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Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias Ano 2025.1 Disciplina Radiologia Professor(a) Jordana Andrade Interpretação e Diagnóstico ☢ Interpretação é diferente de Diagnóstico! Interpretação: explicação do que é exposto em uma radiografia dental. Diagnóstico: identificação de uma doença ou um agravo por meio do exame ou análise. Objetivos dos exames complementares (radiográficos): → identificar a presença ou ausência de doença ou agravo; → fornecer informações da natureza e da extensão da doença; → possibilitar a formação de diagnósticos diferenciais; A prevalência e incidência de doenças na cavidade oral variam com a idade, no entanto a maioria dos processos patológicos em Odontologia localiza-se em tecidos mineralizados. O diagnóstico diferencial dessas patologias apenas com o exame clínico é difícil. Exames radiográficos se tornam elementos essenciais para a decisão clínica em Odontologia. Projeções de sombra: A classificação de uma imagem em radiolúcida ou radiopaca se faz através da comparação com a densidade de áreas próximas que servirão de fundo para a imagem. Depende do número atômico, da densidade e da espessura do objeto. Fatores dependentes: tempo de exposição e tempo de revelação. Projeções bidimensionais: É recomendada para avaliar a área a ser estudada por meio de incidências perpendiculares entre si. Quando ocorre mais de uma incidência, cada uma das imagens vai nos dar uma informação adicional, podendo ser decisiva para o diagnóstico final. Dependendo da incidência utilizada para aquisição da imagem, pode-se modificar a forma e o tamanho. O mesmo objeto pode determinar diferentes formas radiográficas, dependendo da relação entre ele e a película radiográfica sob o mesmo ângulo de incidência. Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 1 Requisitos para a interpretação: → entendimento da natureza e das limitações do branco, preto e tons de cinza das imagens radiográficas; → condições ideais de visualização; → conhecimento sobre como as radiografias utilizadas na Odontologia devem se apresentar para a avaliação crítica da qualidade; → conhecimento detalhado dos aspectos radiográficos das estruturas anatômicas normais; → conhecimento detalhado dos aspectos radiográficos das condições patológicas que afetam a cabeça e o pescoço; → conhecimento e domínio das técnicas intra e extrabucais; → acesso às imagens anteriores para comparação; Condições ideais de visualização: → montadas em cartelas as radiografias são vistas e interpretadas mais fácil e rapidamente; → reduzem as chances de erros para determinar os lados direito e esquerdo do paciente; → reduzem o manuseio direto dos filmes prevenindo danos; → mascaram a iluminação adjacente, quando utilizadas as cartelas opacas; → são facilmente armazenadas e acessíveis para interpretação; → a montagem dos filmes deve acontecer imediatamente após o processamento; → atenção deve ser dada ao posicionamento do picote, que auxilia na identificação dos lados direito e esquerdo; → superfície de trabalho deve ser de cor clara, seca, limpa, em frente a um negatoscópio; → conhecimento da anatomia normal é necessário para montagem das radiografias; Quanto às radiografias digitais: → devem ser armazenadas para interpretação em cartelas digitais; → visualizadas no monitor do computador; → salvas no arquivo eletrônico do paciente no computador podendo ser impressas; Avaliação da qualidade: (1) Se na imagem existem alongamentos ou encurtamentos; (2) A densidade e contraste devem estar em grau médio; (3) Deve existir o máximo de detalhe; Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 2 (4) Observar sempre se o processamento radiográfico foi feito de forma satisfatória; Para avaliação de qualidade podemos tomar uma radiografia de excelência para referência e comparar a densidade e contraste dessa com radiografias realizadas em outras ocasiões. Isso padroniza os exames, conferindo qualidade para interpretação radiográfica. Princípios gerais para interpretação: 1º princípio: a região a ser interpretada deve aparecer totalmente na radiografia e na incidência que melhor reproduza a região radiografada. 2º princípio: a radiografia a ser interpretada deve abranger não somente os limites de uma região suspeita, mas também mostrar o tecido ósseo normal que circunda esta região 3º princípio: para se interpretar uma radiografia há necessidade do conhecimento das estruturas anatômicas e de suas variações, bem como das entidades patológicas que devem provocar o aparecimento de imagens radiográficas. 4º princípio: sempre que se inicia um tratamento odontológico, há a necessidade de um levantamento completo dos arcos dentais e/ou das regiões edêntulas, se existentes, mesmo que não ocorra suspeita clinica. Aspectos radiográficos das estruturas anatômicas normais que devem ser observados de acordo com a região/estrutura: Dentes Tecidos apicais Tecidos periodontais Corpo e ramo - número - integridade da lâmina dura - espessura do ligamento periodontal - forma - estágio do desenvolvimento - radioluscência ou radiopacidade apical - nível da crista alveolar - contorno - posição - perda óssea - espessura da borda inferior - coroa (cáries, restaurações) - envolvimento de furca - trabeculado - raízes (reabsorção, comprimento, dilacerações) - cálculo - áreas radiolúcidas e radiopacas Aspectos radiográficos e terminologias descritivas mais comumente utilizadas: A patologia deve ser classificada quanto à sua localização, posição nos ossos maxilares e lócus; quanto à borda de lesão; quanto à análise da cortical óssea; quanto à estrutura interna; quanto à forma da lesão; e quanto à reabsorção dentária Localização Lócus (quantidade de sítios) Borda de lesão Cortical óssea Estrutura interna Forma da lesão Reabsorção dentária - localizada ou generalizada - unilocular - corticalizada (fina borda radiopaca circundando a lesão) - conservada (não altera a cortical óssea) - radiopacas (cementomas e displasia óssea) - ovoide (cistos) - interna (origem dentro do dente, o dente possui característica rosado) - unilateral ou bilateral - multilocular - não corticalizada - expandida - radiolúcidas (cistos) - festonadas (ameloblastomas) - externa (origem no osso) - qual a localização - pseudolocular - adelgaçada (expansão e diminuição da densidade da cortical óssea) - mistas (displasias) - deslocamento sim ou não do órgão dentário - destruída (perdeu a cortical óssea) Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 3 Anomalias Dentárias A odontogênese é fundamental para o entendimento dos distúrbios do crescimento e desenvolvimento dentários. Os dentes para alcançarem sua maturidade morfológica ou funcional passam por um ciclo vital característico. Natureza da anomalia depende no alto grau da etapa embriológica e do efeito de vários fatores modificantes. Classificação das anomalias dentárias: Alteração durante a fase: (1) iniciação do germe dentário (alteração do número de dentes); (2) morfodiferenciação; (3) aposição e mineralização dos tecidos duros dos dentes; (4) erupção; (1) Iniciação do germe dentário - alterações quantitativas - anomalias de número: 1.1 Anodontia: se caracteriza pela ausência parcial ou total dos dentes, tanto nos dentes decíduos como nos dentes permanentes. Causada por distúrbios nos primeiros períodos do ciclo vital do dente. A anodontia total é rara e a maioria dos casos ocorre na presença da displasia ectodérmica hereditária. Se anodontia ocorre nos decíduos, muito provavelmente ocorre nos permanentes. Fatores etiológicos: influência local, doenças sistêmicas, displasia do ectoderma hereditário, hereditariedade, teoria filogenética. Percentual médio de frequência: → segundo pré-molar inferior - 38,7% → incisivo lateral superior - 21,7% → segundo pré-molar superior - 11,8% → incisivo lateral inferior - 7,6% Tratamento: na dentição decídua, utilizar mantenedor de espaço de erupção,estética e controle. Na dentição permanente, utilizar da estética, ortodontia e próteses/implantes. ☢ Displasia do ectoderma hereditário: é uma síndrome caracterizada por displasia congênita de uma ou mais estruturas ectodérmicas, resultando na ausência parcial ou total de dentes, pelos e glândulas sub cutâneas. (TILL, 1992). Possui etiologia genética. Manifestações bucais: anodontia ou oligodontia com malformações frequentes dos dentes existentes quer sejam decíduos ou permanentes com dentes em formatos de garra. Agenesia parcial ou total dos dentes, a criança apresenta sua mastigação, estética, fonética e estado emocional debilitados. Características faciais típicas: expressão de senilidade, fonte abaulada, cristas supra orbitais saliente e lábios grossos. Tratamento: reestabelecer esteticamente e utilização de próteses 1.2 Dentes supranumerários: elemento dentário formado além do número considerado normal para a dentição humana. Ocorre tanto na dentição decídua quanto na permanente. É frequente a ocorrência bilateral de supranumerários e ocorrem com mais frequência na maxila. O mesiodente é o supranumerário de ocorrência mais comum. Fatores etiológicos: hiperatividade da lâmina dentária, doenças gerais, hereditariedade, bipartição do germe dentário. Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 4 Causam alterações nos arcos dentais como diastema, desvios de erupção e impacções e retenções prolongadas de dentes decíduos. Diagnóstico e tratamento: → exame radiográfico de rotina; → na dentição decídua: exodontia do supranumerário erupcionado antes da erupção do dente permanente, se incluso, e observar a melhor época para remoção; → na dentição permanente: exodontia do supranumerário e correção ortodôntica; ☢ Disostose Cleido-Craniana: é inerente a um gene autossômico dominante. As principais manifestações são pequena estatura, aplasia ou hipoplasia de uma ou ambas clavículas, ossificação retardada das suturas, predomínio do osso frontal, ossos deficientes nas suturas cranianas, múltiplos dentes supranumerários, atraso na erupção dos dentes e ausência ou alteração do cemento celular. Tratamento: → documentação e diagnóstico precoce; → planejamento da remoção dos dentes decíduos que não esfoliaram; → planejamento da remoção do dente supranumerário; → exposição cirúrgica dos dentes permanentes; → alinhamento ortodôntico; 1.3 Dentes natais e neonatais: os dentes acessórios podem-se encontrar presentes nascimento ou logo após este. Dentes natais: os que aparecem ao nascimento | Dentes neonatais: aparecem nos primeiros 30 dias. Tratamento: → se os dentes natais têm mobilidade e risco de aspiração, а remoção é indicada; → se a mobilidade não é um problema e os dentes estão firmes, devem ser conservados; (2) Morfodiferenciação: Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 5 2.1 Fusão: representa a união de dois germes dentários independentes em desenvolvimento. Aspecto radiográficо: câmaras pulpares e canais radiculares independentes. Assim caracterizada, a fusão pode ser classificada como completa ou incompleta. A fusão completa envolve toda a extensão dos dentes (coroas e raízes); a incompleta é uma fusão parcial que pode acontecer apenas entre as coroas ou apenas entre as raízes. Trata-se de uma condição incomum que não mostra predileção por sexo e afeta, mais comumente, os dentes anteroinferiores. 2.2 Geminação: representa a tendência de divisão do germe dentário simples, ocorrendo este fenômeno durante o estágio de proliferação do ciclo vital dos dentes. Assim, clinicamente, temos uma coroa com aspecto bífido, uma raiz e um canal radicular alargado. 2.3 Concrescência: quando os dentes se apresentam unidos pelo cemento, irrompidos ou não, temos a concrescência, que pode ser classificada como verdadeira ou adquirida. A concrescência verdadeira caracteriza-se pela união entre dentes através do cemento durante a odontogênese; quando essa união ocorre após completada a formação dos dentes, temos a concrescência adquirida. Geminação do dente 12. Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 6 2.4 Dens in dente: é uma anomalia determinada pela invaginação do cíngulo que ocorre durante o período de formação do dente, comumente para dentro da cavidade pulpar. Pode variar de pequenas invaginações até invaginações grandes que alteram a forma do dente. Geralmente ocorre na superfície lingual dos dentes anteriores superiores. Pode ser bilateral. 2.5 Macrodontia: qualquer dente ou dentes que sejam maiores que o normal para cada tipo de dente. Terminologia alternativa - megadontia, megalodontia e gigantismo. A frequência na dentição decídua é desconhecida, e na permanente é de 1,1%. Tratamento: → desgaste para diminuir o tamanho Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 7 2.6 Microdontia: qualquer dente ou dentes que sejam menores do que o normal para cada tipo de dente. Podem apresentar as coroas em formas cônicas. Frequente na dentição permanente, e em relação ao sexo, no feminino. 2.7 Dilaceração: angulação ou curvatura acentuada da raiz ou da coroa dentária e que geralmente é causada por traumatismo. Ocorre ocasionalmente após a intrusão ou o deslocamento de um dente decíduo, modificando a posição do germe do sucessor permanente. Depende da estrutura dentária formada no momento do trauma e de sua intensidade. Pode ocorrer também desvios na trajetória do irrompimento em função de algum obstáculo, como dentes supranumerários ou retidos, cistos e tumores. O desvio da trajetória resulta no desvio do longo eixo da raiz. Essa condição influencia no tratamento endodôntico e cirúrgico. Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 8 2.8 Pérolas de esmalte: são apêndices calcificados, constituídos de esmalte, com formato regular e arredondado, à altura da junção amelodentinária e/ou da bi ou trifurcação. Ocorrem mais comumente em molares, mas podem aparecer em pré-molares e dentes anteriores. Com radiopacidade bem definida, pode não ser observada na imagem radiográfica. (3) Anomalias de estrutura: As anomalias de estrutura levam a disfunções oclusais severas e distúrbios psicológicos ocasionados pela cor dos dentes. É importante o reestabelecimento destas funções e que o paciente tenha uma sensação de bem-estar físico e mental. Geralmente estão associadas a uso de medicamentos durante a gestação. 3.1 Amelogênese imperfeita: alteração de caráter hereditário que afeta o esmalte dentário dos dentes temporários e permanentes, com ausência de manifestações sistémicas. Caracteriza-se por hipoplasia ou hipocalcificação do esmalte, envolvendo todos os dentes. A etiologia é genética. O esmalte dentário é afetado com alta variabilidade, desde deficiência na formação do esmalte até defeitos no conteúdo mineral e proteico. 3.2 Dentinogênese imperfeita: a dentinogênese imperfeita é um exemplo de defeito hereditário da dentina originado durante o estágio de histodiferenciação (fase de campânula). Pode ser dividida em tipo I e tipo II. A dentinogênese tipo I ocorre de forma Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 9 isolada, afetando apenas os dentes, enquanto a dentinogênese tipo II envolve ossos (osteogênese imperfeita), dentes e articulações, apresentando efeitos mais graves. Segundo Parkash e Joshi (1998), o gene afetado é geralmente herdado somente por um dos pais e manifesta-se com igual frequência entre homens e mulheres. Os dentes apresentam-se opacos de cor acastanhada ou cinza azulada e a coroa inteira aparece manchada. As imagens radiográficas caracterizam-se por encurtamento das raízes malformadas, calcificações e atresias na polpa, além das câmaras pulpares e canais radiculares estarem obliterados. Os dentes apresentam coloração que pode variar de cinza a violeta, opalescente e translúcida. Interpretação e Diagnóstico Radiográfico e Anomalias Dentárias 10