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SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA U N ID A D E 1 A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Prezado aluno iniciaremos os nossos estudos de Sociologia fazendo uma análise do contexto sócio-histórico que propiciou o seu surgimento e, a partir daí, poderemos entender melhor o seu conceito e o seu objeto de estudo. OBJETIVO DA UNIDADE: • Analisar as condições sócio-históricas que favoreceram o surgimento da Sociologia como ciência, identificando seu objeto de estudo e comparando as diferentes posturas paradigmáticas neste contexto, a fim de que possa participar do processo social conscientemente. PLANO DA UNIDADE: • O contexto sócio-histórico e intelectual do surgimento da Sociologia. • A crise do Feudalismo. • A formação dos Estados-Nacionais. • O Mercantilismo e a expansão comercial ultramarina. • A Sociologia se estabelece como Ciência. Bem-vindo à primeira unidade de estudo. Sucesso! UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO O CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E INTELECTUAL DO SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA O surgimento da Sociologia pode ser identificado no bojo de um amplo processo histórico que tem início na transição feudal-capitalista, quando se dá a desagregação da sociedade feudal no século XV e vai até o período das revoluções burguesas - revolução industrial inglesa e a revolução francesa no século XVIII, marcando a consolidação da sociedade capitalista. Respondendo a essas indagações, estaremos com os nossos estudos bem encaminhados... Sendo assim, vamos em frente! A CRISE DO FEUDALISMO Caminharemos juntos nesta etapa, visando entender que, para que a nova ordem pudesse ganhar espaço, o Feudalismo teria que extinguir todas as suas possibilidades de reprodução. A partir dos séculos XV e XVI podemos observar que grandes transformações ocorreram na Europa e, conseqüentemente, no mundo todo. Esses acontecimentos desestruturaram o sistema feudal existente e deram origem a um novo sistema – o capitalismo. A grande crise do feudalismo desenvolveu-se na Europa Ocidental no século XIV, atingindo indiscriminadamente campo e cidade, disseminando a fome, epidemias e as guerras, podendo ser explicada por um conjunto de fatores que trouxe, como conseqüência, a superação do sistema feudal. A economia medieval encontrava-se em crise face à baixa produtividade agrícola, ocasionada pelo esgotamento dos solos - utilização inadequada de técnicas agrícolas predatórias - o que projetava um declínio na produção de alimentos, gerando a fome e, conseqüentemente, as epidemias. Em meados do século XIV, os comerciantes genoveses trouxeram da região do Mar Negro uma epidemia que, no espaço de dois anos, espalhou a morte por toda a Europa, atingindo homens e mulheres adultos e crianças de todos os segmentos sociais, sendo conhecida como Peste Negra – um castigo de Deus. A crise se agravou na medida em que os senhores feudais viram seus rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento dos campos. Capitalismo: sistema social baseado no capital, no dinheiro. SOCIOLOGIA APLICADA A mortalidade trazida pela fome e a peste negra foi ainda ampliada pela longa Guerra dos Cem Anos (1337/1453), desencadeada pela disputa das regiões de Bordéus e Flandres, entre França e Inglaterra. A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da mortalidade e de superexploração camponesa que caracterizou a Europa do século XIV trazendo a crise, foi sendo superada no decorrer do século XV, com a retomada do crescimento populacional, agrícola e comercial. FORMAÇÃO DOS ESTADOS-NACIONAIS Para acompanharmos as transformações em curso, é fundamental concentrarmos-nos na aliança entre a burguesia e o rei, que resulta na formação dos Estados-Nacionais, verificando-se a consolidação territorial a partir de práticas políticas absolutistas, com o fortalecimento do poder e autoridade dos reis. Essa nova forma de organização política atendia aos interesses tanto da nobreza quanto da burguesia. Os nobres, apesar de sua crescente dependência frente aos reis e da perda de autonomia, tiveram assegurados os seus privilégios feudais sobre os camponeses, mantendo suas terras e os seus títulos nobiliárquicos, além de cargos administrativos, pensões e chefias de regimentos militares. Os burgueses procuraram aliar-se aos reis, financiando-os com recursos para a manutenção de exércitos profissionais permanentes, necessários à manutenção da ordem e do poder. Além disso, a centralização política e administrativa trouxe a gradual unificação de impostos, leis, moedas, pesos, medidas e alfândegas em cada país, beneficiando o comércio e a burguesia. Os Estados-Nacionais, formados a partir de fins do século XIV em Portugal e durante o século XV na França, Espanha e Inglaterra, evoluíram no sentido do Absolutismo monárquico. Sistema político o qual o rei detém o poder total, cabendo-lhe o direito de impor leis e obediência aos súditos. Mesmo as regiões que permaneceram divididas em pequenos reinos e cidades, como a Itália e a Alemanha, a tendência foi para o fortalecimento do poder político dos governantes locais. MERCANTILISMO E A EXPANSÃO COMERCIAL ULTRAMARINA Veremos agora como os europeus – pioneiramente Espanha e Portugal - chegam a regiões nunca antes alcançadas e quais os seus verdadeiros interesses. A expansão territorial implementada pela política UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO mercantilista resultou na conquista e exploração de novos territórios denominados “colônias” e estas passando a cumprir o papel de complementaridade da economia da metrópole, constituindo-se em fontes geradoras de riquezas dos países europeus. Através do “Pacto Colonial”, ficava assegurada a exclusividade das transações mercantis estabelecidas entre as metrópoles e suas respectivas colônias, numa relação também conhecida como monopólio comercial. Dentre as características do Mercantilismo, podemos identificar: • expansão marítima comercial e a conquista de novos mercados fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra; • busca incessante do lucro, através da manutenção de uma balança comercial de superávit, ou seja, exportar sempre mais do que importar; • idéia metalista – nível de riqueza de um país medido pelo montante de ouro e prata acumulado em seu tesouro nacional; • absolutismo monárquico – poder político centralizado em torno do rei que constituía-se na autoridade maior do sistema, com o Estado controlando a política econômica em favor dos interesses burgueses. As práticas mercantilistas impulsionaram o crescimento do capitalismo comercial dando origem à acumulação primitiva de capitais, pré-condição necessária ao desenvolvimento do próprio capitalismo. Secularização É importante agora, percebermos as mudanças do entendimento do homem sobre si mesmo e o mundo. Na transição feudal-capitalista surge um novo homem, principalmente nos centros urbanos, mais crítico e sensível, representando um pensamento antropocêntrico – o homem como o centro de todas as coisas e racionalista – crença ilimitada na capacidade da razão em dar conta do mundo - movimento resgatado da antiguidade greco-romana, que chocava-se com a postura teocêntrica e dogmática, definida pelo poder clerical na Idade Média. Desenvolve-se, então, uma nova forma de entender a realidade, isto é, a razão passou a ser considerada o elemento principal de interpretação dos fatos. O homem constrói uma concepção anticlerical apoiada em bases de liberdade, que não precisava se submeter à autoridade divina imposta pela Igreja Católica. RenascimentoO Renascimento foi um movimento intelectual que marcou a cultura européia entre os séculos XIV e XVI, originário da Itália e irradiado por toda a Europa. SOCIOLOGIA APLICADA Está associado ao humanismo e fudamentado nos conceitos da civilização da antiguidade clássica, numa demonstração de menosprezo pela Idade Média, considerada como “noite de mil anos” ou “escuridão”. O Renascimento representou uma nova visão de mundo que atendia plenamente aos interesses da burguesia em ascensão. Suas principais características eram o racionalismo, crença na razão como forma explicativa do mundo em oposição à fé; o antropocentrismo, colocando o homem no centro de todas as coisas, em oposição ao teocentrismo e o individualismo, em oposição ao coletivismo cristão. O Humanismo pregava a pesquisa, a crítica e a observação, em oposição ao princípio da autoridade. A explicação da origem italiana do Renascimento e do Humanismo, se dá em função da riqueza das cidades italianas, da presença de sábios bizantinos, da herança clássica da Antiga Roma e da difusão do mecenato. A invenção da Imprensa contribuiu muito para a divulgação das novas idéias. Fases do Renascimento O Renascimento pode ser dividido em três grandes fases, correspondentes aos séculos XIV, XV e o XVI. Trecento - século XIV - manifesta-se predominantemente na Itália, mais especificamente na cidade de Florença, pólo político, econômico e cultural da região. Giotto, Boccaccio e Petrarca estão entre seus representantes. Suas características gerais são o rompimento com o imobilismo e a hierarquia da pintura medieval - valorização do individualismo e dos detalhes humanos; Quatrocento - século XV - o Renascimento espalha-se pela península itálica, atingindo seu auge. Neste período atuam Botticelli, Leonardo da Vinci, Rafael e, no seu final, Michelangelo, considerados os três últimos o “trio sagrado” da Renascença. As características gerais do período são: inspiração greco-romana (paganismo e línguas clássicas), racionalismo e experimentalismo; Cinquecento – século XVI - o Renascimento torna-se neste século um movimento universal europeu, tendo, no entanto, iniciado sua decadência. Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a Contra-reforma instaura o Barroco como estilo oficial da Igreja Católica. Na literatura atuaram Ludovico Ariosto, Torquato Tasso e Nicolau Maquiavel, já na pintura eram Rafael e Michelangelo. O Iluminismo O Iluminismo foi o movimento intelectual desenvolvido na França no século XVII e teve o seu apogeu durante o século XVIII - o chamado “Século das Luzes”, que enfatizava o domínio da razão e da ciência como formas de explicação para todas as coisas do universo, substituindo as crenças religiosas e o misticismo que bloqueavam a evolução do homem desde a Idade Média. UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Para os filósofos iluministas, o homem era naturalmente bom, porém era corrompido pela sociedade com o passar do tempo. Eles acreditavam que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais para todos, a felicidade comum seria alcançada. Por esta razão, eles eram contra as imposições de caráter religioso, contra as práticas mercantilistas, contrários ao absolutismo do rei, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero. O Iluminismo foi mais intenso na França onde influenciou a Revolução Francesa, assim como na Inglaterra e em diversos países da Europa onde a força dos protestantes era maior, chegando a ter repercussões, mesmo em alguns países católicos. Podemos dizer que, de certo modo, este movimento é herdeiro da tradição do Renascimento e do Humanismo por defender a valorização do Homem e da Razão, contribuindo também para o avanço do capitalismo e da sociedade moderna na medida em que disseminava os ideais de uma sociedade “livre”, com possibilidades de transição de classes e mais oportunidades iguais para todos. Economicamente, o Iluminismo identificava que era da terra e da natureza que deveriam ser extraídas as riquezas dos países. Segundo Adam Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem escrúpulos o que, em sua visão, geraria um bem-estar geral na civilização. Os principais filósofos do Iluminismo foram: John Locke (1632-1704), ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempo através do empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade de pensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), ele defendia a idéia de um estado democrático que garantia igualdade para todos; Montesquieu (1689-1755), ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário; Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaram uma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da época. O outro lado da moeda Estas transformações foram acompanhadas, nos séculos XVII e XVIII, por mudanças políticas, tais como: a Revolução Inglesa, a Revolução SOCIOLOGIA APLICADA Americana e a Revolução Francesa, que introduziram grandes alterações nessas sociedades e influenciaram a mudança de outras no mundo a fora. Você pode observar que a sociedade que antes tinha suas bases na produção da terra passa a ter suas bases na produção industrial e trouxe consigo uma nova forma de trabalho, que é o trabalho assalariado. Este também trouxe novas formas de relações entre as pessoas e de representatividade nos governos. Tudo mudava. Aquela sociedade tradicional que antes existia estava completamente transformada precisando se organizar para atender às novas necessidades. Revolução Industrial Inglesa Agora, iremos pesquisar a revolução que alterou a relação entre os homens, configurando as formas do mundo contemporâneo. No decorrer do século XVIII, a Europa Ocidental passou por uma grande transformação no setor da produção, em decorrência dos avanços das técnicas de cultivo e da mecanização das fábricas, a qual se deu o nome de Revolução Industrial. A invenção e o aperfeiçoamento das máquinas permitiram o aumento vertiginoso da produtividade, resultando na diminuição dos preços dos produtos e o crescimento do consumo e dos lucros. Esse momento revolucionário de passagem da energia humana, hidráulica e animal para motriz, é o ponto culminante de uma revolução tecnológica, social e econômica, cujas origens podem ser encontradas nos séculos XVI e XVII, com a política de incentivo ao comércio, adotada pelos Estados-Nacionais e a adoção da política mercantilista. A acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos mercados proporcionada pela expansão marítima estimularam o crescimento da produção, exigindo mais mercadorias e preços menores. Gradualmente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e destas para a produção mecanizada nas fábricas. Para Karl Marx, a Revolução Industrial integra o conjunto das chamadas “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime na passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que a acompanham são a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa que, sob influência dos princípios iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea. A Inglaterra foi o país pioneiro da industrialização, sendo que alguns fatores contribuíram para isso: • o principal deles foi a aplicação de uma política econômica liberal em meados do século XVIII, liberalizando a indústria e o comércio o que acarretou um enorme progresso tecnológico e aumento da produtividade em um curto espaço de tempo; UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO • a Lei de Cercamento dos Campos, denominados “enclouseres” marcou o fim do uso comum dasterras, expulsando o homem do campo e gerando o “trabalhador livre”. Na medida em que não tinham mais condições de vida no meio rural, partiam para as cidades, gerando forte concentração de mão-de-obra urbana, o que favorecia às indústrias; • a Inglaterra possuía grandes reservas de carvão mineral em seu subsolo, a principal fonte de energia para movimentar as máquinas e as locomotivas a vapor. Possuíam também consideráveis reservas de minério de ferro, principal matéria- prima utilizada neste período. • a burguesia inglesa tinha capital suficiente para financiar as fábricas, comprar matéria-prima, máquinas e contratar empregados por causa da grande taxa de poupança que existia na época; • a agricultura inglesa desenvolveu-se com a difusão de novas técnicas e instrumentos de cultivo. A mecanização da produção criou o proletariado rural e urbano, composto de homens, mulheres e crianças, submetido a jornadas de trabalho diárias, extensivas e intensivas, de mais de 16 horas no campo ou nas fábricas. Com a Revolução Industrial, consolida-se o sistema capitalista baseado em duas classes fundamentais: a burguesia detentora do capital e o proletariado, que nada possuíam a não ser a sua força de trabalho, que vendiam aos capitalistas em troca de um salário. O capital apresenta-se sob a forma de terras, dinheiro, lojas, máquinas ou crédito. O agricultor, o comerciante, o industrial e o banqueiro, donos do capital, controlam o processo de produção, contratam ou demitem os trabalhadores, conforme seus interesses. As formas de transformação de matérias-primas em produtos são: trabalho artesanal – é a forma mais primitiva de trabalho, dominada pelo homem há milhares de anos. O trabalho era manual, sem a utilização de máquinas e o artesão realizava sozinho todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-prima até o acabamento final dos produtos, não havendo divisão do trabalho. O artesão era dono dos meios de produção - oficina e ferramentas simples - possuindo também o produto final de seu trabalho. trabalho manufaturado – estágio intermediário entre o artesanato e a indústria. Neste processo, podemos observar o uso de máquinas simples e a divisão social do trabalho (especialização do trabalhador) com cada trabalhador ou grupo de trabalhadores, realizando uma etapa para a obtenção do produto final. Na manufatura, já encontramos a figura do capitalista com interferência direta no processo produtivo, passando a comprar a matéria- prima e a determinar o ritmo de produção. indústria moderna – com a mecanização da produção introduzida pela Revolução Industrial, os trabalhadores perdem o controle do processo SOCIOLOGIA APLICADA produtivo, passando a trabalhar para um patrão – burguês - na condição de operários – empregados assalariados. Esses trabalhadores passam a manejar máquinas que pertencem agora ao empresário, dono dos meios de produção e para o qual se destina o lucro, sendo que a matéria-prima e o produto final não mais lhes pertencem. Temos como etapas da industrialização, os seguintes períodos: Primeira Revolução Industrial – desenvolvida entre meados do século XVIII até as últimas décadas do século XIX, com a predominância do trabalho intensivo com jornadas de trabalho de até 16 horas por dia, com baixa remuneração do operariado. Utilização de máquinas à vapor nas indústrias têxteis, sendo que a grande fonte de energia era o carvão mineral. Segunda Revolução Industrial – compreendida entre as últimas décadas do século XIX até o final da década de 1970 – século XX. A jornada de trabalho cai para 8 horas diárias e passa a ser regulamentada por leis trabalhistas, a partir dos avanços sociais relativos ao processo histórico de cada país. O petróleo vai substituindo o carvão até se constituir na principal fonte de energia e a indústria automobilística como maior atividade produtiva. Terceira Revolução Industrial – conhecida também como Revolução Técnico-Científica, tem início a apartir da segunda metade da década de 1970, sendo caracterizada pelo avanço do conhecimento e tecnologia avançada. As jornadas de trabalho são mantidas em 8 horas diárias. Os setores de ponta são a informática, a robótica, as telecomunicações, a química fina e a biotecnologia. Neste período, temos uma diversificação quanto às fontes de energia – hidrogênio, energia solar, etc. A Revolução Industrial favoreceu também o desenvolvimento dos transportes. Logo vieram a locomotiva e a navegação a vapor, o que fez com que houvesse uma redução nos custos dos fretes, baixando os preços dos produtos e aumentando o consumo. Com a Revolução Industrial, a Inglaterra se transformou no maior produtor e exportador de produtos manufaturados e a população dos centros urbanos cresceu assustadoramente. Não podemos esquecer de que havia nesse país matérias-primas indispensáveis para o funcionamento e a construção dessas máquinas – carvão e ferro. E, então, você já pode imaginar o que foi acontecendo: a burguesia investiu na inovação tecnológica e as máquinas foram cada vez mais se aprimorando e aumentando a produção que se expandia por todo o mundo, estabelecendo laços de dependência entre as nações. O trabalho assalariado que substitui o trabalho artesanal ganha força utilizando-se fortemente da mão-de-obra feminina e infantil e a energia a vapor cresce em lugar da energia humana. Revolução Francesa A Revolução Francesa é um importante marco histórico da transição do feudalismo para o capitalismo, inaugurando um novo modelo de sociedade baseada na economia de mercado. UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO A Revolução Francesa significou o colapso das instituições feudais do Antigo Regime e o fim da monarquia absoluta na França. Ao mesmo tempo, propiciou a ascensão da burguesia ao poder político, fortalecendo as condições essenciais para a consolidação do capitalismo. Movimento político de extrema relevância para o continente europeu e para o Ocidente, a Revolução Francesa teve início em 1789 e se prolongou até 1815. Sofreu grande influência dos ideais do Iluminismo, baseando-se no direito à liberdade, à igualdade e à fraternidade e nos princípios democráticos e liberais da Independência Americana(1776). O êxito do processo revolucionário francês, encerrando os privilégios da nobreza e do clero, serviu de motivação para novos movimentos em direção ao igualitarismo em outras partes da Europa. A Revolução Francesa pode ser subdividida em quatro grandes períodos: a Assembléia Constituinte, a Assembléia Legislativa, a Convenção e o Directório. Causas da Revolução A Revolução Francesa foi resultado de uma conjugação de fatores sociais, econômicos, políticos e, pelo menos um desses fatores, é apontado, pela maioria dos historiadores, como determinante para o desencadeamento do processo revolucionário. Trata-se do descontentamento do povo com os abusos e privilégios do regime absolutista. A composição social da sociedade francesa, na segunda metade do século XVIII, é marcada por uma rígida hierarquia e estratificação social. A hierarquia social francesa propiciava honras e privilégios em função do nascimento e dividia a população de maneira discriminatória segundo ordens ou estados. De um lado, duas classes – o clero e a nobreza, que juntas usufruíam dos privilégios e da riqueza produzida pela sociedade francesa. O Clero ou 1º Estado composto por importantes membros da Igreja Católica, originário da nobreza, que em 1789 representava 2% da população francesa. A Nobreza ou 2º Estado formado pelo rei e sua família, bem como outros nobres como: condes, duques, marqueses, aproximava-se de 1,5% dos habitantes. Controlava a maior parte das terras, concentrando emsuas mãos boa parte de tudo que produziam os camponeses; gozava de inúmeros privilégios e não pagava impostos. Do outro lado, o povo – base da sociedade francesa, que sustentava pelo peso de impostos que pagava, a vida de riqueza e muito luxo dos nobres e do clero. O Povo ou 3º Estado era formado pela burguesia, pelos trabalhadores urbanos (a maioria deles desempregados), artesãos e camponeses - sans cullotes. SOCIOLOGIA APLICADA O desenvolvimento do comércio e da indústria, assim como a conquista de novos mercados na Europa e fora dela, fizeram a burguesia acumular riquezas muito rapidamente. A confortável posição que desfrutava no campo dos negócios, contrastava com a desfavorável condição que a burguesia ocupava na vida política do regime absolutista. Apesar de rica, a estrutura social francesa barrava a ascensão da burguesia, uma vez que os privilégios, honras e títulos estavam reservados somente à nobreza e ao alto clero. Além disso, a má administração das finanças, a cobrança excessiva de impostos e os gastos descontrolados da nobreza eram considerados obstáculos aos interesses burgueses. Os camponeses e os trabalhadores urbanos que representavam a esmagadora maioria da população francesa viviam em precárias condições de vida e de existência, ou seja, em quase absoluta miséria. No campo, embora grande parte dos camponeses fosse livre, somente uma pequena parcela podia manter-se com a produção da terra. A elevada carga de impostos relegou boa parte dos pequenos proprietários a subsistir trabalhando nas propriedades dos grandes senhores ou dedicar-se a produção artesanal. Por outro lado, o progresso industrial não representou para a classe trabalhadora operária uma melhoria das condições de vida e de trabalho. A classe operária convivia com salários muito baixos e com altos níveis de desemprego. O quadro de desigualdade social da sociedade francesa, alimentado pela crise econômico-financeira do Antigo Regime, tornou ainda mais precárias as condições em que viviam os trabalhadores do campo e da cidade. Relegados a condições miseráveis de existência, camponeses e trabalhadores urbanos desejavam novas formas de vida e de trabalho. As origens do processo revolucionário francês de 1789 devem ser buscadas nas contradições dos interesses estabelecidos pelo regime absolutista e as novas forças sociais que estavam em ascensão. Ou seja, os interesses econômicos e políticos da nova e poderosa classe burguesa sufocada por uma organização social aristocrática e decadente fizeram despertar o povo (o terceiro estado), que passou a rejeitar as ordens, as diferenças sociais e as restrições. Diante das promessas igualdade e fraternidade, o povo foi atraído para a causa revolucionária. A SOCIOLOGIA SE ESTABELECE COMO CIÊNCIA Tendo em vista todos estes acontecimentos, Augusto Comte (1798- 1857) defende uma proposta para resolver os problemas da sociedade de sua época que viria através da reforma intelectual do homem alcançando a reforma das instituições. Liberalismo: corrente política de pensamento que defende a liberdade do indi- víduo frente ao intervencionismo do Estado. UNIDADE 1 - A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA COMO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Estas reformas estavam embasadas no Liberalismo que triunfara no século XIX e pregava a liberdade e a igualdade inata entre os homens. Porém, suas reformas estabeleciam a autoridade e a ordem pública contra os abusos do individualismo da Escola Liberal (RIBEIRO JR. 1988:15). A Sociologia nasce como resposta a esse individualismo pregado pela sociedade capitalista e vai assim enfatizar as ações altruístas entre os homens. O positivismo de Comte comparava a sociedade à vida orgânica, cujas partes que a constituem desempenham funções que se orientam para a preservação do todo. Sendo assim, a sociedade não poderia sofrer revoluções violentas e sim se desenvolver harmoniosamente. Repudia o laissez-faire do Liberalismo, pregando o planejamento social. Comte defendia a idéia de que as ciências deveriam atingir a máxima objetividade possível. A influência de Comte foi além da escola francesa, atingindo também os republicanos no Brasil, como podemos observar, o lema na bandeira nacional “Ordem e Progresso”. A especificidade do conhecimento sociológico As ciências se distinguem pelos seus objetos de estudo e pelos seus métodos. E com a Sociologia não vai ser diferente. Se observarmos uma sociedade, veremos que os homens praticam atos que podemos chamar de individuais, tais como: dormir, respirar, caminhar, como também, praticam atos considerados sociais – casar, fazer reuniões, pedir demissão – são situações que só podem ser entendidas através das relações que se estabelecem entre indivíduos ou grupos de indivíduos e que não podem ser entendidas isoladamente. São estes fatos coletivos que interessam à Sociologia, pois suas causas são encontradas não no individual, mas sim na sociedade. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Nesta primeira unidade estudamos a formação da Sociologia como conhecimento científico. Na próxima unidade, estudaremos a Sociologia Clássica. Espero você na próxima unidade. Temos muito que estudar! Positivismo: corrente fi- losófica cujo iniciador foi Augusto Comte. Defendia a ciência acima de tudo. Laissez-faire: expressão francesa que transmite uma das essências do Liberalismo que dizia: deixai - fazer, ou seja, o homem era livre para fazer o que quisesse. Objeto de estudo: aquilo que vai ser estudado pelo ci- entista. 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 43 U N ID A D E 3 CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA Nesta unidade, veremos como o homem é um ser que necessita viver em grupo para se hominizar, ou seja, para se tornar verdadeiramente humano. Examinaremos o seu ambiente social e a sua produção em grupo. Vamos lá! OBJETIVOS DA UNIDADE: • Diferenciar a sociedade humana da sociedade animal, identificando seus elementos principais. • Conceituar cultura atentando para as suas sutilezas. • Construir uma visão crítica acerca da influência da indústria cultural nos dias atuais, avaliando seu papel ideológico. PLANO DA UNIDADE: • Elementos principais da sociedade humana. • A essência da cultura. • Classificação da cultura. • Cultura popular e cultura erudita. • Indústria cultural ou cultura de massa. Bons estudos! UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA 44 Tendo em vista o que foi exposto na unidade anterior, examinaremos agora o ambiente social do homem, o seu papel como elemento ativo da sociedade em que vive e suas possibilidades transformadoras deste ambiente. ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua existência fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente pode desenvolver as características que chamamos de humanas, como, por exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes queridos, transmitir mensagens através de símbolos... O processo de hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver com outros homens e a se comportar como tal. Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo com os outros homens, ou seja, é influenciando e sendo influenciado que ele irá aprender a conviver.Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade. A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo, primeiramente, com seus grupos mais íntimos (família e escola) e depois com outros grupos que irá se tornar um membro ativo da sociedade em que nasceu. A esse processo chamamos de socialização. Conseqüentemente, podemos observar que a criança tem poucas possibilidades de seguir seus desejos e suas vontades, que normalmente são hedonistas e egoístas e que muitas vezes são opostas às vontades do grupo, o qual exige restrição, disciplina, ordem e abnegação. E nesta relação, a sociedade normalmente sai ganhando. Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o fator verdadeiramente determinante na socialização da criança. Mas este processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e nós estamos sempre aprendendo coisas novas em nossa sociedade. O ambiente social influencia até no tipo de personalidade dos indivíduos, assim observamos, ao longo da História, sociedades que geraram homens guerreiros, homens caçadores, homens viajantes, homens executivos com tino para negócios, etc. De um modo geral, pode-se dizer que cada cultura produzirá seu tipo especial ou tipos especiais de personalidades. Socialização: processo de aprendizagem da cultura da sociedade em que nascemos. Hedonista: ligado aos praze- res. SOCIOLOGIA APLICADA 45 Durkheim (In: CASTRO & DIAS, 1981) afirmou que o pensamento e o comportamento dos indivíduos são determinados pelas “representações coletivas”. Esta representação indicava o corpo de experiências, idéias e ideais de um grupo do qual o indivíduo inconscientemente depende para a formulação de suas idéias, atitudes e comportamento. A ESSÊNCIA DA CULTURA A cultura tem sido definida de diversas maneiras. Spencer (In: KOENIG, 1985) considerou-a o ambiente superorgânico, ambiente peculiar ao homem, enquanto os outros dois (inorgânico ou físico e orgânico, o mundo dos vegetais e animais) ele compartilha com os animais inferiores. Uma definição muito conhecida é a de Edward Tylor (1871, p1): “Cultura é todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Também pode ser definida como: A soma total dos esforços do homem para ajustar-se a seu ambiente e melhorar suas maneiras de viver. Desta forma, os antropólogos enfatizam que a cultura é o comportamento aprendido em sociedade, pois o comportamento instintivo é inerente aos animais. Logo, a cultura é resultante da invenção social, é aprendida e transmitida por meio da educação e da comunicação entre os membros de uma sociedade humana. Alguns animais vivem em sociedades, mas estas se baseiam em instintos ou comportamento reflexo e não mostram variação de geração para geração. O caso mais apontado é o das abelhas, em que visualizamos certa organização social. Os instintos animais respondem a leis biológicas, sendo assim suas reações podem ser previstas e estão ligadas completamente ao mundo natural, não o ultrapassando. Já o homem se comportará de acordo com a sociedade em que vive, respondendo diferenciadamente aos estímulos e às necessidades de seu meio ambiente e de seu tempo. Entretanto, para a produção de cultura, o homem precisa se comunicar e esta comunicação, que é feita de várias maneiras na sociedade humana, ganha maior peso com a linguagem simbólica (abstrata) que é exclusiva do homem. UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA 46 Assim o homem transmite a sua cultura, mas ao mesmo tempo rompe com as tradições, renovando esta cultura e acrescentando novos elementos à mesma. Desta forma, observamos que o homem é um ser histórico que vive a cada época de maneira diferente. CLASSIFICAÇÃO DA CULTURA As culturas apresentam um aspecto material e outro não-material. Aqui podemos situar as tradições, os costumes, as leis, as ciências, as ideologias, etc. A cultura, também possui o seu lado material, concreto, em que são produzidos todos os tipos de objetos, máquinas, ferramentas, que estão ligados, obviamente, ao lado abstrato. Sob o enfoque marxista, como vimos na unidade I, o homem é o único animal que produz cultura, pois é o único animal que transforma a natureza através de seu trabalho, produzindo bens materiais para a sua subsistência. CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA Esses conceitos geram, muitas vezes, discussões entre os estudiosos da questão, pois como se define o que é popular e o que é erudito? Quais os critérios utilizados para separarmos o que é uma coisa e o que é outra? O critério mais utilizado é o da classe social, ou seja, a cultura popular pertenceria ao povo e a cultura erudita às elites ou classes dominantes dentro da sociedade capitalista. Para alguns antropólogos, estas definições são muito mais complexas do que aparentemente se apresentam, pois as classes não são homogêneas e nem tão pouco a sua produção cultural. Portanto, esta divisão traz em si um grande debate científico. Em uma sociedade como a nossa, verificamos a existência de uma inter- relação entre a cultura popular e a cultura erudita, o que permite a manutenção da sociedade como um todo. Os elementos que a princípio pertencem à cultura popular ou à cultura erudita vão se transformando dinamicamente e se entrelaçando. O que podemos dizer é que este fenômeno é conseqüência da vivência do homem em sociedade. E assim, se por um lado vemos a feijoada que a princípio era alimento de escravos nos melhores restaurantes das cidades, por outro lado, vemos a música clássica (pertencente às elites) em um radinho de pilha de um operário. SOCIOLOGIA APLICADA 47 Edgar Morin (1986, p.75), grande pensador sobre as questões culturais, analisa o conceito de cultura da seguinte forma: Cultura: falsa evidência, palavra que parece uma, estável, firme, e, no entanto, é a palavra armadilha, vazia, sonífera, mimada, dúbia, traiçoeira. Palavra mito que tem a pretensão de conter em si completa salvação: verdade, sabedoria, bem-viver, liberdade, criatividade... O que percebemos é que a cultura é um sistema em que todos os elementos estão ligados entre si e que cada sociedade transmite a seus membros a sua cultura, o seu patrimônio cultural. Cada sociedade possui a sua cultura e é ela que a caracteriza. Indústria cultural ou cultura de massa Podemos começar a falar de indústria cultural ou cultura de massa a partir do século XVIII quando foi marcante a multiplicação dos jornais na Europa, fato que anteriormente à industrialização somente o clero e a nobreza tinham acesso à escrita. A industrialização trouxe consigo grandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais, não somente os bens materiais produzidos por ela apresentaram aumento no consumo, mas também os bens culturais. O número de leitores aumentou consideravelmente com o barateamento dos custos do papel, os jornais tinham cada vez mais tiragens. Cresceram as companhias de teatro, balé, circos, que se preocupavam com o público das cidades que aumentava a cada dia com o êxodo rural. Todas estas transformações fizeram com que um ramo da indústria passasse a se dedicar exclusivamente a este fato. Logo, não só os jornais apresentavam crescimento, como já foi dito anteriormente, mas os livros, as peças, as “mercadorias culturais” como um todo, cresciam. Este termo, indústria cultural, foi criado por dois grandes filósofos contemporâneos: Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheime (1895- 1973). Eles explicam como os meios de comunicação de massa (rádio, televisão, cinema) vendem as mercadorias culturaise como são veiculadas as imagens da sociedade capitalista através da propaganda desta sociedade, a fim de que ela se mantenha como está, ou seja, para que a sua estrutura permaneça a mesma. UNIDADE 3 - CARACTERIZAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA 48 Os atuais meios de produção propiciaram a reprodução de obras de arte que foram sendo popularizadas em larga escala. E sobre esse aspecto os estudiosos da questão afirmam que não podemos pensar em cultura erudita ou cultura popular sem antes examinarmos a indústria cultural. Entretanto, os autores mencionados criticavam a indústria cultural, pois consideravam que, ao invés de democratizar os bens culturais chamados de eruditos, simplesmente os banalizavam, na medida em que o povo não conseguia compreendê-los. Logo, só serviam para controlar e manter o status quo através da dependência e da alienação dos homens. Em contrapartida, outros autores, assim como Marshall Mcluhan (1911-1980) analisam a indústria cultural sob outro ângulo mais positivo, pois consideram que os meios de comunicação de massa aproximam os homens e diminuem as distâncias territoriais e sociais entre eles e muitas vezes, estes são as únicas fontes de informação para uma considerável parcela da população. Segundo esta corrente de pensadores, a indústria cultural contribuiu para a emancipação e melhoria das sociedades, pois promovendo a padronização dos gostos e sensibilidades entre as classes sociais, promove também a união e o sentimento de nacionalidade. Faça uma revisão deste conteúdo, buscando rever os pontos principais que foram abordados. LEITURA COMPLEMENTAR: CASTRO & DIAS. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro: Eldorado, 1981. KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. MORIN, E. Cultura de Massa no século XX. O espírito do tempo -2. NECROSE. Rio de Janeiro: Forense, 2001. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Na próxima unidade, estudaremos a estratificação social. Até lá! Status quo – expressão latina que significa o sistema vigen- te. 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 49 U N ID A D E 4 A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL O estudo que faremos agora visa esclarecer as formas de estratificação social que os diversos tipos de sociedades moldaram para se organizarem e suprirem suas necessidades. OBJETIVOS DA UNIDADE: Analisar os variados tipos de estratificação social que se estabeleceram nas diferentes sociedades através dos tempos, avaliando o grau de desigualdades sociais gerados por esses. PLANO DA UNIDADE: • O que é estratificação social? • O sistema de castas • A organização social através dos estamentos • As classes sociais Bons estudos! UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 50 O QUE É ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL? Os indivíduos, ao viverem em sociedade, ocupam posições diferentes por motivos variados, compondo uma hierarquia social. Esta hierarquia é formada por camadas de indivíduos e grupos superpostas de acordo com os valores atribuídos a elas e é exatamente a esse fenômeno que chamamos de estratificação social. E sendo essa problemática uma constante em todas as sociedades, se torna um objeto de estudo da Sociologia que é analisado por vários autores, resultando daí uma tipologia que nos ajuda a compreender melhor esse fato social. Observando as diferentes formas de sociedade, poderemos verificar como esse fato se expressou produzindo as castas, os estamentos e as classes sociais. O SISTEMA DE CASTAS Existem sociedades nas quais a posição social do indivíduo é definida na ocasião de seu nascimento independentemente de sua vontade e de seu esforço posterior para tentar modificá-la. É uma situação herdada. A sociedade indiana é o exemplo mais característico desse tipo de estratificação social. Esse sistema é considerado muito rígido e fechado, como vimos acima. Não é facultado ao indivíduo transitar de uma casta para outra, ou seja, ele não tem mobilidade social, além de ser endógamo, isto é, os casamentos ocorrem com indivíduos da mesma casta. Seus direitos e deveres são específicos de sua casta. De acordo com esse sistema foram instituídas quatro castas eternas originárias da divindade que são: os brâmanes, os xátrias, os sudras e os vaicias e aqueles que não pertencem a nenhuma casta, pois não seguiram os códigos de suas castas que são os párias. As três primeiras castas são compostas por indivíduos que já reencarnaram ou nasceram “duas vezes”. As castas não podem manter contato entre elas, de acordo com o ritual isto é impuro, deve-se manter distância entre as pessoas de castas diferentes, sendo que em algumas regiões até o contato da sombra de um pária pode ocasionar impurezas. O que os “impuros” tocassem ficava contaminado. Os indivíduos são identificados pelo modo de se vestir, pela qualidade e cor das roupas e pela ocupação. Outra característica dessa sociedade é com referência ao prestígio de cada casta. As castas daqueles “nascidos duas vezes” ou “puros” gozam de maior prestígio do que aqueles que “nasceram uma vez só” ou “impuros”. Os brâmanes são considerados a casta de maior prestígio e o principal critério de status de uma casta é quando esta tem alguma relação com eles. A palavra casta é de origem da língua portuguesa, mas na língua indiana corresponde a varna. os párias - Grande número de- les é composto por pessoas que contraíram matrimônio fora de suas castas. SOCIOLOGIA APLICADA 51 Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que os direitos são desiguais por natureza, já que os elementos que os caracterizam foram definidos hereditariamente. Somente os indivíduos considerados puros poderiam exercer cargos públicos. Como as ocupações são hereditárias, salvo algumas exceções, a sociedade apresenta uma divisão funcional do trabalho baseada nesse esquema. A industrialização teve grande impacto nesse sistema, mas este incorporou muitas inovações. Cada casta possui leis específicas e tribunais próprios. Grurye (In: Lakatos, 1985) aponta algumas transgressões que devem ser julgadas pelos tribunais: · comer, beber ou manter atividades com pessoas de outras castas; · tomar por concubina mulheres pertencentes a outras castas; · adultério; · sedução de mulheres casadas; · recusa de cumprimento de promessa de casamento; · recusa de manter uma esposa; · o não pagamento de dívidas; · roubo; · quebra dos hábitos de comércio peculiar à casta; · apropriar-se de clientes de outro e elevar ou reduzir os preços das mercadorias e serviços; · matar uma vaca ou outro animal sagrado; · insultar um brâmane; · desafiar os costumes das castas por ocasião de cerimoniais de casamento e outras. Essas castas podem ser encontradas em qualquer lugar da Índia, apesar de apresentarem diferenciações ocasionadas por vários fatores que deram origem a divisões múltiplas. Algumas dessas subcastas têm caráter nacional, mas outras são encontradas apenas em determinados locais. Desvinculando a casta de seu conteúdo religioso, como ocorre na Índia, alguns autores consideram a existência das castas em outras circunstâncias, tais como: no Antigo Egito, no Japão medieval, na Alemanha nazista. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DOS ESTAMENTOS A sociedade feudal européia (séc. IX ao séc. XIV) se organizou através desse sistema,que tinha suas bases apoiadas na tradição que definia seus estratos em nobres, clero e servos. Nobres – dedicavam-se à guer- ra, à caça e a funções jurídicas e administrativas. Clero – dividia-se em alto clero (era uma elite eclesiástica e intelectual e seus membros vi- nham da nobreza); baixo clero que era composto pelos padres originários da população pobre. Servos – trabalhavam a terra para si e para os seus senho- res. UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 52 Como foi dito anteriormente, era através da tradição que se definia os elementos principais dessa organização que eram a honra, a hereditariedade e a linhagem. Os estamentos ou estados eram semelhantes às castas, porém não eram tão fechados. A mobilidade social era difícil, mas não impossível. Este tipo de hierarquização social está ligado a um determinado momento histórico com suas características econômicas e políticas. E como se comportavam as pessoas nesse tipo de organização social? Cada uma se comportava de acordo com o seu estamento porque os privilégios também eram desiguais, pois aqueles que se encontravam no topo da pirâmide social (nobres e clero) possuíam maiores privilégios. As atividades guerreiras, sacerdotais e a administração pública eram reservadas aos estamentos dominantes. Para manter seus privilégios, esses estamentos criavam certas resistências à penetração de outros através de monopólios de determinadas funções e da endogamia. Os servos trabalhavam nas terras dos senhores feudais e estes os protegiam. Um servo que não estivesse ligado a um senhor feudal estava desprotegido perante a lei. A propriedade e o uso da terra, no sistema feudal, determinavam uma série de obrigações que estavam ligadas por relações de reciprocidade e de fidelidade. Existiam também, nesse tipo de organização social, os vassalos, que eram aqueles que serviam a um senhor. Possuíam obrigações de ajudar nas guerras, guardar os castelos, prestar serviços de criadagem doméstica, entre outros. Como foi dito acima, o senhor também tinha obrigações de proteger os seus vassalos. Os senhores feudais, por sua vez, também eram vassalos do rei, que estava no topo desta hierarquização e ao qual todos estavam subordinados. Esse tipo de organização social é chamado de patrimonialista, pois está ligado diretamente à propriedade da terra, que era o maior patrimônio que alguém poderia ter. Dessa forma, se definia a organização política da sociedade feudal. Os nobres que não possuíam terras e usavam as de outro nobre subordinado a eles. O clero também possuía terras e, com isso, muitos nobres estavam subordinados a ele. O poder estava nas mãos daqueles que detinham a propriedade das terras, daí a nobreza e o clero estarem no topo da pirâmide social e, conseqüentemente, os cargos públicos estavam vinculados a esse esquema de tradição e fidelidade. Os valores dessa sociedade eram difundidos pela Igreja Católica e os indivíduos aceitavam que determinadas pessoas eram portadoras desses privilégios pela hereditariedade, pela honra e pela linhagem. Senhor – o proprietário das ter- ras, também denominado de suserano. Marx foi o primeiro estudioso a utilizar esse conceito, “clas- ses sociais”, apesar de não tê- lo definido com precisão. SOCIOLOGIA APLICADA 53 AS CLASSES SOCIAIS A sociedade capitalista produz uma hierarquização social própria que se configura no sistema de classes sociais, ou seja, essas classes expressam como se organiza tal tipo de sociedade. Dessa forma, uns são capitalistas – proprietários dos meios de produção e outros possuem apenas a sua força de trabalho - operários. Esses dois grupos dão origem às classes sociais que sustentam todo o sistema e como resultado dessa relação surgem os interesses opostos, os antagonismos. Quando falamos que as classes que sustentam o sistema capitalista são duas, não quer dizer que existam apenas essas duas. Outras classes intermediárias foram surgindo ao longo do desenvolvimento do capitalismo. Historicamente, desde o nascimento do sistema capitalista com a queda do sistema feudal, essas classes são consideradas antagônicas tanto no que diz respeito ao aspecto econômico quanto ao aspecto político. Economicamente, no que diz respeito à apropriação/expropriação e politicamente no que diz respeito à dominação que a classe capitalista exerce sobre as demais. Essa divisão da sociedade em classes sociais não é um fato opcional, isto é, os homens não escolhem participar de uma ou de outra classe, pois elas são produzidas socialmente. Contudo, a mobilidade social é possível nesse sistema, um indivíduo pode ir de uma classe para outra dependendo de seu êxito nas relações de produção. O operário não pode dizer que não vai mais trabalhar para o capitalista e o capitalista não pode dizer que não precisa mais do operário, pois estariam abrindo mão de sua própria existência. As classes sociais só se estabeleceram no sistema capitalista, porque estão relacionadas a esse sistema. Como vimos, anteriormente, no sistema feudal a hierarquização dos estratos estava baseada em estamentos. Por que isso acontece? Porque a forma de organização do trabalho é diferente e a forma de propriedade também. Na sociedade capitalista, o trabalho é livre e assalariado e a cada dia requer uma divisão mais especializada. Isto se faz necessário porque no capitalismo existe a necessidade de se gerar sempre excedentes que são comercializados e geram os lucros dos capitalistas. Quanto à distribuição do prestígio, este está associado às relações entre as pessoas e os elementos da produção, os proprietários dos meios de produção sempre gozam de maior prestígio social do que os trabalhadores. Quanto à distribuição de poder, também não é diferente, possuem maior poder aqueles que detêm os meios de produção. Antagônicas – que possuem interesses contrários, opostos. UNIDADE 4 - A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL 54 Vimos que o fenômeno da estratificação social está intimamente relacionado às desigualdades sociais, pois ele é a própria expressão dessa desigualdade. Portanto, ao examinarmos os diversos tipos de estratificação social, podemos concluir que não é possível compreendê-la sem antes compreender como os homens organizam sua produção econômica e como distribuem o poder político. Agora, procure fazer uma nova leitura, observando os aspectos das desigualdades sociais e da mobilidade social em cada um dos tipos de estratificação social. LEITURA COMPLEMENTAR: LAKATOS, E. M. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1985. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! No próximo capítulo, trataremos da sociedade capitalista atual, suas características e sua inclinação para mudanças contínuas. 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 55 U N ID A D E 5 A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA Nesta unidade, examinaremos o processo de globalização que se desenvolve entre nós e suas repercussões nas áreas econômica, política e cultural. OBJETIVO DA UNIDADE: Caracterizar o processo de globalização, avaliando suas conseqüências no contexto sócio-político-econômico e cultural. PLANO DA UNIDADE: • O fenômeno da globalização • Um estudo sobre os primórdios da globalização • As conseqüências do processo de globalização Bons estudos! 56 UNIDADE5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO O assunto que vamos estudar agora é muito comentado em revistas, jornais e livros, pois se trata de um tema bastante atual e polêmico. Contudo, tentaremos esclarecê-lo abordando-o passo a passo. O fenômeno da globalização vem se fazendo presente na atualidade de forma avassaladora, se expandindo a cada dia, alterando estruturas políticas, econômicas, jurídicas e ideológicas. O panorama nacional e internacional ganha novos perfis, uma vez que, as negociações transnacionais com empresas que aplicam seus capitais nos mercados que mais lhes ofereçam vantagens, crescem vertiginosamente. Esse fato é possível, pois a tecnologia, as comunicações e a economia fazem do planeta uma unidade cada vez mais entrelaçada, complexa e inter- relacionada, como afirma Leslie Sklair (1995, p.14): Historicamente, a sociedade mundial se tornou uma idéia acreditável somente nos últimos séculos e a ciência, a tecnologia, a indústria e os valores universais estão produzindo um mundo do século XX que difere de qualquer épocas passadas. O estudioso no assunto John Naisbitt (1983) chamou a atenção para um fato muito importante, pois observou que ao invés do que pensava Marshall McLuhan que seria a televisão que faria do mundo uma “aldeia global”, na verdade foram os satélites que a princípio estavam voltados para as pesquisas espaciais, que realmente propiciaram esse fato. UM ESTUDO SOBRE OS PRIMÓRDIOS DA GLOBALIZAÇÃO Mas o que é globalização? Quando este fenômeno começou? Tentaremos responder a essas perguntas nesse item, mas precisaremos recorrer aos conhecimentos de várias ciências, pois esse fenômeno vem desafiando os diversos saberes, e, conseqüentemente, não encontraremos um conceito único para o tema e nem tão pouco uma data ou época precisas. Ainda mais por se tratar de um assunto estudado pelas ciências sociais que são, na sua essência, questionadoras, proporcionando pontos de vistas diferentes entre os estudiosos do assunto. Enquanto que para alguns autores a globalização se iniciou desde o século XV com as Grandes Navegações, pois a partir daí a Europa tomou conhecimento de outros povos e nações do mundo como um todo e o capitalismo encontrou assim as possibilidades de seu desenvolvimento, para outros a globalização é um processo nítido que teve início no século passado (século XX) através da comunicação via satélite, o que propiciou uma transformação na sociedade como destaca NAISBITT (1983, p.12): (...) 1957, marca o começo da globalização, da revolução da informação. Os soviéticos lançam o Sputnik – o catalisador tecnológico que faltava numa crescente sociedade de informação. A real importância não vem do fato de ter se iniciado a era espacial – iniciou-se a era da comunicação global por satélite. Aldeia global – termo criado por Marshall McLuhan com a inten- ção de demonstrar que com a utilização da televisão o mun- do todo faria parte de uma mes- ma sociedade. 57 SOCIOLOGIA APLICADA Portanto, observando por esta perspectiva, a globalização é um fenômeno típico da segunda metade do século XX que estabeleceu a crescente inter-relação das economias e das sociedades dos vários países, tanto no que diz respeito à circulação de mercadorias e serviços quanto aos mercados financeiros e de informações e que vem se desenvolvendo até hoje. Segundo outros autores, a globalização surgiu a partir da queda do bloco socialista e o conseqüente fim da Guerra Fria (entre 1989 e 1991), como esclarece IANNI ( 1997, p.219): (...) Emerge de forma particularmente evidente, em suas configurações e em seus movimentos, no fim do século XX, a partir do desabamento do mundo bipolarizado em capitalismo e comunismo (...) A globalização também é considerada como uma fase do desenvolvimento do capitalismo, ou seja, assim como o colonialismo esteve para a sua etapa comercial e o imperialismo para sua fase industrial e inicio da financeira, está a globalização para a fase científico-tecnológica do capitalismo. Verificamos também que essa fase é uma expansão que tem por objetivo aumentar os mercados e conseqüentemente os lucros da classe dominante. Desta forma, a globalização rompe fronteiras geográficas e históricas se consolidando a cada dia, como podemos observar nos estudos de IANNI (1997, p.221): Na base da ruptura que abala a geografia e a história no fim do século XX está a globalização do capitalismo. Em poucas décadas, logo se revela que o capitalismo se tornou um modo de produção global. Está presente em todas as nações e nacionalidades, independente de seus regimes políticos e de suas tradições culturais ou civilizatórias. Aos poucos, ou de repentemente, as forças produtivas e as relações de produção organizadas em moldes capitalistas generalizam-se por todo o mundo. Mas apesar dessa expansão da globalização ter sido vertiginosa, isto não quer dizer que tenha sido de forma linear e sem resistências. Encontramos, no decorrer desse processo, avanços e recuos, como esclarece HAESBAERT (1998, p.14): Se retornarmos no tempo, verificaremos que, na identificação de fases ou “ondas”, o capitalismo apresentou avanços e recuos em sua dinâmica competitiva, imperialista e globalizadora, não só pela natureza contraditória de sua reprodução como também pela interferência, mais ou menos intensa, dos trabalhadores (organizados em sindicatos, por exemplo) e do Estado (...) A sociedade global deixou de ser imaginária e se tornou uma realidade econômica, política e social, tendo conseqüências marcantes no campo cultural, pois alterou as condições de vida e de trabalho de muitas pessoas. 58 UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA No passado, as inovações tecnológicas atingiram a sociedade agrária dando lugar ao desenvolvimento do setor industrial, a mão de obra se transferiu para a área urbana. Hoje, as novas tecnologias, ligadas ao setor da informação e da microeletrônica atingem o setor industrial, aumentando a sua produção e destruindo milhões de empregos. Entretanto, como podemos observar, há uma mudança nos empregos, como afirma MAGNOLI et al (1997, p.24): Nas duas últimas décadas, a diminuição de empregos industriais nos países ricos foi parcialmente compensada pela criação de empregos no setor de serviços. Nos países do G7 (os sete países economicamente mais poderosos do planeta: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Canadá), entre 1974 e 1994, registraram-se treze anos de redução de empregos no setor secundário: no mesmo período os serviços ampliaram continuamente os seus postos de trabalho (...) Surge então, a sociedade de informação ou a sociedade pós-moderna como chamou Daniel Bell sociólogo de Harvard. Atualmente, muito mais trabalhadores lidam com a informação do que dentro de fábricas. Muito mais pessoas gastam o seu tempo criando, processando ou distribuindo informações. E o que caracteriza uma sociedade, como já vimos em outras unidades, é justamente o modo como se organiza o trabalho. Portanto, a sociedade hoje é chamada de sociedade de informação, pois passou a sociedade industrial em números de trabalhadores (Naisbitt, 1983). Da mesma forma que a rede de transportes levou os produtos da industrialização, a rede de comunicação está levando agora os novos produtos da sociedade da informação. AS CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO. O fenômeno da globalização vem desafiando os estudiosos quanto as suas conseqüências. Apesar de seu aspecto econômico ter sido enfatizado, outras ciências, como já foi dito anteriormente, também vêm estudando esse processo. A cada dia são promovidos seminários, encontros, palestras de avaliação e previsão desuas conseqüências. O interesse dispensado ao tema pelas universidades e pela imprensa, já demonstra que este se trata de um assunto que gera polêmicas e conflitos. Delineiam-se, desta forma, dois grupos de análises: os que são a favor e os que são contra a globalização, FLORIANI (2004). GLOBALIFÓLICOS GLOBALIFÍLICOS Grupo que critica a globalização Grupo que defende a globalização O grupo contrário à globalização critica a idéia de que este fenômeno promove a interdependência entre os países e as regiões, aproximando-os e propiciando o desenvolvimento. Acredita, este grupo, que a unilateralidade 59 SOCIOLOGIA APLICADA do poder das nações mais ricas em busca da hegemonia do mercado é que acaba prevalecendo, ou seja, essas nações é que ditariam sempre as regras para as nações mais pobres. Além de destacarem que as nações mais ricas possuem o domínio da tecnologia e que hoje a distância entre os países ricos e os países pobres é cada vez maior do que no passado. Já para o grupo que a defende, a globalização desfaz fronteiras e o mundo passa a ser um todo regido por regras e práticas comuns, que devem ser adotadas por todos. Nessa abordagem, muitas são as vantagens advindas da globalização, pois um mercado sem limites entre as nações, que possui liberdade e se auto- regulariza é a base ideal para o desenvolvimento pleno do Neoliberalismo. Também, o Estado se livra de suas responsabilidades públicas, diminuindo sua participação nas ações sociais destinadas a garantir o desenvolvimento da população, deixando essas atribuições para as empresas particulares. É a política do Estado Mínimo. Conseqüentemente, os Estados-Nacionais transformarão seus perfis adotando novas formas e funções possibilitando a formação de uma gestão mundial, como prevêem alguns cientistas políticos. Entretanto, o processo de globalização vem recebendo severas críticas desde as últimas crises no mercado financeiro internacional e também a partir do elevado crescimento dos níveis de pobreza e de exclusão social. Um outro aspecto apontado é que a globalização não está conseguindo uniformizar os gostos, os padrões culturais como era previsto, pois os seus benefícios não são para todos os cidadãos como já foi dito acima. Grande parte da população não consegue se inserir nesse processo ficando assim excluída. Diante desses fatos, adverte FLORIANI (2004, p.54) que: Como pano de fundo, dois cenários parecem desafiar os contendores: por um lado, o economicismo do Fórum Econômico (Davos-Nova York) que não só propugna por mais globalização dos mercados, do comércio, mas considera a única saída viável para o planeta; por outro, o Fórum Social Mundial (de Porto Alegre) que se coloca na resistência do processso, com os mais diferentes matizes, mas com uma grande coincidência de oposição ao neoliberalismo globalizante. Além dos riscos econômicos, sociais e culturais, Giddens e Beck (In: Floriani, 2004) apontam como o maior problema da sociedade mundial o risco global, em especial o risco ecológico proveniente, dentre outros, da crescente desigualdade entre as regiões e países. Hegemonia – dominação e di- reção exercidas por uma clas- se social dominante. Neoliberalismo – Fase atual do capitalismo que prega a liber- dade total de transações co- merciais sem a interferência do Estado. Estados-Nacionais – Surgiram na Europa renascentista quan- do as monarquias absolutistas empreenderam a centralização do poder político, destruindo assim o poder local dos senho- res feudais. 60 UNIDADE 5 - A SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA MAS SERÁ QUE ESSE PROCESSO É IGUAL EM TODOS OS PAÍSES? Apesar de falarmos sempre em um processo de globalização, os sociólogos advertem que existem vários processos de globalização, que este fenômeno é plural, isto é, cada realidade compõe o processo de globalização de forma diferente. Portanto, existem vários processos de globalização distintos para cada realidade, ou seja, cada país, dependendo da sua posição no capitalismo (país central ou periférico), viverá este processo de maneira particular. Quanto às influências culturais, os antropólogos assinalam que cada realidade incorporará os elementos importados de outros países de acordo com sua realidade, ou seja, a homogeneização cultural seria impossível na medida em que cada grupo social incorporasse nesses elementos as suas vivências locais recriando-os. Segundo Huntington (1998) os conflitos que surgirão nas próximas décadas entre as nações serão de ordem cultural, pois estas questões gerarão os maiores conflitos no mundo contemporâneo. O choque entre as diferentes civilizações dominará a política global. TERIA O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ATINGIDO TAMBÉM A ÁREA EDUCACIONAL? Podemos afirmar que sim, pois nesse contexto constatamos mudanças nos processos de produção das mercadorias, nos perfis dos trabalhadores, nas relações de trabalho e nos hábitos de consumo que necessariamente terão repercussões no terreno educacional, exigindo novas necessidades de qualificação e requalificação profissional. Muitas são as idéias que surgem desse processo, uma delas é a de que o estudante será cada vez mais independente e autodidata, podendo aprender sozinho através de suas pesquisas e o professor não será mais um transmissor de conteúdos em uma escola formal, mas um orientador em uma escola virtual. Os estudiosos no assunto enfatizam que a escola atual não está atendendo as necessidades de uma sociedade em transformação, pois a mesma não está conseguindo acompanhar a evolução tecnológica. Em contrapartida, assinalam que a escola também é uma formadora de valores essenciais para o convívio humano, valorizando o seu papel na educação. Faz-se necessário que a escola atenda as demandas do século XXI seja criada, com novos currículos, metodologias e dinâmicas educativas próprias que enfrentem o futuro. Essas mudanças seriam resultantes de novos objetivos advindos dessa visão de mundo. Uma escola onde exista a crítica 61 SOCIOLOGIA APLICADA das informações e a produção do conhecimento. Onde os estudantes saibam encontrar a informação, seja nas aulas, na biblioteca, no computador, e diante dessa informação saibam reelaborá-la criticamente. Os veículos de informação, tais como: a televisão, o vídeo, o computador, o cinema não poderão mais ser ignorados, pois eles também são veículos de aprendizagem. Cabe ao professor ensinar ao aluno a processar essas informações, ou seja, dar significado a elas. Outros paradigmas de ensino-aprendizagem surgirão para atender esse novo processo. Os professores, segundo Libâneo (1998), deverão desenvolver comportamentos éticos e saberem orientar os alunos em valores e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas e a si próprios. Estamos cientes de que com esta unidade não esgotamos o assunto, mas esperamos que você tenha aprendido um pouco sobre o processo de globalização que, como vimos, é muito complexo. LEITURA COMPLEMENTAR: NAISBITT, J. Megatendências. As dez grandes transformações que estão ocorrendo na sociedade moderna. Edição. São Paulo: Abril, 1983. SKLAIR, L. Sociologia do sistema global. Trad. de Reinaldo Orth. Edição. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. IANNI, O. Sociedade e linguagem. Edição. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!Na próxima unidade, iremos estudar alguns dos conceitos e expressões muito utilizadas no campo da Sociologia. 1 SOCIOLOGIA APLICADA SOCIOLOGIA APLICADA Graduação SOCIOLOGIA APLICADA 63 U N ID A D E 6 CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA Muito bem, pessoal! Aqui vocês encontrarão alguns dos conceitos e expressões muito utilizados no campo da Sociologia. OBJETIVOS DA UNIDADE: Conceituar e diferenciar os principais conceitos da ciência sociológica observando sua dinâmica a fim de instrumentalizar-se para a compreensão da mesma. PLANO DA UNIDADE: • ACOMODAÇÃO • E adaptação? • ALIENAÇÃO: Você já ouviu falar em alienação? • ANTAGONISMO SOCIAL • ASSIMILAÇÃO • CIDADANIA • COMPETIÇÃO • CONFLITO • CONSCIÊNCIA DE CLASSE • COOPERAÇÃO • DIREITOS FUNDAMENTAIS • INTERAÇÃO SOCIAL • JUSTIÇA SOCIAL • MOBILIDADE SOCIAL • MOVIMENTOS SOCIAIS Bons estudos! UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 64 A nossa preocupação foi articular esses conceitos com letras de música, textos de historiadores, poetas, jornalistas, pois é a partir da contextualização que os significados se tornam mais claros. ACOMODAÇÃO A acomodação é um processo pelo qual os indivíduos se ajustam formal e exteriormente a uma sociedade, muitas vezes de forma imposta e obrigatória. Desenvolve-se a acomodação quando as pessoas ou grupos julgam necessário agir em conjunto, apesar das diferenças e divergências. É uma situação que pode ter vida curta ou perdurar séculos. É um processo que pode acompanhar, reduzir ou evitar um conflito, o que não significa que a solução gere satisfação para ambos os contendores. Repare como Gilberto Freire (1984, p.163) aborda esse assunto: “Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando- se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram penando.” E ADAPTAÇÃO? A adaptação é um processo pelo qual o indivíduo se ajusta à sociedade, podendo-se afirmar que esse ajuste ocorre em três níveis: o afetivo, o biológico e o cognitivo. Há de salientar-se que o primeiro está relacionado aos valores prezados pela sociedade, os afetivos em relação aos pais, aos namorados, a pátria, etc. - que geram inclusive datas comemorativas. O segundo refere-se aos hábitos de um povo e o terceiro, aos padrões desenvolvidos por ela, como, por exemplo, os padrões morais. Em relação ao patriotismo, percebe-se que os próprios poetas trataram de cultivá-lo e difundi-lo, muitas vezes até de formas diversas. Veja como esse sentimento se revela nos versos extraídos do poema “Pátria Minha”, de Vinícius de Moraes (1998, p.179) (...) Se me perguntarem o que é a minha pátria direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias SOCIOLOGIA APLICADA 65 De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias pátria minha Tão pobrinha! (...) O segundo e o terceiro níveis podem ser ilustrados pelo seguinte poema (Oswald de Andrade, 1971, p.84) que trata da chegada dos portugueses ao Brasil. Veja a estranheza que os hábitos e os padrões de comportamento dos índios causam aos portugueses: (...) os selvagens Mostraram-lhes uma galinha Quase haviam medo dela E não queriam por a mão E depois a tomaram como espantados primeiro chá Depois de dançarem Diogo Dias Fez o salto real as meninas da gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos Não tínhamos nenhuma vergonha. ALIENAÇÃO: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ALIENAÇÃO? Naturalmente, sim. Alienação é um afastamento ou separação de partes ou do todo da personalidade em relação à realidade exterior na qual se insere. Esse fato pode ser exemplificado a partir dos versos de Bertolt Brecht (1982, p.183) em “O analfabeto político”: O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa Dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA 66 O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.” ANTAGONISMO SOCIAL Antagonismo social é a incompatibilidade de convívio harmonioso entre as classes sociais, sendo cada uma destas, tal como Karl Marx afirmava, o conjunto dos agentes sociais colocados nas mesmas condições no processo de produção com afinidades ideológicas e políticas. Dessa forma, uma tenta manter seus privilégios, e a outra, superar a dominação tanto política quanto econômica que sofre por parte da primeira. Não é isso que Cazuza retrata em seus versos “Brasil”? Não me ofereceram Nem um cigarro Fiquei na porta estacionando os carros Não me elegeram Chefe de nada O meu cartão de crédito é uma navalha Brasil Mostra tua cara Quero ver quem paga Pra gente ficar assim Brasil Qual é o teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim ASSIMILAÇÃO A assimilação é um processo pelo qual um conjunto de traços culturais é abandonado e um novo conjunto é adquirido. Este entendido como padrões de comportamento, sentimentos e tradições. Pode ocorrer não só entre povos distintos, mas também entre classes sociais. Como exemplo, pode ser citado o caso de determinadas construções lingüísticas próprias das camadas socialmente desprestigiadas que acabam influenciando o linguajar das mais abastadas. Repare como Oswald de Andrade (1971, p.112) trata dessa questão: SOCIOLOGIA APLICADA 67 Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. E também em Erro de Português, do mesmo autor, com um tom, porém, bastante irônico: Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. (Ibid., p.123) CIDADANIA Da forma como abordada por Thomas Marshall, o conceito de cidadania pode ser compreendido a partir da articulação de três tipos distintos de direito: 1) direitos civis, que incluem os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. 2) direitos políticos, se referem à participação do cidadão na vida política da sociedade. Consistem na capacidade do cidadão participar da organização dos partidos políticos de votar e de ser votado. 3) direitos sociais, se referem aos direitos que garantem sua participação na riqueza coletiva. São direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o salário, a segurança pública, a habitação, o lazer, etc. Portanto, na ótica de Marshall, seria considerado cidadão pleno aquele que usufruísse dos três tipos de direito. Cidadãos incompletos
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