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Conteudista Prof. Me. Pascoal Fernando Ferrari Revisão Textual Equipe de Revisão Adapt Edtech Breve História dos Jogos e Brincadeiras Sumário Objetivos da Unidade ............................................................................................................3 Breve História dos Jogos e Brincadeira ........................................................................... 5 A Criança e a Cultura Lúdica .............................................................................................17 Na Escola Também se Brinca .............................................................................................18 Atividades de Fixação .........................................................................................................21 Material Complementar .................................................................................................... 23 Referências ...........................................................................................................................24 Gabarito ................................................................................................................................ 25 3 Objetivos da Unidade Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo on-line para que você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do conteúdo. Este arquivo PDF contém o mesmo conteúdo visto on-line. Sua disponibili- zação é para consulta off-line e possibilidade de impressão. No entanto, re- comendamos que acesse o conteúdo on-line para melhor aproveitamento. • Fazer alguns apontamentos históricos sobre os jogos e brincadeiras; • Investigar as ideias de Friedrich Froebel (1782 – 1852), filósofo alemão do pe- ríodo romântico; • Ver como os Jogos e Brincadeiras se relacionaram com a escola no decorrer dos tempos. 4 Introdução Boas-vindas à Unidade Breve História dos Jogos e Brincadeiras. A ideia central da unidade é fazermos alguns apontamentos históricos sobre os jogos e brincadeiras. Para tanto, investigaremos as ideias de Friedrich Froebel (1782 – 1852), filósofo ale- mão do período romântico. Ainda, na unidade, veremos como os Jogos e Brincadei- ras se relacionaram com a escola no decorrer dos tempos. Froebel acreditava no jogo e na brincadeira como eixos de sua pedagogia. Ao final do texto, faremos uma reflexão a respeito dos jogos e das brincadeiras na escola, de- fendendo a ideia da importância dessas atividades lúdicas no currículo da Educação Infantil. Quanto às atividades propostas na unidade, é importante que você realize todas com afinco e determinação. Teste seus conhecimentos respondendo às questões sugeridas, observe o que você já sabe e o que precisa ainda saber e amplie seus conhecimentos lendo o material complementar. Tenha um bom estudo! Vídeo A Importância do Brincar O vídeo é uma entrevista com a professora Tizuko Kishimoto, que fala sobre o direito de brincar da criança e sobre a importância do protagonismo infantil. VOCÊ SABE RESPONDER? Vamos iniciar nossos estudos com uma simples pergunta: Você já brincou hoje? 5 Breve História dos Jogos e Brincadeira Nesta Unidade pretendemos investigar a história dos jogos e das brincadeiras. Fare- mos alguns apontamentos históricos sobre a Antiguidade greco-romana, passando pela Idade Média até chegarmos à Modernidade Histórica. Realizaremos uma análise mais profunda sobre a inclusão dos jogos e brincadeiras na educação. Os seres humanos são seres brincantes. Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem. Fonte: Carlos Drummond de Andrade Se pensarmos na história social do homem, vamos, em muitos casos, encontrá-lo jogando e brincando. Parece-nos natural a brincadeira para a criança, elas brincam e ponto. E, como diz Drummond, brincar é ganhar tempo. O homem é um ser comple- xo e alcança diversas dimensões. Podemos pensar no homo culturalis (que produz e é produzido pela cultura), no homo faber (o que faz, produz), na dimensão do homo sapiens (o que conhece e aprende) ou ainda, no homo ludens (o que brinca, o que cria). Esta é a dimensão humana que iremos abordar em nossa investigação. O jogo e a brincadeira são fenômenos culturais que estão presentes na vida humana desde a Pré-história. Parece-nos que esses fenômenos são inatos nos seres huma- nos e também nos animais. Por exemplo, o leão aprende a caçar e a lutar brincando e jogando com seus pais ou irmãos. É através de jogos e brincadeiras que construímos nossos conhecimentos. Os antigos gregos já sabiam da importância do brincar e do jogar para o desenvolvimento físico e mental do homem. Hoje sabemos que, além do aspecto físico e mental, o brincar favorece o desenvolvimento afetivo e social, o que facilita a nossa convivência em sociedade. 6 Ligados ao esporte, os Jogos Olímpicos são um grande exemplo da importância dada ao jogo na antiguidade grega. Esses jogos consideravam a disputa entre pes- soas. Pressupõe-se que foram iniciados em 776 a.C. e foram realizados em honra a Zeus. Observe as imagens a seguir: Figura 1 – Jogos na antiguidade grega Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: nesta Figura, encontramos duas imagens que ilustram a importância dos jogos na antigui- dade, em particular na cultura grega. A primeira imagem retrata uma escultura de um homem engajado em uma atividade de jogo. A figura sugere a presença de um homem em posição dinâmica, possivelmente jogando alguma forma de jogo com as mãos estendidas para trás dele.A segunda imagem mostra uma representação de jogos na cerâmica grega. A cerâmica em si apresenta cores como marrom e laranja. Fim da descrição. Vídeo A Importância do Brincar e Jogar O vídeo é uma iniciativa da TV Educador e traz uma importante reflexão sobre o desenvolvimento infantil relacionado aos jogos e brincadeiras. 7 As imagens da escultura e da cerâmica grega mostram como os jogos estavam presentes na sociedade grega. Na educação grega, de caráter militar, não era diferente. Os gregos valorizavam o desenvolvimento mental e físico de seus aprendizes. Os jogos e exercícios físicos eram usados como instrumentos de ensino. Na Idade Média, essa configuração da educação mudou, uma vez que jogos e brincadeiras foram afastados da escola. O conceito de ser criança era confuso na Idade Média e não era muito considerado pelos adultos da época. Vamos observar a Figura a seguir: Figura 2 – Pieter Bruegel, 1560. Museu de Viena. Óleo sobre painel. Dimensões 118 × 161 cm Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: uma pintura de Pieter Bruegel, criada em 1560 e, atualmente, abrigada no Museu de Viena. A obra foi executada com tinta a óleo sobre um painel e suas dimensões são de 118 centímetros de largura por 161 centímetros de altura. A pintura apresenta uma variedade de cores, linhas e formas que podem representar cenas, pessoas, paisagens ou objetos. Fim da descrição. A obra é do artista Pieter Bruegel, feita no ano de 1560. Bruegel chamou-a de Jogos Infantis. Mostra mais de 80 brincadeiras e jogos infantis, mas, ao olharmos mais atentamente, veremos que muitos personagens da pintura são jovens e adul- tos. A falta de clareza sobre o que era a condição humana de ser criança é notória na Figura. 8 No período medieval, a infância tinha pequena duração. Ao alcançar seis ou sete anos de idade, o indivíduo deixava de ser criança, pois, a partir dessa idade, considera- va-se que a criança já compreendia o que os adultos falavam e, sendo assim, passava a acompanhar o adulto do mesmo gênero, executando, de forma parecida, as mesmas atividades da vida adulta. O período da adolescência dos indivíduos não era conside- rado, consequentemente, as crianças eram entendidas como adultos em miniatura e assim eram tratadas pelos adultos. Observe a seguir mais uma imagem medieval: Figura 3 – MaximilianoI e família - Bernhard Strigel, Áustria, século XV Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: a obra retrata um grupo de seis pessoas, incluindo algumas crianças. A pintura representa figuras humanas vestidas com roupas típicas da época. Presume-se que as vestimentas sejam características do período em que a obra foi produzida, no século 15. A pintura apresenta uma variedade de cores, linhas e formas que representam os personagens e o cenário ao seu redor. Fim da descrição. 9 Observe que as roupas vestidas pelas crianças possuem padrões de adultos e suas feições não lembram, nem um pouco, o universo infantil. Na chegada do século XV, uma nova concepção sobre ser criança estava em curso e trazia mudanças que apon- tavam para o entendimento da criança como ser social, ocupando um papel importan- te nas relações familiares e na comunidade onde crescia e se desenvolvia: um indivíduo com características e necessidades próprias, passível de ser educado através de uma ação pedagógica que reconhecesse suas diferenças individuais e a sua condição de ser criança. A partir do século XVI, as crianças adquiriram o direito de estarem mais próximas de seus pais graças à pressão exercida pela sociedade em função da necessidade de cuidado com as crianças pequenas e de se desenvolver uma atitude social de afetividade fraterna pelos filhos. Alguns importantes pensadores do século XVII e XVIII foram, particularmente, fundamentais para a mudança do conceito de infância, destacando o respeito à condição de ser criança e a valorização da brincadeira e dos jogos na educação das crianças pequenas. Pensadores que romperam com a educação tradicionalista proposta pelos jesuítas. A educação adquiria um caráter humanista, valorizando o que se pressupunha natural e sensorial na criança, mediante a utilização de jogos e materiais didáticos e uma pedagogia voltada para a criança. São eles: Comenius (1593-1670), Rousseau (1712 - 1778) e Pestalozzi (1746-1827). Importante Podemos afirmar que a concepção de infância que conhecemos hoje vem evoluindo e mudando com o decorrer do tempo. É no final do século XV que, de fato, podemos observar alguma dife- rença no trato e no entendimento da infância. Como exemplo, podemos citar a instituição escolar. A princípio, o que existiam eram salas de aula, frequentadas, ao mesmo tempo, por alunos de todas as idades - crianças, jovens e adultos -, geralmente do gênero masculino. As salas continham muitos alunos e não ha- via uma distinção acentuada entre as classes sociais. 10 No entanto, quando falamos em jogos e brincadeiras na educação escolar, um nome, em especial, deve ser lembrado: Froebel. Friedrich Froebel é considerado um filósofo do período romântico; nasceu na Alemanha em 1782 e morreu em 1852. Além de Filosofia, estudou Biologia, Matemática e Psicologia. Sua família pertencia à Igreja Luterana, o que influenciou fortemente sua obra e pensamento e também o individualismo burguês predominante no período. Em sua teoria, o autor discute a relação entre o Homem, a Natureza e Deus. Acreditava que a educação, desde o nascimento, traria uma unidade entre essas três forças. Leitura Para saber mais a respeito desses pensadores, indicamos os artigos a seguir que podem ampliar seu referencial teórico. Entre nos sites e leia os artigos da revista Nova Escola: Comênio, o pai da didática moderna. Pestalozzi, o Teórico que Incorporou o Afeto à Sala de Aula Jean-Jacques Rousseau, o Filósofo da Liberdade como Valor Supremo 11 Figura 4 – Frederico Froebel Fonte: Wikimedia Commons #ParaTodosVerem: nesta Figura, temos um desenho de Friedrich Froebel, um proeminente educador alemão do século XIX. A pintura é em preto e branco, o que significa que as cores não são representadas, apenas diferentes tonalidades de cinza. Fim da descrição. Veja o que Kishimoto (2002) diz sobre a união dessa tríade proposta por Froebel: Froebel mostra a unidade entre o homem, seu criador e a natureza, sua conexão interna, aponta como a educação pode garantir essa unidade, desde a infância por meio da natureza. Valoriza a individualidade do ser humano, que se completa na coletividade. Ao perceber a unidade ou con- tinuidade entre a infância, juventude e maturidade, verifica a necessidade de educar a criança desde que nasce para garantir o pleno desenvolvi- mento do ser humano. Fonte: KISHIMOTO, 2002, p. 60) Segundo Kishimoto (2002), Froebel indica, como caminho do desenvolvimento hu- mano, essa unidade, formada entre o ser humano, o seu criador e a natureza. Dife- rente das ideias medievais, esclarece o fato de que o desenvolvimento passa por diferentes estágios, como a infância, a adolescência e a vida adulta. 12 O educador conheceu e trabalhou com Pestalozzi, pedagogo suíço que revolucionou e humanizou nosso entendimento sobre o que seria a infância. A partir das ideias de Pestalozzi, ele criou o Jardim de Infância, um lugar onde a criança poderia conviver com outras e desenvolver-se de forma espontânea, tendo respeitada a sua condição de ser criança. Podemos considerar que o Jardim de Infância tenha sido a primeira proposta curricu- lar escolar para a infância com um enfoque teórico-prático, trabalhando com tecela- gem, desenho, pintura, recorte, colagem, entre outras atividades práticas. Dessa forma, foi concebida uma educação que promove a criatividade, a espontaneidade e a autorrealização da criança. O educador Friedrich Froebel, para desenvolver sua pro- posta pedagógica, criou um conjunto de materiais pedagógicos chamados “Dons”. Veja a relação dos dons: 1. Seis bolas de borracha, cobertas de tecidos de várias cores; 2. Esfera, cubo e cilindro de madeira; 3. Cubo dividido em oito cubinhos; 4. Cubo dividido em oito partes oblongas; Froebel valorizava a livre expressão através do jogo e da brincadeira na edu- cação, apontando a relevância dessas duas atividades na vida pré-escolar da criança. Com esse pensamento, ele criou a ideia de “Jardim de Infância” (Kindergarten, em alemão), desenvolvendo uma metodologia baseada nos dons e ocupações. Glossário Dons São materiais, como bola, cubo, varetas, anéis etc., que permi- tem atividades denominadas Ocupações. Essa proposta tem jogos e brincadeiras como eixo da pedagogia. 13 5. Cubo dividido em metade ou quartas partes; 6. Cubo consistindo em partes oblongas, duplamente divididas; 7. Tabuazinhas quadradas e triangulares para compor figuras; 8. Varinhas para traçar figuras; 9. Anéis e meio anéis para compor figuras; 10. Material para desenho; 11. Material para picar; 12. Material para alinhavo; 13. Material para recortes de papel e combinação; 14. Papel para tecelagem; 15. Varetas para entrelaçamentos; 16. Réguas com dobradiças – (goniógrafo); 17. Fitas para entrelaçamento; 18. Material para dobradura; 19. Material para construção com ervilhas; 20. Material para modelagem. 14 Veja os exemplos de Dons: Figura 5 – Exemplos de dons Fonte: Fotolia/Acervo próprio #ParaTodosVerem: na primeira Firua, podemos visualizar quatro caixas de madeira dispostas em uma superfície. Cada uma dessas caixas contém blocos de montar em seu interior. Presume-se que eles sejam feitos de material sólido, possivelmente de madeira, e projetados para serem encaixados uns nos outros, permitindo a construção de estruturas diversas. Já na segunda imagem, observamos um varal ou corda suspensa, no qual estão pendu- radas três formas sólidas geométricas. É importante mencionar que elas são objetos tridimensionais, cada uma representando uma figura geométrica específica, como cubo, esfera ou cilindro, por exemplo. Fim da descrição. A pessoa que iria cuidar das crianças e educá-las, Froebel denominou de Jardineira, a qual seria responsável pelo desenvolvimento das atividades do Jardim da Infância. A teoria de Froebel indicava que as Jardineiras criariam momentos pedagógicos di- rigidos, com base nos dons e deixariam momentos livres em que a criança poderia escolher de qual jogoou brincadeira gostaria de participar naquele momento. Assim, a criança se desenvolveria de forma autônoma. Certamente, as ideias de Froebel deram início a um novo entendimento sobre os jogos e as brincadeiras aplicadas e desenvolvidas no ambiente escolar infantil. 15 Na contemporaneidade, os jogos e brincadeiras são vistos como fundamentais para o processo de ensino e aprendizagem das crianças. A resistência inicial dos educa- dores a incluírem esses tipos de atividades no currículo escolar foi se desfazendo com o tempo e a nova prática foi ganhando espaço no âmbito educacional. Veja como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) trata a questão: “Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e tem significado . Para a criança, os momentos de jogos e brincadeiras são ricos para a sua aprendiza- gem e desenvolvimento, além de serem momentos de expressividade das crianças. São momentos que, segundo o RCNEI, revelam uma cultura corporal por influência do grupo social em que a criança está inserida. O documento ainda ressalta a impor- tância do jogo na escola, principalmente em relação ao estabelecimento de regras. “As instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos mo- tores e brincadeiras que contemplem a progressiva coordenação dos mo- vimentos e o equilíbrio das crianças. Os jogos motores de regras trazem também a oportunidade de aprendizagens sociais, pois, ao jogar, as crian- ças aprendem a competir, a colaborar umas com as outras, a combinar e a respeitar regras. Fonte: BRASIL, 1998, p. 35 Site Para saber mais sobre a vida e a obra de Froebel, acesse o Qr Code. 16 Finalizamos esta breve história dos jogos e brincadeiras e de sua inserção na esco- la, sugerindo que você observe o quadro síntese a seguir, que retrata a visão dos jogos e brincadeiras em diferentes épocas: Figura 6 – Esquema jogos e brincadeiras Fonte: Elaborado pelo autor #ParaTodosVerem: em um fundo branco, diagrama formado por 5 retângulos. O primeiro, acima, com os dize- res “Jogos e Brincadeiras”. Abaixo, quatro retângulos, que se originam da frase central. No primeiro retângulo os dizeres “Na antiguidade eram importantes na educação. Momento de relaxamento necessário às atividades físicas e mentais”. No segundo, a mensagem “Na Idade Média, o jogo era visto como ‘não sério’ e era relacionado a jogos de azar”. No terceiro, está escrito “No renascimento, a brincadeira passou a ser vista como ‘conduta livre’, que desenvolve a inteligência e facilita o estudo. O ‘Lúdico’ substituiu as formas mais tradicionais de aprendiza- gem (castigos, palmatórias).” No quarto, está escrito “No romantismo, o Jogo apareceu como conduta típica e espontânea da criança. Apresentava a criança com sua natureza ‘boa’, que se expressa espontaneamente através do jogo”. Fim da descrição. Importante No documento, é claro o incentivo à apropriação dos jogos e das brincadeiras pela escola, inicialmente, tendo em vista o desenvolvimento físico da criança e, em seguida, pelo fato de esta descobrir a existência de regras estabelecidas e aprender a respeitá-las. Esse aprendizado, de estabelecer e respeitar as regras, se levado para além dos muros da escola, contribuirá para que a criança aprenda, também, a viver em uma socieda- de democrática e cidadã. Jogos e Brincadeiras Na Antiguidade, eram importantes na educação. Momento de relaxamento necessário às atividades físicas e mentais. No Romantismo, o Jogo apareceu com conduta típica e espontânea da criança. Apresentava a criança com sua natureza “boa”, que se expressa espontanea- mente através do jogo. Na Idade Média, o jogo era visto como “não sério” e era relacionado a jogos de azar. No Renascimento, a brincadeira passou a ser vista como “conduta livre”, que desenvolve a inteligência e facilita o estudo. O “Lúdico” substituiu as formas mais tradicionais de aprendizagem (casti- gos, palmatórias). 17 A Criança e a Cultura Lúdica A dimensão lúdica do homem, que prevê o jogo, deve ser considerada para que se tenha um melhor entendimento do ser humano. Huizinga (1996) entende que o jogo é uma categoria primária da vida, surgindo antes da cultura, que se desenvol- ve com o próprio jogo. O autor conceitua o jogo da seguinte forma: “Parece-nos que essa noção poderá ser razoavelmente bem definida nos seguintes termos: o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exer- cida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, se- gundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quo- tidiana”. Assim definida, a noção parece capaz de abranger tudo aquilo a que chamamos “jogo” entre os animais, as crianças e os adultos: jogos de força e de destreza, jogos de sorte, de adivinhação, exibições de todo o gênero. Pareceu-nos que a categoria de jogo fosse suscetível de ser considerada um dos elementos espirituais básicos da vida. Fonte: HUIZINGA, 1996, p. 24)” O autor entende que a existência do jogo é inegável na vida humana, um elemento básico da vida. Demonstra que há vários gêneros de jogos e que somos capazes de diferenciar entre uma situação de jogo e a vida real. Reconhece, também, a cultura como possuidora de um caráter lúdico. O jogo adquire uma função significante na vida humana, inclusive o caráter de competição que os jogos apresentam. A partir dos jogos e brincadeiras, o homem cria uma cultura lúdica. Gilles Brougère, autor francês, propicia-nos interessantes ideias sobre essa manifestação cultural, contribuindo para entendermos melhor esse conceito: A cultura lúdica é, então, Livro Para aprofundar o conceito de Homo Ludens sugerimos o livro de Johan Huizinga: Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. O livro é uma importante referência para compreender- mos a relação entre o homem e o jogo do ponto de vista histó- rico e cultural. 18 composta de um certo número de esquemas que permitem iniciar a brincadeira, já que se trata de produzir uma realidade diferente daquela da vida quotidiana: [...] A cultura lúdica compreende evidentemente estruturas de jogo que não se limitam às de jogos com regras. “Mas a cultura lúdica compreende o que se poderia chamar de esquemas de brincadeiras, para distingui-los das regras stricto sensu. Trata-se de regras vagas, de estruturas gerais e imprecisas que permitem organizar jogos de imitação ou de ficção [...]” (BROUGÈRE, 1998, s/p.) Segundo Brougère (1998), a cultura lúdica também se estabelece com brincadei- ras ou jogos de faz-de-conta. Essas brincadeiras, como diz o autor, são portadoras de “regras vagas”. Nesse sentido, muitas brincadeiras e jogos não possuem regras claras, tornando, assim, uma regra maleável, que pode ser modificada ou retirada da ação de brincar por intencionalidade da criança. O autor lembra que é brincando que a criança constrói sua cultura lúdica. São estas experiências lúdicas, iniciadas pelas primeiras brincadeiras do bebê, que irão consti- tuir esse universo cultural lúdico. E mergulhada nesse universo, a criança constitui e é constituída por essa cultura por meio de suas brincadeiras e jogos. Na Escola Também se Brinca Sendo uma agência socializadora e promotora de cultura, a escola pode ser também entendida como lugar privilegiado para a criança aprender a brincar e a jogar. Não nas- cemos sabendo brincar, as brincadeiras e jogos são aprendidos com os mediadores desses conhecimentos. Nesse sentido, a brincadeira pode ter um fim em si mesmo ou, ainda, ser um instrumento prazeroso de aprendizagem. Importante A cultura lúdica torna-se uma referência para o brincar. O brincar parte da realidade imediata da criança, que pressupõe os brin- quedos que estão ao seualcance ou qualquer objeto que possa ser ressignificado (uma caixa vazia pode se transformar em um carrinho, por exemplo) e as suas referências vindas da cultura lúdica (tipos diferentes de brincadeira, determinadas pelo tem- po histórico e o espaço geográfico em que a criança se insere). A criança irá, então, misturar em suas brincadeiras a realidade e a fantasia. 19 Todavia esse é, também, um período em que os pequenos gostam de mostrar o que sabem fazer, suas conquistas vindas das superação dos desafios que se apresentam em seu cotidiano; é uma fase de curiosidades e descobertas; é quando eles experi- mentam o prazer de brincar junto com outros indivíduos, crianças ou adultos. Há muitos benefícios nas atividades lúdicas, tanto pela dimensão da diversão e pra- zer, como um fim em si mesmo, quanto pela dimensão da aprendizagem, como re- curso pedagógico. Através dos jogos e brincadeiras, desenvolvemos inúmeras habilidades; também vivenciamos o ambiente e a cultura em que estamos inseridos. É jogando e brincando que as crianças incorporam e/ou questionam as regras e os papéis sociais que são a ela apresentados. A brincadeira e o jogo devem ocupar um Dos 4 aos 5 anos, a criança estará, teoricamente, na modalidade da Edu- cação Infantil. Essa é uma idade rica para o aprendizado. Nesse período, as crianças estão desenvolvendo o auto- controle das emoções. Diante de situ- ações de medo, como, por exemplo, gritos, medo de ficar sozinha no escu- ro, entre outros, que são fruto de uma insegurança própria da idade, a escola pode e deve trabalhar essas questões. Importante Como construtora de conhecimentos, a escola pode trabalhar muitos conteúdos a partir de jogos e brincadeiras infantis. Re- cursos como contar e ouvir histórias, participar de jogos de re- gras, dançar, dramatizar, desenhar, entre outras proposições pe- dagógicas, constituem recursos prazerosos de aprendizagem e desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo dos aprendizes. 20 lugar de destaque na prática pedagógica. A sala de aula deve tornar-se um lugar privilegiado para desenvolver as atividades lúdicas e a escola, espaço de prazer e de boas lembranças quando a criança se tornar adulta. Muitas vezes, a criança, na escola, é impossibilitada de conhecer e desenvolver sua cor- poreidade, passando horas imobilizadas em uma carteira escolar, e o brincar, quando acontece, restringe-se aos intervalos entre as aulas, e não sendo aceito durante as aulas. A formação dos educadores dos anos iniciais deve discutir mais cuidadosamente o brin- car e os jogos. É importante que o professor tenha um repertório maior de brincadeiras para serem trabalhadas em aula. As crianças gostam de brincar com adultos; são óti- mas referências, por exemplo, para o esclarecimento e aprendizagem de regras, para apresentar novas brincadeiras e jogos. O professor, como mediador de brincadeiras, é fundamental, pois mediar oportuniza o brincar juntos. Brincar juntos acentua os laços afetivos e a participação do educador na brincadeira faz crescer o nível de interesse da criança pela brincadeira. Síntese Compreender e interpretar o fazer lúdico da criança é importan- te. Nesse sentido, a formação do educador deve prestigiar essa área do conhecimento, para que esses profissionais possam se apropriar dos jogos e das brincadeiras, a fim de utilizá-los na construção do aprendizado da criança. E assim, finalizamos a unidade I. Esperamos que tenha gostado e tenha construído no- vos conhecimentos a partir do que foi proposto. Agora refazemos e ressignificamos a pergunta inicial, caso a resposta a ela tenha sido negativa: e amanhã, você irá brincar? Porém, há um mito no interior da escola que precisa ser desfeito. A brinca- deira e a aprendizagem, em muitos casos, são consideradas processos com finalidades bastante diferentes e que não podem coexistir em um mesmo espaço e tempo. 21 Atividades de Fixação 1 – Preencha corretamente as lacunas da afirmação abaixo. O jogo e a brincadeira são fenômenos _____________ que estão presentes na vida humana desde a Pré-história. Parece-nos que esses fenômenos são ____________ nos seres humanos. CULTURAIS, INATOS 2 – Na idade medieval, a adolescência dos indivíduos aparentava não ser consi- derada. A infância era um período muito curto, não durava além dos 6 ou 7 anos, consequentemente, as crianças eram entendidas como: a. Seres em desenvolvimento. b. Adultos em miniatura. c. Crianças felizes. d. Adultos em menor escala. e. Cidadãos de segunda classe. 3 – Froebel compreendeu as características e peculiaridades da criança, como, por exemplo, a curiosidade espontânea, a capacidade de imitar, inventar e obser- var. Para que a criança pudesse desenvolver-se de forma mais adequada,Froebel propôs a criação de lugares especiais para as crianças pequenas.Esse espaço edu- cativo foi denominado: a. Parque escola. b. Cidade da criança. c. Creches. d. Jardim de infância. e. Sala ambiente. 22 Atividades de Fixação 4 – Gilles Brougère (1998) foi um importante teórico dos jogos e brincadeiras in- fantis e do lúdico. Segundo o autor, a criança constrói sua cultura lúdica: a. Cantando. b. Andando. c. Brincando. d. Perguntando sobre a brincadeira. e. Refletindo sobre o brincar. Atenção, estudante! Veja o gabarito desta autoatividade no fim deste conteúdo. Material Complementar 23 A ludicidade na educação: Uma atitude pedagógica O livro traz importantes informações, conceitos e práticas para a utilização do lúdi- co nas aulas da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sinopse: Fundamentado nas concepções teóricas e práticas de autores de grande expressão, o livro enfoca questões como infância, desenvolvimento, educação e vida em sociedade, traçando uma reflexão provocativa sobre o papel do educador. O objetivo é tratar da ludicidade como atitude pedagógica do professor de edu- cação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, considerando o educando um sujeito ativo e reflexivo no processo de ensino-aprendizagem. RAU, M. C. D. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba: Intersaberes, 2012. Livro Referências 24 BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamen- tal. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il. BROUGÈRE G. A criança e a cultura lúdica. Rev. Fac. Educ. [online]. 1998, vol.24, n.2, pp. 103-116. ISSN 0102-2555. Disponível em: . Acesso: 20/03/2013. HUIZINGA, Johan, Homo Ludens: O Jogo Como Elemento da Cultura. São Paulo: Perspectiva, 1996. KISHIMOTO, T. M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002. Gabarito 25 Questão 1 Justificativa: o jogo e a brincadeira são fenômenos CULTURAIS que estão pre- sentes na vida humana desde a Pré-história. Parece-nos que esses fenômenos são INATOS nos seres humanos. Questão 2 b) adultos em miniatura. Justificativa: o período da adolescência dos indivíduos parecia não ser considera- do, consequentemente, as crianças eram entendidas como adultos em miniatura e assim eram tratadas pelos adultos. Questão 3 d) jardim de infância. Justificativa: a partir das ideias de Pestalozzi, Froebel criou o Jardim de infância, um lugar onde a criança poderia conviver com outras e se desenvolver de forma espontânea,tendo respeitada a sua condição de ser criança. Questão 4 c) brincando. Justificativa: o autor lembra que é brincando que a criança constrói sua cultura lúdica; são as suas experiências lúdicas, iniciadas pelas primeiras brincadeiras de bebê, que irão constituir esse universo cultural lúdico.