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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ ARTHUR GUILHERME SACCHI BELLINI MODELO 3D DE CALDEIRA FLAMOTUBULAR PARA TREINAMENTOS INDUSTRIAIS LONDRINA 2025 4.0 Internacional Esta licença permite download e compartilhamento do trabalho desde que sejam atribuídos créditos ao(s) autor(es), sem a possibilidade de alterá-lo ou utilizá-lo para fins comerciais. Conteúdos elaborados por terceiros, citados e referenciados nesta obra não são cobertos pela licença. ARTHUR GUILHERME SACCHI BELLINI MODELO 3D DE CALDEIRA FLAMOTUBULAR PARA TREINAMENTOS INDUSTRIAIS 3D MODEL OF A FLAMETUBE BOILER FOR INDUSTRIAL TRAINING Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Orientador(a): Prof. Dr. Thiago Leandro de Souza LONDRINA 2025 https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR ARTHUR GUILHERME SACCHI BELLINI MODELO 3D DE CALDEIRA FLAMOTUBULAR PARA TREINAMENTOS INDUSTRIAIS . Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Orientador(a): Prof. Dr. Thiago Leandro de Souza Data de aprovação: 21 de fevereiro de 2025 ___________________________________________________________________________ Thiago Leandro de Souza Doutorado em Engenharia Química Universidade Tecnológica Federal do Paraná ___________________________________________________________________________ Lucas Bonfim Rocha Doutorado em Engenharia Química Universidade Tecnológica Federal do Paraná ___________________________________________________________________________ Felipi Luiz de Assunção Bezerra Doutorado em Engenharia Química Universidade Tecnológica Federal do Paraná LONDRINA 2025 Dedico este trabalho à minha família, pelo amor e apoio incondicionais, e aos amigos, pela parceria e encorajamento ao longo desta jornada. AGRADECIMENTOS Certamente, não seria possível expressar em palavras toda a gratidão que sinto por aqueles que fizeram parte desta jornada. Agradeço a minha família, pelo amor incondicional, compreensão e apoio constante, que foram essenciais em cada etapa. Aos meus amigos, pela amizade, incentivo e pela motivação nos momentos mais desafiadores. Aos meus professores, que com dedicação e sabedoria, compartilharam seus conhecimentos e contribuíram de forma significativa para o meu crescimento acadêmico e profissional. Agradeço especialmente ao meu orientador, Prof. Dr. Thiago Leandro de Souza, pela orientação valiosa e por acreditar em meu potencial. A todos os que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho, meu muito obrigado. Espaço destinado aos agradecimentos (elemento opcional). Folha que contém manifestação de reconhecimento a pessoas e/ou instituições que realmente contribuíram com o(a) autor(a), devendo ser expressos de maneira simples. Exemplo: Não devem ser incluídas informações que nominem empresas ou instituições não nominadas no trabalho. Se o aluno recebeu bolsa de fomento à pesquisa, informar o nome completo da agência de fomento. Ex: Capes, CNPq, Fundação Araucária, UTFPR, etc. Incluir o número do projeto após a agência de fomento. Este item deve ser o último. Atenção: não utilizar este exemplo na versão final. Use a sua criatividade! RESUMO Este trabalho aborda o desenvolvimento de um modelo 3D de uma caldeira flamotubular horizontal, com o objetivo de aprimorar os treinamentos industriais utilizando tecnologias imersivas. A pesquisa justifica-se pela necessidade de capacitar operadores de forma mais segura e eficaz, minimizando riscos e alinhando-se às demandas da Indústria 5.0. A metodologia incluiu o estudo detalhado de normas regulamentadoras (NR-12, NR-13 e NR-16), bem como a aplicação de conceitos de instrumentação, abrangendo sensores, válvulas e outros dispositivos essenciais ao funcionamento da caldeira. O modelo 3D foi desenvolvido com atenção à representação realista dos componentes e sua integração ao sistema de controle da caldeira, sendo utilizado para simular cenários operacionais em um ambiente seguro e controlado. Os resultados demonstraram que o simulador proposto atende às exigências das normas regulamentadoras, proporciona maior engajamento dos participantes e reduz os custos associados a treinamentos convencionais. Além disso, o projeto se mostrou viável técnica e economicamente, sendo validado por empresas interessadas em adotar a tecnologia. Como conclusão, o estudo destaca a relevância do uso de modelagem 3D para melhorar a capacitação industrial, promovendo segurança, eficiência e alinhamento às regulamentações. A possibilidade de expandir o trabalho para o desenvolvimento de caldeiras aquatubulares foi identificada como uma perspectiva futura, ampliando o impacto da pesquisa no setor de treinamentos industriais. Palavras-chave: Caldeira, modelagem, treinamentos; normas regulamentadoras. ABSTRACT This study addresses the development of a 3D model of a horizontal fire-tube boiler, aiming to improve industrial training using immersive technologies. The research is justified by the need to train operators more safely and effectively, minimizing risks and meeting the demands of Industry 4.0. The methodology included a detailed analysis of regulatory standards (NR-12, NR-13, and NR-16), as well as the application of instrumentation concepts, covering sensors, valves, and other essential components of the boiler's operation. The 3D model was developed with attention to the realistic representation of components and their integration into the boiler control system, allowing operational scenarios to be simulated in a safe and controlled environment. The results showed that the proposed simulator complies with regulatory standards, enhances participant engagement, and reduces the costs associated with conventional training. Furthermore, the project proved to be technically and economically viable, validated by companies interested in adopting the technology. In conclusion, the study highlights the relevance of using 3D modeling to improve industrial training, promoting safety, efficiency, and compliance with regulations. The possibility of expanding the research to develop water-tube boilers was identified as a future perspective, broadening the impact of this study on industrial training practices. Keywords: Boiler; modeling; training; regulatory standards. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................16 2.1 Modelagem 3D ......................................................................................16 2.1.1 Modelagem Bi e Tridimensional .............................................................16 2.1.2 Modelagem Hibrida ................................................................................17 2.1.3 Blender 3D e suas aplicações ................................................................18 2.2 Treinamentos Industriais .....................................................................19 2.3 Normas Regulamentadoras (NR) ........................................................20 2.3.1 NR-12 - Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos .............20 2.3.2 NR-13 - Caldeiras, vasos de pressão e tubulações e tanques metálicos de armazenamento ......................................................................................................212024. 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Entre essas inovações, destacam-se a Realidade Virtual (RV) e a Realidade Aumentada (RA), que possibilitam novas formas de interação entre operadores e sistemas industriais. A RV permite a imersão em ambientes tridimensionais simulados, enquanto a RA expande a percepção do mundo real com a inserção de informações digitais. Essas tecnologias têm transformado processos industriais, trazendo mais eficiência, segurança e precisão, além de reduzir custos e melhorar a produtividade. Assim, a conectividade entre máquinas e pessoas se torna cada vez mais fluida, oferecendo novas oportunidades para a modernização e otimização das operações (CONVERGINT, 2020). Tecnologias imersivas, como RV e RA, têm se mostrado igualmente eficazes em outros setores, além do industrial. Por exemplo, na medicina, essas ferramentas são usadas para treinar profissionais em procedimentos complexos, permitindo a prática sem os riscos associados ao ambiente real. No setor de defesa do exército e força aérea, simuladores são amplamente utilizados para capacitar soldados em ambientes controlados e realistas, promovendo a aprendizagem sem comprometer a segurança (BRITO; et al, 2021). Esses exemplos evidenciam o potencial dessas tecnologias na educação e no treinamento de profissionais, mostrando que a simulação imersiva pode replicar com precisão os desafios do mundo real. Nesse contexto, a modelagem 3D emerge como uma ferramenta essencial para criar ambientes virtuais realistas que reproduzem com precisão equipamentos e cenários do dia a dia. Ao integrar visualização interativa com modelagem geométrica e simulação, esses ambientes permitem que engenheiros e cientistas analisem e manipulem dados, prevendo cenários críticos antes que aconteçam. A capacidade de prever falhas operacionais ou riscos de segurança, por exemplo, torna o desenvolvimento de projetos industriais mais seguro e eficiente (TORI; HOUNSELL, 2018). Além disso, a modelagem 3D com RA tem sido aplicada com sucesso na engenharia, especialmente no planejamento e operação de plantas industriais. Com essa tecnologia, é possível simular com precisão os estágios de inicialização e desligamento de uma planta, identificar potenciais riscos e otimizar a segurança. A 14 visualização virtual dos processos reduz desperdícios materiais e energéticos, além de diminuir os custos de desenvolvimento. Integrar a RA aos processos da Indústria permite que empresas, independentemente do porte ou setor, aumentem sua competitividade e eficiência (SEBRAE, 2023). Os métodos tradicionais de treinamento operacional, amplamente utilizados em diversas indústrias, têm enfrentado uma série de limitações. A falta de interatividade faz com que muitos colaboradores se desengajem do processo, comprometendo a retenção do conhecimento e a eficiência da capacitação. Além disso, os treinamentos convencionais são caros e logisticamente desafiadores, exigindo recursos significativos em termos de tempo, dinheiro e infraestrutura. Outro problema é a dificuldade de replicar cenários complexos ou perigosos, especialmente em operações industriais, onde erros podem resultar em consequências graves, tanto financeiras quanto de segurança (MARTINS, 2021). Diante desses desafios, a gamificação, aliada a tecnologias imersivas, surge como uma solução promissora para treinamentos industriais. Ao simular ambientes de trabalho de forma autêntica e interativa, essas tecnologias permitem que os colaboradores pratiquem suas habilidades em situações que replicam os desafios do mundo real, sem os riscos envolvidos. Com isso, as empresas conseguem não apenas treinar seus funcionários de forma mais segura e econômica, mas também melhorar o engajamento e a motivação, resultando em maior produtividade e eficiência operacional (MARTINS, 2021). O uso de simuladores imersivos tem se destacado na educação e no treinamento em diversas indústrias, mostrando grande potencial no setor químico. Simuladores que replicam reações químicas e processos de manufatura proporcionam uma experiência de aprendizado interativa e segura, além de capacitar profissionais com um conhecimento mais sólido e aplicado (TORI; HOUNSELL, 2018). Desta forma, esses simuladores podem aprimorar o processo de aprendizagem, proporcionando aos colaboradores experiências práticas em ambientes virtuais que replicam de forma precisa os equipamentos e processos encontrados no chão de fábrica. Com isso, espera-se contribuir para a formação de profissionais mais bem preparados para os desafios do setor químico, alinhando as práticas educacionais às demandas contemporâneas da indústria. 15 Assim, o objetivo principal deste trabalho é explorar a modelagem 3D como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de um simulador de caldeira flamotubular presente em diversas industrias, com intuito de ser utilizada na área de simuladores imersivos voltados ao treinamento de equipamentos industriais que seguem à risca as diretrizes das Normas Regulamentadoras (NR) brasileiras. Além disso, buscar parcerias de novos clientes para a 4Control faz parte do propósito do trabalho, garantindo o grande interesse da maioria das empresas pela modelagem, simulação e projeção imersiva. 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Modelagem 3D A modelagem 3D é o processo de criar representações tridimensionais de personagens, objetos ou cenários, incorporando altura, largura e profundidade. Ela combina conhecimentos técnicos de desenho e escultura, como anatomia, luz e sombra, com habilidades tecnológicas de softwares de modelagem. Sua aplicaçãoé vasta, indo desde o desenvolvimento de produtos e ambientes na arquitetura e no design industrial até a criação de peças e veículos na indústria automobilística. No entanto, seu uso mais popular está na indústria de artes e entretenimento, onde é amplamente utilizada na criação de jogos, filmes e ilustrações (LOPES, 2023). 2.1.1 Modelagem Bi e Tridimensional A comparação entre modelagem 2D e 3D na engenharia revela importantes distinções em relação ao nível de detalhamento e as possibilidades de simulação. O desenho técnico em 2D, baseado em linhas, pontos e formas, continua sendo uma ferramenta essencial na documentação de máquinas e componentes. Ele oferece uma linguagem gráfica universal, conforme definido por Souza e Rocha (2010), sendo indispensável para comunicar informações sobre dimensões, forma e posicionamento de objetos. Apesar das limitações em termos de perspectiva e profundidade, esse tipo de modelagem mantém seu valor por ser amplamente compreendido e padronizado, facilitando a troca de informações técnicas entre diferentes áreas. Entretanto, o advento da tecnologia computacional trouxe um avanço significativo com o desenvolvimento tridimensional. Com a introdução de softwares CAD (Computer Aided Design), o design assistido por computador revolucionou o processo de criação de projetos, permitindo uma visualização mais detalhada e precisa dos objetos. Diferente do 2D, que se restringe a vistas planas e projeções, o uso de volumes oferece uma representação mais completa, possibilitando que o desenvolvedor visualize o objeto de diferentes ângulos, melhorando a compreensão sobre seu formato, montagem e funcionamento. Esse recurso facilita a análise estrutural e a detecção de falhas ou interferências antes mesmo da produção física, o que não é possível na modelagem bidimensional (SILVA; et al, 2024). Além da visualização, o desenvolvimento tridimensional, aliado a simulação dinâmica de processos industriais, permite que profissionais de diversas áreas 17 analisem o comportamento dos projetos em diferentes condições ambientais, como variações de temperatura, pressão e força aplicada. Isso representa uma vantagem significativa em relação ao 2D, que é mais limitado para esse tipo de análise. De acordo com Silva e colaboradores (2024), a simulação reduz a necessidade de protótipos físicos, economizando tempo e recursos nas fases de teste e desenvolvimento. Dessa forma, esse tipo de recurso não apenas substitui o tradicional, mas complementa-o, expandindo suas capacidades para além da representação estática e possibilitando uma visão mais dinâmica e funcional dos projetos. Assim, a representação tridimensional, com suas capacidades de simulação avançada, permite que indústrias de todos os setores economizem significativamente em termos de tempo e custos. Seja na criação de protótipos, no desenvolvimento de produtos ou no entretenimento, essa tecnologia está transformando o processo de design e fabricação. Isso se aplica também ao campo educacional, onde essa abordagem oferece novas formas de ensino prático e engajamento dos alunos, que podem visualizar conceitos abstratos de forma concreta e interativa, facilitando a compreensão e o aprendizado de tópicos complexos (MELO; REIS, 2024). 2.1.2 Modelagem Híbrida De acordo com Meandro e Weiler (2024), a modelagem híbrida é composta pela combinação das técnicas de modelagem paramétrica e direta, permitindo que o desenvolvedor utilize os pontos fortes de ambos os métodos. A modelagem paramétrica baseia-se no uso de parâmetros, restrições e equações para controlar as características de um modelo, ou seja, define variáveis como dimensões e ângulos, sendo possível alterar essas características sem comprometer a integridade do modelo. Essa abordagem é ideal para projetos que demandam precisão e padronização, como peças que precisam obedecer a tolerâncias específicas ou estruturas que seguem normas regulamentares. Já a modelagem direta, por outro lado, não depende de parâmetros ou equações, oferecendo uma maior liberdade criativa. Nela, a manipulação do modelo ocorre de forma interativa, permitindo que o desenvolvedor ajuste a geometria diretamente, por meio de ações intuitivas, como a interação direta com instrumentos, painéis de controle, válvulas e botões. Optar por uma abordagem híbrida oferece diversas vantagens, especialmente em projetos que exigem tanto precisão quanto flexibilidade. A combinação dessas 18 duas técnicas permite ao desenvolvedor aproveitar a exatidão da modelagem paramétrica para tarefas que exigem controle rigoroso, ao mesmo tempo em que utiliza a liberdade da modelagem direta para explorar formas mais complexas ou realizar ajustes rápidos. Isso é particularmente útil em fases iniciais de projetos, onde a ideia ainda está em desenvolvimento, e em estágios mais avançados, quando já se conhece os parâmetros exatos. Além disso, o uso da abordagem híbrida facilita a reutilização e modificação dos modelos, superando limitações impostas por uma única técnica, o que torna o processo mais eficiente e adaptável às necessidades do projeto (MEANDRO; WEILER, 2024). 2.1.3 Blender 3D e suas aplicações A Blender Foundation, uma organização sem fins lucrativos que desenvolve o software, define o Blender 3D como um programa de código aberto voltado para modelagem, animação, texturização, composição, renderização, criação de aplicações interativas em 3D e edição de vídeo. O software é compatível com vários sistemas operacionais e oferece ferramentas avançadas de simulação, como dinâmicas de fluídos, de corpos rígidos e de corpos macios, sendo comparável a outros programas proprietários que disponibilizam recursos similares, como SolidWorks e AutoCAD (BLENDER FOUNDATION, 2024). Devido sua fácil acessibilidade, este software vem sendo muito utilizado como ferramenta de simulação em várias áreas. Costa e colaboradores (2020) realizaram um estudo pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) que utiliza o programa Blender para simular um radar de vigilância de espaço aéreo, possibilitado pelo motor de renderização e utilizado para simular a propagação de ondas no ambiente modelado. Seu resultado foi tão satisfatório que afirmou a possibilidade de ser aplicado também em vigilância marítima e sensoriamento remoto. Outro exemplo de aplicação foi na modelagem e impressão 3D de ferramentas didáticas do curso de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia. Vieira e Miranda (2021) tiveram a ideia durante o período da Pandemia do COVID 19, e encontraram a modelagem como facilidade no ensino de componentes biológicos como células vegetais, proteínas e DNA, compartilhando seus resultados para serem utilizados em todos os campus da instituição. Isso mostra a importância da implantação da modelagem 3D como forma de facilitar o aprendizado e interação 19 tecnológica, principalmente em um momento que as aulas estavam sendo realizadas de forma remota. 2.2 Treinamentos Industriais A evolução dos processos industriais tem sido marcada pela crescente integração entre tecnologia e operação, impulsionada pelos avanços da automação e digitalização. Enquanto a Indústria 4.0 revolucionou a manufatura com sistemas inteligentes e interconectados, a Indústria 5.0 surge como uma nova perspectiva, enfatizando a interação homem-máquina (IHM) e a centralização no fator humano. Essa abordagem busca alinhar a automação com a colaboração direta dos operadores, promovendo fábricas mais sustentáveis, resilientes e inteligentes. A Manufatura Inteligente Centrada no Ser Humano (HCSM) emerge como um modelo de produção que combina tecnologias avançadas com a participação ativa dos trabalhadores, possibilitando um ambiente mais eficiente e adaptável. Nesse contexto, sensores, sistemas de processamento de dados, mecanismos de transmissãoe plataformas interativas que utilizam a modelagem 3D desempenham um papel fundamental para garantir uma comunicação fluida entre humanos e máquinas (YANG; LIU; MORGAN; 2024). Com toda essa revolução tecnológica, surge também a necessidade de novos aprendizados dentro da indústria. Treinamentos bem planejados e adaptados às demandas específicas da empresa e da equipe são fundamentais para alcançar excelência e operação segura. Investir em capacitações que aprofundem o conhecimento sobre as máquinas e ferramentas disponíveis permite que as tarefas se tornem mais simples e rápidas, promovendo um verdadeiro aprimoramento profissional. Além disso, é crucial contar com suprimentos de qualidade, pois treinamentos sem os equipamentos adequados resultam em desperdício de tempo e impedem o progresso da empresa (NORTEL, 2021). Os treinamentos industriais abrangem uma variedade de técnicas que visam capacitar a força de trabalho em diferentes áreas. O onboarding, por exemplo, é uma estratégia essencial para integrar novos funcionários, permitindo que eles se adaptem rapidamente às operações, normas de segurança e cultura organizacional. Outro tipo importante é o treinamento em Normas Regulamentadoras (NR), que garante o cumprimento das leis e regulamentos do setor, fundamental para a segurança e conformidade. Além disso, há os treinamentos voltados para segurança do trabalho, 20 que preparam os colaboradores para lidar com riscos e emergências, e segurança da informação, indispensável no cenário atual de interconectividade industrial. Por fim, os treinamentos técnicos capacitam os funcionários no uso de máquinas e tecnologias específicas, promovendo maior eficiência e redução de erros nos processos, porém, podem exigir paradas que prejudicam o seu andamento ou são realizadas de forma não seguras (CASSEMIRO, 2024). Com a avanço da tecnologia, novas formas de treinamentos começaram ser implantadas, como os treinamentos imersivos a partir de realidade virtual e modelagem 3D. Lamas (2020) afirma em seu estudo de caso sobre a experiência do usuário em aplicação de realidade virtual imersiva no âmbito industrial que, apesar de uma leve dificuldade em implantar o uso do óculos de realidade virtual nos operadores por ser um equipamento sensível, as respostas dos usuários foram majoritariamente positivas, com um bom engajamento e maior interesse. O autor ainda afirma que recebeu bons feedbacks que contribuíram muito para a melhoria de sua tecnologia, contribuindo de forma potencializada a aplicação dessa ferramenta em treinamentos e/ou simulações industriais. 2.3 Normas Regulamentadoras (NR) Essenciais em treinamentos industriais, as Normas Regulamentadoras (NR) são um conjunto de diretrizes estabelecidas para assegurar a saúde e segurança no ambiente de trabalho, complementando as disposições da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) no Brasil. Criadas inicialmente em 1978 e atualizadas ao longo dos anos, essas normas estabelecem obrigações e direitos tanto para empregadores quanto para trabalhadores, visando reduzir riscos de acidentes e doenças ocupacionais. Sua elaboração e atualização necessitam da participação de representantes do governo, empregadores e empregados, garantindo que atendam às necessidades de diferentes setores econômicos e promovam melhores condições de trabalho (BRASIL, 2020). 2.3.1 NR-12 - Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos A NR-12 estabelece diretrizes fundamentais para a segurança no uso de máquinas e equipamentos industriais, visando proteger tanto os operadores diretos quanto os demais trabalhadores que compartilham o espaço onde as máquinas estão 21 instaladas. Publicada em 1978 pelo Ministério do Trabalho e Emprego, essa norma abrange desde as exigências de fabricação até os aspectos de exposição e manuseio dos equipamentos, propondo medidas de proteção que priorizam a segurança coletiva, o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e a gestão administrativa (EGE SOLUÇÕES, 2023). A norma também especifica recomendações sobre o espaço físico nas instalações, sistemas elétricos, botões de emergência, segurança pressurizada, transportadores de materiais e ergonomia, garantindo uma operação segura e eficiente das máquinas. Além disso, determina que os profissionais envolvidos recebam capacitação adequada e que a sinalização e procedimentos estejam claros e visíveis. A aplicação da norma é constantemente auditada e atualizada, o que reforça sua importância na prevenção de acidentes e na promoção de um ambiente de trabalho mais seguro e saudável (EGE SOLUÇÕES, 2023). 2.3.2 NR-13 - Caldeiras, vasos de pressão e tubulações e tanques metálicos de armazenamento A NR-13 é um dispositivo legal estabelecido pelo Ministério do Trabalho, com o objetivo de garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores que operam em ambientes industriais com equipamentos de alta complexidade, como caldeiras e vasos de pressão. Ela estabelece uma série de requisitos técnicos e operacionais que buscam assegurar a integridade estrutural desses equipamentos, determinando desde sua instalação, passando pela operação e manutenção, até a inspeção periódica e de segurança. Dada a criticidade desses aparelhos no processo industrial, essa norma atua para mitigar os riscos que possam comprometer a saúde dos trabalhadores e o patrimônio das empresas (BRASIL, 2020). De acordo com a regulamentação, as caldeiras, independentemente de suas características específicas, devem seguir os preceitos da NR-13, sendo enquadradas em categorias (A, B e C) conforme a pressão de operação e o volume de armazenamento de vapor. A norma exige que esses equipamentos apresentem placas de identificação em locais visíveis, contendo informações como ano de fabricação, nome do fabricante, pressão de teste hidrostático e categoria de risco. Essa exigência de identificação é essencial para assegurar que os trabalhadores 22 tenham acesso rápido e visual a informações críticas, facilitando a operação segura e contribuindo para a prevenção de acidentes industriais (PREVINSA, 2024). Além das caldeiras, ela também regula a utilização de vasos de pressão, especificando que determinados fluidos, como inflamáveis e tóxicos, impõem a necessidade de um controle rigoroso sobre os equipamentos que os contêm. Esses vasos de pressão, ao serem empregados em atividades industriais com substâncias da Classe A, requerem atenção especial quanto aos critérios de segurança e inspeção, conforme descrito na norma. Em casos de irregularidades no funcionamento de caldeiras e vasos de pressão, é imperativo que tais falhas sejam tratadas de forma a atender aos requisitos da NR-13, evitando riscos ocupacionais e possíveis incidentes de alto impacto. A norma dispõe ainda que alguns equipamentos e sistemas específicos, como extintores de incêndio, vasos de pressão com diâmetro interno inferior a 150 mm para fluidos das classes B, C e D, e recipientes transportáveis, estão isentos de seus requisitos, desde que sejam atendidas as exigências de outras regulamentações ou códigos de projeto pertinentes (PREVINSA, 2024). Com relação ao treinamento dos operadores, a NR-13 enfatiza a necessidade de capacitação contínua para a interpretação correta de seus dispositivos e para a aplicação das normas em condições reais de trabalho. O curso de norma oferece aos operadores o preparo teórico e prático, habilitando-os a lidar com situações de instalação, manutenção e operação dos equipamentos, conforme exigido pelo Ministério do Trabalho. A atualização permanente desses profissionais é também prevista, já que incentiva a reciclagem periódica por meio de cursos e eventos técnicos voltados à segurança operacional. Para os operadores de caldeiras, a prática profissional supervisionada é obrigatória, com duração mínima específicaconforme a categoria do equipamento, visando a assegurar que o trabalhador possua a habilidade prática e o conhecimento técnico necessários para atuar em conformidade. Essa norma, portanto, é um elemento essencial para a segurança e a integridade do ambiente industrial, sendo uma ferramenta preventiva crucial na minimização de acidentes e na proteção da vida dos trabalhadores (PREVINSA, 2024). 2.3.3 NR-16 - Atividades e operações perigosas A NR-16, estabelecida pelo Ministério do Trabalho, define as atividades classificadas como perigosas e as condições para o recebimento do adicional de 23 periculosidade. Seu principal objetivo é garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores por meio da identificação de atividades de risco e da implementação de medidas preventivas e de controle. A norma abrange funções que envolvem exposição a explosivos, substâncias inflamáveis, radiações ionizantes e eletricidade, assegurando compensações financeiras e diretrizes para a adoção de práticas seguras. Além disso, orienta o uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPIs) e estabelece critérios específicos para o pagamento do adicional de periculosidade, de forma a mitigar os riscos inerentes a essas atividades (BRASIL, 2020; WILLICH, 2023). Em treinamentos industriais, a aplicação da NR-16 envolve a conscientização sobre atividades de risco, práticas seguras e uso correto dos EPIs. Esses treinamentos ajudam os trabalhadores a identificar e minimizar riscos, preparando-os para atuar com segurança em ambientes industriais potencialmente perigosos e reduzindo, assim, a ocorrência de acidentes e lesões (WILLICH, 2023). 2.4 Caldeiras Processos e equipamentos industriais devem seguir as normas regulamentadoras, a fim de garantir a segurança do processo. Um dos tipos de equipamento que segue as diretrizes da NR 12, 13 e 16 é a caldeira, essencial para a geração de vapor ou água quente a partir da transferência de calor proveniente de uma fonte de energia, como combustíveis fósseis ou biomassa. Elas operam através da queima de combustível, que aquece a água contida em um sistema fechado, resultando na produção de vapor. Este vapor é utilizado em diversos processos industriais, como aquecimento, geração de eletricidade e movimentação de máquinas. O Energy Efficiency Handbook enfatiza a importância da eficiência das caldeiras discutindo práticas recomendadas para maximizar a eficiência e reduzir as perdas de calor, destacando que uma operação adequada não apenas melhora o desempenho energético, mas também contribui para a sustentabilidade das operações industriais (CIBO, 1997). Esse equipamento essencial no âmbito industrial se divide em dois tipos: aquatubulares e flamotubulares. Uma caldeira aquatubular é um tipo de gerador de vapor projetado para operar sob alta pressão e produzir vapor a partir do aquecimento de água. Sua principal característica é a circulação da água ou vapor no interior dos tubos, enquanto os gases de combustão fluem pelo exterior destes, permitindo uma 24 transferência eficiente de calor. A construção desse equipamento requer conformidade com normas internacionais, como ASME e DIN, além de aprovação por órgãos reguladores, como a Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), garantindo segurança e eficiência no seu funcionamento (RODRIGUES, 2016). Já o segundo tipo será apresentado mais detalhadamente, devido ser o tema principal para o desenvolvimento do trabalho. 2.4.1 Flamotubulares Uma caldeira flamotubular, também conhecida como tubo-de-fogo ou pirotubular, é um tipo de gerador de vapor em que os gases quentes da combustão circulam pelo interior dos tubos, que estão imersos em água. Este modelo, um dos primeiros a ser desenvolvido, destaca-se pela simplicidade de construção e é amplamente utilizado para aplicações com pequenas capacidades de produção de vapor, até cerca de 10 toneladas por hora, e pressões limitadas a 10 bar (BAGGIO, 2018). Apesar da evolução tecnológica, sua eficiência foi aprimorada em versões como a caldeira escocesa, que pode operar a pressões de até 20 bar. Esse tipo de caldeira é composto por um cilindro externo com água e um cilindro interno destinado à fornalha, com os gases quentes percorrendo tubos metálicos em múltiplos passes, otimizando o rendimento térmico. De acordo com Baggio (2018), os principais tipos de caldeiras flamotubulares são os modelos verticais, horizontais, cornovagli, multitubulares, lancashire, locomotivas e locomóveis, além das caldeiras escocesas. Neste trabalho, o estudo será aprofundado no tipo horizontal com 3 passes no casco. 2.4.2 Horizontal com 3 passes no casco Uma caldeira flamotubular com três passes é um tipo de gerador de vapor em que os gases de combustão percorrem três trajetos distintos dentro dos tubos, transferindo calor para a água ao redor, conforme a Figura 1. O funcionamento desse sistema envolve a circulação dos gases através dos tubos metálicos em direções opostas, com mudanças de sentido controladas por zonas de retorno, que podem ser a seco (revestidas com refratário) ou resfriadas por água. Essa configuração permite uma transferência de calor eficiente, embora a grande capacidade de armazenamento de água da caldeira torne o processo mais lento para atingir pressão e temperatura 25 de operação. Por outro lado, essa característica proporciona maior estabilidade térmica, já que as respostas às variações de carga são mais lentas (GAERTNER; HORTA, 2020). Figura 1 - Esquema de Circulação de gases da caldeira flamotubular Fonte: Gaertner e Horta (2020) Esse tipo de equipamento é comercializado como unidade embalada, pronta para instalação, com todos os componentes, como refratários, isolamentos e controles, já integrados, como mostrado na Figura 2. A estrutura típica inclui um casco de aço que envolve completamente as partes internas da caldeira, garantindo que a água circule ao redor de todos os tubos. Nos modelos modernos, os gases quentes gerados na câmara de combustão percorrem o interior dos tubos, passando primeiro pela câmara de reversão localizada na parte traseira, antes de retornar pelos tubos em novos trajetos. Essa configuração aumenta significativamente a eficiência térmica, enquanto a construção simplificada elimina a necessidade de alvenaria externa. Além disso, estudos recentes indicam que ajustes no design, como a adição de superfícies sólidas na câmara de combustão, podem reduzir emissões de poluentes como o monóxido de carbono, aumentando a sustentabilidade desse tipo de equipamento (GAERTNER; HORTA, 2020). 26 Figura 2 - Desenho esquemático de caldeira flamotubular e principais componentes Fonte: Gaertner e Horta (2020) Apesar de suas vantagens, como a simplicidade operacional, facilidade de manutenção, troca rápida de tubos danificados, limpeza de fuligem, tratamento menos rigoroso da água, respostas rápidas a variações de carga e o baixo custo de instalação, as caldeiras flamotubulares apresentam limitações que impactam sua aplicação em processos mais exigentes. O baixo rendimento térmico e a limitada capacidade de produção de vapor restringem seu uso a operações de pequena escala. Além disso, a impossibilidade de gerar vapor superaquecido e as baixas pressões de operação tornam esse tipo de caldeira inadequado para indústrias que demandam níveis elevados de eficiência e alta qualidade de vapor. Esses fatores colocam as caldeiras flamotubulares em desvantagem quando comparadas a outros modelos mais modernos e tecnicamente avançados (GAERTNER; HORTA, 2020). 27 3 METODOLOGIA A metodologia geral utilizada no presente trabalho compreendeu a modelagem 3D da parte interna de uma caldeira flamotubular horizontal com 3 passes no casco utilizando o software gratuito de modelagem Blender 3D. Além disso, os instrumentosnecessários para o funcionamento do equipamento e como se encontra o projeto de implantação do mesmo na planta industrial também são analisados de acordo com sua função no processo, sendo ambos adaptados e estudados de um modelo 3D existente do Turbosquid (2024). 3.1 Instrumentação A instrumentação correta de equipamentos industriais é essencial para garantir a eficiência, segurança e confiabilidade dos processos. Ela permite o monitoramento preciso de variáveis críticas, como pressão, temperatura e vazão, proporcionando controle contínuo e ajustes em tempo real para evitar falhas operacionais. Além disso, uma instrumentação adequada reduz desperdícios, melhora o desempenho energético e assegura conformidade com normas regulatórias (NR), sendo indispensável para otimizar a produtividade e a vida útil dos equipamentos. Em seguida, serão tratados alguns instrumentos importantes da caldeira flamotubular em estudo, presentes no modelo 3D do Turbosquid (2024). 3.1.1 Válvula Solenoide Utilizada para controlar o fluxo de fluidos industriais, esse tipo de instrumento cria um campo eletromagnético, quando recebe corrente elétrica, capaz de movimentar um embolo interno, aumentando ou diminuindo a vazão, conforme a Figura 3. Ela recebe comando do sistema de controle da caldeira, onde sua função é regular a vazão de água que entra no equipamento, para que não tenha falta e nem excesso por questões de segurança de operação. 28 Figura 3 - Atuação da válvula solenoide Fonte: MTI Brasil (2024) Esse modelo é amplamente utilizado no âmbito industrial devido à sua resposta rápida, operação remota e facilidade de automação, garantindo a fluidez do processo. A válvula solenoide estudada modelada em 3D está representada na Figura 4. Figura 4 - Válvula Solenoide modelada em 3D Fonte: Turbosquid (2024) 3.1.2 Válvula Globo A válvula globo funciona através do movimento de um disco interno que se desloca perpendicularmente ao assento, conforme Figura 5, proporcionando um controle eficiente da vazão. Em uma caldeira flamotubular, ela é comumente instalada em pontos de controle críticos, como na entrada de alimentação de água, na purga de fundo e nas linhas de vapor, assegurando a operação estável e segura do equipamento. 29 Figura 5 - Atuação da válvula globo Fonte: Jefferson (2024) Esse tipo de válvula é amplamente reconhecido no meio industrial por sua robustez, precisão e confiabilidade no controle de fluidos, porém, é utilizada com cuidado devido a perda de carga causada. O modelo utilizado para fins de estudo está detalhado na Figura 6. Figura 6 - Válvula globo modelada em 3D Fonte: Turbosquid (2024) 3.1.3 Sensor de Temperatura Essencial para o monitoramento e controle da operação, os sensores de temperatura, como mostrados na Figura 7, são responsáveis por medir com precisão a temperatura dos fluidos e gases envolvidos no processo da caldeira flamotubular. Ele é estrategicamente posicionado em áreas como a saída de vapor e os gases de 30 combustão, garantindo que os parâmetros operacionais permaneçam dentro dos limites estabelecidos, evitando falhas e otimizando o desempenho térmico. Figura 7 - Tipos de sensores de temperatura Fonte: Zurich (2024) A informação captada pelo sensor é enviada diretamente ao painel de controle, onde é analisada e utilizada para ajustes automáticos ou manuais, promovendo maior eficiência e segurança na operação do equipamento. Para melhor visualização, o sensor de temperatura foi representado em um modelo tridimensional, apresentado na Figura 8. Figura 8 - Sensor de Temperatura modelado em 3D Fonte: Turbosquid (2024) 3.1.4 Sensor de Nível Fundamental para a segurança e a operação contínua da caldeira flamotubular, o sensor de nível do tipo garrafa e visor de nível, representado na Figura 9, funciona de maneira integrada à bomba de alimentação, regulando o volume de água dentro do gerador. Este sistema conta com uma câmara auxiliar equipada com quatro eletrodos estrategicamente posicionados, cada um desempenhando funções 31 críticas: o eletrodo de nível máximo desliga a bomba, evitando excesso de água; o eletrodo de nível mínimo aciona a bomba, garantindo o abastecimento adequado; o eletrodo de emergência desativa automaticamente todo o equipamento (exceto alarmes, dispositivos de segurança e a própria bomba) em situações de risco; e o eletrodo de referência fecha o circuito elétrico, permitindo a energização dos relés de controle. Figura 9 - Sensor de nível Fonte: Brasil Vapor (2024) O visor de nível, parte essencial do conjunto, permite uma inspeção visual do volume de água, assegurando que ele seja suficiente para manter as superfícies de aquecimento devidamente resfriadas, evitando danos estruturais à caldeira. Além disso, a garrafa e o visor possuem válvulas de dreno, que devem ser acionadas diariamente para remover impurezas que possam se acumular. O acúmulo excessivo pode isolar a garrafa da caldeira, deixando o regulador de nível inoperante e ocasionando falta de água, o que comprometeria gravemente a operação. O equipamento em estudo está modelado em 3D na Figura 10. 32 Figura 10 - Sensor de Nível tipo garrafa modelado em 3D Fonte: Turbosquid (2024) 3.1.5 Válvula de Segurança de Pressão (PSV) A válvula de segurança de pressão, representada pela Figura 11, é um elemento indispensável no sistema de proteção das caldeiras flamotubulares, garantindo a segurança operacional e prevenindo acidentes graves. Prevista por normas como a ASME I e a NR13, sua instalação é obrigatória, sendo considerada um requisito fundamental para evitar riscos graves e iminentes. Trata-se do último dispositivo de segurança que entra em ação quando todas as outras barreiras falham, abrindo automaticamente ao atingir uma pressão pré-calibrada para liberar vapor e reduzir a pressão interna da caldeira, protegendo sua integridade estrutural. Figura 11 - Válvula de segurança de pressão (PSV) Fonte: Coneval (2024) 33 Comumente são associadas em conjuntos de duas ou mais válvulas, cuja capacidade total deve ser, no mínimo, equivalente à capacidade de produção de vapor da caldeira. Em sistemas com múltiplas válvulas, estas podem operar de forma escalonada ou simultânea, assegurando respostas rápidas e eficientes a eventuais variações de pressão, evitando falhas catastróficas e garantindo o funcionamento seguro do equipamento. Esse componente crítico modelado em 3D está representado na Figura 12. Figura 12 - PSV modelada em Blender 3D Fonte: Turbosquid (2024) 3.1.6 Válvula Gaveta A válvula gaveta é um componente fundamental em operações industriais, utilizada principalmente para interromper ou permitir o fluxo de fluidos em tubulações críticas. Diferentemente de outros tipos de válvulas, seu mecanismo de fechamento ocorre por meio de um elemento interno em formato de cunha que desliza verticalmente, assegurando vedação completa quando fechada e mínima resistência ao fluxo quando aberta, conforme a Figura 13. Figura 13 - Atuação da válvula gaveta Fonte: Cordeiro (2023) 34 Em caldeiras flamotubulares, a válvula gaveta é posicionada em pontos- chave, como na alimentação de água e nas linhas de vapor, garantindo controle confiável e seguro. Por ser projetada para operar totalmente aberta ou fechada, ela reduz riscos de desgaste em serviços contínuos, além de contribuir para a eficiência do sistema e segurança geral do processo. Sua modelagem em 3D está presente na Figura 14, a fim de representar fielmente sua estrutura. Figura 14 - Válvula Gaveta modelada em Blender 3D Fonte: Turbosquid (2024) 3.1.7 Manômetro e Alarme O manômetro e o alarme de segurança são instrumentos indispensáveis para o monitoramento e operação segura de caldeiras flamotubulares.O manômetro, mostrado na Figura 15, é responsável por medir a pressão do vapor gerado, permitindo ao operador acompanhar, em tempo real, as condições de trabalho do equipamento. Essa leitura é essencial para evitar situações críticas, como pressões acima da máxima permitida (PMTA), que podem comprometer a integridade estrutural da caldeira. 35 Figura 15 - Manômetro Fonte: Wika (2024) Já o alarme de segurança atua como um dispositivo complementar, projetado para alertar os operadores sobre quaisquer desvios nos parâmetros operacionais, como pressão excessiva ou falha em outros sistemas de controle. Esse mecanismo sonoro e visual oferece uma camada adicional de segurança, garantindo que ações corretivas sejam tomadas rapidamente, minimizando riscos de acidentes ou danos ao equipamento. Ambos os dispositivos, além de sua importância prática, são obrigatórios segundo normas regulamentadoras, como a NR-13, reforçando seu papel na segurança industrial. A modelagem desses instrumentos, desenvolvida em software 3D, pode ser visualizada na Figura 16. Figura 16 - Manômetro e Alarme modelados em Blender 3D Fonte: Turbosquid (2024) 36 3.1.8 Bomba Centrifuga Vertical e Válvula de Retenção A bomba centrífuga vertical, apresentada na Figura 17, desempenha um papel crucial na operação de caldeiras flamotubulares, sendo responsável pelo bombeamento contínuo e eficiente de água para o interior do equipamento. Sua configuração vertical a torna especialmente adequada para instalações industriais com limitações de espaço, além de permitir a captação de água de áreas profundas. Essa característica é fundamental para garantir o suprimento constante e seguro do fluido necessário ao funcionamento da caldeira. Figura 17 - Bomba centrífuga vertical Fonte: Prime (2024) Entre os principais benefícios dessa bomba estão sua alta eficiência energética, a resistência à corrosão mesmo em condições adversas, a manutenção simplificada e sua capacidade de operar sob pressões elevadas, características essenciais para suportar as demandas de um ambiente industrial exigente. Associada à bomba, encontra-se uma válvula de retenção, que tem a função de evitar o refluxo de água no sistema, protegendo tanto a bomba quanto a caldeira contra variações indesejadas de pressão ou falhas operacionais. Essa integração não apenas otimiza o desempenho do sistema, mas também assegura a confiabilidade e segurança do processo. A bomba centrífuga vertical modelada está demonstrada na Figura 18. 37 Figura 18 - Bombas Centrífugas modeladas em Blender 3D Fonte: Turbosquid (2024) 3.2 Modelagem da Caldeira Flamotubular Em estudos realizados em questão do arranjo interno dos inúmeros tipos de caldeiras flamotubulares horizontais com 3 passes, o escolhido foi o mais comum dentro das indústrias de alimentos, onde comumente esse tipo de equipamento é utilizado para gerar vapor a ser utilizado na pasteurização, ou seja, eliminação e redução de microrganismos patogênicos e deteriorantes no produto a fim de aumentar seu tempo de prateleira e reduzir riscos à saúde. É válido ressaltar que a modelagem interna do equipamento e as adaptações do modelo 3D em estudo foi baseada em um modelo de caldeira já existente no mercado, sendo do grupo de geradores de vapor da empresa italiana IVAR Industry, cujo modelo é o SB/V 3 com capacidade de até 3000 kg/h de vapor, como representado na Figura 19. 38 Figura 19 - Caldeira Flamotubular SB/V 3 Fonte: IVAR Industry (2024) O processo de modelagem 3D no Blender foi iniciado a partir da parte interna mais importante do equipamento: a câmara de combustão. Como o próprio nome indica, é onde ocorre a combustão do gás combustível que adentra na caldeira com auxílio do queimador na parte externa, responsável pelo ar de combustão e pela faísca inicial. É produzido de uma maneira simples, já que é um cilindro de aço carbono ou inoxidável, dependendo da natureza do combustível, que abriga os gases quentes que realizam a troca de calor inicial com a água da caldeira. Este componente se encontra coberto totalmente por água, para geração de vapor, e está representada na Figura 20. Figura 20 - Câmara de combustão Fonte: Autoria Própria (2024) Em conjunto com a câmara de combustão, está a tampa do retorno do terceiro passe, mostrado na Figura 21. O intuito dessa estrutura é alinhar e organizar os tubos dos gases de combustão, por isso possui vários furos onde esses tubos são colocados adequadamente e não fiquem juntos, aumentando a superfície de contato para tornar a troca de calor mais eficiente. 39 Figura 21 - Tampa do retorno do terceiro passe Fonte: Autoria Própria (2024) Do outro lado da estrutura, está a tampa do espelho do segundo passe, representada na Figura 22. Assim como a tampa do retorno do terceiro passe, esse constituinte é responsável por sustentar a estrutura dos tubos do segundo passe, por isso possui um menor diâmetro e quantidade de furos. Figura 22 - Retorno frontal da câmara de combustão Fonte: Autoria Própria (2024) Responsável pela parte mais eficiente em troca energética, os tubos do segundo passe da caldeira flamotubular foram modelados e adicionados a estrutura, como indicado na Figura 23. O segundo passe recebe os gases da câmara de combustão em um sentido contrário, devido ao auxílio do espelho de retorno, e divide a vazão do fluido em tubos menores a fim de aumentar a superfície de troca térmica com a água. 40 Figura 23 - Tubos do segundo passe Fonte: Autoria Própria (2024) Em conjunto com o espelho de retorno, o invólucro do primeiro retorno é onde os gases que saem da câmara de combustão ficam antes de adentrar o segundo passe dentro do casco da caldeira. Representado na Figura 24, este componente é uma chapa que envolve e forma o primeiro retorno de gases, sendo um material com espessura considerável já que atua em uma pressão considerável dentro da caldeira. Figura 24 - Invólucro do primeiro retorno Fonte: Autoria Própria (2024) Constituído de uma liga metálica com revestimento refratário, o espelho do primeiro retorno é responsável por refletir os gases da câmara de combustão e direcionar para o segundo passe. Por questões de segurança, devido à pressão gerada, possui um pequeno orifício por onde o excesso de gases que não retornou passa e vai diretamente para a câmara da chaminé, como indicado na Figura 25. 41 Figura 25 - Espelho do primeiro retorno Fonte: Autoria Própria (2024) O próximo constituinte da caldeira é o casco, como mostrado na Figura 26. Ele é o invólucro de toda a parte interna da caldeira, responsável por abrigar todos os tubos e a água, tanto em seu estado líquido quanto vapor. Além disso, é onde todos os instrumentos são colocados para que o processo ocorra com segurança. Figura 26 - Casco Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) Assim como a tampa do retorno do terceiro passe, a tampa do casco também é responsável por sustentar os tubos, além de direcionar os gases de combustão para a câmara da chaminé. A Figura 27 representa esse componente a partir da modelagem 3D efetuada. 42 Figura 27 - Tampa do casco Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) Retirando o casco da caldeira, é possível visualizar os tubos do terceiro passe, que se dispõem de forma a seguir a estrutura cilíndrica da caldeira, como identificado pela Figura 28. Os mesmos são responsáveis por realizar novamente a troca térmica dos gases de combustão com a água, porém com uma capacidade térmica menor, já que é a terceira troca térmica do sistema. Figura 28 - Tubos do terceiro passe Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) Responsável por receber e direcionar os gases de combustão do segundo para o terceiro passe, o retornodo terceiro passe está representado na Figura 29. Essa estrutura também funciona como acabamento estético da caldeira e, assim como o casco, abriga alguns itens da instrumentação do equipamento. 43 Figura 29 - Retorno do terceiro passe Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) Os gases de combustão, depois da troca térmica no sistema, precisam ser expelidos para a atmosfera, mas ainda contém um pouco de calor, por isso são lavados com a água de alimentação da caldeira a fim de realizar um pré-aquecimento da mesma. Esse aquecimento ocorre no economizador, um equipamento que atua como um trocador de calor simples dentro da câmara da chaminé e sua utilização provém da maior eficiência energética gerada no sistema. Analisando a Figura 30, podemos ver a saída dos gases (a), a entrada de água do economizador (b), o dreno da água do casco (c) e o suporte da caldeira (d). Figura 30 - Câmara da chaminé e suporte Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) Por fim, completando a modelagem 3D da caldeira flamotubular, toda a parte de instrumentação, já citada anteriormente, foi adicionada ao equipamento. Na Figura 31, podemos identificar a saída de vapor (a) produzido e que será utilizado no (a) (c) (b) (d) 44 processo, com acréscimo também do painel de controle (b) da caldeira, responsável pela atuação dos instrumentos e monitoramento do sistema. Figura 31 - Instrumentação e painel de controle Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) 3.3 Componentes Agregados Assim como todos os equipamentos industriais, a caldeira flamotubular não atua sozinha para produzir vapor. O equipamento necessita de um conjunto completo para operar e produzir a quantidade de vapor a ser utilizada como utilidade no processo industrial. A planta de operação modelada, advinda do modelo em estudo, pode ser visualizada na Figura 32. (a) (b) 45 Figura 32 - Planta de operação da caldeira flamotubular Fonte: Turbosquid (2024) O processo se inicia pela entrada de combustível, visualizado na Figura 33, que é composta por um sistema de fornecimento e controle de gás natural, projetado para garantir eficiência e segurança na operação. O gás natural, fornecido por uma rede de distribuição (a) em alta pressão, passa por um regulador que ajusta sua pressão para níveis adequados ao queimador, evitando sobrecargas no sistema. Antes de chegar ao queimador, o gás atravessa um filtro que elimina impurezas e partículas, assegurando a proteção dos componentes e a estabilidade da combustão. Além disso, o sistema conta com válvulas de controle automatizadas que regulam o fluxo de gás em resposta às demandas da caldeira, otimizando o consumo de combustível. O queimador (b) da caldeira, responsável pela mistura e queima eficiente do gás natural com o ar de combustão, se encontra após a rede de distribuição e garante a geração de calor necessária para o processo. Equipado com sistemas automáticos de ignição e sensores de chama, assegura segurança e funcionamento contínuo, interrompendo o fluxo de gás em caso de falha. Sua construção robusta e a distribuição uniforme da chama na câmara de combustão maximizam a eficiência térmica e a conversão de energia. 46 Figura 33 - Rede de distribuição de gás natural e queimador Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) Assim como na entrada de combustível da caldeira, a saída de vapor também precisa de uma rede de distribuição (a), como pode-se visualizar na Figura 34. Essa rede é composta por tubulações, válvulas, purgadores e outros componentes que transportam a utilidade até os pontos de uso, como processos industriais, aquecimento ou geração de energia. O intuito desse componente é minimizar perdas de calor e pressão, garantindo que o vapor chegue ao destino com as condições necessárias para sua aplicação. Além disso, sistemas de isolamento térmico e drenagem de condensado são utilizados para manter a eficiência do sistema. Figura 34 - Rede de distribuição de vapor Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) A alimentação de água também recebe um cuidado específico e está modelada em 3D, como representada na Figura 35. Mesmo sem a necessidade de (a) (a) (b) 47 um tratamento químico rigoroso, como na aquatubular, a água da caldeira flamotubular precisa passar por um desaerador (a), cuja função é remover gases dissolvidos no fluido, como oxigênio e dióxido de carbono, que podem causar corrosão nos tubos e outros componentes metálicos. O processo ocorre por meio do aquecimento da água, que utiliza vapor da própria caldeira, até uma temperatura próxima à de saturação, reduzindo a solubilidade dos gases, que são liberados e expelidos do sistema. Além de prevenir danos por corrosão, o desaerador contribui para a eficiência térmica, pré-aquecendo a água e reduzindo o consumo de energia. Depois do desaerador, a água passa por um conjunto de bombas centrífugas verticais (b), responsáveis por alimentar a caldeira com vazão contínua e em pressões adequadas para o processo. Esses equipamentos, frequentemente associadas a válvulas de retenção, garantem que o fluxo de água seja unidirecional, evitando recuo de fluidos no sistema. O bom funcionamento das bombas é essencial para manter o nível de água da caldeira dentro dos limites operacionais seguros, assegurando a geração de vapor de maneira estável. Figura 35 - Desaerador e bombas centrífugas Fonte: Adaptado de Turbosquid (2024) (a) (b) 48 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Viabilidade da implementação do simulador em treinamentos Como exposto anteriormente, a modelagem da caldeira flamotubular foi realizada com intuito de sua aplicação em treinamentos imersivos industriais, esses que utilizam de modelagem de uma planta ou equipamento real, programação de movimentos de peças, representação do passo-a-passo de aprendizagem e periféricos responsáveis pela imersividade entre o mundo real e virtual. É válido ressaltar que a modelagem tratada neste trabalho não foi realizada especialmente para uma empresa, e sim para servir como portfólio de apresentação para aquisição de novos clientes. Essa ideia da 4Control surgiu realizando um profundo estudo de mercado e identificando um desafio significativo na área de treinamento e operação de processos. Com o passar do tempo, essa tecnologia que integra simulação de processos, treinamento corporativo e simulações em ambientes 3D de forma sinérgica foi desenvolvida, permitindo criar treinamentos completos, simulando cenários específicos de acordo com as demandas. Dessa forma, uma demonstração foi apresentada a algumas empresas que poderiam ter interesse neste tipo de treinamento, cujos setores estão representados na Tabela 1. É evidente que os setores estão reunidos em dois grupos principais: Energia e Alimentos, onde grande parte dos profissionais de Engenharia Química atuam. Tabela 1 - Setores de empresas interessadas no treinamento Setor da empresa Quantidade Açúcar, Álcool e Bioenergia 2 Biogás 1 Gelatina 1 Massas, Biscoitos e Farinhas 1 Tecnologia e Soluções 1 Fonte: Autoria Própria (2024) Muitas perguntas foram feitas para as possíveis parceiras, mas apenas algumas foram selecionadas de acordo com o objetivo do trabalho. A Figura 36 mostra o percentual das empresas entrevistadas em relação a resposta positiva para as 3 49 perguntas efetuadas e, logo de início, podemos averiguar que nenhum dos entrevistados conhecia esse tipo de tecnologia em treinamentos industriais e ficaram surpresos com a demonstração. Da mesma figura, dados confirmam que metade das empresas possuem a caldeira flamotubular como um dos equipamentos de sua planta, o que gerou maior interesse pela apresentação, já que a modelagem ficou mais representativa em comparação com o processo real vivenciado no ambiente de trabalho. Figura36. Questionário de futuros clientes Fonte: Autoria Própria (2024) Ainda da Figura 36, podemos verificar que todas as empresas entrevistadas tiveram interesse pela tecnologia apresentada, mesmo que não contendo o mesmo equipamento apresentado, mas abriram possibilidade para outros componentes de sua planta. Isso evidencia o quanto a modelagem se fez importante na representatividade do modelo real no ambiente virtual, afirmando que o futuro dos treinamentos industriais pode ser feito de maneira tecnológica e segura, ao contrário do que se tem atualmente. 4.2 Validação do treinamento conforme as NR A utilização de um simulador baseado em modelagem 3D para o treinamento de operadores industriais atende rigorosamente às diretrizes estabelecidas pelas Normas Regulamentadoras (NR). O acesso dos treinandos é feito em um ambiente fechado, seguro e longe da linha de operação, onde tem acesso a um computador que possibilita a simulação do processo ou equipamento em questão modelado 50 virtualmente em 3D. A entrada ao mundo virtual e o computador é realizada pela integração de periféricos físicos, como óculos de realidade virtual ou aumentada, controles e joysticks, garantindo total imersividade do treinamento. Uma das normas que segue esse tipo de treinamento é a NR-12, que é voltada para a segurança no trabalho com máquinas e equipamentos, garantindo a proteção de todos os trabalhadores expostos direta ou indiretamente aos dispositivos utilizados. Por meio do treinamento imersivo, é possível reproduzir fielmente as condições de operação, incluindo o uso de botões de emergência, sistemas de proteção e dispositivos de segurança descritos na norma. Além disso, a abordagem virtual elimina os riscos associados ao contato físico com os equipamentos reais, oferecendo uma alternativa segura e eficiente para capacitação. Outra norma que o simulador imersivo segue é a NR-13, que regula o uso de caldeiras e vasos de pressão. O treinamento imersivo assegura que os operadores compreendam detalhadamente os procedimentos de instalação, operação e manutenção dos equipamentos. O simulador permite a prática em um ambiente controlado, garantindo que os trabalhadores estejam preparados para identificar situações de risco e realizar inspeções regulares de acordo com os parâmetros exigidos pela norma. A inclusão de instruções detalhadas sobre os níveis operacionais, válvulas de segurança e procedimentos de emergência reforça a conformidade com os requisitos legais, promovendo uma operação mais segura e eficiente. Por fim, a NR-16, que trata de atividades e operações perigosas, também encontra respaldo na metodologia de treinamento proposta. O simulador possibilita que os trabalhadores enfrentem cenários realistas de risco sem exposição direta a perigos como altas pressões, explosões ou contato com substâncias inflamáveis. Além disso, o treinamento destaca o uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a adoção de práticas seguras, preparando os operadores para responder adequadamente a situações de emergência. Dessa forma, a aplicação da modelagem 3D contribui para a formação de profissionais capacitados e alinhados com os requisitos normativos, promovendo um ambiente de trabalho mais seguro e regulamentado. 51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como objetivo principal desenvolver um modelo 3D detalhado de uma caldeira flamotubular, aplicado em treinamentos industriais imersivos, com foco na capacitação segura e eficiente de operadores. A tecnologia utilizada não apenas aprimorou a simulação dos equipamentos, mas também permitiu integrar aspectos fundamentais de instrumentação, como sensores, válvulas e outros dispositivos que compõem a operação da caldeira. A abordagem prática e alinhada às normas regulamentadoras, como NR-12, NR-13 e NR-16, assegurou que os treinamentos fossem não apenas tecnicamente precisos, mas também totalmente conformes às exigências de segurança. Os resultados demonstraram que o uso de modelagem 3D em conjunto com os conceitos de instrumentação industrial possibilita uma experiência de treinamento mais realista e eficaz. Além de melhorar o engajamento dos participantes, essa metodologia promove um aprendizado seguro e alinhado às demandas contemporâneas da Indústria 4.0. O interesse de empresas reforça o potencial do projeto, que pode ser ampliado e aplicado em diferentes contextos industriais, validando sua viabilidade técnica e econômica. Como perspectiva de continuidade, destaca-se a possibilidade de expandir o estudo para a modelagem de caldeiras aquatubulares, frequentemente utilizadas em operações mais exigentes de maiores processos industriais. Esse avanço poderá ampliar o alcance dos treinamentos imersivos, consolidando ainda mais a contribuição deste trabalho para a evolução das práticas educacionais no setor industrial. 52 REFERÊNCIAS BAGGIO, Ronaldo William de Oliveira. Modelagem de uma caldeira flamotubular com fornalha aquatubular. 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/193475/TCC_20182_Ronaldo Baggio.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 25 de nov. de 2024. BLENDER FOUNDATION. Blender 3D. 2024. Disponível em: https://www.blender.org. Acesso em: 13 de out. de 2024. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras – NR. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/assuntos/inspecao-do- trabalho/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/normas-regulamentadoras-nrs. Acesso em: 30 de out. De 2024. BRASIL VAPOR. Tudo para sua indústria. Visores de nível. 2024. Disponível em: https://www.lojabrasilvapor.com.br/visor-de-nivel-caldeira-completo. Acesso em: 30 de out. De 2024. BRITO, Joilson Barbosa de; et al. Do virtual ao real: A formação do tecnólogo em sistemas de aeronaves da aviação do exército. Latin american journal of business management. p.124-125. 2021. 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