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a obra ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja 
atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.
Reitor 
Gustavo Pereira da Costa
Vice-Reitor
Walter Canales Sant´ana
Pró-Reitora de Graduação
Zafira da Silva de Almeida
Núcleo de Tecnologias para Educação
Ilka Márcia Ribeiro S. Serra - Coord. Geral
Sistema Universidade Aberta do Brasil
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Coordenação Designer Educacional
Cristiane Peixoto - Coord. Administrativa
Maria das Graças Neri Ferreira - Coord. Pedagógica
Professor Conteudista
Leandro Rodrigues de Oliveira
Revisão de Linguagem
Lucirene Ferreira Lopes
Designer de Linguagem
Clecia Assunção Silva
Designer Pedagógica
Suelen SantosFalcão de Sousa
Projeto Gráfico e Diagramação
Josimar de Jesus Costa Almeida
Capa
Yuri Almeida
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA
Oliveira, Leandro Rodrigues de
Filosofia [e-Book]. Leandro Rodrigues de Oliveira. – 
São Luís: UEMA; UEMAnet, 2019.
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ISBN: 
1. Surgimento. 2. Natureza. 3. Objeto. 4. Fenômeno 
do conhecimento. 5. Gnosiológicos. 6. Epistemológicos. 
I. Título.
CDU: 16
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APRESENTAÇÃO
A FILOSOFIA E O PROCESSO DO FILOSOFAR: surgimento, 
natureza e objeto
1.1 Introdução
1.2 O mito e a consciência mítica 
1.2.1 O mito na civilização grega
1.3 Origem e características da Filosofia 
1.3.1 Filosofia: significado e a experiência filosófica
 RESUMO
 REFERÊNCIAS
A FILOSOFIA E O FENÔMENO DO CONHECIMENTO: os grandes 
paradigmas gnosiológicos e epistemológicos
2.1 Introdução
2.2 O conhecimento e os primeiros filósofos
2.2.1 Heráclito e o eterno fluir
2.2.2 Parmênides e o imobilismo do Ser
2.3 Sócrates e os sofistas
2.3.1 Sofistas: a linguagem e o relativismo
2.3.2 Sócrates e o conceito
2.4 Platão e o mundo das ideias
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2.5 O conhecimento em Aristóteles
2.6 Os filósofos modernos e o surgimento da teoria do 
conhecimento
2.6.1 O racionalismo de Descartes
2.6.2 O empirismo de John Locke
2.6.3 Kant e o criticismo
 RESUMO
 REFERÊNCIAS 
O HOMEM E A RELAÇÃO COM O MUNDO: ética, sociedade e 
educação
3.1 Introdução
3.2 Ética e Educação do mundo grego
3.3 Ética e moral: genealogia e definições conceituais
3.3.1 Ética: individualidade, coletividade e educação
3.4 Sentido e alcance da educação como prática social
 RESUMO
 REFERÊNCIAS
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Caro (a) estudante,
F ilosofi a é uma área do conhecimento que implica refl exões e análises tendo 
como instrumento exclusivo, o raciocínio lógico. Os estudos anteriores de 
Filosofi a apresentados a você, na etapa de Ensino Médio, deram conhecimentos 
propedêuticos sobre a origem da Filosofi a. A partir desta disciplina, teremos 
a oportunidade de ampliar o diálogo fi losófi co dentro de um processo refl exivo como: 
compreensão, interpretação e análise crítica.
Levando em consideração os conhecimentos previamente já adquiridos, convidamos 
você a mergulhar nos pressupostos básicos da Filosofi a, pois estes o levarão a 
desenvolver atitudes refl exivas e críticas frente à realidade. Assim, este e-Book de 
estudos está organizado em três Unidades: Unidade 1 - A Filosofi a e o processo do 
fi losofar: o surgimento, a natureza e o objeto; Unidade 2 - A fi losofi a e o fenômeno do 
conhecimento: os grandes paradigmas gnosiológicos e epistemológicos; Unidade 3 - 
O homem e a relação com o mundo: ética, sociedade e educação.
Os conteúdos pressupõem constantes possibilidades para a indagação. Problematizar 
e investigar são prerrogativas das relações fi losófi cas presentes na metodologia da 
disciplina.
Assim, a excelência no processo de aquisição do saber, pelo exercício do pensar e de 
assumir a atitude fi losófi ca será o nosso maior compromisso. Sempre com você e por 
você desejamos que seja signifi cativa nossa parceria.
Bons estudos!
“O homem é a medida de todas as coisas”
(Protágoras)
 APRESENTAÇÃO
A FILOSOFIA E 
O PROCESSO 
DO FILOSOFAR: 
surgimento, 
natureza e objeto
A FILOSOFIA E 
O PROCESSO 
DO FILOSOFAR: 
surgimento, 
natureza e objeto
Identifi car as principais características da natureza e do objeto da 
refl exão fi losófi ca a partir do seu surgimento na Antiguidade.
OBJETIVO
Figura 1 – A Filosofi a
Fonte: https://www.dm.com.br/wp-content/uploads/2018/08/Brasig_is-Fel_cio.jpg
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1.1 Introdução
Diferentemente dos antigos povos da Antiguidade – os chineses e indianos, egípcios, 
persas e hebreus –, que também tiveram suas visões próprias da natureza e maneiras 
diversas de explicar os fenômenos e processos naturais, só os gregos, entretanto, 
fizeram ciência. E isso é o que possibilita dizer que é na cultura grega que podemos 
identificar o princípio deste tipo de pensamento que denominamos de filosófico, 
conforme veremos.
Quando dizemos que o pensamento filosófico surge na Grécia antiga, estamos 
caracterizando-o como uma forma específica de o homem tentar entender os 
fenômenos do mundo que o rodeia, bem como sua origem e sua existência. Mas que 
forma seria esta, afinal? Através da definição de Aristóteles, de que Tales de Mileto é o 
iniciador do pensamento filosófico-científico, podemos considerar que a filosofia nasce 
basicamente de uma insatisfação com o tipo de explicação do real que encontramos 
no pensamento mítico. É nesse sentido que pretendemos compreender a filosofia 
como um movimento de ruptura com o mito, a partir da tentativa dos primeiros filósofos 
da escola jônica, que forjaram as primeiras explicações do mundo natural (a physis) 
baseadas essencialmente em causas naturais. Por isso, será importante compreender 
em que consiste o mito, ou a consciência mítica para, em seguida, demonstrar em que 
consiste o pensamento filosófico, sua natureza e seu objeto.
1.2 O mito e a consciência mítica
Tomando como ponto de partida o significado do termo segundo o Dicionário de 
Filosofia de Nicola Abbagnano (2007), mito, do grego mythos, significa “narrativa” e 
designa um tipo de verdade como compreensão da realidade. Nesse sentido, o mito 
não pode apenas ser compreendido como pura lenda ou pura fantasia, mas deve 
ser também classificado como um tipo de verdade sustentado sob um conjunto de 
narrativas, estórias e ensinamentos que estabelecem uma compreensão da realidade 
de cada sociedade e cultura.
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Nos estudos introdutórios de Danilo Marcondes, em Introdução à história da filosofia 
(2001), o pensamento mítico consiste numa forma pela qual um povo explica aspectos 
essenciais da realidade em que vive como, por exemplo, a origem do mundo, o 
funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, bem 
como seus valores básicos. Nessa perspectiva, o mito caracteriza-se, sobretudo, pelo 
modo como estas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui.
Nas civilizações antigas, os mitos nos remetem a povos tribais, cujas relações 
permanecem igualitárias. Nas sociedades mais complexas, como aquelas em que se 
acentuam as novas técnicas e ofícios especializados, por exemplo, no desenvolvimento 
da agricultura, do pastoreio e do comércio, os mitos se estabeleceram através de 
hierarquias entre segmentos sociais que introduzem, inclusive, a escravidão.
Por ser parte de uma tradição cultural, o mito configura a própria visão de mundo dos 
indivíduos a sua maneira de vivenciar esta realidade. Assim, o pensamento mítico 
pressupõe a adesão, a aceitação dos indivíduos, na medida em que constituidetermina a forma 
de uma sociedade fortemente verticalizada em todos os seus aspectos: nela, as 
relações sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um 
superior, que manda, e um inferior, que obedece. As diferenças e assimetrias são 
sempre transformadas em desigualdades que reforçam a relação mando-obediência. 
O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é 
reconhecido como subjetividade nem como alteridade (CHAUÍ, 2000, p.89).
Considerando esse cenário, é fundamental que as políticas públicas definidas para a 
educação, no país, invistam, cada vez mais, em ações que estabeleçam e consolidem 
a relação educação e cidadania, bem como em outros temas a ela relacionados como 
democracia, justiça, solidariedade e autonomia. Mas o que é cidadania? Como formar 
um cidadão? Para a primeira pergunta, podemos sinalizar, ainda que provisoriamente, 
que cidadania é algo complexo, que vai além da mera formalidade: trata-se, na 
Figura 14 – Ética e Educação
Fonte: https://escolascritique.com.br/kritike/wp-content/
uploads/2018/09/michal-parzuchowski-224092-unsplash-
1024x680.jpg
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verdade, de um processo político. Quanto à segunda pergunta, Coutinho (1994, p. 2) 
nos esclarece que, para formar um cidadão, a educação precisa atualizar “[...] todas 
as possibilidades de realização humanas abertas pela vida social em cada contexto 
historicamente determinado”.
No Brasil, do ponto de vista legal, a formação para a cidadania é um dos princípios 
e fins da educação nacional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 
nº 9.394/96 – trata a questão nos seguintes termos:
Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de 
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno 
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho.
No mundo moderno, a educação formal tem ficado sob a responsabilidade social de uma 
instituição específica – a escola. Devido à amplitude do seu trabalho, essa instituição 
tem exercido um papel fundamental na vida individual e coletiva das pessoas. Portanto, 
numa visão emancipatória e crítica do saber, a escola precisa constituir-se em um 
espaço social que crie oportunidades visando permitir a ampliação e consolidação da 
cidadania dos atores que a vivenciam.
A escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de 
pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais 
ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou 
de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras 
palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma 
regra (CANIVEZ, 1991, p.33).
Nessa mesma perspectiva, a escola tem a importante função de contribuir para 
fortalecer a democracia. É o compromisso com a democratização de suas práticas 
que contribui para que ela seja, de fato, um espaço público, e a configura como um 
local que reconhece a necessidade do respeito à percepção do outro, “[...] num mundo 
social intersubjetivamente partilhado” (HABERMAS, 2004, p. 109).
Trata-se de defender, portanto, uma educação escolar que efetivamente contribua para 
ajudar os indivíduos a reconhecer o outro, respeitando suas diferenças. Para tanto, é 
preciso que os professores tenham como preocupação básica a formação integral dos 
seus alunos, articulando duas grandes dimensões – moral e intelectual – com vistas ao 
desenvolvimento da autonomia do indivíduo.
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Na perspectiva filosófica de Kant (1985), a autonomia dos sujeitos corresponde 
à conquista da sua maioridade intelectual e moral. É por meio de uma consciência 
autônoma, que os indivíduos sabem resolver problemas diversos, desenvolvendo uma 
reflexão própria. Para tanto, é preciso utilizar conhecimentos e não apenas informações, 
e apoiar-se em princípios éticos e não apenas em vivências que, muitas vezes, podem 
não traduzir os valores morais do coletivo.
Sem dúvida, toda educação exige, em alguma medida, o diálogo entre os sujeitos que 
realizam. Assim, a ética torna-se indispensável, sobretudo, porque pode contribuir para 
o processo de humanização dos homens, considerando os valores que norteiam suas 
condutas.
SOUSA, José Vieira de. Ética e Educação: que relação é esta?. Disponível em: http://
docplayer.com.br/18907445-Etica-e-educacao-que-relacao-e-esta.html. Acesso em: 3 
dez. 2019.
Embora possamos tratar de Ética, Educação e Sociedade como temas distintos, até 
mesmo pela natureza específica dos problemas com que poderiam abordar, importa 
observar a relação fundamental que as desenvolvem em vista do processo de formação 
do ser humano de modo geral. Sem dúvida alguma, a ética, desde o seu nascimento, 
torna-se um importante componente para a educação humana, com foco na vida social. 
Atuando junto ao campo da moral, como conjunto de normas, princípios e valores, 
que determinam as condutas sociais dos indivíduos, mais do que isso, à ética pode 
proporcionar uma reflexão sobre as próprias normas, e determinar aquilo que será 
considerado o bom e o melhor para todos, em uma sociedade cujos princípios orientam 
à vida justa. 
Em sociedades como as nossas, em constantes transições de valores, dominadas pela 
era tecnológica e assombradas pela violência, mais do que nunca, a educação, seja ela 
Para refletir
O que significa educar? Que valores éticos devem ser defendidos em um mundo que, 
de repente, ficou pequeno e globalizado, considerando o avanço do conhecimento e 
suas repercussões sobre a vida das pessoas?
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do ponto de vista institucional ou intrafamiliar, deve manter um foco na formação ética, 
da qual, se deverá buscar o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos, valorizando 
bens como a liberdade, a democracia, a política, a justiça e, preparando os indivíduos 
para a vida coletiva, por onde brotam grande parte dos problemas sociais. 
A educação é ponto de partida para que todos os indivíduos alcancem e desenvolvam 
suas potencialidades de seres humanos, cuja liberdade é a vitória da consciência 
bem formada e instruída, sobretudo em sociedades em constante transição, como 
as nossas. A ética, nesse sentido, torna-se uma importante aliada da educação, pois 
são imprescindíveis suas contribuições para o desenvolvimento da consciência dos 
sujeitos, que não só aprendem a se situar no tempo e no espaço, como também se 
tornam sensíveis às necessidades do outro. A reflexão ética deve priorizar, portanto, a 
construção de valores que preservem a igualdade e, sobretudo a justiça nas relações 
humanas, de modo a reger a vida em sociedade observando o sentido comum nas 
práticas e ações humanas.
RESUMO
Nesta Unidade, apresentamos alguns elementos da reflexão sobre a ética e sobre a 
educação, buscando demonstrar como ambas se articulam no plano da sociedade. 
Foi pontuado um estudo introdutório da ética, enquanto reflexão filosófica, abordando 
como ela pode contribuir para pensar a educação a partir dos seus problemas dentro de 
nossa sociedade. Neste sentido, verificou-se que, se, a educação cumpre a função de 
formar os indivíduos para a vida em sociedade, a ética se apresenta como fundamental 
e indispensável para a educação, na medida em que ela tem por objetivo refletir sobre 
as questões ligadas ao comportamento humano, buscando compreender que tipo de 
sujeitos e de sociedade que desejamos. Viu-se, assim, que, entre ética e educação há, 
portanto, uma relação de convergência natural. 
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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Antônio de Castro Caeiro. São Paulo: 
Atlas, 2009.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bossi e Ivone Castilho. 5. 
ed. São Paulo: Martins Fontes,2007.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 38. ed. São Paulo: Brasiliense, 
1996.
COUTINHO, Carlos Nelson. Cidadania e modernidade. Palestra proferida na Embratel, 
Rio de Janeiro, 20 maio 1994, Mimeo.
CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? São Paulo: Papirus, 1991.
GALLO, Sílvio (coord.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia: elementos para o 
ensino de filosofia. 11. ed. Capinas, SP: Papirus, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
JAEGER, W. W. Paideia: a formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira. 3. ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 1994.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 
1985.
SOUSA, José Vieira de. Ética e Educação: que relação é esta?. Disponível em: http://
docplayer.com.br/18907445-Etica-e-educacao-que-relacao-e-esta.html. Acesso em: 3 
dez. 2019.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Escritos de filosofia II. Ética e cultura. São Paulo: 
Edições Loyola, 1993.
VAZQUÉZ, Adolfo Sánchez. Ética. Trad. João Dell’Anna. 34. ed. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2012.as formas 
de experiência do real. O mito não se justifica e não se fundamenta, portanto, nem se 
presta ao questionamento, à crítica ou à correção. Deste modo, não há discussão do 
mito porque ele constitui a própria visão de mundo.
1.2.1 O mito na civilização grega
Segundo Aranha e Martins em Filosofando: introdução à filosofia (2009), na tradição 
grega os mitos surgiram quando ainda não havia escrita e eram transmitidos por poetas 
ambulantes chamados de aedos e rapsodos. Homero em Ilíada e Odisseia e Hesíodo 
em Teogonia são as principais fontes de nosso conhecimento dos mitos gregos, embora 
muitas das narrativas não tenham sido criadas por eles. A Ilíada, por exemplo, trata da 
guerra de Troia, e a Odisseia, do retorno de Ítaca, terra natal de Ulisses.
Atenção
Cosmogonia é a especulação sobre a origem e formação do mundo que se encontra em muitos 
mitos religiosos e na filosofia dos pré-socráticos, principalmente Tales de Mileto, o primeiro a 
buscar a origem de todas as coisas, acreditando encontrá-la na água, considerada por ele como 
a substância primordial do universo.
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Já em Hesíodo, outro poeta que teria vivido por volta dos séculos VIII e VII a.C., suas 
obras são marcadas pela tentativa de superar a poesia impessoal e coletiva das 
epopeias, mesmo que ainda refletem o interesse pela crença dos mitos. Em Teogonia, 
Hesíodo relata as origens do mundo e dos deuses, em que as forças emergentes da 
natureza vão se transformando nas próprias divindades. Por isso, a teogonia é também 
uma cosmogonia, na medida em que narra como todas as coisas surgiram do Caos 
para compor a ordem do Cosmo.
Na vida dos gregos, os mitos e epopeias desempenharam um papel pedagógico 
significativo: elas descreviam a história grega – o período da civilização micênica – e 
transmitiam os valores culturais mediante o relato das realizações dos deuses e dos 
antepassados. Os seus elementos centrais da forma que se baseia para explicar a 
realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos 
fenômenos naturais, aquilo que acontece entre os homens, tudo é governado por uma 
realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só 
os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas 
parcialmente. Por isso, mesmo com o nascimento da Filosofia, os mitos continuaram a 
existir, mas ocupando um papel diferente com que representara até então.
Figura 2 – Tykhe ou Tique. Mitologia grega. Divindade tutelar responsável pela sorte 
de uma cidade 
Fonte: http://eventosmitologiagrega.blogspot.com/ 
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1.3 Origem e características da Filosofia
Se, por um lado, o pensamento mítico pretende fornecer uma explicação da realidade, 
por outro lado, recorre ao mistério e o sobrenatural, ou seja, exatamente àquilo que não 
se pode explicar, nem se pode compreender por estar fora do plano da compreensão 
humana. Por isso, a explicação dada pelo pensamento mítico esbarra, assim, no 
inexplicável, na impossibilidade do conhecimento. E esse será o pressuposto fundamental 
pelo qual a Filosofia se estabelecerá. Surgindo pouco a pouco em substituição aos 
mitos e às crenças religiosas com a tentativa de conhecer e compreender o mundo e 
os seres que nele habitam. O conhecimento filosófico se dá, a partir dos pré-socráticos, 
como uma experiência de busca pelo conhecimento, essencialmente fundado na razão 
(logos) como principal ferramenta para a compreensão do mundo, diferentemente da 
visão teogônica do mundo.
Com o passar do tempo à Filosofia se formou como uma atividade que visa refletir sobre 
a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo seus significados mais profundos. É 
importante observar que, em Filosofia refletir é pensar cuidadosamente o que já foi 
pensado. Como um espelho que reflete a nossa imagem, a reflexão do filósofo deixa 
ver, revela, traduz os valores envolvidos nos acontecimentos e nas ações humanas.
Segundo Demerval Saviani (1996), a reflexão filosófica possui três características 
fundamentais:
(i) É radical, ou seja, visa chegar até a raiz dos acontecimentos, isto é, aos seus 
fundamentos; a sua origem; 
(ii) É rigorosa, pois visa seguir um método de investigação adequado e rigoroso a fim 
de não deixar escapar nada da realidade que se pretende, colocando em questão 
as respostas mais superficiais às mais profundas e gerais; 
(iii) É de conjunto, pois considera que os problemas não estão isolados, mas dentro 
de um conjunto de fatos, fatores e valores relacionados entre si.
A palavra refletir deriva do verbo latino refletere, que significa “voltar atrás”. Na Filosofia, refletir é 
o mesmo que retornar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, examinar detidamente, prestar 
atenção ou analisar com cuidado o objeto que está sendo pensado.
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1.3.1 Filosofia: o significado e a experiência filosófica
Originando-se nas colônias gregas por volta do século VI a.C., por uma atitude diferente 
diante da realidade, inicialmente por homens conhecidos como “físicos”, porque se 
dedicavam sobretudo a observar a natureza (physis), a Filosofia (philos= amigo; sophia= 
sabedoria), cujo significado literal é “amigo da sabedoria”, é o nome designada por 
Pitágoras ao reconhecer na busca daqueles primeiros físicos sua incrível atitude de 
conhecer a realidade. Como atesta Diógenes Laércio, Pitágoras teria sido o primeiro 
a usar esse termo e a chamar-se de filósofo, porque, segundo ele, homem nenhum é 
sábio, mas somente Deus, de modo que o estudioso da sabedoria, não deve receber o 
nome de sábio, mas de filósofo, que é aquele que anseia pelo conhecimento (PERINE, 
2007).
De acordo com Marcelo Perine em Ensaio de iniciação ao filosofar (2007), Platão e 
Aristóteles indicaram com precisão a experiência que, segundo eles, dá origem ao 
pensar filosófico. A mais antiga resposta sobre a origem do filosofar foi dada por Platão. 
A partir de uma análise cuidadosa da nova atitude diante da realidade, o filósofo grego 
em um texto conhecido com o título “sobre o conhecimento” num diálogo do Teeteto, 
afirmou que a origem do filosofar era um estado de espírito que pode ser definido com 
os termos admiração, espanto e perplexidade (em grego, thauma).
A Filosofia nascente foi também chamada de cosmologia, isto é, o estudo sobre a ordem do 
universo, justamente porque os primeiros filósofos se interessavam por compreender a origem e 
o fundamento de todas as coisas.
Saiba Mais!
Aristóteles, na mesma linha de Platão, também vai encontrar na admiração a origem 
dessa atitude originária da filosofia. O livro primeiro da Metafísica é dedicado a uma 
espécie de introdução ao estudo da Filosofia, entendida como “filosofia primeira”, e de 
sua justificação não só como ciência, mas como a mais elevada entre elas, porque tem 
por objeto o conhecimento das causas primeiras e dos princípios primeiros de toda 
O termo thauma deriva da palavra grega thaumázein que significa admirar, maravilhar-se, ficar 
estupefato.
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a realidade. Aristóteles se empenha por mostrar que o conhecimento pelas causas 
primeiras e pelos primeiros princípios é superior a qualquer outro tipo de conhecimento 
e é de competência dessa ciência, que não é produtiva nem prática, mas teórica e 
especulativa (PERINE, 2007, p.26).
Essa primeira experiência do filosofar, descrita por Platão e Aristóteles, começa com os 
pré-socráticos, cuja atenção se centrava na natureza e elaboraram diversas concepções 
de cosmologia, procurando explicar como, diante da mudança (do devir), podemos 
encontrar a estabilidade; como diante do múltiplo, descobrimos o uno. Ao perguntarem 
como poderia emergir o cosmo do caos – ou seja, como da confusão inicial surge o 
mundo ordenado –, os pré-socráticos buscam o princípio (aarkhé) de todas as coisas, 
entendido como fundamento do ser. Assim, buscar a arkhé é explicar qual é o elemento 
constitutivo de todas as coisas, da realidade natural (physis).
As respostas dos filósofos à questão do fundamento de todas as coisas foram diversas. A 
começar por Tales de Mileto, astrônomo, matemático e primeiro filósofo, a água (hydor) 
é o elemento primordial que dá unidade à natureza. Em sua visão, o mundo teria sua 
origem na evaporação, uma vez que água está presente em todos os elementos. Os 
seus sucessores, Anaxímenes e Anaximandro, por sua vez, adotaram respectivamente 
o ar e o apeíron. O primeiro, pelo princípio da rarefação; o segundo, por um princípio 
abstrato significando algo de ilimitado, indefinido, subjacente à própria natureza.
Heráclito de Éfeso, um dos mais importantes pensadores daquele tempo, dizia que 
o mundo era regido por um constante movimento, tudo flui, tudo está em constante 
devir, e o fogo seria o princípio explicativo. Por outro lado, Demócrito apostava no 
átomo como o princípio explicativo de todas as coisas, enquanto que, Empédocles, 
com sua doutrina dos quatro elementos, sintetiza essas diferentes posições afirmando 
a existência de quatro elementos primordiais – terra, água, ar e fogo, tese que mais 
tarde foi retomada por Platão no Timeu e bastante difundida em toda Antiguidade, 
chegando mesmo ao período moderno, presente nas especulações da alquimia do 
período do Renascimento até o surgimento da química moderna.
Atenção
Os filósofos pré-socráticos fazem parte do primeiro período da filosofia grega. Eles desenvolveram 
suas teorias do século VII ao V a.C., e recebem esse nome, pois são os filósofos que antecederam 
Sócrates. Esses pensadores buscavam nos elementos da natureza as respostas sobre a origem 
do ser e do mundo.
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Reflexão!
Na visão dos pré-socráticos destacam-se, sobretudo, a importância da noção de arqué, 
exatamente na tentativa por parte desses filósofos de apresentar uma explicação 
da realidade em um sentido mais profundo, estabelecendo um princípio básico que 
permeie toda a realidade, que de certa forma a unifique, e que ao mesmo tempo seja 
um elemento natural. Entretanto, a reflexão filosófica por eles iniciada possui outras 
características essenciais, como, a noção de physis, de causalidade, de cosmo. Assim, 
que essas noções são fundamentais para entender o processo de transição com o 
pensamento mítico, justamente porque mostram como elas constituem o ponto de 
partida de uma visão de mundo que, apesar das profundas transformações ocorridas, 
permanece parte de nossa maneira de compreender a realidade ainda hoje. Isso 
significa dizer que podemos reconhecer nesses pensadores as raízes de conceitos 
constitutivos de nossa tradição filosófico-científica. 
Enfim, como afirma Luckesi (1990, p. 22):
A filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que 
o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, 
um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa 
um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. 
Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a 
partir de desejos, anseios e aspirações.
RESUMO
Esta Unidade apresentou algumas das características fundamentais da reflexão 
filosófica desde o surgimento da Filosofia na Antiguidade. Ao situar o contexto que 
proporcionou a passagem do pensamento mítico ao pensamento racional, foram 
apresentados os elementos fundamentais que constituíram a experiência do filosofar, 
baseada na razão. Foi assim que os primeiros pensadores, os pré-socráticos, iniciaram 
Para refletir
Como a filosofia passou a ser vista no mundo atual? 
Ainda existe relevância para a reflexão filosófica?
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a Filosofia promovendo várias reflexões sobre a origem de todas as coisas, e o princípio 
fundamental que rege o funcionamento do universo. A Filosofia deste período surgiu 
como uma cosmologia, isto é, uma reflexão sobre a ordem e fundamento da realidade.
ARANHA, Maria. L. A.; MARTINS, Maria H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São 
Paulo: Moderna, 2009.
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 
2. ed. São Paulo: Companhia da Letras, 2002.vol.1.
RESENDE, Antonio (org.). Curso de filosofia: para professores e alunos dos cursos 
de segundo grau e de graduação. 12. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1990.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a 
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
___________. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 5. ed. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
PERINE, Marcelo. Ensaio de iniciação ao filosofar. São Paulo: Loyola, 2007.
SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 11. ed. São 
Paulo: Cortez, 1999.
OBJETIVO
A FILOSOFIA E O 
FENÔMENO DO 
CONHECIMENTO: os 
grandes paradigmas 
gnosiológicos e 
epistemológicos
Compreender os problemas centrais ligados ao debate gnosiológico 
e epistemológico na Filosofi a da Antiguidade e Modernidade.
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2.1 Introdução
A questão sobre o conhecimento sempre ocupou na Filosofia lugar central. Desde 
que o pensamento sistemático começou a ser gestado na Antiguidade, a busca pelo 
conhecimento foi concebida relativamente ao processo de busca pela compreensão 
da realidade (cosmos), e mais tarde veio a se tornar o objetivo essencial da busca 
filosófica. Entretanto, a preocupação com o conhecimento, enquanto conhecimento 
passou apenas a ser central na Filosofia a partir de Platão e Aristóteles. Mas é 
somente com a modernidade que se tornou uma disciplina filosófica voltada ao próprio 
conhecer, com a finalidade de investigar as condições do conhecimento verdadeiro, 
dando origem a diversas teorias do conhecimento. Assim sendo, nosso objetivo para 
esta Unidade será o de apontar as condições em que o fenômeno do conhecimento 
surge e se desenvolve na história do pensamento filosófico, analisando como surgiram 
as principais indagações relativas ao tema entre os pensadores gregos e os modernos.
2.2 O conhecimento e os primeiros filósofos
O fenômeno do conhecimento surge, na Filosofia, atrelado ao próprio movimento de 
busca pela compreensão do mundo. Quando olhamos para a atitude dos primeiros 
filósofos na Grécia antiga, por volta do século VI a.C., que se dedicaram a compreender 
a ordem do mundo e os princípios que regem a natureza, entendemos aí as primeiras 
atitudes relativas ao fenômeno do conhecimento. Com as primeiras indagações que 
questionavam “por que e como as coisas existem?”; “o que é o mundo (cosmos)?”; 
“qual a origem da Natureza (physis)?”; e, “quais as causas de sua transformação 
(devir)?”, a filosofia nascente surge como uma cosmologia, na qual, o próprio cosmos, 
isto é, o mundo visto por uma ordem harmoniosa, era o objeto de indagação, a fim de 
se encontrar o princípio (arkhé) eterno que ordenava todas as coisas e que, mesmo 
com a multiplicidade e transformação do real, permanecia imutável.
Esse princípio (arché) era concebido como o fundo imperecível presente em todas as 
coisas, fazendo-as existir como são. Esse fundo presente em todas as coisas era o 
Ser – palavra em português que traduz a expressão grega “tò on”, que passou a ser 
usado para designar “aquilo que é”, ou aquilo que subjaz a todos os seres –. Assim, a 
filosofia nascente coloca no centro de suas indagações o questionamento sobre “o que 
é o Ser?”, tornando assim, uma ontologia, isto é, conhecimento ou saber sobre o ser. 
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Por esse motivo, alguns historiadores consideram que os primeiros filósofos não 
tinham uma preocupação com o conhecimentoenquanto conhecimento, porque não 
indagavam se podemos ou não conhecer o Ser, mas partiam da pressuposição de que 
o podemos conhecer, pois a verdade, sendo aletheia, isto é, presença e manifestação 
das coisas para os nossos sentidos e para o nosso pensamento, significa que o Ser 
está manifesto e presente para nós e, portanto, nós o podemos conhecer.
Mas mesmo que os primeiros filósofos não tivessem a preocupação do conhecimento 
pelo conhecimento, já que se podemos ou não conhecer o ser, todavia, a ideia que 
eles não se preocupavam com nossa capacidade e possibilidade de conhecimento 
não são exatas, se levarmos em conta o fato de afirmarem que a realidade é racional 
e que a podemos conhecer porque também somos racionais. Esse argumento, por si, 
já seria um pressuposto para mostrar que desde sempre houve preocupação para com 
o conhecimento. Alguns exemplos, inclusive, indicam a existência dessa preocupação 
por parte dos primeiros filósofos, como veremos.
 
2.2.1 Heráclito e o eterno fluir
Com base na leitura de Pré-socráticos, da coleção 
os pensadores (2000), o pensamento de Heráclito 
de Éfeso, ou os fragmentos do seu pensamento 
que nos restaram, é possível observar um filósofo 
conhecido por formular a concepção de que o mundo 
todo é um fluxo constante de transformações, onde 
só permanece estável e inalterável a lei (logos) 
que rege a inevitável transformação de todas 
as coisas. Esta concepção torna-se perceptível 
no famoso fragmento descrito nos diálogos de 
Platão em o Crático, onde comparava as coisas a 
corrente de um rio – que não se pode entrar duas 
vezes na mesma corrente, pois o rio corre, toca 
outras águas e não permanece mais o mesmo. 
Daí também se poderia afirmar a concepção 
de que tudo flui (panta rei), nada persiste, nem 
permanece o mesmo (2000, p.103).
Figura 3 – Heráclito de Éfeso
Fonte: https://revistaculturae.com.
br/a-classica-polemica-entre-heracli-
to-e-parmenides-parte-1/
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Essa máxima põe em destaque a concepção de devir (vir-a-ser) como princípio de tudo, 
que a contradição, como o movimento de sua própria harmonia. Por isso, Heráclito 
comparava o mundo à chama de uma vela que queima sem cessar e transforma a 
cera em fogo, o fogo se torna fumaça e a fumaça em ar. Por esse mesmo movimento, 
também o dia se torna noite, o verão se torna outono, o novo fica velho, o quente esfria, 
o úmido seca. Assim, tudo se transforma no seu contrário. 
Na doutrina do mobilismo de Heráclito, a realidade é, portanto para Heráclito, regida 
por um movimento de harmonia dos contrários que não cessam de se transformar 
uns nos outros. Nessa doutrina, o fenômeno do conhecimento ganha destaque no 
momento em que o filósofo afirma, no entanto, que é preciso distinguir o conhecimento 
que nossos sentidos nos oferecem do conhecimento que nosso pensamento alcança, 
pois nossos sentidos nos oferecem a imagem da estabilidade e nosso pensamento 
alcança a verdade como mudança contínua.1
2.2.2 Parmênides e o imobilismo do Ser
Contrariamente à doutrina do mobilismo de Heráclito, 
Parmênides afirmará a unidade e a imobilidade 
do ser. No poema “As duas vias” (no fragmento 
Sobre a Natureza) onde expõe seu pensamento, 
dizia que só podemos pensar sobre aquilo que 
permanece sempre idêntico a si mesmo, de modo 
que o pensamento não alcança aquilo que não é, 
que não existe, o não-ser. Com a fórmula o “ser é 
e o não-ser não é”, Parmênides delineia a questão 
do conhecimento, na medida em que acredita 
que não é possível pensar o que é e o que não é 
ao mesmo tempo. Daí o princípio lógico da não 
contradição, na medida em que não é possível 
pensar o instável, o oposto, ou aquilo que é 
contrário a si mesmo, pois, pensar é apreender 
um ser em sua identidade profunda e permanente 
(PARMÊNIDES, 2000, p. 121). 
1 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p. 138.
Figura 4 – Parmênides
Fonte: https://miro.medium.com/max
/1280/1*5zEvfEj-be8YKKFBh-t_NA.jpeg
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Esses dois exemplos nos mostram que, desde os seus começos, a Filosofia preocupou-
se com o problema do conhecimento, pois sempre esteve voltada para a questão do 
verdadeiro. Desde o início, os filósofos se deram conta de que nosso pensamento 
parece seguir certas leis ou regras para conhecer as coisas e que há uma diferença 
entre perceber e pensar. 
2.3 Sócrates e os sofistas
Embora as questões cosmológicas ainda fossem importantes, a partir do período 
socrático, as questões filosóficas foram ampliadas para a antropologia, a moral e a 
política. Assim, preocupação com os problemas do conhecimento tornaram-se ainda 
mais centrais, surgindo até, sob as oposições de Sócrates e os Sofistas, que também 
eram do período clássico. 
2.3.1 Sofistas: a linguagem e o relativismo 
Por um lado, motivados pela pluralidade e pelo antagonismo das filosofias anteriores, 
e por outro, pelos conflitos entre as várias ontologias, os Sofistas partiam da ideia de 
que não podemos conhecer o Ser, mas só podemos ter opiniões subjetivas sobre a 
realidade. Na visão sofista, a linguagem era mais importante do que a percepção e o 
pensamento, e a verdade nada mais é do que uma questão de opinião e de persuasão. 
Portanto, para eles, os homens deveriam se valer da linguagem (da retórica, enquanto 
capacidade de persuasão e convencimento) para persuadir os outros de suas próprias 
ideias e opiniões.
Na Grécia Antiga, havia professores itinerantes que percorriam as cidades ensinando, mediante 
pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos 
era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores são fragmentos e 
citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que 
temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram seus principais adversários 
teóricos, Platão e Aristóteles.
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/sofistas.htm
Saiba Mais!
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Embora fossem constantemente criticados por Sócrates e seus discípulos, que os 
acusavam de não ter compromisso com a verdade e de condenar a arte retórica de 
persuadir reduzir os seus discursos a opiniões relativistas, devemos dizer, no entanto, 
que o relativismo ou a valorização da linguagem por parte dos sofistas estão ligados à 
questão do conhecimento. Se tomarmos a formulação máxima de Protágoras “o homem 
é a medida de todas as coisas”, presentes nos diálogos do Teeteto de Platão, portanto 
observaremos que o pensamento do sofista pode ser entendido como a exaltação da 
capacidade humana de construir a verdade, isto é, pode ser compreendido que o logos 
não é divino, mas decorre do exercício da razão humana, a quem cabe confrontar as 
diversas concepções possíveis da verdade. 
A utilização da linguagem por meio dos sofistas demonstra que a questão do 
conhecimento está subentendida na discussão filosófica como meio para aquilo que 
se pode argumentar, a fim de demonstrar e convencer.
2.3.2 Sócrates e o conceito
 
Distanciando-se dos primeiros filósofos, cujo 
interesse se concentrava na busca pelos 
princípios ordenadores da natureza, Sócrates 
propõe uma filosofia com foco na autorreflexão, 
conforme concebe em sua famosa máxima 
“conhece-te a ti mesmo”. Embora não deixasse 
nada escrito, e o que se sabe a seu respeito 
é fruto dos escritos de seus discípulos, Platão 
e Xenofonte, o pensamento socrático é 
caracterizado pela forte oposição aos sofistas 
que, contrariamente a esses, concebia que 
a verdade poderia ser alcançada desde que 
possamos compreender que precisamos nos 
afastar das ilusões dos sentidos, das imposições 
das palavras e da multiplicidade de opiniões.
Figura 5 – Estátua de Sócrates
Fonte: Renata Sedmakova / Shutter-
stock.com
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Com base numa filosofiabaseada na premissa “só sei que nada sei”, Sócrates cria 
seu próprio método de investigação da verdade, que consistia justamente na sabedoria 
de reconhecer a própria ignorância, mas como ponto de partida para a busca do saber. 
O seu método era divido basicamente em duas etapas: a primeira que começava pela 
fase da “ironia”, que consistia em perguntar algo a seu interlocutor, fingindo nada saber. 
Diante do oponente, Sócrates, com hábeis perguntas, desmonta as certezas até que o 
outro reconheça a própria ignorância. A segunda etapa, a maiêutica, consistia em dar 
à luz a novas ideias. Ou seja, após destruir o saber meramente opinativo (a dóxa) em 
diálogo com seu interlocutor, dava início à procura da definição do conceito, de modo 
que o conhecimento se manifestasse “de dentro” de cada um. A filosofia de Sócrates 
tinha como objetivo filtrar as opiniões do senso comum, conduzindo o indivíduo a 
encontrar e produzir conceitos universais utilizando-se unicamente da razão.
2.4 Platão e o mundo das ideias
A partir de Platão, o fenômeno do conhecimento 
assume novo patamar, como teoria do conheci-
mento, embora o filósofo não usasse essa termino-
logia, que só foi criada na modernidade. Discípulo 
de Sócrates, esse filósofo grego construiu o edifí-
cio de sua filosofia com base na chamada teoria 
das ideias, onde sistematiza as formas e os graus 
de conhecer e as diferenças entre o conhecimento 
verdadeiro e a ilusão.
Tomando como ponto de partida o seu mais famoso 
texto de A República, livro VII, em que é relatada a 
Ao proferir a frase "Só sei que nada sei", Sócrates reconhece a sua própria ignorância. Através do 
paradoxo socrático, o filósofo negava categoricamente o posto de professor ou grande sabedor 
de qualquer conhecimento. A lógica é simples: ao afirmar que nada sabe, ratifica o fato de que 
também nada tem para ensinar.
Outro filósofo, Nicolau de Cusa, anos mais tarde, durante o Renascimento, reconhece o gesto de 
humildade intelectual e o denomina de douta ignorância.
Saiba Mais!
Figura 6 – Platão
Fonte: https://static.mundoeduca-
cao.bol.uol.com.br/mundoeduca-
cao/conteudo_legenda/e0eb9c8f-
c33d8750939a00adf9381ba9.jpg
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famosa “alegoria da caverna”, veremos como Platão propõe o seu famoso dualismo, 
a partir da distinção das quatro formas do conhecimento, que vão do grau inferior a 
superior: crença, opinião, raciocínio, e intuição intelectiva. Os dois primeiros formam o 
que ele chamou de conhecimento sensível; os dois últimos, o conhecimento inteligível.
O mundo sensível são os primeiros graus do conhecimento, pois eles nos dão a 
conhecer somente as coisas perceptíveis pelas faculdades humanas: tato, paladar, 
olfato, audição e visão. É a fase do conhecimento falho, já que os sentidos só nos dão 
a conhecer as aparências e as imagens das coisas, e não a essência delas. Por outro 
lado, o conhecimento inteligível, que será para Platão o grau máximo do conhecimento, 
representa o conhecimento verdadeiro, a essência das coisas, a ideia universal.
É importante observar, no entanto, que o conhecimento inteligível, para Platão, só 
pode ser alcançado pela dialética ascendente, que fará a alma se elevar das coisas 
múltiplas e multáveis as ideias unas e imutáveis. Essa dialética se daria exatamente 
pelo exercício do filosofar, do exercício da razão. Nesse processo, as ideias gerais 
são hierarquizadas, e no topo está à ideia do Bem, a mais alta perfeição e a mais 
universal de todas. A dialética consiste, nesse sentido, no trabalho de examinar as 
teses contrárias sobre um mesmo assunto, a fim de purificar as ideias e se elevar ao 
mais alto conhecimento. A partir dela, deve-se abandonar as teses falsas e conservar 
a verdadeira.
2.5 O Conhecimento em Aristóteles
Diferentemente de Platão, que concebia o conhecimento como abandono de um grau 
inferior por um grau superior (conforme vimos em sua teoria das ideias), para Aristóteles 
nosso conhecimento é formado por acúmulo das informações trazidas por todos os 
graus do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, 
raciocínio e intuição, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento 
sensível e o intelectual, há uma continuidade entre eles.
Para Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo sensível e mundo das ideias era 
um artifício dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento verdadeiro. 
Nossos pensamentos não surgem do contato de nossa alma com o mundo das ideias, 
mas da experiência sensível. “Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos 
sentidos”, dizia o filósofo. 
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Isso significa que não posso ter ideia de um cavalo sem ter observado um diretamente 
ou por meio de uma pesquisa científica. Sem isso, “cavalo” é apenas uma palavra 
vazia de significado. Igualmente vazio ficaria nosso intelecto se não fosse preenchido 
pelas informações que os sentidos nos trazem. 
Mas nossa razão não é apenas receptora de 
informações. Aliás, o que nos distingue como seres 
racionais é a capacidade de conhecer. E conhecer 
está ligado à capacidade de entender o que a coisa 
é no que ela tem de essencial. Por exemplo, se digo 
que “todos os cavalos são brancos”, vou deixar de 
fora um grande número de animais que poderiam ser 
considerados cavalos, mas que não são brancos. 
Por isso, ser branco não é algo essencial em um 
cavalo, mas você nunca encontrará um cavalo que 
não seja mamífero, quadrúpede e herbívoro.
O conhecimento verdadeiro para Aristóteles é a 
ciência, ou seja, o conhecimento pelas causas. Para 
ele, é este conhecimento que torna possível superar 
os enganos da opinião e compreender a natureza 
da mudança, do movimento. O filósofo aponta três 
distinções básicas – substância, essência e acidente 
– como pressupostos necessários e fundamentais 
para a formação do conhecimento.
A substância é “aquilo que é por si mesmo” e o suporte dos atributos. Os atributos 
podem ser essenciais ou acidentais: a essência é o atributo que torna a substância 
o que ela é; o acidente é o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de 
ser o que é. Por exemplo, a essência de uma flor não está na sua cor, mas na sua 
essência, ou seja, naquilo que a sua existência foi destinada. A cor, neste sentido, seria 
um acidente que não mudaria sua essência se ela fosse vermelha ou rosa.
Além disso, conhecer para Aristóteles é conhecer o ser enquanto matéria e forma, 
já que todos eles são dotados dessas suas propriedades. A matéria é o princípio 
indeterminado de que o mundo físico é composto, é aquilo de que é feito algo, enquanto 
a matéria é pura passividade e contém a forma em potência; a forma é o princípio 
inteligível, a essência comum aos indivíduos da mesma espécie pela qual todos são o 
que são.
Figura 7 – Aristóteles
Fonte: https://s1.static.brasilescola.
uol.com.br/be/conteudo/images/ar-
istoteles.jpg
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A teoria do conhecimento em Aristóteles se encontra, portanto, na compreensão do que 
ele designou por substância, essência, acidente, matéria e forma uma vez que aí seria 
o meio pelo qual nós podemos formar nossa compreensão sobre a realidade material.
Figura 8 – Platão e Aristóteles em recorte do plano central da Escola de Atenas, pintura 
renascentista, de Rafael Sanzio
Fonte: https://voyager1.net/wp-content/uploads/2017/09/Escola-de-Atenas-de-Rafael.jpg
Atenção
Na imagem a cima, a “Escola de Atenas”, observe no plano central, Aristóteles, do lado direito do 
espectador, e Platão, do lado esquerdo. A atitude dos dois pensadores na pintura é emblemática. 
Ela apresenta as diferenças entre suas ideias quanto ao conhecimento empírico e metafísico, 
pois Platão aponta o dedo para cima, como quem quer dizer que o conhecimento está no mundo 
das ideias, enquanto segura o seu diálogo Timeu, que fala da formação da natureza no plano 
ideal e no plano material (imperfeito).Aristóteles, por sua vez, com sua mão espalmada para 
baixo e segurando a sua Ética (livro de filosofia prática), parece sinalizar que se deve olhar 
também para o mundo prático, sensorial e material.
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2.6 Os filósofos modernos e o surgimento da teoria do conhecimento
Como disciplina filosófica independente, não se pode falar de uma teoria do conhecimento 
nem na Antiguidade nem na Idade Média, embora já tenhamos encontrado numerosas 
reflexões epistemológicas na filosofia antiga, especialmente em Platão e em Aristóteles. 
São, porém, investigações epistemológicas que ainda estão completamente embutidas 
no contexto ontológico.
Entretanto, é só na Idade Moderna que a teoria do conhecimento aparece como 
disciplina independente, tendo como fundador o filósofo inglês John Locke, a partir 
do seu Ensaio sobre entendimento humano. Mas são vários os aspectos a se 
considerar a culminância da teoria do conhecimento na modernidade. Poderíamos 
começar destacando a revolução científica que quebrou o modelo de inteligibilidade do 
aristotelismo e, a filosofia passando a se constituir com bases científicas, valorizando, 
acima de tudo, o racionalismo e a confiança no poder da razão para o alcance do 
conhecimento verdadeiro. Além disso, a questão do método passa a ser uma das 
expressões mais claras desse racionalismo e de toda a modernidade. 
Diferentemente dos filósofos que partiam do problema do ser, a modernidade volta-
se para as questões do conhecer. O foco agora é desviado para a consciência da 
consciência. Se antes era perguntado se “existe alguma coisa?”, na modernidade o 
foco passa da pergunta sobre o que as coisas são, para, sobre como nós podemos 
eventualmente conhecê-las. Portanto, as perguntas agora são outras: “O que é possível 
conhecer?”; “Qual o critério de certeza?”.
Segundo Johannes Hessen em Teoria do conhecimento (2000), o campo de investigação 
da teoria do conhecimento, na modernidade, trata propriamente do modo pelo qual o 
sujeito se apropria intelectualmente do objeto. Assim, o lugar central é o do sujeito 
na relação com o objeto. Daí que se pode caracterizar o conhecimento pelo ato ou o 
produto: o primeiro diz respeito à relação que se estabelece entre sujeito cognoscente 
Sugestão de vídeo
Para auxiliá-lo na compreensão da temática sobre o conhecimento na Filosofia, 
assista à videoaula Teoria do conhecimento – uma introdução que está no 
material básico.
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=FLmXYm8oVsY
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e o objeto cognoscível. O objeto e algo fora da mente, mas também a própria mente, 
quando nos apropriamos intelectualmente dele. O produto, por sua vez, é o resultado 
do ato de conhecer, ou seja, o conjunto de saberes acumuladores que adquiridos nessa 
relação.
A filosofia moderna se torna, desse modo, marcada pela visão antropocêntrica, 
exatamente por colocar o sujeito e sua consciência no centro da investigação e não mais 
o objeto ou Deus, como foi na Idade Média em que conhecemos por iluminação divina. 
As soluções apresentadas a esse problema deram origem a duas grandes correntes 
filosóficas, uma com ênfase na razão, e outra nos sentidos. Dessas correntes vários 
pensadores como, Francis Bacon, René Descartes, John Locke, David Hume, e mais 
tarde Immanuel Kant ficaram conhecidos pelas discussões em torno do processo de 
aquisição do conhecimento. Dentre esses, destacaremos o pensamento de Descartes, 
Locke e Kant, o qual tornará possível apresentar alguns dos principais paradigmas 
epistemológicos desenvolvidos no período moderno da Filosofia.
2.6.1 O racionalismo de Descartes
René Descartes e considerado o pai da 
filosofia moderna, porque, entre outras 
razões, foi o pensador que torna a 
consciência o ponto de partida ao enfatizar 
a capacidade humana de construir o 
próprio conhecimento. Pode-se dizer que 
seu pensamento se assenta basicamente, 
em três pilares centrais: a na visão 
racionalista, que coloca a razão como 
principal ferramenta para a aquisição do 
conhecimento verdadeiro; no princípio da 
dúvida metódica, como ponto de partida 
para se livrar de todo conhecimento que não seja indubitável; e estabelece o método 
científico como princípio para bem conduzir a razão, evitar o erro e alcançar o 
conhecimento seguro e indubitável.
O propósito do pensamento cartesiano pode ser resumido de modo muito sucinto em 
encontrar um método tão seguro que o conduzisse à verdade indubitável. Conforme 
Figura 9 – René Descartes
Fonte: https://static.todamateria.com.br/up-
load/de/sc/descartes3.gif
Saiba Mais!
Racionalismo pode ser definido como a doutrina 
que, por oposição ao ceticismo, atribui à razão 
humana a capacidade exclusiva de conhecer e de 
estabelecer a Verdade. 
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nos mostra em Discurso do método, Descartes procura no ideal matemático, isto é, 
em uma ciência que seja racional e universal, os princípios de sustentação racional 
para o método. Com o auxílio do tipo de conhecimento utilizado na matemática (como 
sabemos, a matemática é um conhecimento inteiramente dominado pela inteligência, 
e não pelos sentidos), o filósofo moderno estabelece quatro regras básicas: a da 
evidência; da análise; da ordem e da enumeração.
Com tais regras, o objetivo é buscar uma verdade primeira que não possa se posta 
em dúvida. Primeiramente, procede duvidando de tudo: do testemunho dos sentidos, 
das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, das informações da 
consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior, 
da realidade do seu próprio corpo, enfim, de tudo que havia aprendido até então. Com 
isso, estabelece a dúvida metódica, como meio de averiguação técnica, para avaliar se 
não restaria algo que fosse duvidoso.2
Após ter colocado em suspensão até mesmo a própria existência, Descartes chega, 
então, à primeira certeza que servirá, também, como ponto de partida para as demais 
investigações: o “cogito ergo sum” (penso, logo existo). Esse é o momento em que o 
filósofo interrompe a cadeia de dúvidas, já que o limite é o próprio ser que dúvida. Ou 
seja, a certeza de que se pode duvidar de tudo, mas não se pode duvidar da própria 
dúvida. Eis o raciocínio hipotético e dedutivo: se, portanto, existe a dúvida, é porque 
existe alguém que está duvidando. Aí se encontra a primeira intuição: “penso, logo 
existo”, que confere a primeira certeza admitida por ele. 
Com isso Descartes julga estar diante de ter encontrado uma ideia que seja clara e 
distinta, a partir da qual seria reconstruído todo o saber. Estabelece, assim, o edifício 
que embasará a busca pelo conhecimento verdadeiro. 
2.6.2 O empirismo de John Locke
2 Exatamente por isso, não se pode caracterizar Descartes como um cético, já que o objetivo da dúvida metódica é 
inteiramente técnica, isto é, se estabelece como um meio de averiguação para aquilo que não se pode duvidar.
Saiba Mais!
O empirismo é, juntamente com o racionalismo, uma das grandes correntes formadoras 
da filosofia moderna. Se por um lado o racionalismo de Descartes explicava a 
conhecimento humano a partir da existência de ideias inatas, presente no indivíduo, por 
outro lado, os empiristas pretendiam dar uma explicação do conhecimento a partir da 
experiência, eliminando, portanto, a noção de ideias inatas.
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Locke foi o primeiro pensador a elaborar 
uma teoria do conhecimento como 
disciplina filosófica na obra Ensaio sobre 
o entendimento humano, cujo objetivo é 
saber “qual é a essência, qual a origem, 
qual o alcance do conhecimento humano”. 
Mas pode-se dizer que a centralidade do 
seu pensamento se assenta sob a ideia 
de que a mente é como uma tábula rasa, 
que é a partir da experiência humana no 
mundo que começa a ser construído todos 
os nossos conhecimentos e saberes.
Nesse sentido, pode-seafirmar que, para Locke, o conhecimento começa apenas 
a partir da experiência sensível. Daí a sua crítica a doutrina inatista de Descartes 
afirmando que não existe conhecimento na mente humana anterior a experiência.
Ao investigar as origens das ideias, ao contrário dos racionalistas, que privilegiam as 
verdades da razão, Locke afirma que duas são as fontes possíveis para nossas ideias: 
a sensação e a reflexão. A primeira é tudo aquilo que percebemos pelos sentidos, 
pelas faculdades sensíveis. A segunda é a nossa capacidade intelectual de processar, 
internamente, os dados da percepção.
Para Locke, a razão reúne as ideias, as coordena, compara, distingue, compõe, e 
as põe em conexão formando conhecimentos e novas ideias, simples e complexas. 
As ideias simples (as que vêm da sensação), combinadas entre si, formam as ideias 
complexas, que são, por exemplo, as da identidade, dos conceitos, da existência, 
substância, causalidade etc. Assim se dá, portanto, a construção do conhecimento. É 
o intelecto que constrói as ideias que são provenientes da sensibilidade.
2.6.3 Kant e o criticismo
Outro pensador que a tradição costuma atribuir grande relevância em relação à teoria 
do conhecimento é o filósofo alemão, Immanuel Kant. Pensador tardo moderno, 
considerado um dos principais difusores do Iluminismo, Kant é também um que se 
encarregou de pensar o fenômeno de como é possível conhecer. Situado no embate 
Figura 10 – Retrato de John Locke por 
Godfrey Kneller (1697)
Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Fichei-
ro:JohnLocke.png
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entre racionalismo e empirismo, e influenciado pela ciência de Newton, Kant estava 
atento às dificuldades relativas à natureza do nosso conhecimento, por isso debruçou-
se intensamente sobre o assunto em sua obra Crítica da razão pura.
Figura 11 – Kant
Fonte: https://nova-acropole.org.br/wp-content/uploads/2019/02/im-
manuel-kant.jpg
Com uma Filosofia que mais tarde ficou caracterizada pelo criticismo, justamente 
por ter colocado a pergunta “Qual é o valor dos nossos conhecimentos e o que é 
conhecimento?”, a Crítica da razão pura é onde defende a proposta de uma Filosofia 
crítica, visando superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo, entre Descartes 
e Locke, e examinar as condições de possibilidade da experiência humana do real e 
fundamentar nossas pretensões ao conhecimento (MARCONDES, 2007).
A partir da tentativa de superar esta dicotomia, Kant explica que o conhecimento é 
construído de algo que recebemos de fora, da experiência (a posteriori), e algo que já 
existe em nós mesmos (a priori) e, portanto, anterior a qualquer experiência. Ao contrário 
do que propunha a filosofia tradicional, que os objetos de nosso conhecimento devem 
conformar à natureza à nossa estrutura cognitiva, e não o conhecimento à natureza do 
objeto, Kant propõe que o conhecimento é proveniente de duas categorias: matéria e 
forma. A primeira é o que nos vem de fora; a segunda é o que já está em nós. 
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O essencial em Kant é compreender, enfim, que em sua teoria do conhecimento a 
sensibilidade é a faculdade receptiva, pela qual obtemos as representações exteriores, 
enquanto o entendimento é a faculdade de pensar ou produzir conceitos. Isso significa 
que para conhecer as coisas, precisamos da experiência sensível (proveniente da 
matéria), mas também das formas do entendimento, que, por sua vez, são a priori 
e condição da própria existência, por onde serão organizadas as ideias. Assim, 
o conhecimento em Kant não se dá por adequação entre sujeito e objeto, mas por 
construção, fruto da mediação entre sensibilidade e entendimento, fruto da matéria e 
forma.
Reflexão!
Para refletir
Como distinguir o conhecimento filosófico de outras formas de 
conhecimento como, por exemplo, conhecimento mítico, senso comum, 
conhecimento religioso e conhecimento científico?
Na sociedade atual, como informação e conhecimento interagem?
Como podemos observar, a questão do conhecimento se apresenta na filosofia desde 
que suas primeiras questões foram colocadas, mas apenas no período da modernidade 
é que ela se tornou uma disciplina específica na filosofia, e também em outras áreas 
do conhecimento humano. Ainda hoje quando pensamos nestas questões: “o que é 
o conhecimento?”; “quais as tipos de conhecimento?”; “o que é possível conhecer?” 
etc., nos encontramos diante de temáticas que fazem parte do desenvolvimento do 
ser humano, uma vez que é por meio destas questões e a interação do homem com 
a realidade que formamos nossa compreensão de mundo, produzindo e acumulando 
conhecimentos e saber. Conhecer é, portanto, elucidar, dar luz, clarear a realidade por 
meio de nossas capacidades especificamente humanas, os sentidos e principalmente a 
razão. Assim, seja por meio de questões ontológicas ou epistemológicas, o conhecimento 
se tornou a grande busca do ser humano tanto na Antiguidade, quanto na Modernidade 
e até mesmo no presente. 
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RESUMO
Esta Unidade abordou como a questão do conhecimento surgiu na história do 
pensamento filosófico como um problema que foi sendo abordado de diferentes 
modos. Assim, buscou-se compreender as diferenças fundamentais da abordagem 
dos pensadores na Antiguidade e na Modernidade. Verificou-se, deste modo, que as 
discussões relativas ao conhecimento, foram desenvolvidas a partir de importantes 
áreas da filosofia que ficaram conhecidas como o estudo da metafísica, da ontologia e 
da teoria do conhecimento. Tais discussões foram importantes para o desenvolvimento 
das várias correntes e paradigmas científicos. 
CASSIRER, E. El problema del conocimiento. México: FCE, 1974.
REZENDE, Antonio (org.). Curso de filosofia: para professores e alunos dos cursos 
de segundo grau e de graduação. 12. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
DURANT, Will. A história da filosofia. Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. São 
Paulo: Nova Cultural, 2000. (Coleção Os Pensadores).
HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. Trad. João Virgílio Gallerani Cuter. 
São Paulo: Martins fontes, 2000.
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 
5. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
PRÉ-SOCRÁTICOS, Col. “Os Pensadores”. Seleção de textos e supervisão do prof. 
Dr. José Cavalcante de Souza, São Paulo: Abril Cultural, 1978. Vol.1.
PERINE, Marcelo. Ensaio de iniciação ao filosofar. São Paulo: Loyola, 2007.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. Ísis Borges. São 
Paulo: Difel, 2002.
O HOMEM E A 
RELAÇÃO COM 
O MUNDO: ética, 
sociedade e educação
O HOMEM E A 
RELAÇÃO COM 
O MUNDO: ética, 
sociedade e educação
Discutir as dimensões das diversas relações entre homem e 
sociedade na perspectiva da antropologia fi losófi ca.
OBJETIVO
Figura 12 – Ética, Sociedade e Educação
Fonte: https://www.ghc.com.br/fi les/img.ptg.2.1.01.11504.jpg
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3.1 Introdução
Desde os gregos da Antiguidade o convívio em sociedade sempre exigiu uma educação 
para as regras e normas estabelecidas. Por isso, tanto a ética quanto a moral surgem 
como parte integrante ao processo de educação (Paideia) grega, cujo objetivo era a 
formação dos indivíduos para a vida política, consoante à vida em sociedade. Hoje 
podemos dizer que a instituição educacional é uma das mais importantes e responsáveis 
pela formação ética do indivíduo, para exercer o papel de cidadão membro da sociedade. 
Mas, será que a instituição educacional tem conseguido desempenhar seu papel na 
formação integral do indivíduo como um membro da sociedade? 
Nos últimos anos muito se tem discutido sobre a importância da ética no processo formativo 
dos indivíduos para vida em sociedade, que tem sido objeto de discussão de muitos 
filósofos, educadores e teóricos de diversas áreas do conhecimento. Particularmente,esse debate tem se intensificado por vários motivos, merecendo aqui destacar, entre 
vários outros, o desafio da educação formar indivíduos que sejam, ao mesmo tempo, 
reflexivos e autônomos, porém sem a perda dos laços de solidariedade social.
Esse fator tem concorrido para ampliar a reflexão sobre a relação entre ética e educação 
com vistas para o caráter social de ambas, considerando-as como um processo por 
meio do qual se dá o próprio processo de constituição dos humanos. Nessa perspectiva, 
partimos da ideia de que a educação contribui para que os homens construam suas 
relações buscando referência nos valores defendidos na vida social, os quais ganham 
consistência em contextos sócio-históricos específicos. Nesse sentido, o objetivo desta 
aula é desenvolver alguns aspectos da relação entre ética e educação, como elementos 
que concorrem para a educação concebida como prática social.
3.2 Ética e Educação no mundo grego
A ética na educação, além de formar, também constrói o indivíduo, permitindo que o 
mesmo se compreenda como um membro da sociedade, assumindo, dessa forma, as 
responsabilidades que lhe cabem como cidadão. A ética não é apenas uma teorização 
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do agir moral, ela é uma prática, sobretudo reflexão, que está vinculada diretamente 
à ação humana na sociedade. Logo, ela é vivenciada em contextos diferentes na 
sociedade, como por exemplo, no político, no social, no econômico e no educacional. 
Assim, contribui de uma forma abrangente no que se refere a uma perspectiva coletiva 
e não puramente individual.
Desde os gregos aprendemos que a ética inserida na educação desenvolve no indivíduo 
a capacidade de estabelecer relações entre esses conhecimentos e habilidades, 
orientando-o para a prática da cidadania, que será o elemento fundamental para o 
equilíbrio social, em vista de uma sociedade justa.
3.3 Ética e moral: genealogias e definições conceituais
Etimologicamente, a palavra ética vem da palavra grega ethos, cuja grafia é concebia 
de dois modos em uso: no primeiro, ethos era usado para designar o “modo de ser” 
ou “caráter” do indivíduo; no segundo, referia-se aos “costumes” ou “hábitos” comuns 
praticados. Criada pelos filósofos gregos no século VI a.C, o ethos representava o lugar 
que abrigava os indivíduos cidadãos responsáveis pelo destino da polis. Nessa morada, 
os homens sentiam-se em segurança. Isso significa que, vivendo de acordo com as 
leis e os costumes, os indivíduos poderiam tornar a sociedade melhor e encontrar 
nela sua proteção, seu abrigo seguro. A ética aparece, assim, como resultado das 
leis determinadas pelos costumes e das virtudes e hábitos gerados pelo caráter dos 
indivíduos. Os costumes representam, então, o conjunto de normas e regras adquiridas 
por hábito, enquanto a permanência destes define a caráter virtuoso da ação do sujeito. 
A excelência moral seria não apenas determinada pelas leis da cidade, mas também 
pelas decisões pessoais que geram as virtudes e os bons hábitos.
Saiba Mais!
Os gregos utilizavam a palavra polis para se referir a cidade ou ao Estado. Antenas ficou 
muito famosa por ter sido a principal cidade grega a desenvolver a Filosofia e junto com 
e ela a política. É interessante, ainda observar, o termo política também foi gerado da 
palavra polis. A política para os gregos era uma atividade muito importante e deveria ser 
exercida por todas os cidadãos. Assim, o conceito de cidadania, além de estar ligado ao 
conceito de ética, também se refere a atividade política.
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O ethos grego, mais tarde traduzido pelos romanos, passou a corresponder ao termo 
latino mos (mores), do qual deriva o termo moral. Ética e moral são palavras que 
significam, em sua origem, a mesma coisa, pois dizem respeito ao modo como os 
indivíduos devem agir em relação ao outro no espaço em que vivem. Entretanto, hoje 
podemos estabelecer uma diferença entre ambas, pois a ética se constitui como uma 
parte da filosofia que trata da reflexão sobre a moral em geral, ou da moralidade de 
cada ser humano, em particular. A ética é para muitos, definida como a “ciência da 
moral” (VÁSQUEZ, 2011). 
Isso significa que a moral aparece atualmente como um objeto de reflexão da ética. 
Desse modo, enquanto à ética compete estudar os elementos teóricos que nos 
permitem entender a moralidade do sujeito, a moral diz respeito à esfera da conduta, 
do agir concreto de cada um. Podem-se resumir tais diferenças da seguinte forma: a 
ética revela-se como reflexão (theoria), já a moral diz respeito à ação (práxis).
3.3.1 Ética: individualidade, coletividade e educação
O mundo do ethos envolve a individualidade (subjetividade) e a coletividade 
(intersubjetividade) dos seres humanos dotados de sentimento (pathos) e razão (logos). 
Nesse sentido, a prática do bem ou da justiça estaria ligada ao respeito às leis da polis 
(heteronomia) e à intenção individual (autonomia) de cada sujeito. Isso significa que 
existem fatores externos (a lei, os costumes) e internos (as convicções, os hábitos) que 
determinam o comportamento dos cidadãos. Nesse sentido, a moral, definida como 
um conjunto de regras, princípios e valores que determinam a conduta do indivíduo, 
teria sua origem nas virtudes ou ainda na obrigação de o sujeito seguir as normas que 
disciplinam o seu comportamento. 
Saiba Mais!
Na Filosofia grega, o termo virtude assume um papel muito importante, pois designa 
um tipo de qualidade que exige dos indivíduos a capacidade de realizar uma ação 
ou atividade com excelência. Na ética, na política e na educação a virtude é o que 
deferência a atividade nobre de uma atividade qualquer. Uma ação é considerada 
virtuosa quando é praticada com excelência, quando expressa a máxima qualidade 
do indivíduo que a desenvolve, ligado à noção de cumprimento do propósito ou da 
função a que o indivíduo se destina.
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A necessidade que impõe a cada ser humano o dever de respeitar os costumes e as 
normas da sociedade revela a importância que o ethos, ou aquilo que hoje chamamos 
de moral, assume em nossas vidas. Como o homem, em seu agir moral, é, ao mesmo 
tempo, produto da natureza e da cultura, o ethos (ou moral), segundo alguns pensadores 
gregos (Platão, Aristóteles, Epicuro), serviria para regular os apetites humanos e 
controlar as suas inclinações e instintos mediante o uso da razão (logos). Eis porque 
ela surge quando o homem supera sua natureza instintiva e se torna membro de uma 
coletividade regida por leis racionais. 
Ora, para tais filósofos, nenhuma comunidade humana pode sobreviver sem o mínimo de 
regras ou padrões de comportamento, ou seja, sem um código de condutas. O referido 
código normativo representa os ensinamentos que orientam nossas ações diante do 
mundo e, sobretudo, em face do outro. A ética, com efeito, trata do comportamento do 
homem, da relação entre a sua vontade e a obrigação de seguir uma norma, do bem e 
do mal, do que é justo e injusto, da liberdade e da necessidade de respeitar o próximo. 
A ética, enquanto campo de estudo e reflexão, revela que nossas ações têm efeitos na 
sociedade e que cada homem deve ser livre e responsável por suas atitudes.
Todavia, no mundo grego a boa conduta poderia também ser determinada pela 
educação (Paideia), na medida em que o processo educacional forneceria as regras 
e ensinamentos capazes de orientar os julgamentos e decisões dos indivíduos 
no seio de sua comunidade. Com os gregos, a educação se configura como um 
Saiba Mais!
É comum considerar que há dois períodos na história da educação grega: o período 
antigo, que compreende a educação homérica e a educação antiga de Atenas e de 
Esparta, a Paideia, e o novo período, o da educação do "Século de Péricles". Período 
áureo da cultura grega, ele inicia-se com os sofistas e desenvolve-se com os filósofos/
educadores Sócrates, Platão e Aristóteles.
Seguir-se-ádepois o período helenístico, de decadência política, em que a Grécia 
é conquistada, primeiro pelos Macedónios e depois pelos Romanos. Atenas perde, 
então, a sua posição de centro cultural do mundo em favor de Alexandria.
O modelo educativo que existia em Atenas antes do aparecimento dos sofistas, por 
volta do séc. V a.C., era a Paideia. O seu ideal residia numa educação humanista, 
não especializada nem marcadamente técnica. A Paideia era entendida como cultura 
geral, ou formação geral que convinha ao homem, enquanto homem livre e cidadão.
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/sofistas/
educativo.htm
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elemento fundamental para a constituição da 
sociabilidade. Assim, enquanto os costumes 
determinam as normas e valores a serem 
seguidas e transmitidas pelos sujeitos morais, 
à educação se impõe como um importante 
instrumento para o desenvolvimento moral do 
indivíduo. Isso porque, no universo da polis, as 
virtudes que determinam a excelência moral 
dos agentes sociais poderiam ser transmitidas 
pelos ensinamentos.
A educação estaria, por conseguinte, na base do esforço para fazer do indivíduo um 
homem bom e do sujeito um cidadão exemplar. A formação moral serve também de 
auxílio à formação do indivíduo em sua dimensão política. Assim, o ethos não apenas 
representa o instrumento fundamental para a instauração de um viver em conjunto, 
serve também de alicerce à construção do espaço da política. Disso se conclui que 
ética e política são atividades que se relacionam e se complementam, mas também 
a educação e sociedade, à medida que o foco da educação é a prática social, como 
veremos.
3.4 Sentido e alcance da educação como prática social
Tão importante quanto à ética para os gregos antigos, a educação ocupa lugar central 
no que diz respeito ao processo de formação integral dos indivíduos. Mas hoje podemos 
dizer que a instituição educacional é uma das e, talvez, a mais importante responsável 
pela formação ética do indivíduo para exercer o papel de cidadão membro da sociedade. 
Mas, será que a instituição educacional tem conseguido desempenhar seu papel na 
formação integral do indivíduo como um membro da sociedade? E o que seria educação, 
nesse processo? Qual o papel eminente da educação para a sociedade?
Do ponto de vista etimológico, a palavra latina educare é a raiz do vocábulo educação 
(como hoje o entendemos), e significa o ato de alimentar ou criar. Nesse sentido, 
Figura 13 – Educação grega
Fonte: https://1.bp.blogspot.com/-KjsWdWkU-
8VA/XI1FR7n96PI/AAAAAAAAOLQ/539seafV-
v9A_1GUV1OB0q2zuz20QZEz-wCLcBGAs/
s1600/paideia.jpg
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educação pode ser compreendida apenas como instrução ou mera aquisição de 
informações (alimentar o outro com informações), sem uma reflexão crítica do 
conhecimento acumulado.
Em uma segunda acepção, educação significa a formação integral do ser humano 
(educere) sendo, assim, o processo que indicaria o pleno desenvolvimento das 
potencialidades do homem. Esse outro sentido implica considerar o educando como 
um sujeito ativo que faz parte de determinado grupo social, e que acumula, sistematiza 
e reelabora conhecimentos, levando em conta as relações que estabelece com os 
demais membros desse mesmo grupo. Nessa perspectiva, a educação pode ser 
concebida como uma prática social que ocorre em um contexto histórico, de forma 
relacionada à maneira como os homens produzem sua própria existência, possuindo 
múltiplos sentidos e alcances para o indivíduo e a coletividade.
De fato, em sentido amplo nenhum indivíduo escapa da educação, pois ela ocorre em 
todos os espaços sociais, sendo um deles o escolar. Assumindo um real significado para 
os grupos humanos que o vivenciam, a educação revela um caráter eminentemente 
social, considerando o contexto no qual se realiza. Nessa lógica, segundo Rodrigues 
Brandão em O que é educação (1996, p. 23), ela “[…] é um dos principais meios de 
realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de adaptações das 
pessoas, em um mundo em mudança […]”.
Também é relevante destacar que, como prática social, a educação sempre está 
fundada em uma visão de mundo, de conhecimento, e de homem. Essa visão assume 
um caráter de transformar ou não frente à realidade social, o que acaba por influenciar 
diretamente o processo formativo dos indivíduos. Assim, sempre há uma intencionalidade 
na prática pedagógica, bem como nas ações de professores e alunos. Essas ações são 
orientadas por concepções que se originam em função de determinados condicionantes 
de natureza política, econômica, social, cultural etc.
Mergulhada em avanços tecnológicos e científicos de grande alcance, a sociedade 
contemporânea é marcada por perplexidades e incertezas diversas. Todavia, 
paradoxalmente, essa mesma sociedade convive com um expressivo crescimento 
de problemas graves, que assustadoramente assombram o viver comum da grande 
maioria das pessoas. Cotidianamente, deparamo-nos com manchetes sobre violência, 
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incluindo violência física, intrafamiliar, moral, psicológica, sexual, sem falar nos 
constantes números de homicídios, e outros tantos acontecimentos que nos fazem crer 
que vivemos em tempos difíceis e assustadores. Além disso, os tempos não são apenas 
difíceis no que corresponde ao aumento exponencial da violência. São tempos difíceis 
também pelo agravamento das desigualdades sociais, pela deterioração de nosso 
sistema ecológico, pelas relações confusas que constituem um mundo globalizado e 
individualista. Enfim, pela ditadura do prazer regida pelo consumismo desenfreado da 
idolatria do mercado. 
Dentre estes problemas, podemos mencionar ainda questões diversas, como: as 
discussões sobre justiça social tanto no âmbito nacional quanto no mundial; as políticas 
relativas aos direitos dos grupos particulares ou marginalizados; questões acerca das 
leis da imigração, dos asilos para idosos e dos direitos dos estrangeiros; a permissão 
ou não permissão da eutanásia; os direitos dos animais; os avanços da ciência e da 
tecnologia, entre outras que, efetivamente, assolam o mundo de hoje. Neste contexto, 
cabe-nos perguntar: O que significa educar? Que valores éticos devem ser defendidos 
em um mundo que, de repente, ficou pequeno e globalizado, considerando o avanço 
do conhecimento e suas repercussões sobre a vida das pessoas?
Para refletir
Propor analisar a relação entre Ética e Educação em um encontro de escolas, de 
educadores e educadoras traz interrogações como:
• A formação ética da infância, da adolescência, da juventude faz parte da formação 
humana? Faz parte da Educação?
• De quem é a responsabilidade social, política, pedagógica da formação ética? Das 
famílias, das escolas, da docência, da sociedade ou do Estado?
• A função das escolas, dos currículos, dos docentes seria apenas instruir, capacitar 
no domínio das competências necessárias ao domínio dos conhecimentos, das 
ciências…?
Perguntas como essas reforçam a convicção de que, no mundo atual, a educação 
vê-se diante de diversos problemas, frente aos quais precisa se posicionar de forma 
crítica. Dentre esses problemas, merecem destaque a formação para a cidadania 
plena, a necessidade do respeito à diversidade cultural, a democratização tanto 
da sociedade quanto do próprio espaço escolar e o combate à violência.
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Particularmente, em relação ao último item, Marilena Chauí (2000) enfatiza que os atos 
de violência cometidos contra os homens se caracterizam como ações que retiram dos 
indivíduos sua autonomia, coisificando-os, desumanizando-os. Situando o debate no 
âmbito da formação cultural brasileira, a autora ressalta que nossa sociedade revela 
também diversas formas de violência simbólica que, 
[...] marcada pela estrutura hierárquica do espaço social que

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