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CURSO DE DIREITO 
Direito Processual Penal III 
DIREITO PENAL – CRIMES EM ESPÉCIE I 
 
Prof. Wilian Sapito Jr. 
 
 
Aula 15 – Temas abordados: 
 
Art. 122 CP – Crime de Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou a 
Automutilação. 
 
Dispositivo Legal: 
 
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-
se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio 
material para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 
13.968, de 2019) 
 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) 
anos. (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de 
suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou 
gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste 
Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da 
automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, 
de 2019) 
 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
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Direito Processual Penal III 
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 
13.968, de 2019) 
 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, 
torpe ou fútil; (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por 
qualquer causa, a capacidade de resistência. (Incluído 
pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a 
conduta é realizada por meio da rede de computadores, 
de rede social ou transmitida em tempo real. (Incluído 
pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
§ 5º Aplica-se a pena em dobro se o autor é 
líder, coordenador ou administrador de grupo, de 
comunidade ou de rede virtual, ou por estes é 
responsável. (Redação dada pela Lei nº 14.811, de 
2024) 
 
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo 
resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é 
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra 
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o 
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, 
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, 
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 
deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo 
é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra 
quem não tem o necessário discernimento para a prática 
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Direito Processual Penal III 
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode 
oferecer resistência, responde o agente pelo crime de 
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. (Incluído 
pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
 
15.1 – Introdução: 
 
A redação original do art. 122 do Código Penal contemplava somente o crime 
de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. O tipo penal tinha a seguinte redação: 
"Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça". O 
induzimento, instigação ou auxílio à automutilação foi incluído pela Lei 13.968/2019. 
 
Nada obstante a boa intenção do legislador, a nova figura típica foi situada em 
local inadequado no Código Penal. 
 
Com efeito, o art. 122 encontra-se no Capítulo I do Título I da Parte Especial 
do Código Penal, entre os "crimes contra a vida". Nesse contexto, o induzimento, 
instigação ou auxílio à automutilação não ofende a vida humana, e sim a integridade 
corporal. 
 
Assim, seria mais apropriada, portanto, a inclusão desta infração penal em 
local diverso, por exemplo no art. 129 do Código Penal, como uma variante da lesão 
corporal. 
 
O legislador criou uma anomalia jurídica. O induzimento, instigação ou auxílio 
à automutilação é delito essencialmente doloso, e foi alocado entre os crimes contra a 
vida. Entretanto, não ingressa na competência do Tribunal do Júri, pois não se 
constitui em crime doloso contra a vida, na forma exigida pelo art. 5º, XXXVIII, d, da 
Constituição Federal. 
 
Reitero: a competência para o processo e julgamento desse delito é do juízo 
singular, e não do Tribunal do Júri. 
 
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Direito Processual Penal III 
 
15.2 – Conceito de Suicídio e Automutilação: 
 
Suicídio é a destruição deliberada da própria vida. É também chamado de 
autocídio ou autoquíria. 
 
Automutilação, por sua vez, é qualquer tipo de comportamento voluntário 
envolvendo agressão direta ao próprio corpo, sem a intenção de suicídio. A pessoa 
pratica autolesão, de forma isolada ou reiterada, cortando a própria pele, batendo em si 
mesmo, queimando áreas sensíveis do seu corpo etc. 
 
15.3 – Como o Brasil trata esses crimes? 
 
A conduta suicida ou de automutilação, por si só, não é criminosa no Brasil. 
Nem poderia sê-la pois, como corolário do princípio da alteridade, o Direito Penal só 
está autorizado a incriminar os comportamentos que transcendem a figura do seu autor. 
 
Lembram da nossa matéria introdutória? Teoria do Crime? No ano passado 
eu expliquei sobre o princípio da alteridade a vocês: “não são puníveis as condutas que 
lesionam ou expõem a perigo bens jurídicos pertencentes exclusivamente a quem a 
praticou, mas apenas se ofenderem a terceiros”. 
 
Em relação ao suicídio, ainda que assim não fosse, o Estado não poderia punir 
o suicida, pois com sua morte estaria extinta sua punibilidade, nos termos do art. 107, 
inc. I, do Código Penal. 
 
Por último, na hipótese de sobrevivência da pessoa que buscou destruir sua 
própria vida, o legislador não tipificou essa conduta por questões humanitárias. Quem 
tentou suicidar-se (ou mesmo ofender a própria integridade corporal, no caso da 
automutilação) não merece castigo, e sim tratamento, amparo e proteção. A imposição 
da pena traria ainda mais prejuízos àquele que considera sua vida como bem de pouca 
ou nenhuma importância. 
 
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Direito Processual Penal III 
Essa conclusão, contudo, não permite falar em licitude do suicídio, em face 
da indisponibilidade do direito à vida. Essa é a inteligência do Código Penal, ao 
estatuir em seu art. 146, § 3.°, II, que não caracteriza constrangimento ilegal a coação 
exercida para impedir suicídio. Desta forma, no Brasil o suicídio é ilícito, embora não 
seja criminoso. Igual raciocínio pode (e deve) ser construído no tocante à automutilação. 
 
Anote-se, ainda, um requisito fundamental para a configuração do suicídio: 
a destruição da vida humana por seu titular deve ser voluntária. Logo, se alguém 
elimina sua própria vida inconscientemente, por ter sido manipulado por outra pessoa 
(fraude), ou em decorrência de violência ou grave ameaça, estará tipificado o crime de 
homicídio. De igual modo, se alguém ofende sua própria integridade física, em razão de 
violência, grave ameaça ou fraude emanada de terceiro, estará caracterizado o delito de 
lesão corporal. 
 
No Brasil, é crime o induzimento, a instigação ou auxílio a suicídio ou a 
automutilação, ou, como preferimos, a participação em suicídio ou em 
automutilação. 
 
Vedou-se (proibiu-se) a conduta de concorrer para que outrem destrua 
voluntariamente sua própria vida ou ofenda sua própria integridade corporal ou saúde. 
 
Obs: O consentimento da vítima é irrelevante, em face da 
indisponibilidade dos bens jurídicos penalmente tutelados. 
 
 
15.4 – Objetividade jurídica (o que o Direito busca proteger com a 
imposição de pena contra este crime): 
 
Na participação em suicídio, tutela-se a vida humana, direito fundamental 
constitucionalmente consagrado (art, 5.°, caput). Na participação em automutilação, 
por sua vez, o bem jurídico protegido é a incolumidade física em sentido amplo, 
abrangente da integridade corporal e da saúde da pessoa humana. 
 
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15.5 – Objeto material (sobre quem recai a conduta criminosa): 
 
É o ser humano que suporta a conduta criminosa, isto é, aquele contra quem 
se dirige o induzimento, a instigação ou o auxílio ao suicídio ou à automutilação.15.6 – Núcleos do tipo (verbos que integram a tipificação penal): 
 
A participação em suicídio ou em automutilação pode ser moral, nos 
núcleos induzir e instigar, ou material, na conduta de auxiliar ("prestar auxílio") 
alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação. 
 
Induzir: significa incutir na mente alheia a ideia do suicídio ou da 
automutilação, até então inexistente. Exemplo: "A" procura "B, perguntando-lhe como 
solucionar seus problemas financeiros, no que obtém a seguinte resposta: "Suicide-se e 
tudo estará resolvido". 
 
Obs. Sapitinhos e Sapitinhas, já caiu na OAB: Não há participação em 
suicídio ou em automutilação por parte de quem pede a um cidadão para, como herói 
nacional, ir à guerra lutar por seu país. 
 
Instigar é reforçar o propósito suicida ou de automutilação preexistente. A 
vontade direcionada a tal fim, que já habitava a mente da vítima, é estimulada pelo 
agente. Exemplo: "A" diz a "B" que, em face de problemas conjugais, pretende suicidar-
se. Este, por sua vez, incentiva aquele a assim agir. 
 
Obs. Sapitinhos e Sapitinhas: Nessas duas espécies de participação moral 
exige-se seriedade na conduta do agente. Ou seja, se em nítido tom de brincadeira 
alguém sugere a outrem o suicídio ou a automutilação, que de fato ocorre, o fato é 
atípico por ausência de dolo. 
 
Auxiliar, por sua vez, é concorrer materialmente para a prática do suicídio ou 
da automutilação. Exemplo: Ciente de que "A" deseja praticar suicídio ou automutilação, 
e querendo que isso se concretize, "B" lhe empresta uma lâmina afiada. 
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Esse auxílio deve constituir-se em atividade acessória, secundária. O sujeito 
não pode, em hipótese alguma, realizar uma conduta apta a eliminar a vida ou a ofender 
a integridade física da vítima. É esta quem deve destruir sua própria vida ou prejudicar 
sua integridade corporal ou sua saúde. 
 
No entanto, se o agente, exemplificativamente, atendendo aos anseios de 
outra pessoa, aperta o gatilho da arma de fogo que ela apontava à própria cabeça, 
provocando sua morte, responde por homicídio, e não por participação em suicídio. De 
fato, ele realizou conduta capaz por si só de matar alguém, nada obstante o 
consentimento juridicamente inválido do ofendido. 
 
Obs. Sapitinhos e Sapitinhas: O auxílio deve ser eficaz, isto é, o agente 
precisa ter contribuído efetivamente para o suicídio ou automutilação. Como assim Prof. 
Sapito? Vou até desenhar para você aprender porque isso é muito importante. Vamos lá: 
 
Se "A" empresta a "B" um revólver, mas ela se mata fazendo uso de veneno, 
àquele (“A”) não será imputado o crime previsto no art. 122 do Código Penal. 
 
Cuida-se de tipo misto alternativo, ou crime de ação múltipla, ou, ainda, 
de conteúdo variado. O que esses termos significam? Que o tipo penal contém vários 
núcleos, e se o agente realizar dois ou mais deles contra a mesma vítima, estará 
caracterizado um único delito. Exemplo: "A" induz "B" a suicidar-se, e lhe presta auxílio 
para tanto, mediante o empréstimo de uma arma de fogo. “A” responderá por um único 
delito: participação em suicídio. Todavia, a prática de duas ou mais condutas produzirá 
reflexos na dosimetria da pena-base, nos termos do art. 59, caput, do Código Penal. 
 
 
15.7 – Sujeito ativo (quem pode praticar o crime): 
 
A participação em suicídio ou em automutilação é crime comum ou geral. 
Ou seja, pode ser cometido por qualquer pessoa. 
 
 
 
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15.8 – Sujeito passivo (quem pode ser vítima do crime): 
 
Pode ser qualquer pessoa, desde que possua um mínimo de capacidade de 
resistência e de discernimento quanto à conduta criminosa. 
 
15.9 – O tratamento dado à vítima menor de 14 anos, portadora de 
enfermidade ou deficiência mental ou de qualquer modo incapaz de oferecer 
resistência e reflexos penais: art. 122, §§ 6.º e 7.º: 
 
Art. 122 CP (...) 
 
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo 
resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é 
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra 
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o 
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, 
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, 
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 
deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). 
 
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo 
é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra 
quem não tem o necessário discernimento para a prática 
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode 
oferecer resistência, responde o agente pelo crime de 
homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. (Incluído 
pela Lei nº 13.968, de 2019). 
 
A configuração do crime de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a 
automutilação reclama seja a conduta direcionada à pessoa dotada de um grau mínimo 
de discernimento frente à atuação ilícita do agente. 
 
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Por outro lado, se a vítima não apresentar nenhum discernimento frente ao 
suicídio ou à automutilação, em razão da sua idade (menor de 14 anos) ou por ser 
acometido de enfermidade ou deficiência mental, ou por qualquer outra causa não puder 
oferecer resistência (exemplo: vítima sem lucidez em face de medicamentos sedativos), 
estará caracterizado o delito tipificado no art. 129, § 2.°, do Código Penal, se nela resultar 
lesão corporal gravíssima, ou então o crime de homicídio, se sobrevier a morte. 
 
É o que se extrai dos §§ 6.° e 7° do art. 122 do Código Penal. A título ilustrativo, 
caracteriza o crime de homicídio, previsto no art. 121 do Código Penal, a conduta 
de induzir uma criança de tenra idade ou uma pessoa portadora de deficiência 
mental a pular do alto de um edifício, sob o pretexto de que assim agindo ela 
poderia voar. 
 
 
15.10 – Elemento subjetivo (modalidade do crime): 
 
É o dolo, direto ou eventual, o crime é doloso. Não se admite a modalidade 
culposa. 
 
 
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Prof. Wilian Sapito Jr. 
 
Aula 16 – Temas abordados: 
 
Art. 122 CP – Crime de Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou a 
Automutilação – Consumação, tentativa, classificação doutrinária, causas de 
aumento de pena; 
 
 
15.11 – Consumação – Modalidade Simples (Caput): 
 
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-
se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio 
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Direito Processual Penal III 
material para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 
13.968, de 2019) 
 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) 
anos. (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
Na modalidade simples, prevista no caput, o crime se aperfeiçoa (consuma) 
com o mero induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à automutilação. Em outras 
palavras, o delito estará consumado mesmo se a vítima, nada obstante a conduta 
do agente, não praticar nenhum ato tendente ao suicídio ou à automutilação. 
 
Cuida-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado 
cortado, pois a consumação ocorre com a prática da conduta legalmente descrita, 
dispensando a produção do resultado naturalístico (lesão grave em sentido amplo ou 
morte). É também infração penal de menor potencial ofensivo: a pena máxima em 
abstrato autoriza a incidência da transação penal e do rito sumaríssimo, nos moldes da 
Lei 9.099/1995. 
 
15.12 – Consumação – Modalidade Qualificada (§ 1º e § 2º): 
 
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de 
suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou 
gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste 
Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da 
automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, 
de 2019) 
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Direito ProcessualPenal III 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
 
 
Nos §§ 1.° e 2.° do art. 122 do Código Penal, o legislador elevou o exaurimento 
à condição de qualificadoras. Em verdade, o delito se consuma com o simples 
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação (art. 122, caput). No 
entanto, a superveniência do resultado naturalístico (lesão corporal grave, gravíssima ou 
morte) faz surgir as figuras qualificadas, seja pela lesão grave ou gravíssima (§1.°), seja 
pela morte (§ 2.°). 
 
§ 1.º – resultado lesão corporal grave ou gravíssima – veicula um crime de 
médio potencial ofensivo: a pena mínima cominada (1 ano) revela a compatibilidade do 
delito com o benefício da suspensão condicional do processo, se presentes os demais 
requisitos elencados pelo art. 89 da Lei 9.099/1995. Por outro lado, se em razão da 
conduta do agente a vítima suportar lesão corporal de natureza leve, estará configurada 
a modalidade fundamental (simples do caput) da participação em suicídio ou 
automutilação. 
 
§ 2.º – resultado morte - constitui-se em crime de elevado potencial ofensivo, 
incompatível com os benefícios despenalizadores instituídos pela Lei n.º 9.099/1995. 
 
E cuidado: na hipótese em que "da automutilação resulta morte", é 
indiscutível a natureza preterdolosa do delito. O agente tem dolo no tocante à 
automutilação da vítima, e a morte sobrevém a título de culpa. De fato, se presente o dolo 
(direto ou eventual) em relação à morte do ofendido, estará caracterizado o induzimento, 
instigação ou auxílio ao suicídio, e não à automutilação. 
 
Obs. Sapitinhos e Sapitinhas: Nas figuras qualificadas, é irrelevante o 
intervalo decorrido entre a conduta do agente e o suicídio ou automutilação da vítima. O 
delito estará configurado com a mera relação de causalidade entre a participação em 
suicídio ou em automutilação e a destruição da própria vida ou ofensa à própria 
integridade física. 
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Exemplo: alguém induz outra pessoa ao suicídio, e apenas após dois anos, 
movida por esta participação, ela se mata, estará caracterizado o crime em estudo. E 
somente a partir desse momento (morte da vítima) terá início o curso da prescrição, nos 
termos do art. 111, inc. I, do Código Penal. 
 
15.13 – Tentativa: 
 
Na modalidade simples, prevista no caput, a tentativa é cabível quando o delito 
se apresentar como plurissubsistente, admitindo o fracionamento do iter criminis. 
Exemplo: "A" tenta prestar auxílio material ao suicídio de "B", enviando-lhe uma arma de 
fogo pelos Correios. O instrumento, todavia, é interceptado e apreendido pela Polícia. 
Nesse caso a tentativa será admitida. Nas figuras qualificadas, de seu turno, não se 
admite a tentativa. Em verdade, nessas hipóteses a incidência dos tipos penais está 
condicionada aos resultados legalmente exigidos (a lesão grave ou gravíssima, ou a 
morte). 
 
15.14 – Classificação doutrinária: 
 
A participação em suicídio ou em automutilação é crime comum (pode ser 
praticado por qualquer pessoa); de dano (direciona-se à efetiva lesão ao bem jurídico); 
comissivo ou omissivo (com divergência doutrinária quanto à omissão); formal, de 
consumação antecipada ou de resultado cortado (com a ressalva de que o 
exaurimento faz surgir as figuras qualificadas previstas nos §§ 1.° e 2.° do art. 122 do 
Código Penal); de forma livre (admite qualquer meio de execução); simples (ofende um 
único bem jurídico, a vida humana ou a integridade física); instantâneo (consuma-se em 
um momento determinado, sem continuidade no tempo); unissubjetivo, unilateral ou 
de concurso eventual (cometido por uma só pessoa, mas admite o concurso); e em 
regra plurissubsistente (conduta divisível em diversos atos). 
 
15.15 – Causas de aumento de pena (§§ 3.º a 5.º): Os §§ 3.º, 4.° e 5.° do art. 
122 do Código Penal contemplam causas de aumento de pena aplicáveis à participação 
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em suicídio ou em automutilação, tanto na modalidade simples (caput) como nas figuras 
qualificadas (§§ 1.° e 2.º). 
 
Por serem causas de aumento de pena, tais circunstâncias incidem na terceira 
fase de aplicação da pena privativa de liberdade e, no caso concreto, podem levá-la 
acima do máximo legalmente previsto. Essas variantes do delito são chamadas de 
participação em suicídio ou em automutilação circunstanciadas ou majoradas. 
 
Vejamos: 
 
§ 3.° A pena é duplicada: 
 
I – se o crime é praticado por motivo egoístico, 
torpe ou fútil; 
 
Il – se a vítima é menor ou tem diminuída, por 
qualquer causa, a capacidade de resistência; 
 
Motivo egoístico: é o que revela individualismo exagerado, ou seja, aquele 
que evidencia excessivo apego próprio em detrimento da vida ou da integridade física 
alheia. Exemplo: "A", desejando ter sua beleza física destacada, induz "B", seu irmão 
gêmeo, a praticar automutilação na face. 
 
Motivo torpe: é o vil, abjeto, repugnante, revelador da depravação moral do 
agente. Exemplo: "A" induz "B", seu colega de trabalho, a suicidar-se, para então ser o 
único candidato para obter uma promoção na empresa. 
 
Motivo fútil: é o insignificante, de pequena monta, desproporcional ao 
resultado praticado. Exemplo: "A" induz "B", seu vizinho de apartamento, a cometer 
suicídio, visando não mais precisar dividir com ele o elevador que serve seu andar do 
prédio. 
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Nos três casos, a punição mais rigorosa é legítima, pois o agente busca 
alcançar algum proveito pessoal, econômico ou não, como consequência do suicídio ou 
da automutilação da vítima. 
 
Vítima menor: é a pessoa com idade entre 14 anos e 18 anos. Possui 
capacidade de discernimento, porém reduzida em face da ausência do desenvolvimento 
mental incompleto. O fundamento da majorante repousa na maior facilidade que pessoas 
nessa faixa etária apresentam para serem convencidas por outrem a suicidarem-se ou a 
praticarem automutilação. 
 
Vítima que, por qualquer causa, tem diminuída a capacidade de 
resistência: é a pessoa mais propensa a ser influenciada pela participação em suicídio 
ou em automutilação. Deve ser maior de 18 anos de idade, pois, se ainda não atingiu 
essa idade, e desde que possua 14 anos de idade ou mais, incidirá a causa de aumento 
atinente à "vítima menor". Essa menor resistência pode ser provocada por enfermidade 
física ou mental, e também por efeitos do álcool ou de drogas. 
 
Exemplo: estimular uma pessoa parcialmente embriagada a eliminar sua 
própria vida. Se, por outro lado, o ébrio estiver completamente inconsciente, o crime será 
de homicídio. Assim como na idade ("vítima menor"), esse fator há de ser do 
conhecimento do agente, para afastar a responsabilidade penal objetiva. 
 
Finalmente, a análise aprofundada do art. 122 do Código Penal autoriza as 
seguintes ilações: 
 
1) vítima maior de 18 anos de idade, com plena capacidade de 
resistência: participação em suicídio ou em automutilação, simples (caput) ou 
qualificada, se resultar lesão corporal grave ou gravíssima (§ 1.°) ou morte (§ 2.°); 
 
2) vítima maior de 18 anos, com reduzida capacidade de resistência: 
participação em suicídio ou em automutilação circunstanciada ou majorada (art. 122 - 
caput, §§ 1.° ou 2.°, c/c §3.º II, final, do CP); 
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3) vítima com idade igual ou superior a 14 anos, mas menor de 18 anos 
de idade: participação em suicídio circunstanciada ou majorada (art. 122 - caput, § 1.° 
ou 2.°, c/c § 3.°, II, 1.ª parte CP); 
 
4) vítima menor de 14 anos de idade, portadora de enfermidade ou 
doença mental ou que não possa, por qualquer outra causa, oferecer resistência: 
lesão corporal gravíssima (art. 122, § 6.°) ou homicídio (art. 122, § 7.°), dependendo do 
resultado naturalístico produzido. 
 
Delito cometido pela internet: De acordocom o § 4.° do art. 122 do Código 
Penal: "A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de 
computadores, de rede social ou transmitida em tempo real". Como o dispositivo fala em 
"aumentada até o dobro", a majorante varia de 1/6 (menor percentual previsto no CP para 
as causas de diminuição da pena) até o dobro. 
 
No ano de 2016, um ritual da internet nascido em uma rede social russa 
despertou medo coletivo e produziu enormes prejuízos em muitas pessoas, notadamente 
crianças, adolescentes e portadores de alguma espécie de distúrbio mental. Viralizava o 
"Desafio da Baleia Azul" (Blue Whale Challenge). 
 
Os participantes desse "jogo" eram submetidos a uma disputa nada sadia. Aos 
desafiantes (jogadores ou participantes) eram atribuídas as tarefas pelos curadores 
(administradores). Para avançarem as fases, os desafiantes iam se automutilando, cada 
vez com maior gravidade. O desafio final era o suicídio. 
 
No mundo virtual, com destaque para as redes sociais (Twitter, Instagram, 
Facebook, WhatsApp etc.) e transmissões em tempo real (lives), os destinatários do 
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação são ilimitados, e estão 
espalhados em todos os cantos do planeta. Além disso, cria-se um cenário de ilusão, no 
qual os agentes se apresentam como pessoas dispostas a alegrar a vida e proporcionar 
benefícios a quem aceita compartilhar suas vidas. 
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Os participantes, por sua vez, não têm muito tempo para pensar ou para pedir 
conselhos a outras pessoas. Precisam decidir, de imediato, se aceitam ou não participar 
dos jogos e desafios. 
 
A dimensão difusa do dano e a covardia acentuada dos agentes, que se valem 
muitas vezes de nomes fictícios, fotos falsas e discursos mentirosos, justificam o 
tratamento penal mais severo. 
 
Em reforço a essa regra, estatui o § 5.° do art. 122 do Código Penal: "Aumenta-
se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual". 
 
Os líderes e coordenadores (curadores ou administradores) de grupo ou de 
rede virtual exercem o comando das atividades criminosas, razão pela qual devem ser 
mais rigorosamente punidos.

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