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Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Ao término desta aula, você deverá ser capaz de: defi nir o que são necessidade e desejo; conceituar Marketing; identifi car as relações existentes entre as atividades produzidas pelo Marketing e o comportamento do consumidor e do mercado; descrever os conceitos básicos de Marketing, inserindo-os na dinâmica dos negócios. 1 ob je tiv os A U L A Metas da aula Explicitar como as atividades produzidas pelo Marketing interferem na vida das pessoas, das organizações e dos mercados; apresentar os conceitos básicos de Marketing envolvidos na dinâmica dos negócios. 1 2 3 4 8 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? INTRODUÇÃO Num dia de semana comum, você acorda pela manhã e se prepara para sair. Essa rotina envolve a higiene pessoal (escovar os dentes, lavar o rosto, tomar banho) e exige que você utilize alguns produtos cujas marcas foram escolhidas: creme dental Close-up, escova dental Oral-B, sabonete Dove, desodorante Rexona e assim por diante. Os produtos que consumimos cotidianamente estão relacionados intimamente à forma como vivemos, às escolhas que fazemos e inclusive quem pensamos ser. Figura 1.1: Todas as marcas que usamos refl etem a maneira como vivemos. Fonte: www.sxc.hu/photo/513309 Fonte: www.sxc.hu/photo/23017 Fonte: www.sxc.hu/photo/205247 Fonte: www.sxc.hu/photo/210847 C E D E R J 9 A U LA 1 Quando vamos à padaria, ao cinema, ao shopping, ao supermercado ou ao banco, por exemplo, realizamos trocas que se concretizam na forma de produtos e serviços. As escolhas entre produtos e marcas dependem de uma série de situações e circunstâncias vividas por nós, e são esses motivos que as empresas procuram detectar para sustentar suas decisões sobre quais produtos lançar e quais serviços oferecer. O mercado consumidor, do qual fazemos parte, funciona como um teatro onde os atores – compradores e vendedores – representam seus papéis. Falaremos a respeito disso ainda nesta aula. Antes de passarmos às defi nições e aos conceitos sobre Marketing, é fundamental que você analise algumas questões: POR QUE COMPRAMOS? Antes de tudo, não podemos separar sociedade e consumo. Todo consumo é cultural e diz respeito à vida das pessoas e aos modos como elas se percebem como indivíduos, a seus valores, prioridades e também suas difi culdades. Os atos mais triviais (como beber, comer, vestir, dentre outros) falam destas dimensões da vida humana no momento em que os produtos e serviços saem das lojas nas mãos dos consumidores e penetram em seu mundo cotidiano. Qual é a razão da existência das empresas? Por que compramos? O que é uma empresa? Este livro clássico, mas muito bom, reeditado pela LTC, mostra como as relações econômicas se construíram. Fonte: http://www.submarino.com.br/ books_productdetails.asp?Query=Prod uctPage&ProdTypeId=1&ProdId=33314 &franq=130516 10 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Porém a história das trocas, da cidade e do consumo começa muito tempo atrás. Apesar de a maior parte dos livros de Marketing falar que o consumo nasceu com a Revolução Industrial, portanto no século XIX, estudiosos como Colin Campbell (2001) afi rmam que, ainda no século XVIII, as indústrias de manufaturados produziam inúmeros artigos de luxo como cadarços, espelhos, broches, cartas de baralho, bonecas e até palitos. Para justifi car as características do consumidor que acompanharam a Revolução Industrial, leia o trecho abaixo: Quem comprou os algodões, as lãs, os linhos e as sedas das indústrias têxteis britânicas que desabrochavam? Quem consumiu os aumentos maciços da produção de cerveja? Quem consumiu a louça de barro que escoava das cerâmicas de Staffordshire? Quem comprou as fi velas, os botões, os alfi netes e todos os pequenos produtos de metal de que as fortunas de Birmingham foram construídas? Quem comprou os artigos de cutelaria de Sheffi eld, os livros dos editores em alta, os jornais femininos, os brinquedos das crianças, os produtos dos fl oricultores? Que famílias compraram os produtos das primeiras indústrias de consumo? (CAMPBELL, 2001, p. 41). Incrível, não? Há consumo de produtos supérfl uos desde o século XVIII! Se há vestígios de que o comércio inglês do século XVIII estava voltado para artigos “de luxo”, a Revolução Industrial, já no século seguinte, criou as bases para a construção da indústria pesada em todo o mundo ocidental, o que viabilizou o desenvolvimento científi co, tecnológico, econômico e global dos dias atuais. De qualquer forma, pode-se afi rmar que o consumo, para fi ns de satisfação de necessidades básicas e/ou supérfl uas (falaremos sobre isto ainda nesta aula), é uma atividade presente em toda e qualquer sociedade humana. Apesar de inúmeras técnicas comerciais terem se aprimorado com o desenvolvimento dos mercados e dos negócios (particularmente as vendas e a propaganda), o Marketing surge em meados do século XX, em torno de 1945, no fi nal da Segunda Guerra Mundial. Naquele ocasião, as idéias sobre o Marketing são apresentadas por Philip Kotler – seu principal defensor – como um conjunto de práticas elaboradas para nortear os comerciantes americanos em seus negócios. No esforço do pós-guerra, era preciso assegurar à indústria o escoamento de sua produção. Era preciso encontrar um “cliente” para um produto! C E D E R J 11 A U LA 1 ?? Philip Kotler é, assim, considerado o pai do Marketing. Suas idéias foram propagadas em inúmeros livros; o mais famoso deles no Brasil chama-se Administração de Marketing, hoje em sua décima edição, e é utilizado pela maior parte dos cursos de Administração existentes. Segundo Kotler, a decisão pela compra de um produto ou serviço se dá em resposta a um estado de carência percebido. Detectar a complexidade das necessidades e desejos humanos é a principal tarefa do Marketing para que se consiga, então, ajustar os produtos e serviços a essas necessidades e desejos – assim a venda se torna desnecessária. Agora deu um nó em sua cabeça, não? Como pode o Marketing pretender tornar a venda desnecessária? Afi nal, não é a venda que torna a troca possível? Calma, continue a ler e você vai entender. Este é um pensamento de Peter Drucker, guru da Administração. Drucker morreu no início de 2006, com quase 90 anos. Sua infl uência no modelo de administração no Brasil e no mundo se fez presente durante os últimos 50 anos através da publicação de inúmeros livros e da divulgação de suas idéias em congressos e seminários. Indicamos, ao fi nal da aula, alguns livros de Drucker para você consultar. Observe algumas defi nições para a palavra Marketing: 1. Segundo o site do Sebrae, Marketing é um estudo do mercado que visa a planejar possíveis lançamentos de produtos em um futuro próximo ou distante (prospectivos) e que leva em consideração as necessidades existentes ou possíveis e as perspectivas de pesquisa e de adaptação da empresa. 2. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Marketing é uma estratégia empresarial de otimização de lucros através da adequação da produção e oferta de suas mercadorias ou serviços às necessidades e preferências dos consumidores, para isso recorrendo a pesquisa de mercado, design de produtos, campanhas publicitárias, atendimento pós-venda etc. 12 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Você consegue entender a idéia de Drucker? Quando ele diz que a venda deve ser desnecessária, o que está sugerindo, na verdade? O que ele quer dizer é que a empresa e seus executivos devem ser capazes de identifi car, com a devida efi ciência: no tempo certo, no lugar certo, com o preço certo, o produto certo (o que o consumidor deseja), de maneira que este produto respondaoutras atividades. C E D E R J 47 A U LA 2 É importante que você perceba que, ainda que a satisfação do cliente seja condição principal para sobrevivência de qualquer negócio, algumas empresas ainda praticam ações que negam tal princípio. Também destacamos que essas empresas tendem a diminuir em número, pois vão perdendo as fi guras mais importantes para a sua existência: aqueles que vão comprar, vender e consumir os produtos e serviços. Num mercado cada vez mais consumidor e concorrente, as empresas que não prestam atenção aos clientes tendem a desaparecer. + + = Figura 2.1: Facilidade no pagamento (cartão de crédito, cheque pré-datado etc.), variedade de escolha (cores, tamanhos etc.) e preços acessíveis são alguns fatores que contribuem para a fi delização dos consumidores. Fonte: www.sxc.hu/photo/213544, www.sxc.hu/photo/213575, www.sxc.hu/photo/480217, www.sxc.hu/photo/525119. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO E DA PRÁTICA DO MARKETING Como já foi dito na introdução de nossa aula, as empresas que não se adequarem às condições impostas pelo mercado, pela sociedade e pelo poder público tendem a enfrentar muitos problemas e, às vezes, colocam em risco a própria continuidade do negócio. E isso serve também para empresas que operam em mercados monopolistas (você deve ter visto este conceito em disciplinas de Economia), como as fornecedoras de água e de eletricidade. Também se encaixam nesse grupo outras empresas que operam em regime de concessão, como as de transportes urbanos. Aliás, a área de transporte urbano, na cidade do Rio de Janeiro, pode ser um excelente exemplo de como a existência de um serviço pode estar comprometida se não houver satisfação do cliente. Isso porque o “sistema trem” foi, durante muito tempo, a alternativa de transporte mais procurada na cidade. Entretanto, conforme a cidade foi crescendo, novas demandas por transportes foram surgindo, uma vez que o “sistema 48 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes trem” não tinha fl exibilidade sufi ciente para atender novas rotas que passassem mais próximo às casas e ao trabalho dessas pessoas. Além do fato de manter sempre o mesmo padrão de serviço e conforto, que não acompanhou as transformações na sociedade carioca, um novo meio de transporte, o “sistema ônibus”, ofereceu a fl exibilidade que atendia às novas demandas, pois tinha a condição de se espalhar por partes da cidade não atendidas pelo “sistema trem”. O tempo passou, os governos federal e estadual não deram a devida atenção ao “sistema trem”, que foi sucateado. O “sistema ônibus” cresceu enormemente, tornou-se o maior da cidade, mas não mudou a tecnologia e o padrão de serviço. Como conseqüência, a insatisfação dos usuários de transporte urbano aumentou, o que gerou excelente espaço para o surgimento e o crescimento do chamado “transporte alternativo” ou clandestino. Após a privatização do “sistema trem”, e a esperada melhoria operacional, as coisas estão mudando para esse sistema, que precisa agora desenvolver ações mercadológicas para atrair mais usuários. Bem, não entraremos na discussão se houve falha do poder público, se relaxou o controle e contribuiu para o crescimento do transporte alternativo. Cuidaremos apenas da contextualização da situação que torna um consumidor insatisfeito, levando-o a trocar de fornecedor de serviço. E essa situação fi ca fácil de ser entendida quando precisamos utilizar o transporte público da cidade do Rio de Janeiro: veículos em péssimas condições, passagens caras e linhas pouco efi cientes são uma realidade na cidade. As difi culdades no gerenciamento dos transportes públicos não são exclusividade do Rio de Janeiro. Se você está em outra cidade, preste atenção nos sistemas de transporte, veja como funcionam e compare com o que apontamos aqui. Sabe por que ocorre essa insatisfação da sociedade carioca com o transporte público? Porque conforme a sociedade vai se modernizando, sofi sticando, enfi m, fi cando mais complexa, aumentam as expectativas das pessoas com relação à qualidade e ao estilo de vida. Logo, aumentam as expectativas com relação à maneira como governos, homens públicos, empresas, órgãos públicos e profi ssionais liberais (dentistas, médicos, advogados, contadores etc.) agem. C E D E R J 49 A U LA 2 Figura 2.2: Os transportes alternativos, como Kombis e vans, acabaram tendo uma considerável aceitação na cidade do Rio de Janeiro, graças a insatisfação da população com os transportes públicos. Fonte: www.sxc.hu/photo/431879; www.sxc.hu/photo/434181; www.sxc.hu/photo/475314 Como estamos num mundo predominantemente capitalista, no qual a atividade econômica privada exerce papel central, a conseqüência clara desse aumento de expectativas é o surgimento de grupos de pressão, pessoas que se articulam, como organizações formais ou não, para defender interesses compartilhados. Trata-se de ONGs – organizações não-governamentais – associações de consumidores, produtores, federações e cooperativas. ONG é sigla de Organização Não-Governamental. Elas são associações da sociedade civil e, em geral, não têm fi ns comerciais. Tratam de assuntos de interesse da humanidade, tais como pobreza, preservação do meio ambiente, defesa de espécies em extinção etc. O Greenpeace, por exemplo, é uma ONG multinacional fundada em 1971, que atua em pelo menos cinco áreas diferentes: ecologia oceânica, selvas tropicais, Antártida, substâncias tóxicas, energia nuclear e atmosfera. Ele se serve de armas efi cientes, como ação direta, que atrai a atenção da mídia e muitas vezes impede um processo de agressão ambiental. Também elabora estudos científi cos sobre os problemas ecológicos mais graves do planeta. !! Todos esses grupos exercem pressão sobre os órgãos ou pessoas responsáveis pelas decisões que diariamente afetam nossas vidas. A resposta dos tomadores de decisão ocorre por meio de leis, normas, códigos e previsões de sanções que infl uenciam diretamente o comportamento das pessoas e empresas e, portanto, o funcionamento dos mercados. Veja, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor, destacado no quadro a seguir. 50 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Código de Defesa do Consumidor O Código de Defesa do Consumidor surgiu da Lei Federal Nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Para o IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o Código de Defesa do Consumidor é uma lei abrangente que trata das relações de consumo em todas as esferas: civil, defi nindo as responsabilidades e os mecanismos para a reparação de danos causados; administrativa, defi nindo os mecanismos para o poder público atuar nas relações de consumo; e penal, estabelecendo novos tipos de crimes e as punições para os mesmos. Para o Procon de Belo Horizonte, trata-se de uma lei de ordem pública que estabelece os direitos e obrigações de consumidores e fornecedores, para evitar que os primeiros sofram qualquer tipo de prejuízo. Uma lei de ordem pública não pode ser contrariada nem por acordo entre as partes. Os PROCONS surgiram com a Lei 8.078. Procon é a sigla que se tornou usual para designar os órgãos de defesa do consumidor, fossem municipais ou estaduais. Cada órgão desses integra, como se lê no Código de Defesa do Consumidor (CDC), o chamado Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC). Bem, trata-se de demandas da sociedade por melhor atendimento e entendimento das suas necessidades. Entretanto a forma de resposta das empresas privadas é bem diferente da forma de resposta que governo e empresas públicas adotam uma vez que estas não podem modifi car sua estrutura (demitir, vender e comprar ativos etc.) conforme desejariam seus dirigentes, parceiros e consumidores. Veja, por exemplo, o caso da Varig, ícone da aviação comercial brasileira, cujosproblemas fi nanceiros duraram anos. Houve forte pressão sobre o governo para que ele ajudasse a empresa. Contudo nada pôde ser feito sem que a questão fosse negociada entre as forças de apoio do governo e a oposição. Nesse cenário, esteve presente a pressão exercida pelo Poder Judiciário, que analisou possível inconstitucionalidade de alguma medida a ser tomada pelo Governo Federal, bem como a natureza oportunista da medida visando benefícios eleitorais. Para ler, na íntegra, o Decreto Federal 2.181/97, que regulamenta a Lei 8.078, basta acessar a página: http://www.homenet.com.br/procon/oque.htm E para saber mais sobre o Procon, acesse: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8078.htm http://www.idec.org.br/cdc.asp http://www.pbh.gov.br/procon/servic.htm C E D E R J 51 A U LA 2 As respostas das empresas privadas às demandas da sociedade, variam de acordo com os seguintes aspectos: Tamanho das empresas: empresas grandes têm mais recursos para investir, mas podem não ter a agilidade que as pequenas e médias têm, em virtude do longo fl uxo pelo qual as decisões devem seguir. Elas também geralmente exercem muitas pressões sobre seus clientes e fornecedores. E se são fi liais de empresas de outros países, ainda contam com a possibilidade de aportes fi nanceiros e tecnológicos das suas matrizes. Já as pequenas e médias empresas têm poucos recursos fi nanceiros e humanos qualifi cados para fazer as modifi cações necessárias à melhoria do seu desempenho frente às cobranças da sociedade. Portanto, são fortemente dependentes da disponibilidade de recursos fi nanceiros a juros baixos e de organizações como o Sebrae e de universidades para a sua qualifi cação. Posição que ocupa na CADEIA DE SUPRIMENTO: a posição ocupada por uma empresa na cadeia de suprimento é fundamental para a qualidade do seu desempenho. Empresas que estão mais perto dos consumidores fi nais são mais pressionadas que aquelas que estão no início do fornecimento, pois têm maior visibilidade e mais fácil acesso. Analise, por exemplo, a posição dos fabricantes de peças e componentes dos produtos. Quando os produtos quebram, nós, consumidores, só lembramos do fabricante e do revendedor, nunca nos importamos com os que produzem matérias-primas e componentes, sequer sabemos quem são. Setor econômico em que operam: setores nos quais os produtos têm ciclos de vida curtos (com novas versões e modelos disponíveis mais rapidamente) são mais pressionados que setores em que os produtos mudam mais lentamente. Mais adiante trataremos com maior profundidade o conceito de ciclo de vida do produto. CA D E I A D E S U P R I M E N T O (supply chain) É o canal que se estende desde matérias-primas aos produtos fi nais, que são levados aos compradores. Figura 2.3: A indústria automobilística é um excelente exemplo de setor econômico onde os produtos têm vida curta – novos mode- los, ou versões mais sofi sticadas de modelos já existentes, são lançados freqüentemente. Fo to : A lf re d o F ar id C h u ja ch i Fonte:http://www.sxc.hu/photo/100692 Fonte: http://www.sxc.hu/photo/161532 Fo to : J u rg en g ei t 52 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Nível de competição no setor e P O S I Ç Ã O N O R A N K I N G : se há muita competição, as empresas tendem a responder com mais agilidade, principalmente por parte das empresas que não são líderes. Estas, por sua vez, devem vigiar para não se acomodar com a liderança. Sofi sticação do mercado: mercados sofi sticados como de jóias, alta costura e automóveis de luxo são muito pressionados e visados. Os consumidores desses produtos, que são caros e muitas vezes únicos, querem receber atendimento e benefícios à altura do investimento que estão fazendo. Por isso, tais empresas são orientadas para a manutenção de aspectos como exclusividade, inovação, notoriedade e requinte. Segmento de mercado atendido: há muita diferença entre o padrão de funcionamento de empresas que atendem segmentos de mercado com baixa renda e baixo poder de consumo e as que atendem segmentos de mercado com alta renda e alto poder de consumo. Em termos de marketing, as estratégias são bem diferenciadas, o que implica a adaptação de estrutura e padrão de funcionamento. País de origem e nível cultural de donos e gerentes: empresas oriundas de sociedades desenvolvidas tendem a oferecer um nível de serviço melhor, pois estão acostumadas com altos níveis de cobrança. Padrão de regulação do negócio: alguns setores são altamente regulados pelo governo, como os de remédios e transporte aéreo, por exemplo, que operam sob um estatuto regulador altamente restritivo e cheio de parâmetros de segurança a serem observados. Outros setores têm maior liberdade, como o de autopeças que têm de seguir apenas as regras estabelecidas para qualidade e conformidade dos produtos. Os aspectos mencionados afetam a forma como as empresas privadas estão estruturadas e, logo, a forma como atuam e respondem às pressões sociais. Mas você saberia responder por que isso acontece? É simples: porque para se adaptarem a essas realidades, e ainda serem competitivas, elas desenvolveram capacitações adequadas à realidade enfrentada dia-a-dia. Fora a questão do tamanho e da origem, isso implica que algumas empresas terão maior desenvolvimento tecnológico que outras, o que demanda recursos humanos mais preparados, que acabarão desenvolvendo estratégias de atuação mais dinâmicas que outras. Embora a melhoria dos processos e formas de atuar deva ser entendida e buscada por todos nas empresas, a área de Marketing é a PO S I Ç Ã O N O R A N K I N G diz respeito à comparação entre os resultados econômico- fi nanceiros de uma empresa com os resultados daquele setor de negócios. C E D E R J 53 A U LA 2 principal responsável pelo dimensionamento e estímulo a esse processo de mudança quando detecta e ajusta os níveis, a velocidade e a composição da demanda. Por isso, o desempenho da área de Marketing das empresas diz muito sobre essa adequação da empresa à realidade dos mercados em que atuam, ou seja, diz muito sobre como as empresas entendem suas relações com os clientes e consumidores dos seus produtos e serviços. E, logicamente, diz muito sobre como o pensamento e as práticas do Marketing evoluíram com o tempo. Relembre o caso Monidani, da Aula 1. Analise a importância dos fatores a seguir, caso a empresa resolva produzir e vender móveis residenciais e decidisse operar apenas com lojas próprias: • posição que ocupa na cadeia de suprimento; • setor econômico em que opera; • nível de competição no setor e posição no ranking; • sofi sticação do mercado, segmento de mercado atendido. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Resposta Comentada A empresa Monidani opera, como vimos, voltada para o atendimento a clientes (colégios – licitações – e indústrias) e não a consumidores fi nais. Seus esforços, portanto, são mais orientados à diminuição de custo e manutençãoda qualidade, do que para o desenvolvimento de novos produtos mais rapidamente e inovadores. Ela tem tradição e tamanho nesse mercado e é maior que seus fornecedores. Se a empresa decidir produzir e vender móveis residenciais, os seguintes pontos merecem destaque: Atividade 1 54 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes • Posição que ocupa na cadeia de suprimento A posição ocupada pela Monidani na sua cadeia de suprimento é a seguinte: Por essa posição, podemos inferir que a empresa não tem um histórico de proximidade com os consumidores fi nais e possivelmente fi cou distante até dos usuários dos produtos que vende: estudantes de colégios e funcionários das indústrias. Isso porque as compras de licitação e de móveis pelas empresas são feitas com o foco em redução de custos e não no desempenho dos produtos comprados. Logo, a Monidani não é uma empresa com tradição em atender esse universo cheio de desafi os: o mercado consumidor. A empresa, apesar de grande, não têm muita visibilidade e, possivelmente, sua marca não é muito conhecida. Se decidir vender móveis residenciais, a cadeia de suprimento muda: Fornecedores de madeira Monidani Clientes Industriais Escolas Fornecedores de madeira e outros materiais Escola de marceneiros e arquitetura MD Empresas de serviços Loja própria Distribuidor Lojas Residências C E D E R J 55 A U LA 2 Algumas coisas que ela provavelmente terá de fazer: - um grande investimento em marketing para tornar sua marca conhecida e desenvolver uma boa imagem para seus móveis. Atualmente, a marca é referência em móveis escolares e industriais, e não signifi ca nada em móveis residenciais; - se decidir não usar a marca Monidani, ela terá de lançar uma nova marca, atividade que geralmente envolve muito dinheiro; - montar uma equipe que tenha experiência na operação de lojas, no relacionamento com consumidores e na criação de ambiente de consumo apropriado; - adequar sua atividade de produção para abastecer as lojas e não deixar os lojistas expostos com problemas de entrega, qualidade do produto etc.; - desenvolver experiência e equipe para desenvolvimento de novos produtos, algo que pode ser trabalhado, inicialmente com uma parceria com a UFRRJ, por exemplo; - alguns segmentos do mercado de consumo de móveis exigem uso de madeira certifi cada, provando que os fornecedores da madeira preocupam-se com o meio ambiente, não exploram mão-de-obra escrava ou infantil. • Setor econômico em que opera Móveis de escola e industriais não têm novas versões disponíveis tão rapidamente. O ciclo de vida geralmente é longo. Outra coisa importante é o custo médio dos produtos (móveis), que não é pequeno, e as pessoas não trocam freqüentemente seus produtos. Entretanto, devemos considerar que os clientes residenciais estão cada vez mais críticos e exigentes. • Nível de competição no setor e posição no ranking A competição no setor está crescendo e a Monidani precisa se adaptar, embora seja líder de mercado. Se tentar entrar no mercado de móveis residenciais ela enfrentará muita competição, principalmente de empresas como as Casas Bahia, grande operadora de móveis e eletrodomésticos. De qualquer maneira, agilidade será algo imprescindível para a Monidani daqui para frente. • Sofi sticação do mercado, segmento de mercado atendido O mercado de móveis não é tão sofi sticado como o de jóias, alta costura e automóveis de luxo, principalmente o de móveis industriais e escolares. Mas os fabricantes começam a ser pressionados, principalmente pelos consumidores de maior poder aquisitivo e pelas lojas mais sofi sticadas. As pressões são baseadas no fornecimento de madeira de qualidade, certifi cada e de produtos inovadores e belos. Uma pessoa que compra um guarda-roupa de R$ 5.000,00, por exemplo; ela quer receber atendimento e benefícios à altura do investimento que está fazendo. 56 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Analisando formas de atuação de gestão de marketing O Quadro 2.1 traz conceitos importantes para você entender o tema “evolução do pensamento e prática de Marketing”. Note que tais conceitos não estão em ordem cronológica pois o mais importante é perceber o foco de cada orientação e, assim, analisar a proximidade da organização com o mercado consumidor. Esses conceitos são abordados por diversos autores como orientações ou fi losofi as de Marketing (veja mais em Churchill e Peter (2000); Kotler (2000); Dias et al (2003)). Quadro 2.1: Evolução dos conceitos de Marketing Orientação Foco Características Produção Dimensão interna – escala produtiva Considera que consumidores preferem produtos acessíveis e amplamente disponíveis. A empresa se preocupa em ter ampla cobertura de mercado. Produto Dimensão interna – produtos de qualidade e desempenho superiores Produzir bens e serviços superiores aos dos concorrentes. Informar os clientes sobre eles, deixar que clientes venham até os produtos. Vendas Dimensão interna – estrutura de vendas Produzir bens e serviços. Ir até os clientes. Levá-los (induzir) a comprar. Mercado (Mar- keting) Clientes Descobrir o que os clientes precisam e desejam, produzir bens e serviços que dizem precisar ou desejar; oferecê-los aos clientes. Valor Valor para os clientes Entender os clientes, concorrentes e ambientes, criar valor para eles, considerar outros públicos (stakeholders). Societal Bem-estar da sociedade como um todo Considerar nas suas ações: problemas ambientais, escassez de recursos, rápido crescimento populacional, problemas econômicos mundiais, serviços sociais negligenciados. C E D E R J 57 A U LA 2 De maneira geral, orientações e filosofias de Marketing dizem respeito a como as empresas se organizam para gerenciar seu relacionamento com seus clientes, consumidores, fornecedores, acionistas e demais stakeholders. Em suma, mostram o que elas priorizam e qual o padrão de comportamento esperado da parte delas. MARKETING VOLTADO PARA PRODUÇÃO De acordo com Kotler e Armstrong (2003), na orientação de produção as empresas tendem a enfatizar que consumidores preferem produtos acessíveis e amplamente disponíveis. Logo, o objetivo da gestão deve ser melhorar a produção e a efi ciência da distribuição. Essa fi losofi a é bem conhecida no mundo dos negócios: produção em massa. As empresas procuram produzir volumes cada vez maiores, objetivando a redução do custo do produto. Para que essa estratégia dê certo, é necessário abrir muitos C A N A I S D E V E N D A S para que os produtos possam ser comprados. Ao agir desta maneira, as empresas focam o ganho de participação de mercado, pois têm produtos com preços competitivos e facilmente encontrados. Contudo, um outro requisito necessário para o sucesso dessa estratégia compromete as empresas, caso haja maiores cobranças por parte dos consumidores: oferta de poucos modelos. Os consumidores, que estão cada vez mais interessados em variedade, querem produtos e serviços que sejam a “sua cara”. Entretanto, produzir vários produtos e modelos de produtos torna a produção em massa inviável, pois comprometeria os recursos produtivos com vários projetos de produtos, que acabariam por ser produzidos em pequenos lotes. As empresas de transporte público encaixam-se nesse exemplo, uma vez que os consumidores freqüentemente têm de escolher rotas mais longas para seus trajetos pela falta de opções mais objetivas; as empresas que comercializam água em garrafões e cervejas também são bons exemplos, já que possuem poucos tamanhos de galões e garrafas. Consumidores que consomem pouco acabam desperdiçando alguma quantidade. CA N A I S D E V E N D A S São canais de venda não apenas os distribuidores e revendedores, mas também as instituições bancárias e as companhiasde seguro que facilitam as transações. 58 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes MARKETING VOLTADO PARA PRODUTO Segundo Kotler e Armstrong (2003), empresas com orientação voltada para o produto entendem que os consumidores dão preferência a artigos que apresentem mais qualidade, desempenho e características inovadoras. Então, elas devem se esforçar para obter aperfeiçoamento contínuo em seus produtos. O foco no projeto do produto e, logicamente, na sua produção, torna a empresa extremamente sensível às suas demandas e aos imperativos da tecnologia que ela usa ou desenvolve. Por exemplo, um bom projeto que se materialize em produtos superiores, tanto tecnologicamente quanto em desempenho, pode fazer com que esses mesmos produtos tenham preço fi nal elevado ou que ofereçam algum benefício bem superior ao esperado para a C A T E G O R I A D E P RO D U T O . Segundo Churchill e Peter (2000), em muitos mercados, como o de tecnologia, em que as mudanças ocorrem num ritmo bem acelerado, não há tempo para fazer pesquisas de Marketing que apontem o que os clientes realmente necessitam ou desejam. Como conseqüência, dizem os autores, as empresas procuram fabricar produtos superiores aos dos concorrentes e informá-los, através das suas comunicações, da superioridade de tais artigos, já que eles têm sempre ciclo de vida muito curto e logo fi cam ultrapassados. Outro fator importante que destacam Churchill e Peter (2000) é que muitos produtos de sucesso surgem como resultado dos processos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) das empresas, sem qualquer contribuição dos clientes. Os autores estão se referindo àquelas empresas que possuem laboratórios e, logicamente, pessoas especializadas para pensar e desenvolver novos produtos. Essa área – P&D – é uma das principais fontes de vantagem competitiva das empresas, mas a sua manutenção é dispendiosa, pois tem funcionários e recursos orçamentários inteiramente dedicados a ela. Empresas líderes, transnacionais ou nacionais, certamente têm essa área enquanto nas empresas médias e pequenas geralmente não há uma estrutura capaz de sustentar uma área como essa. Tal fato abre uma importante perspectiva para você, futuro administrador, que for trabalhar em uma pequena ou média empresa: pensar em soluções criativas para o desenvolvimento de CA T E G O R I A D E P RO D U T O Os produtos podem ser analisados segundo alguns critérios, por exemplo: produto – Sedan marca – Fiat/Siena categoria de produto – automóvel forma do produto – veículo de passeio C E D E R J 59 A U LA 2 novos produtos. Parcerias com universidades? Fornecedores? Concorrentes? Pense sobre isso. Todas as empresas que operam em mercados de alta tecnologia tendem a focar em projetos de produto, pois a tecnologia é que determina o que estará disponível para o consumidor. As editoras de livros são outro exemplo interessante para analisar essa fi losofi a. Procure ir à próxima edição da Bienal do Livro para observar a diferença de apresentação e funcionamento entre os estandes das editoras e das livrarias mais renomadas. Repare que o foco, nas editoras, é no produto, enquanto as livrarias se destacam pela criação de um ambiente de consumo que nos atrai mais às compras. Aliás, elas estão mais próximas aos consumidores, não é mesmo? MARKETING VOLTADO PARA VENDAS Segundo Churchill e Peter (2000), uma orientação para vendas consiste, basicamente, em concentrar as atividades de Marketing na venda dos produtos disponíveis. Tal orientação é fruto de um contexto em que a oferta é superior à demanda – o que levaria a empresa a buscar soluções para “desfazer-se” dos estoques. Concentrar a atenção em formas de vender é o comportamento lógico nessa situação e leva a empresa a aprimorar técnicas efi cazes de vendas. Para Kotler e Armstrong (2003), o Marketing voltado para vendas baseia-se na idéia de que os consumidores não comprarão uma quantidade satisfatória de produtos de uma empresa a menos que ela realize esforços para que as vendas ocorram. Os autores afi rmam que essa abordagem é comum em empresas que lidam com bens não essenciais – aqueles que os consumidores geralmente não pensam em adquirir, como enciclopédia, seguro, plano funeral. Logo, empresas que lidam com essas categorias de produtos precisam ser efi cientes em rastrear os clientes potenciais para seus produtos. Kotler e Armstrong (2003) desenvolvem um conceito bem interessante sobre esse tipo de Marketing: “O objetivo das empresas é vender o que produzem, em vez de produzir o que o mercado quer”. Na ótica dos autores, essa orientação é arriscada, pois a empresa, ao concentrar seus esforços no desenvolvimento de capacitações para vender e gerar transações, não investe na construção de relacionamento de longo prazo com seus clientes e consumidores. 60 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Um excelente exemplo para analisar essa orientação é a loja Casas Bahia, conhecida como empresa revendedora de eletrodomésticos. Ela está presente diariamente na mídia, apresentando ofertas. O foco da empresa é vender e mostrar para seus consumidores uma posição distintiva, de empresa que mais facilita as compras. Na maioria das vezes, ela não procura destacar os produtos que oferece, mas sim o crédito. Por isso, hoje se diz que ela é uma empresa vendedora de crediário, e o faz com uma freqüência que a torna uma dos maiores anunciantes do Brasil. MARKETING VOLTADO PARA O MERCADO Segundo Churchill e Peters (2000), trata-se de uma fi losofi a de negócios cujo foco está em compreender o que os consumidores precisam e desejam e, assim, produzir bens e serviços para satisfazê-los. Essa abordagem depende do comprometimento e organização da empresa para entender essas necessidades e desejos. Kotler e Armstrong (2003) apontam para a necessidade de fazer essa aproximação com os consumidores de maneira mais efi ciente que os concorrentes. Para os autores, o Marketing voltado para o mercado tem início com um mercado bem defi nido: a empresa conhece bem o perfi l dos Com o bordão “Quer pagar quanto?” as Casas Bahia deixaram clara sua orientação voltada para as vendas. Dessa forma, o consumidor fi ca tentado pela facilidade do pagamento antes de fi car tentado pelo produto em si. Para conhecer mais sobre a história, a orientação e a fatia de mercado em que atua, acesse: http://www.skywalker.com.br/artigos/corpo.php?id=151 C E D E R J 61 A U LA 2 compradores, está sintonizada com eles e se concentra na sua satisfação. E para fi nalizar, conhece as estratégias dos seus concorrentes a ponto de não permitir que sua proposta de satisfação não seja ultrapassada. Como dizem Kotler e Armstrong: empresas que usam essa orientação pesquisam seus clientes atuais para aprender sobre seus desejos, reunir idéias para novos produtos e serviços e testar melhorias em produtos. Empresas fabricantes de tênis, de produtos alimentares e de limpeza são excelentes exemplos de empresas que estão voltadas para o mercado. Elas criam canais permanentes de contato com clientes e consumidores para adaptar seus produtos às necessidades apuradas. MARKETING VOLTADO PARA VALOR Segundo Churchill e Peter (2000), o Marketing voltado para valor é uma orientação que visa alcançar objetivos, desenvolvendo valor superior para os clientes; seria uma extensão da orientação do Marketing voltado para o mercado. O valor para o cliente, segundo esses autores, é a diferença entre as percepções do cliente quanto aos benefícios e quanto aos custos da compra e uso de produtos e serviços. Mas não se preocupe, ainda nessa aula você verá mais sobre cada variante desta balança. Escovas de dente Provavelmente você já observou como o desenho das escovas de dente vemevoluindo ao longo dos anos, certo? Isso porque as embalagens, rótulos e mesmo o formato de muitos produtos estão se aperfeiçoando a todo instante, buscando uma maior satisfação do consumidor. O novo desenho das escovas é fruto de constante pesquisa que visa tornar o seu formato mais anatômico. Assim, elas se adaptam melhor à mão e facilitam a escovação. 62 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Monetários Temporários Psicológicos Comportamentais Funcionais Sociais Pessoais Experimentais Figura 2.4: No Marketing orientado para o valor, o cliente mede o quanto vale determinado produto e o quanto de benefícios ele traz para sua vida. Para estabelecer um patamar de diferenciação, os autores listaram seis princípios que o Marketing voltado para valor deve ter e que são o seu diferencial: Princípio do cliente: segundo este princípio, a empresa deve concentrar-se nas atividades de Marketing que criam e fornecem valor para seus consumidores e clientes. E isso só se viabiliza se a empresa construir relacionamentos de longo prazo com eles. Dessa forma, não basta apenas desenvolver pesquisas ou acessar os consumidores para obter informações estratégicas. É necessário ter uma estrutura de relacionamento, que os autores chamam de relacionamentos diretos: relações em que os profi ssionais de Marketing conhecem seus clientes e consumidores pelo nome e podem comunicar-se diretamente com eles. Essa estrutura envolve o uso de tecnologia e profissionais especializados e geralmente está associada à categoria de produtos de consumo de alto valor unitário ou a clientes comerciais. Os altos custos de montagem e manutenção dessa estrutura são questões que afastam muitas empresas desse princípio. Empresas que lidam com categorias de produtos que são consumidas por milhares de pessoas (cervejas, refrigerantes, biscoitos, produtos de limpeza e higiene etc.) não têm como responder neste nível ao cliente devido à natureza de seus processos comerciais. C E D E R J 63 A U LA 2 Princípio do concorrente: segundo este princípio, a empresa deve oferecer aos consumidores valor superior em relação às opções dos concorrentes. Ou seja, a empresa que tem um Marketing voltado para o valor reconhece que as estratégias competitivas têm infl uências importantes sobre clientes e consumidores. A empresa não deve apenas considerar que oferece valor aos clientes, deve certifi car-se de que sua oferta supera a concorrência. Princípio proativo: segundo este princípio, a empresa precisa mudar o A M B I E N T E D E N E G Ó C I O S em que opera para melhorar as chances de sucesso. A empresa não deve adotar postura reativa, apenas respondendo aos estímulos do ambiente, devido à complexidade que este assume com o passar do tempo. Sua postura deve ser ativa, procurando infl uenciar as decisões dos atores que formam o seu ambiente, que precisam atuar de maneira mais estratégica nas diversas interações que uma empresa estabelece em seu processo de continuidade dos negócios. Princípio interfuncional: segundo este princípio, a empresa precisa usar equipes multifuncionais quando elas puderem contribuir numa melhora da efi ciência e da efi cácia das atividades de Marketing. Reunindo diversos “olhares” que as áreas funcionais da empresa encerram, é possível pensar num Marketing mais abrangente, mais sensível e próximo à realidade. Lembre-se das aulas de História do Pensamento Administrativo, quando você conheceu o modelo de estrutura funcional esboçado por Henri Fayol. A reunião de olhares técnicos distintos torna-se importante no processo de desenvolvimento e melhoria de produtos e de outras atividades de Marketing. É importante reunir os “olhares” e, logicamente, a experiência de profi ssionais das áreas de pesquisa e desenvolvimento, fi nanceira, produção/operações, fi nanças, contabilidade e recursos humanos. Princípio da melhoria contínua: segundo este princípio, a empresa deve melhorar continuamente o planejamento, a implantação e o controle de Marketing. No processo de aperfeiçoamento das estratégias e atividades de Marketing estão subentendidos o uso de auditorias e reuniões de discussão sobre as rotinas. Acreditar que tudo está perfeito, sem necessidade de aperfeiçoamento, torna a empresa míope às constantes transformações que ocorrem na vida dos clientes e consumidores, e conduz a subestimar as ações da concorrência. AM B I E N T E D E N E G Ó C I O S Alguns atores do ambiente de negócio são: acionistas (liberação de recursos), bancos (fi nanciamentos), funcionários (maior desempenho), fornecedores (melhores produtos e serviços), clientes (mais empenho na revenda dos produtos), órgãos governamentais (maior atenção na regulamentação), concorrentes (acordos operacionais e mudança de postura), ONGs (estimular menor ativismo, mais parcerias). 64 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Princípio do stakeholder: segundo este princípio, a empresa precisa considerar o impacto das atividades de Marketing sobre os outros públicos interessados na organização. No princípio proativo, a empresa deveria ser mais audaz. Aqui neste princípio a empresa precisa estar sintonizada com as demandas dos seus stakeholders, aqueles indivíduos e grupos que também têm um interesse nas conseqüências das decisões de Marketing dentro do desempenho das organizações e ainda podem infl uenciá-las. MARKETING SOCIETAL A abordagem de Marketing societal é bem semelhante à abordagem de Marketing voltado para o valor. Segundo Kotler e Armstrong (2003), a organização deve determinar as necessidades, os desejos e os interesses dos mercados-alvo e então entregar valor superior aos clientes, de maneira que o bem-estar do consumidor e da sociedade seja mantido ou melhorado. Optar por esta abordagem é questionar se o Marketing voltado para o mercado é adequado a uma época de problemas ambientais, escassez de recursos, rápido crescimento populacional, problemas econômicos mundiais e serviços sociais negligenciados. Fundamentalmente, se as empresas entendem, atendem e satisfazem os desejos individuais (foco no cliente), produzirão melhorias a longo prazo para os consumidores e a sociedade. A questão central, portanto, é equilibrar os interesses individuais (curto prazo) com os interesses sociais (longo prazo). Kotler e Armstrong citam, por exemplo, os restaurantes fast-food. Muitas pessoas entendem que se trata de restaurantes cujo benefício central é o oferecimento de refeições rápidas e convenientes, num preço médio e em ambientes seguros e limpos. De fato, esses restaurantes oferecem um valor distintivo a um segmento do mercado composto por pessoas que moram em sua maioria em centros urbanos, que não dispõem de muito tempo, desenvolvem muitas atividades fora de casa (pouca permanência no lar), alimentam-se solitariamente e dispõem de renda média. Por outro lado, existem pessoas que olham com restrições para esses restaurantes pelo fato de eles comercializarem alimentos gordurosos, pouco nutritivos e usando embalagens que acabarão sendo depositadas no meio ambiente. Essas pessoas entendem que, ao visar a satisfação de um segmento do mercado, C E D E R J 65 A U LA 2 as empresas também estão contribuindo para gravíssimos problemas de saúde pública, como a alta incidência de obesidade, diabetes, acidentes vasculares cerebrais e mesmo males mais graves, que acabam repercutindo no alto custo da saúde para todos os indivíduos. Em suma, dizem os autores, essa fi losofi a de Marketing preconiza que os tomadores de decisão levem em contra três fatores na hora de estabelecer sua política de mercado: lucro da empresa, desejos do consumidor e interesses da sociedade. No Brasil ainda são muito tímidas as açõesde empresas com essa orientação, pois os custos de desenvolvimento de produtos e materiais que sejam totalmente recicláveis e que não agridam o meio ambiente são altos. Além do mais, não há muita pressão da legislação para que isso vire uma regra. No entanto, mesmo timidamente, as empresas brasileiras começam a ter consciência social, não só sobre os efeitos causados pelo uso de seus produtos no curto, médio e longo prazo, mas, sobretudo sobre sua responsabilidade como empresa, como instituição civil em face das Fonte: http://www.cinestese.unisinos.br/index .php?menu=cinemaver&codigo=224&nome_ usuario=M%C3%A1rcia+Paveck Super size me O filme Super Size Me (No Brasil, recebeu o título Super Size Me – A dieta do palhaço) é um documentário que tenta demonstrar os malefícios do fast-food. Seu diretor, Morgan Spurlock, passou trinta dias à base de hambúrgueres, batata frita e refrigerante. Ingerindo cinco mil calorias diárias, ele foi sua própria cobaia no combate à rede McDonald´s. Este experimento rendeu a Morgan onze quilos, além de problemas psicológicos e de saúde, que foram monitorados por três médicos antes, durante e depois do processo. No documentário, o espectador é constan- temente surpreendido com a análise do procedimento de marketing e vendas da indústria alimentícia, que, na opinião do diretor, trabalha para deixar o consumidor acomodado e passivo. 66 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes condições econômicas, educacionais e ambientais do contexto social onde está inserida. Leia o texto a seguir, produzido em 2005, para a edição do primeiro Atlas do esporte no Brasil, e perceba como as empresas brasileiras têm reagido: As mudanças econômicas e sociais impostas pela globalização e pela revolução tecnológica geraram novas relações de trabalho e pressionam no sentido da discussão sobre o papel das instituições como agentes sociais no processo de desenvolvimento sustentável e sobre a necessidade da formulação de valores éticos. O coração da idéia de sustentabilidade – conceito tão perseguido hoje no mundo dos negócios – apóia-se em três grandes pilares: desenvolvimento social, responsabilidade ambiental e viabilidade das empresas. Se o PIB brasileiro cresceu mais de 100 vezes e a população saltou de 17 milhões para 170 milhões, a riqueza produzida, no entanto, não foi distribuída. Um bilhão e meio de pessoas no mundo vivem abaixo da linha de pobreza (ganham menos de US$ 2,00 por dia ou consomem menos de 1.800 calorias). No Brasil são 40 milhões. Na virada para o século XXI, a renda do 1% da população mais rica era praticamente igual à dos 50% mais pobres, de forma que cerca de um terço dos brasileiros convive com a insegurança alimentar. A fl oresta amazônica está sendo destruída na razão de um campo de futebol por segundo. Estas transformações sociais e ambientais e as novas demandas de mercado têm gerado inúmeros desafi os que o Estado, o mercado e a sociedade civil são incapazes de enfrentar de maneira isolada, evidenciando a necessidade de se alcançar uma melhor combinação na atuação destes três segmentos. A crescente exigência por competitividade está tornando comum a crença de que a empresa deva envolver-se responsavelmente com a comunidade. Entende-se, então, como responsabilidade social corporativa a maneira ética de condução dos negócios de uma empresa de forma que esta se torne co- responsável pelo desenvolvimento social, atendendo, simultaneamente, os interesses dos diferentes públicos com os quais ela se inter-relaciona, sendo capaz de incorporá-los ao planejamento de suas atividades. Isto signifi ca que a empresa é socialmente responsável quando consegue gerar valor não apenas para seus proprietários e acionistas, mas sim para todos os demais públicos com os quais ela se relaciona: empregados, fornecedores, clientes, governo, meio ambiente e comunidade (Instituto Ethos, 2001). Com vistas a conhecer mais de perto as iniciativas de responsabilidade social corporativa das empresas brasileiras, inúmeras pesquisas têm sido desenvolvidas. Entre estas, a eleição das 10 empresas-modelo 2003, no campo da responsabilidade social, promovida pela revista Exame em parceria com o Instituto Ethos. Juntas, estas empresas faturaram 22 bilhões de reais em 2002, geraram um total de 52.000 empregos diretos e investem 87 milhões de reais anuais nos 1.200 projetos sociais voltados para a comunidade. Estão instaladas nas regiões: sul, centro-oeste, norte e nordeste do país e são elas: 3M, Acesita, Belgo Mineira, CPFL, Multibrás, Natura, Perdigão, Philips, Serasa e TRW Automotive/divisão chassis e cintos. Fonte: Nogueira et al. (Org.) Atlas do Esporte no Brasil. 1ª ed. RJ. Shape Editora e Promoções Ltda., 2005, vol.1, 924 p. C E D E R J 67 A U LA 2 IPEA O Ipea, (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), é uma fundação vinculada ao Ministério do Planejamento do Brasil e tem por fi nalidade realizar pesquisas, projeções e estudos macroeconômicos. No site do Instituto você tem acesso aos resultados e, anualmente, as revistas Exame e Você S.A. publicam o resumo de pesquisas relacionadas a esse assunto. Veja algumas notícias publicadas no informativo de 05.07.2006: Para ter acesso a outros informativos, visite a página do IPEA no endereço: www.ipea.gov.br Resultados / Segunda Edição / Sul Os primeiros resultados da Pesquisa Ação Social das Empresas que o IPEA realiza, pela segunda vez, na Região Sul, apontam para um aumento generalizado, entre 1999 e 2004, na proporção de empresas que atuam na área social, independentemente do estado, porte ou setor de atividade econômica em que se encontrem. Em 1999, 46% das empresas sulistas realizavam ações sociais em prol das comunidades. Em 2004, esse valor saltou para 67%, o que representa um crescimento de 21 pontos percentuais. Anna Peliano defende parcerias de empresas e governo A diretora do IPEA foi uma das palestrantes do encontro “Parcerias por um Brasil sem fome e mais justo – Responsabilidade social e políticas públicas de desenvolvimento social”, dia 29 de junho de 2006. Mídia deve ser mais crítica em relação à Responsabilidade Social O tema Responsabilidade Social na Mídia foi debatido durante a Conferência Internacional do Instituto Ethos, no dia 19 de junho de 2006. Executivos estão familiarizados com o conceito de Responsabilidade Social Mas a prática ainda deixa a desejar, segundo estudo do Institute for Management Development (IMD) e da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). 68 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Com relação às orientações de marketing, como você classifi caria a MoniDani? Você acredita que ela seria bem-sucedida se mantivesse essa mesma orientação comercializando móveis residenciais? Justifi que. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Resposta Comentada Devido ao histórico de operação como empresa fornecedora para clientes empresariais (escolas e indústrias), a MoniDani tem uma orientação de marketing voltada para a produção. Essa experiência em mercados empresariais pode ser importante para a construção de vantagem baseadaem custos competitivos. Entretanto, isso pode não bastar, dependendo do segmento de consumidores que a empresa resolver atender com seus móveis residenciais. Por exemplo, para atender consumidores com maior poder aquisitivo, exigentes e sofi sticados, é necessário que a empresa mude sua orientação de marketing, optando por voltar-se para o mercado e para valor. Mas se ela resolver atender a um segmento de consumidores que priorizem preços em suas compras de móveis, os custos competitivos já são um fator importante para sobreviver, mas não o sufi ciente. Atividade 2 VALOR PARA OS CONSUMIDORES/CLIENTES: UMA DIMENSÃO CONTEMPORÂNEA DOS DESAFIOS DE MARKETING Você já viu a defi nição de valor para o cliente. Ela indica que os consumidores levam em consideração algumas variáveis antes de tomar suas decisões de consumo – eles estariam comparando, ao mesmo tempo, aquilo que ganhariam (benefícios) e perderiam (custos) comprando um produto ao invés do outro – na sua busca por satisfação. C E D E R J 69 A U LA 2 !! Você já entendeu que a busca por satisfação é algo central no mundo do consumo e que buscar a satisfação dos consumidores e clientes é a razão da existência das empresas, certo? Entretanto, satisfação é algo muito pessoal. É um dos dois resultados possíveis de uma experiência de consumo vivida por uma pessoa (o outro resultado, obviamente, é a insatisfação). Durante todo o processo que envolve um consumo (reconhecer uma necessidade, comprar/consumir e avaliar o consumo), uma pessoa está reunindo impressões do que ela vai percebendo. Por ser um processo pessoal, é extremamente subjetivo. Esse fato – a “pessoalidade” da experiência de consumo, e sua inerente subjetividade – torna muito difícil a tarefa de operacionalizar aquele preceito de que as empresas devem se esforçar para satisfazer seus clientes e consumidores. Existem coisas que agradam a uns e não a outros. Mais: algumas empresas têm milhões de consumidores, milhares de clientes! Porém, alguns aspectos do processo de consumo são facilmente identifi cados pelas pessoas, bem como as impressões compartilhadas entre elas. São justamente esses aspectos que a defi nição de valor para os clientes procura, de maneira um pouco mais concreta, salientar e abordar: os benefícios e os custos inerentes ao consumo. Segundo Churchill e Peter (2000), o Marketing voltado para o valor pressupõe que os clientes que estejam dispostos e sejam capazes de realizar trocas (consumir) o farão quando os benefícios das trocas excederem os custos e os produtos ou serviços oferecerem um valor superior em comparação com outras opções. Agora, volte à Figura 2.4. Este conceito considera que os indivíduos agem sempre de maneira racional, buscando maximizar seus ganhos, embora não seja assim que aconteça sempre. Portanto, ele não considera as decisões que são tomadas de forma impulsiva, em que a emoção se sobrepõe à razão. Na disciplina Comportamento do Consumidor, você terá mais informações sobre outras infl uências que afetam as decisões dos consumidores e como é possível classifi cá-las. 70 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Repare que, sob esta lógica, o prato da balança onde estão os benefícios teria de ser mais pesado, certo? Também podemos traduzir esse conceito por meio de uma relação chamada equação do valor: Valor para o cliente = benefícios percebidos - custos percebidos funcionais sociais pessoais experimentais monetários temporários psicológicos comportamentais Mas o que seriam especifi camente cada um desses valores? Churchill e Peter (2000) entendem essas dimensões da seguinte maneira: Benefícios funcionais: são os benefícios tangíveis recebidos de produtos e serviços. Ou seja, diz respeito ao desempenho oferecido dentro daquilo que se espera da categoria de produto. Por exemplo, quando você compra um protetor solar, o benefício funcional da proteção da sua pele contra os raios solares é o que será imediatamente avaliado. Se ele prover proteção efetiva, sua percepção será muito positiva. Do contrário, será muito negativa. É importante ressaltar que os benefícios e sua intensidade resultam dos atributos (características) que os produtos/serviços possuem. O seu protetor solar preferido deve, por exemplo, possuir uma substância que só ele tem dentro da categoria de produto. Essa substância é algo diferenciado no produto, e confere a ele desempenho superior na proteção da pele e bronzeamento. A substância especial é, portanto, um dos atributos do produto. Você já parou para pensar se todos os produtos que você consome cumprem de maneira efetiva o que é prometido em suas proposições de vendas? E você consegue identifi car quais são os atributos do produto que lhe satisfazem e que conferem o desempenho desses produtos? Benefícios sociais: são as respostas positivas que os clientes recebem, de outras pessoas, por comprar e usar determinados produtos e serviços. Em geral nossas decisões de consumo são comentadas, nossos gostos e modos são avaliados pelos amigos e disso podem surgir elogios e admiração. Esse benefício social diz respeito ao status de consumir certos produtos e marcas. É importante destacar que nem todas as categorias de produtos oferecem esse benefício. Por exemplo, qual status lhe confere o consumo de uma C E D E R J 71 A U LA 2 determinada marca de sal? Certamente, nenhum. Mas qual é o status de ter assistido aos desfi les de carnaval num camarote especial? Benefícios pessoais: são os bons sentimentos que os clientes e consumidores experimentam pela compra, propriedade e uso de produtos, ou simplesmente pelo recebimento de serviços. Ao ligar, por exemplo, para o 0-800 do Programa Criança Esperança e doar certa quantia em dinheiro, você estará se sentindo muito bem por ter contribuído com um programa que ajuda milhares de crianças no Brasil. Ao optar pelos produtos daquelas empresas que protegem o meio ambiente, que não aceitam trabalho escravo, que não discriminam negros e mulheres nos salários e oportunidades etc., você também se sentirá muito bem. Benefício experimental: trata-se do prazer sensorial que os consumidores/clientes obtêm com produtos e serviços. Algumas motos, além de cumprir o benefício funcional esperado – transportar – podem oferecer ao consumidor alta descarga de adrenalina em função da velocidade! Durante o consumo, muita coisa é vivenciada pelos consumidores no contato com os produtos e serviços. O fato é que somos hoje uma sociedade de consumo mundial voltada à busca do prazer. “Poder comprar” tornou-se sinônimo de ter uma identidade, ser alguém. Você já parou para pensar o que é mais importante: o ato da compra ou o produto comprado? Tenho feito esta pergunta aos meus alunos em sala de aula e invariavelmente a primeira resposta é a escolhida. Porque – disse-me um aluno – poder comprar é decidir! Pense nisso! Figura 2.5: Ao comprar uma moto o consumidor pode ter muitos ou- tros benefícios, além do básico que é o transporte. “Poder comprar” tornou-se sinônimo de identidade. Fonte: www.sxc.hu/photo/143944 Fo to : O ri o l M ar ti n ez 72 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Então, os atos de compras que colecionamos projetam nossa forma de ser, de sonhar e de entender a vida. A relação que estabelecemos com os objetos que compramos não está localizada somente no nível do consumo; é um ato que traduz quem somos e, também, quem gostaríamos de ser. Enfi m, o assunto é polêmico. Você terá oportunidade de aprofundar estas questões mais adiante, na disciplina Comportamento do Consumidor. Falamos até aqui dos benefícios que esperamos quando pretendemos realizar a compra de um produto ou serviço. Agora vamos examinar o outro lado da balança: o quanto issopode nos custar. As dimensões que compõem os custos esperados também são quatro e são extremamente importantes. Quem de nós não se chateou fazendo uma compra de um produto que não merecia aquele preço pago? Não sentiu uma grande perda de tempo comprando determinados produtos? Ou fi cou inseguro se fez a escolha certa? Churchill e Peter (2000) defi nem essas quatro dimensões da seguinte forma: Custos monetários: referem-se à quantidade de dinheiro que os clientes pagam para receber produtos e serviços. Estão incluídos: preço, taxa de entrega e instalação, manutenção, juros pagos, riscos da perda fi nanceira devido a falhas ou mau funcionamento do produto etc. Custos temporais: referem-se ao tempo despendido na compra de produtos e serviços, podendo incluir o tempo de entrega. Custos psicológicos: referem-se à energia e à tensão mentais envolvidas em fazer compras e aceitar os riscos dos produtos. Este custo só pode ser medido frente ao desempenho real do produto ou serviço – se o desempenho for abaixo do esperado, você certamente vai se chatear. A questão importante é que os produtos estão se tornando mais complexos a cada dia (e nossa decisão também). A espera de um ônibus ou táxi para ir às compras pode ser extremamente desgastante, porque o tempo utilizado na espera (custo temporal) pode ser avaliado em função de outros possíveis usos (custo psicológico). Custos comportamentais: referem-se à energia física que os clientes despendem para comprar produtos e serviços. Esses custos são aumentados se os consumidores tiverem de se deslocar bastante para ter acesso ao produto, tiverem difi culdades para estacionar, fi carem muito tempo na fi la do pagamento ou esperarem demais para abrir crediário, trocar produto ou ser atendido. Em outras palavras, estes custos se relacionam ao estilo de vida que temos, se estamos acostumados a ter tudo C E D E R J 73 A U LA 2 na mão, se só andamos de carro ou ônibus etc. O tamanho da paciência que aceitamos ter depende de ter ou não facilidades para conseguir o que queremos ter. Nesta atividade vamos propor o seguinte: anote, em uma folha de papel, todos os produtos que você consome ao longo de um dia todo. Faça da seguinte forma: de um lado anote o nome dos produtos e de outro os benefícios esperados. Pense, refl ita e anote, entre o nome do produto e os benefícios esperados, quais as suas percepções quanto a cada um dos benefícios prometidos. Comentário Não há resposta certa para este exercício, porque cada um de nós conduz suas decisões em função das expectativas que nós geramos. O problema é que muitas das vezes nem nós sabemos exatamente o que provocou uma decisão tomada. O mais importante (e também o mais curioso) neste exercício é que você entenda as relações construídas entre os produtos e suas expectativas. Procure compreender quais motivos levaram a determinada decisão de compra, quais representaram um peso maior em custos e, em contrapartida, quais pesos foram atribuídos aos benefícios esperados. Você fi cará surpreso com os resultados! Atividade 3 AS CONSEQÜÊNCIAS DE UM VALOR SUPERIOR PARA OS CLIENTES E CONSUMIDORES A expectativa referente à oferta de valor superior é aumentar a fi delidade dos consumidores, o que os estimularia a recomprar aquelas marcas de produtos e serviços que lhes oferecem maior satisfação. Como essas empresas disponibilizam canais permanentes de comunicação e de fácil uso e acesso, elas podem desenvolver relacionamentos mais duradouros e, logicamente, mais lucrativos. 74 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Valor supe- rior Satisfação Fidelidade (recompra) Relações duradou- ras e lucra- tivas Figura 2.6: Esta fi gura resume bem os assuntos que vimos ao longo desta aula. Se um produto ou serviço tem o seu valor superior ao dos concorrentes ele não só satisfaz o cliente como gera sua fi delização. Logo, as relações surgidas nesse processo tendem a ser mais duradouras e lucrativas. CONCLUSÃO As diferentes formas como as empresas pensam e gerenciam o Marketing indica como elas se adequam às condições impostas pelo mercado, pela sociedade e pelo poder público. Esse assunto ganha importância redobrada porque estamos num ambiente de negócios marcado pela rapidez e intensa demanda por interatividade por parte dos consumidores e clientes. Eles estão mais protegidos (códigos de defesa), organizados (associações e ONGs), com maior poder aquisitivo, mais exigentes e mais sofi sticados, e fi cam lá na ponta da cadeia de suprimento pressionando todos os envolvidos pela oferta de produtos e serviços de melhor qualidade. O padrão de respostas das empresas às pressões também varia amplamente e por diversas razões, dentre as quais destacamos: o tamanho; posição que ocupam na cadeia de suprimento; setor econômico em que operam; nível de competição no setor e posição no ranking; sofi sticação do mercado; segmento de mercado atendido; país de origem; nível cultural de donos e gerentes e padrão de regulação do negócio. Destacamos também que a fi losofi a de marketing vigente em cada empresa irá determinar o comportamento dessa empresa no mercado. Existem empresas que são mais voltadas à sua realidade interna, priorizando sua produção, os seus produtos ou suas atividades comerciais, certas de que isso bastará no relacionamento delas com o mercado. Também existem empresas que evoluíram na forma de ver o seu relacionamento com o mercado e voltaram-se mais para a realidade externa. Elas estão preocupadas em se aproximar dos consumidores, para melhor conhecer seus desejos e necessidades, e, também, introduzir em suas ações as preocupações maiores da sociedade, com o meio ambiente, saúde pública e temas afi ns. Vimos que entre essas fi losofi as de marketing, a fi losofi a de valor para o cliente tem transformado a forma de se fazer C E D E R J 75 A U LA 2 negócios e o comportamento dos consumidores, pois envolve muitos aspectos na hora de desenvolver as ações de Marketing. Observe as categorias de produto a seguir: Poltrona – tênis – xampu – perfume – academia/musculação – telefone celular – sabão em pó – salão de beleza. Agora complete os quadros, destacando um benefício e custo associado à compra de cada categoria de produto. Marque, também, se você considera os benefícios e custos como baixos, altos, muito altos. Benefício Categorias de produto Poltrona Tênis Xampu Perfume Academia/ muscula- ção Sabão em pó Telefone celular Salão de beleza Funcional Pessoal Social Experi- mental Custo Categorias de produto Poltrona Tênis Xampu Perfume Academia/ muscula- ção Sabão em pó Telefone celular Salão de beleza Mone- tários Tempo Psicológico Compor- tamental Atividade Final 76 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Respostas Benefício Categorias de produto Poltrona Tênis Xampu Perfume Academia/ muscula- ção Sabão em pó Telefone celular Salão de beleza Funcional Confor- tável Amaciar Bom cheiro Muscula- tura tor- neada Limpa mais; amacia a roupa; não preju- dica as cores Pessoal Feita de madeira certifi - cada ou material reciclado Bom para esportes Feito com materiais naturais Sensação de estar cuidando da própria saúde. Maior disposição para desen- volver as tarefas da vida Usar roupas limpas e cheirosas Social Design superior Marca conhecida e design arro- jado geram comen- tários posi- tivos Cabelos mais brilhantes e aparência saudável geram mais comen- tários e elogios Pessoas comentam seu bom gosto para perfume e sua imagem de pessoa cheirosa Pessoas elogiam sua forma e comen- tam sobre sua sen- sualidade Pessoas elogiam sua boa aparência e suas roupas sempre limpas e com aparência de nova Experi-mental Conforto durante todo o dia Penteado dura mais Perfume agradável e mais durável Ambiente da aca- demia é agradável e freqüen- tado por pessoas legais Roupas duram mais C E D E R J 77 A U LA 2 Custo Categoria de produtos Poltrona Tênis Xampu Perfume Academia/ Muscula- ção Sabão em pó Telefone celular Salão de beleza Mone- tários Médio/ alto Baixo/ médio Baixo/ médio Baixo/ médio Baixo/ médio Baixo Médio/ alto Baixo/ médio Tempo Alto Médio BaIxo Baixo/ médio Alto Baixo Baixo/ médio Baixo Psicológico Médio Médio Baixo Médio Alto Baixo Alto Médio/ alto Compor- tamental Alto Médio Baixo Médio Baixo Baixo Médio Médio/ alto A análise das ações de marketing das empresas fala muito da importância delas para os que gerenciam as empresas. Cada empresa tem sua fi losofi a de Marketing, e está orientada para objetivos específi cos, dando ênfase a aspectos distintos: produto, produção, vendas, mercado, societal, valor para o cliente. A tendência é que as empresas evoluam suas práticas de Marketing, passando de um foco interno em seus produtos e potenciais produtivos para o foco nos consumidores/clientes e na sociedade como um todo. Os consumidores consideram algumas variáveis antes de tomar suas decisões de consumo: eles estariam comparando, ao mesmo tempo, o que ganhariam (benefícios) e perderiam (custos) comprando um produto ao invés do outro, na sua busca por satisfação. R E S U M O 78 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Os benefícios obtidos pelos consumidores são funcionais, pessoais, sociais e experimentais; os custos são monetários, temporais, psicológicos e comportamentais. Atualmente o principal desafi o da prática de Marketing é a oferta de valor superior aos clientes. E que esse valor pode ser obtido quando a empresa aumenta a dimensão benefício ou minimiza a dimensão custo. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula você irá aprender que o Marketing é tanto uma função gerencial quanto uma filosofia de negócios. Como função gerencial, o Marketing é caracterizado por atividades e decisões que são tomadas diariamente e dentro de um planejamento de uma área (departamento) da empresa. O foco principal será no esclarecimento dessas decisões, ou seja, quais são e como são desenvolvidas as atividades de marketing numa empresa. Enquanto fi losofi a de negócio você irá explorar como se dá o desenvolvimento de marketing em empresas pequenas e médias que não têm tamanho e estrutura para ter uma área específi ca de marketing na empresa. Logo, por não ter um departamento de marketing, elas não fazem marketing? Sim, elas fazem, de uma maneira menos estruturada que numa grande empresa que tem cargos e funções atribuídas às atividades de marketing. Numa pequena e média empresa, o Marketing deve ser uma fi losofi a que orienta como os negócios devem ser conduzidos. SITES RECOMENDADOS www.ipea.gov.br – IPEA - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas É um órgão do governo e se dedica à realização de pesquisa e análises sobre a conjuntura econômica, política e social brasileira. As pesquisas e análises realizadas pelo IPEA vêm sendo publicadas, em sua maior parte, em livros, revistas, boletins, na coleção Texto para discussão ou ainda em outros formatos (diversos). Em versão PDF para download gratuito encontram-se, dentre as edições datadas a partir de C E D E R J 79 A U LA 2 1995/96, boletins e textos para discussão, assim como alguns títulos contidos em diversos e os artigos da revista Planejamento e políticas públicas. www.ethos.org.br O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização não-governamental criada com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa. Seus 1.211 associados – empresas de diferentes setores e portes – têm faturamento anual correspondente a aproximadamente 35% do PIB brasileiro e empregam cerca de 2 milhões de pessoas, tendo como característica principal o interesse em estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente. Idealizado por empresários e executivos oriundos do setor privado, o Instituto Ethos é um pólo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas que auxiliam as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seus compromissos com a responsabilidade corporativa. É hoje uma referência internacional no assunto.O Instituto Ethos trabalha em cinco linhas de atuação: 1. ampliação do movimento de responsabilidade social empresarial (sensibilização e engajamento de empresas em todo o Brasil, articulação de parcerias, sensibilização da mídia para o tema da RSE, coordenação da criação do comitê brasileiro do Global Compact etc.); 2. aprofundamento de práticas em RSE (Indicadores Ethos de RSE – incluindo versões para micro e pequenas empresas e alguns setores da economia –, Conferência Nacional anual para mais de 1 mil participantes, constituição de redes de interesse, promoção da publicação de balanços sociais e de sustentabilidade, produção de publicações e manuais práticos); 3. infl uência sobre mercados e seus atores mais importantes no sentido de criar um ambiente favorável à prática da RSE (desenvolvimento de critérios de investimentos socialmente responsáveis com fundos de pensão no Brasil, desenvolvimento de programa de políticas públicas e RSE, participação em diversos conselhos governamentais para discussão da agenda pública brasileira); 4. articulação do movimento de RSE com políticas públicas: 4.a. desenvolvimento de políticas para promover a RSE e desenvolver marcos legais; 80 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes 4.b. promoção da participação das empresas na pauta de políticas públicas do Instituto Ethos; 4.c. fomento à participação das empresas no controle da sociedade, por meio de acompanhamento e cobrança das responsabilidades legais, transparência governamental e conduta ética; 4.d. divulgação da RSE em espaços públicos e eventos; 4.e. estruturação de processos de consulta a membros e parceiros da companhia; 5. produção de informação (pesquisa anual Empresas e Responsabilidade Social – Percepção e Tendências do Consumidor, produção e divulgação de conteúdo e um site de referência sobre o tema na Internet, coleta e divulgação de dados e casos das empresas, promoção do intercâmbio com entidades internacionais líderes no tema da responsabilidade social). www.akatu.net O Instituto Akatu é uma organização não-governamental, sem fi ns lucrativos. Foi criado em 15 de março (Dia Mundial do Consumidor) de 2001, no âmbito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, para educar e mobilizar a sociedade para o consumo consciente. A palavra akatu vem do tupi e signifi ca, ao mesmo tempo, “semente boa” e “mundo melhor”. Ela traduz a idéia de que o mundo melhor está contido nas ações de cada indivíduo. A missão do Akatu é educar, sensibilizar e mobilizar para o consumo consciente. Para cumprir sua missão, o Akatu trabalha em várias frentes: desenvolvimento de atividades em comunidades; divulgação de conceitos e de informações na Internet, em publicações, na mídia informativa e em campanhas publicitárias; desenvolvimento de pesquisas; e elaboração de instrumentos de avaliação e informação sobre o consumo consciente. Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing Esperamos que, ao término desta aula, você seja capaz de: Compreender que a atuação do Marketing ocorre simultaneamente em dois níveis: estratégico e tático; Identifi car os campos de estudo relacionadosao Marketing; Reconhecer as ações do Marketing como função gerencial; Descrever a dinâmica inerente a essas ações. 3 ob jet ivo s A U L A Metas da aulaMetas da aula Explicitar as ações de Marketing do ponto de vista gerencial. Apresentar o composto de Marketing em suas interfaces internas e externas. 111 222 333 444 82 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 O que você verá nesta aula? Atenção! Antes de falarmos sobre o que você irá aprender nesta aula, é importante que você saiba que ela desempenha papel central no curso Gestão de Marketing. Os conhecimentos apresentados nas Aulas 1 e 2 ofereceram as bases para que você chegasse até aqui. A Aula 3 oferece informações importantes para o entendimento das demais aulas deste curso e para as demais disciplinas da área de marketing. Sua importância se deve ao fato de ela abordar, mais objetivamente, as representações que o marketing assume em pequenas e grandes organizações. Esta aula permite que você aplique os conceitos e modelos apresentados para organizações com ou sem fi ns lucrativos. Também é de fundamental importância a apresentação do conceito de atividades de marketing, mais conhecidas como decisões do composto de marketing, os famosos Ps: produto, preço, praça e promoção. Embora haja algumas variações, o dia-a-dia dos profi ssionais de marketing gira em torno das decisões sobre quais produtos e serviços oferecer ao mercado, preços a serem praticados, locais onde vender e formas de comunicar a existência dos mesmos. Com o conhecimento adquirido nesta aula você entenderá melhor a realidade mercadológica das grandes organizações, geralmente marcada pelo uso racional dos recursos e pelo uso de ferramentas complexas para a tomada de decisão. Figura 3.1.: Essas empresas, corporações transnacionais, são exemplos de grandes organizações, onde a tomada de decisões envolve o uso de ferramentas complexas. Fontes: www.cci.com.tr/downloads/CC%20LOGO.jpg http://www.stbartholomew.org/CYO/Golf/texaco.gif http://www.sporilek.cz/img/vyrobky/samsung-le27t51b.jpg C E D E R J 83 A U LA 3 Podemos examinar o Marketing como disciplina por meio de três ângulos distintos: como área de estudos, como visão e fi losofi a de negócios e como função gerencial. Como campo de estudo, o Marketing é uma área rica em oportunidades para pesquisa e uma das matérias mais requisitadas nos currículos de muitos cursos de graduação e pós-graduação voltados à formação e aperfeiçoamento de profi ssionais liberais. Nesta linha de argumentos, a disciplina Marketing Estratégico apresentará os elementos e a dinâmica do planejamento estratégico de Marketing (quando você estudar a análise do mercado competitivo) e a identifi cação das posições competitivas atuais e futuras da empresa para que melhor se defi na e gerencie estratégias. A Pesquisa Mercadológica, por outro lado, auxiliará você a compreender quais metodologias podem ser utilizadas para conhecer e acompanhar os movimentos do mercado consumidor e organizacional. São importantes, também, as disciplinas que tratam do Comportamento do Consumidor, do Marketing de Varejo, do Marketing Promocional, do Marketing Esportivo e assim por diante. Cada um destes assuntos são desdobramentos do Marketing examinados à luz de campos mais específi cos. O Marketing como fi losofi a de negócio representa a incorporação do conceito de que o cliente é o ponto central das atividades da empresa e que, portanto, todas as decisões deverão estar pautadas a partir desse princípio. Signifi ca também que todas as áreas da empresa – produção, logística, fi nanças e área de pessoas, dentre outras – devem estruturar suas atividades com base nesta fi losofi a. Você já deve ter questionado como se dá a ação do Marketing em empresas pequenas e médias, cujo tamanho e estrutura não exigem uma área específi ca de atividade de Marketing. E mais, por não terem um departamento de marketing, elas não fazem marketing? Sim, elas fazem, mas de uma maneira menos estruturada que numa grande empresa que possui cargos e funções atribuídos diretamente às atividades de marketing. Numa pequena ou média empresa, o Marketing deve representar uma fi losofi a que orienta como os negócios devem ser conduzidos. Nesse encaminhamento, você pode acessar um site, como o do Sebrae, e procurar informações que dêem suporte às decisões relacionadas ao Marketing nas micro e pequenas empresas. 84 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 Sebrae O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas foi criado em 1972 para dar apoio às empresas de pequeno porte. Na sua página na internet, o Sebrae analisa, um a um, os critérios que definem e classificam o porte de uma empresa. Dê um olhada: http: / /www.sebrae.com.br/br/aprendasebrae/ estudosepesquisas.asp Como função gerencial, o Marketing trata das ações táticas que ocorrem no nível gerencial das organizações, função que é exercida por profi ssionais. Assim, a função gerencial marketing é caracterizada por atividades e decisões que são tomadas diariamente e dentro de um planejamento comum a uma área ou departamento da empresa. Geralmente as grandes empresas exigem dos diretores de suas áreas funcionais a confecção de um plano de ação; no caso da área de marketing, um plano de marketing. As questões principais a serem conhecidas nesta aula dizem respeito a quais e como são desenvolvidas as atividades de Marketing no dia-a-dia de uma empresa. Esta aula é central em todo o curso de marketing, pois aborda temas que serão desdobrados em futuras aulas. Abordar esses temas agora é fundamental, pois eles estão interligados ao processo de tomada de decisão em marketing. MARKETING COMO FILOSOFIA EMPRESARIAL As aulas anteriores mostraram como o universo do Marketing é amplo e quantas responsabilidades são endereçadas aos profi ssionais da área. Aprofundemos um pouco mais, então, os aspectos que vimos na introdução e que dizem respeito à visão do Marketing enquanto fi losofi a empresarial, como função gerencial e como campo de estudo. C E D E R J 85 A U LA 3 Marketing não é sinônimo de publicidade Na maioria dos casos Marketing está diretamente ligado ao conceito de publicidade. Essa visão é, obviamente, distorcida. A publicidade é, apenas, um instrumento (um dos mais visíveis, é certo) do Marketing. Mas antes da publicidade existe todo um conjunto de funções que são desenvolvidas e postas em prática, sendo a publicidade e as relações públicas as faces mais visíveis desse desenvolvimento. O Marketing é muito mais amplo e tem como objetivo satisfazer as necessidades do mercado. Uma empresa centrada em boas estratégias de Marketing está, claramente, orientada para o mercado. ??? Conforme Kotler (1998), o conceito de Marketing preconiza que todas as organizações, com ou sem fi ns lucrativos, devem estar voltadas para a satisfação de seus clientes, através da pesquisa e avaliação da evolução de seus D E S E J O S E N E C E S S I D A D E S e da oferta de soluções apropriadas. Em verdade, quando Kotler defende essa idéia ele pretende chegar a um princípio, algo que deve ser acreditado e internalizado pelas pessoas que formam a organização. Nesse sentido, todas as ações devem convergir em direção ao alvo (o cliente), num esforço coletivo voltado para a satisfação dos seus desejos e necessidades. Ao realizá-lo, a empresa passa a funcionar de forma integrada, todas áreas são dispostas na direção de atender adequadamente a um cliente. Então os negócios passam a ser pensados em termos prospectivos, quer dizer, na projeção de um futuro possível, calcado com base nas oportunidades e nas ameaças que o mercado e seus clientes possam oferecer. O Marketingtão bem àquela necessidade que não haja esforço de venda: o produto vende-se por si só. Então, saber o que as pessoas entendem por necessidades e/ou desejos era e é um assunto vital para o Marketing, e assunto muito complicado. Para tratar disso, precisamos voltar a meados do século XX e conversar com alguns teóricos da Psicologia Social. Quando, em História do Pensamento Administrativo, você estudou Elton Mayo e os resultados de sua pesquisa em Hawthorne, você soube que as pessoas modifi cam sua atuação, como indivíduos e como grupo, de acordo com as relações construídas e situações vividas pelo próprio grupo e pelas interferências que o ambiente interno e externo à empresa provoca nas pessoas e no grupo. Estas constatações fi zeram com que a Psicologia do Trabalho – depois Psicologia Social – desenvolvesse, desde então, inúmeros trabalhos e pesquisas com vistas a entender as condições e relações entre indivíduos e organizações. De lá para cá, muitos estudiosos tratam disto; se o assunto lhe interessa particularmente, você poderá aprofundá-lo na disciplina Comportamento Organizacional. Então, se as pessoas, individualmente ou em grupo, reagem de forma imprevista, é preciso conhecer mais ainda seus comportamentos em situações de consumo. Paco Underhill, por exemplo, é um pesquisador americano que há muitos anos usa a observação como ferramenta básica para compreender o consumidor. Ele afi rma que a postura do consumidor constitui um dos enigmas que intrigam pesquisadores de Marketing, Sociologia, Antropologia e outras áreas do conhecimento correlatas. C E D E R J 13 A U LA 1 Figura 1.2: As pessoas tendem a reagir de formas distintas frente ao impulso pela com- pra. Entender esse comportamento tão pessoal é um dos desafi os do Marketing. 14 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Paco Underhill é o autor de Vamos às compras: a ciência do consumo e A magia dos shoppings, ambos da Editora Campus/Elsevier. São ótimos de ler! Underhill desenvolveu excelentes pesquisas a respeito de como “entender” o consumidor. Na revista virtual HSM Management 54, de janeiro-fevereiro 2006, 1, no site www.inte rmanagers.com.br, o autor relata algumas de suas observações sobre a “arte de observar os consumidores”. • 60% dos homens que experimentam uma calça jeans compram o produto. No caso das mulheres, a porcentagem é de apenas 25%. • Quanto maior a velocidade com a qual um consumidor caminha, menor sua visão periférica e menor a atenção dispensada aos sinais visuais. Esse fenômeno, combinado com a necessidade de contar com alguns segundos para reduzir a velocidade dos passos, permite chegar à seguinte conclusão: não convém abrir uma loja ao lado de um banco. Os consumidores aceleram o ritmo quando passam em frente ao estabelecimento bancário porque não há nada para ser visto e, quando reduzem a velocidade da caminhada, já passaram pela loja vizinha ao banco. • Ao entrar em uma loja, o consumidor leva entre 5 e 15 passos para reduzir a velocidade e se acostumar com a iluminação interna. Underhill chama a entrada dos estabelecimentos de “área de descompressão” e recomenda não exibir nela os itens mais valiosos (a interação com os produtos aumenta cerca de 30% quando as pessoas ultrapassam essa zona). • A probabilidade de uma mulher comprar o produto que examina é inversamente proporcional à possibilidade de que, nesse momento, alguém esbarre nela. Se isso ocorrer, a reação da cliente será a de dar meia- volta e ir embora. Qual a moral da história? Não se deve situar em um corredor estreito os produtos femininos que exigem avaliação mais detalhada. ?? C E D E R J 15 A U LA 1 E então, como “adivinhar” as necessidades e desejos dos clientes que o Marketing deve satisfazer? Primeiro você precisa ter clareza quanto às diferenças que Kotler estabelece entre necessidades e desejos. !! As necessidades podem variar em grau e signifi cado, de acordo com o ambiente. Conforme você verá na disciplina Comportamento do Consumidor, esse é um assunto que cada vez mais atrai atenção dos pesquisadores, não apenas da área de Marketing, como também da Sociologia, da Antropologia e da Psicologia, e mesmo da História. O fato é que cada vez mais as ciências aprendem que as respostas sobre a natureza humana e seus comportamentos não podem ser examinadas em separado, por cada ciência. É preciso buscar captar de forma global e deixar a complexidade dos comportamentos ser exposta, o que exige a análise de mais de um campo científi co ao mesmo tempo e o cuidado em não considerar as conclusões tiradas daí demasiadamente defi nitivas. Por exemplo, o que nos faz comer um hambúrguer no McDonald´s ou levar a família para jantar no Habib´s não é somente a fome! Há muitos possíveis motivos agregados – os quais não são conscientes a maior parte do tempo; quase sempre são manifestações de uma necessidade vital associada a outras, dentre estas o desejo por produtos e marcas cuja Kotler defi ne as necessidades como “privações de alguma satisfação básica” e inclui entre elas a estima e o sentimento de pertencimento. Os desejos são, para Kotler, “a busca de elementos específi cos para a satisfação das necessidades”. Outros autores, como Leo G. Schiffman e Leslie Lazar Kanuk, consideram essa distinção como necessidades primárias e secundárias (inatas ou adquiridas) (KOTLER, 2001, p. 59). 16 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? imagem foi construída dentro de cada um de nós. A questão do papel da mídia e da publicidade e a maneira como as marcas são internalizadas em nós são assuntos importantes a serem tratados mais tarde, na disciplina Gestão de Marketing II. Aguarde. Na situação aqui exemplifi cada, decidir levar a família ao Habib´s ou ao McDonald´s poderia, por exemplo, representar para os pais um gesto de carinho e apreço à família. Mas também pode ter qualquer outro signifi cado, como ser a escolha mais fácil considerando o local e o tempo disponível dos membros da família. Os motivos que baseiam as decisões das pessoas, portanto, nem sempre podem ser facilmente explicados. Então, as necessidades fazem parte do ciclo explicado pela motivação, noção básica utilizada nos livros de Marketing. A necessidade é detectada quando ocorre a consciência de uma privação a partir da qual há o movimento do consumidor para satisfazê-la. É esse estado de tensão que mobiliza as pessoas na direção de resolvê-la, nesse caso, com ações de compra. O desejo, nesse âmbito, traduz essa necessidade no ambiente cultural e tecnológico em que ela ocorre. Simplifi cando: se estou com sede, eu poderia simplesmente tomar água, mas há um forte fator cultural e mercadológico que me leva a desejar uma Coca-Cola. Tanto as necessidades quanto os desejos são moldados pela C U L T U R A . O shopping constitui um bom exemplo de como os desejos podem ser moldados pela cultura. E, por falar nisso, você já pensou o que é um shopping? Um grande depósito repleto de lojas? E quantos sonhos se realizam nesse depósito? CU L T U R A “A cultura é uma entidade fl exível, mutável, aberta a infl uências múltiplas e simultâneas, resultante da construção, sempre transitória, de seus membros e de seus analistas...” (BARBOSA, 2002, p. 31). C E D E R J 17 A U LA 1 Figura 1.3: Os shoppings, tão populares atualmente, são os melhores exemplos de como os desejos são manipulados pela cultura. Uma socióloga argentina, chamada Beatriz Sarlo, diz que “o shopping é como uma nave espacial em cujo interior as pessoas circulam para ver e ser vistas”. Fonte: www.sxc.hu/photo/460449 Se não houvesse shoppings, resolveríamos nossas necessidades em outros espaços comerciais. Durante todo o século XIX e parte do XX, a humanidade fez suas compras em lojas situadascomo fi losofi a de negócios compreende também o esforço envolvido no processo de tomada de decisão sobre em quais as linhas de produtos vale a pena investir e em quais não; envolve estudar as relações entre a organização e as empresas concorrentes; a capacidade tecnológica de cada uma e as diferenças entre os pontos fortes de uma e os pontos fracos de outra, e assim por diante. Para um melhor entendimento da importância do marketing como fi losofi a empresarial, veja a defi nição a seguir: NECESS IDADES H U M A N A S E D E S E J O S Necessidades humanas são estados de carência percebidos. Elas podem ser físicas (alimentação, calor, sede etc.), sociais (fazer parte de um grupo, ser amado etc.) e individuais (conhecimento, auto-realização etc.) Já os desejos são as necessidades humanas moldadas pela cultura e pelas características individuais. 86 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 O conceito de marketing é um estado de espírito corporativo que existe na integração e coordenação de todas as funções de marketing, as quais, por sua vez, estão fundidas com todas as outras funções corporativas para o objetivo básico de produzir lucros de longo alcance (Felton,1959). Embora este texto seja bem antigo, seus fundamentos continuam bastante atuais. Ao utilizar a expressão “estado de espírito corporativo”, o autor dá ênfase ao fator humano como fator agregador. Com isto, ele quer dizer que todos trabalham para a mesma “causa” e que tal fato se refl ete positivamente na cultura organizacional, ou seja, na imagem que eles têm deles próprios. O autor também fala da integração das atividades no setor de Marketing e nas demais funções da empresa. Sabe o que isso quer dizer? Que a tarefa de satisfazer o cliente deve ser de toda a empresa, não apenas do setor de Marketing. Isso signifi ca que os profi ssionais da logística e da produção também devem ter o cliente em mente na hora de realizar suas tarefas. Assim, o produto ou serviço e a C E D E R J 87 A U LA 3 entrega ao cliente serão bem realizados. O produto estará nas condições ideais para entregar, ao cliente, o valor prometido na hora da venda. No início desta aula, salientamos o desenvolvimento do Marketing em pequenas ou médias empresas e lançamos uma questão: por não terem um departamento de Marketing, elas não praticam o Marketing? A resposta é sim, pois elas o fazem de uma maneira menos estruturada que numa grande empresa que tem cargos e funções atribuídos às atividades de Marketing. Essa realidade não pode ser esquecida: as pequenas e médias empresas são estruturadas de forma bem distinta das grandes empresas, pois estas são normalmente organizadas a partir de departamentos que cuidam separadamente das atividades que formam a empresa. Por isso, é comum ver nas grandes empresas departamentos de marketing, vendas, fi nanças, produção etc. Difi cilmente você encontrará uma pequena ou média empresa organizada dessa forma, pois o tamanho e a lógica de estruturação destas não são iguais. Numa pequena empresa tudo é feito em conjunto, não há grandes distinções e, muitas vezes, seus funcionários são treinados para trabalhar em todos os lugares, para que a empresa tenha a fl exibilidade e a rapidez que a tornem competitiva. Logo, se não há um departamento de Marketing, quem cuida do desempenho das atividades de gerar demanda (preferência) para as soluções de consumo da empresa? Quem pensa na satisfação dos consumidores? Todos. O marketing tem de ser tarefa de todos, e por isso que é preciso uma fi losofi a, uma forma diferenciada de pensar e fazer negócios, um enfoque diferenciado para gerenciar os negócios que tenha a satisfação do cliente como princípio orientador da conduta das pessoas; logo, da conduta da própria empresa. Eis a importância da fi losofi a de Marketing. Usando linguagem comum ao mundo diário das micro e pequenas empresas: o Marketing tem de estar na alma da pessoa, ela tem de gostar de atender as pessoas, brigar por uma venda, deixar o consumidor bem impressionado. E, de fato, quem não demonstra essa “garra”, não fi ca muito tempo nessas empresas. 88 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 A propaganda nas micro e pequenas empresas A propaganda é uma das ferramentas de comunicação de Marketing mais efi cazes para as pequenas e microempresas. Deve-se entender como propaganda qualquer forma de comunicação paga, impessoal, de autoria do anunciante, que identifi ca o patrocinador e utiliza de veículos de mídia para promover produtos ou serviços junto a um público-alvo defi nido. Alguns exemplos de objetivos de propaganda para a pequena empresa são: persuadir o consumidor sobre a mudança de percepção em relação ao produto/serviço; informar sobre a participação da empresa em feiras/exposições; informar sobre o lançamento de novos produtos/serviços; lembrar os consumidores sobre a necessidade do produto/serviço; e lembrar os consumidores onde comprar o produto/serviço. Para ler mais sobre o Marketing das pequenas e grandes empresas, acesse: http://fauze.com.br/artigo24.htm !!! Figura 3.2: Uma excelente opção para a pro- paganda das micro e pequenas empresas são as feiras de negócios – os custos são baixos e a visibilidade é grande. MARKETING COMO DISCIPLINA ACADÊMICA O Marketing é fundamentalmente a ferramenta teórica para pensar o negócio (como fi losofi a empresarial) e para praticá-lo (como função gerencial). Porém outros assuntos relacionados ao comportamento do C E D E R J 89 A U LA 3 cliente, das vendas, daqueles que trabalham nas empresas (os chamados colaboradores) também fazem parte do esforço das empresas para entender melhor o setor de negócios em que estão inseridas. É aí que os conceitos do Marketing se ampliam, podendo ser aplicados a qualquer setor da atividade econômica. O ambiente mais próximo das decisões tomadas pelo Marketing diz respeito aos seus “clientes e consumidores”. Conhecer o que pensam, sentem e fazem os clientes e consumidores é o grande desafi o para os gestores do Marketing. Por isso, pode-se estudar, como um campo específi co teórico, o comportamento do consumidor. Falamos brevemente deste tópico na primeira aula, lembra? Assim, para este efeito, deverão ser empregados outros campos científi cos como a Psicologia, a Antropologia e a Sociologia, que auxiliam a compreender “clientes e consumidores” enquanto seres sociais. Também é útil aprender maneiras de estudá-los através de uma disciplina chamada Pesquisa Mercadológica ou Pesquisa de Marketing. De acordo com a abordagem que se utilize, é possível acessar dados que ajudem a compreender os elementos presentes em seus comportamentos. Se o alvo, entretanto, for compreender a lógica dos negócios do ponto de vista do ambiente competitivo, precisamos adentrar pelos conhecimentos e ferramentas do Marketing Estratégico, como enunciado anteriormente. O primeiro passo, na seqüência, é defi nir em que negócio a empresa está. 90 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 Acesse o site do McDonald’s e procure explicar, com suas palavras, o que a empresa quer dizer quando afi rma seus princípios e valores. Se for possível, visite uma franquia do McDonald’s e procure identifi car os sinais que confi rmam estas declarações. Converse com o pessoal do atendimento, seja cliente e pense em comprar algo. Examine como a loja é organizada do ponto de vista físico – luminosidade, disposição dos produtos, forma do atendimento, preços, cores, políticas de vendas etc. Tudo o que há nesta loja deve ter relação com a proposta da marca, para fazer sentido. Para orientar sua pesquisa, procureresponder às perguntas: em qual ramo o McDonald´s está? No ramo do fastfood, no ramo do entretenimento, em qual? Quando fastfood, no ramo do entretenimento, em qual? Quando fastfood a empresa assume qual o negócio que legitima suas ações, ela traduz esta intenção numa declaração de princípios e valores que pretendem afi rmar a sua identidade: dizer a que veio, por que está aqui. No caso do McDonald’s, observe como ele se posiciona. Em seguida acesse a plataforma do Cederj, vá até o grupo de estudos desta disciplina, localize a atividade e faça um comentário com as suas observações. Não deixe de voltar sempre à atividade para ler e comentar os posts de seus colegas. As declarações a seguir foram retiradas do site www.mcdonalds.com.br: “Quatro compromissos fundamentais orientam as atividades desenvolvidas pelo McDonald’s Brasil. Trata-se de um conjunto de princípios que sintetizam e traduzem a amplitude daquilo que a empresa entende como seu papel na sociedade. - Ser o melhor e oferecer uma experiência única de desenvolvimento profi ssional e pessoal. - Oferecer produtos saudáveis e de qualidade, adequados a uma alimentação variada, equilibrada e nutritiva. - Participar ativamente das comunidades como um bom vizinho, que se preocupa com o meio ambiente e realiza ações em prol da saúde e do esporte. - Investir continuamente no desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil. Honrar tais compromissos constitui um desafi o enfrentado com sucesso, graças à contribuição direta de funcionários, franqueados e fornecedores que compõem o Sistema McDonald’s. Ao longo dos últimos 27 anos, essa rede de parcerias cresceu, organizou-se e instituiu um modelo de referência no setor de alimentação. Com a meta permanente de desenvolver e aprimorar esse modelo, a empresa se impõe a seguir quatro princípios estratégicos: Atividade 1 111 C E D E R J 91 A U LA 3 - Concentração de esforços numa única atividade (venda de refeições); - Ênfase na gestão de pessoas; - Administração descentralizada; - Trabalho em parceria com os fornecedores. Manter sob controle as diversas variáveis envolvidas no negócio é indispensável para sustentar o desenvolvimento da empresa ao longo do tempo. Para isso, o McDonald’s tem seu trabalho orientado por um conjunto de valores corporativos. São eles: • interagir permanentemente com o cliente, entendendo suas necessidades e conquistando sua simpatia, sua satisfação e sua confi ança; • formar e desenvolver pessoas; • conviver de forma positiva com a diversidade de opiniões, promovendo atitudes que fortaleçam o comprometimento com a decisão da equipe; • agir sempre de maneira íntegra e coerente com os valores e princípios defendidos; • promover com equilíbrio o sucesso de todo o Sistema McDonald’s (funcionários, franqueados e fornecedores); • manter o entusiasmo e a determinação de fazer o melhor, renovando continuamente sua energia para o sucesso; • praticar efetivamente o equilíbrio e a harmonia entre os focos de dedicação (trabalho, família, saúde, estudo e lazer) que promovam a felicidade e a qualidade de vida; • reconhecer os esforços, as atitudes cotidianas e o empenho das pessoas em trabalhar em equipe, estimulando os talentos e celebrando as conquistas; • promover atitudes que reforcem a consciência e a prática da cidadania, dentro e fora da empresa.” A FUNÇÃO GERENCIAL MARKETING Na primeira aula pedimos a você que pensasse sobre o biscoito de sua preferência. Por meio desse exemplo bem prático, procuramos mostrar as diversas interações necessárias e os diferentes papéis desempenhados até que o biscoito chegue à sua mão. Salientamos que muitas transações ocorrem, materiais são transportados, armazenados e processados. Como exemplo, pedimos que você considerasse um biscoito do tipo recheado, sabor chocolate. Esse biscoito é uma solução de consumo que satisfaz um desejo ou carência sua. 92 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 No exemplo do biscoito procuramos destacar qual era o papel do marketing naquele contexto. E dissemos: Em um ambiente com muita competição, cada ator empresarial precisará mostrar para os compradores que a sua solução de consumo é a melhor. E tudo começa na sua decisão de comprar o biscoito de sua marca favorita. Certamente o fabricante do biscoito levou você a crer que a marca dele era a melhor. Você comprou o biscoito no local de sua preferência: numa pequena ou grande loja de varejo. Para o biscoito chegar até o local de venda, a indústria ou vendeu direto para o grande varejista ou usou atacadistas e distribuidores para chegar aos pequenos varejistas, bares e restaurantes. Estes só atuaram porque acreditam que aquele biscoito vende bem e não encalha. Os diversos fornecedores tiveram de mostrar à indústria que eles tinham os melhores ingredientes para quem deseja fabricar os melhores biscoitos (Aula 1). Defi nimos que o papel que o Marketing desempenha numa empresa é gerar demanda (preferência) para suas soluções de consumo. E esse papel assumirá feições diferentes em função da posição das empresas dentro do cenário de negócios. Como demonstra a Figura 3.3 (atenção às setas!), na condição de consumidor você é infl uenciado pelas ações de marketing dos fabricantes que, nesse exemplo, são a indústria de alimentos os locais de vendas dos produtos (pequeno e grande varejo, bares e restaurantes). Os varejistas e bares, por sua vez, são infl uenciados pelas ações de marketing do fabricante, e dos diversos atacadistas e distribuidores existentes. O fabricante também infl uencia os atacadistas e distribuidores. Consumidor fi nal Pequeno varejo Grande varejo Bares e restaurantes Atacado distribuidor Atacado distribuidor Indústria de alimentos Figura 3.3: Direção das ações de Marketing no fl uxo de negócios. C E D E R J 93 A U LA 3 É sobre essas ações que exercem infl uências sobre consumidores e clientes que iremos falar neste item. Desenvolver um plano de marketing é uma das principais responsabilidades da gerência de Marketing. Nesse plano estarão contidas todas as atividades necessárias para que objetivos de Marketing sejam alcançados. Observe alguns objetivos de Marketing comumente encontrados nas empresas: • vender mais para clientes e consumidores atuais; • tirar consumidores dos produtos concorrentes; • conquistar novos clientes e consumidores; • entrar em novos mercados. Você provavelmente já ouviu falar da loja de departamentos C&A. A marca é conhecida por vender roupas de moda a um preço considerado “justo” e assim seu sucesso é grande entre as classes C e D. No entanto em 2004, ao completar 25 anos de inauguração, a loja contratou a modelo Gisele Bündchen, a top model brasileira de maior prestígio mundial, para estrelar sua nova campanha. Com certeza trata-se de um plano de Marketing arriscado porque aparentemente a imagem da nova garota propaganda, uma brasileira bem-sucedida e acostumada a roupas de grife exclusivas, destoava da imagem da marca e de seus preços populares. Mas era nessa aparente contradição que estava o grande segredo dessa campanha de sucesso: a associação da marca à modelo, além de garantir novas fatias de mercado consumidor (classes A e B), gerou imensa fi delização dos seus compradores habituais (classes C e D), que agora podiam usar as mesmas roupas que a top model. ??? Na lógica de funcionamento de um departamento de marketing, essas atividades estão associadas a decisões. Por sua vez, decisões e atividades estão subordinadas às estratégias de Marketing. A literatura de marketing reconhece as seguintes estratégias de Marketing: • estratégia de produto; • estratégia de preço; • estratégia de distribuição; • estratégia de promoção. 94 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA3 A função gerencial marketing é quase totalmente dedicada às atividades e decisões associadas às estratégias já destacadas. O dia-a- dia de uma empresa que possua um departamento de Marketing gira, praticamente, em torno de questões relativas às soluções de consumo (produtos e serviços) que a empresa oferece; de políticas de preços adotadas; de canais de vendas e de formas como as soluções de consumo serão promovidas (comunicadas). Em uma empresa onde o Marketing é responsabilidade de um departamento e de profi ssionais especializados, como a do fabricante do seu biscoito preferido, a rotina diária é ditada pelas seguintes questões que podemos resumir na idéia de composto de marketing: • a empresa precisa que seus atuais biscoitos estejam de acordo com as necessidades e desejos de clientes e consumidores. Além disso, a competição é tão grande atualmente que é preciso constantemente apresentar novos produtos e/ou serviços ao mercado. Em verdade, a empresa tem um mix de produtos, pois, além do biscoito recheado, ela deve produzir biscoitos do tipo cream cracker, água e sal, maisena, salgadinho, waffer etc. • o preço é algo importante para a capacidade do marketing desse fabricante gerar demanda e preferência pelos seus biscoitos. Geralmente, por ter muitas ofertas (embalagens e tamanhos diferentes), atender consumidores fi nais distintos (sexo, idade, etnia e classes sociais variadas) e ter muitas relações com atacadistas, distribuidores e varejistas, esse fabricante tem de ter uma política de preço para gerenciar o seu mix de produtos, pois os custos da comercialização serão bem distintos. Mais à frente você aprenderá que essa política de preço deve refl etir não apenas os custos e as características dos consumidores, mas também a imagem que você quer que os consumidores tenham dos seus produtos. • onde vender seus biscoitos é algo importante para o sucesso do fabricante, daí a importância da praça. E ele (o fabricante) deve ter produtos adaptados às características de cada tipo de estabelecimento comercial. Como exemplo, veja o que ocorre nos grandes supermercados/ hipermercados e numa loja de conveniência (aquela dos postos de gasolina). Nas grandes lojas, o fabricante praticamente precisa ter todos os seus biscoitos, pois os consumidores típicos desses locais são aqueles que fazem grandes compras, pensando em toda a família: biscoito da dieta, lanche das crianças e jovens e café da família. Na loja C E D E R J 95 A U LA 3 de conveniência, os consumidores típicos são aqueles que fazem pequenas compras, como jovens numa noite em que se divertem; motoristas sem tempo para fazer lanches mais demorados ou carros em que estejam crianças. Nessas lojas, o fabricante precisa ter produtos adaptados a essa realidade. o fabricante de biscoito também terá de pensar nas formas pelas quais ele irá divulgar seus produtos aos consumidores e clientes. A esta estratégia chamamos de composto comunicacional. Ele terá objetivos distintos nessa comunicação. Num momento ele vai informar que o produto tal existe, noutro ele vai capitalizar seus esforços de comunicação para tornar suas marcas muito conhecidas e sempre lembradas de forma positiva. Talvez ela vá chamar a atenção dos consumidores para pontos de comparação com produtos de outros fabricantes. Ele também tem de informar e convencer seus clientes de que vender seus produtos é um bom negócio. Para isso ele terá de pensar se vai usar propaganda em rádio, televisão, jornal ou revista; se ele vai patrocinar uma equipe de esporte ou atleta vencedor, o tamanho da sua equipe de vendedores etc. Bem, as decisões de comunicação são várias. Grafi camente você pode entender o composto de marketing dessa maneira: Produto Preço Promoção Praça Figura 3.4: Interação entre os elementos do composto de marketing. 96 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 Para consolidar esse aprendizado, reveja a defi nição de Marketing da American Marketing Association (AMA), mostrada na Aula 1: O processo de planejamento e execução da concepção, defi nição de preços, promoção e distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam objetivos individuais e organizacionais. (American Marketing Association - AMA) Note que a defi nição da AMA reforça a importância do composto de Marketing. Ela fala da concepção, defi nição de preço, promoção e distribuição de idéias, produtos e serviços. Idéias, produtos e serviços são as soluções de consumo. O uso de idéias como solução de consumo refere-se àquelas organizações que oferecem basicamente informação, como uma igreja ou um órgão público responsável por questões sociais complexas, como a de não misturar bebida com a direção de veículos e de estimular as mulheres a fazer o apalpamento dos seios para detecção de nódulos mamários. A seguir observe a Figura 3.5. Ela mostra as ferramentas que estão contidas em cada uma das variáveis do composto de marketing. Composto de marketing Produto • Variedade do produto • Qualidade • Design • Características • Nome da marca • Embalagens • Tamanhos • Serviços • Garantias • Devoluções Praças • Canais • Cobertura • Sortimento • Localizações • Estoque • Transporte Preço • Lista de preços • Descontos • Condições • Preazo de pagamento • Condições de crédito Promoção • Promoção de vendas • Propaganda • Força de vendas • Relações públicas • Marketing direto Figura 3.5: Os 4Ps do Marketing, também chamados de composto de marketing, são um conjunto de instru- mentos à disposição do administrador para implementar uma estratégia de marketing. Fonte: Kotler, Philip. Administração de Marketing. SP: Editora Atlas, 1998. p.97. Fonte:www.sxc.hu/photo/395331,www.sxc.hu/photo/464743, www.sxc.hu/photo/188108, www.sxc.hu/photo/619820, www.sxc.hu/photo/594095. Somente a leitura dos tópicos que participam de cada um dos Ps dá uma idéia da diversidade de funções contidas em cada uma das variáveis. Resumidamente, o que representam: C E D E R J 97 A U LA 3 √ sobre a variável Produto: – na Aula 2, falamos que produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer a um desejo ou necessidade (Kotler, 1998). – para planejar a oferta, as empresas consideram o produto segundo a hierarquia de valores que o consumidor privilegia. O conceito de produto, assim, ganha profundidade. Veja a seguir os cinco níveis de produto, conforme Kotler: Benefício-núcleo ou benefício central: corresponde ao serviço ou benefício fundamental que o consumidor está realmente comprando. Exemplo: um hóspede de hotel está comprando tranqüilidade e repouso. • Produto genérico ou produto básico: no caso do hotel está identifi cado pela oferta de cama, banheiro, toalhas, mesa, cômoda com espelho, armário etc. • Produto esperado: representa o conjunto de atributos e condições que os compradores esperam normalmente e concordam quando compram um produto. Os hóspedes de um hotel esperam encontrar a cama arrumada, toalhas limpas, iluminação adequada e relativo grau de silêncio. • Produto ampliado: já que o produto esperado não diferencia uma empresa de outra, as empresas precisam exceder as expectativas do consumidor. No caso do hotel, poderia ser a colocação de fl ores naturais no quarto, acesso a canais de TV aberta, check-in rápido e assim por diante. O importante, nesta condição, é assegurar que o custo da diferença seja coberto pelo consumidor. Outra questão é que a manutenção desses benefícios torna-se, rapidamente, um benefício esperado. À medida que as empresas aumentem o preço de seu produto ampliado, alguns concorrentes podem reverter a situação ao fornecer um produto simples a um preço menor, como ocorre em muitas redes de hotéis em São Paulo. • Produto potencial: este nível envolve todas as ampliações e transformaçõesque o produto deve sofrer no futuro para atrair e manter os clientes. Assim como o produto ampliado explicita o que está incluído no produto, a idéia de produto potencial aponta para sua possível evolução. O surgimento de apart-hotéis reunindo um conjunto de dependências – sala, quarto, cozinha, área – representa uma transformação inovadora do produto hotel tradicional. 98 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 – se a idéia de produto envolve dimensões tão diversas, pode-se compreender agora por que, quando se fala em produto, pensa-se em suas características físicas, seu design, variedade, qualidade, tamanhos – releia novamente o conceito de produto genérico – da mesma forma como a marca, a embalagem, os serviços e garantias remetem ao produto ampliado e mesmo ao produto potencial. Observe, no Boxe a seguir, o que diz Levitt sobre a variável produto. Conforme afi rma Levitt (1969): A nova concorrência não está entre o que a empresa produz em suas fábricas, mas entre o que acrescentam a seus produtos na forma de embalagem, serviços, propaganda, sugestões ao consumidor, fi nanciamento, condições de entrega, armazenagem e outras coisas que as pessoas valorizam (LEVITT, 1969). !!!! √ sobre a variável Preço: – além das questões relacionadas aos custos de produção e comercialização, as empresas definem suas estratégias quanto ao posicionamento do produto considerando a relação qualidade x preço. Esta escolha depende das decisões de posicionamento praticadas pelos concorrentes, do tamanho potencial do mercado, da capacidade fi nanceira da empresa e do comportamento dos consumidores. Tais condições explicam, muitas vezes, a determinação de uma política de preços que varia (descontos, concessões, prazos e condições de crédito) de acordo com a região geográfi ca. Seja como for, esta é uma variável importante entre as demais participantes do composto de marketing: é a única que produz receita. Por outro lado, é também um dos elementos mais fl exíveis do composto, porque pode ser rapidamente modifi cado. √ sobre a variável Praça: – a maioria dos fabricantes não vende seus bens diretamente aos usuários fi nais e sim utilizam um conjunto de intermediários que desempenha várias funções e recebe vários nomes. Alguns intermediários – como atacadistas e varejistas – compram, assumem a propriedade C E D E R J 99 A U LA 3 e revendem a mercadoria. Outros – como atacadistas também, representantes de fábrica e agentes de vendas – procuram os clientes e negociam com eles em nome dos fabricantes, mas não assumem a propriedade dos bens. E há ainda as empresas transportadoras, armazéns independentes e outros intermediários que auxiliam no desempenho da distribuição. – a decisão sobre quais canais de Marketing utilizar afeta intimamente todas as outras decisões de Marketing. O preço praticado depende, dentre outros aspectos, da decisão da empresa em usar varejo de massa ou butiques de alta qualidade. – quanto maior o uso de intermediários, maior a cobertura de mercado. Quer dizer, mais pessoas têm acesso ao produto pelo fator multiplicador produzido pela capacidade intensiva de distribuição. Na mesma perspectiva, é preciso determinar adequados níveis de estocagem e transporte relacionados à escolha dos pontos-de-venda para que se estabeleçam relações de parceria com varejistas de maneira a defi nir o melhor mix quanto à variedade e combinação entre marcas e linhas de produto. √ sobre a variável Promoção: – esta variável se traduz nos esforços em desenvolver e administrar as comunicações integradas de Marketing – CIM – através do uso das ferramentas de promoção de vendas, propaganda, força de vendas, relações públicas e marketing direto, tendo em vista a identifi cação da audiência- alvo e os demais esforços produzidos no desenvolvimento do produto. – as empresas devem comunicar-se com todos os seus públicos – consumidores atuais e potenciais, varejistas, fornecedores – além dos stakeholders e do público em geral. Daí a necessidade de planejar e implementar ações de comunicação de forma integrada, em consonância com a imagem e com a idéia de produto ampliado pretendidas. – a escolha das ferramentas a utilizar vai depender do público a ser atingido, da determinação dos objetivos da comunicação, da mensagem desenvolvida, da escolha dos canais de comunicação, do orçamento total de promoção, da mensuração dos resultados destes esforços de maneira a gerenciar o processo de comunicação de forma integrada. – a explicitação das características de cada uma das ferramentas de comunicação pode ser encontrada em qualquer livro de Administração de Marketing, como os indicados na referências, ao fi nal desta aula. 100 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 PROCESSOS MERCADOLÓGICOS Uma vez aprendida a importância do composto de marketing (produto, preço, praça e promoção), vamos utilizar um esquema para entendimento da seqüência de ações que levam à tomada de decisão em Marketing. Para tanto, utilizaremos o conceito de processos mercadológicos proposto por Hooley et al (2003). Processos mercadológicos representam o conjunto de atividades integradas desenvolvidas pela área de Marketing com o intuito de capacitar a empresa a oferecer valor superior ao mercado. Também pode ser entendida como uma estrutura analítica que facilita o desenvolvimento de estratégias de marketing. Hooley et al (2003) dividem os processos mercadológicos em Hooley et al (2003) dividem os processos mercadológicos em Hooley et al três momentos importantes para o desenvolvimento das atividades de marketing: Parte 1: Defi nição do valor a ser ofertado ao consumidor; Parte 2: Desenvolvimento do valor ao consumidor; Parte 3: Oferecimento do valor ao consumidor. A essência desses processos está na seqüência a seguir, apresentada grafi camente na Figura 3.6: 1 a empresa seleciona o segmento de mercado que vai atender 2 estuda car- acterísticas e interesses desses con- sumidores 3 estuda valor ofertado por produtos con- correntes 4 avalia condições para oferecer valor e assim competir com os concor- rentes 5 desenvolve seus produtos e serviços 6 planeja o oferecimento do valor por meio da inserção dos produtos/ serviços no mercado 5 avalia e controla des- empenho dos produtos e serviços Após avaliação faz adaptação dos produtos e serviços à reali- dade dinâmica dos mercados C E D E R J 101 A U LA 3 PARTE 1: PROCESSOS DE DEFINIÇÃO DO VALOR A primeira parte do processo mercadológico é a defi nição do valor a ser ofertado aos consumidores. Na Aula 2 você estudou o valor ao cliente. De acordo com Hooley et al (2003), essa parte capacita as Hooley et al (2003), essa parte capacita as Hooley et al organizações a entender melhor o ambiente de negócio em que opera, seus recursos e aptidões e o valor que ela cria e/ou deve criar. Inicialmente, uma importante atividade de marketing deve ser realizada: segmentação do mercado. Ao segmentar o mercado consumidor, a empresa dividirá os potenciais compradores dos seus produtos em grupos que possuem características muito semelhantes, como poder aquisitivo, nível de estudo ou estado civil (solteiro, casado etc.). Sabe por que ela deve fazer isso? Por que é muito difícil que o valor oferecido por um produto ou serviço de uma empresa seja aquele buscado por todos os consumidores. Veja, por exemplo, a categoria de produto xampu. Será que apenas um produto irá satisfazer a pessoas de cabelos lisos, encaracolados, quebradiços ou coloridos? Provavelmente não. Na Aula 6 você estudará com mais detalhes a segmentação de mercado. Uma vez escolhido o perfi l do consumidor a ser atendido, a empresa vai conhecer mais a fundo o que pensa,sente, busca e espera esse consumidor. Especifi camente, o que se faz hoje em dia é saber como ele desenvolve o seu dia-a-dia, pois cada vez mais é sabido que os produtos e serviços ocupam espaço signifi cativo na vida das pessoas. Como falamos na primeira aula, esta é uma das principais características da sociedade atual. Existem diversas formas para as empresas colherem, reunirem e analisarem informações importantes, acerca de seus consumidores. Na Aula 4, que trata de sistemas de informações de Marketing, você conhecerá mais sobre essa atividade estratégica para a vida das empresas. 102 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 Processos de defi nição do valor São processos que capacitam a organização a entender o ambiente em que ela opera melhor (como pesquisa de marketing, estudos de preferências e necessidades do cliente, comportamento de compras, uso do produto etc.), para entender mais claramente seus próprios recursos e aptidões e para avaliar o valor que ela cria através de análises econômicas de sistemas de uso dos consumidores. !!!! Quando falamos “entender o que pensam e sentem os consumidores”, estamos falando de estudo do comportamento do consumidor que, por ser um processo relevante e complexo, demanda muitos recursos e tempo das empresas. Por desvendar os aspectos subjetivos e objetivos operando sobre os consumidores durante suas decisões de compra e consumo, a importância desse processo é inquestionável. Por envolver muitas pessoas tecnicamente capacitadas e aplicação de conceitos e técnicas oriundas de diversas áreas de conhecimento, trata-se de um processo naturalmente complexo. Nele, a equipe de marketing lida com questões bastantes subjetivas, mesmo estando elas imersas no dia-a-dia concreto e extenuante das organizações. Na disciplina Comportamento do Consumidor você vai saber mais sobre esse tema. Entender o comportamento do consumidor envolve conhecer como as pessoas tomam suas decisões de compra, quais são os tipos de decisões de compra e quais fatores infl uenciam a tomada de decisão. C E D E R J 103 A U LA 3 Figura 3.7: Num shopping, onde a variedade de lojas é imensa, o que determina a escolha do cliente por uma ou outra marca? Entender os aspectos subjetivos e culturais que direcionam as decisões de compra do consumidor é impre- scindível para o sucesso de uma organização. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/630609 Outra etapa fundamental nesse processo é o estudo das próprias capacidades da emresa e da concorrência. Para tanto, algumas questões fundamentais precisam ser respondidas: quais são os pontos fracos e fortes dos meus produtos e serviços? Quais são os pontos fracos e fortes dos produtos e serviços concorrentes? Exemplifi cando: tenho melhor estrutura de distribuição que meus concorrentes? Meu produto tem uma boa relação entre preço e qualidade? Ou meu principal concorrente faz uso freqüente de promoções de venda e, com isso, garante uma grande procura? Todo profi ssional de marketing perspicaz faz essas perguntas extremamente simples. É importante guardar o seguinte: não há nada melhor que produtos, serviços e comportamento dos funcionários para dizer as reais capacidades e intenções dos responsáveis pelo seu gerenciamento. Os produtos e serviços e as pessoas que os produzem também dizem muito sobre a qualidade, efetividade e sofi sticação do sistema regulador do mercado. Quer um excelente exemplo? Estude a história da informática no Brasil. Você irá perceber do que estamos falando, pois o Brasil teve um mercado totalmente protegido para informática, quando as fi rmas brasileiras gozavam de muitos privilégios. Procure observar nos sites e livros da área de informática quanto os produtos, serviços e profi ssionais da área de informática mudaram com o passar dos anos. São várias as formas que uma empresa tem para saber de suas forças e fraquezas, mas a principal é o estudo minucioso dos serviços de atendimento aos consumidores (SAC), pois é nele que os consumidores 104 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 dos produtos da empresa fazem suas críticas e sugestões. Os relatórios dos vendedores trazem informações importantes, assim como as reuniões com os clientes que compram os produtos para revender. Outra forma muito efi ciente de avaliar essas questões é observar o desempenho dos produtos diante dos produtos concorrentes. Os produtos que vendem mais assinalam que a empresa está fazendo as escolhas certas. Os produtos que têm poucas vendas indicam que algo deve ser mudado. Com certeza, aquilo que deve ser mudado é algo que representa uma grande fraqueza da empresa e, ao mesmo tempo, sinaliza a força do concorrente. Terminada a fase de defi nição de valor, vem a fase de torná-lo algo mais factível. Ou seja, os produtos e serviços precisam refl etir tudo que é pensado sobre valor superior aos consumidores. Se a empresa decide apostar no benefício funcional, pessoal, social ou vivenciar (conceitos da Aula 2), ela tem de se assegurar de que possui condições de desenvolver esse benefício. PARTE 2: PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DO VALOR Uma vez definido o valor a ser oferecido ao mercado, o próximo passo da empresa é transformar intenções em fatos. Nesse ponto, gostaríamos de falar de dois conceitos importantes e bastante relacionados: atributos e benefícios. Podemos dizer que um atributo é uma característica ou qualidade que um produto ou serviço possui. Por exemplo, a presença de um açúcar especial (como aspartame) no biscoito é um atributo intrínseco que deixa o produto mais saudável e menos calórico. Por sua vez, “saudável” e “menos calórico” são benefícios funcionais e pessoais altamente procurados nos produtos alimentícios hoje em dia. Ficou clara essa relação? Figura 3.8: Se o seu biscoito preferido é adoçado com aspartame (atributo), ele se torna mais saudável e menos calórico (benefício). Fonte: http://www.sxc.hu/photo/377922 C E D E R J 105 A U LA 3 Os atributos possuídos por um produto ou serviço produzem os benefícios que os tornam distintos e capazes de oferecer valor superior aos consumidores. Essa relação pode ser percebida no papel do design dos automóveis. Ao mexer nele, os projetistas de automóveis podem torná-los mais rápidos, belos, baratos etc. Essa importância do design é observada em todas as categorias de produto: uísque; tênis; xampu etc. Por outro lado, se um produto é vendido em lojas com imagem distintiva e sofi sticada, tem-se um atributo extrínseco que confere ao produto uma imagem diferenciada e altamente procurada por certos segmentos do mercado. Por que é altamente procurada? Porque oferece benefício social. Quando um produto é vendido em lojas populares e está amplamente disponível no mercado, sua imagem não é muito sofi sticada, e seu maior atributo é seu preço. Processos de desenvolvimento do valor Processos que criam valor ao cliente por meio de uma corrente de agregação de valor, tais como: estratégias de obtenção, desenvolvimento de novos produtos e serviços; desenvolvimento de canais de distribuição; seleção de vendedores; parceria estratégica com provedores de serviços (por exemplo: crédito, gerenciamento de banco de dados) e desenvolvimento de estratégia de preços. !!!! O papel da corrente de valor proposta por Hooley et al (2003), et al (2003), et al que você viu no boxe anterior, é o de confi gurar o processo para conferir aos produtos e serviços os atributos intrínsecos (presentes no produto) e extrínsecos (externos ao produto) que lhes possibilitam um bom desempenho no mercado. Ou seja, que eles realmente gerem valor para os consumidores defi nidos na segmentação do mercado, feita na Parte 1. A escolha e a qualidade dorelacionamento com os fornecedores são outros dois pontos essenciais quando se fala de corrente de valor, pois deve haver qualidade desde a defi nição do projeto, no momento em que a empresa defi ne seus fornecedores por serem eles os melhores 106 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 e, logicamente, os mais preparados para contribuir para o sucesso do produto. Por exemplo, imagine o papel que o fornecedor de hambúrguer tem na formação da imagem de um sanduíche de uma empresa de restaurantes fast-food como o McDonald’s ou o Bob’s? Se o hambúrguer fast-food como o McDonald’s ou o Bob’s? Se o hambúrguer fast-food for ruim, o sanduíche vai ter desempenho ruim. Por outro lado, quanto não ganharia essa marca de hambúrguer tendo sua imagem associada a essas redes de restaurantes tão famosas e respeitadas? O importante é: se os fornecedores da empresa que você gerencia ainda não têm o potencial que sua empresa precisa para fazer alcançar bons resultados no mercado e se não é algo fácil trocá-los, qualifi que-os, aproxime-se deles numa troca cooperativa. Uma vez qualifi cado o relacionamento com os fornecedores, o desafi o é tornar os produtos e serviços melhores. E isso começa no projeto de produtos e serviços. São os projetos que defi nem como serão os produtos e serviços. Quanto mais inovadores, funcionais, fl exíveis, exeqüíveis ou baratos eles forem, maiores serão as chances de sucesso. Lembrando: o projeto tem de considerar os atributos intrínsecos que entregarão os benefícios (funcionais, pessoais, sociais e vivenciais) pretendidos para o segmento a ser atendido. Porém é importante que a empresa evite duas situações: escolher produtos que estejam muito além ou muito aquém do que os consumidores do segmento escolhido esperam. Por que evitar? Porque todas as vezes que um produto oferece benefícios abaixo do que é esperado para a sua categoria de produto, ele estará posicionado abaixo dos seus concorrentes. E todas as vezes que as expectativas dos consumidores não são totalmente atendidas eles fi cam frustrados e reagem negativamente: não compram o produto e ainda falam mal. Por outro lado, quando o produto está acima do esperado para a categoria de produto e pelos consumidores, corre-se o risco de ele fi car posicionado mais pela imagem de caro do que pelos benefícios ofertados. Outras partes importantes do processo de desenvolvimento do valor são: decidir onde os produtos serão vendidos, desenvolver boa seleção de vendedores e fazer parcerias estratégicas. O local escolhido para a venda do produto é fundamental para a oferta de valor superior aos clientes e consumidores. Por exemplo, se a sua marca de jeans preferida for vendida em qualquer tipo de loja, sem que ela tenha espaço destacado na loja ou que os vendedores não trabalhem bem o produto, C E D E R J 107 A U LA 3 você acha que o uso dela continuaria a lhe dar algum status junto aos seus amigos e amigas? E se você ainda não conhecesse a marca, ao vê-la exposta de qualquer modo na loja, você compraria? Isso quer dizer que o local em que os produtos serão vendidos deve estar de acordo com os benefícios pretendidos para satisfazer os consumidores. Os vendedores e as parcerias são outros fatores importantes no desenvolvimento do valor. Os vendedores representam a empresa e aonde forem carregam com eles a sua imagem. Eles estão em contato direto com os clientes e consumidores das empresas. Mais: pelo menos teoricamente, eles são os que mais conhecem os produtos e serviços das empresas, pois sabem apresentar e defender os benefícios que os produtos têm. Por outro lado, ninguém melhor do que eles para opinar sobre o que os clientes e consumidores desejam. Por isso são importantes no processo de desenvolvimento do valor. Figura 3.9: O vendedor precisa conhecer bem a empresa onde trabalha porque é ele quem está em contato direto com os consumidores. Por isso, uma boa parceira entre o cliente e o vendedor acaba desenvolvendo maior valor ao produto ou serviço. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/638596 As parcerias são importantes porque elas implicam compartilhamento de forças. Por exemplo, o que aconteceria à empresa Sadia se ela fi zesse parceria com o McDonald’s para fornecimento de hambúrgueres? Ambas ganhariam muito porque têm excelente imagem perante o mercado. A Sadia ganharia muito porque seria fornecedora 108 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 exclusiva da empresa que mais vende hambúrguer no mundo e ganharia ainda mais se pudesse colocar a marca McDonald’s em alguns dos seus produtos vendidos em supermercados, padarias e açougues. O McDonald’s ganharia porque teria associado aos seus produtos a imagem de uma empresa que signifi ca qualidade, confi ança e saúde para muitas pessoas, principalmente no Brasil. Bem, evidentemente, isso é apenas uma suposição. Ambas as empresas devem ter razões para tentar ou não as parcerias. Por exemplo, um aspecto contra essa suposta parceria é o fato de a marca Sadia ser conhecidíssima no Brasil, mas não globalmente. Por sua vez, o McDonald´s tem lojas espalhadas pelo mundo inteiro, implicando duas coisas: vai precisar de um parceiro com marca global ou vai preferir prestigiar as marcas locais de todos os países em que opera. PARTE 3: PROCESSOS DE OFERECIMENTO DE VALOR Feitos todos os ajustes para tornar o valor ao consumidor algo mais explícito, o próximo passo é fazer as coisas acontecerem, o que só é possível colocando o produto no mercado. Enquanto o produto não está no mercado, ou seja, nas lojas e nas peças de comunicação, em condição de os consumidores o acessarem, analisarem e avaliarem, ele não oferece valor algum. Na fábrica ou nos depósitos, o produto não passa de um custo que promete. Só a experiência de mercado torna a promessa uma realidade. Colocar o produto no mercado envolve dois passos interligados: 1) apresentar o produto aos clientes para mostrar o potencial que ele tem para vender mais, fazê-los acreditar na proposta (comprar); 2) apresentar o produto aos consumidores e estimulá-los a comprar. É o chamado “momento da verdade” para os produtos, quando os consumidores entrarão em contato, analisarão o que é prometido, decidirão se compram e por fi m, em caso positivo, experimentarão o produto e classifi carão essa experiência. C E D E R J 109 A U LA 3 Processos de oferecimento do valor Processos que capacitam o oferecimento do valor para os consumidores, tais como: serviços de entrega; gerenciamento do relacionamento com clientes e consumidores; gerenciamento da logística; estratégias de comunicação; melhorias de produto e serviço; serviço de apoio aos clientes e ação da força de vendas. !!!! As empresas podem desenvolver várias atividades que promovam uma entrega efi ciente do valor aos seus clientes e consumidores. Por exemplo, uma empresa pode se diferenciar se ela tiver um serviço de entrega ao cliente que seja pontual, preciso, rápido e confi ável. Ela perderá muito se não for capaz de entregar as compras dos seus clientes de acordo com as condições estabelecidas na hora da negociação. Ela também pode se diferenciar dos concorrentes através dos serviços de atendimento e pós-venda, demonstrando real interesse pelos consumidores, procurando saber como foi a experiência de consumo, respondendo aos questionamentos, críticas e sugestões. Isso pode ser feito através do uso de telefone, procurando contato com os consumidores ou através dos serviços de atendimento ao consumidor (SAC). Os famosos SAC têm potencial para responder rapidamente aos pedidos dos consumidores; a efi ciência dos mesmos depende apenas do interesse da empresa. A forma como a empresa comunica seus produtos e como elase comunica com o mercado também são fatores importantes na oferta de valor superior. A comunicação infl uencia centralmente a percepção das pessoas, levando-as a criar imagens positivas ou negativas dos produtos. Se uma empresa quer que seus produtos ofereçam benefício social aos seus consumidores, sua comunicação tem de reforçar os símbolos e situações que gerem o status desejado pelas pessoas, e a propaganda, principalmente, tem papel central nesse processo. Se por outro lado, a empresa quer reforçar o benefício funcional, a propaganda tem que dar ênfase aos atributos que geram esse benefício. 110 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 É nessa hora que assume evidência e importância os temas abordados na Aula 2: tamanho das empresas; posição que ocupam na cadeia de suprimento; setor econômico em que operam; nível de competição no setor e posição no ranking; sofi sticação do mercado atendido, segmento de mercado atendido; país de origem e nível cultural de donos e gerentes; padrão de regulação do negócio e orientação de marketing adotada pela empresa. Certamente esses fatores irão explicar o padrão de desempenho da empresa no mercado. Cabe a você, como gerente e conhecedor dessas questões, estudá-las mais a fundo e transformar a realidade da empresa. Nesta atividade voltaremos ao fabricante de móveis MoniDani. Considere a hipótese de a empresa decidir pela atuação na venda de móveis para bebês e crianças até cinco anos. Você é o responsável pelo lançamento da nova linha de produtos, logo deve responder a algumas perguntas: – Como você descreve este consumidor? Aponte quem são os principais atores a serem considerados na decisão da compra do produto e justifi que o porquê. – O que você faria para conhecer melhor o segmento de consumo escolhido? Que informações seriam importantes de obter? Nesta questão procure usar os conceitos de benefícios e custos vistos na Aula 2. – Descreva seus concorrentes. Nesta questão você deverá ir a uma ou duas lojas de móveis da sua cidade para ver o que elas têm de produtos para esse segmento. As questões a seguir devem ser baseadas nos processos mercadológicos: defi nição, desenvolvimento e entrega do valor ao cliente. – Escolha uma categoria de produto; berços, por exemplo, e aponte qual será a proposta de valor ofertada por essa linha da MoniDani. Justifi que o porquê da escolha. – Que outras decisões serão tomadas para desenvolver e entregar esse valor? Atividade Final C E D E R J 111 A U LA 3 Respostas Comentadas Nesse caso, não se trata propriamente de consumidores, mas de usuários que serão crianças (meninos e meninas) de até cinco anos de idade. Os atores a serem considerados podem ser muitos, e quanto mais abrangente a visão da empresa, mas rica pode ser a abordagem de Marketing. Nesse caso, o importante é considerar o papel desempenhado por cada ator. Tem-se: compradores e infl uenciadores. Os compradores serão os pais, parentes ou padrinhos. Na ocasião do nascimento do bebê ou de aniversários, esses atores sempre aparecem e sempre carecem de auxílio na busca dos produtos para esse tipo de usuário. Os cuidados são muitos e cercar-se de precaução evita que os custos psicológicos e comportamentais cresçam e ameacem os benefícios. Os infl uenciadores podem ser: pediatras, parentes e amigos de confi ança e com experiência anterior. O depoimento dessas pessoas exerce papel fundamental na decisão de compra, pois eles sabem o “caminho das pedras” e dão das dicas que os compradores acham centrais. Conhecidos os atores, é importante saber mais sobre eles. Ao fazer opção por atender ao mercado de móveis para crianças de até cinco anos, sua empresa certamente escolheu um segmento do mercado para fazer negócio. De maneira superfi cial, pode-se dizer que ela escolheu entre fazer móveis para um público mais sensível a preço ou para um público mais sensível à qualidade e diferenciação. É assim que ela escolheu competir (na Aula 6, esse tema será melhor explorado). As informações mais importantes serão: idade dos casais; número de fi lhos; nível de renda; estilo de vida; padrão de ocupação; valores e comportamentos; formação profi ssional; tamanho das residências; padrão das famílias (avós? Tios? Primos?); se possuem carro etc. Por que reunir tanta informação? Por que elas dão sinais sobre os elementos mais importantes para desenvolver e oferecer valor para os clientes e consumidores? Como alcançar essas informações? Fazendo pesquisa ou observações em shoppings, lojas de shoppings, lojas de shoppings rua, consultórios médicos, feiras de gestantes e bebês etc. 112 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing enquanto função gerencial: o composto de Marketing A U LA 3 O Marketing pode ser visto por três ângulos diferentes. Como disciplina acadêmica, o Marketing é uma área cheia de desafios. Dentre eles destacamos: entender de forma mais acurada o que pensam e sentem os clientes e consumidores e entender como os fatores externos às pessoas interferem nas decisões de consumo. É através desses estudos que a prática gerencial de Marketing é transformada. Como fi losofi a de negócio, o Marketing representa o principal diferencial competitivo para pequenas e médias empresas. Simples de entender: se a crença em se preocupar em satisfazer os clientes e os consumidores não estiver impregnada nas pessoas que dão vida a essas empresas, o seu desempenho será nulo. As pessoas precisam acreditar que elas fazem a diferença, pois nas pequenas e médias empresas o Marketing é responsabilidade de todos, ou seja, cada um tem responsabilidade sobre a tarefa de desenvolver preferência pelos produtos, de infl uenciar positivamente a percepção de clientes e consumidores. É importante lembrar que geralmente pequenas e médias empresas não dispõem de tecnologia de ponta, dos profi ssionais mais qualifi cados, da proteção fornecida por patentes, do dinheiro sufi ciente para ter um grande orçamento de Marketing etc. Como função gerencial, o marketing responde pela condução dos processos mercadológicos, ou seja, pela gerência do conjunto de atividades integradas a serem desenvolvidas pela área de Marketing visando capacitar a empresa a oferecer valor superior ao mercado. Também pode ser entendida como uma estrutura analítica que facilita o desenvolvimento de estratégias de Marketing. Sem essa estrutura, que fornece uma lógica para o funcionamento do departamento de Marketing, as pessoas fi carão perdidas sem saber o que fazer. Logicamente, os objetivos e metas de Marketing não serão alcançados. Sem essa lógica estruturada, oferecida pelos processos mercadológicos, o quê e como fazer para vender mais para clientes e consumidores atuais? Para tirar consumidores dos produtos concorrentes? Para conquistar novos clientes e consumidores? Para entrar em novos mercados? Todos os processos mercadológicos são orientados às decisões centrais do Marketing, aquelas relacionadas ao composto de Marketing: produto, preço, R E S U M O C E D E R J 113 A U LA 3 praça e promoção. Com certeza as melhores propostas de valor superior encontradas nos mercados de consumo são as que dão relevo estratégico ao papel que os seguintes itens – políticas de produto, preço distribuição e promoção – desempenham na satisfação dos consumidores. INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula você aprenderá a importância da informação na gerência dos processos mercadológicos de uma empresa. Como decidir sobre o destino do orçamento de Marketing sem ter a mínima noção do que realmente acontece no mercado consumidor? O que fazer em relação aos produtos, preços, distribuição e promoção sem saber nada sobre os mercados a serem atendidos? Com certeza, os gerentes de marketing das empresas mais profi ssionalizadas nãose baseiam na sorte para decidir, e para isso eles procuram disponibilizar informação sufi ciente para que seus profi ssionais não cometam erros graves. Até lá.nas ruas das cidades. A maneira como o espaço da cidade foi construído – a presença de ruas, lojas, casas, gente circulando, carros passando – fala dos modos como a sociedade se vê e se entende, os sistemas de classifi cação que organizam esta realidade. E, se decidir pelo shopping, qual escolher? Escolhido o shopping, continua a difi culdade de decidir em qual loja entrar, qual marca escolher, comprar ou não comprar? Cada uma dessas decisões que tomamos é permeada pelo ambiente cultural em que estamos inseridos e pelos 18 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? valores, hábitos e costumes que preservamos. A intimidade que se percebe nas pessoas mais jovens quando percorrem os shoppings – ao contrário do estranhamento vivenciado pelos mais velhos – explica bem os diferentes signifi cados construídos pelas gerações na forma de entender e conduzir a vida. Voltemos ao assunto principal desta aula: quando decidimos comprar, passamos a fazer parte daquilo que o Marketing considera D E M A N D A . No momento em que assumimos a decisão de comprar, esses desejos se tornam reais, traduzidos em produtos e marcas determinadas. Para os gestores da empresa, é preciso que haja demanda para que ocorra a troca. Por quê? Troca, num sentido bem amplo, signifi ca alguém dando algo que lhe é de valor para receber algo também de grande valia. Pressupõe a interação entre, pelo menos, dois atores: um que vende e um que compra. A transação ocorrerá se cada um considerar de valor o que o outro tem, e se estiver disposto a negociar – com a liberdade de aceitar ou rejeitar a oferta do outro. No mundo do consumo, as empresas querem que os consumidores comprem seus produtos. Logo, a tarefa do Marketing é estimular as trocas e gerar transações, ou seja, promover unidades de medida de troca. Troca Transação Unidades de medida Figura 1.4: No Marketing, estabelecer uma unidade de medida para as trocas e transações é um dos desafi os centrais. Entretanto, como atualmente existe grande concorrência, as empresas precisam buscar um objetivo maior nas trocas: a criação de um ciclo de relacionamento contínuo, isto é, fazer com que as pessoas se tornem fi éis ao produto e à marca da empresa. A isso chamamos fi delização do cliente, assunto que você vai estudar mais à frente. Por isso, os aspectos envolvidos na decisão da compra não são apenas os econômicos, existe muito simbolismo na compra. Quer dizer, o produto ou serviço que compramos tem outros signifi cados para nós, diferentes do que o simples valor de uso. . DE M A N D A No Marketing, existe demanda quando há pessoas interessadas em comprar e com dinheiro para fazê-lo. C E D E R J 19 A U LA 1 Quantas vezes, ao comprar uma calça jeans, nós nos identifi camos com o estilo de vida que a marca divulga na propaganda! O mesmo vale para outros produtos, até os mais insignifi cantes do ponto de vista de seu valor. A preferência por uma marca de refrigerante ou de cerveja, por exemplo, leva em conta certamente os aspectos que são destacados na propaganda, como o estilo de vida jovem, o convívio entre amigos, a busca da alegria, do prazer etc. Os conceitos servem para dar conteúdo a uma idéia. Até aqui falamos sobre necessidades, desejos, trocas e transações, conceitos esses que fazem parte de nosso dia-a-dia. Então, baseado nisso, relate situações de sua vida em que estas idéias apareçam e diga como você as vivenciou. Escreva até 20 linhas. Ao fi nal, vá até o grupo de estudos da disciplina, localize a atividade e envie um post com seus principais relatos. Não deixe de conferir outros posts e tente entender como as experiências podem ser distintas. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Atividade 1 1 20 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Comentário Existem dois momentos bem comuns em nossas vidas, e que estão intimamente ligados com a atividade do Marketing. O primeiro é a sensação de precisar de alguma coisa ou da ajuda de alguém, e o segundo é a sensação de querer algo que ainda não temos, mas que sua posse nos fará bem realizados. Assim você começa a pensar em como necessidades, desejos, trocas e transações fazem parte da vida das pessoas e das empresas. Necessidades e desejos: diariamente você sente fome, desloca-se para realizar as atividades centrais da sua vida (estudo, trabalho, ser consultado etc.). Em uma freqüência mais baixa, você compra materiais de trabalho, compra roupas para poder viver e mesmo adquire um telefone celular para poder ser alcançado por seus parentes e amigos mais facilmente. Ao fazer isso, você está satisfazendo necessidades. Você precisava dessas coisas e a elas atribuía uma importância prática, satisfazia-as e pronto. Você tinha uma carência funcional. Entretanto, você já comprou uma calça, uma camisa, um tênis, um aparelho celular com câmera ou um aparelho de som que foram bastante cobiçados por você. Você desejava essas coisas, e ao comprá-las você satisfez uma carência emocional. Trocas e transações: ao almoçar em um mesmo restaurante várias vezes durante a semana; comprar pão diariamente em uma mesma padaria ou voltar a uma papelaria ou loja de roupa para comprar um outro item que se fazia necessário, você o faz porque confi a nessas empresas e sabe que elas não o prejudicarão, vendendo produtos que não funcionam bem ou lhe causam problemas. Você age com lealdade em troca dessa consideração que eles têm por seus consumidores. Você comprou o tênis daquela marca badalada porque sabia que ao usá-lo você iria se destacar junto ao grupo e receberia elogios pelo bom gosto em se vestir e, provavelmente, passaria uma imagem de pessoa sofi sticada ou independente. Ao adquirir estes produtos, as transações ocorreram, você comprou com dinheiro, cheque ou cartão, pagando à vista ou contraindo um crédito junto às empresas. As outras duas questões enunciadas no início da aula – o que é uma empresa e qual o seu objetivo – estão relacionadas, e abordá-las agora fará com que você entenda com mais facilidade o que é Marketing e sua importância para as empresas. Veja os próximos itens. C E D E R J 21 A U LA 1 EMPRESA: TRANSFORMANDO RECURSOS EM SOLUÇÕES DE CONSUMO As empresas sempre atuam lado a lado, constituindo o cenário onde se realizam os negócios.Como corpo social, as empresas desenvolvem valores e crenças que estão sedimentados na mente daqueles que as comandam. Entender uma empresa como um ator relacionando-se com outros atores, num cenário de negócios, impõe considerar algumas coisas: as diversas interações que formam todo o contexto de negócios; as dinâmicas que ditam o ritmo dessas interações; os papéis exercidos por todos os diferentes atores. Observando atentamente a Figura 1.5, você percebe dois aspectos já destacados: interações e papéis exercidos. As setas localizam as interações e os quadros destacam os papéis exercidos. A dinâmica das interações você verá adiante. Indústria de alimentos Agropecuária Siderurgia Petróleo Ingredientes Embalagens Máquinas Atacado Distribuidor Atacado Distribuidor Bares Restaurantes Grande varejo Pequeno varejo Consumidor fi nal Economia Cultura Natureza Tecnologia Política Demografi a Mídia Universidade Financistas ONGs Associações Figura 1.5: Interações e papéis nos negócios. 22 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? A Figura 1.4 traz a representação de um cenário de negócios típico de um importante setor econômico: o dos alimentos. O quadro cinza realça um ator específi co, a indústria de alimentos, que deve servir de referência para que você entenda o conceito de empresa como transformadora de recursos diversos em soluções de consumo. Agora pense na sua marca de biscoitos favorita e olhe novamente a fi gura. Você consegue perceber que diversas interações foram necessárias e diferentes papéis foram exercidos até que o biscoito chegasse à sua mão? Muitas transações ocorreram, materiais foram transportados, armazenados e processados. Agora seja mais específi co e considere um biscoito do tipo recheado e com sabor de chocolate. O biscoito é uma solução de consumo que satisfaz um desejo ou carência sua. Até ele sair da fábrica, havia apenas trigo, gordura, ovos, açúcar, chocolate, embalagens, máquinas etc. – produtos que são fornecidos por outros atores (empresas), que, por sua vez, compraram recursos de outros atores e os transformaram em soluções de consumo para o fabricante do biscoito. E agora, está clara para você a idéia de que uma empresa transforma recursos em soluções de consumo? Qual seria, então, o papel do Marketing nesse contexto? Em um ambiente com muita competição, cada ator empresarial precisará mostrar para os compradores que sua solução de consumo é a melhor. E tudo começa na sua decisão de comprar o biscoito e sua marca favorita. Certamente o fabricante do biscoito levou você a crer que a marca dele era a melhor. Você comprou o biscoito no local de sua preferência – grande varejo, pequeno varejo. Para o biscoito chegar até o local de venda, a indústria o vendeu direto para o grande varejista ou usou atacadistas e distribuidores para fazê-lo chegar aos pequenos varejistas, bares e restaurantes. Estes só atuaram porque acreditam que aquele biscoito vende bem e não encalha. Os diversos fornecedores tiveram de mostrar à indústria que eles tinham os melhores ingredientes para quem deseja fabricar os melhores biscoitos. Como você observou, o papel que o Marketing desempenha numa empresa é o de gerar demanda, que nesse caso podemos entender como “preferência”, para suas soluções de consumo. E esse papel assumirá feições diferentes em função da posição das empresas dentro do cenário de negócios. Como consumidor, você é infl uenciado pelas C E D E R J 23 A U LA 1 ações de Marketing dos fabricantes e dos locais de vendas dos produtos. Os varejistas e bares, por sua vez, são infl uenciados pelas ações de Marketing do fabricante e dos diversos atacadistas e distribuidores existentes. O fabricante também infl uencia os atacadistas e distribuidores. Observe a fi gura a seguir. As setas pontilhadas indicam todas as possíveis ações de Marketing. É visível que os fabricantes desenvolvam mais ações de Marketing do que os varejistas, por exemplo. Essas ações de Marketing, além de variar na quantidade para cada ator, variarão na intensidade e na natureza. Os atacadistas, distribuidores e varejistas são clientes do fabricante, enquanto você é o consumidor dos biscoitos desse fabricante; os varejistas são os clientes dos atacadistas e distribuidores – o importante é você perceber que os papéis mudam em cada parte do cenário de negócios. Indústria de alimentos Atacado Distribuidor Atacado Distribuidor Pequeno varejo Grande varejo Bares Restaurantes Consumidor fi nal Figura 1.6: Direção das ações de Marketing no fl uxo de negócios. As ações mais comuns constituem o uso de propaganda em TV, rádio, revistas, a prática de promoções de vendas, patrocínios, materiais no ponto-de-venda e muitos mais, que você irá aprender na disciplina Estratégia de Marketing. Agora reveja a Figura 1.5. Você observou que existem outros atores empresariais além daqueles encarregados das transações de compra e venda. A mídia, as universidades, os fi nancistas, as ONGs e demais associações também desempenham um papel fundamental no cenário de negócios, pois suas ações podem infl uenciar signifi cativamente a 24 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? dinâmica das interações. Uma ONG como o Greenpeace, por exemplo, pode descobrir que o fabricante utiliza soja geneticamente modifi cada em seu biscoito e começar uma campanha contra a empresa, seus produtos e suas marcas. As ações de Marketing do Greenpeace tentarão infl uenciar o seu comportamento, levando você a não comprar mais aquela marca. ?? Na parte superior da Figura 1.5 existem as setas indicando a infl uência de fatores como a economia, a tecnologia e a natureza etc. sobre o cenário de negócios. De fato, essa infl uência é forte e será mais bem analisada em aulas posteriores. EMPRESA: SATISFAZER CLIENTES E CONSUMIDORES É A RAZÃO DA SUA EXISTÊNCIA Na apresentação desta aula, você leu que satisfazer clientes e consumidores é a razão da existência das empresas. Você acredita nesta afi rmação? Existe uma linha de pensamento, bem lógica por sinal, que diz que o objetivo das empresas é gerar lucro. Sim, é verdade, sem lucro uma empresa não remunerará o capital nela investido pelo(s) dono(s). O lucro não depende apenas da efi ciência produtiva e da capacidade de venda de O Greenpeace é uma ONG (organização não-governamental) multinacional fundada em 1971. Atua em pelo menos cinco áreas diferentes: ecologia oceânica, selvas tropicais, Antártica, substâncias tóxicas, energia nuclear e atmosfera. Ele atua por meio de ações diretas, que atraem a atenção da mídia, muitas vezes impedindo que um processo de agressão ambiental aconteça. Além disso, a ONG elabora estudos científi cos sobre os problemas ecológicos mais graves do planeta. Para conhecer mais sobre ela, visite sua página na internet: http://www.greenpeace.org.br/ C E D E R J 25 A U LA 1 uma empresa. O lucro vem, principalmente, da capacidade da empresa de revender continuamente seus produtos para os mesmos clientes e consumidores. Se estes são fi éis, isto é, “recompram” continuamente as soluções de consumo ofertadas, é porque eles estão satisfeitos e ainda não encontraram razões para trocar de marca, produto e vendedor. Assim, o lucro sozinho não sustenta os objetivos de uma empresa ao longo de sua vida. O lucro é fundamental, condição (e não alvo) para manter vivo um negócio (nas disciplinas da área fi nanceira você verá conceitos que reforçam essa afi rmação). O objetivo de toda empresa se traduz naquilo que ela traz de benefício ao ambiente que a cerca. O objetivo está fora, está na sociedade. Quanto mais a empresa se capacita a responder às demandas do mercado, mais negócios ela realiza e mais resultados recolhe na forma de lucro e imagem. Isto signifi ca queos objetivos de uma empresa formam, de alguma maneira, um círculo: para que existam lucros, é preciso haver consonância com o mercado e, por outro lado, essa consonância é a condição para que a empresa realize lucros. ? Como você pode observar, não é apenas a infl uência do Marketing que leva ao estabelecimento de uma postura de fi delidade por parte dos clientes e consumidores. Os produtos precisam ter qualidade, ser feitos nos padrões esperados pelo mercado (consumidores, associações, atacadistas, distribuidores, varejistas). Portanto, apenas a ação de Marketing não é capaz de gerar fi delidade por parte dos consumidores. “O lucro é uma condição de sobrevivência da empresa. É o custo do futuro, o custo de se manter funcionando” (DRUCKER, 1975, p. 1.230). 26 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Considere uma empresa qualquer na cidade em que você mora. Nos próximos dias, vá visitá-la pensando nas questões que você leu até aqui: o que é uma empresa, como ela se organiza internamente; como ela faz parte de um conjunto de atores organizacionais que constituem a dinâmica dos negócios, e de que maneira ela elabora seus produtos ou serviços até chegarem ao mercado consumidor. Lembre-se: o segredo do melhor consultor está em sua capacidade de olhar, observar e descrever o que viu, sem julgar. Escreva tudo, não importa se parecer que não é importante. É assim que você começa a se preparar para ser um empreendedor, um consultor e um gestor com ampla visão sobre os negócios. Descreva a empresa que você visitou e/ou e como ela se organiza de maneira a explicitar sua dinâmica. Siga os itens que foram explicitados. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Comentário Não existe uma resposta única para este exercício, já que as opções são muitas. Suponhamos, no entanto, que você tenha escolhido o supermercado em que sua família faz as compras do mês. Trata-se de uma empresa que atua em um cenário de negócios bem interessante. Ele está localizado em um bairro e atende às pessoas desse bairro e certamente pessoas de outros bairros também, pois os supermercados costumam ser visitados por pessoas que vivem num raio grande, principalmente quando eles são conhecidos como barateiros, satisfazendo com competência os clientes. Por ser um supermercado e atender, na sua grande maioria, clientes para compras grandes (as chamadas compras do mês), ele Atividade 2 2 C E D E R J 27 A U LA 1 tem seus produtos divididos em seções: açougue; laticínios; padaria; massas e biscoitos; higiene; limpeza; frutas, legumes e verduras; utensílios para casa etc. Certamente, os produtos e marcas expostos ali refl etem as preferências das pessoas, dentre elas as da sua casa. Esses produtos são comprados diretamente dos fabricantes (quando se trata de grandes volumes) ou de distribuidores e atacadistas (quando se trata de pequenos volumes ou entregas freqüentes). Diariamente a loja recebe limpeza; prateleiras são preenchidas para que as pessoas façam suas compras; produtos são embalados nas seções de açougue e laticínios; caixas de compras são entregues em residências. Sem esse preparo e serviços, as coisas não funcionarão direito e o supermercado não vai satisfazer seus clientes. Quando as pessoas estiverem em casa e consumirem sem problemas os produtos que compraram no supermercado, elas se tornarão consumidores satisfeitos com aquelas marcas. Agora, se você escolheu outro tipo de empresa, não desanime. Basta que siga o modelo que acabou de ler! AFINAL, ESTAMOS NUMA AULA DE ECONOMIA, DE SOCIOLOGIA OU DE MARKETING? O fascínio que o Marketing exerce sobre seus aprendizes é esse: as transações ocorrem no dia-a-dia das pessoas; dizem respeito às questões mercadológicas e também econômicas, de comunicação, sociológicas, psicológicas, antropológicas e históricas. Entender de Marketing exige conhecer um pouco de cada uma destas ciências. Muita gente pensa em Marketing como propaganda ou venda. A propaganda e a venda, como você verá em outra aula, fazem parte de um conjunto de ferramentas chamadas Composto de Marketing, empregadas pelos executivos de Marketing em sua atuação. Porém a ação de marketing é muito mais ampla. Não por acaso, a palavra está posta no gerúndio: Comprando e vendendo em mercados TO MARKET + ING 28 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Agora que refl etimos sobre nossos hábitos, desejos e carências e sobre como as empresas se organizam para nos satisfazer, já podemos partir para uma defi nição formal de Marketing. Que tal esta? Marketing é o processo de planejamento e execução da concepção, defi nição de preços, promoção e distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam objetivos individuais e organizacionais. American Marketing Association (AMA). Essa defi nição traz muitos conceitos, correto? Vamos trabalhar esses conceitos nas próximas aulas. A primeira coisa que você deve ter em mente é que Marketing é um processo, ou seja, uma sucessão de atividades interligadas, produzidas nas empresas para o desenvolvimento do mercado. E, como todo processo, ele tem de ter início, meio e fi m bem defi nidos, para que seja avaliado corretamente. Então, para entender as atividades produzidas pelo Marketing é preciso falar em mercados. Mercados são os lugares potenciais, movimentados, dinâmicos, muitas vezes instáveis, onde ocorrem as transações, seja em ambientes reais ou virtuais, daí se falar em marketplace e marketspace. Antes de tudo, entenda que mercados são pessoas. Dependendo da posição da empresa no cenário de negócios (como você acabou de ver), estas pessoas são clientes ou consumidores. Aqueles que fazem uso do produto são os consumidores (indivíduos), enquanto aqueles que revendem os produtos ou os utilizam em qualquer processo de produção são os clientes (organizações). Os mercados são constituídos em função dos usos que se fazem dos produtos. Por exemplo: o MERCADO ORGANIZACIONAL (também chamado por alguns autores de Figura 1.7: Produzir e vender bens e serviços para outras empresas caracteriza este mercado. Fonte: www.sxc.hu/photo/493246 O contato que nós, consumidores, temos com esse mercado é menos visível e constante. Somente nos damos conta da importância do fabricante e dos revendedores quando fazemos contato com uma empresa como a Brastemp, por exemplo, porque o aparelho de microondas não funciona. Ou quando precisamostrocar uma peça do carro e a loja de peças não a possui em estoque. O que nos torna consumidores, diferentemente, é o fato de usarmos os bens como destino fi nal: para consumo. ME RC A D O O R G A N I Z A C I O N A L C E D E R J 29 A U LA 1 mercado industrial) se caracteriza por produzir e vender bens e serviços para outras empresas, através de profi ssionais de compras capazes de avaliar ofertas competitivas. Os compradores organizacionais variam enormemente, desde uma pequena ofi cina mecânica, passando por uma indústria como a Sadia, a um complexo sistema governamental como a Receita Federal. Independentemente do porte e do ramo em que se situe, o negócio dessas empresas é comprar bens ou serviços que se incorporarão à fabricação de um outro produto ou serviço ou que possam ser revendidos a terceiros. Por lidarem com grande número de itens e compradores, boa parte dessas empresas utiliza sofi sticados sistemas de informação, que facilitam – por meio de parcerias – as comunicações e decisões entre fabricantes e intermediários. O M E RC A D O C O N S U M I D O R é um mercado fascinante: o fato de vivermos em um processo de globalização dos negócios faz com que empresas do mundo todo disputem os mesmos consumidores. Marcas internacionais convivem com marcas nacionais, regionais e locais nas mesmas lojas e supermercados. Por conta disso, vivemos um momento de muitas opções. Por outro lado, a grande “jogada” das empresas consiste em comercializar bens e serviços cujas marcas detenham imagem superior. Gerentes de marcas como Brahma, Sadia, Benneton, Brastemp e Havaianas, dentre outras, estão sempre sondando, através de pesquisa, como pensam, comportam-se e de que maneira reagem os consumidores (não somente os consumidores de suas marcas, mas todos os consumidores). Estas pesquisas são as bases a partir das quais bens e serviços serão construídos (ou reformulados) e oferecidos. Quando as empresas decidem vender seus bens e serviços em outros países, e isso é bastante comum hoje em dia, estamos diante do que ME RC A D O C O N S U M I D O R O que caracteriza o mercado consumidor é o uso fi nal dos bens e serviços. 30 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? pode ser chamado de M E RC A D O G L O B A L . A decisão de exportar sempre implica riscos e envolve obrigatoriamente o levantamento cuidadoso das características, hábitos e costumes do outro país. É preciso que a empresa adapte as características de seus produtos e serviços ao país em questão, levando em conta o sistema jurídico ali existente, a moeda, as práticas culturais e econômicas e as formas de negociação. Exige, desde pronto, a decisão de como essa relação será constituída – se a empresa atuará como exportadora, como franqueadora, Figura 1.8: Contêineres marítimos prontos para embarcar produtos. Quando uma empresa decide exportar, ela precisa, antes de qualquer outra coisa, conhecer algumas características dos outros países. Fonte: www.sxc.hu/photo/270315 ME RC A D O G L O B A L Por mercado global entendem-se as trocas geradas pelas transações de bens e serviços em outros países. C E D E R J 31 A U LA 1 Você sabia que o termo big brother foi criado por George Orwell em seu livro 1984? Nele, Orwell satiriza uma sociedade em que o Estado – o big brother – é onipresente e tudo vê com a capacidade de alterar a história e o idioma, de oprimir e torturar o povo e de travar uma guerra sem fim – com o único objetivo de manter a sua estrutura inabalada. Fonte: http://www.submarino.com.br/books_productde tails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=7 1583&franq=130516 ou parceira em J O I N T-V E N T U R E , fabricante sob contrato ou fabricante autônoma. Seja como for, a empresa precisa adaptar as características de seus produtos e serviços ao país visado, os preços, as formas de comunicação e distribuição para que se ajustem às condições locais. Ao contrário da maioria das empresas, pode-se falar de um espaço de mercado onde atuam empresas que não visam a fi ns lucrativos, também conhecidas como fi lantrópicas. É o caso de órgãos públicos, igrejas, algumas fundações. Envolve, também, o mercado do T E RC E I RO S E T O R , com a presença de ONGs – organizações não-governamentais – e de cooperativas. As negociações aqui seguem regras diferenciadas, que privilegiam a responsabilidade pelos resultados sociais. O CENTRO DAS TROCAS: BENS, PRODUTOS E SERVIÇOS Você já tem uma idéia de como o grande espaço das trocas se organiza. Agora você precisa ter clareza daquilo que, ali, representa o principal papel: os bens. O bem, conceito econômico, também chamado produto ou serviço, é o resultado dos esforços de produção e de desempenho das empresas. Incluem produtos, serviços, idéias, organizações, empresas, lugares, propriedades, eventos, pessoas e experiências. Tudo pode ser comercializado; daí se falar em Marketing pessoal, Marketing esportivo, cultural, Marketing turístico, Marketing de lazer, Marketing imobiliário, Marketing institucional ou corporativo, Marketing de idéias etc. Nos dias que correm, em que tudo, até mesmo o próprio corpo e a intimidade da vida cotidiana, é posto na vitrine – veja a respeito o programa Big Brother – é preciso um esforço de refl exão de nossa parte para que não nos tornemos também objetos de troca. JO I N T- V E N T U R E Entende-se por joint-venture a sociedade em conta de participação ou empreendimento conjunto. É uma das estratégias alternativas de entrada e operação em mercados externos. TE RC E I RO S E T O R O terceiro setor é uma terminologia usada para dar signifi cado às iniciativas privadas com fi ns de utilidade pública. Para tanto, esse setor amplia os recursos e competências necessárias para o enfrentamento dos grandes desafi os nacionais e internacionais, como o combate à pobreza e a incorporação dos excluídos aos direitos básicos de cidadania. 32 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Você pode perceber agora que esta atividade “mágica” que chamamos Marketing está por trás de todo e qualquer empreendimento. O objetivo do Marketing ou da Administração Mercadológica, então, é desenvolver mercados, seja criar, aumentar, desenvolver ou sustentar a demanda. A Administração mercadológica é o termo mais usado para identifi car as disciplinas acadêmicas que no Brasil abordam a estratégica atividade de desenvolvimento de mercados, também chamada Marketing. Ao longo das disciplinas Gestão de Marketing, Comportamento do Consumidor, Marketing Estratégico e Gestão de Vendas, você irá explorar o atraente e complexo universo responsável pelas atividades de desenvolvimento de mercados, atividades que se tornaram imprescindíveis para o funcionamento das empresas, tenham ou não fi ns lucrativos. O QUE É PRODUTO? O QUE É SERVIÇO? O grande esforço de produção e comercialização da maioria dos países está concentrado em produtos e serviços. Há diferenças importantes entre produtos e serviços que você precisa saber. Quando pensamos em um bem (ou produto), imaginamos um objeto que podemos tocar, sentir, apalpar, cheirar, experimentar. Por isso dizemos que os produtos são tangíveis. Os serviços, ao contrário, são intangíveis, porque não podem ser testados antes de adquiridos. E esta é a primeira diferença entre produtos e serviços. Segundo Philip Kotler (2000, p. 448), serviço é qualquer ato ou desempenho que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta em propriedade de nada. Quando se fala em serviço, a palavra-chave é atendimento, o que o torna, ao contrário dos produtos, difícil de ser controlado, porque as pessoas não se comportam como máquinas. Os serviços ainda têm mais três características: inseparabilidade: os serviços são desempenhadose consumidos simultaneamente; variabilidade: os serviços dependem de quem os oferece, além de onde e quando são oferecidos – o que os torna altamente variáveis. A qualidade do atendimento determinará o nível do serviço prestado; C E D E R J 33 A U LA 1 perecibilidade: os serviços não podem ser estocados, o que obriga as empresas a elaborar estritos controles sobre o desempenho e a qualidade do serviço prestado. VALOR E SERVIÇO ANDAM JUNTOS. POR QUÊ? A sociedade pós-industrial se caracteriza pela abundância de ofertas de produtos, freqüentemente apoiados em forte qualidade de serviços. É o caso do comércio produzido nos shoppings. Cada vez mais a força de atração do produto ofertado depende da atitude do pessoal de venda, das promoções, do layout da loja, do ambiente de luz e som. Como as butiques concorrem entre si em busca de experiências agradáveis de consumo, os consumidores comparam as ofertas, seja o produto ou serviço em si, seja a atmosfera que a compra proporciona. Figura 1.9: Como a oferta dos produtos, num shopping, é muito grande, ganha a preferência do consumidor a loja que conseguir o casamento perfeito entre bons produtos e bons serviços. Portanto, produtos + serviços = oferta de valor. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/26649 34 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? O conjunto de benefícios esperados pelos clientes se traduz em sua expectativa de valor. Então as empresas entendem que o valor entregue a quem compra é o resultado da diferença entre o valor total e o custo total para o cliente. Para ele, o custo total inclui o desembolso fi nanceiro somado aos custos de tempo, de esforço físico e psíquico ou psicológico. Quantas vezes esses custos não-monetários também são decisivos! A comodidade e conveniência de encontrar um produto no percurso entre o trabalho e a casa é, por vezes, muito maior do que freqüentar o supermercado escolhido. Por isso dizemos que valor e serviço andam juntos. Por quê? A empresa pode melhorar os benefícios relacionados ao produto, aos serviços, ao pessoal ou à imagem. Esses benefícios podem estar expressos na melhoria do produto nos níveis de confi abilidade, durabilidade, desempenho e valor de revenda. Ou na incorporação de serviços de entrega, treinamento e manutenção da força de venda, no treinamento do pessoal de linha de frente e/ou na elaboração de uma imagem corporativa forte. A probabilidade de satisfação e repetição da compra dependerá de o nível de atendimento atingido pela oferta corresponder às expectativas de valor do cliente. Então, a satisfação ou desapontamento com um produto ou serviço ocorrerá pela comparação do desempenho efetivo em relação às expectativas do comprador. POR QUE MARKETING TORNOU-SE TÃO IMPORTANTE EM NOSSOS DIAS? Você acha que devemos aceitar como normal um atendimento mal-feito? Lojas e salas sujas e mal arrumadas? Venda de produtos e serviços que não cumprem o que foi prometido? Difi culdade para encontrar aquilo que precisamos? Venda de produtos e serviços cujos preços são altos demais? Falta de um canal de contato com as empresas para reclamar ou elogiar seus produtos e serviços? Ainda que tais coisas sejam inadmissíveis, muitas empresas agem dessa forma, não é verdade? No entanto, cada vez existirão menos empresas assim, pois o cliente, aquele que irá comprar, vender e consumir seus produtos e serviços, sempre estará buscando o melhor. C E D E R J 35 A U LA 1 Sem cidadãos satisfeitos e em busca dos seus serviços, empresas públicas não conseguem justifi car sua existência. Sem os consumidores de seus produtos e serviços, empresas com fi ns lucrativos vão à falência. Sem eleitores que acreditem e defendam suas idéias, projetos e planos, partidos políticos não conseguem crescer. Enfi m, satisfazer seus clientes é a razão da existência das empresas. A atividade de desenvolvimento de mercados começa, então, para aqueles que comandam as empresas, pela adoção do seguinte princípio: clientes e consumidores satisfeitos e fi éis são fundamentais para a existência das empresas. Durante este curso, você irá notar que, sem a adoção e a crença nesse princípio, tudo se torna mais difícil para as empresas. Antecipando-se aos fatos: o presente é importante, mas é o futuro que importa. E, com o passado, temos muito a aprender. Leia o caso a seguir: A Monidani é uma empresa fabricante de móveis de Paracambi, nascida da amizade, de mais de quinze anos, entre duas amigas que cursaram no mesmo momento o Curso de Administração na UFRRJ. Monique e Daniela tinham habilidades e competências pessoais complementares: Monique é organizada, objetiva e orientada para resultados. Daniela é inovadora, muito ligada à criação de novos produtos. Durante anos a empresa obteve sucesso atendendo ao crescente mercado de cadeiras de madeira para escola. Um mercado cativo, devido aos investimentos em educação, e sem muita sofi sticação ou exigências, pois toda nova escola segue um projeto padrão dentro da área de educação e a venda ocorre por licitação. As empresas concorrem entre si apresentando suas propostas à Prefeitura e a melhor entre elas é a escolhida. Com a experiência desenvolvida nesse mercado, a empresa vencia as licitações facilmente, devido ao menor custo. Outra parte dos ganhos da empresa vinha do mercado de móveis para indústrias, uma área decadente para a empresa, devido ao esvaziamento industrial do estado do Rio de Janeiro. O mercado industrial no RJ tem características próprias: é generoso na compra, mas busca o menor custo e pouca sofi sticação. O crescimento desse mercado apontava para o Sul, o Nordeste e o Centro-Oeste. Atividade Final 36 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? A experiência e o tamanho da Monidani conferem a ela vantagens bem signifi cativas: sua estrutura de custos a torna muito competitiva em termos de preço; seus fornecedores de madeira (quase 50) são empresas tradicionais do Norte do Brasil e bem menores que ela. Sozinha ela atende seus atuais clientes, sem precisar de distribuidores e sem operar em lojas. Com o passar do tempo, o estado do Rio de Janeiro despontou no cenário nacional como a capital dos serviços. Excetuando a contribuição da Petrobras, a força econômica é a do setor de serviços. O estado tornou-se o maior mercado de serviços e eventos do Brasil, atraindo empresas ofertantes de serviços de todas as áreas e tipos possíveis. A cidade do Rio de Janeiro é o grande destaque. Sua beleza natural, a presença de muitas empresas públicas, a proximidade desta com as maiores cidades da Região Metropolitana e o excelente mercado consumidor da cidade atraem muitas empresas de serviços e estimulam a construção de shoppings e centros comerciais. Em 2004 chegou ao mercado brasileiro a Sentex, empresa de móveis norte-americana, especializada em cadeiras. Benefi ciada por isenções fi scais concedidas pelo governo estadual, a Sentex em pouco tempo lançou no mercado duas marcas de cadeira, aproveitando a liberação do MEC para facilitar a abertura de novas faculdades a partir de 2000. A isenção de impostos vai dar à empresa uma vantagem de custo até o fi nal de 2007. E o mercado está aceitando bem o uso de material de plástico, de ferro e espuma, lado forte da empresa. As perspectivas para a indústria moveleira parecem ótimas, principalmente para o mercado de cadeiras, devido ao crescimento de dois novos segmentos de consumo: a pós-graduação e o mercado residencial. Com o crescimento do número de faculdades, aumenta o mercado de pós-graduação. O segmento do mercado consumidor de móveis exige ambientes mais sofi sticados e é favorável a pagar mais por produtos e serviços diferenciados. O consumidor residencial está mais interessado em experimentar a sensação de ele mesmo produzir seu espaço,inovando em seu lar, aproveitando a tendência do SoHo (small offi ce, home offi ce). As pessoas querem que sua casa seja seu escritório e tenha “a sua cara”. Pesquisas feitas por empresas especializadas apontam tendências fortes na sociedade em geral: a crescente consciência ecológica, a preocupação com a reciclagem, a busca de um contato maior com a natureza e o uso de madeira C E D E R J 37 A U LA 1 com certifi cado de que não seja de desfl orestamento. Ao mesmo tempo, há uma expectativa com o lançamento, pelo curso de Engenharia Florestal da UFRRJ, da escola de marceneiros e o advento do curso de Arquitetura na própria universidade, com forte orientação para o design. O cenário competitivo mudou muito para a Monidani nesses 15 anos. A competição está mais clara, ao mesmo tempo que muitas oportunidades aparecem. Surge uma situação em que as forças históricas da empresa estão desafi adas e novas forças precisam ser desenvolvidas. Monique e Daniela precisarão de muita astúcia para colocar a empresa no caminho em que sempre esteve: de liderança e lucro. No espaço a seguir, liste as seguintes informações: 1. Faça um checklist das mudanças ocorridas no mercado moveleiro, durante todo esse período, relacionando essas mudanças ao mercado organizacional e ao mercado consumidor. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 2. Monte um esquema apontando quais são os atores empresariais do caso e como eles infl uenciam (quando for o caso) e são infl uenciados pelas ações de Marketing. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 1 2 38 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? 3. Identifi que as necessidades e os desejos do mercado consumidor. __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 4. Identifi que e analise, na Monidani, quais atividades e processos ela conduz de forma exemplar e quais outros ela não consegue. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 5. Após esta análise, aponte soluções para a empresa operar em todos os mercados organizacionais e de consumo. Faça um esquema dessa nova proposta. _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 3 4 5 C E D E R J 39 A U LA 1 Respostas Comentadas 1. Checklist: • clientes do setor industrial estavam mais para o Sul, o Nordeste e o Centro-Oeste do país; (mercado organizacional); • atendimento a novos clientes, em lojas, implica o uso de distribuidores; (mercado organizacional); • as lojas passam a desempenhar papel central nas vendas dos móveis residenciais. (mercado organizacional); • o Estado do Rio de Janeiro despontou no cenário nacional como a capital dos serviços, tornou-se o maior mercado de serviços e eventos do Brasil, atraindo empresas ofertantes de serviços de todas as áreas e tipos possíveis; • aumentou a concorrência: chegou ao mercado brasileiro uma empresa de móveis norte-americana, especializada em cadeiras de ferro e plástico; • abertura de novas faculdades a partir de 2000; • consumidor residencial está mais interessado em experimentar a sensação de ele mesmo produzir seu espaço, inovando em seu lar (mercado consumidor); • aumento da consciência ecológica; preocupação com a reciclagem; busca de um contato maior com a natureza; uso de madeira com certifi cado de que não seja de desfl orestamento (mercado consumidor); • lançamento da escola de marceneiros e o advento do curso de Arquitetura com forte orientação para o design. 2. Atores do mercado organizacional Situação 1: por estarem no Norte do país, essas empresas vendem à Monidani e a outros clientes por telefone. Também têm vendedores aqui na região para atender clientes grandes como a Monidani. Situação 2: os clientes industriais compram muito, mas são poucos. Logo, eles podem ser visitados pelos vendedores da Monidani, receber telefonemas e mesmo receber catálogos. Modernamente, eles podem comprar via Internet! A Monidani monta estandes nas feiras e eventos típicos do setor, põe anúncios em revistas do setor de móveis ou setor industrial, por exemplo. Fornecedores de madeira Monidani Clientes Industriais Escolas 40 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? Para atender as escolas, uma equipe da Monidani especializada em licitações visita as secretarias de educação ou órgãos encarregados dos processos licitatórios. 3. Desejos e necessidades do mercado consumidor Desejo: Consumidor residencial está mais interessado em experimentar a sensação de ele mesmo produzir seu espaço, inovando em seu lar. Necessidade: Aumento da consciência ecológica; preocupação com a reciclagem; busca de um contato maior com a natureza; uso de madeira com certifi cado de que não seja de desfl orestamento. (mercado consumidor) 4. Sobre atividades e processos da Monidani A empresa é muito boa em processos licitatórios, pois tem boa estrutura de custo e muita experiência de mercado. Porém, não é inovadora em seus produtos, apesar do potencial de uma das suas donas, e não tem experiência nem estrutura montada para atender lojas de móveis, segmento que mais crescerá no Rio de Janeiro devido aos interessesdo setor de serviços e das pessoas de produzir seus espaços. 5. Novo esquema de atuação para Monidani Uma possível solução é a empresa atender seus antigos clientes e focar nos novos clientes, o que exigirá algumas transformações na empresa e em sua estrutura de relacionamentos. Para atender aos novos mercados, ela precisará de mão-de-obra especializada e de novos projetos de produtos e serviços, o que ela pode obter em parceria com as novas escolas de marcenaria e arquitetura. Também precisará usar distribuidores para atender aos lojistas ou mesmo criar suas próprias lojas. Neste caso, ela precisará criar um depósito próprio. Eventualmente, suas próprias lojas atenderão empresas de serviços que tiverem compras em pequenos volumes. Para atender os clientes industriais ela pode abrir um escritório nas regiões onde estão esses clientes. Se você achar que ela deve atender as universidades, atente para o fato de que ela precisará adquirir experiência com novos materiais (ferros, plásticos e espuma) e aumentará seu número de fornecedores. Além do fato de que ela enfrentará a concorrência da empresa norte-americana. O ideal é que a Monidani fortaleça suas posições onde ela já é competitiva. C E D E R J 41 A U LA 1 ResidênciaLojasDistribuidor Loja própria Empresas de serviço Pós-graduação Escolas Clientes industriaisEscritório Monidani Fornecedores de madeira e outros materiais Escola de marceneiros e arquitetura Com o passar dos anos nossa vida fi cou complexa. O melhor exemplo dessa nova realidade é a quantidade de coisas que fazemos hoje. Atualmente, uma pessoa realiza mais atividades do que seus antepassados e, por essa razão, tem sua vida integralmente ligada às organizações: escolas, religiões, hospitais, cursos de línguas e de informática, empresas de transporte, clubes esportivos, shoppings, diversos tipos de loja, salão de cabeleireiros e massagem, musculação e aulas de dança, ofi cinas mecânicas e de manutenção, bancos e seguradoras, provedores de internet, luz, água e gás, partidos políticos, grupos de fi lantropia. Nesse momento é que visualizamos o papel central que o Marketing desempenha no nosso dia-a-dia. As diversas organizações estão presentes em nossa cultura, e nessa relação próxima com elas temos nossos desejos e necessidades constantemente remodelados. Nossos hábitos de consumo ilustram bem o potencial que o marketing tem para infl uenciar nossas vidas: hoje consumimos produtos e serviços de forma intensa. Todas as R E S U M O 42 C E D E R J Gestão de Marketing I | Afinal, fala-se tanto em marketing... O que é isso? organizações desempenham atividades de marketing para estabelecer relacionamentos com seus consumidores, pois se eles não forem satisfeitos em seus anseios irão trocar de fornecedor. As atividades de Marketing são desenvolvidas ao longo da rede de empresas que se articulam para trazer produtos e serviços até os locais onde são necessários, nossas casas e locais de trabalho, estudo, esporte, cuidado pessoal e lazer. Entretanto, nesta rede as empresas vão se especializando em desenvolver papéis diferentes, não apenas o Marketing, e sem elas as coisas simplesmente não chegam até nós nem nós chegamos até elas! Somos hoje mais exigentes e informados do que foram nossos antepassados. Sem esses produtos e serviços nós simplesmente não vivemos e não queremos comprá-los e consumi-los de qualquer jeito, pois, mais do que consumidores, somos cidadãos! Essa dimensão importantíssima do viver está sendo gradativamente incorporada pelas empresas privadas e públicas, que mudam sua forma de atuação para satisfazer seus consumidores. Os profi ssionais de marketing têm papel fundamental nessa transformação da realidade. INFORMAÇÕES SOBRE AS PRÓXIMAS AULAS Ao longo das aulas que se seguem, você irá obter informação sufi ciente para entender: • o que é desenvolver mercado; • quais são os conceitos e defi nições que formam o Marketing; • como o pensamento sobre o Marketing evolui; • a importância do setor de Marketing para a existência das empresas; • por que o setor de Marketing deve trabalhar em conjunto com os outros setores da empresa; • como desenvolver planos de Marketing; • quais são as tarefas relativas ao Marketing; • quais são as ferramentas e conceitos mais comuns no mundo do Marketing; • como a sociedade vê e se relaciona com o Marketing. C E D E R J 43 A U LA 1 SITES RECOMENDADOS www.eaesp.fgvsp.br www.rae.com.br www.espm.br www.Marketingpower.com www.intermanagers.com.br LEITURAS RECOMENDADAS DRUCKER, Peter. Administração. Responsabilidades, tarefas e práticas. SP: Editora Pioneira de Negócios, 3 vol., 1975. KOTLER, Philip. Administração de Marketing. SP: Ed. Prentice Hall, 2000. Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Ao fi nal desta aula você deve ser capaz de: relacionar as demandas sociais considerando as interfaces entre governo, empresas e consumidores; identifi car as formas de atuação da gestão de Marketing considerando os valores, a fi losofi a e o foco de negócio estabelecido pela empresa. 2 ob je tiv os A U L A Metas da aula Descrever a evolução do pensamento e da prática de Marketing e apresentar as formas de atuação de gestão de Marketing. 1 2 46 C E D E R J Gestão de Marketing I | Marketing na atualidade: histórico e valor para os clientes Como você viu na Aula 1, as empresas que não se adequam às condições impostas pelo mercado, pela sociedade e pelo poder público tendem a enfrentar muitos problemas. Às vezes, colocam em risco a própria sobrevivência do negócio. Essa é a realidade de um ambiente de negócios marcado pela rapidez e pela intensa demanda por interatividade por parte dos consumidores e clientes. Os consumidores atuais – mais protegidos, organizados, com maior poder aquisitivo, mais exigentes e mais sofi sticados – estão lá na ponta da cadeia de suprimento, pressionando a todos os envolvidos pela oferta de produtos e serviços de melhor qualidade. Assim, o padrão de respostas das empresas a essas pressões irá variar amplamente, pois diversos fatores devem ser considerados quando se analisa o comportamento de uma empresa com relação ao mercado. Dentre esses fatores, destaca-se a fi losofi a de marketing vigente em cada empresa, que decididamente determinará o seu comportamento no mercado. Dentre essas fi losofi as de marketing, destacamos a de valor para o cliente, que tem transformado a forma de fazer negócios e o comportamento dos consumidores. Sem cidadãos satisfeitos e em busca dos seus serviços, os órgãos públicos não conseguem justifi car sua existência. Sem os consumidores de seus produtos e serviços, empresas com fi ns lucrativos vão à falência. Sem eleitores que acreditem e defendam suas idéias, projetos e planos, partidos políticos não conseguem crescer. Sem fi éis sufi cientes, as igrejas não crescem nem desenvolvem as obras religiosas. Enfi m, satisfazer seus clientes parece ser a razão da existência das empresas. Na Aula 1 você também viu por que o Marketing tornou-se tão importante em nossos dias. Nela, você aprendeu que clientes e consumidores satisfeitos e fiéis são fundamentais para a existência das empresas e que os profi ssionais de Marketing são os responsáveis pelas atividades que fazem com que essa idéia vire realidade. Dessa forma, podemos dizer que a área de Marketing é responsável por duas ações interligadas: • tornar as empresas mais abertas e atentas às necessidades dos seus parceiros (clientes) e consumidores; e • apresentar soluções gerenciais para que haja equilíbrio entre os interesses de todos: empresas, parceiros e consumidores. Nas próximas aulas trataremos de outras atividades cuja condução é de responsabilidade da área de marketing das empresas. Por enquanto, fi xe bem essas duas ações, pois elas são fundamentais para o reconhecimento das