Buscar

Aula_09

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

LITERATURA BRASILEIRA II
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
Nesta aula, você verificará o panorama das tendências da poesia contemporânea.
Identificará poemas representativos daquele período.
Fará a leitura de poemas de autores representativos daquele momento histórico e literário.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Chamamos de produções contemporâneas as obras produzidas nas últimas três décadas e que são flagrantemente marcadas pelo momento histórico caracterizado, no início, pelo autoritarismo e pela censura. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Somente a partir dos anos 1980, pudemos vivenciar o início de um período de democratização no Brasil. Na década de 1980, inicia-se uma mobilização popular pela volta das eleições diretas, que só veio a concretizar-se em 1989, com a posse de Fernando Collor de Mello, cassado em 1991. Em 1995, eleição e posse do presidente Henrique Cardoso e, em 2002, eleição e posse de Lula.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Nos anos que marcaram a virada do século XX para o XXI, percebemos a presença praticamente exclusiva da sociedade tecnológica e do capitalismo globalizado. E, é claro, que estas modificações influenciaram as produções artísticas e literárias de nossos escritores.
Em termos de poesia, podemos verificar o aprofundamento da reflexão sobre a realidade e a permanente busca de novas formas de expressão. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
A poesia contemporânea é a resposta da sensibilidade ao efeito do capitalismo de consumo, que arranca do homem moderno o individualismo, tornando-o anônimo, objeto insignificante da grande massa consumidora. É ao poeta que caberá dar a esse homem comum a acuidade de ser único, incomparável e excepcional, oferecendo um novo olhar para a realidade. A poesia aponta um novo comportamento, uma nova relação do homem com o seu tempo, com o materialismo em sua vida. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Surgem alguns poetas que não se filiam a nenhuma das tendências existentes, constituindo obra pessoal, seguindo novos caminhos ou retomando a linha criativa de poetas já sagrados, como Drummond, Murilo Mendes e João Cabral.
Adélia Prado
Manuel de Barros
José Paulo Paes
Cora Coralina, entre outros.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Ainda seguindo a tradicional poesia discursiva, permanecem nomes como Adélia Prado, Arnaldo Antunes, Glauco Mattoso (na segunda fase de sua poesia), entre outros. Como exemplo de poeta preocupado com inovações expressivas na linguagem, podemos citar Manoel de Barros.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Adélia Prado, em seus textos, retrata o cotidiano com encanto e perplexidade diante do que vê. Como característica de seu estilo, está presente a abordagem lúdica, norteada pela fé cristã. Carlos Drummond de Andrade define a poeta: 
"Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis.”
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 A poesia de Adélia Prado expõe diversas dimensões na sua manifestação lírica. O erotismo feminino se apresenta de maneira predominante nos seus poemas, se entrecruzam o humano e o divino, aproximados pela constante presença da morte. Deus surge como personagem principal em sua obra, junto com sua formação cristã católica, em que a reza se faz constante. Ao afirmar:
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 “Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual a ao de Hong Kong, só que vivido em português”. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Ítalo Moriconi, em seu livro A poesia brasileira do século XX, diz que este poema desafia a tradição poética “ao reescrever o “Poema de sete faces”, de Drummond, afirmando, de maneira ostensiva, a diferença de seu ponto de vista feminino.” Na opinião de Moriconi, Adélia, neste poema, apresenta um gesto ousado – o deslocamento de ponto de vista. No poema de Drummond, há um poeta homem que falava por todos. No poema de Adélia, há a poeta mulher que fala por ela mesma. Para Moriconi: “o poema declara: homem não pode falar por mulher”. (MORICONI, Ítalo. A poesia brasileira do século XX. p. 142 - 143)
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Em se tratando das figuras dos anjos, percebemos que o Anjo, de Carlos Drummond de Andrade, é “torto” e “vive na sombra”, o de Adélia é “esbelto” e “toca trombeta.” Desfazendo a linha gauche drummondiana, a poeta, intencionalmente, quis dar um tom positivo a seu poema. 
Convém mencionar que a figura deste anjo esbelto e anunciador recusa o anjo das sombras, satânico de Drummond.	
Nos poemas de Adélia Prado, as portas nunca estão abertas para o demônio nem como figura poética. “Ela faz poesia com Deus”. (MORICONI, Ítalo. A poesia brasileira do século XX. p.144).
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Adélia Prado afirma a pluralidade de gênero na contemporaneidade. Cada um fala daquilo que sabe e pode falar, diferentemente do que se acreditava no contexto poético modernista dos anos 1920, em que o ponto de vista masculino era absoluto. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Em 1970, Glauco Mattoso participou do grupo de poesia marginal e do movimento de resistência cultural à ditadura militar. Trata-se de um trocadilho, mais facilmente entendido se o lermos como se fosse uma única palavra – “glaucomatoso”. 
Portador de glaucoma, doença congênita que lhe acarretou perda progressiva da visão, até a cegueira total em 1995. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
O pseudônimo é, também, uma espécie de homenagem a Gregório de Matos, poeta barroco, de quem o pós-modernista é herdeiro na sátira e na crítica de costumes.
Na década de 1990, já cego, abandonou a poesia concreta para se dedicar a outras atividades artísticas.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
O professor Pedro Ulysses Campos divide a obra de Glauco Mattoso em duas fases: fase visual e fase cega.
Phase visual - o poeta vai do experimentalismo modernista até o concretismo, privilegiando o aspecto gráfico do poema. 
Phase cega - abandona o concretismo e passa a compor sonetos que aludem aos de Gregório de Matos.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Glauco Mattoso (1951), pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva, já pela escolha deste mostra a sua verve humorística: homenageando dois baianos geniais e barrocos, Gregório de Matos e Glauber Rocha, o pseudônimo deste paulistano cria a palavra glaucomatoso, o que ele era de fato, até, infelizmente, perder a visão. Trata-se de personagem completamente "sui generis"
no panorama da poesia brasileira, dedicando-se, depois de fases muito diversas, a uma numerosíssima obra de sonetista, composta com todos os requintes técnicos imagináveis, muitas vezes tendo como temas a podolatria e a coprofilia, num balanço entre o erudito e o pornográfico que traz um sabor único e irresistível à sua poesia. ("Uma história da poesia brasileira”)
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 #4 MANIFESTO COPROFÁGICO [1977]
"Mierda que te quiero mierda" (García LOCA)
	
 a merda na latrina 
 daquele bar da esquina
 tem cheiro de batina
 de botina
 de rotina
 de oficina gasolina sabatina
 e serpentina
 bosta com vitamina
 cocô com cocaína
 merda de mordomia de propina
 de hemorróida e purpurina
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Arnaldo Antunes é, desde o início dos anos 1980, uma personalidade ativa nas artes brasileiras. Depois de participar dos Titãs, seguiu uma carreira musical solo de sucesso. Sua contribuição como músico o projetou nacional e internacionalmente. Antunes também é artista plástico de importante dimensão, e sua carreira como artista gráfico está presente no projeto de seus próprios livros, discos e em várias revistas e publicações, além de produzir vídeos e escrever ensaios como crítico cultural. 
 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 “Eu acho que a minha poesia tem influências do concretismo mas não poderia ser classificada como poesia concreta. Acabam fazendo esta classificação, mas eu acho muito limitado ler a realidade sob a ótica de um movimento ou conceito. As coisas, vistas dessa maneira, ficam reduzidas. Tenho afinidade e admiração pelos poetas concretos e sou influenciado por suas obras, mas também tenho influência de outras áreas, como por exemplo, da tradição de letras de músicas da MPB, da cultura pop, do rock and roll e de outras áreas da literatura. Acaba sendo engraçado, pois, não tenho nenhuma pretensão de equiparar minha poesia com a dos poetas concretos. O trabalho deles é mais sofisticado. Tenho uma música no CD, O Silêncio, que se refere a mistura racial. Acho que define bem a forma como vejo a minha criação artística e, também, o retorno disso: "somos inclassificáveis".” Estado de S. Paulo - 1999
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
O crítico literário Charles A. Perrone descreve o trabalho de Antunes como "verso nominativo minimalista e arte verbal-gráfica, chegando até a poesia-visual, a caligrafia lúcida e a palavras-imagens geradas no computador. Tal produção justamente pertence à categoria de criação intersemiótica" (Perrone, 114).
 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Na década de 1980, Millôr Fernandes resolveu mostrar ao público a poesia de Manoel de Barros nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil. Juntaram-se a Millor Fernandes Fausto Wolff e Antônio Houaiss. Após tanta apresentação e recomendação, a Editora Civilização Brasileira publicou os poemas de Manoel de Barros, sob o título de Gramática expositiva do chão. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Manoel de Barros, nasceu em Cuiabá (MT), em 1916. Ainda novo, foi morar em Corumbá (MS) e mais tarde viria para o Rio de Janeiro, para fazer a faculdade de Direito. Em 1937, publicou seu primeiro livro, Poemas concebidos sem pecado, feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares Mas somente nas décadas de 1980 – 1990 foi reconhecido e consagrado pelo público, mas não um público acostumado a uma lírica tradicional. 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
O livro “Poemas Concebidos Sem Pecado” foi o primeiro publicado, mas o primeiro livro que escreveu acabou nas mãos de um policial. Manoel de Barros fez a pichação “Viva o comunismo”, em um monumento, e a polícia foi em busca do autor da frase. Para defendê-lo, a dona da pensão em que vivia disse ao policial que o “criminoso” em questão era autor de um livro. O policial pediu para ver e levou o livro. Chamava-se “Nossa Senhora de Minha Escuridão" e Manoel nunca o teve de volta.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 Ele é um dos principais autores contemporâneos do país. O Pantanal é tema frequente de seus escritos. Na década de 1960 foi para Campo Grande (MS) e lá passou a viver como fazendeiro. 
Trabalha bastante com a temática da natureza, mais especificamente, o Pantanal. Mistura estilos e aborda o tema regional com originalidade.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Sobre sua rotina de poeta:
"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma palavra. E gosto de ouvir e ler "Vozes da Origem". Gosto de coisas que começam assim: "Antigamente, o tatu era gente e namorou a mulher de outro homem". Está no livro "Vozes da Origem", da antropóloga Betty Mindlin. Essas leituras me ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que na ponta de meu lápis tem um nascimento.” 
 (José Castello- O Estado de São Paulo – 1996)
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Quando alguém faz referência a seu anonimato ele diz que foi "por minha culpa mesmo. Sou muito orgulhoso, nunca procurei ninguém, nem frequentei rodas, nem mandei um bilhete. Uma vez pedi emprego a Carlos Drummond de Andrade no Ministério da Educação e ele anotou o meu nome. Estou esperando até hoje.
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 Sempre arredio e pouco dado a depoimentos, o poeta responde a algumas entrevistas por escrito, desde 1970. Em uma delas, concedida ao jornal Folha de São Paulo, em abril de 1989, Manoel de Barros sintetiza o seu itinerário biográfico: 
 
“Não sou biografável. Ou, talvez seja. Em três linhas. 
1. Nasci na beira do rio Cuiabá. 
2. Passei a vida fazendo coisas inúteis. 
3. Aguardo um recolhimento de conchas. (E que seja sem dor, em algum banco da praça, espantando da cara as moscas mais brilhantes).” 
 
 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 Podemos dizer que inútil, nada, coisa, bichos são algumas palavras-chave da poesia de Manoel de Barros que tenta, através delas, reconstruir o mundo. Ênio Silveira, editor das obras de Manoel de Barros, fala sobre a estratégia do poeta: 
“guiados por ele, vamos abrindo horizontes de uma insuspeitada nova ordem natural, onde as verdades essenciais, escondidas sob a ostensiva banalidade do óbvio e do cotidiano, vão se revelando em imagens surrealistas descritas com absoluta concisão.”
 
 
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
 No texto de abertura do Livro sobre nada, Manoel de Barros afirma que “o nada de meu livro é nada mesmo. É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc.etc.
O que eu queria fazer era brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use abandono por dentro e por fora.” 
Sobre sua escrita, o poeta a define em uma frase: "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira".
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Canção do ver 
Com aquela sua maneira de sol entrar em casa
E com o seu olhar furado de nascentes
O menino podia ver até a cor das vogais –
Como o poeta Rimbaud viu.
Contou que viu a tarde latejas de andorinhas.
E viu a garça pousada na solidão de uma pedra.
E viu outro lagarto que lambia o lado azul do
silêncio.
Depois o menino achou na beira do rio uma pedra
canora.
Ele gostava de atrelar palavras de rebanhos
Diferentes[...]
Manoel de Barros, em “Poemas Rupestres”
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
LITERATURA BRASILEIRA II
Aula 09: O panorama contemporâneo- tendências da lírica
Verificamos o panorama das tendências da poesia contemporânea.
Identificamos poemas representativos deste período.
Fizemos a leitura de poemas de autores representativos deste momento histórico e literário.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais