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DESTOXIFICAÇÃO 
 
 02 
 
 
Apresentação da Disciplina 3 
 
1. Destoxificação 5 
Intestino 5 
Microbiota nos ciclos da vida 9 
Microbiota, dieta e doenças 12 
Fígado 13 
Rins 15 
 
2. Estratégia nutricionais associadas a destoxificação 18 
Nutrientes que influenciam de forma negativa 18 
Nutrientes que influenciam de forma positiva 19 
 
3. Referências Bibliográficas 22 
 
 
 3 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
Objetivo da disciplina 
Discutir sobre o processo de destoxificação nos órgãos/tecidos 
relacionados, bem como as estratégias nutricionais que poderiam favorecer a 
destoxificação. 
Objetivos específicos 
Discutir sobre o conceito de destoxificação e como este processo ocorre. 
Debater estratégias nutricionais vinculadas à destoxificação. 
Habilidades e competências a serem alcançadas 
Compreender o processo de destoxificação, com ênfase em como e onde 
ele ocorre. 
Compreender estratégias nutricionais que poderiam favorecer a 
destoxificação. 
Ementa da disciplina 
Discutir sobre o processo de destoxificação, incluindo o seu conceito e 
como/onde ele ocorre. Não obstante, é objetivo desse material discutir sobre as 
estratégias nutricionais associadas à destoxificação. As informações incluídas 
são fundamentadas em evidências científicas bem consolidadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 5 
1. DESTOXIFICAÇÃO 
Destoxificação, em inglês 
detoxification ou clearance, 
também referida como "detox", 
significa qualquer processo 
realizado por um organismo 
objetivando a eliminação ou redução 
da atividade de substâncias 
xenobióticas, tanto a nível celular 
quanto a nível sistêmico, abarcando 
o organismo todo. 
Para compreender de forma 
aprofundada o conceito de 
destoxificação, é imprescindível 
entender o que são xenobióticos. 
Este termo é compreendido como 
substâncias químicas, intrínsecas ou 
extrínsecas ao metabolismo normal 
do organismo, que são nocivas ou 
atingiriam concentrações tóxicas 
caso não fossem metabolizadas. 
Estas substâncias são 
frequentemente chamadas de 
toxinas e o objetivo da 
destoxificação é, justamente, 
promover a atenuação ou a 
eliminação destas substâncias do 
organismo. Como resultado, o 
processo de destoxificação minimiza 
os danos causados pelos 
xenobióticos. 
Diversos órgãos/tecidos estão 
associados ao processo de 
destoxificação, dentre eles 
destacam-se intestinos, fígado e 
rins. 
Considerando a importância da 
destoxificação para a manutenção 
da homeostase do organismo, o 
objetivo dessa aula é abordar este 
processo nos mais diversos sítios e 
contextos. 
Intestino 
Inúmeras substâncias 
consideradas como xenobióticas 
 
 6 
adentram o organismo por meio da 
alimentação. Neste cenário, o trato 
gastrointestinal, isto é, os 
órgãos/tecidos que recebem os 
alimentos precisam estar 
preparados para lidar com as mais 
diversas toxinas. Este é, justamente, 
o caso do intestino, o qual 
contempla um eficiente sistema de 
barreira, bem como um potente 
sistema imune intestinal. 
 
As células intestinais localizam-
se justapostas, fixadas por meio de 
tight juncts, as quais são estruturas 
que mantêm as células intestinais 
unidas, de forma que substâncias 
indesejáveis, incluindo 
microrganismos patogênicos, não 
ultrapassem as células intestinais 
alcançando a circulação sanguínea. 
Quando há aumento da 
permeabilidade intestinal, a 
estrutura e a função das tight 
junctions são prejudicadas, o que 
pode repercutir na passagem de 
substâncias indesejáveis através 
dessa barreira intestinal. Em casos 
graves, a permeabilidade pode 
resultar em translocação bacteriana 
e septicemia. Logo, a função barreira 
do intestino é de suma importância 
para impedir que toxinas, 
xenobióticos e patógenos ingeridos 
com os alimentos sejam absorvidos 
e alcancem a corrente sanguínea, 
causando danos sistêmicos. 
Além desta função barreira, o 
intestino ainda é equipado com o 
sistema imune intestinal, 
contemplando uma rede de 
linfócitos chamada GALT (do inglês 
gut-associated lymphoid tissue), a 
qual atua de modo a impedir que 
toxinas ou patógenos presentes no 
intestino sejam absorvidos e 
provoquem danos ao organismo. 
Desse modo, o GALT é responsável 
por eliminar estes agressores antes 
que eles alcancem a circulação 
sanguínea. Não obstante, o intestino 
ainda apresenta inúmeras outras 
células imunes, como células 
dendríticas e macrófagos, que 
também atuam na defesa contra 
patógenos. 
As células do epitélio intestinal 
são sinalizadas com receptores do 
 
 7 
tipo Toll (do inglês toll-like 
receptors - TLRs), os quais 
reconhecem bactérias 
possivelmente patogênicas, as 
sinalizam e, consequentemente, 
estimulam mecanismos de resposta 
frente a este agravo, como 
proliferação celular, produção de 
imunoglobulina A, manutenção das 
tight junctions e síntese de 
substâncias com papel 
antimicrobiano e pró-inflamatório. 
Os TLRs reconhecem componentes 
de bactérias gram-negativas, por 
exemplo, o lipopolissacarídeo (LPS) 
presente na parede celular destes 
microrganismos. A partir deste 
reconhecimento pelos TLRs, há 
sinalização do patógeno e, por 
consequência, indução de 
mecanismos de defesa. 
 
 
 
A Figura apresenta as tight 
junctions (em estado normal ou com 
permeabilidade intestinal), bem 
como os mecanismos de defesa em 
resposta a presença de LPS. 
Além do sistema imune 
intestinal, os intestinos, bem como 
todo o trato gastrointestinal, 
compreendem uma vasta 
microbiota, a qual, dentre outras 
 
 8 
inúmeras funções, também está 
associada ao processo de 
destoxificação de xenobióticos. O 
termo microbiota, que substituiu o 
antigo termo “microflora”, designa o 
conteúdo de microrganismos 
presentes em determinado local do 
organismo, como a microbiota 
intestinal, enquanto “microbioma” 
designa os genomas coletivos de 
microrganismos que habitam o 
corpo, e também podem pertencer a 
um local específico, como, por 
exemplo, microbioma intestinal. 
Na microbiota intestinal 
humana residem mais de 1014 
bactérias, pertencentes a 190 
gêneros e 500 a 1.000 espécies 
diferentes. É estimado que a 
microbiota intestinal apresente peso 
aproximado de 1,5 kg. Embora haja 
intensa variação individual, existem, 
pelo menos, 57 espécies de bactérias 
que são compartilhadas por toda a 
espécie humana. 
A maioria dos microrganismos 
residentes na microbiota intestinal é 
pertencente aos filos Firmicutes e 
Bacteroidetes – aproximadamente 
90% – e uma pequena parcela ao filo 
Actinobacteria. Os microrganismos 
presentes na microbiota são 
classificados de acordo com o papel 
que desempenham na microbiota 
intestinal, podendo ser simbiontes, 
comensais ou patogênicos. 
Os simbiontes estão vinculados 
à promoção de saúde ao hospedeiro, 
enquanto os comensais não 
promovem benefícios ou malefícios, 
e os patogênicos estão associados ao 
desenvolvimento de doenças, visto 
que sintetizam compostos tóxicos, 
como amônia, fenol, indol e outros, 
podendo lesionar o epitélio e 
comprometer a capacidade 
absortiva, prejudicando 
diretamente o intestino. É válido 
ressaltar que uma microbiota 
intestinal considerada saudável 
contempla todas as classes de 
microrganismos (simbiontes, 
comensais e patogênicos), devendo 
haver um equilíbrio entre elas. 
Os microrganismos do TGI 
estão alocados em sítios específicos 
em concordância com as espécies e a 
densidade populacional, havendo 
intensa competição entre eles. A 
distribuição dos microrganismos ao 
longo do TGI é apresentada no 
Quadro. 
 
 
 
 9 
 
 
 
 
 
 
Quadro: Distribuição das bactérias ao longo do TGI. 
 
O gênero Lactobacillus é mais 
presente no intestino delgado, 
enquanto o gênero Bifidobacterium 
predomina no intestino grosso, 
embora a presença deste gênero 
tenda a reduzir com o decorrer dos 
anos de vida, sendo, portanto, 
vinculadaa “jovialidade intestinal”. 
Referente às funções da 
microbiota, as principais ações estão 
vinculadas ao sistema imune 
(ativação das respostas imune inata 
e adaptativa), a degradação de 
xenobióticos e ao metabolismo de 
nutrientes, como a fermentação de 
carboidratos, a síntese de ácidos 
graxos de cadeia curta – AGCC 
(acetato, propionato e butirato), a 
síntese de vitaminas do complexo B 
(riboflavina, ácido fólico e 
cobalamina) e de vitamina K. 
O gênero Lactobacillus, por 
exemplo, é fermentativo e sintetiza 
ácido láctico durante o seu 
metabolismo primário, o que 
promove redução do pH intestinal e, 
por consequência, dificulta o 
crescimento de bactérias comensais 
e patogênicas. Além disso, a 
microbiota intestinal associada à 
mucosa e ao muco, compõem a 
barreira mucosa, que representa 
sistema de defesa importante contra 
patógenos presentes no lúmen 
intestinal. 
Microbiota nos ciclos da vida 
 
LOCAL DO TGI 
BACTÉRIAS POR GRAMA DE 
CONTEÚDO INTESTINAL 
 
 10 
Infância 
No parto convencional, o 
recém-nascido é exposto a diversos 
microrganismos. Neste momento, 
há colonização de gêneros como 
Lactobacillus e Prevotella na vagina 
da gestante que, portanto, entram 
em contato com o recém-nascido no 
momento do nascimento. Dessa 
forma, o bebê é colonizado com as 
bactérias da mãe, e mantém um 
padrão por um período, até ser 
colonizado com outros 
microrganismos. 
Na cesariana, entretanto, o 
recém-nascido é exposto aos 
microrganismos presentes na pele, 
como Staphylococcus, 
Corynebacterium e 
Propionibacterium. Neste cenário, 
os bebês nascidos por cesariana não 
mantêm um padrão por um período 
de até seis meses após o nascimento. 
Cabe destacar que estudos 
recentes têm evidenciado que, antes 
do nascimento, o trato 
gastrointestinal (TGI) dos neonatos 
não é estéril. Comunidades 
microbianas foram identificadas no 
mecônio de alguns bebês nascidos 
prematuramente e foi demonstrado 
que o líquido amniótico das 
gestantes em trabalho de parto 
prematuro continha um amplo e 
diversificado espetro de DNA 
ribossomal bacteriano. Enquanto o 
bebê está no útero, ele normalmente 
engole aproximadamente 400 a 500 
mL de líquido amniótico por dia, 
sugerindo que a hipótese da infecção 
intra-amniótica é a força motriz por 
trás do trabalho de parto prematuro. 
É bem esclarecido na literatura 
que neonatos nascidos por 
cesariana, pré-termos ou 
submetidos à exposição com 
antibióticos nos períodos pré e pós-
natal, apresentam retardo na 
colonização intestinal por bactérias 
comensais. A microbiota intestinal 
de neonatos nascidos por cesariana 
é caracterizada pela ausência de 
Bifidobactérias, enquanto os 
neonatos nascidos por parto 
convencional, apesar de 
apresentarem diferentes perfis 
microbianos, possuem 
predominância de Bifidobacterium 
longum e Bifidobacterium 
catenulatum. 
Após o nascimento, é 
recomendado, exclusivamente, o 
aleitamento materno até, pelo 
menos, quatro meses de vida. O leite 
materno apresenta diversos 
componentes capazes de melhorar a 
atividade do sistema imune do 
lactente, como probióticos e 
prebióticos (mais de 130 
oligossacarídeos já foram 
 
 11 
identificados), também conhecidos 
como fator bífido, visto que 
estimulam a colonização intestinal 
por microrganismos benéficos. Os 
probióticos do leite materno (mais 
de 109 microrganismos em lactantes 
saudáveis) também permitem a 
colonização intestinal dos neonatos. 
Levando em consideração que o 
aleitamento materno exclusivo nem 
sempre é possível, a alimentação 
artificial (fórmulas lácteas) deve 
apresentar composição nutricional 
similar ao leite materno, a fim de 
assemelhar-se aos efeitos do último. 
Ainda assim, evidências indicam 
que a composição da microbiota 
intestinal difere em lactentes 
alimentados com leite materno em 
comparação àqueles com 
alimentação artificial, sendo que o 
gênero Bifidobacterium é mais 
numeroso nos primeiros. Lactentes 
alimentados de forma artificial 
apresentam número similar de 
Bacteroides e Bifidobacterium, 
além de apresentarem valores 
consideráveis de Staphylococcus, 
Escherichia coli e Clostridium, 
microrganismos potencialmente 
patogênicos. 
 
 
A infância é caracterizada por 
intensa e rápida colonização 
intestinal de microrganismos, 
havendo o estabelecimento de um 
padrão na composição da 
microbiota nos primeiros anos de 
vida. Esse padrão é influenciado por 
variáveis individuais, como fatores 
internos (genética) e fatores 
ambientais (alimentação, por 
exemplo). Neste cenário, mesmo 
crianças expostas a condições 
similares, apresentam variação 
individual na microbiota 
Tendo em vista que a 
microbiota intestinal infantil não é 
completamente estabelecida, o 
contato das crianças com 
microrganismos, que podem se 
tornar colonizadores, permite a 
alteração da composição da 
microbiota. Neste contexto, a 
inclusão de suplementos ou de 
 
 12 
alimentos probióticos nesta idade 
pode ser um importante recurso a 
fim de modular a composição da 
microbiota na infância e também na 
fase adulta. 
Fase adulta 
No organismo humano adulto, 
o número de células de 
microrganismos ultrapassa em dez 
vezes o número de células humanas, 
sendo que a maior parte destes 
microrganismos está localizada no 
TGI. Apenas no cólon, é estimado 
que haja mais de 400 espécies de 
bactérias, pertencentes, 
especialmente, aos gêneros 
Bacteroides, Eubacterium, 
Clostridium, Ruminococcus e 
Faecalibacterium, caracterizados 
por serem anaeróbios. Entretanto, 
há uma intensa variabilidade 
individual, sendo que, apenas parte 
desses microrganismos é 
compartilhada por todos os 
humanos. 
Diferente da microbiota 
infantil, a microbiota adulta segue 
um padrão, ou seja, é menos variável 
e, portanto, mais estável. Pelo fato 
da microbiota adulta já estar 
estabelecida, a alteração da 
composição da microbiota, mesmo 
com a suplementação de 
probióticos, é dificultada, visto que 
os microrganismos administrados 
não são capazes de colonizar o 
intestino, apenas permanecem 
aderidos no TGI, de forma 
temporária (aproximadamente oito 
dias após a interrupção da 
suplementação). Neste sentido, o 
uso de probióticos, a fim de manter 
os benefícios à saúde, deve ser 
contínuo. 
Idosos 
O processo de envelhecimento 
está associado à redução, de até mil 
vezes, da população de bactérias 
consideradas benéficas no TGI, 
comparado com indivíduos jovens. 
Desse modo, após 60 anos de idade, 
o indivíduo apresenta valores 
inferiores de microrganismos 
como Lactobacillus e Bifidobacteri
um. Além destas alterações, há 
aumento do gênero Clostridium, 
permitindo que, nesta faixa etária, 
os indivíduos estejam suscetíveis a 
infecções intestinais 
por Clostridium difficile. 
A capacidade do organismo 
para produzir uma resposta 
imunológica eficaz contra patógenos 
diminui com a idade, um fenômeno 
conhecido como 
imunossenescência. Nesse sentido, 
os idosos podem ser considerados 
como indivíduos 
imunocomprometidos, visto que há 
redução da produção de linfócitos B 
 
 13 
e T, assim como diminuição da 
função de linfócitos maduros em 
tecidos linfoides secudários e de 
células natural killers (NK). 
Várias cepas probióticas como 
Lactobacillus acidophilus, 
Lactobacillus casei e 
Bifidobacterium lactis têm 
demonstrado, com base nos 
modelos in vitroe ex-vivo, 
propriedades imunoestimuladoras, 
incluindo aumento da produção de 
linfócitos, da síntese de citocinas, da 
atividade fagocítica de macrófagos e 
de neutrófilos, e na atividade das 
células NK. 
Além das causas supracitadas, o 
envelhecimento, por promover 
alterações na composição da 
microbiota, pode, também, estar 
acompanhado de uma gama de 
sintomas gastrointestinais 
decorrentes da perda de mobilidade 
física, do uso continuo de 
medicamentos,da presença de 
comorbidades e da deterioração da 
sensibilidade anorretal. O sintoma 
mais comum relatado é a 
constipação intestinal, afetando 
50% dos idosos residentes na 
comunidade e 74% dos idosos em 
casas de repouso. 
Neste sentido, aventa-se que a 
suplementação com probióticos, 
especialmente com bactérias 
pertencentes aos 
gêneros Lactobacillus e 
Bifidobacterium, representa 
potencial recurso a fim de modular a 
composição da microbiota intestinal 
em idosos, diminuindo os sintomas 
gastrointestinais, atenuando o risco 
de infecções intestinais, melhorando 
a resposta imunológica e 
promovendo qualidade de vida. Tal 
como em adultos, a microbiota de 
idosos mantém um padrão, e os 
probióticos não se tornam 
colonizadores do intestino, devendo 
ser ingeridos continuamente. 
Microbiota, dieta e doenças 
 
No que tange a doenças, em 
diversas condições clínicas há 
alteração da composição da 
microbiota intestinal, como em 
doenças inflamatórias, obesidade e 
câncer, entretanto, a ordem dos 
 
 14 
fatores é desconhecida, ou seja, se a 
alteração da microbiota contribui 
com o desenvolvimento da doença 
ou, se após o estabelecimento da 
doença, há alteração da microbiota. 
Esse “desequilíbrio” na microbiota é 
denominado disbiose, quadro que se 
refere à redução de microrganismos 
benéficos e aumento de 
microrganimos patogênicos. 
Considerando que a alimentação do 
hospedeiro é o principal 
componente para compor e modular 
a microbiota intestinal, a ingestão de 
determinados alimentos pode 
contribuir para esse desequilíbrio 
entre os microrganismos residentes. 
Dietas ricas em proteínas 
produzem aminas, fenóis e amônia 
por meio da atividade das proteases 
da microbiota intestinal, produtos 
relacionados à carcinogênese em 
diversos tecidos. Alimentos ricos em 
enxofre como bebidas alcóolicas, 
carnes, leite, ovos, vegetais 
crucíferos e frutos do mar, ao sofrer 
a ação de determinadas cepas 
bacterianas, podem produzir sulfeto 
de hidrogênio, um gás tóxico para a 
mucosa intestinal. 
Dietas ricas em lipídeos levam a 
diminuição de Bacteroidetes e ao 
aumento de Firmicutes e 
Proteobacterias. Além disso, podem 
aumentar a concentração 
plasmática de LPS — endotoxemia 
metabólica —, que é um dos 
componentes principais 
da membrana exterior de 
bactérias gram-negativas. O LPS é 
capaz de induzir resposta 
inflamatória no hospedeiro, por 
meio do mecanismo de 
reconhecimento de padrões 
moleculares associados a patógenos 
(PAMPs), os quais ativam 
receptores TLR, especialmente o 
TLR-4, configurando um dos 
principais gatilhos para o 
desenvolvimento de doenças 
inflamatórias. 
Fígado 
 
 
O fígado é o principal órgão 
envolvido no metabolismo, seja de 
xenobióticos, fármacos ou 
nutrientes, por exemplo. Este é o 
maior órgão do corpo, contribuindo 
com aproximadamente 2% do peso 
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Membrana_exterior&action=edit&redlink=1
 
 15 
total do indivíduo (~1,5 kg em um 
adulto). A unidade funcional básica 
do fígado é o lóbulo hepático, sendo 
que o fígado humano contém cerca 
de 50.000 a 100.000 lóbulos 
individuais. 
Além dos hepatócitos, o fígado 
compreende células endoteliais 
típicas e células de Kupffer, que são 
macrófagos, cuja principal função é 
fagocitar bactérias e outros 
patógenos presentes no sangue que 
chega ao fígado. Estima-se que 
quando uma bactéria se aproxima 
da célula de Kupffer, em menos de 
0,01 segundo ela passa para o 
interior celular, permanecendo 
alojada até ser digerida. 
Possivelmente, menos de 1% das 
bactérias que entram no sangue 
porta (proveniente dos intestinos) 
consegue passar através do fígado 
para a circulação sistêmica. Assim, é 
possível perceber que as substâncias 
absorvidas através do intestino são 
transportadas ao fígado, o qual 
também está amparado a eliminar 
possíveis patógenos e toxinas. Vale 
salientar que o fígado apresenta 
elevado fluxo sanguíneo, sendo que 
cerca de 1.350 mililitros de sangue 
fluem por este órgão a cada minuto, 
o que equivale 27% do débito 
cardíaco de repouso. 
No que se refere ao 
metabolismo hepático de 
xenobióticos, o principal objetivo é 
tornar estas substâncias mais 
facilmente excretáveis pelo 
organismo. O metabolismo de 
xenobióticos compreende duas fases 
– fase I e fase II. A fase I objetiva 
inativar o composto e torna-lo mais 
hidrofílico, de forma a facilitar a 
excreção urinária. As principais 
reações químicas envolvidas nesta 
fase são: oxidação, redução, 
hidrólise e acetilação. As principais 
enzimas envolvidas neste processo 
são aquelas pertencentes ao sistema 
enzimático do citocromo P-450, 
bem como a flavina monooxigenase, 
a álcool desidrogenase, a aldeído 
desidrogenase e a monoamida 
oxidase. 
Na fase II, os xenobióticos são 
conjugados com grupos químicos 
que os tornam ainda mais 
hidrofílicos, como conjugação com 
sulfato, glutationa, aminoácidos e 
glucoronídeo. As principais enzimas 
envolvidas nesta fase são: UDP-
glicuronil transferase, 
sulfotransferase, N-
acetiltransferase e glutationa S-
transferase. É importante destacar 
que nem todo xenobiótico passa 
pelas duas fases, sendo que se a 
substância já tiver caráter mais 
 
 16 
hidrofílico, ela passará apenas pela 
fase I. 
Aventa-se que diversos 
nutrientes são requeridos para que 
as reações químicas das fases I e II 
ocorram, como vitaminas do 
complexo B, por exemplo: 
riboflavina, niacina, piridoxina, 
ácido fólico, cobalamina. 
Rins 
 
 
No que se refere ao processo de 
destoxificação, os rins 
desempenham importante papel na 
excreção de xenobióticos, toxinas e 
demais substâncias que necessitam 
ser eliminadas do organismo por 
meio da urina. Vale relembrar que o 
metabolismo hepático de 
xenobióticos converte estas 
substâncias em formas mais 
hidrofílicas e de fácil excreção, 
facilitando o trabalho executado 
pelos rins. Salienta-se, ainda, que 
nem todas as substâncias são 
totalmente excretadas, sendo que 
algumas delas podem se acumular 
em determinados tecidos, como no 
tecido adiposo. 
 
 
 
 
 
 
 18 
2. ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS ASSOCIADAS À 
DESTOXIFICAÇÃO 
 
A destoxificação é um processo 
endógeno do organismo, realizado 
por inúmeros órgãos e tecidos. 
Dessa forma, não é possível que um 
alimento, por si só, realize este 
processo. É muito comum, 
principalmente leigos, utilizarem de 
estratégias, como suco verde, com o 
objetivo de destoxificar o organismo 
após episódios de ingestão 
alimentar excessiva (especialmente 
incluindo açúcares e gorduras), 
porém, apesar desta bebida ser 
repleta de nutrientes, ela não tem o 
poder de realizar o processo de 
destoxificação. Assim, é indicado 
que os profissionais da área da 
saúde evitem o termo “detox”, a fim 
de não confundir os pacientes. 
Apesar do alimento, por si só, 
não ser capaz de realizar a 
destoxificação, inúmeros nutrientes 
podem influenciar, de forma 
negativa ou positiva, este processo. 
Discutir sobre as estratégias 
nutricionais relacionadas a este 
processo é justamente o objetivo 
desta aula. 
Nutrientes que influenciam de 
forma negativa 
Evidências indicam que o 
consumo de gorduras saturadas, 
principalmente quando associadas a 
açúcares, aumenta a concentração 
de LPS (endotoxina metabólica) no 
intestino, o que sinaliza os 
receptores TLRs induzindo o 
processo inflamatório (de forma 
similar ao LPS proveniente de 
bactérias gram-negativas) e o 
aumento da permeabilidade 
intestinal. 
Neste contexto, o intestino de 
indivíduos com alimentação rica em 
gorduras saturadas e açúcares 
apresenta uma inflamação de baixo 
grau, porém crônica, o que aumenta 
o risco do desenvolvimento de 
diversas doenças, como doenças 
 
 19 
inflamatórias intestinais. Estas 
características (inflamação crônica e 
de baixo grau,também chamada de 
metainflamação) são, justamente, 
atribuídas ao quadro de obesidade. 
Neste cenário, as estratégias 
nutricionais aplicadas para reverter 
a situação seriam: plano alimentar 
voltado ao emagrecimento (ingestão 
calórica inferior ao gasto calórico – 
balanço energético negativo), com 
redução da ingestão de gorduras 
saturadas, trans e açúcares. 
 
Além das gorduras saturadas e 
dos açúcares, a ingestão de álcool 
também afeta negativamente o 
processo de destoxificação, tendo 
em vista que o álcool é metabolizado 
no fígado, sobrecarregando o 
metabolismo hepático. Não 
obstante, a ingestão excessiva de 
álcool também está vinculada com 
estresse oxidativo e alteração no 
metabolismo de alguns nutrientes, 
como vitaminas do complexo B. 
Nutrientes que influenciam de 
forma positiva 
 
Vitaminas do complexo B 
Conforme mencionado na aula 
anterior, as vitaminas do complexo 
B desempenham importante papel 
como cofatores das reações 
químicas que ocorrem no processo 
hepático de destoxificação de 
xenobióticos, principalmente na 
fase I. Neste contexto, a ingestão 
adequada e suficiente destas 
vitaminas é essencial para garantir a 
homeostase da destoxificação 
hepática. 
Antioxidantes 
Muitos xenobióticos provocam 
estresse oxidativo, logo, a ingestão 
adequada e suficiente de nutrientes 
com caráter antioxidante é 
fundamental para reverter este 
quadro. Dentre os nutrientes 
antioxidantes, destacam-se as 
vitaminas A (carotenoides), C e E, os 
minerais cobre e selênio, bem como 
compostos bioativos, como tióis. 
 
 20 
Fibras alimentares 
As fibras alimentares estão 
associadas a inúmeros efeitos 
biológicos que poderiam favorecer, 
indiretamente, o processo de 
destoxificação. As fibras alimentares 
melhoram a saúde intestinal (sendo 
o intestino um importante sítio de 
destoxificação), bem como retardam 
a absorção de açúcares e gorduras – 
nutrientes associados ao aumento 
do LPS intestinal e inflamação. 
Não obstante, as fibras 
alimentares favorecem o 
emagrecimento por inúmeros 
mecanismos, como: (i) os alimentos 
ricos em fibras são menos calóricos, 
(ii) os alimentos ricos em fibras 
exigem maior tempo de mastigação, 
(iii) há retardo no esvaziamento 
gástrico e maior sensação de 
plenitude após o consumo de fibras, 
(iv) há retardo na absorção de 
açúcares e gorduras em razão da 
maior viscosidade promovida pelas 
fibras, (v) há fermentação das fibras 
pela microbiota intestinal e (vi) há 
liberação de hormônios intestinais 
associados à saciedade. 
Probióticos 
Considerando a importância da 
microbiota na destoxificação de 
xenobióticos, é de suma relevância 
estudar estratégias que melhorem a 
composição e o funcionamento da 
microbiota. Dentre estas 
intervenções, destaca-se a 
suplementação com probióticos, 
prebióticos e simbióticos. 
O termo probiótico, derivado 
do grego, traz o sentido daquilo que 
é a favor da vida, ou seja, que pode 
promover efeitos benéficos à saúde. 
A Food and Agriculture 
Organization of the United 
States/World Health Organization 
(FAO/WHO) define esse termo 
como “microrganismos vivos que, 
quando administrados em 
quantidades adequadas, conferem 
benefícios à saúde do hospedeiro. 
Diversos são os critérios 
apontados para que um 
microrganismo seja considerado 
probiótico, dentre eles: (i) ser, 
preferencialmente, de origem 
humana (isolado do trato 
gastrointestinal humano - TGI); (ii) 
ser reconhecido como seguro à 
saúde (GRAS – Generally 
Recognized as Safe), por meio de 
evidências científicas, mesmo para 
indivíduos imunocomprometidos; 
(iii) ser viável e ativo no veículo em 
que for administrado; (iv) ser 
resistente aos sucos gástricos e 
intestinais; (v) e ser capaz de aderir 
ao intestino humano. 
Os principais efeitos benéficos 
dos probióticos à saúde humana são 
referentes a alterações positivas na 
composição da microbiota, bem 
como melhora da resposta e 
 
 21 
homeostase do sistema imune. Em 
decorrência ao primeiro efeito, tem 
sido atribuído aos probióticos a ação 
de reduzir o risco de ocorrência de 
cáries, combater a colonização por 
H. pylori e prevenir diarreias e 
constipação intestinal. No que 
concerne à resposta imune, a 
ingestão de probióticos está 
associada à redução do risco de 
alergias, de infecções (incluindo 
infecção urinária) e de doenças 
respiratórias em crianças. Vale 
ressaltar que nem todos estes efeitos 
estão completamente elucidados na 
literatura. 
Prebióticos 
De acordo com definição 
proposta por Gibson et al. (2017), 
prebióticos são substratos 
seletivamente utilizados pelos 
microrganismos do hospedeiro, 
conferindo um benefício à saúde. Ao 
contrário do que se pensava no 
passado, não são apenas algumas 
fibras (como oligossacarídeos e 
inulina) que se enquadram como 
prebióticos, mas também ácido 
linoleico conjugado, ácidos graxos 
poliinsaturados (ômegas 3 e 6), 
fenólicos e fitoquímicos. 
Simbióticos 
O conceito de “simbióticos” se 
refere a combinação de uma ou mais 
cepas probióticas e um ou mais 
prebióticos. Para a seleção de 
ambos, é necessário que o prebiótico 
permita o crescimento do 
microrganismo probiótico, 
havendo, portanto, uma interação 
positiva destes componentes 
avaliada in vitro. 
Quando a escolha do probiótico 
e do prebiótico é adequada, o efeito 
benéfico à saúde pode ser ainda 
mais acentuado, comparada à 
administração isolada desses 
componentes, devido à sinergia 
entre o microrganismo probiótico e 
a fibra prebiótica. 
 
 
 
 
 
 
 
 23 
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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