina] • Proteinúria, hematúria, cilindros hemáticos • Clearance de creatinina [Proteína C reativa (PCR)] • Proteína plasmática que sofre elevação na inflamação • Como os anticorpos, a CRP inicia a opsonização, fagocitose e lise do organismo invasor • Reconhece também substâncias tóxicas liberadas de tecidos lesados • Nas doenças reumatológicas, tem valores acima de 0,5 mg/dl. [VHS: Velocidade de hemossedimentação] • Mede o grau de sedimentação de glóbulos vermelhos em uma amostra de sangue durante um período específico. - VHS diminui se há atrito ou repulsão entre os resíduos negativos do ácido siálico da superfície das hemácias. Enquanto estas cargas persistem, as células se repelem e permanecem em suspensão. Uma vez neutralizadas as hemácias se juntam e se precipitam. - Mediadores inflamatórios induzem a produção de proteínas pelos hepatócitos (ex.: fibrinogênio). O fibrinogênio neutraliza as cargas de ácido siálico das hemácias. - O VHS aumenta significativamente em doenças inflamatórias disseminadas.