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Sociologia Jurídica O Instituto IOB nasce a partir da experiência de mais de 40 anos da IOB no desenvolvimento de conteúdos, serviços de consultoria e cursos de excelência. Através do Instituto IOB é possível acesso à diversos cursos por meio de ambientes de aprendizado estruturados por diferentes tecnologias. As obras que compõem os cursos preparatórios do Instituto foram desenvolvidas com o objetivo de sintetizar os principais pontos destacados nas videoaulas. institutoiob.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ... Sociologia Jurídica / [Obra organizada pelo Instituto IOB] - São Paulo: Editora IOB, 2011. Bibliografia. ISBN 978-85-8079-031-3... Informamos que é de interira responsabilidade do autor a emissão dos conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Instituto IOB. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n• 9610/98 e punido pelo art. 184 do Código Penal. Sumário Capítulo 1 – Surgimento da Sociologia, 7 1. O surgimento da Sociologia e o seu Contexto Histórico, 8 1.1 Apresentação, 8 1.2 Síntese, 8 Exercício, 11 2. Sociologia, modernidade, novas formas de pensamento, 12 2.1 Apresentação, 12 1.2 Síntese, 12 Exercício, 14 3. Objeto de estudo da Sociologia: ação social, 15 3.1 Apresentação, 15 3.2 Síntese, 15 Exercício, 17 4. Conceito de Sociologia: campos de atuação de subdivisão, 18 4.1 Apresentação, 18 4.2 Síntese, 18 Exercício, 20 Capítulo 2 – Direito, Sociedade e Estado, 9 1. Direito, Sociedade e Estado. Formação da sociedade e do Estado, 21 1.1 Apresentação, 21 1.2 Síntese, 22 Exercício, 24 2. As teorias políticas sobre a origem do Estado I: Maquiavel, 25 2.1 Apresentação, 25 1.2 Síntese, 25 Exercício, 28 3. As teorias políticas dos Estados III: Hobbes, Locke e Rousseau, 29 3.1 Apresentação, 29 3.2 Síntese, 29 Exercício, 31 4. O Estado de Direito e Elementos Constitutivos, 32 4.1 Apresentação, 32 4.2 Síntese, 32 Exercício, 34 5. As formas de Estado e os Sistemas de Governo, 35 5.1 Apresentação, 35 5.2 Síntese, 35 Exercício, 36 6. O Direito como Fenômeno Social, 37 6.1 Apresentação, 37 6.2 Síntese, 37 Exercício, 39 7. As Fontes do Direito, 40 7.1 Apresentação, 40 7.2 Síntese, 40 Exercício, 42 8. Os Sistemas Jurídicos da Atualidade, 43 8.1 Apresentação, 43 8.2 Síntese, 43 Exercício, 44 9. Funções Sociais do Direito, 45 9.1 Apresentação, 45 9.2 Síntese, 45 Exercício, 47 Capítulo 3 – Sociologia Jurídica – Conceito, Objetivo e Importância, 48 1. Conceito, Objeto, Importância e Autonomia da Disciplina, 48 1.1 Apresentação, 48 1.2 Síntese, 49 Exercício, 51 2. Os precursores da Sociologia Jurídica: Platão e Aristóteles, 52 2.1 Apresentação, 52 2.2 Síntese, 52 Exercício, 54 3. Sociologia Jurídica – Conceito, Objetivo e Importância, 55 3.1 Apresentação, 55 3.2 Síntese, 55 Exercício, 56 4. Os precursores da Sociologia Jurídica: Émile Durkheim, 57 4.1 Apresentação, 57 4.2 Síntese, 57 Exercício, 59 5. Os precursores da Sociologia Jurídica: Max Weber, 60 5.1 Apresentação, 60 5.2 Síntese, 60 Exercício, 63 6. Os precursores da Sociologia Jurídica: Karl Marx, 64 6.1 Apresentação, 64 6.2 Síntese, 64 Exercício, 66 Capítulo 4 – Principais Sociólogos Jurídicos, 67 1. Enrico Ferri, Eugen Ehrlich e León Muguet., 67 1.1 Apresentação, 67 1.2 Síntese, 67 Exercício, 69 2. Ferdinand Tönnies, Georges Gurvitch e Talcott Parsons, 70 2.1 Apresentação, 70 2.2 Síntese, 70 Exercício, 73 3. Treves, Rehbinder e Alf Ross, 74 3.1 Apresentação, 74 3.2 Síntese, 74 Exercício, 75 Capítulo 5 – Direito, Ordem e Controle Social,76 1. Ordem e Controle Social, 76 1.1 Apresentação, 76 1.2 Síntese, 77 Exercício, 78 2. Direito e Controle Social, 79 2.1 Apresentação, 79 2.2 Síntese, 79 Exercício, 81 3. Desordem, Desvio e Divergência, 82 3.1 Apresentação, 82 3.2 Síntese, 82 Exercício, 84 4. Direito e Anomia, 85 4.1 Apresentação, 85 4.2 Síntese, 85 Exercício, 87 5. Ordem social e Segurança Jurídica, 88 5.1 Apresentação, 88 5.2 Síntese, 88 Exercício, 90 Capítulo 6 – Instituições Sociais e Jurídicas, 91 1. Grupos e Organizações Sociais, 91 1.1 Apresentação, 91 1.2 Síntese, 91 Exercício, 94 2. As Instituições e a Ordem Social, 95 2.1 Apresentação, 95 2.2 Síntese, 95 Exercício, 97 3. Magistratura, Polícia e Advocacia, 98 3.1 Apresentação, 98 3.2 Síntese, 98 Exercício, 100 4. A opinião pública e o Direito, 101 4.1 Apresentação, 101 4.2 Síntese, 101 Exercício, 103 Capítulo 7 – Mudança Social, 104 1. Direito e Mudança Social – Conceito, Fatores e Implicações, 104 1.1 Apresentação, 104 1.2 Síntese, 104 Exercício, 106 2 Mudança social e mudança jurídica., 107 2.1 Apresentação, 107 2.2 Síntese, 107 Exercício, 108 3. Problemas Contemporâneos da Sociologia Jurídica, 109 3.1 Apresentação, 109 3.2 Síntese, 109 Exercício, 110 4. Cidadania, democracia e Direito no Brasil. 111 4.1 Apresentação, 111 4.2 Síntese, 111 Exercício, 113 Capítulo 8 – Administração Judiciária, 114 1. Sociologia da Administração Judiciária, 114 1.1 Apresentação, 114 1.2 Síntese, 114 Exercício, 115 2. Aspectos Gerenciais da atividade Judiciária, 116 1.1 Apresentação, 116 1.2 Síntese, 116 Exercício, 118 3. Gestão de Pessoas, 119 3.1 Apresentação, 119 3.2 Síntese, 119 Exercício, 120 4. Sistemas não Judiciais de Composição de Litígio, 121 4.1 Apresentação, 121 4.2 Síntese, 122 Exercício, 122 Gabarito, 122 So ci ol og ia Ju ríd ic a 9 A criação da Sociologia como ciência não é obra de um único filósofo ou cien- tista, ela representa o resultado da elaboração de um conjunto de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações de existência que estavam acontecendo. O surgimento da Sociologia está diretamente relacionado aos abalos provocados pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa, que consolidaram de forma definitiva a sociedade capitalista. O sistema capitalista começou a surgir a partir do século XVI, e alterou profun- damente as relações no campo socioeconômico. Referir-se à Revolução Industrial é referir-se à Inglaterra, pois a história britânica contou com uma série de experiências que fez dela o primeiro dos países a transfor- mar as feições do capitalismo mercantilista. A Revolução Industrial implicou numa mudança radical na qualidade das relações de trabalho no ambiente manufatureiro. Anteriormente os artesãos se agrupavam no ambiente da corporação de ofício, para produção dos produtos ma- nufaturados, e dominavam integralmente todas as etapas do processo de produção. Assim, o trabalhador tinha ciência do valor, do tempo gasto e da habilidade reque- rida, ou seja, sabia o valor do bem que estava produzindo. Com as inovações tecno- lógicas, principalmente a partir do século XVIII, houve um aumento na velocidade do processo de transformação da matéria-prima, reduzindo custos e transformando as relações de trabalho no meio fabril. Os trabalhadores passaram pelo processo de especialização da mão de obra, que restringiu sua responsabilidadee domínio sobre uma única parte do processo indus- trial. Dessa maneira, o trabalhador já não tinha mais ciência do valor da riqueza que ele mesmo produzia, recebendo o salário para exercer determinada função que nem sempre correspondia ao valor do que ele era capaz de produzir. Houve uma grande mudança na estrutura social em função da ascensão da classe burguesa que começou a controlar os meios de produção da economia, vi- sando sempre ao acúmulo de capitais. As más condições de trabalho, os baixos salá- rios dos trabalhadores, incentivaram o aparecimento das primeiras greves e revoltas operárias, que mais tarde deram origem aos movimentos sindicais. Surgiu então o proletariado, cujo papel desempenhado na sociedade capitalista direcionou muitos dos estudos de sociologia, tendo em Karl Marx o seu maior expoente. Na segunda metade do século XIX, a eletricidade, o transporte ferroviário, o telégrafo e o motor a combustão deram início à segunda Revolução Industrial, onde os avanços capitalistas ampliaram significativamente seu raio de ação. Nesse mesmo período, nações africanas e asiáticas se inseriram nesse processo, com a deflagração do imperialismo exercido pelas maiores potências mundiais. 1.1 O Surgimento da Sociologia e o seu Contexto Histórico 1.2 Apresentação Essa unidade abordará o surgimento da Sociologia como uma ciência, a partir dos seus contextos históricos de formação, enfocando a Revolução Industrial e a Revolução Francesa como fenômenos que suscitaram o seu aparecimento. 2.2 Síntese O período em que se expandiu e se consolidou o capitalismo, tornou-se um marco para o surgimento da Sociologia como ciência. Capítulo 1 O Surgimento da Sociologia So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 10 11 A consolidação da sociedade capitalista representou a desintegração, o solapa- mento de costumes e instituições tradicionais - até então existentes - e a introdução de novas formas de vida social. A utilização da máquina não apenas destruiu o artesão independente, como o submeteu a novas formas de conduta e relações de trabalho. A formação de uma sociedade que se industrializava e se urbanizava em ritmo crescente implicava na reordenação da sociedade rural, com a maciça imigração do campo para a cidade. A servidão deixou de existir e houve um desmantelamento da família patriarcal. A atividade artesanal foi substituída pela manufatureira e fabril, impondo-se aos tra- balhadores prolongadas horas de trabalho com salários muito baixos, e implicando na participação de mulheres e crianças no processo produtivo. As consequências da rápida industrialização e urbanização foram o aumento da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência e dos surtos de epidemia que dizimaram a população da época. Todos esses fatores negativos justificaram a revolta da classe menos favorecida - a chamada classe operária - e a sua organização para enfrentar os proprietários dos instrumentos de trabalho, ou seja, a burguesia. Do ponto sociológico, a profundidade dessas transformações colocou a socie- dade num plano de análise, ou seja, a sociedade passou a ser vista como um pro- blema, como um objeto que deveria ser investigado. Por outro lado, os pensadores ingleses que testemunharam essas transformações e com elas se preocuparam, não eram homens de ciência ou sociólogos, tal como se concebe hoje a profissão. Eram homens voltados para a ação, queriam entender o que estava acontecendo e participavam de debates ideológicos em que se envolviam as correntes liberais, conservadoras e socialistas. Os precursores da sociologia como ciência não desejavam produzir um mero conhecimento sobre as condições de vida geradas pela revolução industrial. Eles procuravam extrair desse conhecimento orientações para a ação, tanto para manter o status quo, como para reformar ou modificar radicalmente a sociedade do seu tempo. Os precursores da sociologia foram recrutados entre militantes políticos, indi- víduos que participavam e se envolviam profundamente com os problemas de suas sociedades. O que eles escreveram foi de fundamental importância para a formação e constituição de um saber sobre a sociedade. A Revolução Francesa alterou significativamente a história e os contornos so- ciais. Não teve apenas por objetivo mudar um governo, mas modificou a estrutura social, arruinou todas as influências reconhecidas, apagou as tradições, renovou cos- tumes e usos e, de alguma maneira, esvaziou o espírito humano de todas as ideias sobre as quais se tinha fundado até então. As instituições feudais do antigo regime foram superadas à medida que a bur- guesia, a partir do século XVII, consolidou cada vez mais o seu poder econômico. A sociedade francesa exigia que o País se modernizasse, mas o entrave do absolutismo apagava essa expectativa. O descontentamento era geral, e nesse contexto surge o movimento iluminista, criado por um grupo de intelectuais franceses que visava questionar e criticar o regime absolutista, buscando soluções para o desenvolvi- mento do País. Os iluministas achavam que a única maneira possível de a França se adiantar em relação à Inglaterra seria passar o poder político para as mãos da nova classe emergente, a burguesia. Para tanto era preciso destituir a nobreza representada pelo rei. A monarquia absoluta, que já havia trazido benefícios para o desenvolvimento do comércio e da burguesia francesa, passou a representar um empecilho. As leis mercantilistas impediam que se vendessem as mercadorias de forma livre, sem a intervenção do Estado. A Revolução Francesa representou o fim da monarquia absoluta na França, com a subida da burguesia ao poder político e a consolidação do capitalismo, alterando significativamente a estrutura da sociedade francesa. O surgimento do capitalismo impulsionou uma reflexão sobre a sociedade, suas transformações, suas crises de antagonismo. Antes dos movimentos revolucionários, a sociologia não existia como instru- mento de análise, pois as sociedades pré-capitalistas eram relativamente estáveis e o ritmo e o nível das mudanças que aí se verificavam não chegavam a colocar a sociedade como um problema a ser investigado. O surgimento da Sociologia está diretamente ligado aos abalos provocados pela Revolução Industrial e Revolução Francesa. Exercício 1. Os principais fatos histórico-sociais que propiciaram o surgimento da Sociologia como uma ciência foram: a. A consolidação da democracia ateniense. b. Revolução Industrial e Revolução Russa. c. Revolução Industrial e Revolução Francesa. d. Revolução Russa e Revolução Francesa. e. Revolução Cubana e Revolução Chinesa. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 12 13 2. Sociologia, Modernidade, Novas Formas de Pensamento. 2.1 Apresentação Este capítulo abordará as novas formas de pensamento que surgiram como reflexo das mudanças sociais, econômicas e políticas ocorridas no início da Modernidade e que romperam definitivamente com a tradição católico-feudal que caracteriza a sociedade pré-moderna. 2.2 Síntese O período moderno (séculos XVII – XIX) foi um período de consolidação dos ideais de progresso e desenvolvimento do pensamento racionalista e individualista adotado pela classe burguesa. É nesse período que se estrutura uma nova ordem socioeconômica denominada capitalismo comercial. Durante esse período, a nobreza passou a buscar novos meios para conseguir impor-se socialmente. Por outro lado, a burguesia, mesmo prosperando nos negócios, estava longe de ser a classe social dominante e de deter o poder político. Apenas no final da Idade Moderna, a classe burguesa reuniu meios para edificar uma ordemsocial, política e econômica a sua própria imagem, graças à Revolução Industrial e Francesa. A Idade Moderna reforçou a importância do comércio e da capitalização, cons- tituindo uma base sobre a qual se desenvolveria todo o sistema capitalista. Como decorrência desse processo, um novo Estado, novas formas e novos valores foram gerados segundo as novas exigências do homem ocidental. Duas noções fundamentais estão diretamente relacionadas à nova forma de pen- sar da burguesia: a ideia de progresso e a valorização do indivíduo. O ponto-chave para entender as mudanças ocorridas no pensamento da época foi a Revolução Científica, que teve como ponto de partida, a obra de Nicolau Copérnico, intitulada Sobre a Revolução dos Orbes Celestes, publicada em 1543. Nessa obra, Copérnico defende matematicamente um modelo de cosmo em que o Sol é o centro, e a Terra apenas mais um astro girando em torno dele. Essa teoria representa assim, um dos fatores de ruptura mais marcantes no início da modernidade, uma vez que ia contra uma teoria estabelecida há praticamente vinte séculos. A teoria heliocêntrica como é chamada, não retirou apenas a Terra do centro do universo, mas também esfacelou uma construção estética medieval que ordenava os espaços e hierarquizava o mundo superior dos Céus e o mundo inferior da Terra. A ciência moderna surge quando se torna mais importante salvar os fenômenos e quando a observação, experimentação e verificação de hipóteses tornam-se crité- rios decisivos. As mudanças relacionadas à evolução científica foram duas: » Do ponto de vista da cosmologia, a demonstração da validade do modelo he- liocêntrico, a formulação da noção de um universo infinito e a concepção do movimento dos corpos celestes. » Do ponto de vista da ideia de ciência, houve a valorização da observação e do método experimental, ou seja, o surgimento de uma ciência ativa que se opõe à ciência contemplativa. O novo pensamento moderno renuncia a uma explicação sobrenatural dos fatos sociais, substituindo-a por uma indagação mais racional. No espaço de 150 anos, de Copérnico a Newton, a ciência passou por um pro- gresso notável. A evolução do pensamento científico passa a cobrir, com a Sociologia, o mundo social, uma nova área do conhecimento ainda não incorporada ao saber científico. O emprego sistemático da observação e experimentação, como fonte para a ex- ploração dos fenômenos da natureza, possibilita uma grande acumulação de fatos sociais. Muitos foram os pensadores que contribuíram para popularizar os avanços do pensamento científico, dentre eles Francis Bacon. Considerado um dos iniciadores do pensamento moderno - Bacon defendeu o método experimental contra a ciência teórica e especulativa clássica, e também rejeitou a escolástica e com a concepção de um pensamento crítico que permitia o progresso da ciência e técnica. Dois aspectos inter-relacionados da sua contribuição podem ser citados: sua concepção de pensamento crítico e sua defesa do método indutivo no conheci- mento científico, bem como de um modelo de ciência anti-especulativo integrado com a técnica. Para Bacon, o lema é “saber é poder”, mostrando que ele procura não um saber contemplativo e desinteressado, que não tenha um fim em si mesmo, mas um saber instrumental que possibilite a dominação da natureza. O novo método científico proposto por Bacon é o da indução, que permite o conhecimento do funcionamento da natureza através da observação da regularidade em que os fenômenos ocorrem e do estabelecimento da relação do homem com esses fenômenos. O emprego sistemático da razão representou um grande avanço para a liber- dade e o conhecimento - em contradição àquela tradição teológica anterior -, e So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 14 15 3. Objeto de Estudo da Sociologia: Ação Social 3.1 Apresentação Este capítulo abordará o objeto de estudo da Sociologia, destacando os estudos de Émile Durkheim, Max Weber e Talcott Parsons. 3.2 Síntese O conteúdo essencial da Sociologia é o estudo das relações e interações humanas. Analisar a nova ordem social estabelecida e oferecer uma resposta intelectual à crise era o objetivo dos novos cientistas sociais. A falta de um entendimento comum por parte dos sociólogos sobre a ciência da sociologia está relacionada com a própria formação da disciplina, que se origina no seio de uma sociedade dividida pelos antagonismos de classe. O caráter antagônico da sociedade capitalista, ao impedir o entendimento comum aos sociólogos, deu margem ao nascimento de diferentes tradições sociológi- cas. Mesmo havendo diferentes interpretações, há uma concordância generalizada de que o conteúdo essencial da sociologia seja o estudo das relações e interações humanas. Para Émile Durkheim, o objeto de estudo da sociologia são os fatos sociais, con- siderados como uma norma coletiva com independência e poder de coerção sobre o indivíduo. São fatos sociais as regras morais, jurídicas, dogmas religiosos, sistemas financeiros, maneiras de agir, etc. É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. Características específicas do fato social: exterioridade, coercitividade e generalidade. » Exterioridade: se relaciona ao fato de que os fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos. » Coercitividade: é uma característica que se relaciona com a força dos padrões culturais do grupo ao qual se integram os indivíduos. » Generalidade: os fatos sociais não existem para um indivíduo específico, mas para a coletividade. Para Durkheim, é coisa tudo aquilo que é dado e que se impõe à observação. consequentemente contribuiu para a formação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e cultura. O Iluminismo foi um movimento do pensamento europeu da segunda metade do século XVIII que abrangeu as artes, a literatura, as ciências, a teoria política e a doutrina jurídica. Alguns de seus representantes foram: Jean Jacques Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Condorcet, Diderot, Kant, Hume e Adam Smith. A própria noção de iluminismo indica através da metáfora da luz e da claridade uma oposição às trevas, à ignorância, à superstição, ou seja, a existência de algo oculto, enfatizando a necessidade do que é real tornar-se transparente à razão. O Iluminismo se volta contra toda a autoridade que não esteja submetida à razão e xperiência. Suas principais características: liberdade, individualismo e igualdade jurídica. Combinando o uso da razão e da observação, os iluministas analisaram quase todos os aspectos da sociedade. O objetivo dos iluministas ao estudar as instituições da sua época, era demonstrar que elas eram irracionais e injustas, e que atentavam contra a natureza dos indivíduos, impedindo a liberdade do homem. A crescente racionalidade da vida social, representada pelo pensamento ilumi- nista, gerou um clima propício para a constituição de uma nova forma científica de estudo da sociedade: a Sociologia. Exercício 2. (Enem/1999 - Adaptado) (...) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. (COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium coelestium.) O aspecto a ser ressaltado no texto para exemplificar a nova forma de pensamento moderna, caracterizada pelo racionalismo, e que serviu como base para o surgimento da Sociologia como ciência é: a. a fé como guia das descobertas b. o senso crítico para se chegar a Deus c. a limitação da ciência pelos princípios bíblicos d. a importância da experiência e da observação e. o princípio da autoridade e da tradição So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ica 16 17 Max Weber considera a ação social como a conduta humana que tem como referência o comportamento dos outros, ou seja, todo comportamento cuja origem depende da reação ou expectativa de reação de outras partes envolvidas. Logo, a sociedade deve ser compreendida a partir de um conjunto de interações sociais. Em suma, a ação social toma o significado de uma ação que tem como referên- cia o comportamento dos outros. Weber apresenta uma classificação dos tipos de ação social, de acordo com os motivos que a geram. Assim, uma ação será tradicional quando sua realização se deve ao costume ou hábito enraizado; afetiva ou emo- cional quando motivada por sentimentos do agente pelo seu interlocutor; racional com relação a valores quando implicar em atitudes que envolvem um planejamento orientado pelos princípios do agente; e racional com relação a fins quando houver atitudes cujo planejamento estiver orientado pelos resultados que serão alcançados com a sua realização. Parsons considera a ação social como um processo de interação, em que cada ator se dirige sempre a outra pessoa, levando em consideração as reações dela, assim como as influências que poderá exercer sobre ela. Parsons elabora uma análise tripartite que engloba: o situacional, o institucional e o integrativo. » O situacional trata do contexto em que os agentes estão localizados. » O institucional age em torno da obtenção de metas desejadas. » O integrativo orienta-se para a regulação de conflitos e promoção de coope- ração positiva. Por essa razão, Parsons é frequentemente rotulado como o mais ardente defen- sor do consensualismo, por incluir a administração das tensões sociais no seu escopo teórico analítico. Parsons considera ação social como um processo no sistema ator-situação orien- tado por dois fatores: » Motivacional: para o ator individual, ou no caso de uma coletividade, para os seus componentes individuais, e que se referem ao alcance de gratificações e a evitar as privações. Está ligado a sistemas de personalidade do agente. » Valorativo: a ação social está condicionada por regras determinadas e está li- gada a sistemas de cultura. Para Parsons, a ação social envolve a expectativa da provável reação do outro. Além disso, a interação também supõe uma cultura comum que possibilite a inter- pretação das prováveis reações suscitadas no outro. Um fenômeno é dito sociológico quando for digno de análise pela Sociologia, ou seja, quando se tratar de uma ação do homem que repercuta na esfera social influenciando ou não o comportamento alheio. Exercício 03. (FGV – 2010 - Concurso para Sociólogo da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte). De acordo com Émile Durkheim, ao realizar uma inves- tigação científica, o sociólogo deve apreender: a. o objeto de investigação com base em suas noções prévias sobre o fenô- meno a ser estudado. b. o fato social com base nas ideias e concepções subjetivas dos indivíduos. c. o fenômeno a ser estudado por meio de suas propriedades exteriores. d. os fatos sociais de modo que eles se apresentem relacionados com as re- presentações dos indivíduos. e. o fenômeno a ser estudado com base em uma atitude de subjetividade. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 18 19 4. Conceito de Sociologia: Campos de Atuação de Subdivisão 4.1 Apresentação Este capítulo abordará o estabelecimento de um conceito genérico de Sociolo- gia, bem como examinará os seus campos de atuação e subdivisões. 4.2 Síntese A Sociologia é uma das Ciências Humanas que tem como objetos de estudo a sociedade, a sua organização social e os processos que interligam os indivíduos e grupos, as instituições e associações. A Sociologia cuida de tornar os fatos sociais cotidianos mais compreensíveis para todos, através de uma análise sistemática e precisa, à medida que suas percepções vão além da experiência pessoal dos indivíduos, seguindo um rigor metodológico e científico. A Sociologia surgiu como o resultado de uma tentativa de compreensão de situ- ações sociais radicalmente novas, criadas pela então nascente sociedade capitalista. Buscando equilíbrio em uma sociedade cindida pelos conflitos de classe, a so- ciologia revestiu-se de um conteúdo estabilizador, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora. A sociologia constitui um projeto intelectual tenso e con- traditório. Para alguns, ela representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes, ou a expressão teórica dos movimentos revolucionários. O termo “Sociologia” foi criado por Augusto Comte em 1838. Comte foi um dos fundadores da disciplina, cuja pretensão era unificar os estudos relativos ao homem, como a História, Psicologia e Economia. Em sua concepção, a sociologia deveria orientar-se no sentido de conhecer e es- tabelecer aquilo que ele denominava de “leis imutáveis da vida social”, abstendo-se de consideração crítica e eliminando a discussão sobre a realidade existente. Para Comte, a sociologia é uma física social que tem por objeto o estudo dos fenômenos sociais, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Os sociólogos estudam as estruturas da sociedade, como grupos étnicos, classes sociais, as relações de gênero, a violência, além de instituições como família, Estado, escola, religião, etc. A Sociologia pode ser subdividida em seis campos de atuação, de acordo com o seu objeto de estudo: » Sociologia sistemática: explica a ordem existente das relações dos fenômenos sociais. » Sociologia sistemática estática: lida com os requisitos estruturais e funcionais da ordem social. » Sociologia sistemática dinâmica: lida com os processos sociais descritos através da operação das condições estruturais e funcionais estáveis ou relativamente instáveis da ordem social. Exemplos do campo de atuação da sociologia sistemática: » Noções de ação e interação social, processos sociais de grupos sociais, de ins- tituições. A sociologia descritiva investiga os fenômenos sociais no plano da sua mani- festação concreta, procurando captar os elementos e os fatores sociais nas próprias condições reais em que eles operam. Exemplos do campo de atuação da sociologia descritiva: » Estudo da escola na sociedade brasileira, ou cooperativismo no Chile. A sociologia comparada procura explicar a ordem existente nas relações dos fenômenos sociais através de condições, fatores e efeitos que operam em um campo suprahistórico. Esse campo da Sociologia estuda os padrões de integração e diferenciação dos sistemas sociais globais de duas maneiras: em uma escala filogenética ou segundo intuitos classificatórios. Exemplo do campo de atuação da sociologia comparada: » Desenvolvimento da instituição escola ao longo do tempo, estudo do coope- rativismo no Chile e em Israel. Outro campo de estudo é o da sociologia diferencial. Esse campo de estudo procura explicar a ordem existente das relações dos fenômenos sociais através de condições, fatores e efeitos que operam em um campo histórico. Exemplo do campo de atuação da sociologia diferencial: » Sociedade de classes no Brasil. A sociologia aplicada investiga os problemas sociais, os efeitos possíveis que eles comportam ou das modalidades de intervenção racional que forem admitidas pela sociedade. Exemplo do campo de atuação da sociologia aplicada: » Estudo para finalidades de reformulação do sistema educacional brasileiro, sistema único de saúde. So ci ol og ia Ju ríd ic a 20 Há ainda o campo de estudo da sociologia geral ou teórica, cujo objetivo é exa- minar os fundamentos lógicos da explanação sociológica, as suas diversas categorias e modalidades, os tipos de pesquisa nela implicados e os pressupostos critérios de verificação empírica. Emrelação à sistematização e unificação dos conhecimentos teóricos descobertos nas várias áreas da sociologia, existem duas funções: lógica do conhecimento sociológico e institutos de síntese. Exemplo do campo de estudo da sociologia geral ou teórica: - Características do fato social, conceito de estrutura e organização social. São muitas as subdivisões da Sociologia de acordo com a perspectiva de estudo de cada fato social. Exemplos: » Sociologia Antropológica. » Sociologia Jurídica. » Sociologia Econômica. » Sociologia Política. » Sociologia da Família. » Sociologia da Educação. » Sociologia da Religião. » Sociologia do Desenvolvimento. » Sociologia do Trabalho. » Sociologia Histórica. A Sociologia está presente em todas as esferas de atuação do homem, impin- gindo-lhe consciência social e formação de espírito crítico. Exercício 04. (Cespe – 2010 - Concurso da Defensoria Pública da União para o cargo de Sociólogo) A Sociologia Jurídica surgiu devido: a. à necessidade de explicar o Direito para a população de baixa escolari- dade. b. ao crescimento vertiginoso de conhecimentos na área jurídica. c. às disputas conceituais intermináveis entre acadêmicos de Direito. d. ao interesse epistemológico na relação entre Direito e sociologia. e. ao descompasso entre direitos assegurados e prática concreta de atores sociais. Capítulo 2 Direito, Sociedade e Estado. 1. Direito, Sociedade e Estado. Formação da Sociedade e do Estado 1.1 Apresentação Este capítulo abordará a formação da sociedade e do Estado do ponto de vista histórico-antropológico, levando em consideração a importância da tríplice re- lação sociedade, Direito e Estado no estudo da Sociologia Jurídica. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 22 23 1.2 Síntese É importante que se entenda a relação intrínseca entre Sociedade, Direito e Estado. Dessas relações origina-se um fator fundamental para compreender a existência do homem em sociedade, o poder. Por meio do poder é exercido um controle que permite a existência da vida em sociedade. O poder se constitui um dos mais importantes processos sociais da huma- nidade, estabelecendouma hierarquia que difere um grupo social de outro. O homem, a sociedade e o poder formam um trinômio necessário. O homem pré-histórico deixou de viver isoladamente ao perceber que junto a outros da mesma espécie ele teria muito mais chance de sobrevivência, passando a caçar em grupos. Quando os indivíduos entendem que agrupados conseguem alcançar objetivos comuns que não conseguiriam se estivessem sozinhos, surge a necessidade de uma melhor organização das suas atividades. Criam-se então funções e tarefas que inci- tam o cooperativismo e garantem a sua conservação e perpetuação. A partir de então, um complexo sistema de relações e processos sociais se desen- volve e o homem passa a ser sedentário. Quando o homem se torna sedentário, um complexo sistema de relações e pro- cessos sociais começa a se desenvolver, fato que marca o surgimento da sociedade e a consequente necessidade de organização política. A sociedade pode ser definida como qualquer grupo relativamente permanente, com certo grau de organização, capaz de subsistir em um meio físico determinado e que assegura sua perpetuação biológica e a manutenção de uma cultura. Sociedade é uma reunião de seres humanos que integram uma determinada ordem social, permanente, assentada sobre um território, para alcançar fins comuns, por meio de interações sociais e ações recíprocas. O homem integrado na vida social, submetido às intensas relações sociais, sofre um processo de socialização que lhe imporá um complexo de sentimentos, crenças e valores que o tornarão uma amostra concreta dessa sociedade, o que se evidenciará nas suas próprias atitudes. Os indivíduos em sociedade devem ter clara consciência dos vínculos de so- lidariedade que intercambiam entre eles, ou seja, é necessário que neles se tenha formado o sentimento do próprio eu, da própria personalidade frente aos outros e do respeito do limite imposto às ações de cada um por uma autoridade superior detentora de poder. As diversas sociedades humanas que existiram ao longo da história sempre tive- ram a preocupação de controlar os fatores negativos da vida social. Entre formas de controle, surgiram certas normas consuetudinárias que ao longo do desenvolvimento do homem foram evoluindo, até formarem o verdadeiro corpo normativo encabe- çado por uma Constituição. A organização política de um povo abrange o conjunto de instituições através das quais se mantêm a ordem, o bem-estar e a integridade do grupo, sua defesa e proteção. As instituições regulam e controlam a vida em sociedade, garantindo aos seus membros direitos individuais, uma organização do governo local, um sistema de governo, defesa e proteção, por meio da organização militar. Na constituição do aspecto político das sociedades ágrafas, podem ser conside- rados três elementos básicos: parentesco, religião e economia. As relações de parentesco que unem as famílias formam um conjunto significa- tivo e atuante do controle político. Quanto mais acentuados são os laços de paren- tesco, mais estreitos são os laços políticos. As sociedades simples se fundamentam quase exclusivamente na religião. A reli- gião se exprime através das crenças, da mitologia e determina a visão de mundo das pessoas. Por outro lado, ela tem também uma função política, servindo muitas vezes de instrumento para o político que regula as relações sociais. Na economia, os indivíduos e grupos participam das múltiplas formas de produ- ção que essas sociedades apresentam. Através dessas formas organizam-se o trabalho, a produção e a distribuição dos recursos naturais existentes. Esses elementos propiciam prestígio, poder e status, que resultam em desigualdade no interior das sociedades. O exercício do poder pode se dar de formas diferentes, dependendo do nível de desenvolvimento sociocultural. Os antropólogos distinguem os seguintes tipos: bandos ou hordas, família, tribos, nações, chefaturas e Estados. A família e o bando são a única organização econômica, política e religiosa, suas relações não são formalizadas, apenas familiares. O nível tribal de organização sociocultural é mais complexo que o do bando, e do qual ainda conservam algumas características. As tribos são organizações seg- mentares, marcadamente familiares, igualitárias, com laços baseados no parentesco. O conceito de nação define um povo fixado em determinada área geográfica, possuindo certa organização, sentimentos de união, identidade de língua, etnia, religião, etc. As chefaturas consistem em um tipo de organização política, mas não estatal. Politicamente, constituem-se em um regime governativo primitivo, ainda baseado no sistema de parentesco, que assume importância secundária. Entretanto, as chefa- turas têm um território mais definido e uma autoridade legitimada. Os Estados constituem a forma mais complexa de existência social organizada, persistindo ainda muitas características das chefaturas, mas distinguindo-se delas pela sua nova forma de integração socioeconômica, que envolve a burocracia e força So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 24 25 legitimada. Essas sociedades também possuem uma existência legal, que interfere e regula as relações entre indivíduos e grupos. Não há como conceber as relações sociais dissociadas do Estado, que é o detentor legítimo do poder e o responsável pela organização social e elabo- ração e aplicação do Direito, ainda que, excepcionalmente, haja sociedades primitivas onde sua presença inexiste. Exercício 5. (Cespe – 2010 - Analista de Antropologia)Julgue a assertiva abaixo: O estudo das relações de parentesco foi uma forma encontrada pela antropolo- gia para pensar a organização de sociedades sem Estado. 2. As Teorias Políticas Sobre a Origem do Estado I: Maquiavel 2.1 Apresentação Este capítulo abordará a teoria política de Maquiavel para explicar o papel do Estado e sua relação com o Direito e a sociedade. 2.2 Síntese Nicolau Maquiavel foi o pensador político mais original e influente de todo o século XVI, autor de um dos maiores clássicos da teoria política de todos os tempos, “O Príncipe”. Diferentemente das teorias que o antecederam, Maquiavel torna a política au- tônoma, privilegiando a reflexão laica e recusando-se a abordar a questão do poder a partir da ética cristã. O que importava para ele era observar como os governantes e seus súditos agiam de fato. Portanto, ele observava com aguço os homens públicos do seu tempo, e buscava na história, notadamente em Roma, exemplos que pudessem enriquecer suas análises, visto que os homens e suas paixões são os mesmos em todos os tempos - como ele dizia. A sua grande contribuição está no reconhecimento da autonomia e necessidade da política como uma forma de atividade humana em si e por si, independente- mente de qualquer pressuposto ou finalidade de caráter teológico ou moral. Maquiavel rompe a unidade do pensamento medieval e inicia o pensamento moderno. As suas reflexões sobre o poder circunscrevem-se a um momento histórico de transição, carente de uma identidade compatível aos movimentos do renasci- mento comercial, político e cultural, vividos na Europa. De forma generalizada, pode-se concordar que Maquiavel propugnou pelo abandono dos parâmetros morais, o que implica na volta a um estado de competição regulado unicamente pelo desejo da conquista. Maquiavel viveu em um período de total falta de estabilidade política. A Itália se encontrava fragmentada em principados e repúblicas onde cada um possuía sua pró- pria milícia, estando sujeitos a disputas internas e a hostilidades constantes. Nessa época, ele ocupa a segunda chancelaria do governo, em cargo que permite a ele adquirir grande experiência política observando as práticas de seus contemporâneos. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 26 27 Tal função ocupada, obrigava Maquiavel a desempenhar inúmeras funções diplo- máticas na França, Alemanha e em diversos estados italianos. Maquiavel teve a oportunidade de entrar em contato direto com reis, papas e nobres, e também com Cesare Borgia, que ele considera o modelo de príncipe que a Itália precisava para ser unificada. Maquiavel escreveu várias obras, sendo consagrado pela já citada “O Príncipe” e também pela obra “Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio”. Pode-se dizer que a primeira trata da política militante, ao passo que a segunda aborda a teoria política. A obra “O Príncipe” tem provocado inúmeras interpretações e controvérsias. Uma primeira leitura dá uma visão da defesa do absolutismo e do mais completo imoralismo, o que levou à criação do mito do “maquiavelismo” que tem atravessado séculos. Como expressão dessa amoralidade, costuma-se atribuir a Maquiavel a máxima “os fins justificam os meios”. Trata-se de uma interpretação simplista e deformadora do pensamento de Maquiavel, e para superá-la é preciso analisar com mais atenção o impacto das inovações do seu pensamento político. Em um primeiro momento, representado pela ação do Príncipe, Maquiavel en- sina como o poder deve ser conquistado e mantido, justificando esse poder absoluto. Posteriormente, alcançada a estabilidade, é possível e desejável a instalação do go- verno republicano. É curioso notar que algumas ideias democráticas aparecem veladamente na sua obra, destacando-se o capítulo IX, no qual Maquiavel se refere à necessidade de o governante ter o apoio do povo, o que é sempre mais aconselhável do que ter o apoio dos grandes, pois estes podem ser traiçoeiros. Para descrever a ação do príncipe, Maquiavel usa as expressões italianas “virtù” e “fortuna”. Virtù significa virtude, no sentido grego de força, valor, qualidade. Homens de virtù são homens especiais, capazes de realizar grandes obras e provocar mudanças na história. No entanto, é preciso frisar que não se trata do príncipe virtuoso no sentido medieval, de bom e justo, agindo segundo os preceitos da moral cristã, mas daquele que tem a capacidade de perceber o jogo de forças que caracteriza a política, para agir com energia a fim de conquistar e manter o poder. A fortuna seria a ocasião, o acaso. O príncipe não pode deixar escapar a fortuna, ou seja, a oportunidade. De nada adiantaria um príncipe virtuoso se ele não fosse precavido e ousado, se não soubesse aguardar a ocasião propícia, aproveitando o acaso como observador atento do curso da história. A grande novidade do pensamento de Maquiavel está na reavaliação das re- lações entre ética e política. Por um lado, Maquiavel apresenta uma moral laica, secular, de base naturalista, diferente da moral cristã. Por outro lado, estabelece a autonomia da política, negando a anterioridade das questões morais na avaliação da ação política. Para a moral cristã, há valores espirituais superiores aos políticos, e o bem comum da cidade deve se subordinar ao bem supremo da salvação da alma. Essa nova ética analisa as ações, não mais em função de uma hierarquia de valores, mas sim em vista das consequências dos resultados da ação política. Não se trata de um amoralismo, mas de uma nova moral, centrada nos critérios da avaliação do que é útil à comunidade. O critério para definir o que é moral é o bem da comunidade, e, nesse sentido, às vezes é legítimo o recurso do mal, ou seja, o emprego da força coercitiva do Estado, a guerra, a prática da espionagem, o emprego da violência, etc. Daí Maquiavel fazia a distinção entre o bom governante, que é forçado pela necessidade a usar a violênciapara o bem coletivo, e o tirano, que age por capricho ou interesse próprio. O pensamento de Maquiavel leva à reflexão sobre a situação dramática e ambi- valente do homem de ação. Se o indivíduo aplicar à vida política de forma inflexível o código moral que rege sua vida pessoal, sem dúvida colherá fracassos sucessivos, tornando-se um político incompetente. A leitura maquiaveliana sugere a superação dos escrúpulos imobilistas da moral individual, mas não rejeita a moral própria da ação política. Sobre o homem de Estado pesam a pressão e a responsabilidade dos interesses coletivos. O governante não terá direito de tomar uma decisão que envolva o bem- -estar ou a segurança da comunidade, levando em conta somente as exigências da moral privada. Haverá casos em que terá o dever de violá-la para defender as ins- tituições que representa, ou garantir a sobrevivência da nação. Isso significa que a avaliação moral não deve ser feita antes da ação política, segundo normas gerais e abstratas, mas a partir de uma situação específica, que é avaliada em função do seu resultado, já que toda ação política visa à sobrevivência do grupo e não apenas de indivíduos isolados. Vale lembrar que o pensamento de Maquiavel tem um sentido próprio, na me- dida em que ele expressa uma tendência fundamental da sua época, ou seja, a defesa do Estado absoluto e a valorização da política secular, não atrelada à religião. É com Maquiavel que se começa a esboçar a doutrina do absolutismo que vigo- rará no século seguinte, e que permite ao governante violar normas jurídicas, morais, políticas e econômicas. Maquiavel é considerado o fundador da ciência política porque subverte a abor- dagem tradicional da teoria política. A sua política é realista, pois ele procura as verdades efetivas, partindo do pres- suposto da natureza humana capaz do mal e do erro. Maquiavelpretende desenvolver uma teoria voltada para a ação eficaz e imediata. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 28 29 A ciência politica só tem sentido se propiciar o melhor exercício da arte politica. Maquiavel torna a politica autônoma, pois a desvincula da ética e da religião, procurando examiná-la em sua própria especificidade. Além da desvinculação da religião, a sua ética politica se distingue da moral pri- vada, uma vez que a ação política deve ser julgada a partir das circunstâncias vividas, tendo em vista os resultados alcançados na busca do bem comum. Exercício 06. (Cespe 2010 – Instituto Rio Branco – Diplomata – 1ª etapa) Costuma-se invocar Tucídides e Hobbes como patronos das teses que fundamentam a tradição realista, o que não se aplica a Maquiavel, considerado pai da política moderna. 3. As Teorias Políticas dos Estados III: Hobbes, Locke e Rousseau 3.1 Apresentação Este capítulo abordará a formação do Estado do ponto de vista das principais teorias políticas desenvolvidas na Idade Moderna, destacando as ideais de Ho- bbes, Locke e de Rousseau. 3.2 Síntese Para entender o sentido do Liberalismo é preciso ter em mente que a palavra Liberal resume um conjunto de ideias éticas, políticas e econômicas da burguesia que se opunha à visão de mundo da nobreza feudal. De modo geral, essas ideias se limitavam à busca pela separação entre Estado e Sociedade enquanto conjunto das atividades particulares dos indivíduos, sobretudo as de natureza econômica. O que se queria era separar definitivamente o público do privado, reduzindo a intervenção do Estado na vida de cada um ao mínimo possível. Por outro lado, essa separação deveria reduzir também a interferência do privado no público, já que o poder procura outras fontes de legitimidade que não sejam a tradição e as linhagens de nobreza. Do ponto de vista político, o liberalismo se constitui contra o absolutismo real, buscando nas teorias contratualistas as formas de legitimação do poder, não mais fundado no direito divino dos reis, nem na tradição e herança, mas no consenti- mento dos cidadãos. A decorrência dessa forma de pensar foi o aperfeiçoamento das instituições do voto e da representação, bem como uma maior autonomia dos poderes e a conse- quente limitação do poder central. As novas teorias políticas modernas surgiram com o liberalismo político e econômico, cujos desdobramentos mais significativos foram a Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776, a Constituição Americana e a Declaração dos Direitos Humanos na Revolução Francesa, em 1789. Com todas as rupturas ocorridas no início do período moderno, cria-se a neces- sidade da busca e discussão de um novo modelo de ordem social, de organização política, de legitimação do exercício do poder, representado pelas teses dos teóricos do liberalismo e do contrato social. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 30 31 Thomas Hobbes teve uma influência marcante no desenvolvimento da discus- são sobre as relações entre indivíduo e Estado, no período moderno. Hobbes considera o homem como um ser naturalmente agressivo e belicoso. Ele teoriza uma forma fictícia de estado de natureza em que o homem se colocaria em uma guerra de todos contra todos. Essa guerra apenas seria extinta com a criação de uma sociedade organizada sob a proteção de um corpo político que a governasse. O estado de natureza não descreve o homem primitivo, mas sim como o homem se comportaria, dada a natureza humana, caso se suspendesse a obrigação de cumprir a lei. Para Hobbes, a constituição e o funcionamento da sociedade pressupõem que os indivíduos cedam uma parte de seus direitos e os transfiram a um soberano que passa a exercer o poder de forma absoluta. A cessão e transferência de direitos e poderes consistem em um contrato social, que institui a sociedade civil organizada, porque o homem deseja sobreviver, e a sobrevivência é também uma lei natural, sendo em nome dela que o homem estabelece contratos. O poder passa a ser exercido por um soberano que se torna detentor de um poder absoluto, resultando na transferência dos direitos dos indivíduos ao soberano. Hobbes é considerado um contratualista, por acreditar que a sociedade civil organizada é resultado de um pacto entre os indivíduos. Locke pode ser visto como otimista em relação à natureza humana e ao convívio entre os indivíduos, já que considera o entendimento racional como princípio básico da existência da sociedade. Ele parte de uma concepção individualista em que os homens isolados no estado de natureza se uniram mediante um contrato social para construir a sociedade civil. Para Locke, no estado natural, cada um é juiz em causa própria, portanto os riscos das paixões e da parcialidade são muito grandes, podendo desestabilizar as relações entre os homens. O poder é visto por Locke como um depósito confiado aos governantes, ou seja, trata-se de uma relação de confiança. Locke conceitua que todos são proprietários, mesmo aqueles que não possuem bens, pois são proprietários da sua vida, do seu corpo e trabalho. Segundo a concepção de Locke, a sociedade resulta de uma reunião de indi- víduos, visando garantir suas vidas, sua liberdade e propriedade. É em nome da proteção desses direitos considerados como “direitos naturais” que o homem realiza o contrato social, criando a sociedade. Jean Jacques Rousseau acredita na concepção de natureza humana represen- tada pela famosa ideia segundo a qual o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Ainda conceitua que o homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado. A grande questão para Rousseau consiste em saber como preservar a liberdade natural do homem por meio da criação de um corpo político que o governe, legiti- mado pelo contrato, mas que ao mesmo tempo lhe garanta segurança e bem estar na vida em sociedade. Rousseau procura resolver a questão da legitimidade do poder do Estado de forma inovadora, redirecionando ao povo a soberania antes atribuída de forma abso- luta ao governante. Na sua obra “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens”, Rousseau cria a hipótese dos homens no estado de natureza, vivendo sadios, bons e felizes enquanto cuidam da sua sobrevivência, até o momento em que é criada a propriedade e uns passam a trabalhar para os outros, gerando escravidão e miséria. O contrato social, para ser legitimo, deve se originar de um consentimento ne- cessariamente unânime. Pelo pacto, o homem abdica da sua liberdade, mas sendo ele próprio parte integrante e ativa do todo, ao obedecer à lei, ele estará obedecendo a si mesmo e, portanto, será livre. Para Rousseau não há um superior, já que os depositários do poder não são senhores do povo, mas seus oficiais, podendo ser eleitos ou destituídos conforme a conveniência. Exercício 07. (Cespe 2010 – Defensor Público-Geral da União) De acordo com a teoria política de John Locke, a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo insti- tuição anterior à sociedade, é direito natural do indivíduo, não podendo ser violado pelo Estado. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 32 33 4. O Estado de Direito e Elementos Constitutivos 4.1 Apresentação Este capítulo abordará o nascimento do Estado de Direito, sua definição, ob- jetivo e elementos intrínsecos (povo, território e soberania). 4.2 Síntese Apesar de a antiguidade clássica já apresentar precursores da realidade chamada Estado, é a partir do século XVI que o Estado, tal como é concebido em sua estru- tura, foi se impondo em diferentes lugares, substituindo outras formas de organiza- ção política. Na idade contemporânea, com os processos dedescolonização que tiveram iní- cio na metade do século XX, depois da segunda guerra mundial, vislumbrou-se a configuração do Estado como uma realidade concreta. Ao longo da história, o Estado moderno foi se adaptando a diferentes situações, evoluindo desde as formas absolutistas até às formas democráticas. Como desenvolvimento do processo de formalização do Estado, tornava-se cada vez menos necessária a sua personificação na pessoa do monarca, e sempre mais indispensável uma conotação abstrata, dentro dos esquemas lógicos da lei e norma jurídica. A passagem da esfera da legitimidade para a da legalidade assinalou o nasci- mento do “Estado de Direito”, fundado sobre a liberdade política e a igualdade de participação dos cidadãos frente ao poder. Com esse viés de legalidade, alicerçado em uma Constituição que garante o aten- dimento aos anseios do povo soberano, surge o chamado Estado Contemporâneo. Foi com “O Príncipe” de Maquiavel que se disseminou o uso da palavra “Estado”, passando-se a utilizá-la para designar uma nova realidade que dava maior destaque à coletividade organizada que ao poder personalizado. A palavra “Estado” surge para designar o status de poder na sociedade política, derivado de um processo de despersonalização da soberania, que se desvincula da pessoa do rei, transladando-se à corporação política que forma o povo organizado. Atualmente sua utilização é ampla, sempre significando um corpo administra- tivo que detém o poder político em determinada sociedade. O Estado é uma unidade social básica, na qual as pessoas vivem e que se consti- tui a partir de um território, um povo e uma organização política complexa, na qual o poder está dividido em três esferas de atuação: executivo, legislativo e judiciário. Ao examinar o Estado sob a ótica do poder e das relações de dominação, en- tende-se que o Estado tem o poder de mando, e mandar significa ter a capacidade de poder fazer executar de forma incondicional a sua vontade sobre outras vontades. O Estado se constitui das mais complexas associações cujo poder parte da socie- dade e a ela deve ser dirigido. Para Max Weber, o Estado consiste em uma relação de dominação do homem sobre o homem, fundada no instrumento da violência legítima. Nessa condição, o Estado só pode existir sob a condição de que os homens dominados se submetam à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores. Weber afirma que o Estado é uma associação política, quando e na medida em que seu quadro administrativo reivindica com êxito o monopólio legítimo da coação física para realizar as ordens vigentes, subsistindo dentro de um determinado territó- rio geográfico graças à ameaça e aplicação da coação física por parte do seu quadro administrativo. Para Maurice Hauriou, o Estado é um grupo humano fixo em um território determinado, e no qual existe uma ordem social, política e jurídica orientada para o bem comum, estabelecida e mantida por uma autoridade dotada de poderes coercitivos. Verifica-se que em cada teoria, as características intrínsecas dos Estados e seus elementos constitutivos são diferentes. Em todas as definições há a existência de um grupo humano ou corpo social organizado, que é vulgarmente chamado de povo; um território sobre o qual vive esse povo; o poder que dirige o grupo e uma ordem econômica, social, política e jurídica, sobre a qual o poder procura se estabelecer e realizar. Há também os que sustentam que o Estado é um meio para o homem realizar a sua felicidade social, um sistema para conseguir a paz e a prosperidade. O fim precípuo do Estado é a realização do bem comum. Essa busca não deve ficar acima dos valores da pessoa humana, caso contrário, corre-se o risco de ferir a liberdade e iniciativa individuais, caindo no totalitarismo. O Estado constitui-se de três elementos: território, população e soberania (governo). No território, o Estado exerce suas funções e competências, exercendo sobre elea sua jurisdição. Fischbach define território como sendo uma porção limitada da superfície ter- restre, na qual se estende o poder de domínio do Estado. A população é o número de pessoas que habitam no território de um Estado, independentemente da sua condição. É o elemento humano. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 34 35 5. As formas de Estado e os Sistemas de Governo 5.1 Apresentação Este capítulo abordará as principais formas de Estado existentes e os sistemas de governo. 5.2 Síntese A forma de Estado é o reflexo da maneira como Território, Povo e Soberania se conjugam. As formas de Estado referem-se à projeção do poder dentro de uma esfera terri- torial, tomando como critério a existência, a intensidade e o conteúdo da descentra- lização político-administrativa. Existe a forma de Estado Unitário ou Simples, que se caracteriza pela unicidade do poder. Percebe-se a existência do governo. As Ordens jurídicas, políticas e administrativas encontram-se na forma unitária. No Estado unitário todo poder político se origina de uma fonte única e se exerce sobre todo o território estatal, havendo uma centralização política que se conjuga com a unidade do sistema jurídico, comportando o País um só Direito e uma só lei. No Estado composto há uma pluralidade de ordens jurídicas atuando concomi- tantemente, de forma concorrente e paralela, excluindo-se a existência no Estado de uma exclusividade ou unidade da ideia de Direito. O Estado Federal é uma forma composta de Estados autônomos, que se unem sob a égide de uma Constituição, para traduzirem um ideal de descentralização político-administrativa. O Estado Federal é uma forma de organização do poder que dá lugar a dois níveis diferentes de governo: central e regional. A soberania é transferida para os estados federais que formam uma unidade polí- tica. Cada unidade agirá na esfera política, administrativa e judiciária. Os sistemas de governo tratam da organização e do funcionamento do poder estatal, consoante critérios para a determinação de sua natureza. A monarquia absolutista é uma forma de governo em que o poder está nas mãos de um indivíduo cuja vontade dirige todo o Estado, não existindo divisão de pode- res ou mecanismos pelos quais o governo responde por seus atos. Ex: sultanatos de Brunei, Catar e Butão. O vocábulo “povo” faz referência ao conjunto de pessoas que formam um aglo- merado único e diferenciado, cuja conduta está regulada por uma ordem jurídica nacional. Nação é uma entidade moral, uma comunidade de consciências, unidas por um sentimento complexo, o patriotismo. Soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma república. A soberania tornou- -se característica definidora ou constitutiva do poder do Estado, sempre que esse poder é atribuído a alguém em virtude do seu cargo e não de sua pessoa. Exercício 8. (Cespe 2010 - Defensor Público da União) Entre os conceitos vigentes a partir do século XVI, na época do Renascimento, e que estão na origem da modernidade, encontra-se a noção do Estado como soberania. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 36 37 6. O Direito como Fenômeno Social 6.1 Apresentação Este capítulo abordará o Direito sob uma perspectiva sociológica, tomando-o como um fenômeno eminentemente social. 6.2 Síntese Muitas teorias consideram o Direito sob o prisma do Fato Social, apresentando- -o como simples componente dos fenômenos sociais, sendo suscetível de ser estu- dado em consonância com os próprios nexos de causalidade que ordenam os fatos do mundo físico. Não há fenômeno jurídico que não se desenvolva em certa condicionalidade histórico-social. As normas sempre estiveram presentes para guiar o comportamento dos ho- mens, ainda que de forma primitiva e não positivada. O Direitoé um fenômeno social pela origem, pelo desenvolvimento e pela aplicação. Ele nasce na sociedade, desenvolve-se com ela e a ela se aplica, configu- rando-se no tempo e no espaço. Segundo a concepção sociológica, será sempre o Fato um elemento dominante ou exclusivo do mundo jurídico. Nesse sentido, existem fatos fundamentais para de- finir o Direito, como, por exemplo, o meio físico, a consciência coletiva, a densidade demográfica, a fé religiosa, as discrepâncias econômicas, etc. Friedrich Ratzel, geógrafo e etnólogo alemão, tentou circunscrever o Direito ao fato. Ele subordinou a órbita jurídica às condições do meio geográfico, estabele- cendo uma relação entre as instituições jurídicas e as variações climáticas, e outras variáveis de ordem natural. As ideias de Ratzel foram usadas como justificativa teórica - inclusive pelos na- zistas - para a opressão e eliminação de povos, como judeus, ciganos e eslavos, para a consolidação do Estado ariano. Gilles Lapouge defende a existência de uma raça superior, baseando-se no Darwinismo social, na ideia de uma luta pela sobrevivência das espécies, assumindo um claro antissemitismo. O antissemitismo considera que a justiça, igualdade e fraternidade - ideias típi- cas da democracia - são ficções e que o individuo é determinado pela sua raça. A monarquia constitucional parlamentar caracteriza-se pela limitação da fun- ção do rei à chefia de Estado, estando ele sob o controle do Poder Legislativo e do Executivo. Ex: Reino Unido, Suécia e Espanha. A República é uma forma de governo que se caracteriza pela representação política do povo que, que por meio do voto, legitima o exercício do poder do Chefe do Governo, cuja durabilidade é restringida temporalmente. A República será aristocrática quando o direito de eleger os órgãos do poder residir nas classes nobres ou privilegiadas, e será democrática quando o direito de eleger pertencer a todos indistintamente. A República democrática é a forma de regime representativo em que o poder legislativo é eleito pelo povo, e o executivo é eleito pelo povo ou parlamento, ou nomeado pelo presidente da república. A República será presidencialista quando se confundirem numa só pessoa as figuras de Chefe de Estado e de governo, e será parlamentarista quando a chefia de Estado for exercida pelo presidente da República e a chefia de governo por um Conselho de Ministros. A democracia é um sistema político que permite o funcionamento do Estado, no qual as decisões coletivas são adotadas pelo povo através de mecanismos de parti- cipação direta ou indireta que conferem legitimidade ao representante. Em sentido amplo, democracia é uma forma de convivência social, na qual todos os habitantes são livres e iguais perante a lei. A essência desse governo reside na participação do povo. O Parlamentarismo é o sistema de governo em que o parlamento oferece uma sustentação política ao poder executivo. O poder executivo geralmente é realizado por um ministro, que também é chamado de chanceler. O Presidencialismo é um sistema de governo no qual o Presidente da República é Chefe de governo e de Estado, e inspira-se na teoria de separação de poderes de Montesquieu. Exercício 9. (Cespe 2009 – Diplomacia) Julgue a assertiva a seguir: O Estado federal bra- sileiro é pessoa jurídica de direito público internacional, e sua organização político- -administrativa compreende a União, os Estados e o Distrito Federal, mas não os municípios, pois estes não são entidades federativas, visto que constituem divisões político-administrativas dos estados. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 38 39 Esse entendimento do Direito como fato social foi defendido no Brasil por ju- ristas como Tobias Barreto, Silvio Romero e Pedro Lessa, adquirindo um grande destaque na obra de Pontes de Miranda. Para garantir a objetividade do Direito, tanto o legislador quanto o juiz não de- veriam usar de outros métodos antes de empregar a sociologia.. As normas jurídicas nascem a partir de uma situação fática social que precisa ser disciplinada. A Sociedade e o Direito se influenciam mutuamente, e dessa forma as diver- sas dimensões do social condicionam o Direito, ao mesmo tempo que por ele são condicionadas. A maior parte das condutas habituais que estruturam a vida cotidiana são ex- pressões do Direito, como tomar um ônibus, comprar uma entrada para o teatro, adquirir um jornal, etc. O Direito reflete o estágio histórico-cultural e o complexo axiológico da socie- dade. Por isso, ele não pode ser diferente da sociedade onde nasce e sobre a qual exerce o controle. O Direito faz parte do cotidiano das pessoas na medida em que elas utilizam, interpretam, aplicam e criam normas sociais com validade legalmente compulsória. É a análise de todos os fatores sociais que influencia na gênese, no desenvolvi- mento e na anulação das instituições e normas do ordenamento jurídico. O Direito nasce quando um sistema social alcança elevados níveis de especiali- zação interna das funções atribuídas aos componentes do grupo, e, para a instaura- ção e manutenção de certa ordem, estabelece-se uma organização adequada. Direito é o conjunto de normas eficazes, que regulam as condutas dos indi- víduos em sociedade, impingindo a todos uma sanção caso essas normas sejam descumpridas. Na concepção do Direito Positivo, o Direito é uma ordem normativa institucio- nal da conduta humana em sociedade, inspirado em postulados de Justiça, cuja base são as relações sociais existentes que determinam o seu conteúdo em caráter. O Direito é um conjunto de normas sociais que regula a convivência entre os homens e permite resolver os conflitos interpessoais. Ele também pode ser definido como o conjunto de leis de caráter permanente e obrigatório, criadas pelo Estado para a conservação da ordem social. Para o Professor Sérgio Cavalhieri Filho, o Direito é um conjunto de normas de conduta - universais, abstratas, obrigatórias e mutáveis - impostas pelo grupo social e destinadas a disciplinar relações externas do indivíduo para prevenir conflitos. Para Kant, Direito é o conjunto das leis suscetíveis de uma legislação exterior. Quando essa existe, forma-se a ciência do Direito Positivo. Ele ainda dita que o Direito tem como objeto somente o que concerne aos atos exteriores, é estrito e diferencia-se da moral. Para Hegel, o domínio do Direito é de ordem espiritual e seu ponto de partida é a vontade livre, de tal modo que a liberdade constitui sua substância. Niklas Luhmann conceitua que o Direito tem de ser visto como uma estrutura, comlimites e formas de seleção definidos pelo sistema social. Alf Ross diz que o Direito consiste em regras que conservam o exercício da força, que aparece como uma pressão para produzir o comportamento desejado. Exercício 10. (Cespe 2010 - Defensoria Pública da União) Na perspectiva da Sociologia Jurídica, a. o Direito é um aprimoramento do caráter humano. b. o Direito é uma função da sociedade. c. o Direito é proveniente de uma autoridade bem formada (Deus, Natu- reza ou Razão humana). d. Deus e a natureza são objetos de estudo, porque o são de todas as áreas relacionadas ao Direito. e. a lei escrita é objeto de estudo. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 40 41 7. As Fontes do Direito 7.1 Apresentação Este capítulo abordará as fontes do Direito. 7.2 Síntese Em matéria de Direito, a palavra “fonte” está associada com a ideia de nasci- mento, origem. A Fonte do Direito se refere então à origem do Direito. Sua verdadeira fonte é a vida em sociedade. Cada ordenamento jurídico tem o seu próprio sistema de fontes. O brasileiro, por exemplo, reconhece a lei como a fonte suprema, sendo a Constituição a fonteoriginária do Direito, da qual todas as outras fontes extraem a sua validade. Do ponto de vista sociológico, há um farto material que pode ser classificado como normas jurídicas, e que não provém dos órgãos estatais cuja função é a edição de leis. No campo do Direito Internacional, as fontes básicas são os acordos, tratados e costumes internacionais. A origem da norma jurídica está sempre associada a alguma força social, a gru- pos de pressão e diferentes interesses que se manifestam diante do Estado e da socie- dade de modo geral. A criação normativa pode ocorrer pelos seguintes modos: » Pactos e acordos entre os particulares. » Precedentes, ou seja, casos já decididos que atuam como diretriz para decisão de caso similar. » Costumes, aquele que nasce de forma espontânea de acordo com as necessi- dades dos grupos sociais, para dirimir conflitos de forma rápida. » Lei, que é a fonte normativa primária de origem estatal. A principal caracterís- tica é sua promulgação pelo Estado. A origem da norma está sempre associada a alguma força social, a diferentes interesses que se manifestam diante do Estado e da sociedade. O ordenamento jurídico se apresenta como uma construção hierárquica, na qual cada norma extrai sua validade de uma norma de grau superior e convalida as de grau inferior. O Direito positivo entende que as principais fontes geradoras das normas ju- rídicas são as normas constitucionais. A Constituição se situa no topo da pirâmide normativa, é a fonte originária do Direito, da qual todas as outras fontes extraem a sua validade. Ela origina-se de um documento escrito ou baseia-se, total ou parcial- mente, em normas consuetudinárias. Alf Ross diz que as fontes do Direito têm como fundamento o seu grau de obje- tivação, apresentando-se ao juiz como regra pronta para a sua aplicação. Ross classifica as fontes segundo o seu tipo: » Completamente objetivada: trata das formulações revestidas de autoridade, ou seja, a própria legislação no seu sentido mais amplo. » Parcialmente objetivada: refere-se aos costumes ou aos precedentes. » Não objetivada ou livre: trata da razão. As normas podem se formar e transformar espontaneamente, independente do poder político, porém, sua constatação enquanto norma depende de sua aplicação pelo órgão judicial. Logo, existem normas antes do Estado e mesmo fora dele. Do ponto de vista da cultura, o Direito existe quando há normas sociais, ou seja, regras que devem ser aceitas e compartilhadas por determinado grupo social. Com o surgimento do Estado moderno, as normas foram assumindo a forma de leis, impondo-se de modo coercitivo à sociedade. As fontes se classificam em históricas, reais ou materiais e formais. » Históricas: são regulamentadas pela moral e formadas por fatos que ao longo do tempo tornam-se relevantes para determinada sociedade. » Reais ou materiais: fazem alusão aos grupos sociais nos quais o Direito tem sua origem. » Formais: determinam as formas de expressão das normas. São limitadas e disciplinadas de forma rigorosa pelo Direito. Dividem-se em estatais e não estatais. As primeiras são produzidas pelo poder público e correspondem à lei e jurisprudência. As segundas decorrem diretamente da sociedade ou de seus grupos. São representadas pelo costume, pela doutrina e pelo poder negocial e normativo dos grupos sociais. A lei é o preceito jurídico escrito, emanado do legislador e dotado de caráter geral e obrigatório, sendo imposta pelo Poder Estatal. O costume é considerado uma regra de conduta aceita e repetida constante- mente como obrigatória pela consciência do povo, sem que o poder público o tenha estabelecido. A jurisprudência se constitui de decisões reiteradas, constantes e pacíficas do poder judiciário sobre uma determinada matéria em um determinado sentido. Os princípios gerais do Direito também são considerados fontes, postulados que se encontram implícita e explicitamente no sistema jurídico, contendo um conjunto de regras. So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 42 43 A doutrina é um conjunto de indagações, pesquisas e pareceres dos cientistas do Direito. Do ponto de vista internacional, os tratados internacionais são considerados como fontes formais do Direito. Para Tanto, eles devem ser celebrados por sujeitos de Direito Internacional, geralmente os Estados, e regulados peloDireito Internacional, tendo como objetivo produzir efeitos jurídicos. Exercício 11. Juiz do TRT – 9ª Região (PR) - 2009 (Adaptação) Julgue a assertiva a se- guir: No plano jurídico, fontes do Direito expressam a origem das normas jurídicas, podendo-se classificar as fontes em dois grandes blocos, designados de fontes ma- teriais, enfocando o momento pré-jurídico, constituindo-se nos fatores que condu- zem à emergência e construção da regra de Direito e fontes formais, enfocando o momento tipicamente jurídico, considerando a regra já plenamente construída, os mecanismos exteriores e estilizados pelos quais essas regras se revelam para o mundo exterior, ou seja, os meios pelo quais se estabelece a norma jurídica. 8. Os Sistemas Jurídicos da Atualidade 8.1 Apresentação Este capítulo abordará os sistemas jurídicos existentes na atualidade, o sistema romano-germânico, o sistema anglo-saxão, o sistema baseado no direito socia- lista e os sistemas jurídico-religiosos. 8.3 Síntese Nem sempre a sociedade política, juridicamente ordenada na forma de Estado, terá o mesmo ordenamento jurídico. No entanto, é possível reunir os vários ordenamentos existentes no mundo em agrupamentos que seguem, com mais ou menos profundidade, princípios e origens comuns.Cada Estado opera um sistema jurídico ou regime de Direito, constituindo um ordenamento jurídico nacional. O ordenamento jurídico é um corpo integrado de regras que determina as con- dições sob as quais a força física será exercida contra uma pessoa. Além disso, estabe- lece um aparato de autoridades públicas cuja função consiste em ordenar e levar a cabo o exercício da força em casos específicos. Portanto, o ordenamento jurídico é o conjunto de regras para o estabelecimento e funcionamento do aparato de força do Estado. Um sistema jurídico é um agrupamento de ordenamentos unidos por um con- junto de elementos comuns, tanto pelo regulamento da vida em sociedade, como pela existência de instituições jurídicas e administrativas semelhantes. Os ordenamentos de um mesmo sistema jurídico partem dos mesmos pressu- postos filosóficos e sociais, dos mesmos conceitos e mesmas técnicas, embora com adaptações às situações que lhes são particulares.O mundo pode ser dividido atual- mente em cinco grandes sistemas jurídicos: Direito romano-germânico, anglo-saxão, socialista e religioso. O Brasil adota o sistema romano-germânico. A característica básica do sistema romano-germânico é o predomínio das nor- mas escritas, relegando à jurisprudência e aos costumes o papel de fontes menos im- portantes. Esse sistema pretende que as leis regulem todas as instituições jurídicas. Nos países que adotam esse sistema, as normas surgem vinculadas às preocupações de justiça e moral, ainda que haja a predominância da lei como fonte do Direito. O sistema anglo-saxão, também conhecido como sistema da Common Law, foi elaborado com base em um conjunto de normas e regras de caráter jurídico, não So ci ol og ia Ju ríd ic a So ci ol og ia Ju ríd ic a 44 45 9. Funções Sociais do Direito 9.1 Apresentação Este capítulo abordará as funções sociais do Direito. 9.2 Síntese A função básica do Direito é a segurança e a organização social, permitindo uma convivência humana harmônica. Na Sociologia Jurídica, as principais funções do Direito são a de organização, controle social, orientação, persuasão,
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