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FUNDAMENTOS 
FILOSÓFICOS, 
PSICOLÓGICOS E 
SOCIAIS DA EDUCAÇÃO 
 
 
 
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INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 4 
AULA 1. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO: DA GRÉCIA ANTIGA AO ILUMINISMO . 11 
AULA 2. TEORIAS FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS E A EDUCAÇÃO ...................................... 18 
AULA 3. FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO: DO BEHAVIORISMO À PSICOLOGIA 
HISTÓRICO-CULTURAL ............................................................................................................ 25 
AULA 4. O SUJEITO DA APRENDIZAGEM: DESENVOLVIMENTO HUMANO, COGNIÇÃO E 
AFETIVIDADE .......................................................................................................................... 29 
AULA 5. FUNDAMENTOS SOCIAIS DA EDUCAÇÃO: ESCOLA, CULTURA E SOCIEDADE ............... 33 
AULA 6 – POLÍTICAS PÚBLICAS, DESIGUALDADES E INCLUSÃO ESCOLAR ................................. 39 
CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 43 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 49 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
A educação é um fenômeno complexo que envolve múltiplas dimensões do 
ser humano, da sociedade e do conhecimento. Para compreendê-la em profundidade, 
é necessário considerar seus fundamentos filosóficos, psicológicos e sociais, que 
constituem as bases teóricas e práticas das concepções e ações pedagógicas. Esses 
fundamentos oferecem ferramentas analíticas para problematizar a escola, o currículo, 
os métodos e as relações entre os sujeitos envolvidos no processo educativo. 
A filosofia da educação tem como objetivo refletir criticamente sobre os fins, 
os meios e os valores que orientam a prática pedagógica. Ao longo da história, diversos 
pensadores contribuíram para a formação de diferentes concepções educativas, 
influenciando a forma como a educação é pensada e implementada. A partir da 
filosofia, questiona-se o que é ensinar, o que é aprender, quem é o educador e qual o 
papel do educando no processo formativo. 
A psicologia da educação, por sua vez, fornece subsídios para compreender os 
processos de desenvolvimento e aprendizagem dos indivíduos. As diferentes correntes 
psicológicas propõem modelos explicativos sobre o funcionamento da mente, a 
construção do conhecimento, as motivações, os afetos e as relações interpessoais que 
se dão no contexto escolar. A psicologia permite conhecer melhor os estudantes, 
respeitando suas singularidades e promovendo o seu pleno desenvolvimento. 
A sociologia da educação analisa o papel da escola na estrutura social, os 
mecanismos de reprodução e transformação das desigualdades, as influências 
culturais, políticas e econômicas sobre o sistema educacional. Essa dimensão permite 
entender a escola não como uma instituição neutra, mas como um espaço atravessado 
por disputas, interesses e relações de poder que impactam diretamente as práticas 
pedagógicas. 
Estudar os fundamentos filosóficos, psicológicos e sociais da educação é, 
portanto, fundamental para a formação de professores críticos e reflexivos. Esses 
saberes não são meramente teóricos, mas orientam a práxis educativa, contribuindo 
para a construção de uma pedagogia mais democrática, inclusiva e comprometida com 
 
 
 
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a transformação social. A articulação entre essas três dimensões favorece uma 
compreensão mais abrangente e profunda da realidade educacional. 
Ao abordar os fundamentos filosóficos, busca-se recuperar o debate ético, 
político e epistemológico sobre a educação. O pensamento filosófico é capaz de 
iluminar questões sobre a natureza humana, os objetivos da formação e as formas de 
organização do saber. Desde os filósofos gregos até os contemporâneos, a filosofia 
tem sido um espaço privilegiado de reflexão sobre a educação como mediação entre o 
indivíduo e o mundo. 
No campo da psicologia, o desenvolvimento humano é compreendido a partir 
de múltiplas abordagens, que vão desde o comportamento observável até os 
processos internos de construção do conhecimento. A psicologia contribui para a 
elaboração de práticas pedagógicas mais coerentes com as etapas e ritmos de 
aprendizagem dos estudantes, respeitando suas especificidades e promovendo a 
autonomia intelectual e emocional. 
A dimensão social da educação evidencia que a escola está inserida em uma 
sociedade marcada por contradições e desigualdades. A sociologia permite analisar 
como os sistemas educacionais refletem e, ao mesmo tempo, reproduzem as 
condições sociais existentes. Ela também aponta possibilidades de resistência, 
emancipação e reinvenção da prática pedagógica a partir de uma perspectiva crítica e 
transformadora. 
A interdisciplinaridade entre filosofia, psicologia e sociologia é essencial para 
compreender a complexidade do fenômeno educativo. Cada uma dessas áreas oferece 
lentes distintas, mas complementares, que possibilitam uma leitura crítica das práticas 
escolares e das políticas públicas educacionais. Juntas, essas disciplinas fundamentam 
a atuação pedagógica de forma ética, sensível e comprometida com a formação 
integral dos sujeitos. 
A educação, enquanto prática social e cultural, envolve valores, crenças e 
ideologias que orientam as decisões pedagógicas e as relações educativas. 
Compreender seus fundamentos é também refletir sobre a intencionalidade que 
permeia o ato de educar. Todo projeto educativo implica uma concepção de homem, 
de sociedade e de mundo, e é a partir dessa concepção que se delineiam os objetivos 
da formação. 
 
 
 
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Os fundamentos filosóficos da educação nos convidam a pensar criticamente 
sobre os sentidos e finalidades da escola. É por meio da filosofia que se discute, por 
exemplo, se a escola deve formar para o mercado de trabalho, para a cidadania ou 
para o desenvolvimento integral. Essas questões não são neutras, mas carregadas de 
implicações políticas, morais e culturais que merecem atenção e debate. 
A psicologia da educação traz importantes contribuições para a compreensão 
dos processos de ensino e aprendizagem. Conhecer as teorias do desenvolvimento e 
suas implicações pedagógicas permite ao educador planejar intervenções mais 
eficazes, respeitando os diferentes estágios de maturidade cognitiva e emocional dos 
estudantes. A psicologia nos ajuda a lidar com a diversidade de ritmos, estilos e 
necessidades que emergem no contexto escolar. 
Já a sociologia da educação nos alerta para os determinantes sociais que 
influenciam o desempenho escolar, como classe social, gênero, etnia, religião e 
território. Ao considerar essas variáveis, o professor pode adotar uma postura mais 
sensível e inclusiva, combatendo práticas discriminatórias e promovendo a equidade 
no acesso ao conhecimento e às oportunidades educacionais. 
No Brasil, a constituição dos fundamentos da educação passou por influências 
diversas, desde os modelos europeus até os projetos de educação popular latino-
americana. Autores como Anísio Teixeira, Paulo Freire, Dermeval Saviani e Miguel 
Arroyo trouxeram importantes contribuições para pensar uma educação voltada à 
justiça social, ao protagonismo do educando e à valorização da cultura popular. 
A escolha desse tema para a presente apostila se justifica pela necessidade de 
formar educadores com sólido embasamento teórico, capazes de articular a reflexão 
filosófica, o conhecimento psicológico e a análise sociológica com a prática pedagógica 
cotidiana. Um educador bem fundamentado tem mais condições de enfrentar os 
desafios da sala de aula e de contribuir para a transformação da realidade educacional. 
Este material destina-se a estudantes de licenciatura, professores em 
formação ecom a lógica da reprodução e construir práticas 
pedagógicas emancipadoras, que reconheçam os saberes populares, valorizem a 
cultura local e promovam a equidade. 
A cultura é um elemento central na relação entre educação e sociedade. Ela 
não se restringe às manifestações eruditas ou acadêmicas, mas engloba as práticas, os 
valores, os símbolos e os significados compartilhados por um grupo social. A educação 
é, nesse sentido, uma prática cultural que contribui para a construção e a transmissão 
de identidades. 
 
 
 
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A escola, como instituição cultural, está constantemente mediando as 
relações entre tradição e inovação, entre cultura local e cultura global, entre memória 
e projeto. Essa mediação exige do educador uma postura sensível às diferenças, às 
identidades múltiplas e às dinâmicas de exclusão e inclusão que permeiam o espaço 
escolar. 
A diversidade cultural deve ser reconhecida como riqueza e não como 
obstáculo. A valorização da pluralidade étnica, linguística, religiosa e de gênero amplia 
os horizontes da educação e possibilita a construção de uma escola mais democrática 
e acolhedora. A pedagogia da diversidade não nega os conflitos, mas propõe o diálogo 
como caminho para a convivência ética. 
As relações sociais que atravessam a escola também são marcadas por 
disputas de poder, preconceitos e desigualdades. A questão racial, por exemplo, revela 
como a escola pode reproduzir práticas discriminatórias ao invisibilizar a história e a 
cultura afro-brasileira e indígena. A Lei 10.639/03, ao tornar obrigatório o ensino da 
história e cultura africana e afro-brasileira, busca corrigir essa lacuna e promover uma 
educação antirracista. 
A perspectiva de gênero na educação é igualmente importante. O sexismo 
ainda persiste em práticas pedagógicas, materiais didáticos e expectativas sociais que 
naturalizam papéis de gênero desiguais. Uma educação comprometida com a 
equidade precisa questionar essas normativas, desconstruir estereótipos e promover a 
igualdade de direitos e oportunidades entre meninas e meninos. 
A escola, enquanto espaço de socialização secundária, complementa e 
transforma os valores aprendidos na família e na comunidade. Ela pode ampliar 
horizontes, promover o respeito às diferenças e estimular a reflexão crítica. Para isso, 
é preciso romper com modelos autoritários e disciplinadores, abrindo espaço para o 
diálogo, a escuta e a participação dos estudantes. 
A participação da comunidade na vida escolar é um fator decisivo para o 
sucesso das práticas pedagógicas. O vínculo entre escola e território fortalece os laços 
de pertencimento e permite que o currículo dialogue com as realidades locais, 
tornando a aprendizagem mais significativa e contextualizada. 
O currículo, nesse contexto, deixa de ser um conjunto de conteúdos 
estanques e passa a ser um projeto político-cultural. Ele expressa visões de mundo, 
 
 
 
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escolhas éticas e compromissos sociais. Um currículo crítico e emancipador valoriza o 
saber da experiência, integra as vozes silenciadas e promove a justiça cognitiva. 
A sociologia da educação também convida à análise das políticas públicas 
educacionais. As decisões sobre financiamento, gestão, avaliação e currículo não são 
técnicas, mas políticas. Elas refletem disputas ideológicas e interesses diversos, e têm 
impacto direto na qualidade, na equidade e na democratização da educação. 
A escola pública, nesse cenário, precisa ser defendida como espaço de 
inclusão, de resistência e de produção de conhecimento. Garantir o direito à educação 
de qualidade para todos é um dever do Estado e um compromisso ético da sociedade. 
O educador, por sua vez, é agente fundamental nesse processo, como sujeito político e 
cultural. 
A análise das relações entre educação e sociedade evidencia que a escola 
pode tanto reproduzir quanto transformar as estruturas sociais. Seu potencial 
emancipador depende da consciência crítica dos educadores, da valorização da cultura 
popular, da escuta ativa e da criação de práticas pedagógicas inclusivas e 
participativas. 
Conclui-se que os fundamentos sociais da educação são indispensáveis para 
compreender a escola como instituição complexa, situada historicamente e permeada 
por tensões. Ao reconhecer essas tensões e ao assumir uma postura crítica e 
propositiva, o educador contribui para a construção de uma sociedade mais justa, 
plural e democrática. 
A escola também pode ser compreendida como um espaço de produção 
simbólica, onde os significados sobre o mundo, o saber e as identidades são 
constantemente negociados, reforçados ou transformados. Nessa perspectiva, ela não 
é apenas um local de reprodução social, mas também um campo cultural dinâmico, 
onde diferentes vozes, saberes e experiências se entrecruzam, se confrontam e se 
ressignificam. A educação, portanto, não apenas transmite cultura, mas a produz 
ativamente. 
Nesse processo, a mídia, as redes sociais e os dispositivos digitais tornaram-se 
elementos constitutivos da vida social e, consequentemente, da experiência escolar. A 
cultura digital influencia o modo como os estudantes aprendem, se comunicam e 
interagem com o conhecimento. A escola precisa dialogar com essas transformações, 
 
 
 
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incorporando criticamente as tecnologias ao seu cotidiano e problematizando os 
impactos que elas provocam na subjetividade, na linguagem e nas formas de 
sociabilidade. 
O conceito de currículo oculto também se insere nesse debate sociológico. Ele 
diz respeito aos valores, normas, atitudes e expectativas que são ensinados 
implicitamente nas interações escolares, mesmo que não estejam formalizados nos 
documentos oficiais. O currículo oculto pode reforçar preconceitos, estereótipos e 
desigualdades, mas também pode ser desconstruído por meio de práticas pedagógicas 
conscientes e críticas. 
As políticas de ações afirmativas, como as cotas raciais e sociais nas 
universidades públicas, têm contribuído para democratizar o acesso ao ensino superior 
e para reconhecer a diversidade como valor educativo. Essas políticas também 
provocam a escola básica a repensar seus objetivos, seus conteúdos e suas 
metodologias, para que possam atender, de forma equitativa, aos diferentes grupos 
sociais que compõem a população estudantil. 
O papel da escola na formação da cidadania crítica é outro aspecto relevante 
dos fundamentos sociais da educação. Não se trata apenas de formar indivíduos para o 
mercado de trabalho, mas de formar sujeitos capazes de compreender a realidade, 
intervir nela e participar ativamente da vida pública. Isso exige o desenvolvimento de 
competências éticas, políticas e comunicativas, que permitam aos estudantes tomar 
decisões conscientes e dialogar com diferentes pontos de vista. 
A educação para os direitos humanos é uma proposta pedagógica alinhada a 
essa perspectiva crítica. Ela busca promover o respeito à dignidade humana, à 
diversidade e à justiça social, valorizando a cultura da paz, da solidariedade e da 
inclusão. Para isso, é necessário que o currículo contemple temas transversais como 
gênero, raça, meio ambiente, participação social e ética, possibilitando a reflexão 
sobre os desafios do mundo contemporâneo. 
O território onde a escola está inserida influencia diretamente as 
possibilidades educativas. Escolas localizadas em áreas com baixos índices de 
desenvolvimento humano enfrentam desafios adicionais, como insegurança, falta de 
infraestrutura, ausência de políticas públicas integradas e dificuldades de acesso à 
 
 
 
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cultura e ao lazer. Reconhecer essas condições é fundamental para que as políticas 
educacionais sejam planejadas com justiça territorial e sensibilidade social. 
As desigualdades educacionais não podem ser compreendidas de forma 
isolada, desvinculadas das desigualdades sociais mais amplas que estruturam a 
sociedade brasileira. A escola, inserida nesse contexto, reflete as contradiçõesdo 
sistema capitalista, no qual o acesso ao conhecimento se dá de forma desigual e 
hierarquizada. A superação desse quadro exige uma atuação articulada entre políticas 
públicas efetivas e práticas pedagógicas críticas que enfrentem as raízes estruturais da 
exclusão. 
As lógicas meritocráticas ainda predominam em muitas abordagens 
educacionais, mesmo quando mascaradas por discursos de excelência ou inovação. Ao 
desconsiderar os contextos sociais, culturais e econômicos dos estudantes, esse 
modelo reforça a ideia de que o sucesso depende apenas do esforço individual, 
desresponsabilizando o Estado e a sociedade pela garantia de condições equânimes de 
aprendizagem. Questionar esse modelo é essencial para avançar em direção a uma 
educação verdadeiramente democrática. 
A escola é também um espaço de produção e disseminação de memórias 
coletivas. Por meio dos conteúdos que escolhe ensinar, das vozes que privilegia ou 
silencia e das interpretações que adota sobre os fatos históricos e culturais, ela 
constrói narrativas sobre a sociedade, a identidade nacional e os sujeitos que a 
compõem. A seleção de saberes e de referências culturais, portanto, deve ser feita 
com consciência crítica e compromisso com a pluralidade. 
Nesse sentido, uma perspectiva sociológica crítica da educação convida os 
educadores a pensar a escola não apenas como instituição de ensino, mas como 
ambiente de transformação cultural e social. Essa visão amplia o papel do professor, 
que deixa de ser mero transmissor de conteúdos e passa a ser também um agente 
político, um mediador de culturas e um facilitador de processos que promovam justiça 
social e emancipação humana. 
Por fim, é preciso reafirmar a importância de uma escola comprometida com a 
construção de laços comunitários, com o fortalecimento das identidades locais e com o 
reconhecimento das múltiplas formas de saber que circulam nos territórios populares. 
 
 
 
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AULA 6 – POLÍTICAS PÚBLICAS, DESIGUALDADES E INCLUSÃO ESCOLAR 
 
As políticas públicas educacionais constituem um dos principais mecanismos 
de organização e regulação do sistema de ensino em uma sociedade democrática. Elas 
expressam escolhas éticas, políticas e econômicas que refletem os projetos de 
sociedade em disputa e revelam as intenções do Estado diante das necessidades 
coletivas. Analisar essas políticas é fundamental para compreender os rumos da 
educação e as possibilidades de enfrentamento das desigualdades. 
As políticas públicas educacionais são construídas em contextos de correlação 
de forças, sendo marcadas por tensões, avanços e retrocessos. Elas resultam de 
decisões governamentais, mas também da pressão de movimentos sociais, sindicatos, 
universidades, organizações da sociedade civil e de setores econômicos que disputam 
seus interesses na arena política. 
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 representou um marco na história 
das políticas educacionais ao afirmar a educação como direito de todos e dever do 
Estado e da família, sendo promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. 
Essa concepção rompe com visões assistencialistas e afirma a educação como um bem 
público, universal e inalienável. 
A partir da Constituição, diversas legislações e diretrizes foram instituídas com 
o objetivo de assegurar a democratização do acesso, a qualidade do ensino e a 
valorização dos profissionais da educação. Entre essas, destacam-se a Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação Nacional (LDB), o Plano Nacional de Educação (PNE) e as 
Diretrizes Curriculares Nacionais. 
A LDB, promulgada em 1996, estabelece as bases legais para a organização da 
educação nacional, definindo os princípios, os níveis e as modalidades de ensino, além 
das competências dos entes federativos. Ela reconhece a diversidade como um valor e 
orienta a inclusão, a gestão democrática e a autonomia pedagógica das escolas. 
O Plano Nacional de Educação, por sua vez, é um instrumento de 
planejamento estratégico que define metas e estratégias para um período de dez 
anos. O PNE 2014-2024 estabelece 20 metas voltadas à universalização da educação 
básica, ampliação da educação em tempo integral, inclusão de pessoas com 
 
 
 
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deficiência, valorização docente, financiamento adequado, entre outros objetivos 
prioritários. 
Apesar dos avanços legais, a realidade educacional brasileira ainda é marcada 
por profundas desigualdades. A distribuição desigual de recursos, a precariedade da 
infraestrutura escolar, a rotatividade docente, as altas taxas de evasão e a exclusão de 
grupos historicamente marginalizados são desafios persistentes que limitam o direito à 
educação de qualidade. 
A desigualdade educacional se expressa em múltiplas dimensões: 
socioeconômica, racial, de gênero, regional e territorial. Crianças e adolescentes 
negras, indígenas, quilombolas, de comunidades ribeirinhas, de zonas rurais ou 
faveladas enfrentam maiores obstáculos para permanecer e ter sucesso na escola. A 
equidade, portanto, exige políticas específicas de reparação, reconhecimento e 
redistribuição. 
A inclusão escolar é uma resposta ética e política às desigualdades estruturais 
que atravessam o sistema educacional. Ela não se limita à presença física dos 
estudantes nas salas de aula, mas implica garantir condições reais de aprendizagem, 
participação e pertencimento. A inclusão exige mudanças nos currículos, nas 
metodologias, na formação docente e nas concepções de diferença. 
A educação inclusiva reconhece a diversidade como condição da existência 
humana e valoriza as singularidades dos sujeitos. Ela rompe com lógicas 
homogeneizadoras e segregadoras, propondo um modelo educacional que acolhe e 
respeita as diferentes formas de aprender, de se expressar e de participar da vida 
escolar. 
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 
instituída em 2008, orienta a garantia de uma escola comum para todos, com apoio de 
profissionais especializados, recursos multifuncionais e práticas pedagógicas 
acessíveis. Essa política baseia-se no paradigma dos direitos humanos e na concepção 
de educação como prática social transformadora. 
A inclusão de estudantes com deficiência, transtornos globais do 
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação é um direito previsto na legislação 
brasileira e internacional, como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com 
 
 
 
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Deficiência e o Estatuto da Criança e do Adolescente. No entanto, sua efetivação ainda 
enfrenta resistências, preconceitos e lacunas na formação docente. 
A formação de professores é elemento central para a efetivação da inclusão 
escolar. É necessário garantir formação inicial e continuada que desenvolva 
competências teóricas, práticas e éticas para lidar com a diversidade, promover 
acessibilidade e construir ambientes escolares acolhedores e desafiadores. A ausência 
dessa formação compromete a qualidade do ensino e reforça as barreiras à 
aprendizagem. 
As políticas públicas voltadas à equidade devem articular educação, 
assistência social, saúde e cultura, considerando as múltiplas vulnerabilidades que 
afetam o percurso escolar dos estudantes. A intersetorialidade é uma estratégia que 
reconhece a complexidade das demandas e promove ações integradas e sustentáveis. 
A gestão democrática é outra dimensão fundamental das políticas 
educacionais inclusivas. Envolve a participação da comunidade escolar na definição de 
prioridades, no acompanhamento das ações e na avaliação dos resultados. O Conselho 
Escolar, o Projeto Político-Pedagógico e os Fóruns de Educação são instrumentos de 
democratização e de fortalecimento da cidadania. 
O financiamento da educação pública é condição indispensável para a 
universalização do acesso e a garantia da qualidade. A Emenda Constitucional nº 95, 
que congelou os investimentos em políticas sociais por 20 anos, representa uma 
ameaça à efetivação das metas do PNEe ao direito à educação. A luta por mais 
recursos e por uma distribuição justa é parte do compromisso ético do educador. 
As avaliações em larga escala, como a Prova Brasil, o ENEM e o IDEB, 
tornaram-se ferramentas de monitoramento das políticas públicas, mas também são 
alvo de críticas por reforçarem uma lógica classificatória, excludente e 
descontextualizada. Avaliar é importante, mas é preciso considerar os contextos e as 
singularidades de cada escola e de cada estudante. 
A construção de políticas públicas educacionais eficazes e justas exige a escuta 
das vozes que historicamente foram silenciadas. Estudantes, famílias, educadores, 
movimentos sociais e comunidades locais devem ser protagonistas do processo de 
elaboração, implementação e avaliação das políticas. A educação democrática se 
constrói com diálogo, participação e corresponsabilidade. 
 
 
 
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O educador, nesse cenário, é sujeito político que precisa conhecer, interpretar 
e intervir nas políticas educacionais. Sua atuação vai além da sala de aula: ele participa 
dos conselhos escolares, articula-se com movimentos sociais, mobiliza a comunidade e 
contribui para a formulação de propostas que expressem os interesses das classes 
populares. 
A escola pública deve ser espaço de formação humana, de exercício da 
cidadania e de luta por direitos. Ela precisa reconhecer os estudantes como sujeitos 
históricos e a educação como prática transformadora. Isso exige um projeto 
pedagógico comprometido com a justiça social, com a valorização da diversidade e 
com a superação das desigualdades. 
A inclusão escolar, portanto, não é um favor nem uma concessão, mas um 
direito. Ela não pode ser condicionada à capacidade da escola ou à disposição do 
professor. É o sistema educacional que deve se transformar para acolher e garantir 
aprendizagem a todos os estudantes, respeitando suas singularidades e 
potencialidades. 
A concepção de educação como direito humano implica compromisso com a 
dignidade, a liberdade e a justiça. As políticas públicas devem expressar esse 
compromisso, criando condições para que todas as crianças, adolescentes, jovens e 
adultos tenham acesso ao conhecimento, ao diálogo e à construção de novos mundos 
possíveis. 
Conclui-se que as políticas educacionais voltadas à inclusão e à superação das 
desigualdades são fundamentais para a construção de uma sociedade democrática, 
plural e solidária. Cabe aos educadores, gestores e à comunidade escolar o papel de 
zelar por sua efetivação, mantendo vivo o horizonte ético de uma educação pública, 
gratuita, laica, inclusiva e de qualidade social para todos. 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
 
A reflexão sobre os fundamentos da educação é um exercício permanente de 
análise crítica, revisão de práticas e ressignificação dos propósitos formativos. Ao 
longo desta apostila, foi possível perceber como a filosofia, a psicologia e a sociologia 
oferecem contribuições indispensáveis para que o educador compreenda a 
complexidade do fenômeno educativo e atue de forma ética, consciente e 
transformadora. 
A filosofia nos ajuda a questionar os fins da educação, a refletir sobre os 
valores que orientam a prática pedagógica e a construir um projeto educacional que 
respeite a dignidade humana. Ela nos ensina a pensar com profundidade, a resistir à 
superficialidade e a cultivar o espírito crítico como princípio formativo essencial. 
A psicologia nos aproxima do sujeito que aprende, revelando sua dimensão 
afetiva, cognitiva e social. Por meio dela, compreendemos os diferentes ritmos de 
desenvolvimento, os estilos de aprendizagem e os fatores que influenciam o 
desempenho escolar. Ela nos convida a ver o aluno em sua inteireza e a acolher sua 
singularidade como ponto de partida para o processo educativo. 
A sociologia, por sua vez, desvela as relações de poder, as desigualdades e as 
estruturas sociais que permeiam a escola e a educação como um todo. Ela nos provoca 
a pensar a escola como espaço de disputa, de reprodução e de resistência, alertando 
para a necessidade de práticas pedagógicas que combatam a exclusão e promovam a 
justiça social. 
Juntas, essas três áreas do conhecimento formam um campo interdisciplinar 
que fundamenta a ação educativa e qualifica a formação docente. Elas não se opõem, 
mas se complementam, oferecendo um olhar amplo e sensível sobre os desafios que 
se colocam à educação no século XXI. 
Vivemos tempos de incertezas, de múltiplas crises e de profundas 
transformações sociais. Diante disso, a escola precisa se fortalecer como espaço de 
diálogo, de escuta e de acolhimento. Mais do que nunca, é necessário formar sujeitos 
 
 
 
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críticos, solidários e comprometidos com a construção de um mundo mais justo e 
humano. 
A prática pedagógica não é neutra. Ela expressa concepções de mundo, de ser 
humano e de sociedade. Por isso, é fundamental que os educadores se apropriem dos 
fundamentos da educação e os utilizem como instrumentos de análise e de 
intervenção na realidade escolar. Somente assim é possível construir uma prática 
coerente, reflexiva e ética. 
A filosofia oferece os alicerces para pensar a educação em sua dimensão ética, 
política e existencial. Ela nos ensina que educar é, antes de tudo, cuidar do outro, 
respeitar sua autonomia e criar condições para que ele possa se desenvolver 
plenamente. O educador, nesse sentido, é um agente de sentido e de transformação. 
A psicologia revela que o aprender está profundamente relacionado ao sentir. 
A aprendizagem ocorre quando há vínculo, quando o estudante se sente reconhecido 
e valorizado. Isso exige sensibilidade do professor, capacidade de escuta e disposição 
para construir relações humanas baseadas na confiança e no respeito mútuo. 
A sociologia, por sua vez, alerta para os determinantes sociais que influenciam 
o desempenho escolar. Ela nos mostra que não há fracasso individual, mas sim 
desigualdades estruturais que dificultam o acesso ao conhecimento e à permanência 
na escola. O professor, ao compreender essa realidade, pode agir com mais empatia e 
com mais intencionalidade pedagógica. 
Educar é um ato político, no sentido mais profundo do termo. É escolher um 
projeto de sociedade e trabalhar cotidianamente para que ele se concretize. É afirmar 
a dignidade de cada ser humano e recusar toda forma de opressão, discriminação ou 
exclusão. É construir, com os estudantes, caminhos de libertação e de esperança. 
O educador é, por excelência, um agente de transformação social. Sua missão 
não se limita à transmissão de conteúdos, mas inclui a formação de consciências, o 
fortalecimento de vínculos e o incentivo à participação ativa na vida social. Para 
cumprir essa missão, ele precisa estar bem fundamentado teoricamente e 
comprometido eticamente com seu papel. 
A educação precisa ser reinventada a cada dia, com base nos desafios 
concretos que se apresentam na escola e na sociedade. Isso exige do professor a 
capacidade de refletir sobre sua prática, de aprender com a experiência e de construir 
 
 
 
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coletivamente novas possibilidades pedagógicas. A teoria, nesse contexto, não é algo 
distante da realidade, mas um instrumento de transformação. 
O educador bem fundamentado é aquele que se recusa a agir de forma 
automática ou conformista. Ele problematiza, questiona, investiga e busca 
alternativas. Ele reconhece que cada sala de aula é um espaço singular, repleto de 
desafios, mas também de possibilidades. Ele acredita no poder da educação de 
transformar vidas e comunidades. 
Por isso, estudar os fundamentos da educação não é uma tarefa secundária 
ou teórica demais. É um ato de responsabilidade, de comprometimento com a 
profissão docente e com os estudantes. É uma forma de fortalecer a prática 
pedagógica e de dar sentido àquilo que se faz todos os dias na escola. 
A formação docente deve valorizar a pesquisa, o diálogo e o pensamento 
crítico. Os professoresprecisam ser intelectuais reflexivos, capazes de articular teoria e 
prática, de ler a realidade com profundidade e de atuar de forma criativa e ética. A 
docência é uma prática complexa, que requer conhecimento, sensibilidade e paixão. 
A paixão pela educação nasce do encontro com o outro, da experiência de ver 
um estudante crescer, superar limites e descobrir novos horizontes. Ela se renova a 
cada conquista, a cada desafio superado, a cada pergunta que provoca reflexão. O 
professor é, antes de tudo, um semeador de possibilidades. 
A educação é um direito de todos e um bem público essencial para a 
construção da cidadania. Garantir esse direito exige investimento, valorização docente, 
políticas públicas eficazes e compromisso social. Mas também exige um olhar atento 
para cada estudante, para cada história, para cada potencial. 
Ao finalizar esta apostila, reafirma-se a importância de uma formação docente 
pautada no diálogo entre filosofia, psicologia e sociologia. Essa formação permite 
compreender o fenômeno educativo em sua totalidade e atuar de forma mais 
consciente, crítica e sensível. É dessa formação que depende, em grande parte, a 
qualidade da educação oferecida. 
Que este material possa contribuir para o fortalecimento de práticas 
pedagógicas mais reflexivas, mais humanas e mais comprometidas com a 
transformação social. Que ele inspire professores e professoras a continuarem sua 
 
 
 
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caminhada com coragem, com esperança e com a certeza de que educar é, sempre, 
um ato de amor e de resistência. 
A realidade educacional brasileira apresenta inúmeros desafios que exigem 
um olhar crítico e fundamentado por parte dos profissionais da educação. A formação 
docente que ignora os fundamentos da educação corre o risco de se perder em 
soluções imediatistas e tecnicistas, incapazes de dar conta da complexidade do 
cotidiano escolar. Por isso, reafirma-se a necessidade de uma base teórica sólida que 
permita compreender o educador como um agente intelectual e transformador da 
realidade. 
Os fundamentos filosóficos, psicológicos e sociais da educação funcionam 
como lentes que ajudam a enxergar além da superfície das práticas pedagógicas. Eles 
não oferecem receitas prontas, mas fornecem critérios de análise e pistas para a 
construção de práticas educativas mais humanas, contextualizadas e comprometidas 
com a transformação da sociedade. Nesse sentido, o ato de educar não pode ser 
reduzido a técnicas ou procedimentos; ele deve ser pensado como uma prática ética e 
historicamente situada. 
A construção de uma escola mais democrática e inclusiva depende da 
capacidade dos educadores de compreenderem o papel que ocupam na sociedade e 
os efeitos de suas práticas. Isso exige sensibilidade para as múltiplas realidades dos 
alunos, consciência das estruturas de poder que atravessam a escola e disposição para 
construir coletivamente caminhos mais justos e igualitários. A reflexão teórica não é 
um luxo acadêmico, mas uma condição para a emancipação pedagógica. 
Os desafios do presente, como a crise ambiental, a desigualdade social, a 
violência estrutural e a banalização da vida, impõem à educação uma tarefa urgente 
de reinvenção. A escola precisa preparar os sujeitos não apenas para o trabalho ou 
para a cidadania formal, mas para a vida em todas as suas dimensões. Isso inclui o 
desenvolvimento da sensibilidade, da capacidade de diálogo, da empatia e da abertura 
ao diferente. 
Ao integrar filosofia, psicologia e sociologia, o educador amplia sua 
compreensão da aprendizagem, das relações humanas e do papel da escola. Essa visão 
ampliada permite enfrentar de forma mais consciente as tensões e os dilemas que 
marcam o cotidiano escolar, abrindo espaço para práticas pedagógicas mais reflexivas, 
 
 
 
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éticas e transformadoras. A formação docente, nesse modelo, deixa de ser centrada 
apenas em conteúdos e técnicas, e passa a valorizar a escuta, a criticidade e a 
construção coletiva do conhecimento. 
É preciso cultivar entre os educadores uma postura investigativa permanente, 
que se traduza em vontade de compreender o mundo e de agir sobre ele. A docência 
deve ser entendida como um processo contínuo de formação, no qual o professor 
também aprende, duvida, questiona e se transforma. Ao assumir essa postura, o 
educador contribui não apenas com a aprendizagem dos seus alunos, mas com a 
construção de uma escola mais viva, sensível e conectada às urgências do tempo 
presente. 
O reconhecimento da escola como um espaço de mediação cultural e de 
construção de significados exige uma abordagem pedagógica que dialogue com os 
saberes dos estudantes, respeite seus contextos e estimule sua autonomia intelectual. 
A educação só será significativa quando for capaz de conectar o saber escolar com a 
vida concreta dos sujeitos, valorizando suas vozes, seus repertórios e suas histórias. 
O conhecimento crítico dos fundamentos da educação também fortalece a 
resistência frente às ameaças à escola pública, à liberdade de cátedra e ao direito à 
educação. Em um cenário de desvalorização dos profissionais da educação e de 
políticas que desrespeitam os princípios democráticos, o compromisso com os 
fundamentos torna-se uma forma de resistência ética e política em defesa da 
dignidade humana e da justiça social. 
Reafirmar os fundamentos filosóficos, psicológicos e sociais da educação é 
também uma maneira de recuperar o sentido da escola como espaço de criação, de 
afetos e de esperança. Em meio ao desencanto e à fragmentação da vida 
contemporânea, educar é, mais do que nunca, um gesto de cuidado com o outro e 
com o futuro coletivo. Por isso, é preciso cultivar práticas que promovam vínculos, que 
despertem o desejo de aprender e que celebrem a beleza da convivência humana. 
A escola pode ser, e deve ser, um território de liberdade e de reinvenção. Para 
isso, é necessário que seus profissionais estejam preparados para lidar com a 
incerteza, com a diversidade e com a complexidade. O estudo dos fundamentos é uma 
bússola que orienta o educador na travessia dos desafios diários, ajudando-o a 
 
 
 
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construir sentido em meio ao caos e a reafirmar, a cada dia, a potência transformadora 
da educação. 
Assim, a conclusão não marca o fim do percurso, mas o início de um novo 
momento de aprofundamento, prática e ressignificação. Que os fundamentos aqui 
apresentados inspirem os educadores a seguirem em movimento, com olhos atentos 
ao mundo, com escuta aberta ao outro e com o compromisso inabalável de formar 
sujeitos capazes de pensar, sentir e transformar a realidade em direção a mais justiça, 
mais dignidade e mais humanidade. 
A formação de educadores comprometidos com uma prática transformadora 
depende da valorização da escuta como elemento estruturante da ação pedagógica. 
Escutar é mais do que ouvir — é reconhecer no outro um sujeito de saberes, de 
desejos e de histórias. Nesse sentido, a escuta pedagógica é também um ato político, 
pois se contrapõe às lógicas autoritárias que historicamente silenciaram vozes 
dissonantes no espaço escolar. 
Além disso, compreender os fundamentos da educação é fundamental para 
que o educador possa atuar com responsabilidade frente aos múltiplos desafios éticos 
que emergem na vida escolar. Questões como o preconceito, a exclusão, a 
medicalização da infância e a desvalorização da diversidade exigem um olhar atento, 
sustentado por valores de justiça, equidade e solidariedade, que se constroem na 
articulação entre teoria e prática. 
A valorização do coletivo, da construção partilhada do saber e da 
corresponsabilidade na gestão do conhecimento são princípios que devem orientar o 
trabalho pedagógico e a organização da escola. A formação docente, nesse horizonte, 
não se encerra nos muros da universidade ou nos documentos curriculares, mas se 
constrói na vivência, no diálogo e na experiência histórica dos profissionais que fazemda educação um compromisso vital. 
Por fim, é necessário reafirmar que a educação não se limita a preparar para o 
futuro, mas é também um exercício de presença. Ela ocorre no agora, nas relações 
cotidianas, nas escolhas éticas que fazemos ao interagir com nossos estudantes, ao 
planejar uma aula ou ao decidir o que ensinar e como ensinar. Educar, nesse sentido, é 
habitar o presente com consciência crítica, sensibilidade e compromisso com a 
construção de um mundo mais justo e humano. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Janeiro: Graal, 1985. 
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sistema de ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992. 
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2002. 
 
 
 
 
 
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	INTRODUÇÃO
	AULA 1. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO: DA GRÉCIA ANTIGA AO ILUMINISMO
	AULA 2. TEORIAS FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS E A EDUCAÇÃO
	AULA 3. FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO: DO BEHAVIORISMO À PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL
	AULA 4. O SUJEITO DA APRENDIZAGEM: DESENVOLVIMENTO HUMANO, COGNIÇÃO E AFETIVIDADE
	AULA 5. FUNDAMENTOS SOCIAIS DA EDUCAÇÃO: ESCOLA, CULTURA E SOCIEDADE
	AULA 6 – POLÍTICAS PÚBLICAS, DESIGUALDADES E INCLUSÃO ESCOLAR
	CONCLUSÃO
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASprofissionais da educação em geral que desejam aprofundar seus 
conhecimentos sobre os princípios que sustentam a prática educativa. O objetivo é 
oferecer um panorama articulado e crítico das principais correntes, autores e 
conceitos que compõem o campo dos fundamentos da educação. 
 
 
 
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Nos capítulos seguintes, o leitor encontrará uma abordagem detalhada dos 
fundamentos filosóficos, com destaque para a tradição clássica, a modernidade e o 
pensamento crítico contemporâneo. Em seguida, serão tratados os principais 
referenciais psicológicos e suas implicações pedagógicas, bem como os determinantes 
sociais da educação e os debates sobre inclusão, desigualdade e políticas públicas. 
A expectativa é que, ao final da leitura, o leitor seja capaz de reconhecer a 
importância dos fundamentos teóricos para a prática educativa, compreendendo que 
ensinar não é apenas transmitir conteúdos, mas atuar de forma consciente, crítica e 
ética na formação de sujeitos autônomos e comprometidos com a transformação 
social. 
A concepção de educação como um processo político e ético é central para a 
análise dos seus fundamentos. Nenhuma prática pedagógica é neutra: ela sempre 
expressa valores, interesses e concepções de mundo. Por isso, é essencial que o 
educador tenha clareza sobre os fundamentos que orientam suas ações e decisões no 
cotidiano escolar. 
A relação entre teoria e prática é uma das chaves para compreender a 
importância dos fundamentos. A prática pedagógica, para ser significativa, deve estar 
embasada em teorias consistentes que ajudem o educador a interpretar a realidade, 
planejar intervenções e avaliar os resultados de forma crítica e reflexiva. 
É comum que se critique o distanciamento entre a teoria aprendida nos 
cursos de formação e a realidade vivida nas escolas. No entanto, essa aparente 
distância pode ser superada quando os fundamentos são compreendidos como 
instrumentos para ler, problematizar e transformar a prática, e não como saberes 
abstratos e descolados da vida cotidiana. 
A educação, enquanto fenômeno humano, é histórica, social e culturalmente 
situada. Isso significa que seus fundamentos variam conforme o tempo, o espaço e as 
condições materiais e simbólicas de uma sociedade. Compreender essa historicidade é 
essencial para evitar visões naturalizadas ou essencialistas da prática educativa. 
No campo filosófico, a educação é compreendida como um processo de 
formação integral do ser humano, orientado por princípios éticos e políticos. A filosofia 
ajuda a pensar sobre o sentido da vida, o valor do conhecimento, a função social da 
escola e a construção de uma sociedade mais justa e democrática. 
 
 
 
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A filosofia da educação não oferece respostas prontas, mas provoca o 
pensamento, estimula o questionamento e amplia o horizonte de possibilidades para a 
prática pedagógica. Ela é, portanto, uma ferramenta de liberdade e autonomia, ao 
passo que nos convida a pensar criticamente sobre nossas escolhas e 
responsabilidades como educadores. 
Já a psicologia contribui para a compreensão dos processos internos do 
sujeito, oferecendo pistas sobre como ele aprende, sente, reage, desenvolve-se e se 
relaciona. Essa dimensão é crucial para criar estratégias pedagógicas que respeitem os 
ritmos individuais, promovam a autoestima e fortaleçam a construção do 
conhecimento de forma ativa e significativa. 
A psicologia da educação valoriza o desenvolvimento integral do aluno, 
incluindo aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Ao considerar o sujeito em sua 
totalidade, o educador pode planejar atividades mais inclusivas, que favoreçam o 
engajamento, a cooperação e o desenvolvimento das múltiplas inteligências. 
No plano social, a educação é um reflexo das estruturas de poder, das 
relações de classe, das desigualdades históricas e das lutas por emancipação. A 
sociologia da educação permite enxergar a escola como uma instituição situada em um 
contexto de tensões e conflitos, mas também de possibilidades de transformação. 
A análise sociológica mostra que a escola pode tanto reproduzir 
desigualdades quanto se tornar espaço de resistência e mudança. Essa ambivalência 
exige do educador uma postura crítica, capaz de identificar as opressões estruturais e 
de construir práticas pedagógicas que afirmem os direitos humanos, a diversidade e a 
justiça social. 
As políticas públicas educacionais, por sua vez, são produtos de disputas 
ideológicas e econômicas. A forma como se organiza o sistema educacional, os 
currículos, a formação docente e os investimentos na educação expressam as 
prioridades de um projeto de sociedade. Compreender os fundamentos dessas 
políticas é essencial para avaliar suas implicações e propor alternativas. 
A formação docente que ignora os fundamentos teóricos da educação corre o 
risco de se tornar tecnicista, acrítica e reprodutora de práticas desumanizadoras. Por 
outro lado, uma formação que valoriza a reflexão filosófica, a compreensão psicológica 
 
 
 
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e a análise sociológica tende a formar professores mais preparados para lidar com a 
complexidade da sala de aula. 
A educação, quando compreendida em sua totalidade, ultrapassa os limites 
da sala de aula e se inscreve na vida, na cultura e na história dos sujeitos. É nesse 
sentido que os fundamentos teóricos devem ser apropriados como instrumentos de 
leitura crítica da realidade, para que o educador possa construir práticas 
transformadoras e comprometidas com a formação humana. 
Os fundamentos filosóficos convidam à reflexão sobre a natureza do 
conhecimento, os valores que norteiam a formação e o papel da escola na sociedade. 
Já os fundamentos psicológicos abordam os modos como os indivíduos aprendem e se 
desenvolvem, considerando as condições subjetivas e afetivas do processo educativo. 
Por fim, os fundamentos sociais examinam a relação entre educação e estrutura social, 
revelando os condicionamentos históricos e culturais da prática pedagógica. 
Compreender esses fundamentos é também uma forma de resistir à 
fragmentação do saber e à instrumentalização da educação. Num mundo marcado por 
crises econômicas, políticas e ambientais, torna-se ainda mais urgente uma formação 
que valorize a reflexão crítica, a empatia e o compromisso ético com a transformação 
social. 
A interdisciplinaridade entre filosofia, psicologia e sociologia contribui para 
uma visão integral e humanizadora da educação. Essa articulação rompe com visões 
reducionistas e permite ao educador atuar de forma mais consciente e intencional, 
promovendo aprendizagens significativas e relações pedagógicas baseadas no 
respeito, na escuta e na colaboração. 
A construção de uma pedagogia crítica e emancipadora depende, em grande 
medida, do aprofundamento nos fundamentos da educação. Não se trata de acumular 
teorias, mas de incorporá-las à prática de modo criativo, dialógico e situado, 
reconhecendo que o conhecimento é sempre provisório, contextualizado e aberto à 
transformação. 
Este material convida à leitura atenta, à reflexão profunda e ao diálogo com a 
própria experiência. Cada conceito aqui apresentado deverá ser confrontado com a 
prática pedagógica cotidiana, sendo reinterpretado à luz das realidades vividas nas 
escolas, das relações com os estudantes e dos desafios da docência. 
 
 
 
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A aposta nos fundamentos da educação é uma aposta na formação de 
educadores pensantes, autônomos e comprometidos com a dignidade humana. Em 
tempos de desvalorização da ciência, do pensamento crítico e da escola pública, 
reafirmar a importância da filosofia, da psicologia e da sociologia da educação é um 
ato político de resistência e esperança. 
Ao compreender os fundamentos da educação, é igualmente importante 
considerar a historicidade da prática docente e da constituição do papel do professor 
na sociedade. A figura do educador, ao longo da história, passou de transmissor de 
dogmas paramediador do conhecimento, e hoje assume o papel de intelectual 
reflexivo, capaz de interpretar a realidade e agir sobre ela. Essa mudança é 
consequência direta das transformações filosóficas, psicológicas e sociais que 
redefiniram as bases da pedagogia moderna e contemporânea. 
O educador contemporâneo é desafiado a atuar em contextos marcados pela 
diversidade cultural, desigualdades estruturais e demandas pedagógicas complexas. 
Nesse cenário, os fundamentos filosóficos, psicológicos e sociais da educação 
oferecem ferramentas teóricas e metodológicas para interpretar esses contextos e 
propor práticas pedagógicas coerentes, críticas e inclusivas. Trata-se de reconhecer 
que a sala de aula é um microcosmo da sociedade e, portanto, exige do educador 
sensibilidade política, empatia e capacidade de mediação ética. 
Outro aspecto fundamental da abordagem interdisciplinar proposta nesta 
apostila é a valorização da práxis, entendida como a articulação entre teoria e prática, 
entre reflexão e ação. A formação docente, quando ancorada em fundamentos sólidos, 
permite que o professor atue com intencionalidade pedagógica, consciente das 
implicações de suas escolhas e das possibilidades de transformação social que a 
educação pode promover. A práxis, nesse sentido, não é mera aplicação de conteúdos, 
mas um exercício constante de análise crítica da realidade. 
A abordagem dos fundamentos também contribui para que se supere a 
dicotomia entre o técnico e o humanista, entre o conteúdo e a formação ética. A 
educação integral, que considera o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e ético 
do estudante, só é possível quando se compreende o ser humano em sua totalidade. 
 
 
 
 
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AULA 1. FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO: DA GRÉCIA ANTIGA 
AO ILUMINISMO 
 
A filosofia da educação tem suas raízes mais antigas na Grécia Clássica, onde 
surgiram as primeiras reflexões sistemáticas sobre o saber, a formação do indivíduo e 
o papel da educação na construção da polis. Desde então, a filosofia se consolidou 
como uma base essencial para pensar os fins e os meios da prática educativa. Ao 
propor uma análise crítica sobre os valores, os objetivos e os métodos do ato de 
educar, a filosofia contribui para uma pedagogia mais consciente, ética e reflexiva. 
Na Grécia Antiga, destacam-se três grandes pensadores: Sócrates, Platão e 
Aristóteles. Sócrates via a educação como um processo de diálogo e 
autoconhecimento, em que o mestre não transmite verdades prontas, mas conduz o 
interlocutor ao exame de si mesmo. Sua prática pedagógica baseava-se na maiêutica, 
método que visava extrair do aluno o conhecimento que ele já possuía em potencial, 
por meio de perguntas provocadoras. 
Platão, discípulo de Sócrates, desenvolveu uma concepção idealista da 
educação, centrada na busca do bem e da verdade. Em sua obra “A República”, Platão 
propõe um sistema educacional voltado à formação dos guardiões do Estado, em que 
a educação tem a função de conduzir a alma do mundo sensível ao mundo das ideias. 
Para ele, educar é libertar o indivíduo das sombras da ignorância, conduzindo-o ao 
conhecimento do bem absoluto. 
Aristóteles, discípulo de Platão, adotou uma perspectiva mais empírica e 
realista. Considerava a educação um meio para alcançar a virtude e a felicidade, por 
meio da razão prática. Para Aristóteles, a formação do caráter e o cultivo das virtudes 
morais deveriam ser os pilares da educação, articulando teoria e prática, intelecto e 
ação. Seu pensamento inaugurou uma ética da educação baseada na moderação, no 
equilíbrio e na finalidade do bem comum. 
A tradição filosófica grega influenciou profundamente o pensamento 
ocidental e moldou diversas concepções pedagógicas ao longo dos séculos. Na Idade 
Média, a filosofia cristã, representada por autores como Santo Agostinho e Tomás de 
Aquino, incorporou os princípios clássicos à teologia cristã, concebendo a educação 
como instrumento de salvação da alma e de acesso à verdade divina. 
 
 
 
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Santo Agostinho valorizava a introspecção e o autoconhecimento como 
caminhos para alcançar a verdade revelada por Deus. Para ele, a educação deveria 
cultivar a alma, aproximando-a da luz divina. Já Tomás de Aquino promoveu uma 
síntese entre razão e fé, sustentando que o conhecimento racional poderia colaborar 
com o entendimento da revelação. A educação medieval estava, assim, 
profundamente atrelada aos dogmas da Igreja e à formação religiosa. 
No Renascimento, ocorre um retorno ao humanismo clássico e uma 
valorização da experiência, da razão e da dignidade humana. A educação passa a ser 
vista como instrumento de formação integral do homem, em sua corporeidade, 
racionalidade e sensibilidade. Autores como Erasmo de Roterdã e Montaigne 
defendem uma pedagogia centrada na liberdade, no diálogo e na autonomia do 
aprendiz. 
O humanismo renascentista retoma a ideia da paideia grega, ou seja, da 
formação completa do ser humano em todas as suas dimensões. A escola torna-se, 
nesse contexto, um espaço de cultivo da curiosidade, do espírito crítico e da expressão 
individual. A educação deixa de ser privilégio dos religiosos e aristocratas, tornando-se 
um ideal laico e acessível a diferentes camadas sociais. 
Com o advento da Modernidade, a filosofia da educação passa a se estruturar 
em torno dos ideais iluministas de razão, liberdade e progresso. A obra de René 
Descartes introduz uma nova concepção de racionalidade baseada no método e na 
dúvida sistemática. A razão torna-se a ferramenta privilegiada para alcançar verdades 
universais, e a educação, nesse modelo, visa formar sujeitos autônomos e críticos. 
John Locke, filósofo inglês, defende uma concepção empirista da mente 
humana, que nasce como uma tábula rasa e se constitui a partir das experiências 
sensoriais. Para Locke, a educação é responsável por moldar o caráter e formar 
cidadãos livres, úteis e moralmente virtuosos. Sua pedagogia valoriza a disciplina, o 
hábito e a formação moral desde a infância. 
Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, propõe uma revolução no pensamento 
pedagógico ao afirmar que a educação deve respeitar o desenvolvimento natural da 
criança. Em sua obra “Emílio”, Rousseau defende uma pedagogia centrada no aluno, 
baseada na liberdade, na experiência e na descoberta. Para ele, a sociedade corrompe 
o homem, e a educação deve preservar a bondade natural do ser humano. 
 
 
 
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Rousseau inaugura a pedagogia moderna ao colocar o educando no centro do 
processo formativo, rompendo com a lógica da instrução mecânica e da autoridade 
opressora. Sua proposta é formar sujeitos autônomos, sensíveis e racionais, capazes de 
viver em sociedade sem perder sua autenticidade. Essa perspectiva influenciou 
profundamente os educadores modernos e permanece atual nos debates 
contemporâneos. 
Kant aprofunda os ideais iluministas ao defender a educação como meio para 
o desenvolvimento da autonomia moral. Para ele, o ser humano só se torna 
verdadeiramente humano por meio da educação, que deve promover a liberdade, a 
razão e a dignidade. A educação kantiana é orientada por princípios éticos universais, 
que respeitam a humanidade em cada indivíduo. 
No século XVII e XVIII, com o surgimento dos Estados modernos e a ampliação 
dos sistemas escolares, a educação passa a ser pensada como responsabilidade do 
Estado e como instrumento de formação da cidadania. O ideal de uma educação 
pública, gratuita e laica se consolida nesse período, influenciado pelas ideias de 
igualdade, fraternidade e racionalidade. 
Os pensadores iluministas acreditavam que o progresso da humanidade 
dependia do esclarecimento dos indivíduos, o que só seria possível por meio da 
educação. Nesse contexto, a escola adquire um papel central na formação do cidadão 
moderno, preparado para participar da vida política e contribuir com o bem comum. 
A influência do Iluminismo na filosofia da educação foi decisivapara a 
consolidação dos princípios da modernidade pedagógica. A racionalidade, a ciência, a 
liberdade e a dignidade humana tornaram-se valores centrais das propostas educativas 
que emergem a partir do século XVIII e que continuam a repercutir nas práticas 
pedagógicas contemporâneas. 
A herança filosófica da Antiguidade Clássica, do cristianismo medieval, do 
humanismo renascentista e do racionalismo moderno formam um mosaico complexo 
que sustenta a construção das teorias educacionais ocidentais. Cada uma dessas 
tradições contribui com concepções específicas sobre o que significa educar, formar, 
conhecer e viver em sociedade. 
A filosofia da educação moderna, influenciada pelos ideais do Iluminismo, 
buscou integrar razão e liberdade em uma visão pedagógica voltada à emancipação do 
 
 
 
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sujeito. A escola deixa de ser apenas um local de transmissão de dogmas e passa a se 
constituir como espaço de formação de cidadãos críticos, capazes de julgar por si 
mesmos e participar ativamente da vida pública. Esse paradigma estabelece a base 
para o surgimento da pedagogia moderna. 
No entanto, a pedagogia moderna também trouxe consigo desafios e 
ambivalências. Ao mesmo tempo em que propunha a formação de sujeitos 
autônomos, muitas vezes acabou por adotar práticas normativas e padronizadoras, 
submetendo os indivíduos a modelos de comportamento e pensamento previamente 
definidos. Esse paradoxo se manifestava especialmente nas instituições escolares 
criadas no contexto do Estado moderno, onde a instrução sistemática se sobrepunha à 
formação integral. 
A racionalidade moderna, baseada na fragmentação do saber e na lógica da 
eficiência, influenciou a organização dos currículos escolares, a separação entre 
disciplinas e a hierarquização dos conhecimentos. Essa estrutura fragmentada 
contrastava com os ideais humanistas de formação global e equilíbrio entre teoria e 
prática. Com o tempo, isso geraria críticas profundas às limitações da pedagogia 
tradicional. 
O pensamento de Comenius, precursor da pedagogia moderna, representa 
um esforço para sistematizar a educação com base em princípios racionais e 
metodológicos. Em sua obra “Didática Magna”, Comenius defende uma educação 
universal, acessível a todos, com base na observação da natureza, no respeito ao 
desenvolvimento infantil e na organização progressiva do ensino. Seu legado 
influenciaria fortemente os sistemas escolares europeus. 
A partir de Comenius, vários pensadores passaram a discutir a sistematização 
dos conteúdos e a metodologia de ensino. O ideal era construir uma educação 
racional, ordenada e eficiente, que respeitasse a natureza do educando e seguisse 
etapas coerentes de desenvolvimento. A noção de método, tão valorizada pelos 
modernos, passaria a dominar o campo pedagógico por séculos. 
A valorização da razão como fundamento da educação trouxe também o risco 
de subestimar os aspectos afetivos, sensíveis e intuitivos do processo de 
aprendizagem. A ênfase na objetividade e na cientificidade contribuiu para uma 
 
 
 
PA
pedagogia centrada na instrução e na repetição, muitas vezes negligenciando a 
criatividade, a sensibilidade e a dimensão ética do ensino. 
No entanto, ao reconhecer a capacidade humana de pensar por si mesma, a 
filosofia iluminista promoveu uma ruptura com o autoritarismo e com o dogmatismo 
religioso. A escola torna-se espaço de laicidade, de debate racional e de formação 
cívica. Essa mudança representou um avanço importante na democratização do saber 
e na construção de uma sociedade mais justa. 
As ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, nascidas no contexto da 
Revolução Francesa, atravessaram o campo educacional, influenciando projetos 
pedagógicos voltados à inclusão e à formação de sujeitos livres. A educação assume, 
então, o papel de instrumento de mobilidade social, de construção da cidadania e de 
afirmação da dignidade humana. 
A influência de Kant nesse contexto é significativa. Ao sustentar que o ser 
humano não nasce humano, mas se torna humano por meio da educação, Kant 
reafirma a centralidade do processo formativo na constituição da autonomia moral. 
Sua pedagogia é orientada por princípios universais de respeito ao outro, de 
valorização da razão e de compromisso com o bem comum. 
Para Kant, o objetivo maior da educação é a formação da humanidade. A 
criança deve ser conduzida da animalidade à racionalidade, do estado de natureza à 
liberdade ética. Isso exige disciplina, cultivo da razão e estímulo ao pensamento crítico. 
O educador é, nesse modelo, um guia que acompanha o desenvolvimento moral do 
educando. 
Esse ideal kantiano influenciaria profundamente a formação dos sistemas 
públicos de ensino na Alemanha e, posteriormente, em outros países da Europa. A 
escola passa a ser concebida como uma instituição fundamental para a construção de 
uma sociedade racional, justa e democrática. O cidadão educado seria aquele capaz de 
agir de acordo com princípios éticos, e não apenas em função de interesses 
particulares. 
A pedagogia moderna, ao se apoiar na filosofia, construiu um conjunto de 
valores que ainda hoje orientam a prática educativa: a valorização da razão, a 
autonomia do sujeito, a universalidade do saber e a laicidade da escola. No entanto, 
 
 
 
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esses princípios foram também tensionados ao longo do tempo por críticas que 
apontavam seus limites e contradições. 
A formação de sujeitos autônomos e críticos nem sempre se realizou nas 
escolas modernas, muitas vezes dominadas por práticas disciplinares, autoritárias e 
excludentes. A razão instrumental, que orientou grande parte do pensamento 
moderno, foi acusada de reduzir a educação a um processo técnico e de controle, 
ignorando suas dimensões éticas, sociais e afetivas. 
Essas tensões abririam caminho para as críticas contemporâneas à 
modernidade e para o surgimento de novas concepções filosóficas da educação, mais 
sensíveis à diversidade, à subjetividade e à pluralidade cultural. No entanto, 
compreender os fundamentos filosóficos clássicos é condição necessária para 
interpretar esses movimentos e para renovar a prática educativa com responsabilidade 
histórica. 
A história da filosofia da educação é, portanto, uma história de disputas de 
sentido sobre o que é educar, por que educar e como educar. Cada época formulou 
respostas a essas perguntas de acordo com suas condições materiais, suas crenças e 
seus ideais. Retomar essas tradições nos permite ampliar o horizonte de possibilidades 
da ação pedagógica e evitar o imediatismo que muitas vezes empobrece o debate 
educacional. 
O resgate dos fundamentos filosóficos da educação permite ao educador 
compreender que sua prática é sempre situada, intencional e carregada de valores. Ao 
invés de aplicar métodos de forma mecânica, o professor passa a pensar criticamente 
sobre suas escolhas, seus objetivos e os impactos de sua atuação na formação dos 
estudantes. 
É preciso, portanto, recuperar o papel da filosofia como instrumento de 
formação ética, política e cultural dos educadores. A reflexão filosófica não é um luxo 
acadêmico, mas uma necessidade pedagógica diante dos desafios do mundo 
contemporâneo. Formar-se filosoficamente é formar-se para o diálogo, para a escuta, 
para a dúvida e para a transformação. 
Conclui-se que os fundamentos filosóficos da educação, desde a Grécia Antiga 
até o Iluminismo, constituem um alicerce indispensável para a compreensão crítica da 
prática docente. Conhecer esses marcos históricos e conceituais é uma forma de 
 
 
 
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enriquecer a formação profissional, ampliar a consciência pedagógica e contribuir para 
a construção de uma escola democrática, ética e humanizadora. 
Ao compreender os fundamentos da educação, é igualmente importante 
considerar a historicidade da prática docente e da constituição do papel do professor 
na sociedade. A figura do educador, ao longo da história,passou de transmissor de 
dogmas para mediador do conhecimento, e hoje assume o papel de intelectual 
reflexivo, capaz de interpretar a realidade e agir sobre ela. Essa mudança é 
consequência direta das transformações filosóficas, psicológicas e sociais que 
redefiniram as bases da pedagogia moderna e contemporânea. 
O educador contemporâneo é desafiado a atuar em contextos marcados pela 
diversidade cultural, desigualdades estruturais e demandas pedagógicas complexas. 
Nesse cenário, os fundamentos filosóficos, psicológicos e sociais da educação 
oferecem ferramentas teóricas e metodológicas para interpretar esses contextos e 
propor práticas pedagógicas coerentes, críticas e inclusivas. Trata-se de reconhecer 
que a sala de aula é um microcosmo da sociedade e, portanto, exige do educador 
sensibilidade política, empatia e capacidade de mediação ética. 
Outro aspecto fundamental da abordagem interdisciplinar proposta nesta 
apostila é a valorização da práxis, entendida como a articulação entre teoria e prática, 
entre reflexão e ação. A formação docente, quando ancorada em fundamentos sólidos, 
permite que o professor atue com intencionalidade pedagógica, consciente das 
implicações de suas escolhas e das possibilidades de transformação social que a 
educação pode promover. A práxis, nesse sentido, não é mera aplicação de conteúdos, 
mas um exercício constante de análise crítica da realidade. 
A abordagem dos fundamentos também contribui para que se supere a 
dicotomia entre o técnico e o humanista, entre o conteúdo e a formação ética. A 
educação integral, que considera o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e ético 
do estudante, só é possível quando se compreende o ser humano em sua totalidade. A 
filosofia nos ajuda a pensar os fins, a psicologia os meios, e a sociologia os contextos 
em que esses fins e meios se realizam. Assim, o educador torna-se um articulador 
dessas dimensões em sua prática cotidiana. 
 
 
 
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AULA 2. TEORIAS FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS E A EDUCAÇÃO 
 
A transição da modernidade para a contemporaneidade marcou profundas 
transformações nas formas de pensar a educação, a sociedade e o sujeito. As teorias 
filosóficas contemporâneas introduziram críticas contundentes à razão instrumental, 
ao universalismo abstrato e às formas autoritárias de ensinar. A educação passa a ser 
pensada a partir de novas epistemologias, mais sensíveis à diversidade, à historicidade 
e à subjetividade dos sujeitos envolvidos no processo educativo. 
Entre os principais marcos desse período, destaca-se a crítica ao modelo 
tradicional de escola e à pedagogia bancária, conceito cunhado por Paulo Freire. Para 
ele, a educação tradicional trata o estudante como recipiente passivo de 
conhecimentos, ignorando sua experiência de mundo e negando sua capacidade de 
pensar criticamente. A proposta freireana é de uma educação libertadora, dialógica e 
problematizadora, voltada à conscientização e à transformação social. 
A obra de Paulo Freire representa uma inflexão importante na filosofia da 
educação ao deslocar o foco da transmissão de conteúdos para a construção 
compartilhada do conhecimento. O diálogo é, nesse contexto, mais do que um método 
pedagógico: é uma atitude existencial que pressupõe respeito, humildade e escuta. O 
educador e o educando aprendem juntos, num processo de troca mútua e de 
construção coletiva da realidade. 
Freire entende que a educação é sempre política e nunca neutra. Por isso, 
defende uma pedagogia engajada, que contribua para a superação das injustiças e das 
opressões históricas. A alfabetização, nesse sentido, deve ser pensada como leitura do 
mundo, e não apenas do texto. Ensinar é um ato de compromisso com a libertação dos 
sujeitos e com a transformação das estruturas sociais excludentes. 
A influência do pensamento freireano ultrapassa as fronteiras brasileiras, 
sendo reconhecida internacionalmente como uma das contribuições mais relevantes à 
pedagogia crítica contemporânea. Seu legado inspira movimentos de educação 
popular, projetos de inclusão e propostas curriculares voltadas à diversidade cultural, 
étnica e de gênero. 
Outro pensador fundamental da filosofia contemporânea da educação é 
Michel Foucault. Em suas obras, Foucault analisa as relações entre saber e poder, 
 
 
 
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mostrando como as instituições – entre elas, a escola – operam como mecanismos de 
controle e normalização dos corpos e das condutas. A educação é vista como um 
dispositivo que produz subjetividades e reproduz normas sociais, muitas vezes de 
forma velada. 
Foucault rompe com a ideia de um sujeito autônomo e transparente, típico da 
modernidade, propondo uma visão do sujeito como construção histórica, atravessada 
por discursos e práticas sociais. A escola, nesse modelo, aparece como um espaço de 
disciplinamento, onde se articulam técnicas de vigilância, avaliação e regulação dos 
comportamentos. 
Essa crítica foucaultiana permite uma leitura mais complexa da função social 
da escola, evidenciando seus mecanismos de exclusão e de reprodução de 
desigualdades. Ao mesmo tempo, abre espaço para pensar formas de resistência, de 
criação de novas subjetividades e de práticas pedagógicas contra-hegemônicas. A 
filosofia da educação, nesse caso, torna-se um instrumento para desnaturalizar 
discursos e práticas que se apresentam como neutros. 
As contribuições de Foucault instigam educadores a refletirem sobre o 
currículo, a avaliação, a organização do tempo e do espaço escolar, e sobre como essas 
dimensões contribuem para a constituição de subjetividades dóceis ou críticas. A 
pedagogia contemporânea, influenciada por essas ideias, busca criar espaços de 
liberdade, de invenção e de pluralidade no interior das instituições educativas. 
Ao lado de Foucault, outros filósofos como Gilles Deleuze e Félix Guattari 
também contribuíram para uma reconfiguração da filosofia da educação. Sua proposta 
de pensamento rizomático e antiautoritário inspira práticas pedagógicas abertas, 
criativas e não lineares. Para esses autores, aprender é mais do que acumular 
informações: é conectar saberes, produzir sentidos e experimentar novas formas de 
existência. 
Deleuze critica a pedagogia centrada na repetição e na memorização, 
propondo uma aprendizagem baseada na diferença, na multiplicidade e na invenção. O 
ato de aprender envolve afetos, intensidades e movimentos, não se reduzindo à lógica 
da representação ou da norma. A educação, nesse contexto, torna-se uma experiência 
estética e ética, que visa a criação de mundos possíveis. 
 
 
 
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As ideias de Deleuze e Guattari desafiam as formas tradicionais de 
organização curricular, convidando os educadores a explorarem metodologias 
transversais, interdisciplinares e sensíveis ao desejo e à criatividade dos sujeitos. O 
conhecimento deixa de ser um fim em si mesmo e passa a ser um meio para a 
experimentação de novas formas de vida e de convivência. 
Na filosofia contemporânea da educação, também ganha destaque o 
pensamento de Hannah Arendt, especialmente sua reflexão sobre autoridade, 
natalidade e o papel da educação na renovação do mundo comum. Para Arendt, 
educar é introduzir os jovens no mundo, preparando-os para assumir 
responsabilidades e renovar as promessas da humanidade. A escola, nesse sentido, é 
um espaço de transição entre o mundo privado da infância e o mundo público dos 
adultos. 
Arendt adverte, no entanto, que a educação não pode se submeter 
completamente à política nem à tradição. Ela deve preservar o direito das novas 
gerações de iniciarem algo novo, de exercerem sua liberdade e de reconstruírem o 
mundo. Isso exige do educador uma postura de responsabilidade ética diante dos 
estudantes e da herança cultural que transmite. 
A filosofia de Hannah Arendt inspira uma pedagogia baseada na escuta, na 
confiança e no reconhecimento da singularidade de cada criança e jovem. Em um 
mundo marcadopela crise de sentido e pela banalização da violência, sua proposta 
convida à criação de espaços educativos onde floresça o respeito pela pluralidade, pela 
ação e pela palavra. 
Essas correntes contemporâneas convergem na crítica ao autoritarismo, à 
uniformização e à racionalidade técnica. Em seu lugar, propõem uma educação 
sensível à diferença, ao desejo e ao contexto histórico dos sujeitos. A escola, nesse 
novo paradigma, é pensada como espaço de escuta, de criação e de convivência 
democrática. 
Ao articular as contribuições de Paulo Freire, Foucault, Deleuze e Arendt, 
percebe-se que a filosofia da educação contemporânea não busca oferecer modelos 
prontos, mas sim provocar a reflexão, desestabilizar certezas e incentivar o 
pensamento crítico. O professor deixa de ser o detentor do saber e passa a ser um 
mediador, um pesquisador e um aprendiz permanente. 
 
 
 
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O conhecimento, por sua vez, é compreendido como construção coletiva, 
situada e plural. Não se trata mais de buscar verdades universais, mas de 
problematizar o mundo, de ler as realidades com profundidade e de propor 
alternativas criativas para os dilemas contemporâneos. A filosofia, nesse contexto, 
torna-se ferramenta de análise e de intervenção na vida cotidiana. 
As práticas pedagógicas inspiradas nas teorias contemporâneas valorizam a 
participação ativa dos estudantes, a contextualização do saber, a abordagem 
interdisciplinar e a problematização da realidade. O currículo deixa de ser uma lista de 
conteúdos fixos e passa a ser um projeto vivo, construído com base nas necessidades e 
interesses da comunidade escolar. 
A escuta ativa, o diálogo e a valorização das múltiplas vozes são princípios 
éticos e políticos que orientam a ação docente nesse novo horizonte. O professor 
contemporâneo é aquele que reconhece a complexidade da sua tarefa e que se dispõe 
a aprender com seus alunos, com seus pares e com a própria prática. Ensinar é, assim, 
um ato de humildade e de compromisso com o inacabamento humano. 
As teorias filosóficas contemporâneas também desafiam os sistemas de 
avaliação padronizados e classificatórios, propondo formas de acompanhamento que 
valorizem o processo, a singularidade e a criatividade dos estudantes. Avaliar deixa de 
ser punir ou rotular, e passa a ser uma oportunidade de diálogo, de escuta e de 
crescimento mútuo. 
Ao mesmo tempo, essas teorias alertam para os riscos da instrumentalização 
da educação pelas lógicas do mercado, da produtividade e da eficiência. O 
pensamento crítico torna-se, então, uma forma de resistência e de defesa da escola 
pública como espaço de formação humana, de justiça social e de pluralismo cultural. 
iante do avanço das tecnologias e das transformações sociais aceleradas, a 
filosofia contemporânea da educação também propõe uma reflexão sobre os desafios 
éticos e existenciais do nosso tempo. A escola, cada vez mais atravessada por discursos 
tecnocráticos, corre o risco de perder seu sentido humanizador se não for ancorada 
em fundamentos críticos e sensíveis à condição humana. Por isso, as teorias filosóficas 
contemporâneas exigem dos educadores uma postura vigilante diante das tendências 
que reduzem a educação à mera formação de competências para o mercado. 
 
 
 
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A pedagogia crítica, inspirada em Paulo Freire, é uma das principais respostas 
a esse risco. Ela propõe uma prática educacional que problematiza a realidade social e 
busca desenvolver a consciência crítica dos estudantes. Trata-se de formar sujeitos 
capazes de interpretar o mundo e de transformá-lo com base em princípios éticos e 
democráticos. Essa abordagem valoriza o saber popular, a história de vida dos 
educandos e a construção coletiva do conhecimento. 
Além disso, o pensamento freireano chama atenção para o papel do educador 
como agente histórico, inserido em um contexto de luta de classes, de opressões 
estruturais e de desigualdades sociais. A educação, nesse sentido, torna-se um ato 
político, no qual se escolhe entre reforçar o status quo ou construir alternativas mais 
justas e solidárias. A neutralidade pedagógica, frequentemente reivindicada, é 
denunciada por Freire como uma forma velada de manutenção da opressão. 
O conceito de consciência ingênua e consciência crítica é fundamental para 
compreender a proposta freireana. A primeira é caracterizada pela aceitação passiva 
da realidade, enquanto a segunda envolve a problematização do mundo e o 
engajamento ativo na transformação social. A educação, para ser libertadora, deve 
ajudar os educandos a superarem a ingenuidade e a desenvolverem uma consciência 
crítica e comprometida com a emancipação humana. 
Outro conceito importante em Freire é o de inédito viável, que representa a 
capacidade dos sujeitos de imaginar e construir novas formas de viver, de pensar e de 
organizar a sociedade. Esse conceito aponta para a dimensão utópica da educação, 
entendida não como fuga da realidade, mas como compromisso ético com sua 
superação. O inédito viável é o horizonte que move a prática pedagógica em direção à 
justiça social. 
Enquanto Freire enfatiza o diálogo e a ação transformadora, Foucault alerta 
para as sutilezas do poder nas relações educativas. Sua análise mostra como a escola 
produz e legitima saberes que reforçam hierarquias, classificações e exclusões. A 
crítica foucaultiana convida o educador a desnaturalizar os discursos dominantes e a 
criar brechas para outras formas de pensar, de ensinar e de viver. 
O poder disciplinar, conforme descrito por Foucault, atua por meio da 
vigilância, da normatização e da avaliação constante. A escola moderna, nesse modelo, 
aparece como um dispositivo de controle dos corpos e das mentes, onde se produz a 
 
 
 
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subjetividade normalizada. Romper com esse modelo exige inventar novas formas de 
organização do espaço escolar, do tempo pedagógico e das práticas avaliativas. 
A pedagogia inspirada em Foucault não propõe uma pedagogia do caos, mas 
sim uma pedagogia da invenção, que desafie os dispositivos de controle e crie espaços 
de liberdade. O currículo, nesse contexto, pode ser visto como território de disputa, 
onde se travam batalhas por sentidos, por representações e por projetos de mundo. O 
educador torna-se um cartógrafo que ajuda os estudantes a desenharem seus próprios 
caminhos. 
A leitura de Foucault também permite pensar o papel dos saberes 
subalternizados na escola. Os conhecimentos das culturas populares, das tradições 
orais, das comunidades indígenas e afro-brasileiras, por exemplo, frequentemente são 
excluídos ou marginalizados no currículo oficial. Uma pedagogia crítica e pós-colonial 
busca resgatar esses saberes e valorizá-los como formas legítimas de conhecimento. 
O pensamento pós-estruturalista, de maneira geral, desafia as certezas, os 
modelos fixos e os conceitos totalizantes. Ele nos convida a pensar a educação como 
processo dinâmico, instável e aberto, onde o sentido está sempre em construção. 
Nessa perspectiva, o sujeito é visto como múltiplo, contraditório e em constante devir, 
e a pedagogia deve respeitar essa complexidade. 
A filosofia contemporânea da educação também incorpora debates sobre 
identidade, gênero, raça, classe e interseccionalidade. Autores como Judith Butler, bell 
hooks e Achille Mbembe contribuem para ampliar o escopo da reflexão pedagógica, 
propondo uma educação antirracista, antissexista e decolonial. Esses aportes são 
fundamentais para a construção de uma escola democrática e inclusiva. 
A pedagogia feminista, por exemplo, propõe práticas educativas baseadas na 
escuta, na empatia, na horizontalidade e na valorização das experiências vividas. Ela 
desafia o modelo hierárquico de ensino e propõe uma relação pedagógica marcada 
pelo cuidado e pela reciprocidade. Nesse sentido, o ato de ensinar torna-se um gesto 
ético de reconhecimento da alteridade. 
Os estudos decoloniais, por sua vez, questionam acentralidade do 
pensamento europeu e propõem uma revalorização dos saberes locais, das 
epistemologias do sul e das cosmovisões não ocidentais. A educação decolonial busca 
 
 
 
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romper com a colonialidade do saber e com os padrões eurocêntricos que ainda 
dominam os currículos escolares e as práticas pedagógicas. 
Essas abordagens contemporâneas ampliam o horizonte da filosofia da 
educação ao incorporar questões éticas, políticas e culturais que afetam diretamente a 
prática docente. Elas exigem do educador um posicionamento crítico diante das 
desigualdades estruturais e uma disposição constante para o aprendizado, o diálogo e 
a transformação. 
A filosofia da educação contemporânea, ao valorizar a escuta e a pluralidade, 
também reconhece o saber da experiência como fonte legítima de conhecimento. A 
vida cotidiana, as relações afetivas e os saberes construídos nas práticas sociais 
tornam-se elementos centrais da proposta pedagógica, rompendo com a dicotomia 
entre teoria e prática. 
Assim, ensinar não é apenas transmitir conteúdos, mas construir com os 
alunos um espaço de reflexão, de invenção e de resistência. O professor 
contemporâneo é chamado a ser um intelectual comprometido com a justiça, com a 
escuta e com a construção de alternativas para os desafios do presente. Sua atuação é 
política, no sentido mais profundo do termo: implica escolher, agir e assumir 
responsabilidades diante da coletividade. 
As teorias filosóficas contemporâneas não oferecem um único caminho, mas 
sim um convite à reflexão permanente sobre os sentidos da educação. Elas nos 
ensinam que educar é um ato ético, estético e político, que exige sensibilidade, 
coragem e compromisso com a transformação do mundo. Nessa perspectiva, a 
educação torna-se, antes de tudo, uma experiência de encontro e de criação. 
Conclui-se, portanto, que a filosofia da educação contemporânea amplia e 
aprofunda o debate educacional ao colocar no centro a diversidade, a subjetividade, a 
historicidade e a ética. Ao desafiar os modelos tradicionais, ela nos convida a repensar 
a escola, o currículo, a avaliação e a própria identidade do educador, abrindo caminhos 
para práticas pedagógicas mais justas, sensíveis e transformadoras. 
 
 
 
 
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AULA 3. FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO: DO 
BEHAVIORISMO À PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL 
A psicologia da educação constitui um dos pilares fundamentais para 
compreender o processo de aprendizagem, desenvolvimento humano e a relação 
entre sujeitos e conhecimento. Ao longo do século XX, diferentes correntes teóricas 
disputaram explicações sobre como as pessoas aprendem, internalizam normas, 
constroem conhecimentos e se desenvolvem cognitivamente. Essas teorias 
influenciaram profundamente a prática pedagógica e a organização da escola. 
O behaviorismo, também conhecido como comportamentalismo, foi uma das 
primeiras grandes correntes psicológicas a influenciar a educação. Iniciado com os 
estudos de John B. Watson, e mais tarde desenvolvido por B.F. Skinner, essa 
abordagem fundamenta-se na observação objetiva do comportamento e na relação 
entre estímulo e resposta. A aprendizagem, para os behavioristas, é resultado de 
condicionamento, ou seja, de associações sistemáticas entre estímulos e recompensas. 
Skinner propôs o conceito de reforço como elemento central do processo de 
aprendizagem. Por meio de reforços positivos e negativos, é possível moldar 
comportamentos desejáveis e extinguir respostas inadequadas. Essa perspectiva teve 
forte influência nos métodos educacionais baseados em repetição, reforço imediato, 
exercícios padronizados e controle de respostas, muito comuns em modelos de ensino 
tradicional. 
Apesar de suas contribuições para o controle e organização do ensino, o 
behaviorismo foi criticado por reduzir o sujeito à condição de organismo reativo, 
desconsiderando aspectos subjetivos, afetivos e culturais da aprendizagem. Com o 
tempo, novas abordagens surgiram para superar essa visão mecanicista, abrindo 
espaço para concepções mais amplas de desenvolvimento. 
Entre essas abordagens, destaca-se o construtivismo de Jean Piaget, que 
revolucionou a psicologia do desenvolvimento ao afirmar que a aprendizagem resulta 
da interação ativa entre sujeito e ambiente. Piaget propôs que o conhecimento é 
construído progressivamente por meio da assimilação e da acomodação, processos 
que permitem ao indivíduo reorganizar seus esquemas mentais à medida que interage 
com o mundo. 
 
 
 
PA
Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo ocorre em estágios sequenciais: 
sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Cada estágio 
é caracterizado por estruturas mentais específicas e por formas particulares de 
compreender a realidade. A aprendizagem, nesse modelo, depende do nível de 
desenvolvimento do indivíduo e do estímulo adequado para provocar desequilíbrios e 
reorganizações cognitivas. 
O construtivismo teve grande impacto na pedagogia moderna, ao colocar o 
aluno como protagonista da aprendizagem e ao valorizar a experimentação, a 
descoberta e a resolução de problemas. O professor passa a ser mediador, alguém que 
propicia situações desafiadoras e orienta o processo de construção do conhecimento 
sem impor respostas prontas. 
Contudo, Piaget foi também criticado por subestimar o papel do meio social e 
da linguagem na aprendizagem. Para ele, o desenvolvimento precede a aprendizagem, 
e o sujeito constrói o conhecimento de forma relativamente solitária, por meio da 
interação com objetos e situações. Essa limitação abriria espaço para novas teorias que 
valorizassem o contexto social da aprendizagem. 
Nesse sentido, a psicologia histórico-cultural de Lev Vygotsky representa um 
avanço significativo. Para Vygotsky, a aprendizagem é um fenômeno essencialmente 
social, mediado pela linguagem e pela interação com o outro. O desenvolvimento 
ocorre por meio da internalização de práticas culturais e da apropriação dos 
instrumentos simbólicos produzidos historicamente. 
O conceito de zona de desenvolvimento proximal é um dos maiores legados 
de Vygotsky à educação. Essa zona representa a distância entre o que o aluno pode 
fazer sozinho e o que ele pode realizar com ajuda de um adulto ou de um colega mais 
experiente. O ensino eficaz é aquele que atua nessa zona, promovendo aprendizagens 
que antecedem e impulsionam o desenvolvimento. 
Diferentemente de Piaget, Vygotsky entende que a aprendizagem precede o 
desenvolvimento. Isso significa que, ao oferecer apoio e mediações adequadas, é 
possível acelerar ou transformar o processo de desenvolvimento do aluno. A escola, 
portanto, torna-se um espaço privilegiado de construção cultural, de diálogo 
intersubjetivo e de formação de consciência crítica. 
 
 
 
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A linguagem, para Vygotsky, é o principal instrumento de mediação entre o 
sujeito e o mundo. Por meio dela, o indivíduo organiza o pensamento, regula seu 
comportamento e estabelece relações com os outros. A alfabetização, nesse contexto, 
é mais do que um aprendizado técnico: é a entrada no universo simbólico que 
estrutura a cultura e a subjetividade. 
A psicologia histórico-cultural tem forte compromisso com a emancipação dos 
sujeitos e com a construção de práticas pedagógicas que respeitem a diversidade 
cultural, social e subjetiva dos estudantes. Sua abordagem crítica desafia o tecnicismo 
e o individualismo presentes em muitas práticas escolares e propõe uma pedagogia 
humanizadora, dialógica e transformadora. 
Outra contribuição relevante para a psicologia da educação é a teoria do 
desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson, que amplia os estudos freudianos e 
introduz o conceito de crise como elemento estruturante do crescimento humano. 
Para Erikson, cada fase da vida é marcada por um conflito central que, se resolvido 
adequadamente, favorece o desenvolvimento da identidade e da autonomia. 
No campoda afetividade e da relação interpessoal, destaca-se a psicologia 
centrada na pessoa, de Carl Rogers. Para ele, a aprendizagem significativa ocorre em 
ambientes onde há empatia, autenticidade e aceitação incondicional. O professor, 
nesse modelo, deve ser um facilitador, alguém que oferece apoio emocional e confia 
na capacidade do aluno de construir seu próprio caminho de aprendizagem. 
A psicologia humanista, representada por Rogers e Abraham Maslow, valoriza 
a autorrealização, a liberdade e a criatividade dos sujeitos. Em oposição aos modelos 
mecanicistas, propõe uma visão integral do ser humano, capaz de tomar decisões, 
estabelecer metas e desenvolver-se plenamente em ambientes acolhedores e 
estimulantes. 
Henri Wallon, por sua vez, propôs uma abordagem psicogenética que integra 
afetividade, motricidade e cognição. Para ele, o desenvolvimento humano é resultado 
da interação entre fatores biológicos, afetivos e sociais. Sua teoria destaca o papel do 
corpo e das emoções no processo de aprendizagem, ampliando a compreensão dos 
fenômenos educativos para além da cognição racional. 
Essas diferentes abordagens – behaviorismo, construtivismo, sócio-
interacionismo, humanismo e psicologia histórico-cultural – oferecem instrumentos 
 
 
 
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teóricos fundamentais para interpretar os desafios da prática pedagógica e planejar 
intervenções educativas coerentes com o desenvolvimento humano. Cada teoria traz 
contribuições específicas e limitações que precisam ser analisadas criticamente. 
A escolha de uma abordagem psicológica para orientar a ação pedagógica não 
deve ser feita de forma dogmática ou exclusiva. O educador precisa conhecer as 
diversas teorias, compreender seus pressupostos e utilizá-las de forma integrada, 
conforme o contexto, os objetivos educacionais e as necessidades dos estudantes. A 
prática pedagógica exige flexibilidade, sensibilidade e compromisso ético. 
A formação do professor requer, portanto, uma sólida base teórica em 
psicologia da educação, que lhe permita compreender os diferentes modos de 
aprender, de se desenvolver e de se relacionar. Isso implica, também, o 
reconhecimento das dimensões subjetivas e afetivas da aprendizagem, muitas vezes 
invisibilizadas pelos modelos tecnicistas de ensino. 
A afetividade, o vínculo, o reconhecimento e a escuta são componentes 
essenciais de qualquer processo educativo significativo. Aprender é um ato 
profundamente humano, que envolve desejo, insegurança, esperança e frustração. Por 
isso, o educador precisa ser também um cuidador das emoções, alguém que acolhe, 
estimula e inspira confiança. 
O desafio contemporâneo da educação é integrar essas diferentes 
contribuições teóricas em uma prática pedagógica coerente, crítica e inclusiva. Não 
basta conhecer as teorias; é preciso traduzi-las em ações concretas que promovam a 
aprendizagem, a autonomia e o bem-estar dos estudantes. Essa é uma tarefa 
complexa, mas fundamental para a construção de uma escola mais justa e 
humanizadora. 
 
 
 
 
 
 
 
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AULA 4. O SUJEITO DA APRENDIZAGEM: DESENVOLVIMENTO HUMANO, 
COGNIÇÃO E AFETIVIDADE 
 
O processo educativo só pode ser compreendido em sua plenitude quando se 
reconhece a centralidade do sujeito da aprendizagem. Este sujeito é um ser em 
constante transformação, atravessado por dimensões biológicas, cognitivas, afetivas, 
sociais e culturais. Entendê-lo exige uma abordagem ampla e integradora, que 
ultrapasse visões reducionistas e fragmentadas. 
O sujeito que aprende não é uma tábula rasa, tampouco um receptor passivo 
de informações. Desde os primeiros anos de vida, o ser humano interage com o meio, 
elabora hipóteses, constrói significados e atribui sentido às suas experiências. 
Aprender, portanto, é uma atividade ativa, intencional e situada, profundamente 
marcada pela história de vida e pelas condições socioculturais. 
A psicologia do desenvolvimento fornece importantes subsídios para 
compreender como o sujeito se constitui ao longo da vida. Desde os estudos de Piaget, 
Vygotsky, Erikson, Wallon e outros autores, entende-se que o desenvolvimento 
humano ocorre em estágios, mas não de forma linear ou uniforme. Cada indivíduo 
apresenta ritmos próprios, influenciados por fatores internos e externos. 
Na infância, o sujeito encontra-se em uma fase de intensa plasticidade 
cerebral e emocional. As experiências vividas nesse período são decisivas para a 
constituição da personalidade, da linguagem e das formas de relação com o mundo. A 
escola, nesse contexto, deve proporcionar ambientes estimulantes, seguros e 
afetivamente acolhedores, que favoreçam a curiosidade, a criatividade e a 
socialização. 
O desenvolvimento cognitivo é um dos aspectos mais estudados na psicologia 
da educação. Ele se refere à capacidade de pensar, raciocinar, resolver problemas e 
compreender o mundo de forma cada vez mais complexa. Essa dimensão não pode ser 
separada da linguagem, da cultura e das interações sociais que estruturam a 
experiência do sujeito. 
A cognição, porém, não opera isoladamente. Ela está profundamente 
entrelaçada à afetividade, à motivação e ao vínculo interpessoal. O sujeito aprende 
 
 
 
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quando se sente valorizado, escutado e pertencente ao grupo. Emoções como alegria, 
medo, entusiasmo ou insegurança influenciam diretamente a disposição para aprender 
e o desempenho nas tarefas escolares. 
A afetividade, longe de ser um aspecto secundário, é um elemento 
constitutivo do processo de aprendizagem. Henri Wallon foi um dos primeiros autores 
a afirmar que a emoção é anterior ao pensamento e que o desenvolvimento humano 
resulta da articulação entre corpo, emoção e razão. Negligenciar a dimensão afetiva é 
comprometer a integralidade da formação. 
O vínculo entre professor e aluno é uma das expressões mais visíveis da 
importância da afetividade na escola. Quando o educando se sente respeitado, ouvido 
e reconhecido, tende a participar com mais confiança e interesse das atividades 
escolares. Por outro lado, relações marcadas pela indiferença, pela rigidez ou pelo 
autoritarismo tendem a gerar bloqueios e resistências à aprendizagem. 
A escuta ativa, a empatia e a sensibilidade são qualidades essenciais no 
educador que deseja compreender e respeitar o sujeito da aprendizagem. Cada aluno 
traz consigo uma história, uma forma de estar no mundo, um repertório de saberes e 
uma singularidade que precisa ser acolhida para que o processo educativo se realize de 
forma significativa. 
A aprendizagem também é um fenômeno social. As interações com os 
colegas, com os professores e com os demais membros da comunidade escolar são 
fundamentais para a construção de conhecimentos e valores. O grupo exerce um papel 
de mediação, de estímulo e de confronto, permitindo ao sujeito revisar ideias, testar 
hipóteses e ampliar sua compreensão da realidade. 
Além disso, o contexto sociocultural influencia profundamente as 
possibilidades e os limites da aprendizagem. Condições socioeconômicas, culturais e 
familiares podem favorecer ou dificultar o acesso ao conhecimento, a permanência na 
escola e o engajamento nas atividades escolares. A educação inclusiva, nesse sentido, 
busca garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento, 
respeitando as diferenças e promovendo a equidade. 
A motivação é outro fator central para compreender o sujeito da 
aprendizagem. Ela pode ser intrínseca, quando nasce do interesse e da curiosidade do 
próprio sujeito, ou extrínseca, quando é estimulada por recompensas externas. Cabe 
 
 
 
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ao educador criar situações que despertem o desejo de aprender, conectando os 
conteúdos à realidade e aos interesses dos alunos. 
A teoria da autodeterminação, por exemplo, destaca a importância de três 
necessidades psicológicas básicas: autonomia, competência e vínculo. Quando essas 
necessidades são atendidas, o sujeito tende a apresentar maior engajamento, 
persistênciae satisfação no processo de aprendizagem. Assim, o professor deve 
promover a autonomia, reconhecer os progressos dos alunos e cultivar relações 
significativas na sala de aula. 
A autoestima é igualmente determinante. Alunos que acreditam em sua 
capacidade de aprender tendem a enfrentar desafios com mais coragem e a buscar 
soluções criativas para os problemas. Por isso, é importante valorizar os esforços, 
reconhecer as conquistas e oferecer feedbacks construtivos, que encorajem o 
crescimento contínuo. 
Outro aspecto relevante é a imagem que o aluno constrói de si mesmo a 
partir das interações escolares. Essa autoimagem pode ser positiva ou negativa, e 
influencia diretamente o modo como ele se posiciona diante das tarefas, dos colegas e 
dos professores. A escola tem a responsabilidade de promover experiências de sucesso 
que fortaleçam a autoconfiança e o senso de pertencimento. 
Os estilos de aprendizagem também variam entre os sujeitos. Algumas 
pessoas aprendem melhor por meio da escuta, outras pela leitura, outras ainda pela 
prática concreta. Reconhecer essa diversidade e propor estratégias pedagógicas 
diferenciadas é fundamental para atender às necessidades de todos os estudantes e 
potencializar seus processos de construção do conhecimento. 
A avaliação, quando bem conduzida, pode ser um instrumento poderoso de 
valorização do sujeito. Ela deve ir além da simples mensuração de resultados e se 
transformar em um processo de acompanhamento, de escuta e de devolutiva. Avaliar 
é dialogar com o estudante sobre seu percurso, suas dificuldades e seus avanços, com 
o objetivo de promover sua aprendizagem de forma ética e solidária. 
A perspectiva do sujeito da aprendizagem também impõe uma reflexão sobre 
a organização do tempo e do espaço escolar. É necessário criar ambientes que 
favoreçam a cooperação, a exploração, a criatividade e a participação ativa dos 
 
 
 
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estudantes. O espaço da sala de aula pode ser reorganizado para favorecer o encontro, 
o diálogo e a construção coletiva do saber. 
O currículo, por sua vez, deve ser pensado a partir das necessidades, 
interesses e contextos dos estudantes. Currículos rígidos e descontextualizados 
tendem a desmotivar e excluir. Um currículo que reconhece o sujeito, que valoriza sua 
cultura e que se abre ao diálogo com a vida real contribui para uma formação mais 
significativa e transformadora. 
A relação entre cognição, emoção e contexto é indissociável. Não se pode 
falar em aprendizagem verdadeira sem considerar o afeto, o ambiente e as condições 
socioculturais que envolvem o estudante. O desafio da educação é articular essas 
dimensões de forma integrada, respeitando a complexidade do ser humano e a 
singularidade de cada trajetória. 
A escuta é, portanto, um princípio pedagógico essencial. Escutar o aluno é 
mais do que ouvi-lo: é reconhecê-lo como sujeito de direitos, como alguém que tem o 
que dizer e que merece ser acolhido em sua inteireza. O professor que escuta abre 
espaço para o encontro, para a confiança e para a construção compartilhada de 
saberes. 
A formação do sujeito exige tempo, paciência e afeto. Não há fórmulas 
prontas, nem receitas infalíveis. Há caminhos possíveis, construídos na relação entre 
educadores e educandos, na experimentação diária, no erro, na dúvida e na invenção. 
Educar é, acima de tudo, um ato de esperança e de compromisso com o humano. 
Ao compreender o sujeito da aprendizagem em sua totalidade, a escola pode 
reinventar-se como espaço de vida, de acolhimento e de sentido. A função educativa 
transcende a transmissão de conteúdos e se afirma como um processo de formação 
integral, que envolve o pensar, o sentir e o agir dos sujeitos. 
Conclui-se, assim, que o sujeito da aprendizagem não é uma abstração 
teórica, mas uma pessoa concreta, situada em um contexto histórico e cultural, com 
desejos, medos, sonhos e potencialidades. Educar esse sujeito é um desafio ético, 
pedagógico e político que exige sensibilidade, reflexão e ação transformadora. 
 
 
 
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AULA 5. FUNDAMENTOS SOCIAIS DA EDUCAÇÃO: ESCOLA, CULTURA E 
SOCIEDADE 
 
A compreensão da educação como fenômeno social é essencial para analisar 
seu papel na constituição das relações humanas, na produção de cultura e na 
organização das estruturas de poder. A escola, nesse contexto, não pode ser vista 
como uma instituição neutra, mas como um espaço onde se refletem e se reproduzem 
as contradições e os conflitos da sociedade. 
A sociologia da educação fornece instrumentos teóricos fundamentais para 
analisar essas relações. Ao investigar como a escola está imbricada com os processos 
econômicos, políticos e culturais, essa área do conhecimento permite compreender as 
múltiplas dimensões da prática pedagógica e os efeitos sociais da escolarização. 
Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia moderna, foi pioneiro na 
análise da função social da educação. Para ele, a escola tem como papel principal a 
socialização dos indivíduos, ou seja, a transmissão dos valores, normas e saberes que 
garantem a coesão social e a integração dos sujeitos ao corpo coletivo. 
Durkheim defendia que a educação deve internalizar nos jovens os princípios 
morais da sociedade, preparando-os para assumir papéis sociais e garantir a 
continuidade das instituições. Sua visão funcionalista, embora criticada por 
desconsiderar as desigualdades e os conflitos sociais, contribuiu para consolidar a ideia 
de que a escola forma cidadãos para além da simples instrução. 
Por outro lado, Karl Marx e os teóricos marxistas apontaram a função 
ideológica da educação na reprodução das relações de dominação. A escola seria um 
dos aparelhos ideológicos do Estado, responsável por legitimar as desigualdades 
sociais e inculcar nos sujeitos uma visão de mundo compatível com os interesses da 
classe dominante. 
Nessa perspectiva, a escola não é apenas um espaço de aprendizagem, mas 
um campo de disputa ideológica. As estruturas curriculares, as metodologias e os 
critérios de avaliação refletem interesses sociais e políticos. A educação, portanto, é 
um terreno de luta, onde se travam batalhas simbólicas por hegemonia e 
emancipação. 
 
 
 
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Louis Althusser aprofundou essa análise ao afirmar que os aparelhos 
ideológicos de Estado – entre eles, a escola – operam por meio da interpelação dos 
sujeitos, produzindo identidades e subjetividades que reproduzem a ordem social 
vigente. A escola, ao transmitir conteúdos aparentemente neutros, exerce uma função 
política ao naturalizar as desigualdades. 
Pierre Bourdieu, com sua teoria do capital cultural, destacou como a escola 
privilegia os saberes e os códigos culturais das classes médias e altas, marginalizando 
os estudantes oriundos de contextos populares. O fracasso escolar, segundo ele, não 
resulta de uma inferioridade individual, mas da desvalorização dos saberes não 
legitimados pelo sistema educacional. 
O conceito de habitus, desenvolvido por Bourdieu, refere-se aos esquemas de 
percepção, pensamento e ação incorporados pelos sujeitos em função de sua origem 
social. Esses habitus orientam suas práticas e suas disposições, influenciando sua 
trajetória escolar e sua inserção no campo educacional. A escola, nesse cenário, 
reforça desigualdades ao exigir dos alunos formas de comportamento e linguagem que 
nem todos possuem. 
A sociologia crítica da educação questiona a ideia de meritocracia como 
justificativa para o sucesso ou o fracasso escolar. Ao ignorar os condicionantes sociais 
e culturais, o discurso meritocrático perpetua a exclusão e responsabiliza o indivíduo 
por dificuldades que são estruturais. Dessa forma, a escola deixa de ser espaço de 
ascensão social e torna-se mecanismo de seleção e exclusão. 
No entanto, a escola também pode ser um espaço de resistência, de criação e 
de transformação. Autores como Paulo Freire acreditam na capacidade dos 
educadores e educandos de romper

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