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DOENÇA RENAL SECUNDARIA A ERLIQUIOSE EM CÃO: ESTUDO DE CASO 
 
COSTA, Arléia Araújo1; BUFFON, Fernanda Santos Nogueira2; CHAVES, Renato 
Novaes3; SANCHES, Roseli Olímpio4; 
 
RESUMO 
A erliquiose é uma doença infecciosa causada por um hemoparasita da ordem 
Rickettsiales, do gênero Ehrlichia spp. Neste estudo, priorizou-se a fase crônica da 
doença, que apresenta característica semelhante à doença autoimune. Nesta fase, 
devido a alguns fatores como a irregularidade da hemodinâmica renal, queda 
acentuada de contagem de células sanguíneas, juntamente à vasculite provocada 
pelos hemoparasitas, ocorre a formação de imunocomplexos nos glomérulos, no 
qual o antígeno fixa-se ao mesmo, dando início a insuficiência renal. Desta forma, 
objetivou-se relatar um caso de insuficiência renal secundária à erliquiose: um cão 
da raça pincher, macho, 6 anos, atendido numa clínica da cidade de Vitória da 
Conquista-Bahia, com histórico de apatia, anorexia e perda de peso. Ao exame físico 
foi obervado desidratação grau 8, mucosas hipocoradas e temperatura retal de 
39.9°c, sendo testado positivo para Erliquiose, seguindo com tratamento 
convencional para a referida hemoparasitose. Após quase 30 dias, o animal 
apresentou apatia, anorexia, êmese, e foi levado novamente a clínica. O histórico do 
animal (anamnese), os resultados dos exames juntamente com a ausência de 
melhora e permanência dos sinais clínicos apresentadas pelo paciente foram 
condizentes com uma glomerulonefrite imunomediada secundária à erliquiose que 
causou uma insuficiência renal aguda no animal, podendo esta ter evoluído para 
uma doença renal crônica. 
 
Palavras Chaves: Alteração Renal, imunocomplexos, Erlichia canis, doença renal. 
 
ABSTRACT 
 
Ehrlichiosis is an infectious disease caused by a hemoparasite of the order 
Rickettsiales, of the genus Ehrlichia spp. In this study, priority was given to the 
chronic phase of the disease, which has characteristics similar to autoimmune 
disease. In this phase, due to some factors such as irregularity in renal 
hemodynamics, a sharp drop in blood cell counts, together with vasculitis caused by 
hemoparasites, there is the formation of immune complexes in the glomeruli, in which 
 
1
 Discente do Centro Universitário de Tecnologia e Ciências de Vitória da Conquista (UniFTC/VCA). 
E-mail: leiaacosta@gmail.com 
2
 Discente do Centro Universitário de Tecnologia e Ciências de Vitória da Conquista (UniFTC/VCA). 
E-mail: buffonfernanda@gmail.com 
3
 Docente do Centro Universitário de Tecnologia e Ciências de Vitória da Conquista. Doutor em 
Memoria, Envelhecimento e Dependência Funcional (UESB). Orientador. 
4
 Docente do Centro Universitário de Tecnologia e Ciências de vitória da Conquista. Especialista em 
Cardiologia Veterinária e Diagnóstico por Imagem (EQUALIS e IBVET). Co-orientadora. 
 
the antigen is fixed to it, initiating renal insufficiency. Thus, the objective was to report 
a case of renal failure secondary to ehrlichiosis: a pincher dog, male, 6 years old, 
attended at a clinic in the city of Vitória da Conquista-Bahia, with a history of apathy, 
anorexia and weight loss. On physical examination, grade 8 dehydration was 
observed, pale mucous membranes and a rectal temperature of 39.9°c. After almost 
30 days, the animal showed apathy, anorexia, emesis, and was taken back to the 
clinic. The animal's history (anamnesis), the results of the exams together with the 
absence of improvement and the persistence of the clinical signs presented by the 
patient were consistent with an immune-mediated glomerulonephritis secondary to 
ehrlichiosis that caused an acute renal failure in the animal, which may have evolved 
into a chronic kidney disease. 
 
Key Words: Renal Alteration, immune complexes, Erlichia canis, kidney disease. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Os rins são órgãos indispensáveis para filtração e excreção de substâncias 
tóxicas do sangue. As desordens que os acometem incluem Insuficiência Renal 
Aguda (IRA) e Insuficiência Renal Crônica (IRC), devido a patologias envolvendo o 
glomérulo. A inflamação do glomérulo é a causa mais comum das 
glomerulonefropatias, e na maioria das vezes é causada por complexos imunes no 
interior das paredes dos capilares glomerulares. Um dos agentes causadores dessa 
patologia é a bactéria Erlichia sp. transmitida pelo carrapato Rhipicephalus 
sanguineus, que estimula constantemente o sistema imunológico desencadeando 
lesões renais devido á expressão de citocinas pró inflamatórias, que levam a uma 
glomerulonefrite intersticial multifocal (SANT'ANNA et al., 2019). 
Durante o curso da erliquiose, a bactéria que afeta diferentes órgãos incluindo 
os rins, provoca a produção elevada de anticorpos contra a E. canis, levando a 
formação de imunocomplexos que depositam-se nas paredes dos capilares 
sanguíneos, gerando uma resposta inflamatória aguda no local (glomerulonefrite). 
Desta forma, a glomerulonefrite prejudica a função dos rins, provocando inicialmente 
A IRA, que pode evoluir para IRC e consequente falência renal (ZILIANI et al., 2019). 
 A erliquiose é uma das mais importantes enfermidades infectocontagiosas, 
por ser altamente prevalente e endêmica no Brasil, principalmente em áreas urbanas 
de clima tropical/subtropical, onde habitam maiores populações de carrapato 
Rhypicephalus sanguineus (ABIATI et al., 2019). 
Busca-se ressaltar quanto à conscientização dos tutores sobre os riscos à 
saúde do animal, mesmo após o tratamento e cura da erliquiose. Assim como a 
 
necessidade de atenção dos profissionais quanto ao tratamento nos estágios 
iniciais, e da responsabilidade e dedicação dos mesmos. E mesmo em casos que já 
exista algum tipo de lesão renal, a precocidade faz-se fundamental para o sucesso 
do tratamento, tendo como finalidade evitar a evolução da doença e morte do animal 
(ROSA, 2019). 
 O presente estudo tem como objetivo descrever um caso clínico de 
glomerulonefrite causada pela erliquiose, que desencadeou no paciente uma 
insuficiência renal aguda, podendo esta ter se tornado uma doença renal crônica. 
Destaca-se, portanto a importância da conscientização dos tutores em relação aos 
riscos que a erliquiose pode acarretar na ausência do tratamento da enfermidade, e 
a relevância do profissional médico veterinário para a identificação da patologia 
precocemente. 
Acredita-se que o acompanhamento do paciente pós tratamento de 
Herliquiose seja de extrema importância para a prevenção dos possíveis efeitos 
deletérios da doença para a função renal. E uma vez que esses efeitos já estejam 
ativos no paciente, o diagnóstico precoce objetiva uma melhor qualidade de vida ao 
mesmo. Assim, este trabalho pretende contribuir para a conscientização de tutores e 
profissionais para a realização do acompanhamento periódico como atenção básica 
ao paciente pós tratamento da hemoparasitose. 
 
2. METODOLOGIA 
 
Este relato de caso foi realizado através da interpretação de exames 
complementares como laboratoriais (uréia, creatinina e SDMA), de imagem 
(ultrassonografia) e prontuário médico cedidos pela Clínica Veterinária da cidade de 
Vitória da Conquista – Bahia, responsável pelo atendimento de um cão da raça 
Pincher, 6 anos, pesando 4 kg, que fora atendido com histórico de apatia, 
inapetência e prostração, sendo testado positivo para herliquiose, seguindo com 
tratamento convencional. 
Em seguida, o paciente deste relato é atendido em retorno médico com 
histórico de êmese, apatia e inapetência, que prosseguindo com os exames 
complementares, chegou-se ao diagnóstico de Doença Renal Crônica secundária a 
herliquiose e estadiamento da mesma segundo a classificação internacional da 
doença renal crônica International Renal Interest Society (IRIS). 
 
A interpretação e elucidação do caso realizado pela clínica responsável pelo 
atendimento encontra-se embasamento teórico em livrose artigos citados neste 
trabalho através da discussão do caso a seguir. 
 
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
No dia 27 de novembro de 2021, foi atendido em uma clínica particular, no 
município de Vitória da Conquista – Bahia, um cão da raça Pincher, macho, 4 kg de 
peso corporal, 6 anos, protocolo vacinal completo e atualizado, com histórico de 
apatia, inapetência e prostração há dois dias. O mesmo não fez uso de 
antiparasitários anteriormente e encontrava-se com vacinas regulares. 
Ainda segundo o prontuário, após anamnese, realizou-se o exame físico, 
onde foi constatado que o animal apresentava mucosas hipocoradas, desidratação 
grau 8, linfonodos inguinais alterados, depressão, frequência cardíaca de 120bpm, 
30 movimentos respiratórios por minuto e temperatura retal de 39.9ºC. 
Após a estabilização do quadro clínico do animal, através de fluidoterapia, 
administração de cianocobalamina (complexo B), amoxicilina com clavulanato e 
dipirona (doses não informadas), foi realizada a coleta de sangue para hemograma e 
bioquímico, os quais tiveram resultados de 5.16 de eritrócitos, 11.1 de hemoglobina, 
hematócritos de 36.7, plaquetas de 74 mil (trombocitopenia – número de plaquetas 
abaixo dos valores de referência), 18 linfócitos, Ureia 77 mg/dl (acima do valor de 
referência) e creatinina de 0,53mg/dl. Figuras 1 e 2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Pingo, Pincher, 6 anos, 27/11/2021. Imagem cedida 
pela Clínica responsável pelo tratamento 
 
Figura 1: Hemograma 
Figura 1: Hemograma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No dia 29 de novembro de 2021 foi realizado o teste pelo método de 
imunuensaio imunocromático, conforme Figura 3, comercialmente conhecido como 
SNAP 4dx Plus. Teste que evidencia a ligação antígeno-anticorpo, proporcionando 
alta sensibilidade e resultados confiáveis (Se o animal é sintomático e o teste é 
negativo, confirmar resultado com Reação em Cadeia Polimerase – PCR). O mesmo 
confirmou positivo para Erlichia canis, o qual foi relacionado com os sinais clínicos e 
alterações laboratoriais, sugerindo que havia doença ativa, ou seja, em fase aguda. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Bioquímico (uréia e creatinina) 
Fonte: Pingo, Pincher, 6 anos, 27/11/2021. Imagem cedida 
pela Clínica responsável pelo tratamento 
 
Figura 3: Teste de Herliquiose 
 Fonte: Pingo, Pincher, 6 anos, 29/11/2021. Imagem cedida 
pela Clínica responsável pelo tratamento 
 
 
O tratamento instituído para a erliquiose foi a doxiciclina (8mg/kg 1x ao dia por 
28 dias), (omeprazol 20mg), citoneurin (5000mcg 1 x ao dia por 30 dias), transfusão 
sanguínea rica em plaquetas (1 bolsa), fluidoterapia, ômega 3 (1 x ao dia), 
alimentação rica em ferro e albumina. Durante e após o tratamento foram realizados 
Hemogramas e bioquímicos de controle, os quais foram demonstrativos para o 
aumento progressivo de uréia e creatinina. 
Neste mesmo período, em um dos retornos para coleta de sangue e avaliação 
do paciente, o responsável pelo mesmo informou que o animal apresentou êmese 
(vômito), inapetência (ausência de apetite) e poliúria (eliminação de quantidade 
excessiva de urina). Tal quadro não condiz com uso das medicações para o 
tratamento de erliquiose, pois o paciente já havia finalizado o uso das medicações, e 
quando em uso, todas as recomendações quanto à administração dos fármacos 
foram seguidas, incluindo o uso de protetor gástrico. 
No dia 28 de março de 2022, percebeu-se um aumento significativo nos níveis 
de uréia (529.5 mg/dl) e de creatinina (11.8 mg/dl) (Figura 4). Portanto, tais sinais 
clínicos apontaram para um possível quadro renal. Na ocasião, o paciente foi 
medicado com ondasetrona (0.2ml via intravenosa), cobavital (4mg, 1 
microcomprimido 1 x ao dia antes da alimentação), renadog pó (85g, 1g 1 x ao dia 
por 30 dias), acetil (1 cápsula de 20 mg 1 x ao dia), hidróxido de alumínio (40 mg 1 x 
ao dia) e foi prescrito uma dieta para animais portadores de doença renal, com ração 
para doentes renais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 4: Bioquímico (Uréia e creatinina) 
Fonte: Pingo, Pincher, 6 anos, 28/03/2022. Imagem cedida 
pela Clínica responsável pelo tratamento 
 
 
Os sinais clínicos apresentados pelo paciente deste relato de caso não são 
patognomônicos da doença renal crônica, sendo que a suspeita foi embasada 
através do histórico e sinais clínicos apresentados pelo prontuário do paciente, 
exames laboratoriais como bioquímico (uréia e creatinina). 
A creatinina é formada pelo metabolismo da creatina e fosfocreatina 
muscular, sendo totalmente excretada, sem que haja reabsorção tubular (SILVA, 
SOUSA E ROCHA, 2017). Em situações de diminuição de filtração, a concentração 
de ureia aumenta, pois, a mesma é produto final do catabolismo proteíco, sendo 
eliminada na urina, e parte é reabsorvida. Esta nunca deve ser avaliada de forma 
isolada, pois em fatores extra renais seus níveis séricos também são elevados 
(LOPES et al., 2007). 
Os exames laboratoriais foram de extrema importância para avaliação da 
função renal, pois através dos níveis de ureia e creatinina é possível avaliar a taxa 
de filtração glomerular. 
Desde então, o paciente foi reavaliado em média a cada 30 dias. No dia 07 de 
abril de 2022 a uréia (91,4 mg/dl) e creatinina (3.0 mg/dl) apresentaram-se menos 
acentuada. Figura 5. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Pingo, Pincher, 6 anos, 07/04/2022. Imagem cedida 
pela Clínica responsável pelo tratamento 
 
 Figura 5: Bioquímico (Uréia e creatinina) 
 
Em 25 de maio de 2022, percebeu-se uma diminuição significativa da ureia e 
creatinina, 67,45 mg/dl e 1.87 mg/dl respectivamente. Figura 6. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E em 31 de agosto deste referido ano, foi realizado uma última dosagem de 
creatinina e ureia, as quais se encontravam dentro dos padrões normais de 
referência, 1.45 mg/dl e 36.16 mg/dl respectivamente. Figura 7. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 07 - Bioquímico (Uréia e creatinina) 
Fonte: Pingo, Pincher, 6 anos, 31/08/2022, Imagem cedida 
pela Clínica responsável pelo tratamento 
 
Fonte: Pingo, Pincher, 6 anos, 25/05/2022. Imagem cedida 
pela Clínica responsável pelo tratamento 
 
Figura 06 - Uréia e Creatinina 
 
A Doença renal, quando se torna crônica, em muitas das vezes, pode levar ao 
quadro de hipertensão arterial. Segundo ACIERNO & LABATO (2005), cerca de 60% 
dos gatos e 93% dos cães doentes renais apresentam elevação na pressão 
sanguínea, sendo essa alteração refletida negativamente em órgãos como cérebro, 
coração e olhos, sendo importante a aferição periódica da pressão arterial dos 
pacientes renais, uma vez que ocorre concentração de sódio, elevando a pressão 
arterial. 
De acordo o prontuário do paciente, após a instituição do tratamento para a 
doença renal, em momentos diferentes foram feitas duas aferições da pressão 
arterial sistólica (PAS), onde em primeiro momento foi considerado uma pré 
hipertensão (PAS de 159mHG) e posteriormente, visível estabilização na segunda 
aferição da (PAS de 139 mHG) (Figura 08), levando em consideração aos 
parâmetros de hipotensão (PAS 180mmHg) apresentados por BROWN 
(2007) 
Foram feitas duas aferições de pressão arterial em repouso: Em 28 de março 
o resultado foi PAS de 159 mHg e em 03 de outubro o resultado foi PAS de 139 
mHg. Figura 8. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Pingo, pincher, 6 anos. Imagem cedida pela Clínica 
responsável pelo tratamento 
 
Figura 08 - Prontuário do paciente (resultados da 
pressão arterial sistólica) 
 
Durante o acompanhamento do paciente pelo corpo clínico, a patologia em 
questão fora melhor embasada através de exame de imagem (ultrassonografia)e 
SDMA (Dimetilarginina Simétrica). 
No dia 03 de outubro de 2022 foi realizado um exame de imagem 
(ultrassonografia) para avaliação da morfologia renal, onde foram visibilizadas 
poucas alterações ultrassonográficas, como aumento de ecogenicidade do córtex 
renal, mas que aliado ao quadro de azotemia, consegue-se aferir uma possível lesão 
renal. 
 
 
 
 
 
Algumas enfermidades renais se apresentam ao ultrassom com 
ecogenicidade aumentada em região de córtex, tanto em fase aguda ou crônica, 
como nefrite intersticial e glomerular, nefrose ou necrose tubular, doença renal em 
estágio terminal, entre outras. Porém, ao associar o aumento da ecogenicidade do 
córtex renal ao quadro de azotemia, ou seja, aumento de compostos nitrogenados 
na circulação e aos sinais clínicos do paciente, suspeita-se neste caso, que durante 
a fase de infecção por erliquiose, houve portanto, deposição de imunocomplexos em 
glomérulos, ocasionando uma possível glomerulonefrite (DOMINIQUE, 2011). 
Em 25 de outubro de 2022 foi realizado pela clínica responsável pelo 
tratamento do paciente deste estudo, um exame de SDMA, em que o resultado foi 
29,2 ug/dl 
 
 
Figura 9: Imagem ultrassonográfica de rim esquerdo 
Fonte: Pingo, pincher, 6 anos. Vetcon, Dra Ludimila CRMV:06179/VETCON 
03/10/2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para a IRIS (2022) o SDMA acima de 25 ug/dl, mesmo considerado estágio 2 
da DRC, aponta para a necessidade de elevação do tratamento para o estágio 3, 
considerando o tratamento de possíveis vômitos, inapetência e náuseas, 
considerando a fluidoterapia subcutânea. Esses sintomas foram apresentados pelo 
paciente deste relato, sendo mantida toda a conduta preconizada, trazendo, portanto 
a estabilização do mesmo. 
Conforme a taxa de filtração glomerular (TFG) diminui, a SDMA aumenta, já a 
partir de 25% de perda de função renal, enquanto a creatinina só aumenta quando a 
perda da função renal atinge 75%, demonstrando portanto, que a análise dos níveis 
séricos de SDMA é capaz de alertar com antecedência patologias renais, como a 
glomerulonefrite (IRIS, 2020). 
Na maioria das vezes, as glomerulonefrites podem ocorrer de mecanismos 
imunomediados, principalmente os que envolvem anticorpos contra as membranas 
basais dos glomérulos ou a deposição, no glomérulo, de complexos antígeno-
anticorpo que não foram depurados adequadamente pelas células, aumentando a 
resposta inflamatória (ALOK; YADAV, 2021). 
 Uma demonstração importante de doença glomerular é a presença de 
proteínas de baixo peso molecular no filtrado glomerular e na urina (proteinúria) 
denominada nefropatia com perda de proteína (COUSER; JOHNSON, 2014). 
Consequentemente, pode ser observado a maior produção de proteínas pelo fígado 
Figura 10 – SDMA 
Fonte: Pingo, pincher, 6 anos. Imagem cedida pela Clínica responsável 
pelo tratamento 
 
como as lipoproteínas, ocasionando hipercolesterolemia (aumento dos níveis de 
colesterol no sangue), como medida de compensação pela perda via urinária. 
Porém, com a progressão da patologia, ocorre a diminuição dos níveis séricos 
(hipoalbuminemia), pois a produção de proteina não compensa sua perda (ALOK; 
YADAV, 2021). 
Apesar da dificuldade em encontrar a etiologia desencadeadora da doença 
renal, é importante que se chegue a uma possível causa, para que o tratamento seja 
mais específico e individualizado (BARBER, 2003). 
Assim, o tratamento instituído para o caso estudado foi nutricional, hidratação 
(ringer lactato), correção de distúrbios eletrolíticos, correção de desequilíbrio ácido 
base, correção de distúrbios gastrointestinais, bem como administração de algumas 
medicações nefroprotetoras (Arquivo clínica responsável, 2022). 
O quadro de vômitos e inapetência que o paciente apresentava, está 
relacionado ao acúmulo de gastrina (hormônio produzido pelas células da mucosa 
estomacal) na corrente sanguinea e consequentemente no estômago. Parte desse 
hormônio é metabilizado pelos rins, e quando a filtração glomerular está 
comprometida, esse hormônio concentra-se, provocando hipergastrinemia, 
aumentando a secreção de ácido clorídrico no estômago, podendo provocar desde 
uma gastrite até uma úlcera gástrica (ETTINGER; FELDMAN, 2008). 
Assim, o uso de protetor gástrico foi eficiente para estabilização do quadro, 
uma vez que o mesmo age como inibidor de secreção ácido-gástrica, promovendo 
bloqueio da bomba de prótons, agindo diretamente na inibição da enzima adenosina 
trifosfatase (responsável pela acidificação da secreção das células parietais), 
inibindo irreversivelmente a secreção de ácido clorídrico (VETSMART, 2022). 
A modificação dietética já é conduta estabelecida há mais de 50 anos e 
considerada como a base da terapia para doentes renais crônicos (BARTGES, 
2012). Para alguns autores a dieta renal deve ser instituída quando o paciente 
apresentar creatinina maior que 2,0 mg/dl ou a partir do estádio 3, segundo a 
classificação da IRIS (BARTGES, 2012). Porém, discute-se a necessidade de 
mudança dietética mesmo antes de surgirem os sinais clínicos, objetivando um 
tratamento precoce e com resultados satisfatórios. 
Para o paciente deste estudo, foi prescrita uma ração para dieta renal 
especial, que promete estímulo do apetite, atraso na evolução da doença, mas que 
não substitui o tratamento convencional. Existem disponíveis no mercado, rações 
 
que propõe dietas com restrição de fosfato, proteínas, sódio e vitaminas do 
complexo B, densidade calórica e de potássio, que podem aumentar a sobrevida dos 
cães e gatos com doença renal (BARBER, 2003). 
Segundo BROWN (1997), não existem evidências comprovadas quanto a 
redução da proteína na dieta e o retardo na progressão da doença renal, mas na 
rotina clínica é perceptível que dietas com teor de proteína reduzem o tempo de 
sobrevida dos pacientes. Alguns autores apresentam que após uma refeição com 
alto teor de proteínas, pode ocorrer o aumento da pressão intraglomerular, 
influenciando negativamente a função renal. Nesse sentido, a restrição moderada 
(para não levar a desnutrição proteíca, imunodeficiência, e anemia) objetiva a 
qualidade e digestibilidade, na tentativa de minimizar a progressão da doença 
(BROWN, 1997). 
No relato em questão, observou-se na análise dos exames uma melhora 
progressiva no quadro de azotemia e pressão arterial do paciente. 
A fluidoterapia também se mostrou importante para a estabilização do quadro 
do paciente deste estudo, uma vez que a poliúria é uma das características 
importantes da doença renal crônica, devido à redução na massa de néfrons e 
consequente dificuldade para concentrar a urina. A poliúria, neste caso, não é 
compensada pela polidpsia (excessiva sensação de sede) e o animal fica 
desidratado. Após a estabilização do quadro clínico do paciente, uma vez por 
semana foi realizada a fluidoterapia subcutânea, até a regularização dos níveis 
séricos de creatinina e uréia (BARTGES, 2012). A cada momento deve ser 
priorizado as necessidades imediatas renais e hemodinâmicas de modo a propiciar 
reparação dos tecidos, evitando lesão renal adicional ou o óbito (JERICO et al., 
2019). 
A doença renal, se diagnosticada como crônica, posteriormente pode ser 
estadiada de acordo o conselho INTERNATIONAL RENAL INTEREST SOCIETY 
(IRIS), podendo ser viabilizada uma maior eficiência do tratamento e 
acompanhamento de pacientes com DRC, classificação que já foi aceita pela 
sociedade americana e europeia de nefrologia e urologia veterinária (POLZIN, 
2011b). 
Porém, não são muitos os pacientes que conseguem ter o estadiamento da 
doença, com a realização de dosagem de todos os níveis séricos exigidos, devido 
principalmente à inviabilidade financeira de alguns tutores. O paciente deste estudo 
 
de caso vem sendo acompanhado por uma equipe de profissionais, e de acordo a 
classificação da IRIS (2020), avaliando o resultado do SDMA de 29,2 ug/dl (Figura 
10)e os últimos resultados séricos de uréia e creatinina (Figura 06 e 07), é possível 
estadiar a doença renal crônica no Estágio Nivel 2, uma vez que para a classificação 
da IRIS em nível 2, o paciente possui níveis séricos de creatinina e uréia entre 
normal e levemente aumentada e SDMA levemente aumentada. 
 É importante a realização de todos os exames anteriormente citados, pois 
uma vez que há presença de lesão ou deficiência grave na função dos rins, estes 
poderão ser sinalizados em exames laboratoriais, a exemplo de anemia, aumento da 
ureia e creatina (azotemia), hipoalbuminemia, hiperfosfatemia, hipercolesterolemia, 
hipertensão arterial, edema, acidose metabólica, infecção bacteriana do trato urinário 
concomitante, além de proteinúria, hipostenúria e aumento de GGT na mesma, 
sendo esses achados laboratoriais condizentes com comprometimento da função 
renal. Além da vizibilização precoce ao ultrassom de alterações da morfologia renal 
que antecede às alterações laboratoriais (SANT’ANNA, 2019). 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Já é de conhecimento da rotina clínica que muitos pacientes podem 
desenvolver a doença renal crônica, através da glomerulonefrite causada pelo 
aglomerado de imunocomplexos que se agrupam nos glomérulos impedindo o 
processo de filtração glomerular. 
 Neste sentido, o tratamento proposto através de medicamentos e manejo 
alimentar para estabilização da doença renal crônica mostrou-se eficaz, mantendo, 
portanto, o paciente com parâmetros aceitáveis para a patologia em questão. Isso 
aponta para a importância do diagnóstico precoce de doenças renais para obtenção 
de melhores resultados, uma vez que terapias como hemodiálises, dialises e 
transplantes renais ainda não são uma grande realidade dentro da medicina 
veterinária, mesmo com os grandes avanços nas últimas décadas. 
Doenças infecciosas e parasitárias estão sendo cada vez mais presentes na 
rotina clínica, e por isso é necessária maior atenção dos clínicos para elucidar a 
importância do tratamento correto para os tutores. 
Diante disso, conclui-se que a erliquiose canina é uma doença capaz de 
afetar diferentes órgãos, incluindo os rins. Deste modo, pode causar uma 
 
glomerulonefrite no animal, provocando inicialmente uma insuficiência renal aguda 
que pode evoluir para uma doença renal crônica. Portanto, a conscientização dos 
tutores e a relevância para o corpo clínico em relação aos riscos que a doença pode 
acarretar é extremamente importante para a progressão do tratamento desta 
patologia, pois com tal medida, a comprovação do comprometimento renal ocorre 
com relevante precocidade e o paciente terá uma maior probabilidade de cura, e em 
um curto intervalo de tempo, aumentando assim as chances de melhor qualidade de 
vida. 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
 
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