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Disciplina | 
Introdução 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 1 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
HERMENÊUTICA BÍBLICA 
 
CONTEÚDO 
Abordagens Hermenêuticas 
Hermenêutica Bíblica | 
Sumário 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 2 
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G892 
GRUPO FOCUS DE EDUCAÇÃO. Hermenêutica Bíblica: Abordagens hermenêuticas / Org. Vitor 
Matheus Krewer. – Cascavel: Grupo Focus de Educação, Focus, 2024. 
30 P. 
1. Hermenêutica I. Krewer, Vitor Matheus. II. Título. 
CDD 121 ed.: 121.6 
http://www.faculdadefocus.com.br/
mailto:tutoria@faculdadefocus.com.br
http://www.faculdadefocus.com.br/
Hermenêutica Bíblica | 
Sumário 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 3 
Sumário 
Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
Introdução -------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
1 A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 4 
1.1 Importância do Estudo da Hermenêutica ---------------------------------------------------------------- 10 
2 A Hermenêutica Moderna ------------------------------------------------------------------------ 13 
2.1 Fundamentos de Schleiermacher--------------------------------------------------------------------------- 14 
3 A Hermenêutica do Discurso -------------------------------------------------------------------- 17 
3.1 Fundamentos de Paul Ricoeur ------------------------------------------------------------------------------ 17 
4 A Hermenêutica Histórico-Crítica -------------------------------------------------------------- 19 
4.1 O Dilema do Método Histórico-Crítico -------------------------------------------------------------------- 21 
4.2 Um Método Alternativo -------------------------------------------------------------------------------------- 24 
5 A Hermenêutica Feminista ----------------------------------------------------------------------- 25 
5.1 A Mulher na Igreja ---------------------------------------------------------------------------------------------- 27 
Conclusão -------------------------------------------------------------------------------------------------- 28 
Referências ------------------------------------------------------------------------------------------------ 28 
 
 
Hermenêutica Bíblica | 
Introdução 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 4 
Introdução 
A interpretação das Escrituras Sagradas tem sido uma jornada fascinante ao 
longo da história, moldada por diferentes correntes hermenêuticas que surgiram em 
épocas distintas. Desde os primórdios da teologia até os debates contemporâneos, a 
hermenêutica ganhou destaque na compreensão e na aplicação dos textos sagrados. 
Nesta unidade, exploramos a importância do estudo da hermenêutica, destacando 
algumas das principais correntes hermenêuticas ao longo dos séculos, incluindo a 
hermenêutica moderna, o discurso de Paul Ricoeur, o método histórico-crítico e a 
hermenêutica feminista. 
 
1 A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das 
Escrituras Sagradas 
Iniciamos o entendimento das escrituras sagradas tomando como base o 
estudo de Terry (2009) e Baptista (2022). Todo texto inteligível é fundamentado em 
princípios gerais de pensamento e linguagem. Quando alguém quer compartilhar suas 
ideias, normalmente recorre a meios de comunicação convencionais que são 
entendidos por ambas as partes. As palavras, com significados e usos definidos, 
desempenham esse papel em todos os idiomas, exigindo que os leitores 
compreendam seu significado para entenderem os pensamentos escritos dos outros. 
Defendemos que a Bíblia, como qualquer outro livro, deve ser interpretada dentro das 
operações lógicas da mente humana. A compreensão do propósito principal do autor 
ao escrever é essencial, pois isso muitas vezes esclarece os detalhes de sua 
composição. Além disso, é importante estudar a estrutura do texto e discernir a 
relação lógica entre suas partes, frequentemente comparando-o com outras 
passagens similares para obter maior clareza. É crucial para o exegeta considerar o 
contexto histórico e cultural do escritor ao interpretar um texto antigo, permitindo 
uma compreensão mais profunda do mesmo. 
Aqui é importante um adendo para esclarecer sobre o termo "exegese", que 
deriva do grego "ex", traduzido como "fora", e "agein", tendo o sentido "guiar". 
Essencialmente, denota "guiar para fora", isto é, extrair a intenção das palavras de um 
texto. Quando aplicado à Bíblia, exegese bíblica refere-se à explicação e interpretação 
de um ou mais textos bíblicos. O exegeta reformado Uwe Wegner (1998 apud 
BAPTISTA, 2022) sustenta que a exegese visa ajudar na compreensão dos textos 
bíblicos, afirmação a qual é corroborada pelos teólogos pentecostais, que 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 5 
acrescentam que o objetivo da exegese é permitir que as Escrituras revelem a intenção 
original do Espírito Santo dentro do seu contexto original. 
Diante dessas definições e com o objetivo de evitar interpretações superficiais 
ou equivocadas da Bíblia, evidencia-se que tanto a hermenêutica quanto a exegese 
oferecem ferramentas que auxiliam na interpretação e aplicação corretas dos textos 
sagrados. Assim, para que não se atribua ao texto significados que Deus não 
pretendeu, é fundamental realizar um exame minucioso das Escrituras. Por exemplo, 
o estudo das línguas bíblicas, dos eventos históricos, das questões sociopolíticas, das 
peculiaridades culturais e dos recursos literários utilizados no texto sagrado colabora 
para um entendimento mais preciso do verdadeiro significado das palavras. 
O objetivo primordial de um autor ao escrever é que seu trabalho seja 
examinado minuciosamente, pois isso frequentemente esclarece os detalhes da 
composição. Além disso, é necessário estudar a estrutura do textoe discernir as 
relações lógicas entre suas partes, muitas vezes através de comparações entre 
passagens relacionadas. Para o exegeta, é essencial entender o contexto histórico e 
cultural do escritor para uma interpretação precisa. 
O estilo e a organização das ideias nos escritos bíblicos refletem o ambiente 
histórico, geográfico e educacional dos autores. Portanto, compreender seus 
modismos peculiares de expressão requer conhecimento das instituições e influências 
que moldaram suas mentes. É importante observar as definições e construções que 
os autores dão aos seus termos, sem presumir que tentam confundir os leitores. Além 
disso, é importante analisar a estrutura gramatical das frases, incluindo sujeito, 
predicado e cláusulas subordinadas, considerando o contexto histórico do autor 
sempre que possível. 
Um princípio fundamental na interpretação histórico-gramatical é que as 
palavras ou sentenças têm um único significado em uma determinada conexão. 
Ignorar isso leva a incertezas e conjecturas. Geralmente, o significado mais óbvio e 
claro de uma frase é o verdadeiro. Por exemplo, as narrativas bíblicas devem ser 
aceitas como registros confiáveis de fatos. Isso se aplica também aos relatos de 
milagres, que são descritos como eventos reais. Por exemplo, em Josué 5:13 a 6:5, é 
mais plausível interpretar a aparição a Josué como um evento real, em vez de um 
sonho ou visão. 
 
Assim, por exemplo, em Josué 5:13 a 6:5, somos informados de que um 
“homem” apareceu a Josué, com uma espada na mão, anunciando-se 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 6 
como príncipe dos exércitos do Senhor" (v. 14) e dando instruções para 
a captura de Jericó. É possível que isso tenha acontecido em um sonho. 
Também poderia ter sido uma visão sem que Josué estivesse dormindo. 
Poderia ter sido qualquer uma dessas duas coisas, sem dúvida; mas tal 
suposição não está em estrita harmonia com os fatos, uma vez que 
também envolveria a suposição de que Josué sonhou que ela caiu em 
seu rosto e que ele removeu os sapatos de seus pés, assim como ele 
olhou e ouviu. As revelações de Jeová geralmente chegam através de 
visões e sonhos (Números 12:6), mas a interpretação mais simples desta 
passagem é que o anjo de Jeová apareceu abertamente a Josué e que 
as ocorrências mencionadas foram todos os atos externos e reais, em 
vez de visões ou sonhos. (TERRY, 2009, p. 16, tradução nossa). 
 
Os relatos da ressurreição de Jesus não podem ser explicados racionalmente 
fora do contexto histórico-gramatical. Os discípulos inicialmente não compreenderam 
as previsões de Jesus sobre sua morte e ressurreição, mas depois afirmaram ter visto 
o Senhor ressuscitado. Eles testemunharam sua ascensão e começaram a pregar sobre 
Jesus em várias regiões. Paulo corroborou esses relatos, mencionando uma aparição 
de Jesus a mais de quinhentos irmãos, argumentando que a ressurreição de Cristo é 
fundamental para a fé cristã. 
Diante dos fatos apresentados, somos confrontados com uma escolha entre 
aceitar as declarações dos evangelistas como verdadeiras ou acreditar que eles 
mentiram deliberadamente, pregando essa falsidade pelo mundo, mesmo 
enfrentando perseguições e sacrifícios. Observamos que a segunda opção parece 
irracional diante da sinceridade e do sacrifício dos evangelistas. Ademais, os relatos 
dos evangelhos fornecem uma base histórica sólida para o surgimento e a expansão 
do Cristianismo. 
O método histórico-gramatical também se desenvolve através do estudo do 
contexto e do objetivo do autor. O contexto refere-se à conexão de pensamento 
dentro de um documento, tanto imediato quanto remoto. O objetivo é o propósito 
que o autor tinha em mente ao escrever, que geralmente é declarado explicitamente 
ou se torna evidente ao longo do texto. O plano de um trabalho é a organização de 
suas partes, isto é, a sequência de pensamentos sugeridas pelo autor, logo, este plano 
está intrinsicamente ligado ao seu objetivo. Portanto, demonstra-se a importância de 
estudar o contexto, o objetivo e o plano de um texto em conjunto. Talvez seja lógico 
determinar o objetivo primeiro, pois compreender o propósito geral da obra pode 
ajudar a entender o significado de partes específicas. 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 7 
Diversos livros bíblicos têm seus objetivos formalmente declarados pelos 
autores. Mencionamos, na sequência, alguns exemplos relatados por Terry (2009). Os 
profetas do Antigo Testamento e outros escritores apresentam claramente os 
propósitos de seus escritos, o Evangelho de João, por exemplo, declara seu propósito 
de promover a fé em Jesus como o Filho de Deus. Às vezes, o objetivo de um livro é 
discernido através de seu conteúdo, como no caso de Gênesis, que inicia com a criação 
e traça a história humana desde então. Essa análise revela a intenção do autor de 
registrar a criação e o subsequente desenvolvimento humano. 
O livro do Êxodo, ao dividir-se em duas partes principais, capítulos 1-18 e 19-
40, narra a saída de Israel do Egito e a legislação no Monte Sinai. A obra inicia com 
uma descrição intensa da escravidão dos israelitas, destacando as dificuldades 
enfrentadas sob o faraó e as pragas que devastaram o Egito. Segue-se a redenção de 
Israel, simbolizada pela Páscoa e evidenciada pelos eventos da fuga e travessia do Mar 
Vermelho, culminando no cântico de Moisés. Uma terceira parte foca na consagração 
de Israel, detalhando desde a jornada após o Mar Vermelho até as interações com 
povos pagãos, a recepção das leis no Sinai, a ordenação do sacerdócio aarônico, a 
resposta às apostasias, e finalmente a construção do Tabernáculo, marcada pela 
presença da glória divina. 
Tendo determinado o objetivo e o plano geral de um livro, estamos mais bem 
preparados para rastrear o contexto e o aspecto de suas principais partes. O contexto 
pode ser imediato ou remoto, a depender de uma conexão imediata ou mais distante, 
como também pode se estender por alguns versículos ou por toda uma seção. Os 
últimos 27 capítulos de Isaías exibem uma notável unidade de pensamento e estilo; 
embora sejam suscetíveis a várias divisões. Nos capítulos 52:13 a 53:12, a ilustre 
profecia messiânica é um período completo em si, apesar de truncada de um modo 
lamentável pela divisão dos capítulos. Mas, embora esses versículos integrem uma 
seção claramente definida, não devem ser separados do contexto ou tratados como 
se não tivessem uma conexão com o que os precede e o que os segue. 
 
O livro de Isaías tem suas divisões mais ou menos claramente definidas, 
mas elas aderem uns aos outros e estão entrelaçados entre si, formando 
um todo vivo. Observou lindamente Nagelsbach, que "os capítulos 4.9-
57 são como uma guirlanda de flores gloriosas entrelaçadas com fita 
preta; ou como uma canção de triunfo por cujos tons abafados corre a 
melodia de um canto fúnebre, mas isso de tal forma que, gradualmente, 
as cordas sombrias se fundem na melodia da canção triunfal. E ao 
mesmo tempo, o discurso do profeta é tão organizado com tanta arte 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 8 
que a fita de luto passa a formar um grande laço exatamente no seu 
centro, já que o capítulo 53 constitui o centro de todo o ciclo profético 
dos capítulos 4-0-56” (TERRY, 2009, p. 20, tradução nossa). 
 
Evidentemente, a conexão de pensamento de uma dada passagem depende de 
uma variedade de considerações; pode ser uma conexão histórica, na qual os fatos ou 
eventos registrados se conectam em uma série cronológica; pode ser histórico-
dogmática, na qual um discurso doutrinal se relaciona com algum fato ou 
circunstância histórica; pode seruma conexão lógica, na qual os pensamentos ou 
argumentos se apresentam em ordem lógica; pode ser psicológica, porque dependa 
de alguma associação de ideias. 
Não se deve insistir demais sobre a importância de estudar cuidadosamente o 
contexto, o objeto e o plano, isso porque é completamente impossível a compreensão 
de muitas passagens da Bíblia sem a ajuda do contexto, já que muitas sentenças 
derivam toda sua expressão e força da conexão em que se encontram. Assim também, 
a correta exposição de toda uma seção pode depender da compreensão acerca do 
objeto e do plano do argumento do escritor. 
Há partes da Bíblia, como os Provérbios e partes do Eclesiastes, que consistem 
em aforismos ou provérbios isolados, aparentemente desconectados entre si. Mesmo 
nos evangelhos, há passagens que parecem não ter relação com o contexto 
circundante. A comparação com passagens paralelas geralmente lança luz sobre esses 
textos isolados, tornando palavras e declarações mais compreensíveis. Porém, sem a 
ajuda de passagens paralelas, certas partes das Escrituras seriam difíceis de entender. 
Terry também lembra que as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos 
configuram-se em um mundo em si mesmas. Embora escritas em grande variedade 
de épocas e dedicadas a muitos temas, tomadas em conjunto constituem um livro que 
se interpreta a si mesmo. Consequentemente, a antiga regra de que "as Escrituras 
devem ser interpretadas pelas Escrituras" (TERRY, 2009, p. 21, tradução nossa) é um 
importantíssimo princípio da hermenêutica sagrada. 
As passagens paralelas têm sido frequentemente classificadas em duas classes, 
verbal e real, dependendo se o que constitui o paralelismo consiste em palavras ou 
em material análogo. Quando uma mesma palavra ocorre em conexões similares ou 
em referência ao mesmo assunto geral, denomina-se o paralelismo de verbal. Os 
paralelos reais se referem aquelas passagens semelhantes, nas quais a semelhança ou 
identidade consiste não em palavras ou frases, mas em fatos, assuntos, sentimentos 
ou doutrinas. Por vezes, ocorrem subclassificações nos paralelismos desta classe, em 
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A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
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históricos e didáticos, dependendo se a matéria do assunto consiste em eventos 
históricos ou em assuntos de doutrina. Mas é possível que essas subclassificações não 
sejam mais do que refinamentos desnecessários. O intérprete cuidadoso consultará 
todas as passagens paralelas, mas ao interpretar terá pouca oportunidade de discernir 
formalmente entre estas diversas classes. 
Em cada caso, é importante verificar se existe verdadeiro paralelismo entre as 
passagens citadas. Por exemplo, um paralelo verbal pode ser tão real quanto aquele 
que incorpora muitos sentimentos correspondentes, porque uma única palavra, 
muitas vezes, decide um fato ou uma doutrina. De outro modo, pode existir 
semelhança de sentimento sem que haja verdadeiro paralelismo. 
Para ilustrar tal contexto, Terry menciona que a verdadeira interpretação das 
palavras de Jesus a Pedro, em Mateus 16:18, só pode ser plenamente apreciada por 
uma comparação e um estudo cuidadoso de todos os textos paralelos. Jesus diz a 
Pedro: "[...] tu és Pedro [Petros] e sobre esta pedra [petra] edificarei a minha Igreja e 
as portas do inferno não prevalecerão contra ela". 
 
Como é possível decidir apenas a partir desta passagem se a rocha 
(petra) se refere a Cristo (como eles afirmam Santo Agostinho e 
Wordsworth) ou à confissão de Pedro (Lutero e muitos teólogos 
protestantes) ou ao próprio Pedro? É digno de nota que nas passagens 
paralelas de Marcos 8:27-30 e Lucas 9:18-21 estas palavras de Cristo a 
Pedro não aparecem. O contexto imediato nos apresenta Simão Pedro 
falando e representando os discípulos, respondendo à pergunta de 
Jesus com a confissão ousada e confiante: “Tu és o Cristo, o Filho do 
Deus vivo." Evidentemente, Jesus ficou comovido ao ouvir as palavras 
fervorosas de Pedro e disse-lhe disse: Bem-aventurado és tu, Simão, 
filho de Jonas, porque a carne e o sangue não te revelaram, mas o meu 
Pai que está nos céus." Qualquer conhecimento e convicções que ele 
tivesse sobre o messianismo e a divindade de Jesus, os discípulos teriam 
alcançado antes desta ocasião, é um fato que esta nova confissão de 
Pedro possuía a novidade e a glória de uma revelação especial. Não 
deveu sua origem à “carne e sangue”, ou seja, não foi uma declaração 
de origem natural ou humana, mas [...] uma inspiração divina vinda do 
céu. Naquele momento Pedro estava possuído pelo Espírito de Deus e 
no fervor ardente de tal inspiração falou as mesmas palavras que o Pai 
inspirou nele. É por isso que Jesus declarou-o "abençoado" ou feliz [...] 
(TERRY, 2009, p. 23, tradução nossa). 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
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Ao fazer comparações com partes da Escritura, o autor cita 1 Pedro 2:4-5, 
"Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com 
Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados 
casa espiritual [...]”. Aqui o próprio Senhor é apresentado como a pedra angular 
escolhida e preciosa e, ao mesmo tempo, os crentes são representados como pedras 
vivas, fazendo parte do mesmo templo espiritual. 
De acordo com o autor, a mudança do masculino Petros para o feminino petra 
sinaliza adequadamente que não tanto sobre Pedro, o homem, o indivíduo simples e 
isolado, mas sobre Pedro considerado como o confessor, tipo e representante dos 
demais confessores cristãos, que devem ser "juntamente edificados para morada de 
Deus em Espírito" (Efésios 2:22). 
Embora existam outras comparações, de modo geral, segundo Terry, é evidente 
a inadequação em interpretar que petra ou rocha é a confissão de Pedro. Para 
esclarecer, o autor defende que a Igreja é constituída por seres vivos e seu 
fundamento não pode ser uma mera verdade ou doutrina abstrata. Tal fundamento 
corresponde com toda a linguagem do Novo Testamento, no qual não às doutrinas 
nem às confissões, mas aos homens, são chamados, invariavelmente, colunas ou 
fundamentos do edifício espiritual. 
 
1.1 Importância do Estudo da Hermenêutica 
Lund e Nelson (1968) pontuam algumas razões para justificar a relevância do 
estudo da hermenêutica, as quais apresentamos em seguida. 
 
1. A hermenêutica é fundamental para os pregadores, uma vez que se trata da 
arte de interpretar textos, especialmente dentro da teologia exegética, focada 
na compreensão correta das Escrituras bíblicas. Entretanto, muitos pregadores 
desconhecem até mesmo o próprio nome dessa ciência (hermenêutica: do 
grego hermenevein, interpretar). 
2. O apóstolo Pedro reconhece que existem passagens difíceis nas Escrituras do 
Novo Testamento que, se mal interpretadas por pessoas ignorantes e instáveis, 
podem levar a distorções e até a destruição espiritual. E para gravar a situação, 
quando estes ignorantes se apresentam como doutores, distorcendo as 
Escrituras para provar seus erros, arrastam consigo multidões à perdição. 
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A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 11 
3. A ignorância em hermenêutica tem sido a causa de muitos enganos ao longo 
da história, desde falsos profetas antigos até erros modernos. Pregadores que 
não dominam esta ciência estão sujeitos a confusões e erros. A Bíblia é a 
principal ferramenta do pregador, e desconhecê-la é falhar em sua missão. 
4. A Bíblia é frequentemente mal interpretada, tanto por seus inimigos quanto 
por seus seguidores, em razão da falta de conhecimento sobre as regras 
corretas de interpretação. É essencial respeitar a intenção original do texto 
bíblico, evitando interpretações distorcidasque possam levar ao erro ou à 
perdição. 
5. É fundamental lembrar que as diversas circunstâncias envolvidas na criação 
da Bíblia exigem que o estudo do expositor seja meticuloso e sempre alinhado 
com os princípios hermenêuticos. Os autores bíblicos incluem uma ampla 
variedade de figuras, desde sacerdotes e poetas até guerreiros e pescadores, 
cada um contribuindo com diferentes formas de escrita, como leis, poemas e 
cartas. Moisés, por exemplo, viveu séculos antes de figuras históricas como 
Pitágoras e Confúcio, enquanto João escreveu aproximadamente 1500 anos 
após Moisés. Os textos bíblicos foram compostos em locais variados, desde 
desertos até palácios, e refletem as culturas e contextos de suas respectivas 
épocas e lugares. Essa diversidade não afeta a verdade divina dos textos, mas 
influencia a linguagem usada, o que torna essencial a compreensão 
hermenêutica para quem deseja interpretar corretamente as Escrituras. 
6. A necessidade de um conhecimento sólido em hermenêutica torna-se ainda 
mais evidente ao considerarmos a linguagem utilizada nas Escrituras. Alguns 
estudiosos, que permanecem isolados em relação ao idioma bíblico, encontram 
dificuldades com sua natureza figurada e simbólica, que para eles pode parecer 
chocante ou incompatível com a noção de uma revelação divina. Entretanto, um 
entendimento adequado de hermenêutica, além de resolver essas dificuldades, 
também revela que tal linguagem é considerada divina e extremamente rica, 
tanto científica quanto literariamente. 
7. Um renomado cientista insistia que seus colaboradores deveriam "encarnar 
o invisível" para conceber a interação do invisível com o visível. Essa noção, 
embora moderna, é mais antiga que a própria Bíblia, pois foi Deus quem 
primeiro manifestou seus pensamentos invisíveis através dos objetos visíveis do 
Universo, revelando-se assim a si mesmo. Conforme expresso em Romanos 
1:20, os atributos invisíveis de Deus, incluindo seu eterno poder e divindade, são 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 12 
percebidos através das criações. Desse modo, o Universo, repleto de objetos 
que funcionam como palavras em um vasto dicionário divino, serve de meio 
para que as Escrituras inspirem a transição do visível ao invisível, do concreto 
ao abstrato, e do conhecido ao espiritual. 
8. A necessidade de utilizar linguagem baseada em objetos visíveis é vital, pois 
termos puramente espirituais ou abstratos muitas vezes não ressoam com o 
homem natural. Este método de comunicação considera nossa condição 
humana, permitindo que concepções complexas como o céu ou a própria 
divindade de Deus sejam acessíveis por meio de analogias com elementos 
terrenos conhecidos. Isso não é apenas uma estratégia pedagógica, mas uma 
necessidade intrínseca para elevar nossa compreensão espiritual, exigindo 
meditação e estudo aprofundado para uma interpretação correta. 
9. Ademais, a escolha por expressões figurativas e simbólicas não se deve 
somente à natureza abstrata da verdade espiritual, mas também porque tais 
expressões são mais belas e expressivas, transmitindo ideias com mais 
vivacidade, capturando a imaginação enquanto educam a alma e gravam 
verdades na memória de maneira prazerosa. Aqueles que criticam esse estilo, 
esperando que a Bíblia adote uma abordagem seca e formal, falham em 
reconhecer que a sabedoria divina frequentemente desafia e transcende as 
convenções humanas de racionalidade. 
 
Por fim, Lund e Nelson (1968) ressaltam a complexidade das Escrituras, que 
abordam desde questões terrenas até espirituais, escritas por autores diversos em 
diferentes épocas e locais. Devido a essa variedade e ao uso de linguagem simbólica, 
a hermenêutica é essencial para uma correta compreensão do texto bíblico. 
Exploramos, em seguida, algumas abordagens hermenêuticas, de modo a 
possibilitar não apenas o discernimento do significado explícito dos textos, mas 
também a interpretação das intenções, do contexto histórico-social e das 
subjetividades que permeiam a comunicação humana. 
 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Moderna 
Importância do Estudo da Hermenêutica| 13 
 
 
2 A Hermenêutica Moderna 
A Hermenêutica Moderna, um campo de estudo crucial para a interpretação das 
Escrituras Sagradas, desponta como uma abordagem que busca desvendar o 
significado profundo dos textos bíblicos. Descrevemos esta abordagem segundo as 
ideias de Friedrich Schleiermacher, descritas por Ruedell (2012). 
Considerando a seguinte citação: 
 
Como todo discurso tem uma dupla relação, com a totalidade da 
linguagem e com o pensar geral de seu autor: assim também toda 
compreensão consiste em dois momentos, compreender o discurso 
enquanto extraído da linguagem e compreendê-lo enquanto fato 
naquele que pensa. (SCHLEIERMACHER, 2005, p. 95). 
 
Ruedell (2012) esclarece que, enquanto arte de compreensão e interpretação, 
essa citação fornece uma certa chave de leitura da hermenêutica. Sua perspectiva 
indica o quanto ela é produto da modernidade e que, sobretudo, pode ser 
considerada tendência ou movimento para sua superação. O autor faz referência a 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Moderna 
Fundamentos de Schleiermacher| 14 
Kant, que inaugurou um novo método filosófico questionando suas próprias 
condições de possibilidade, e essa abordagem também influenciou a hermenêutica, 
que se viu desafiada a incorporar a transcendentalidade no contexto da linguagem. 
Isso marca uma mudança significativa, alinhada ao giro linguístico da filosofia, 
transformando a crítica da razão em uma crítica do sentido, segundo Frank. 
Na hermenêutica, a busca pela verdade ocorre sem a clareza da modernidade 
ou a certeza do cogito cartesiano, não competindo em resultados com as ciências 
modernas, mas mantendo rigor na investigação. A natureza fragmentária do 
conhecimento e a limitação da compreensão humana instigam uma incessante busca 
conjunta, não permitindo uma complacência com verdades presumidas. 
Em seu estudo, Ruedell (2012) examina conceitos e expressões que se 
encontram em Friedrich Schleiermacher, e que possivelmente poderiam ser 
designados por "indícios" ou "indicações formais". Na sequência, apresentamos os 
pontos abordados pelo autor. 
 
2.1 Fundamentos de Schleiermacher 
A hermenêutica é descrita por Schleiermacher como a “arte da compreensão e 
da interpretação”, tarefa semelhante a uma obra de arte pelo rigor metodológico 
exigido, e não por ser literalmente uma obra artística. Ele enfatiza a necessidade de 
uma prática rigorosa (strengere práxis), que pressupõe que os mal-entendidos são 
inerentes e a compreensão deve ser buscada ativamente, diferentemente de uma 
prática mais frouxa (laxere práxis), que interpreta apenas quando surgem problemas 
de compreensão. Para Schleiermacher, a hermenêutica eleva-se a um método 
autônomo, visando evitar mal-entendidos e exigindo um compromisso constante com 
a interpretação ativa. Ele argumenta que interpretar e compreender textos envolve 
navegar entre o finito das construções particulares e o infinito das possibilidades 
linguísticas e humanas, confiando mais na habilidade e no esforço do intérprete do 
que em regras metodicamente aplicadas. Além disso, menciona a necessidade de um 
duplo talento no intérprete, tanto linguístico quanto de profundo entendimento das 
peculiaridades humanas. 
Segundo Schleiermacher, a hermenêutica é entendida como a arte de 
compreender o discurso do outro, centrada no papel fundamental da linguagem, que 
é vista como essência de toda manifestação e pensamento humano. O pensamento é 
em si um “falar interior”, um discurso silencioso moldado pelo paradigma linguístico 
comum entre o autor e o seu público original. O discurso emerge da gramática da 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Moderna 
Fundamentos de Schleiermacher|15 
linguagem, que é histórica e reflete a interpretação coletiva de uma sociedade em um 
momento específico sobre suas relações internas e visão de mundo. Schleiermacher 
exemplifica isso em sua obra “A Vida de Jesus”, destacando que Cristo estava 
inextricavelmente ligado à linguagem e aos costumes de seu tempo e de seu povo, e 
só poderia se expressar e influenciar usando termos e expressões então em uso. 
Esta ciência — hermenêutica — aborda o desafio de compreender a linguagem 
e o pensamento por trás do discurso, concentrando-se não apenas no que é dito 
explicitamente, mas também no que é meramente sugerido ou evocado. Esta 
disciplina difere das ciências por focar no particular e no histórico, ao invés do 
universal e comum. Aristóteles já apontava que não existe ciência do particular, e é 
nesse espaço que atua a hermenêutica, tratando da compreensão do estranho e dos 
mal-entendidos como experiências universais. 
Schleiermacher enfatiza que a estranheza e a possibilidade de mal-entendidos 
são inerentes à comunicação e que todo esforço para superar completamente essa 
distância entre os indivíduos é, em última análise, insuficiente. A hermenêutica, 
portanto, não tenta eliminar essas diferenças, mas as aceita e trabalha com elas, 
buscando compreender e comunicar o que é único e muitas vezes considerado 
incomunicável. 
Esta tarefa de tornar inteligível o ininteligível e de revelar o oculto é vista como 
uma “hermenêutica do silêncio”, um conceito que vai além da razão histórica ou 
supra-histórica e abrange uma interpretação mais profunda e processual da realidade. 
Schleiermacher, por meio de seu trabalho, sugere que mesmo diante das dificuldades 
é possível e necessário buscar uma compreensão mais profunda, que considere tanto 
o contexto quanto a singularidade de cada situação comunicacional. 
A arte hermenêutica, segundo Schleiermacher, não aspira à comunicação 
completa ou à compreensão definitiva, mas é vista como um processo gradual de 
aproximação à verdade do texto, navegando por vários níveis de compreensão e 
relações cada vez mais profundas. Ele concebe o discurso como produto da 
imaginação e do arranjo criativo do autor, uma força de transformação e inovação. 
Como exemplo, Schleiermacher reflete sobre os discursos de Jesus em "Das Leben 
Jesu", observando que embora a língua nativa fosse essencial para Jesus transmitir a 
sua mensagem, não era o único determinante dessa transmissão. Ele argumenta que 
a mera existência da linguagem não teria sido suficiente para a disseminação do 
conhecimento sobre Deus, pois a linguagem exige que alguém a transforme e 
desenvolva para que novas ideias surjam. Portanto, Jesus não só usou a linguagem do 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Moderna 
Fundamentos de Schleiermacher| 16 
seu tempo, mas também a desafiou e transformou, causando uma mudança semântica 
significativa na visão de mundo através da sua mensagem. 
A hermenêutica de Schleiermacher enfatiza a necessidade de uma abordagem 
singular na interpretação do discurso, chamando esse processo de “adivinhação”. Ao 
contrário das interpretações que simplesmente associam a adivinhação a um 
sentimento ou a uma misteriosa compreensão interior, Schleiermacher a vê como uma 
imersão na produtividade estilística do autor. Gadamer, por outro lado, sugere que a 
adivinhação envolve uma identificação entre autor e intérprete, superando barreiras 
históricas e linguísticas, mas esta visão é criticada por ignorar a ligação essencial entre 
linguagem e pensamento. 
Na hermenêutica de Schleiermacher, a adivinhação é a tentativa do intérprete 
de apreender a singularidade e a originalidade do estilo do autor, reconhecendo que 
não existem padrões ou regras fixas que garantam uma interpretação precisa. É um 
processo que envolve imaginação e criatividade, tanto na criação quanto na 
interpretação de uma obra. Schleiermacher enfatiza que, embora a adivinhação 
busque aproximar-se do pensamento e da intenção do autor, a distância entre o 
intérprete e o autor nunca pode ser completamente eliminada. Assim, a hermenêutica 
é vista como um processo contínuo e interminável de busca de compreensão, sempre 
aberto a novas interpretações e refinamentos. 
Schleiermacher apresenta uma visão de hermenêutica que integra 
individualidade e racionalidade, propondo uma concepção de linguagem e 
racionalidade que transcende as definições lógico-semânticas tradicionais. Ele 
substitui o conceito de razão, muitas vezes visto como supratemporal, pelo conceito 
de linguagem, argumentando que o pensamento e a dinâmica da linguagem contêm 
elementos lógico-semânticos e interpretativos. A linguagem, segundo ele, não é uma 
estrutura fixa, mas uma interação entre o histórico-subjetivo e o sistemático-universal, 
constantemente influenciada por mudanças semânticas e usos metafóricos. 
Schleiermacher utiliza a teoria dos esquemas de Kant para explicar essa relação 
dinâmica, enfatizando que a linguagem deve ser vista como um sistema 
historicamente aberto e instável, sujeito a constantes mudanças pela atividade criativa 
dos falantes. Esta perspectiva reconhece a linguagem como um “universal singular”, 
sempre em fluxo e reformulação, refletindo a complexidade e flexibilidade inerentes 
à comunicação humana. 
O projeto hermenêutico de Schleiermacher destaca a interdependência da 
subjetividade e da linguagem, destacando a linguagem como fundamento da 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica do Discurso 
Fundamentos de Paul Ricoeur| 17 
legitimidade filosófica e não como o sujeito. Ele argumenta que o sujeito sempre surge 
em relação, não como uma unidade independente. A identidade do sujeito é 
reconhecida através da autoconsciência, que é sempre acompanhada pela consciência 
objetiva – consciência de algo. Esta autoconsciência não pode ser puramente 
objetivada; está inerentemente ligado a uma consciência de dependência e limitações. 
Na opinião de Schleiermacher, a hermenêutica deixa de focar no 
transcendentalismo e passa a enfatizar a linguagem. Esta abordagem pode ser vista 
como uma versão da filosofia da linguagem, onde a linguagem e a crítica da primazia 
do sujeito andam de mãos dadas. Para Schleiermacher, a linguagem e o sujeito são 
indissociáveis, mas a primazia metodológica recai sobre a linguagem devido à 
inerente fragilidade e relatividade do sujeito. O sujeito não é uma fonte solitária de 
verdade, mas parte de uma “comunidade de pensamento” intersubjetiva, estruturada 
pela linguagem. Esta comunidade linguística incorpora características histórico-
empíricas e especulativas, incorporando o seu consenso dialético na sua gramática. A 
linguagem é, portanto, vista tanto como condição quanto como produto do 
pensamento e da ação humanos, continuamente moldados por projetos individuais 
de significado. 
 
3 A Hermenêutica do Discurso 
Em seu estudo, Tavares (2018) aborda o projeto de Paul Ricoeur, que propõe 
uma abordagem revolucionária ao estudo do discurso, caracterizando-o como um 
acontecimento da linguagem. Ricoeur distingue a linguística do discurso da linguística 
da língua; enquanto a última foca nos signos, a primeira concentra-se nas frases, que 
são vistas como as unidades fundamentais do discurso. Essas frases servem de base 
para a interação dialética entre o acontecimento de falar e o sentido que esse discurso 
transmite. 
 
3.1 Fundamentos de Paul Ricoeur 
O discurso, como um evento linguístico, é moldado por critérios de textualidade 
que o diferenciam da estrutura da língua e permitem distinguir entre linguagem 
escrita e oral. Ele ocorre no tempo presente, sendo caracterizado pela sua natureza 
intencional e subjetiva, geralmente marcada pelo uso de pronomes pessoais que 
apontam para um locutor. Esse locutor se dirige a um interlocutor, criando um 
contexto de troca de mensagens. Em contraste, o sistema da língua opera como uma 
entidade virtual e atemporal, sem requererum sujeito concreto para sua operação. Os 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica do Discurso 
Fundamentos de Paul Ricoeur| 18 
signos dentro do sistema linguístico apenas referenciam outros signos, estabelecendo 
a base para a comunicação ao fornecer os códigos necessários para que ela ocorra. 
Ricoeur articula uma relação dialética entre o acontecimento da linguagem e o 
seu significado duradouro, superando a fugacidade do discurso ao capturar o seu 
significado duradouro. Esta transição do discurso oral para o escrito exemplifica o 
“distanciamento” que é central para a hermenêutica, transformando o discurso 
efêmero em texto, um repositório de significado atemporal. Portanto, o foco passa do 
autor para a interpretação, assumindo que, ao ler um texto, tratamos o autor como 
figurativamente morto e a obra como autônoma. 
A escrita, ao fixar o discurso, separa o significado textual do mental, onde o 
texto pode transcender as intenções originais do autor e abrir-se a múltiplas 
interpretações e significados. Isso permite que o texto sirva de ponte para “mundos 
possíveis”, ampliando os horizontes interpretativos dos leitores. A distância criada pelo 
texto facilita uma apropriação mais rica, estabelecendo uma relação não só entre o 
texto e um leitor específico, mas com todos os potenciais leitores. Assim, o texto atua 
como um conjunto de símbolos com múltiplos significados referentes a realidades 
além da linguagem, cada um dos quais pode ser explorado por meio de diversas 
abordagens hermenêuticas. 
A noção de discurso como acontecimento adquire profundidade significativa 
quando é fixado pela escrita, tornando-se suscetível a variadas interpretações. O 
processo de transformação do discurso inicia com a língua que se materializa em 
palavras faladas, avançando para a escrita que estabiliza e preserva essas palavras. Ao 
ser escrito, o discurso transcende sua condição efêmera e se transforma em um 
artefato capaz de ser revisado e reinterpretado continuamente. Assim, a significação 
do discurso é ampliada pela escrita, que possibilita que o texto transcenda o contexto 
original e seu significado inicial. A interpretação de um texto, então, se torna um novo 
acontecimento discursivo que não busca recuperar a intenção original do autor, mas 
sim criar um significado distinto do evento discursivo inicial. Desse modo, a leitura e 
interpretação de um texto são vistas como uma produção contínua e dinâmica de 
sentido, em que cada ato de interpretação é em si um acontecimento discursivo único. 
O texto narrativo é uma história autônoma, fixada na escrita, que se torna 
independente do autor e pode ser compreendida por qualquer leitor, transcendendo 
sua situação original e abrindo-se para um mundo possível. “A narrativa é um discurso 
que pode abrir-se a diversos seres humanos na sua respectiva experiência solitária no 
mundo.” (TAVARES, 2018, p. 454). Cada texto narrativo forma um mundo revelador, 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Histórico-Crítica 
Fundamentos de Paul Ricoeur| 19 
sujeito a diversas interpretações dos leitores. No entanto, nem todas as interpretações 
são válidas, e algumas devem ser anuladas através da análise da estrutura textual, 
seguindo o princípio popperiano. Isso requer uma relação dialética entre explicação e 
compreensão, resultando em interpretações defensáveis em relação a outras. 
 
Para o hermeneuta, é o texto que possui um múltiplo sentido; [...]. Ora, 
este problema do múltiplo sentido não é já hoje só o problema da 
exegese, no sentido bíblico ou inclusivamente profano da palavra; é em 
si mesmo um problema interdisciplinar que eu quero em primeiro lugar 
considerar num único nível estratégico, num plano homogéneo, o do 
texto. [...] Na hermenêutica não há clausura do universo dos signos. 
(RICOEUR, 1969, p. 66-67 apud TAVARES, 2018). 
 
A multiplicidade de interpretações é viável em razão da natureza aberta da 
linguagem e dos textos, que transcendem as referências situacionais específicas. A 
linguagem não se limita somente a situações concretas, mas abre-se para o mundo 
em geral. Assim, os textos, sejam poéticos, míticos ou de outra natureza, contribuem 
para a constituição do mundo humano ao proporcionar uma variedade de referências. 
Embora Ricoeur valorize a interpretação dos mitos respeitando seu simbolismo 
original, sua própria teoria textual reconhece a pluralidade de significados que essas 
narrativas oferecem, expandindo a compreensão humana do mundo. 
Os eventos só adquirem significado ao serem incorporados à história da 
humanidade e, em última instância, à experiência humana concreta. O tempo 
retratado nas narrativas míticas, embora atemporal, pode ser interpretado e 
contextualizado dentro do tempo histórico. Através da hermenêutica, o tempo 
histórico e o tempo mítico podem se entrelaçar, originando um tempo de significado. 
É nessa interseção temporal que pode surgir o significado da existência humana. 
 
4 A Hermenêutica Histórico-Crítica 
O surgimento do método histórico-crítico tem raízes complexas e vive um 
dilema causado pelo amadurecimento dos princípios assumidos por ocasião de seu 
nascimento, como filho legítimo do Iluminismo e do racionalismo. Em seu estudo, 
Lopes (2005) nos esclarece a respeito desse dilema, exposto na sequência. 
A inspiração central desse método é representada pela afirmação de J. Solomo 
Semler: “A raiz de todos os males (na teologia) é usar os termos ‘Palavra de Deus’ e 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Histórico-Crítica 
Fundamentos de Paul Ricoeur| 20 
‘Escritura’ como se fossem idênticos” (SEMLER, J. S., [s/d] apud LOPES, 2005, p. 121). 
Esta distinção doutrinária reflete a crença de que a Escritura contém tanto palavras 
divinas como erros, mas também os pressupostos racionalistas do Iluminismo. Os 
críticos iluministas buscaram separar a Palavra de Deus dos elementos humanos na 
Escritura, originando o método histórico-crítico para realizar essa distinção "científica" 
e encontrar o cânon normativo dentro do cânon formal da Bíblia. O cânon formal é 
composto pelos sessenta e seis livros da Bíblia, formalmente reconhecidos pela Igreja 
antiga como a Escritura da Igreja Cristã. O cânon normativo consiste nas partes destes 
livros que são realmente a Palavra de Deus. O termo normativo é em razão daquilo 
que é autoritativo para o cristão e para a Igreja. 
Os críticos do método histórico-crítico se veem como herdeiros legítimos da 
Reforma Protestante e de sua abordagem interpretativa. Para Bultmann, por exemplo, 
a justificação é somente pela fé e não pela história. Essa dicotomia entre fé e história 
permite que eles critiquem e desmitologizem o cânon bíblico. A preocupação dos 
evangélicos e conservadores com este método não é tanto com o aspecto "histórico" 
do método, mas com o "crítico", que questiona a confiabilidade da Bíblia. Para críticos 
como Käsemann, render-se à Escritura de forma acrítica leva a uma confusão entre fé 
e superstição, e eles desejam se distanciar disso. A desconfiança na total confiabilidade 
da Bíblia tornou-se um princípio operacional do método histórico-crítico. 
Esta visão central e dominadora da interpretação fez com que surgisse algumas 
abordagens críticas da Bíblia — das fontes, da forma e da redação —, todas elas em 
busca do cânon normativo dentro do cânon formal. Com base em Lopes (2005), 
descrevemos cada crítica. 
A crítica das fontes analisa os diversos componentes do texto bíblico, 
supostamente originados em períodos históricos diferentes e refletindo diferentes 
teologias. Os autores antigos não tinham preocupações com direitos autorais, 
agregando várias fontes para formar o texto completo. O método busca identificar 
essas fontes, estudar sua teologia e contexto histórico, e então interpretar o texto 
completo à luz desses resultados, para encontrar a Palavra de Deus nas Escrituras. Isso 
é feito primeiro procurando anomalias textuais,como inconsistências e repetições, e 
depois analisando temas e identificando o período histórico de cada parte do texto. 
A crítica das fontes sugere que as fontes literárias passaram por extensas edições, o 
que refletiu tradições e teologias diversas e, às vezes, conflitantes. Isso enfraquece a 
autoridade das Escrituras, pois a autoria profética e apostólica é cada vez mais 
distanciada do cânon formal. Apesar de serem ensinadas em instituições teológicas, 
essas teorias documentárias permanecem hipotéticas e debatidas, sem 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Histórico-Crítica 
O Dilema do Método Histórico-Crítico| 21 
reconhecimento unânime. A erudição conservadora critica metodologias e fraquezas 
dessas abordagens. 
A crítica da forma busca separar o essencial do acessório, um objetivo refletido 
no programa de desmitologização de Bultmann para o Novo Testamento. Utilizando 
o critério da antiguidade das formas, como expresso por Werner Kümmel, essa 
metodologia visa identificar as formas originais dos textos bíblicos antes de sua 
transmissão escrita e as alterações introduzidas pelas comunidades que os receberam. 
Para Kümmel, quanto mais um texto se relaciona com a revelação histórica de Cristo 
e menos foi influenciado por ideias externas ou pelo desenvolvimento posterior do 
cristianismo, mais provável é que ele faça parte do cânon normativo. 
A crítica da redação, surgida após a crítica das fontes e da forma, concentra-se 
nos redatores que deram a forma final aos textos bíblicos. Seu critério consiste em 
descobrir os materiais originais e eliminar as alterações feitas pelos redatores ao editar 
os textos sagrados. Conforme as críticas das fontes e da forma, muitos livros do Velho 
e do Novo Testamentos foram coleções editadas de tradições antigas, refletindo a 
teologia das comunidades através de redatores que moldaram o material de acordo 
com seus próprios pontos de vista e contexto social e religioso. A crítica da redação 
visa descobrir a teologia desses redatores e os princípios teológicos que guiaram sua 
edição das fontes e tradições, resultando na atual forma final dos textos bíblicos. 
 
4.1 O Dilema do Método Histórico-Crítico 
Na época em que o método emergiu, vários estudiosos levantaram críticas 
contra suas limitações. Na Alemanha, surgiram os biblistas e fundamentalistas, que se 
opuseram aos críticos, fornecendo uma análise histórica da Bíblia de modo 
consistente. Gehrard Maier demonstrou, através da análise das contribuições de 
críticos proeminentes, que o método histórico-crítico falhou em produzir resultados 
objetivos e reconhecidos. Ele examinou artigos de críticos destacados publicados em 
uma obra editada por Käsemann, concluindo que eles não consideram o Novo 
Testamento como uma unidade e não conseguiram identificar claramente a Palavra 
de Deus dentro dele. Maier criticou o subjetivismo inerente dos críticos e sua 
tendência a apelar para diferentes critérios de validação, como a experiência espiritual 
das comunidades ou o ensino oficial da Igreja Católica. Ele acusou esses críticos de 
obscurecer o sentido das Escrituras, em contraste com a doutrina reformada de sua 
clareza e suficiência. 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Histórico-Crítica 
O Dilema do Método Histórico-Crítico| 22 
Peter Stuhlmacher, um renomado hermeneuta contemporâneo e sucessor de 
Ernest Käsemann em Tübingen, expressou reservas significativas em relação ao 
método histórico-crítico, embora sua posição seja menos crítica do que a de Maier. 
Em sua obra "Historical Criticism and Theological Interpretation of Scripture", ele 
propõe uma "hermenêutica de aceitação" que, embora utilize ferramentas críticas, 
mantém-se aberta à transcendência e à ação de Deus na história. Stuhlmacher 
reconhece a necessidade do método histórico-crítico na teologia, mas questiona sua 
adequação para lidar com a Bíblia, destacando a falta de consideração pela ação divina 
na história e pela tradição da Igreja. Essas ideias são endossadas por John Piper, um 
proeminente pastor batista reformado dos Estados Unidos, e estudioso respeitado. 
Brevard Childs, através da crítica canônica, ataca o método histórico-crítico por 
ignorar o cânon e fragmentá-lo. Ele enfatiza o cânon como o principal contexto para 
a interpretação bíblica, destacando que a forma canônica é fundamental para o 
significado e autoridade das Escrituras. Childs argumenta que o objetivo do exegeta 
não se limita a descobrir a pré-história do texto, mas entender como ele funcionava 
para a comunidade em sua forma final, permitindo assim a teologia bíblica relevante 
para a Igreja atual. Embora Childs não rejeite completamente as ferramentas histórico-
críticas, ele ressalta que elas podem não produzir os resultados desejados. 
As hermenêuticas pós-modernas atacaram o método histórico-crítico, 
questionando sua suposta neutralidade e objetividade. Entretanto, embora tenham 
diminuído a influência do método histórico-crítico nos estudos bíblicos, não 
ofereceram uma alternativa completa e adequada. Em vez disso, carregam ainda 
alguns pressupostos do método histórico-crítico. Tal situação cria um dilema sobre a 
adequação do método histórico-crítico como uma ferramenta de interpretação 
bíblica, sugerindo a necessidade de substituí-lo por um método mais apropriado às 
Escrituras. 
Lopes (2005) menciona algumas das razões para o dilema, as quais expomos 
abaixo. 
• O método histórico-crítico assumiu, desde o início, pressupostos 
dogmáticos que representam rejeição da autoridade e infalibilidade das 
Escrituras: o método histórico-crítico é geralmente apresentado como 
científico e neutro, sugerindo uma exegese imparcial e confiável. Contudo, é 
tendencioso, influenciado por pressupostos racionalistas que questionam 
elementos como a encarnação e os milagres. A conclusão de que a Bíblia não é 
a Palavra de Deus, apenas a contém, é estabelecida previamente, representando 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Histórico-Crítica 
O Dilema do Método Histórico-Crítico| 23 
uma orientação filosófica e ideológica. A distinção entre o divino e o humano 
na exegese é uma questão teológica, não exegética, refletindo os pressupostos 
do crítico ao longo de seu trabalho. 
• É impossível alcançar o alvo do método histórico-crítico: como dito, os 
críticos buscam identificar o cânon normativo dentro do cânon formal, 
discernindo a Palavra de Deus dentro das Escrituras, a verdade em meio ao erro, 
o divino em meio ao humano. Entretanto, apesar de dois séculos de esforços, 
eles não conseguiram separar esses elementos. A própria Bíblia não oferece 
pistas sobre um suposto cânon normativo dentro dela, o que torna os critérios 
inerentemente subjetivos. Logo, os críticos, por diversas vezes, recorrem ao 
misticismo, à experiência religiosa ou ao existencialismo como paradigma do 
divino. Resultante disso, cada crítico baseia sua pesquisa no que considera 
como Palavra de Deus ou cânon normativo, levando a resultados divergentes. 
Reconhecer a Palavra de Deus dentro das Escrituras somente com base em 
critérios metodológicos e históricos torna-se uma tarefa desafiadora. 
• Não é possível dividir o cânon bíblico entre normativo e formal: as 
tentativas histórico-críticas de estabelecer diferentes níveis dentro da Escritura, 
através da crítica das fontes e da crítica da forma, são problemáticas. Como 
distinguir o que é original e primitivo, se não há indicações claras fora das 
próprias Escrituras? As Escrituras se apresentam como a Palavra de Deus em sua 
totalidade, sem sinalizar partes menos normativas ou inspiradas. Embora muitos 
cristãos pratiquem um cânon dentro do cânon, escolhendo doutrinas e práticas 
centrais, isso vai contra o ensino bíblico de que toda a Escritura é divinamente 
inspirada. O método histórico-crítico, ao tentar discernir o divino por trás dos 
mitos e erros, acaba por exceder seus limites. 
• O método histórico-crítico,por sua própria natureza, abriu um caminho 
entre a academia e a Igreja: muitos críticos eclesiásticos, apesar de adotarem 
o método histórico-crítico, raramente pregam suas crenças nas igrejas onde 
atuam como pastores, padres ou oficiais. Isso se deve a determinadas razões: 
primeiro, eles temem a rejeição das teorias críticas pelos membros da igreja; 
segundo, não possuem uma plataforma comum para lançar um novo 
movimento, pois estão divididos quanto aos resultados de suas investigações. 
Portanto, muitos evitam praticar o que aceitam academicamente, pois as 
dúvidas e incertezas geradas pelo método histórico-crítico não são facilmente 
pregadas nos púlpitos. 
• A razão natural é incapaz de reagir adequadamente à revelação divina: o 
dilema do método histórico-crítico pode ser profundamente enraizado na 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Histórico-Crítica 
Um Método Alternativo| 24 
confiança do Iluminismo na razão natural para discernir verdades divinas. Essa 
confiança levou à rejeição da depravação total do homem, ignorando a natureza 
limitada e falível do intelecto humano. Os conservadores argumentam que a 
verdadeira compreensão das Escrituras requer a iluminação do Espírito Santo, 
evidenciando a necessidade de submissão à autoridade divina em vez de confiar 
somente na razão crítica humana. 
 
4.2 Um Método Alternativo 
Conforme descreve Lopes, o método histórico-crítico parece estar em um 
impasse há mais de 200 anos, e isso não se deve à incompetência dos estudiosos que 
o adotaram, mas sim à inadequação do próprio método. Os pressupostos dogmáticos 
que o controlam tornam-no inadequado e até mesmo contrário ao estudo das 
Escrituras. Nota-se que a escolha de um método influencia diretamente os resultados 
da pesquisa, e um método fundamentado em convicções críticas sobre a natureza da 
Bíblia só poderia levar a conclusões críticas e incerteza. 
Exegetas modernos têm proposto algumas soluções para o dilema enfrentado 
pelo método histórico-crítico. Maier propõe uma hermenêutica bíblico-histórica, 
enquanto Stuhlmacher sugere uma hermenêutica teológica. Os evangélicos tendem a 
seguir as alternativas apresentadas por Maier e Stuhlmacher, representando as duas 
principais abordagens para quem visa manter a infalibilidade e a autoridade das 
Escrituras. A primeira opção é rejeitar por completo o uso da crítica bíblica, enquanto 
a segunda requer uma versão adaptada do método histórico-crítico, excluindo seus 
pressupostos iluministas e racionalistas. Isso implica em manter o aspecto histórico do 
método, enquanto rejeita sua abordagem crítica arrogante. Essa última opção se 
assemelha ao método gramático-histórico, incorporando novas perspectivas 
hermenêuticas que destacam o papel do leitor no processo interpretativo. 
Em resumo, a necessidade de um método teológico é fundamental. 
Especificamente, na tradição reformada, isso implica em adotar um método de 
interpretação relacionado ao gramático-histórico, defendido pelos reformadores. Esse 
método deve pressupor a inspiração e a veracidade das Escrituras, além de reconhecer 
a unidade do cânon formal. Além disso, deve estar aberto às contribuições das ciências 
correlatas modernas para auxiliar na interpretação do texto bíblico. 
 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Feminista 
Um Método Alternativo| 25 
5 A Hermenêutica Feminista 
De acordo com Toldy (2009, p. 145), 
 
A teologia feminista considera-se a si mesma como uma teologia “de 
mulheres para mulheres”, porém, “mulheres de orientação feminista”. 
Significa isto que não se concentra tanto em fenómenos [sic] 
individuais, ou numa busca da “natureza feminina”, como, sobretudo, 
numa perspectiva colectiva [sic], social, comunitária, proveniente dos 
movimentos das mulheres, mais concretamente, dos movimentos 
feministas, organizados para reivindicar os seus direitos individuais, 
políticos e sociais. 
 
Ao focar nos contributos da hermenêutica feminista para a(s) teologia(s), Toldy 
nos apresenta suas áreas de aplicação, sendo uma delas a do discurso teológico acerca 
de Deus. A hermenêutica feminista aborda o discurso teológico sobre Deus, 
especialmente em relação à analogia da maternidade para descrever o cuidado divino. 
Isso levanta críticas à identificação de Deus como masculino e destaca os debates em 
torno das imagens paternas ou maternas de Deus. Considera-se como isso afeta a 
compreensão de Deus em uma sociedade influenciada pela psicanálise e marcada por 
traumas e desafios na relação com figuras parentais. 
São Tomás de Aquino enfatizava que conhecemos mais sobre o que Deus não 
é do que sobre o que Ele é, destacando a "douta ignorância" para evitar discursos 
teológicos que sejam meras projeções humanas. Isso nos lembra da transcendência 
de Deus, que está além de nossos pensamentos e palavras, conforme expresso por 
São Anselmo. “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem 
os vossos caminhos, os meus caminhos [...]”. (Is. 55:8-9). 
A autora questiona, então, sobre a necessidade de introduzir a questão da 
linguagem do feminino no discurso teológico sobre Deus. Respondendo ao próprio 
questionamento, Toldy evidencia a conhecida a frase de Mary Daly: if God is male, 
than male is God (se Deus é homem, então o homem é Deus). Explica, em seguida, 
que o problema não se limita ao uso de linguagem e imagens masculinas para 
descrever Deus, mas sim na unilateralidade dessa abordagem. Se a teologia tivesse 
historicamente insistido apenas em imagens femininas para Deus, enfrentaríamos um 
problema semelhante de exclusão. Autores como John McKenzie e Garret Green 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Feminista 
Um Método Alternativo| 26 
argumentam que embora Deus seja descrito com uma linguagem masculina, isso não 
implica um sentido sexuado, mas sim uma linguagem culturalmente apropriada. 
A partir da seguinte citação, que procura fundamentar a Carta Encíclica 
Humanae Vitae numa teologia trinitária, Balthasar fundamenta a impossibilidade de 
acesso das mulheres ao ministério ordenado. 
 
Na representação cristã de Deus, a origem está, antes de mais, no Pai 
que gera, que é incomparavelmente superior a toda a paternidade 
terrena, já que, enquanto hipóstase divina, é eternamente idêntico ao 
seu acto [sic] de gerar e do qual, na Criação, só existe Uma imagem 
verdadeira: Jesus Cristo, que cria a Igreja, a partir da sua substância 
plenamente divino-humana, que ele oferece na cruz. [...] Cristo não 
oferece um pouco da sua substância, como o homem, no acto [sic] 
fisiológico, mas sim toda a sua substância, tal como o Pai eterno, 
quando gera o Seu Filho, também transmite ao Filho toda a substância 
divina e ambos, num amor de comunhão, indiviso, a transmitem ao 
Espírito Santo. Numa analogia, certamente remota, mas nem por isso 
menos exacta [sic], pode estabelecer-se uma comparação entre o 
acontecimento trinitário e cristológico e o papel do homem na 
procriação, desde que se pressuponha que o homem reconhece a sua 
submissão à norma de Cristo, ele próprio sujeito à norma do Pai: O Pai 
é maior do que eu (Jo. 14,28) (BALTHASAR, 1979, grifos do autor, apud 
TOLDY, 2009, p. 152). 
 
 Balthasar evidencia que a hierarquia descendente também fundamenta a 
associação da representação de Cristo ao ministério sacerdotal masculino, “Quero, 
entretanto, que saibais ser Cristo [a] cabeça de todo homem, e o homem, [a] cabeça 
da mulher, e Deus, [a] cabeça de Cristo. (1 Cor. 11:3). 
As imagens femininas de Deus têm sido presentes ao longo da história da 
teologia, como evidenciado pelo 11º Sínodo de Toledo em 676, que descreveu o Filho 
de Deus como nascido do útero do Pai para afirmar sua igualdade com Deus Pai. No 
entanto, essas imagens femininas não têm recebido o mesmo destaque que as 
masculinas. Uma análise sobre os agentes predominantes na formulação do discurso 
teológico, pastoral, litúrgico e espiritual poderia explicaressa disparidade quantitativa. 
A questão de usar imagens femininas para falar de Deus não é trivial, pois reflete 
a tendência humana para a idolatria e a necessidade de classificar e nomear realidades 
que não podem ser totalmente compreendidas. Isso ressalta a importância de 
Hermenêutica Bíblica | 
A Hermenêutica Feminista 
A Mulher na Igreja| 27 
reconhecer que as metáforas, tanto femininas quanto masculinas, não definem 
limitadamente a natureza de Deus, mas evocam sua totalidade. Enquanto não 
pudermos dizer que Deus é tanto pai quanto mãe, reconhecendo sua transcendência 
em relação às categorias humanas, não podemos restringi-lo a nenhuma atribuição 
específica. “[...] não será possível dizer que Deus não é nem pai, nem mãe, uma vez 
que Ele não se esgota em nenhum atributo da linguagem humana!” (TOLDY, 2009, p. 
154). Desse modo, a diversidade de imagens para falar de Deus desafia a tendência 
humana de identificar uma única metáfora com a totalidade da realidade divina. 
Portanto, tanto a concepção de que as imagens procuram abarcar a totalidade da 
realidade — evitando atribuir, por exemplo, dimensões masculinas ou femininas a 
Deus — quanto a noção de que Deus transcende todas essas representações têm 
implicações pastorais significativas. 
 
5.1 A Mulher na Igreja 
Toldy (2009) também discorre sobre a consciência da necessidade de abordar a 
questão da mulher dentro da reflexão da Igreja, que já foi destacada até mesmo em 
uma carta apostólica. No entanto, ainda persistem formas de exclusão e subjugação 
das mulheres. Tentar atribuir todas essas expressões de desvalorização feminina a uma 
única causa, seja cultural, psicológica, sociológica ou eclesial, é difícil e talvez 
inadequado, pois essas diversas facetas da existência humana estão entrelaçadas. 
A influência cultural externa é insuficiente para explicar completamente os 
mecanismos de exclusão das mulheres na tradição da Igreja, que muitas vezes 
fundamentou práticas em visões masculinas de Deus. Para compreender a realidade 
da Igreja, é necessário percebê-la tanto como um sub-sistema de uma cultura 
androcêntrica quanto um sistema que historicamente tem sido predominantemente 
masculino, especialmente em sua hierarquia de poder. A hermenêutica feminista cristã 
destaca a importância de recuperar a história das mulheres excluídas da interpretação 
canônica da fé, desafiando a ideia de que apenas a história dos vencedores é relevante. 
Negar às mulheres um lugar pleno na experiência da Igreja é contraditório com a 
noção de que o Povo de Deus é a própria Igreja. 
 
Se faz todo o sentido afirmar que o Povo de Deus não só também é 
Igreja como é, ele próprio, a Igreja, também não faz sentido dizer que 
existe experiência plena de Igreja quando uma parte substancial do 
Povo de Deus é discriminada pelo facto de ter nascido mulher. (TOLDY, 
2009, p. 155). 
Hermenêutica Bíblica | 
Conclusão 
A Mulher na Igreja| 28 
 
Portanto, a autora enfatiza que a questão das mulheres na Igreja não é apenas 
pastoral, mas essencial para a reflexão teológica, uma vez que questiona os 
fundamentos teológicos, antropológicos, soteriológicos, cristológicos e eclesiológicos 
da fé. A teologia feminista não é apenas uma aplicação de ideias preexistentes, mas 
uma abordagem que reestrutura o pensamento teológico ao levantar importantes 
questões sobre a participação das mulheres na vida da Igreja. 
 
Conclusão 
Ao longo desta unidade, evidenciamos a importância de reconhecer o estudo 
da hermenêutica e da aplicação de seus princípios na interpretação dos textos 
sagrados, sempre buscando uma compreensão mais profunda e fiel da mensagem 
divina. Exploramos diferentes abordagens da Hermenêutica que enriquecem nossa 
compreensão das Escrituras Sagradas. Desde os fundamentos estabelecidos por 
Schleiermacher até as noções contemporâneas da hermenêutica feminista, cada 
corrente contribui para o nosso discernimento do significado explícito dos textos, 
assim como para a nossa interpretação das intenções, do contexto histórico-social e 
das subjetividades que permeiam a comunicação humana. 
 
Referências 
BALTHASAR, H. U. von. Ein Wort zu “Humanae Vitae”. In: Neue Klarstellungen, 
Einsiedeln, p. 123-124, 1979. 
BAPTISTA, D. A supremacia das Escrituras: a Inspirada, Inerrante e Infalível Palavra 
de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2022. 
LOPES, A. N. ‘O dilema do método histórico-crítico na interpretação bíblica’, Fides 
Reformata X, n. 1, p. 115-138, 2005. 
LUND, E.; NELSON, P.C. Hermenêutica: princípios de interpretação das sagradas 
escrituras. Trad. por Etuvino Adiers. [s.l.]: Editora Vida, 1968. 
RUEDELL, A. Hermenêutica e linguagem em Schleiermacher. Nat. hum. [online], v. 14, 
n. 2, p. 1-13, 2012. 
SCHLEIERMACHER, F. D. E. Hermenêutica e crítica; com um anexo de textos de 
Schleiermacher sobre filosofia da linguagem – I. Trad. P. R. Schneider, rev. Ijuí, RS: 
Hermenêutica Bíblica | 
Referências 
A Mulher na Igreja| 29 
Unijuí, 2005. 
TAVARES, M. Paul Ricoeur e um novo conceito de interpretação: da hermenêutica dos 
símbolos à hermenêutica do discurso. Veritas, Porto Alegre, v. 63, n. 2, p. 436-457, 
2018. 
TERRY, M. S. Hermenéutica. [s.l.]: Editorial Clie, 2009. 
TOLDY, T. M. Contributos da hermenêutica feminista para a(s) teologia(s). Didaskalia 
XXXIX, v. 39, n. 2, p. 145-156, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Referências 
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	Sumário
	Introdução
	1 A Hermenêutica Bíblica: Uma Jornada na Compreensão das Escrituras Sagradas
	1.1 Importância do Estudo da Hermenêutica
	2 A Hermenêutica Moderna
	2.1 Fundamentos de Schleiermacher
	3 A Hermenêutica do Discurso
	3.1 Fundamentos de Paul Ricoeur
	4 A Hermenêutica Histórico-Crítica
	4.1 O Dilema do Método Histórico-Crítico
	4.2 Um Método Alternativo
	5 A Hermenêutica Feminista
	5.1 A Mulher na Igreja
	Conclusão
	Referências

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