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Apostila de Sociologia.pdf

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SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
U
N
ID
A
D
E 
1
A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA
COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo
uma análise do contexto sócio-histórico que propiciou o seu surgimento e, a
partir daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de
estudo.
OBJETIVO DA UNIDADE:
• Analisar as condições sócio-históricas que favoreceram o
surgimento da Sociologia como ciência, identificando seu objeto
de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas
neste contexto, a fim de que possa participar do processo social
conscientemente.
PLANO DA UNIDADE:
• O contexto sócio-histórico e intelectual do surgimento da
Sociologia.
• A crise do Feudalismo.
• A formação dos Estados-Nacionais.
• O Mercantilismo e a expansão comercial ultramarina.
• A Sociologia se estabelece como Ciência.
Bem-vindo à primeira unidade de estudo.
Sucesso!
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA
SOCIOLOGIA
O surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo
processo histórico que tem início na transição feudal-capitalista, quando se
dá a desagregação da sociedade feudal no
século XV e vai até o período das revoluções
burguesas - revolução industrial inglesa e a
revolução francesa no século XVIII, marcando
a consolidação da sociedade capitalista.
Respondendo a essas indagações,
estaremos com os nossos estudos bem
encaminhados... Sendo assim, vamos em
frente!
A CRISE DO FEUDALISMO
Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a
nova ordem pudesse ganhar espaço, o Feudalismo teria que extinguir todas
as suas possibilidades de reprodução.
A partir dos séculos XV e XVI podemos observar que grandes
transformações ocorreram na Europa e, conseqüentemente, no mundo todo.
Esses acontecimentos desestruturaram o
sistema feudal existente e deram origem a
um novo sistema – o capitalismo. A grande
crise do feudalismo desenvolveu-se na
Europa Ocidental no século XIV, atingindo
indiscriminadamente campo e cidade,
disseminando a fome, epidemias e as
guerras, podendo ser explicada por um
conjunto de fatores que trouxe, como
conseqüência, a superação do sistema
feudal.
A economia medieval encontrava-se em
crise face à baixa produtividade agrícola,
ocasionada pelo esgotamento dos solos - utilização inadequada de técnicas
agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de alimentos,
gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias.
Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da
região do Mar Negro uma epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a
morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres adultos e crianças
de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um
castigo de Deus.
A crise se agravou na medida em que os senhores feudais viram seus
rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento
dos campos.
Capitalismo: sistema
social baseado no capital, no
dinheiro.
SOCIOLOGIA APLICADA
A mortalidade trazida pela fome e a peste
negra foi ainda ampliada pela longa Guerra
dos Cem Anos (1337/1453), desencadeada
pela disputa das regiões de Bordéus e
Flandres, entre França e Inglaterra.
A conjuntura de epidemias, de aumento
brutal da mortalidade e de superexploração
camponesa que caracterizou a Europa do
século XIV trazendo a crise, foi sendo superada
no decorrer do século XV, com a retomada do
crescimento populacional, agrícola e comercial.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS-NACIONAIS
Para acompanharmos as transformações em curso, é fundamental
concentrarmos-nos na aliança entre a burguesia e o rei, que resulta na formação
dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidação territorial a partir de
práticas políticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade
dos reis.
Essa nova forma de organização política atendia aos interesses tanto
da nobreza quanto da burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente
dependência frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram assegurados
os seus privilégios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os
seus títulos nobiliárquicos, além de cargos administrativos, pensões e chefias
de regimentos militares.
Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos
para a manutenção de exércitos profissionais permanentes, necessários à
manutenção da ordem e do poder. Além disso, a centralização política e
administrativa trouxe a gradual unificação de impostos, leis, moedas, pesos,
medidas e alfândegas em cada país, beneficiando o comércio e a burguesia.
Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do século XIV em
Portugal e durante o século XV na França, Espanha e Inglaterra, evoluíram no
sentido do Absolutismo monárquico. Sistema político o qual o rei detém o poder
total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obediência aos súditos. Mesmo as
regiões que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a
Itália e a Alemanha, a tendência foi para o
fortalecimento do poder político dos
governantes locais.
MERCANTILISMO E A EXPANSÃO
COMERCIAL ULTRAMARINA
Veremos agora como os europeus –
pioneiramente Espanha e Portugal - chegam
a regiões nunca antes alcançadas e quais
os seus verdadeiros interesses. A expansão
territorial implementada pela política
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
mercantilista resultou na conquista e exploração de novos territórios
denominados “colônias” e estas passando a cumprir o papel de
complementaridade da economia da metrópole, constituindo-se em fontes
geradoras de riquezas dos países europeus. Através do “Pacto Colonial”,
ficava assegurada a exclusividade das transações mercantis estabelecidas
entre as metrópoles e suas respectivas colônias, numa relação também
conhecida como monopólio comercial.
Dentre as características do Mercantilismo, podemos identificar:
• expansão marítima comercial e a conquista de novos mercados
fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra;
• busca incessante do lucro, através da manutenção de uma
balança comercial de superávit, ou seja, exportar sempre mais
do que importar;
• idéia metalista – nível de riqueza de um país medido pelo
montante de ouro e prata acumulado em seu tesouro nacional;
• absolutismo monárquico – poder político centralizado em torno
do rei que constituía-se na autoridade maior do sistema, com o
Estado controlando a política econômica em favor dos interesses
burgueses.
As práticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo
comercial dando origem à acumulação primitiva de capitais, pré-condição
necessária ao desenvolvimento do próprio capitalismo.
Secularização
É importante agora, percebermos as mudanças do
entendimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Na transição
feudal-capitalista surge um novo homem, principalmente nos
centros urbanos, mais crítico e sensível, representando um
pensamento antropocêntrico – o homem como o centro de
todas as coisas e racionalista – crença ilimitada na capacidade
da razão em dar conta do mundo - movimento resgatado da
antiguidade greco-romana, que chocava-se com a postura
teocêntrica e dogmática, definida pelo poder clerical na Idade
Média.
Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a
realidade, isto é, a razão passou a ser considerada o elemento
principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção
anticlerical apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter
à autoridade divina imposta pela Igreja Católica.
RenascimentoO Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura
européia entre os séculos XIV e XVI, originário da Itália e irradiado por toda
a Europa.
SOCIOLOGIA APLICADA
Está associado ao humanismo e fudamentado nos conceitos da
civilização da antiguidade clássica, numa demonstração de
menosprezo pela Idade Média, considerada como “noite de mil anos”
ou “escuridão”.
O Renascimento representou uma nova visão de mundo que
atendia plenamente aos interesses da burguesia em ascensão. Suas
principais características eram o racionalismo, crença na razão como
forma explicativa do mundo em oposição à fé; o antropocentrismo,
colocando o homem no centro de todas as coisas, em oposição ao
teocentrismo e o individualismo, em oposição ao coletivismo cristão.
O Humanismo pregava a pesquisa, a crítica e a observação, em
oposição ao princípio da autoridade.
A explicação da origem italiana do Renascimento e do
Humanismo, se dá em função da riqueza das cidades italianas, da
presença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma
e da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito
para a divulgação das novas idéias.
Fases do Renascimento
O Renascimento pode ser dividido em três grandes fases,
correspondentes aos séculos XIV, XV e o XVI.
Trecento - século XIV - manifesta-se predominantemente na Itália, mais
especificamente na cidade de Florença, pólo político, econômico e cultural da
região. Giotto, Boccaccio e Petrarca estão entre seus representantes. Suas
características gerais são o rompimento com o imobilismo e a hierarquia da
pintura medieval - valorização do individualismo e dos detalhes humanos;
Quatrocento - século XV - o Renascimento espalha-se pela península
itálica, atingindo seu auge. Neste período atuam Botticelli, Leonardo da Vinci,
Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os três últimos o “trio
sagrado” da Renascença. As características gerais do período são: inspiração
greco-romana (paganismo e línguas clássicas), racionalismo e
experimentalismo;
Cinquecento – século XVI - o Renascimento torna-se neste século um
movimento universal europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadência.
Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a Contra-reforma instaura
o Barroco como estilo oficial da Igreja Católica. Na literatura atuaram Ludovico
Ariosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, já na pintura eram Rafael e
Michelangelo.
O Iluminismo
O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na França no século
XVII e teve o seu apogeu durante o século XVIII - o chamado “Século das
Luzes”, que enfatizava o domínio da razão e da ciência como formas de
explicação para todas as coisas do universo, substituindo as crenças religiosas
e o misticismo que bloqueavam a evolução do homem desde a Idade Média.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém
era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que
se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais para
todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra
as imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários
ao absolutismo do rei, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero.
O Iluminismo foi mais intenso na França onde influenciou a Revolução
Francesa, assim como na Inglaterra e em diversos países da Europa onde a
força dos protestantes era maior, chegando a ter repercussões, mesmo em
alguns países católicos.
Podemos dizer que, de certo modo, este movimento é herdeiro da
tradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização do
Homem e da Razão, contribuindo também para o avanço do capitalismo e
da sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de uma
sociedade “livre”, com possibilidades de transição de classes e mais
oportunidades iguais para todos.
Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e da
natureza que deveriam ser extraídas as riquezas dos países. Segundo Adam
Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem escrúpulos o que,
em sua visão, geraria um bem-estar geral na civilização.
Os principais filósofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704),
ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempo
através do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade de
pensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa; Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778), ele defendia a idéia de um estado democrático que
garantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755), ele defendeu a
divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; Denis Diderot
(1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaram
uma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da
época.
O outro lado da moeda
Estas transformações foram acompanhadas, nos séculos XVII e XVIII,
por mudanças políticas, tais como: a Revolução Inglesa, a Revolução
SOCIOLOGIA APLICADA
Americana e a Revolução Francesa, que introduziram grandes alterações
nessas sociedades e influenciaram a mudança de outras no mundo a fora.
Você pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na
produção da terra passa a ter suas bases na produção industrial e trouxe
consigo uma nova forma de trabalho, que é o trabalho assalariado. Este
também trouxe novas formas de relações entre as pessoas e de
representatividade nos governos.
Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava
completamente transformada precisando se organizar para atender às novas
necessidades.
Revolução Industrial Inglesa
Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os
homens, configurando as formas do mundo contemporâneo.
No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande
transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das
técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de
Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas
permitiram o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição
dos preços dos produtos e o crescimento do consumo e dos lucros.
Esse momento revolucionário de passagem da energia humana,
hidráulica e animal para motriz, é o ponto culminante de uma revolução
tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser encontradas nos
séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos
Estados-Nacionais e a adoção da política mercantilista. A acumulação de
capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados
proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da
produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente,
passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas
para a produção mecanizada nas fábricas.
Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das
chamadas “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise
do Antigo Regime na passagem do capitalismo comercial para o industrial.
Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos
Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios
iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade
Contemporânea.
A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns
fatores contribuíram para isso:
• o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal
em meados do século XVIII, liberalizando a indústria e o
comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e
aumento da produtividade em um curto espaço de tempo;
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
• a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres”
marcou o fim do uso comum dasterras, expulsando o homem
do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que
não tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para
as cidades, gerando forte concentração de mão-de-obra urbana,
o que favorecia às indústrias;
• a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em
seu subsolo, a principal fonte de energia para movimentar as
máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também
consideráveis reservas de minério de ferro, principal matéria-
prima utilizada neste período.
• a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as
fábricas, comprar matéria-prima, máquinas e contratar
empregados por causa da grande taxa de poupança que existia
na época;
• a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difusão de novas
técnicas e instrumentos de cultivo.
A mecanização da produção criou o proletariado rural e urbano,
composto de homens, mulheres e crianças, submetido a jornadas de trabalho
diárias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no campo ou nas fábricas.
Com a Revolução Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado
em duas classes fundamentais: a burguesia detentora do capital e o
proletariado, que nada possuíam a não ser a sua força de trabalho, que
vendiam aos capitalistas em troca de um salário.
O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas
ou crédito. O agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do
capital, controlam o processo de produção, contratam ou demitem os
trabalhadores, conforme seus interesses.
As formas de transformação de matérias-primas em produtos são:
trabalho artesanal – é a forma mais primitiva de trabalho, dominada
pelo homem há milhares de anos. O trabalho era manual, sem a utilização
de máquinas e o artesão realizava sozinho todas as etapas da produção,
desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final dos produtos,
não havendo divisão do trabalho. O artesão era dono dos meios de produção
- oficina e ferramentas simples - possuindo também o produto final de seu
trabalho.
trabalho manufaturado – estágio intermediário entre o artesanato e a
indústria. Neste processo, podemos observar o uso de máquinas simples e
a divisão social do trabalho (especialização do trabalhador) com cada
trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obtenção
do produto final. Na manufatura, já encontramos a figura do capitalista com
interferência direta no processo produtivo, passando a comprar a matéria-
prima e a determinar o ritmo de produção.
indústria moderna – com a mecanização da produção introduzida pela
Revolução Industrial, os trabalhadores perdem o controle do processo
SOCIOLOGIA APLICADA
produtivo, passando a trabalhar para um patrão – burguês - na condição de
operários – empregados assalariados. Esses trabalhadores passam a
manejar máquinas que pertencem agora ao empresário, dono dos meios de
produção e para o qual se destina o lucro, sendo que a matéria-prima e o
produto final não mais lhes pertencem.
Temos como etapas da industrialização, os seguintes períodos:
Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século
XVIII até as últimas décadas do século XIX, com a predominância do trabalho
intensivo com jornadas de trabalho de até 16 horas por dia, com baixa
remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias
têxteis, sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral.
Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas
do século XIX até o final da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho
cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada por leis trabalhistas, a
partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O
petróleo vai substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de
energia e a indústria automobilística como maior atividade produtiva.
Terceira Revolução Industrial – conhecida também como Revolução
Técnico-Científica, tem início a apartir da segunda metade da década de 1970,
sendo caracterizada pelo avanço do conhecimento e tecnologia avançada.
As jornadas de trabalho são mantidas em 8 horas diárias. Os setores de
ponta são a informática, a robótica, as telecomunicações, a química fina e a
biotecnologia. Neste período, temos uma diversificação quanto às fontes de
energia – hidrogênio, energia solar, etc.
A Revolução Industrial favoreceu também o desenvolvimento dos
transportes. Logo vieram a locomotiva e a navegação a vapor, o que fez com
que houvesse uma redução nos custos dos fretes, baixando os preços dos
produtos e aumentando o consumo.
Com a Revolução Industrial, a Inglaterra se transformou no maior
produtor e exportador de produtos manufaturados e a população dos centros
urbanos cresceu assustadoramente. Não podemos esquecer de que havia
nesse país matérias-primas indispensáveis para o funcionamento e a
construção dessas máquinas – carvão e ferro.
E, então, você já pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia
investiu na inovação tecnológica e as máquinas foram cada vez mais se
aprimorando e aumentando a produção que se expandia por todo o mundo,
estabelecendo laços de dependência entre as nações.
O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força
utilizando-se fortemente da mão-de-obra feminina e infantil e a energia a
vapor cresce em lugar da energia humana.
Revolução Francesa
A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do
feudalismo para o capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade
baseada na economia de mercado.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
A Revolução Francesa significou o colapso das instituições feudais do
Antigo Regime e o fim da monarquia absoluta na França. Ao mesmo tempo,
propiciou a ascensão da burguesia ao poder político, fortalecendo as condições
essenciais para a consolidação do capitalismo.
Movimento político de extrema relevância para o continente europeu e
para o Ocidente, a Revolução Francesa teve início em 1789 e se prolongou
até 1815. Sofreu grande influência dos ideais do Iluminismo, baseando-se
no direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade e nos princípios
democráticos e liberais da Independência Americana(1776).
O êxito do processo revolucionário francês, encerrando os privilégios
da nobreza e do clero, serviu de motivação para novos movimentos em
direção ao igualitarismo em outras partes da Europa.
A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes
períodos: a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção
e o Directório.
Causas da Revolução
A Revolução Francesa foi resultado de uma conjugação de fatores
sociais, econômicos, políticos e, pelo menos um desses fatores, é apontado,
pela maioria dos historiadores, como determinante para o desencadeamento
do processo revolucionário. Trata-se do descontentamento do povo com os
abusos e privilégios do regime absolutista.
A composição social da sociedade francesa, na segunda metade do
século XVIII, é marcada por uma rígida hierarquia e estratificação social. A
hierarquia social francesa propiciava honras e privilégios em função do
nascimento e dividia a população de maneira discriminatória segundo ordens
ou estados.
De um lado, duas classes – o clero e a nobreza, que juntas usufruíam
dos privilégios e da riqueza produzida pela sociedade francesa.
O Clero ou 1º Estado composto por importantes membros da Igreja
Católica, originário da nobreza, que em 1789 representava 2% da população
francesa.
A Nobreza ou 2º Estado formado pelo rei e sua família, bem como
outros nobres como: condes, duques, marqueses, aproximava-se de 1,5%
dos habitantes. Controlava a maior parte das terras, concentrando emsuas
mãos boa parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inúmeros
privilégios e não pagava impostos.
Do outro lado, o povo – base da sociedade francesa, que sustentava
pelo peso de impostos que pagava, a vida de riqueza e muito luxo dos nobres
e do clero.
O Povo ou 3º Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores
urbanos (a maioria deles desempregados), artesãos e camponeses - sans
cullotes.
SOCIOLOGIA APLICADA
O desenvolvimento do comércio e da indústria, assim como a conquista
de novos mercados na Europa e fora dela, fizeram a burguesia acumular
riquezas muito rapidamente. A confortável posição que desfrutava no campo
dos negócios, contrastava com a desfavorável condição que a burguesia
ocupava na vida política do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura
social francesa barrava a ascensão da burguesia, uma vez que os privilégios,
honras e títulos estavam reservados somente à nobreza e ao alto clero.
Além disso, a má administração das finanças, a cobrança excessiva de
impostos e os gastos descontrolados da nobreza eram considerados
obstáculos aos interesses burgueses.
Os camponeses e os trabalhadores urbanos que representavam a
esmagadora maioria da população francesa viviam em precárias condições
de vida e de existência, ou seja, em quase absoluta miséria.
No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente
uma pequena parcela podia manter-se com a produção da terra. A elevada
carga de impostos relegou boa parte dos pequenos proprietários a subsistir
trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a
produção artesanal.
Por outro lado, o progresso industrial não representou para a classe
trabalhadora operária uma melhoria das condições de vida e de trabalho. A
classe operária convivia com salários muito baixos e com altos níveis de
desemprego.
O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado
pela crise econômico-financeira do Antigo Regime, tornou ainda mais precárias
as condições em que viviam os trabalhadores do campo e da cidade.
Relegados a condições miseráveis de existência, camponeses e trabalhadores
urbanos desejavam novas formas de vida e de trabalho.
As origens do processo revolucionário francês de 1789 devem ser
buscadas nas contradições dos interesses estabelecidos pelo regime
absolutista e as novas forças sociais que estavam em ascensão. Ou seja, os
interesses econômicos e políticos da nova e poderosa classe burguesa
sufocada por uma organização social aristocrática e decadente fizeram
despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens, as
diferenças sociais e as restrições. Diante das promessas igualdade e
fraternidade, o povo foi atraído para a causa
revolucionária.
A SOCIOLOGIA SE ESTABELECE COMO
CIÊNCIA
Tendo em vista todos estes
acontecimentos, Augusto Comte (1798-
1857) defende uma proposta para resolver
os problemas da sociedade de sua época que
viria através da reforma intelectual do homem
alcançando a reforma das instituições.
Liberalismo: corrente
política de pensamento que
defende a liberdade do indi-
víduo frente ao
intervencionismo do Estado.
UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no
século XIX e pregava a liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém,
suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem pública contra os abusos
do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15).
A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela
sociedade capitalista e vai assim enfatizar as ações altruístas entre os
homens.
O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas
partes que a constituem desempenham funções que se orientam para a
preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia sofrer revoluções
violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire
do Liberalismo, pregando o planejamento social.
Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima
objetividade possível.
A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também
os republicanos no Brasil, como podemos observar, o lema na bandeira
nacional “Ordem e Progresso”.
A especificidade do conhecimento sociológico
As ciências se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus
métodos.
E com a Sociologia não vai ser diferente. Se observarmos uma
sociedade, veremos que os homens praticam atos que podemos chamar de
individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como também, praticam atos
considerados sociais – casar, fazer reuniões, pedir demissão – são situações
que só podem ser entendidas através das relações que se estabelecem
entre indivíduos ou grupos de indivíduos e que não podem ser entendidas
isoladamente. São estes fatos coletivos que interessam à Sociologia, pois
suas causas são encontradas não no individual, mas sim na sociedade.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como
conhecimento científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia
Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos muito que estudar!
Positivismo: corrente fi-
losófica cujo iniciador foi
Augusto Comte. Defendia a
ciência acima de tudo.
Laissez-faire: expressão
francesa que transmite uma
das essências do Liberalismo
que dizia: deixai - fazer, ou
seja, o homem era livre para
fazer o que quisesse.
Objeto de estudo: aquilo
que vai ser estudado pelo ci-
entista.
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Graduação
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CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE
HUMANA
Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em
grupo para se hominizar, ou seja, para se tornar verdadeiramente humano.
Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em grupo. Vamos lá!
OBJETIVOS DA UNIDADE:
• Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal,
identificando seus elementos principais.
• Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas.
• Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria
cultural nos dias atuais, avaliando seu papel ideológico.
PLANO DA UNIDADE:
• Elementos principais da sociedade humana.
• A essência da cultura.
• Classificação da cultura.
• Cultura popular e cultura erudita.
• Indústria cultural ou cultura de massa.
Bons estudos!
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
44
Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos
agora o ambiente social do homem, o seu papel como elemento ativo da
sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras deste
ambiente.
ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA
O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua
existência fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente
pode desenvolver as características que chamamos de humanas, como, por
exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes
queridos, transmitir mensagens através de símbolos... O processo de
hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver
com outros homens e a se comportar como tal.
Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo
com os outros homens, ou seja, é influenciando e sendo influenciado que
ele irá aprender a conviver.Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade.
A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo,
primeiramente, com seus grupos mais íntimos
(família e escola) e depois com outros grupos
que irá se tornar um membro ativo da sociedade
em que nasceu. A esse processo chamamos de
socialização.
Conseqüentemente, podemos observar que
a criança tem poucas possibilidades de seguir
seus desejos e suas vontades, que
normalmente são hedonistas e egoístas e que
muitas vezes são opostas às vontades do
grupo, o qual exige restrição, disciplina, ordem
e abnegação. E nesta relação, a sociedade
normalmente sai ganhando.
Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o
fator verdadeiramente determinante na socialização da criança. Mas este
processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e nós estamos sempre
aprendendo coisas novas em nossa sociedade.
O ambiente social influencia até no tipo de
personalidade dos indivíduos, assim
observamos, ao longo da História, sociedades
que geraram homens guerreiros, homens
caçadores, homens viajantes, homens
executivos com tino para negócios, etc. De um
modo geral, pode-se dizer que cada cultura
produzirá seu tipo especial ou tipos especiais
de personalidades.
Socialização: processo de
aprendizagem da cultura da
sociedade em que nascemos.
Hedonista: ligado aos praze-
res.
SOCIOLOGIA APLICADA
45
Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o
comportamento dos indivíduos são determinados pelas “representações
coletivas”. Esta representação indicava o corpo de experiências, idéias e
ideais de um grupo do qual o indivíduo inconscientemente depende para a
formulação de suas idéias, atitudes e comportamento.
A ESSÊNCIA DA CULTURA
A cultura tem sido definida de diversas maneiras.
Spencer (In: KOENIG, 1985) considerou-a o ambiente superorgânico,
ambiente peculiar ao homem, enquanto os outros dois (inorgânico ou físico
e orgânico, o mundo dos vegetais e animais) ele compartilha com os animais
inferiores.
Uma definição muito conhecida é a de Edward Tylor (1871, p1):
“Cultura é todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte,
moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Também pode ser definida como:
 A soma total dos esforços do homem para ajustar-se a seu ambiente
e melhorar suas maneiras de viver.
Desta forma, os antropólogos enfatizam que a cultura é o comportamento
aprendido em sociedade, pois o comportamento instintivo é inerente aos
animais. Logo, a cultura é resultante da invenção social, é aprendida e
transmitida por meio da educação e da comunicação entre os membros de
uma sociedade humana.
Alguns animais vivem em sociedades, mas
estas se baseiam em instintos ou
comportamento reflexo e não mostram variação
de geração para geração. O caso mais
apontado é o das abelhas, em que visualizamos
certa organização social.
Os instintos animais respondem a leis
biológicas, sendo assim suas reações podem
ser previstas e estão ligadas completamente
ao mundo natural, não o ultrapassando. Já o
homem se comportará de acordo com a
sociedade em que vive, respondendo
diferenciadamente aos estímulos e às necessidades de seu meio ambiente
e de seu tempo.
Entretanto, para a produção de cultura, o homem precisa se comunicar e
esta comunicação, que é feita de várias maneiras na sociedade humana,
ganha maior peso com a linguagem simbólica (abstrata) que é exclusiva do
homem.
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
46
Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe
com as tradições, renovando esta cultura e acrescentando novos elementos
à mesma. Desta forma, observamos que o homem é um ser histórico que
vive a cada época de maneira diferente.
CLASSIFICAÇÃO DA CULTURA
As culturas apresentam um aspecto material e outro não-material. Aqui
podemos situar as tradições, os costumes, as leis, as ciências, as ideologias,
etc. A cultura, também possui o seu lado material, concreto, em que são
produzidos todos os tipos de objetos, máquinas, ferramentas, que estão
ligados, obviamente, ao lado abstrato.
Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem é o único
animal que produz cultura, pois é o único animal que transforma a natureza
através de seu trabalho, produzindo bens materiais para a sua subsistência.
CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA
Esses conceitos geram, muitas vezes, discussões entre os estudiosos
da questão, pois como se define o que é popular e o que é erudito? Quais os
critérios utilizados para separarmos o que é uma coisa e o que é outra?
O critério mais utilizado é o da classe social, ou seja, a cultura popular
pertenceria ao povo e a cultura erudita às elites ou classes dominantes
dentro da sociedade capitalista. Para alguns antropólogos, estas definições
são muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as
classes não são homogêneas e nem tão pouco a sua produção cultural.
Portanto, esta divisão traz em si um grande debate científico.
Em uma sociedade como a nossa, verificamos a existência de uma inter-
relação entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a manutenção
da sociedade como um todo. Os elementos que a princípio pertencem à
cultura popular ou à cultura erudita vão se transformando dinamicamente e
se entrelaçando. O que podemos dizer é que este fenômeno é conseqüência
da vivência do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada
que a princípio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das
cidades, por outro lado, vemos a música clássica (pertencente às elites) em
um radinho de pilha de um operário.
SOCIOLOGIA APLICADA
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Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questões culturais,
analisa o conceito de cultura da seguinte forma:
Cultura: falsa evidência, palavra que parece uma, estável, firme, e,
no entanto, é a palavra armadilha, vazia, sonífera, mimada, dúbia,
traiçoeira. Palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa
salvação: verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade...
O que percebemos é que a cultura é um sistema em que todos os
elementos estão ligados entre si e que cada sociedade transmite a seus
membros a sua cultura, o seu patrimônio cultural.
Cada sociedade possui a sua cultura e é ela que a caracteriza.
Indústria cultural ou cultura de massa
Podemos começar a falar de indústria
cultural ou cultura de massa a partir do século
XVIII quando foi marcante a multiplicação dos
jornais na Europa, fato que anteriormente à
industrialização somente o clero e a nobreza
tinham acesso à escrita.
A industrialização trouxe consigo grandes
transformações sociais, econômicas, políticas e
culturais, não somente os bens materiais
produzidos por ela apresentaram aumento no
consumo, mas também os bens culturais. O número de leitores aumentou
consideravelmente com o barateamento dos custos do papel, os jornais
tinham cada vez mais tiragens. Cresceram as companhias de teatro, balé,
circos, que se preocupavam com o público das cidades que aumentava a
cada dia com o êxodo rural.
Todas estas transformações fizeram com que um ramo da indústria
passasse a se dedicar exclusivamente a este fato. Logo, não só os jornais
apresentavam crescimento, como já foi dito anteriormente, mas os livros, as
peças, as “mercadorias culturais” como um todo, cresciam.
Este termo, indústria cultural, foi criado por dois grandes filósofos
contemporâneos: Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895-
1973).
Eles explicam como os meios de comunicação de massa (rádio, televisão,
cinema) vendem as mercadorias culturaise como são veiculadas as imagens
da sociedade capitalista através da propaganda desta sociedade, a fim de
que ela se mantenha como está, ou seja, para que a sua estrutura permaneça
a mesma.
UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA
48
Os atuais meios de produção propiciaram a reprodução de obras de arte
que foram sendo popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os
estudiosos da questão afirmam que não podemos pensar em cultura erudita
ou cultura popular sem antes examinarmos a indústria cultural.
Entretanto, os autores mencionados
criticavam a indústria cultural, pois
consideravam que, ao invés de democratizar os
bens culturais chamados de eruditos,
simplesmente os banalizavam, na medida em
que o povo não conseguia compreendê-los.
Logo, só serviam para controlar e manter o
status quo através da dependência e da
alienação dos homens.
Em contrapartida, outros autores, assim
como Marshall Mcluhan (1911-1980) analisam a
indústria cultural sob outro ângulo mais positivo,
pois consideram que os meios de comunicação de massa aproximam os
homens e diminuem as distâncias territoriais e sociais entre eles e muitas
vezes, estes são as únicas fontes de informação para uma considerável
parcela da população.
Segundo esta corrente de pensadores, a indústria cultural contribuiu
para a emancipação e melhoria das sociedades, pois promovendo a
padronização dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais, promove
também a união e o sentimento de nacionalidade.
Faça uma revisão deste conteúdo, buscando rever os pontos principais
que foram abordados.
LEITURA COMPLEMENTAR:
CASTRO & DIAS. Introdução ao pensamento sociológico. Rio
de Janeiro: Eldorado, 1981.
KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar,
1985.
MORIN, E. Cultura de Massa no século XX. O espírito do tempo
-2. NECROSE. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Na próxima unidade, estudaremos a estratificação social. Até lá!
Status quo – expressão latina
que significa o sistema vigen-
te.
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A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
O estudo que faremos agora visa esclarecer as formas de estratificação
social que os diversos tipos de sociedades moldaram para se organizarem e
suprirem suas necessidades.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Analisar os variados tipos de estratificação social que se estabeleceram
nas diferentes sociedades através dos tempos, avaliando o grau de
desigualdades sociais gerados por esses.
PLANO DA UNIDADE:
• O que é estratificação social?
• O sistema de castas
• A organização social através dos estamentos
• As classes sociais
Bons estudos!
UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
50
O QUE É ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL?
Os indivíduos, ao viverem em sociedade, ocupam posições diferentes por
motivos variados, compondo uma hierarquia social. Esta hierarquia é formada
por camadas de indivíduos e grupos superpostas de acordo com os valores
atribuídos a elas e é exatamente a esse fenômeno que chamamos de
estratificação social.
E sendo essa problemática uma constante em todas as sociedades, se
torna um objeto de estudo da Sociologia que é analisado por vários autores,
resultando daí uma tipologia que nos ajuda a compreender melhor esse fato
social.
Observando as diferentes formas de sociedade, poderemos verificar como
esse fato se expressou produzindo as castas, os estamentos e as classes
sociais.
O SISTEMA DE CASTAS
Existem sociedades nas quais a posição social do indivíduo é definida na
ocasião de seu nascimento independentemente de sua vontade e de seu
esforço posterior para tentar modificá-la. É uma situação herdada.
A sociedade indiana é o exemplo mais característico desse tipo de
estratificação social. Esse sistema é considerado muito rígido e fechado, como
vimos acima. Não é facultado ao indivíduo transitar de uma casta para outra,
ou seja, ele não tem mobilidade social, além de ser endógamo, isto é, os
casamentos ocorrem com indivíduos da mesma casta. Seus direitos e deveres
são específicos de sua casta.
De acordo com esse sistema foram instituídas quatro castas eternas
originárias da divindade que são: os brâmanes, os xátrias, os sudras e os
vaicias e aqueles que não pertencem a nenhuma casta, pois não seguiram
os códigos de suas castas que são os párias. As três primeiras castas são
compostas por indivíduos que já reencarnaram ou nasceram “duas vezes”.
As castas não podem manter contato entre elas, de acordo com o ritual isto
é impuro, deve-se manter distância entre as pessoas de castas diferentes,
sendo que em algumas regiões até o contato da sombra de um pária pode
ocasionar impurezas. O que os “impuros” tocassem ficava contaminado. Os
indivíduos são identificados pelo modo de se vestir, pela qualidade e cor das
roupas e pela ocupação.
Outra característica dessa sociedade é com referência ao prestígio de
cada casta. As castas daqueles “nascidos
duas vezes” ou “puros” gozam de maior
prestígio do que aqueles que “nasceram
uma vez só” ou “impuros”. Os brâmanes são
considerados a casta de maior prestígio e o
principal critério de status de uma casta é
quando esta tem alguma relação com eles.
A palavra casta é de origem
da língua portuguesa, mas na
língua indiana corresponde a
varna.
os párias - Grande número de-
les é composto por pessoas
que contraíram matrimônio
fora de suas castas.
SOCIOLOGIA APLICADA
51
Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos
são desiguais por natureza, já que os elementos que os caracterizam foram
definidos hereditariamente. Somente os indivíduos considerados puros
poderiam exercer cargos públicos.
Como as ocupações são hereditárias, salvo algumas exceções, a
sociedade apresenta uma divisão funcional do trabalho baseada nesse
esquema. A industrialização teve grande impacto nesse sistema, mas este
incorporou muitas inovações.
Cada casta possui leis específicas e tribunais próprios. Grurye (In:
Lakatos, 1985) aponta algumas transgressões que devem ser julgadas pelos
tribunais:
· comer, beber ou manter atividades com pessoas de outras
castas;
· tomar por concubina mulheres pertencentes a outras castas;
· adultério;
· sedução de mulheres casadas;
· recusa de cumprimento de promessa de casamento;
· recusa de manter uma esposa;
· o não pagamento de dívidas;
· roubo;
· quebra dos hábitos de comércio peculiar à casta;
· apropriar-se de clientes de outro e elevar ou reduzir os preços
das mercadorias e serviços;
· matar uma vaca ou outro animal sagrado;
· insultar um brâmane;
· desafiar os costumes das castas por ocasião de cerimoniais de
casamento e outras.
Essas castas podem ser encontradas em qualquer lugar da Índia, apesar
de apresentarem diferenciações ocasionadas por vários fatores que deram
origem a divisões múltiplas. Algumas dessas subcastas têm caráter nacional,
mas outras são encontradas apenas em determinados locais.
Desvinculando a casta de seu conteúdo religioso, como ocorre na Índia,
alguns autores consideram a existência das castas em outras circunstâncias,
tais como: no Antigo Egito, no Japão medieval, na Alemanha nazista.
A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DOS ESTAMENTOS
A sociedade feudal européia (séc. IX ao séc. XIV) se organizou através
desse sistema,que tinha suas bases apoiadas na tradição que definia seus
estratos em nobres, clero e servos.
Nobres – dedicavam-se à guer-
ra, à caça e a funções jurídicas
e administrativas.
Clero – dividia-se em alto clero
(era uma elite eclesiástica e
intelectual e seus membros vi-
nham da nobreza); baixo clero
que era composto pelos padres
originários da população pobre.
Servos – trabalhavam a terra
para si e para os seus senho-
res.
UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
52
Como foi dito anteriormente, era através da tradição que se definia os
elementos principais dessa organização que eram a honra, a hereditariedade
e a linhagem. Os estamentos ou estados eram semelhantes às castas, porém
não eram tão fechados. A mobilidade social era difícil, mas não impossível.
Este tipo de hierarquização social está ligado a um determinado momento
histórico com suas características econômicas e políticas.
E como se comportavam as pessoas nesse tipo de organização social?
Cada uma se comportava de acordo com o seu estamento porque os
privilégios também eram desiguais, pois aqueles que se encontravam no
topo da pirâmide social (nobres e clero) possuíam maiores privilégios. As
atividades guerreiras, sacerdotais e a administração pública eram reservadas
aos estamentos dominantes. Para manter seus privilégios, esses estamentos
criavam certas resistências à penetração de outros através de monopólios
de determinadas funções e da endogamia.
Os servos trabalhavam nas terras dos senhores feudais e estes os
protegiam. Um servo que não estivesse ligado a um senhor feudal estava
desprotegido perante a lei.
A propriedade e o uso da terra, no
sistema feudal, determinavam uma série de
obrigações que estavam ligadas por relações
de reciprocidade e de fidelidade.
Existiam também, nesse tipo de
organização social, os vassalos, que eram
aqueles que serviam a um senhor. Possuíam
obrigações de ajudar nas guerras, guardar
os castelos, prestar serviços de criadagem
doméstica, entre outros. Como foi dito acima,
o senhor também tinha obrigações de
proteger os seus vassalos.
Os senhores feudais, por sua vez,
também eram vassalos do rei, que estava no topo desta hierarquização e
ao qual todos estavam subordinados.
Esse tipo de organização social é chamado de patrimonialista, pois está
ligado diretamente à propriedade da terra, que era o maior patrimônio que
alguém poderia ter. Dessa forma, se definia a organização política da
sociedade feudal. Os nobres que não possuíam terras e usavam as de outro
nobre subordinado a eles. O clero também possuía terras e, com isso, muitos
nobres estavam subordinados a ele.
O poder estava nas mãos daqueles que detinham a propriedade das
terras, daí a nobreza e o clero estarem no topo da pirâmide social e,
conseqüentemente, os cargos públicos estavam vinculados a esse esquema
de tradição e fidelidade.
Os valores dessa sociedade eram difundidos pela Igreja Católica e os
indivíduos aceitavam que determinadas pessoas eram portadoras desses
privilégios pela hereditariedade, pela honra e pela linhagem.
Senhor – o proprietário das ter-
ras, também denominado de
suserano.
Marx foi o primeiro estudioso
a utilizar esse conceito, “clas-
ses sociais”, apesar de não tê-
lo definido com precisão.
SOCIOLOGIA APLICADA
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AS CLASSES SOCIAIS
A sociedade capitalista produz uma hierarquização social própria que se
configura no sistema de classes sociais, ou seja, essas classes expressam
como se organiza tal tipo de sociedade.
Dessa forma, uns são capitalistas – proprietários dos meios de produção
e outros possuem apenas a sua força de trabalho - operários. Esses dois
grupos dão origem às classes sociais que sustentam todo o sistema e como
resultado dessa relação surgem os interesses opostos, os antagonismos.
Quando falamos que as classes que sustentam o sistema capitalista são
duas, não quer dizer que existam apenas essas duas. Outras classes
intermediárias foram surgindo ao longo do desenvolvimento do capitalismo.
Historicamente, desde o nascimento do sistema capitalista com a queda
do sistema feudal, essas classes são consideradas antagônicas tanto no
que diz respeito ao aspecto econômico quanto ao aspecto político.
Economicamente, no que diz respeito à apropriação/expropriação e
politicamente no que diz respeito à dominação que a classe capitalista exerce
sobre as demais.
Essa divisão da sociedade em classes sociais não é um fato opcional,
isto é, os homens não escolhem participar de uma ou de outra classe, pois
elas são produzidas socialmente. Contudo, a mobilidade social é possível
nesse sistema, um indivíduo pode ir de uma classe para outra dependendo
de seu êxito nas relações de produção. O operário não pode dizer que não
vai mais trabalhar para o capitalista e o capitalista não pode dizer que não
precisa mais do operário, pois estariam abrindo mão de sua própria
existência.
As classes sociais só se estabeleceram no
sistema capitalista, porque estão
relacionadas a esse sistema. Como vimos,
anteriormente, no sistema feudal a
hierarquização dos estratos estava baseada
em estamentos.
Por que isso acontece? Porque a forma
de organização do trabalho é diferente e a
forma de propriedade também. Na sociedade
capitalista, o trabalho é livre e assalariado e
a cada dia requer uma divisão mais
especializada. Isto se faz necessário porque
no capitalismo existe a necessidade de se
gerar sempre excedentes que são comercializados e geram os lucros dos
capitalistas.
Quanto à distribuição do prestígio, este está associado às relações entre
as pessoas e os elementos da produção, os proprietários dos meios de
produção sempre gozam de maior prestígio social do que os trabalhadores.
Quanto à distribuição de poder, também não é diferente, possuem maior
poder aqueles que detêm os meios de produção.
Antagônicas – que possuem
interesses contrários, opostos.
UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
54
Vimos que o fenômeno da estratificação social está intimamente
relacionado às desigualdades sociais, pois ele é a própria expressão dessa
desigualdade.
Portanto, ao examinarmos os diversos tipos de estratificação social,
podemos concluir que não é possível compreendê-la sem antes compreender
como os homens organizam sua produção econômica e como distribuem o
poder político.
Agora, procure fazer uma nova leitura, observando os aspectos das
desigualdades sociais e da mobilidade social em cada um dos tipos de
estratificação social.
LEITURA COMPLEMENTAR:
LAKATOS, E. M. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1985.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
No próximo capítulo, trataremos da sociedade capitalista atual, suas
características e sua inclinação para mudanças contínuas.
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A SOCIEDADE CAPITALISTA
CONTEMPORÂNEA
Nesta unidade, examinaremos o processo de globalização que se
desenvolve entre nós e suas repercussões nas áreas econômica, política e
cultural.
OBJETIVO DA UNIDADE:
Caracterizar o processo de globalização, avaliando suas conseqüências
no contexto sócio-político-econômico e cultural.
PLANO DA UNIDADE:
• O fenômeno da globalização
• Um estudo sobre os primórdios da globalização
• As conseqüências do processo de globalização
Bons estudos!
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UNIDADE5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA
O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO
O assunto que vamos estudar agora é muito comentado em revistas,
jornais e livros, pois se trata de um tema bastante atual e polêmico. Contudo,
tentaremos esclarecê-lo abordando-o passo a passo.
O fenômeno da globalização vem se fazendo presente na atualidade de
forma avassaladora, se expandindo a cada dia, alterando estruturas políticas,
econômicas, jurídicas e ideológicas. O panorama nacional e internacional
ganha novos perfis, uma vez que, as negociações transnacionais com
empresas que aplicam seus capitais nos mercados que mais lhes ofereçam
vantagens, crescem vertiginosamente.
Esse fato é possível, pois a tecnologia, as comunicações e a economia
fazem do planeta uma unidade cada vez mais entrelaçada, complexa e inter-
relacionada, como afirma Leslie Sklair (1995, p.14):
Historicamente, a sociedade mundial se tornou uma idéia
acreditável somente nos últimos séculos e a ciência, a tecnologia, a
indústria e os valores universais estão produzindo um mundo do século
XX que difere de qualquer épocas passadas.
O estudioso no assunto John Naisbitt (1983) chamou a atenção para um
fato muito importante, pois observou que ao invés do que pensava Marshall
McLuhan que seria a televisão que faria do mundo uma “aldeia global”, na
verdade foram os satélites que a princípio estavam voltados para as
pesquisas espaciais, que realmente propiciaram esse fato.
UM ESTUDO SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA GLOBALIZAÇÃO
Mas o que é globalização? Quando este fenômeno começou?
Tentaremos responder a essas perguntas nesse item, mas precisaremos
recorrer aos conhecimentos de várias ciências, pois esse fenômeno vem
desafiando os diversos saberes, e, conseqüentemente, não encontraremos
um conceito único para o tema e nem tão pouco uma data ou época precisas.
Ainda mais por se tratar de um assunto estudado pelas ciências sociais que
são, na sua essência, questionadoras, proporcionando pontos de vistas
diferentes entre os estudiosos do assunto.
Enquanto que para alguns autores a globalização se iniciou desde o
século XV com as Grandes Navegações, pois a partir daí a Europa tomou
conhecimento de outros povos e nações do mundo como um todo e o
capitalismo encontrou assim as possibilidades de seu desenvolvimento, para
outros a globalização é um processo nítido que teve início no século passado
(século XX) através da comunicação via satélite, o que propiciou uma
transformação na sociedade como destaca NAISBITT (1983, p.12):
(...) 1957, marca o começo da globalização, da revolução da
informação. Os soviéticos lançam o Sputnik – o catalisador tecnológico
que faltava numa crescente sociedade de informação. A real importância
não vem do fato de ter se iniciado a era espacial – iniciou-se a era da
comunicação global por satélite.
Aldeia global – termo criado por
Marshall McLuhan com a inten-
ção de demonstrar que com a
utilização da televisão o mun-
do todo faria parte de uma mes-
ma sociedade.
57
SOCIOLOGIA APLICADA
Portanto, observando por esta perspectiva, a globalização é um
fenômeno típico da segunda metade do século XX que estabeleceu a crescente
inter-relação das economias e das sociedades dos vários países, tanto no
que diz respeito à circulação de mercadorias e serviços quanto aos mercados
financeiros e de informações e que vem se desenvolvendo até hoje.
Segundo outros autores, a globalização
surgiu a partir da queda do bloco socialista e
o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989
e 1991), como esclarece IANNI ( 1997, p.219):
(...) Emerge de forma particularmente
evidente, em suas configurações e em seus
movimentos, no fim do século XX, a partir do
desabamento do mundo bipolarizado em
capitalismo e comunismo (...)
A globalização também é considerada
como uma fase do desenvolvimento do
capitalismo, ou seja, assim como o
colonialismo esteve para a sua etapa
comercial e o imperialismo para sua fase industrial e inicio da financeira,
está a globalização para a fase científico-tecnológica do capitalismo.
Verificamos também que essa fase é uma expansão que tem por objetivo
aumentar os mercados e conseqüentemente os lucros da classe dominante.
Desta forma, a globalização rompe fronteiras geográficas e históricas se
consolidando a cada dia, como podemos observar nos estudos de IANNI
(1997, p.221):
Na base da ruptura que abala a geografia e a história no fim do
século XX está a globalização do capitalismo. Em poucas décadas, logo
se revela que o capitalismo se tornou um modo de produção global.
Está presente em todas as nações e nacionalidades, independente de
seus regimes políticos e de suas tradições culturais ou civilizatórias.
Aos poucos, ou de repentemente, as forças produtivas e as relações
de produção organizadas em moldes capitalistas generalizam-se por
todo o mundo.
Mas apesar dessa expansão da globalização ter sido vertiginosa, isto
não quer dizer que tenha sido de forma linear e sem resistências.
Encontramos, no decorrer desse processo, avanços e recuos, como esclarece
HAESBAERT (1998, p.14):
Se retornarmos no tempo, verificaremos que, na identificação de
fases ou “ondas”, o capitalismo apresentou avanços e recuos em sua
dinâmica competitiva, imperialista e globalizadora, não só pela natureza
contraditória de sua reprodução como também pela interferência, mais
ou menos intensa, dos trabalhadores (organizados em sindicatos, por
exemplo) e do Estado (...)
A sociedade global deixou de ser imaginária e se tornou uma realidade
econômica, política e social, tendo conseqüências marcantes no campo
cultural, pois alterou as condições de vida e de trabalho de muitas pessoas.
58
UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA
No passado, as inovações tecnológicas atingiram a sociedade agrária
dando lugar ao desenvolvimento do setor industrial, a mão de obra se
transferiu para a área urbana. Hoje, as novas tecnologias, ligadas ao setor
da informação e da microeletrônica atingem o setor industrial, aumentando
a sua produção e destruindo milhões de empregos. Entretanto, como
podemos observar, há uma mudança nos empregos, como afirma MAGNOLI
et al (1997, p.24):
Nas duas últimas décadas, a diminuição de empregos industriais
nos países ricos foi parcialmente compensada pela criação de empregos
no setor de serviços. Nos países do G7 (os sete países economicamente
mais poderosos do planeta: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França,
Grã-Bretanha, Itália e Canadá), entre 1974 e 1994, registraram-se
treze anos de redução de empregos no setor secundário: no mesmo
período os serviços ampliaram continuamente os seus postos de
trabalho (...)
Surge então, a sociedade de informação ou a sociedade pós-moderna
como chamou Daniel Bell sociólogo de Harvard. Atualmente, muito mais
trabalhadores lidam com a informação do que dentro de fábricas. Muito mais
pessoas gastam o seu tempo criando, processando ou distribuindo
informações. E o que caracteriza uma sociedade, como já vimos em outras
unidades, é justamente o modo como se organiza o trabalho.
Portanto, a sociedade hoje é chamada de sociedade de informação,
pois passou a sociedade industrial em números de trabalhadores (Naisbitt,
1983). Da mesma forma que a rede de transportes levou os produtos da
industrialização, a rede de comunicação está levando agora os novos
produtos da sociedade da informação.
AS CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO.
O fenômeno da globalização vem desafiando os estudiosos quanto as
suas conseqüências. Apesar de seu aspecto econômico ter sido enfatizado,
outras ciências, como já foi dito anteriormente, também vêm estudando
esse processo. A cada dia são promovidos seminários, encontros, palestras
de avaliação e previsão desuas conseqüências. O interesse dispensado ao
tema pelas universidades e pela imprensa, já demonstra que este se trata
de um assunto que gera polêmicas e conflitos. Delineiam-se, desta forma,
dois grupos de análises: os que são a favor e os que são contra a
globalização, FLORIANI (2004).
GLOBALIFÓLICOS GLOBALIFÍLICOS
Grupo que critica a globalização Grupo que defende a globalização
O grupo contrário à globalização critica a idéia de que este fenômeno
promove a interdependência entre os países e as regiões, aproximando-os
e propiciando o desenvolvimento. Acredita, este grupo, que a unilateralidade
59
SOCIOLOGIA APLICADA
do poder das nações mais ricas em busca da hegemonia do mercado é que
acaba prevalecendo, ou seja, essas nações é que ditariam sempre as regras
para as nações mais pobres. Além de destacarem que as nações mais ricas
possuem o domínio da tecnologia e que hoje a distância entre os países
ricos e os países pobres é cada vez maior do que no passado.
Já para o grupo que a defende, a
globalização desfaz fronteiras e o mundo
passa a ser um todo regido por regras e
práticas comuns, que devem ser adotadas
por todos. Nessa abordagem, muitas são
as vantagens advindas da globalização,
pois um mercado sem limites entre as
nações, que possui liberdade e se auto-
regulariza é a base ideal para o
desenvolvimento pleno do Neoliberalismo.
Também, o Estado se livra de suas
responsabilidades públicas, diminuindo sua
participação nas ações sociais destinadas
a garantir o desenvolvimento da
população, deixando essas atribuições para as empresas particulares. É a
política do Estado Mínimo.
Conseqüentemente, os Estados-Nacionais transformarão seus perfis
adotando novas formas e funções possibilitando a formação de uma gestão
mundial, como prevêem alguns cientistas políticos.
Entretanto, o processo de globalização vem recebendo severas críticas
desde as últimas crises no mercado financeiro internacional e também a partir
do elevado crescimento dos níveis de pobreza e de exclusão social. Um outro
aspecto apontado é que a globalização não está conseguindo uniformizar
os gostos, os padrões culturais como era previsto, pois os seus benefícios
não são para todos os cidadãos como já foi dito acima. Grande parte da
população não consegue se inserir nesse processo ficando assim excluída.
Diante desses fatos, adverte FLORIANI (2004, p.54) que:
Como pano de fundo, dois cenários parecem desafiar os
contendores: por um lado, o economicismo do Fórum Econômico
(Davos-Nova York) que não só propugna por mais globalização dos
mercados, do comércio, mas considera a única saída viável para o
planeta; por outro, o Fórum Social Mundial (de Porto Alegre) que se
coloca na resistência do processso, com os mais diferentes matizes,
mas com uma grande coincidência de oposição ao neoliberalismo
globalizante.
Além dos riscos econômicos, sociais e culturais, Giddens e Beck (In: Floriani,
2004) apontam como o maior problema da sociedade mundial o risco global,
em especial o risco ecológico proveniente, dentre outros, da crescente
desigualdade entre as regiões e países.
Hegemonia – dominação e di-
reção exercidas por uma clas-
se social dominante.
Neoliberalismo – Fase atual do
capitalismo que prega a liber-
dade total de transações co-
merciais sem a interferência do
Estado.
Estados-Nacionais – Surgiram
na Europa renascentista quan-
do as monarquias absolutistas
empreenderam a centralização
do poder político, destruindo
assim o poder local dos senho-
res feudais.
60
UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA
MAS SERÁ QUE ESSE PROCESSO É IGUAL EM TODOS OS PAÍSES?
Apesar de falarmos sempre em um processo de globalização, os
sociólogos advertem que existem vários processos de globalização, que
este fenômeno é plural, isto é, cada realidade compõe o processo de
globalização de forma diferente. Portanto, existem vários processos de
globalização distintos para cada realidade, ou seja, cada país, dependendo
da sua posição no capitalismo (país central ou periférico), viverá este
processo de maneira particular.
Quanto às influências culturais, os antropólogos assinalam que cada
realidade incorporará os elementos importados de outros países de acordo
com sua realidade, ou seja, a homogeneização cultural seria impossível na
medida em que cada grupo social incorporasse nesses elementos as suas
vivências locais recriando-os.
Segundo Huntington (1998) os conflitos que surgirão nas próximas
décadas entre as nações serão de ordem cultural, pois estas questões
gerarão os maiores conflitos no mundo contemporâneo. O choque entre as
diferentes civilizações dominará a política global.
TERIA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ATINGIDO TAMBÉM A ÁREA
EDUCACIONAL?
Podemos afirmar que sim, pois nesse contexto constatamos mudanças
nos processos de produção das mercadorias, nos perfis dos trabalhadores,
nas relações de trabalho e nos hábitos de consumo que necessariamente
terão repercussões no terreno educacional, exigindo novas necessidades
de qualificação e requalificação profissional.
Muitas são as idéias que surgem desse
processo, uma delas é a de que o estudante
será cada vez mais independente e
autodidata, podendo aprender sozinho
através de suas pesquisas e o professor não
será mais um transmissor de conteúdos em
uma escola formal, mas um orientador em
uma escola virtual.
Os estudiosos no assunto enfatizam que
a escola atual não está atendendo as
necessidades de uma sociedade em
transformação, pois a mesma não está
conseguindo acompanhar a evolução tecnológica. Em contrapartida,
assinalam que a escola também é uma formadora de valores essenciais
para o convívio humano, valorizando o seu papel na educação.
Faz-se necessário que a escola atenda as demandas do século XXI seja
criada, com novos currículos, metodologias e dinâmicas educativas próprias
que enfrentem o futuro. Essas mudanças seriam resultantes de novos
objetivos advindos dessa visão de mundo. Uma escola onde exista a crítica
61
SOCIOLOGIA APLICADA
das informações e a produção do conhecimento. Onde os estudantes saibam
encontrar a informação, seja nas aulas, na biblioteca, no computador, e diante
dessa informação saibam reelaborá-la criticamente. Os veículos de informação,
tais como: a televisão, o vídeo, o computador, o cinema não poderão mais
ser ignorados, pois eles também são veículos de aprendizagem. Cabe ao
professor ensinar ao aluno a processar essas informações, ou seja, dar
significado a elas.
Outros paradigmas de ensino-aprendizagem surgirão para atender esse
novo processo. Os professores, segundo Libâneo (1998), deverão
desenvolver comportamentos éticos e saberem orientar os alunos em valores
e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas e a si
próprios.
Estamos cientes de que com esta unidade não esgotamos o assunto,
mas esperamos que você tenha aprendido um pouco sobre o processo de
globalização que, como vimos, é muito complexo.
LEITURA COMPLEMENTAR:
NAISBITT, J. Megatendências. As dez grandes transformações
que estão ocorrendo na sociedade moderna. Edição. São
Paulo: Abril, 1983.
SKLAIR, L. Sociologia do sistema global. Trad. de Reinaldo
Orth. Edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.
IANNI, O. Sociedade e linguagem. Edição. Campinas: Editora
da UNICAMP, 1997.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!Na próxima unidade, iremos estudar alguns dos conceitos e expressões
muito utilizadas no campo da Sociologia.
1
SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
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U
N
ID
A
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6
CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES
UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
Muito bem, pessoal! Aqui vocês encontrarão alguns dos conceitos e
expressões muito utilizados no campo da Sociologia.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Conceituar e diferenciar os principais conceitos da ciência sociológica
observando sua dinâmica a fim de instrumentalizar-se para a compreensão
da mesma.
PLANO DA UNIDADE:
• ACOMODAÇÃO
• E adaptação?
• ALIENAÇÃO: Você já ouviu falar em alienação?
• ANTAGONISMO SOCIAL
• ASSIMILAÇÃO
• CIDADANIA
• COMPETIÇÃO
• CONFLITO
• CONSCIÊNCIA DE CLASSE
• COOPERAÇÃO
• DIREITOS FUNDAMENTAIS
• INTERAÇÃO SOCIAL
• JUSTIÇA SOCIAL
• MOBILIDADE SOCIAL
• MOVIMENTOS SOCIAIS
Bons estudos!
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
64
A nossa preocupação foi articular esses conceitos com letras de música,
textos de historiadores, poetas, jornalistas, pois é a partir da
contextualização que os significados se tornam mais claros.
ACOMODAÇÃO
A acomodação é um processo pelo qual os indivíduos se ajustam formal
e exteriormente a uma sociedade, muitas vezes de forma imposta e
obrigatória. Desenvolve-se a acomodação quando as pessoas ou grupos
julgam necessário agir em conjunto, apesar das diferenças e divergências.
É uma situação que pode ter vida curta ou perdurar séculos. É um processo
que pode acompanhar, reduzir ou evitar um conflito, o que não significa que
a solução gere satisfação para ambos os contendores. Repare como Gilberto
Freire (1984, p.163) aborda esse assunto:
“Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das
iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando-
se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo
deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de
tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram
penando.”
E ADAPTAÇÃO?
A adaptação é um processo pelo qual o indivíduo se ajusta à sociedade,
podendo-se afirmar que esse ajuste ocorre em três níveis: o afetivo, o
biológico e o cognitivo. Há de salientar-se que o primeiro está relacionado
aos valores prezados pela sociedade, os afetivos em relação aos pais, aos
namorados, a pátria, etc. - que geram inclusive datas comemorativas. O
segundo refere-se aos hábitos de um povo e o terceiro, aos padrões
desenvolvidos por ela, como, por exemplo, os padrões morais.
Em relação ao patriotismo, percebe-se que os próprios poetas trataram
de cultivá-lo e difundi-lo, muitas vezes até de formas diversas. Veja como
esse sentimento se revela nos versos extraídos do poema “Pátria Minha”,
de Vinícius de Moraes (1998, p.179)
(...)
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
SOCIOLOGIA APLICADA
65
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
(...)
O segundo e o terceiro níveis podem ser ilustrados pelo seguinte poema
(Oswald de Andrade, 1971, p.84) que trata da chegada dos portugueses ao
Brasil. Veja a estranheza que os hábitos e os padrões de comportamento
dos índios causam aos portugueses:
(...)
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
ALIENAÇÃO: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ALIENAÇÃO?
Naturalmente, sim. Alienação é um afastamento ou separação de partes
ou do todo da personalidade em relação à realidade exterior na qual se
insere. Esse fato pode ser exemplificado a partir dos versos de Bertolt Brecht
(1982, p.183) em “O analfabeto político”:
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa
Dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das
decisões políticas.
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
66
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o
peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da
sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra,
corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
ANTAGONISMO SOCIAL
Antagonismo social é a incompatibilidade de convívio harmonioso entre
as classes sociais, sendo cada uma destas, tal como Karl Marx afirmava, o
conjunto dos agentes sociais colocados nas mesmas condições no processo
de produção com afinidades ideológicas e políticas. Dessa forma, uma tenta
manter seus privilégios, e a outra, superar a dominação tanto política quanto
econômica que sofre por parte da primeira.
Não é isso que Cazuza retrata em seus versos “Brasil”?
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
 ASSIMILAÇÃO
A assimilação é um processo pelo qual um conjunto de traços culturais
é abandonado e um novo conjunto é adquirido. Este entendido como padrões
de comportamento, sentimentos e tradições. Pode ocorrer não só entre
povos distintos, mas também entre classes sociais. Como exemplo, pode
ser citado o caso de determinadas construções lingüísticas próprias das
camadas socialmente desprestigiadas que acabam influenciando o linguajar
das mais abastadas. Repare como Oswald de Andrade (1971, p.112) trata
dessa questão:
SOCIOLOGIA APLICADA
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Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
E também em Erro de Português, do mesmo autor, com um tom, porém,
bastante irônico:
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
 (Ibid., p.123)
CIDADANIA
Da forma como abordada por Thomas Marshall, o conceito de cidadania
pode ser compreendido a partir da articulação de três tipos distintos de
direito:
1) direitos civis, que incluem os direitos fundamentais à vida, à
liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei.
2) direitos políticos, se referem à participação do cidadão na vida
política da sociedade. Consistem na capacidade do cidadão
participar da organização dos partidos políticos de votar e de
ser votado.
3) direitos sociais, se referem aos direitos que garantem sua
participação na riqueza coletiva. São direitos sociais: a
educação, a saúde, o trabalho, o salário, a segurança pública,
a habitação, o lazer, etc.
Portanto, na ótica de Marshall, seria considerado cidadão pleno aquele
que usufruísse dos três tipos de direito. Cidadãos incompletos

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