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RITOS, MITOS E SÍMBOLOS AULA 4 Prof. Rodrigo Rangel A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula vamos conhecer, conceituar e entender mais sobre os símbolos, a linguagem fonte da religião. Toda religião tem a sua forma de comunicar, e os símbolos são os responsáveis por essa comunicação das mais diferenciadas formas. Segundo Croatto (2010, p. 81), “o símbolo é a chave da linguagem inteira da experiência religiosa”. Como pano de fundo, essa é a definição mais pontual sobre o símbolo, que Croatto salienta ao afirmar “ele, na ordem da expressão, além de ser a linguagem originária e fundante da experiência religiosa, é a primeira que alimenta as demais” (Croatto, 2010, p. 81). Além de definir o símbolo e suas implicações na experiência religiosa, também faremos, nessa aula, algumas distinções entre signo, metáfora e alegoria. TEMA 1 – SÍMBOLO, A LINGUAGEM DA RELIGIÃO Como vimos na conversa inicial, a religião tem no símbolo uma das suas experiências fundantes. Croatto (2010, p. 81) corrobora essa ideia: “a experiência da realidade transcendente (o mistério ou qualquer que seja o seu nome) é o núcleo do fato religioso, o símbolo é, na ordem da expressão, a linguagem ordinária e fundante da experiência religiosa”. Com a manifestação do transcendente (hierofania), a tendência é se comunicar. Croatto (2010, p. 81-82, grifo nosso) explica que essa é uma das características mais “humanas”, e que: [...] inclusive o místico precisa dizer que o divino é indizível, indefinível. Mesmo o esoterismo e o arcano (que não são tipos de religião, mas tendências existentes em muitos sistemas religiosos), nos quais se preserva internamente a comunicação da doutrina ou dos ritos, evidenciam a necessidade dessa comunicação dentro do grupo. A experiência do mistério (inclusive quando não personificado) é essencialmente afetiva e portanto participativa. Ela não pode ser vivida de forma individual e isolada. Seria uma carga insuportável! Comunicá- la alivia. A experiência do mistério é um processo psicológico fácil de ser entendido. Mas sua comunicação possui um valor sacramental enquanto significa e realiza novamente a presença do sagrado. A expressão religiosa é tanta comunicação do vivido, como uma nova vivência. Cada uma das linguagens dessa vivência – o símbolo do mito o rito – recria a experiência religiosa à sua maneira, mas todas participaram dessa característica. A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 3 Saiba mais Hierofania (do grego hieros (ἱερός) = sagrado e faneia (φαίνειν) = manifesto) pode ser definido como o ato de manifestação do sagrado. O termo foi cunhado por Mircea Eliade em seu livro Traité d'histoire des religions (1949) para se referir a uma consciência fundamentada da existência do sagrado, quando se manifesta por meio dos objetos habituais de nosso cosmos como algo completamente oposto do mundo profano (ver misticismo). Para traduzir o ato de manifestação do sagrado, Eliade sugere o termo hierofania, que é necessário, pois se refere apenas ao que corresponde ao sagrado que nos é mostrado (Wikipedia, 2018). É preciso lembrar que o ponto de partida do estudo do símbolo é a pratica religiosa inquestionável, o transcendente inatingível e a experiência com o sagrado inesgotável. O símbolo comunica o sagrado e conduz o indivíduo ao transcendente. Nesse sentido, o símbolo é uma mediação entre o Homo religiosus e o transcendental. Sobre isso, Croatto (2010, p. 83) afirma: O mistério é percebido no nível da mediação; o sagrado, enquanto realidade transcendente, mostra-se (hierofania) e, ao mostrar-se, limita-se. Mas, dessa maneira, ao revestir um objeto ou uma pessoa de sacralidade, torna possível ao ser humano comunicar-se com o transcendente, o sagrado em sua forma absoluta, o divino. O símbolo religioso está localizado, em primeiro lugar “entre” o totalmente o Outro e o sujeito humano que o experimenta. Sendo assim, o homem como um animal simbólico faz continuamente uso dos símbolos como linguagem e arte para expressar suas experiências. TEMA 2 – A ORIGEM DO NOME Tanto Alves quanto Croatto nos ajudam a entender a origem do nome, utilizando a etimologia, bem como o costume originado do nome. Alves (2012, p. 155, grifo nosso) salienta que o símbolo: [...] é um termo de origem grega que na Grécia antiga era usada como usado como sinal de identificação e reconhecimento facilitando encontro e a comunicação entre as pessoas nas religiões o símbolo além dessas funções funciona como uma chave que abre portas para facilitar o processo de aprendizagem e consequentemente humanização. Croatto (2010, p. 84-85, grifo nosso) corrobora essa ideia e acrescenta: Por sua etimologia (do grego sumballo, ou symballo), o símbolo refere- se à união de duas coisas. Era um costume grego que, ao se fazer um A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 4 contrato, fosse quebrado em duas partes um objeto de cerâmica, então cada pessoa levava um dos pedaços. Uma reclamação posterior era legitimada pela reconstrução (pôr junto = symballo) de cerâmica destruída, cujas metades deviam coincidir. A união das partes permitia reconhecer que amizade permanecia intacta. Além de conceituar símbolo, Croatto (2010, p. 85) exemplifica trazendo uma história para ilustrar o uso dentro da cultura popular: Esse devia ser um costume muito praticado, pois o livro de Tobias (escrito possivelmente na Mesopotâmia) conta que o ancião Tobit encarregou o jovem Tobias de recuperar um dinheiro emprestado na Média, a um tal Gabael, mas Tobias pergunta-lhe: “como poderei recuperar o dinheiro? Nem Gabael me conhece, nem eu o conheço! Que sinal (semeion) posso apresentar para Gabael me reconheça, acredite e me entregue o dinheiro? Tobit respondeu: “ele me deu seu documento e eu lhe dei o meu; eu o dividi em dois para que cada um de nós ficasse com a metade. Tomei uma e deixei a outra com o dinheiro”. Segundo Croatto (2010, p. 85), outro exemplo parecido é o de Davi quando, em uma oportunidade, corta um pedaço da barra do manto de Saul, que estava desprotegido, como prova posterior de que tinha estado perto dele e teria podido então matá-lo. Percebe-se com isso que a função básica do símbolo relatada tanto em Alves quanto em Croatto era fazer uma “identificação” entre as partes, o que é uma linguagem de reconhecimento, no sentido de dar autenticidade ao relacionamento. TEMA 3 – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SÍMBOLO Ao analisar os símbolos mais de perto, logo percebe-se que algumas características acabam se destacando. Croatto nos ajuda a entender melhor essas distinções. 3.1 Duplo sentido O duplo sentido se refere ao fato de o símbolo ser utilizado não no sentido primário do objeto, mas no sentido da representação. Nesse sentido, Croatto explica que há uma inter-relação entre eles: Esses exemplos nos ajuda a compreender o que é o símbolo. Em todos eles aparecem duas coisas separadas, mas que se completam. Em outras palavras, uma parte remete à outra. Podemos deduzir que no símbolo estão presentes dois elementos que de alguma forma se inter- relacionam. Mas devemos manter-nos no nível do sentido, não no das coisas em si mesmas (Croatto, 2010. p. 85). A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 5 Sabemos que cada coisa, cada objeto tem sua própria identidade, suas características e sua função específica. Entretanto, quando se fala do uso na forma de símbolo, esses objetos assumem um novo significado, ampliam seu sentido e passam a ter um “segundo significado”. Portanto o primeiro sentido é ultrapassado para ressignificar uma experiência pessoal. Por exemplo, umapessoa pode atribuir um sentimento, uma emoção a um objeto do cotidiano, e o que para a maioria das pessoas é apenas um objeto, para aquela pessoa especifica é um símbolo com um significado diferente, pois tem em si uma experiência fenomênica. Croatto (2010, p. 86) define assim: Cada coisa tem a sua própria identidade (uma pedra é uma pedra), tem sua própria função e é parte de uma estrutura global dentro do universo. Os astros são emissores de luz e os planetas a refletem; o sol regula as estações, a rotação da Terra, determinando a sequência do dia e da noite; todos os seres da terra, animados ou inanimados, têm suas próprias leis biológicas ou físicas. São simplesmente o que são. Têm seu próprio sentido. Mas o ser humano pode “atravessar” esse primeiro sentido para ver nas coisas de sua experiência fenomênica um segundo sentido. Diante do pôr do sol (uma realidade astronômica cotidiana), eu posso sentir uma emoção especial tanto pela beleza do cenário como pela nostalgia do que termina e fez nesse sentido ver uma formosa flor (que obedece a suas próprias leis biológicas, seu primeiro sentido) me faz pensar na pessoa que mais amo. O voo de uma ave suscita uma sensação de paz e admiração. O pôr do sol, uma flor, um pássaro que voa são realidades profanas, mas podem chegar a ser simbólicas: elas têm um “segundo sentido”, captado por meio do primeiro no cotidiano. 3.2 Constituição dos símbolos Nessa direção, segundo Croatto (2010), precisamos considerar dois aspectos fundamentais. Primeiro, que o segundo sentido nunca está no objeto em si, mas na experiência pessoal e singular que cada um tem. Segundo, as coisas não são simbólicas nem se constituem símbolos por si sós, mas são constituídas símbolos após algum tipo de experiência humana. Sendo assim, segundo Croatto (2010, p. 87), “as coisas podem ser elevadas à dimensão de símbolos, sejam eles profanos ou religiosos”. 3.3 O símbolo transignifica O símbolo sofre então uma transformação no seu significado, uma transignificação. Ele deixa de lado seu sentido primário e assume um novo significado. Sobre isso, Croatto (2010, p. 86-87) argumenta: A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 6 O símbolo é, então, um elemento desse mundo fenomênico (desde uma coisa até uma pessoa ou um acontecimento) que foi “transignificado”, enquanto significaria algo além do seu próprio sentido primário. A abóboda celeste é símbolo de transcendência e de soberania. Tal sentido está por trás do que o céu é para o olhar humano. Por isso podemos descrever o símbolo como “remissivo”; envia para outra realidade que é aqui importa existencialmente. O sol, como símbolo, remete à máxima energia vital, que se expressa como ser supremo, ou à “verdade” (o sol vê tudo em seu percurso luminoso) que é, por exemplo, o atributo do Varuna do hinduísmo, do Mitra iraniano, do Shamash assírio-babilônico ou do Iahweh bíblico (cf. Sl 19,2-7). Portanto, na experiência do homo religiosus o transcendente que o símbolo convoca não é objetivável nem definível em palavras. Percebe-se como mistério como claro escuro por isso é preciso a mediação das coisas de nossa experiência comum. Podemos concluir que o objeto, após ser transignificado, perde o sentido primário na experiência humana especifica, levando a essa experiência para o transcendente, que por si só não pode ser objetivável nem definido em palavras. 3.4 Da analogia ao símbolo Outra consideração fundamental é que as coisas que se tornam simbólicas são elevadas pelo que são e como são. Isso implica dizer que nem tudo desse mundo pode ser símbolo de algum aspecto do divino e nem da sua vivência. Croatto (2010, p. 88) exemplifica e acrescenta da seguinte forma: [...] a serpente é um símbolo da sabedoria pelo jeito como age e se move; ou é um símbolo de vida porque troca sua pele anualmente ou porque vive na terra (é um animal é um animal que ctônico) e pode chegar a ser símbolo de morte pois sua mordida é letal. É a maneira de se manifestar ou a forma de um objeto, e a maneira de agir de um ser vivente (uma árvore, um animal, um ser humano) o que o conduz a um ou outro aspecto do sagrado, manifestado justamente sob essa dimensão. Daí surge, e compreende-se naturalmente, a infinita variedade de símbolos. A heterogeneidade é própria do fenomênico, e por isso o mistério é visto refletido nessa multiplicidade de coisas e fenômenos do mundo, que é o depósito fontal dos símbolos. O sagrado é percebido fragmentariamente, mas isso é essencial. O relevante é o fato de que se capta e vive analogicamente nas coisas deste mundo que por algum motivo são elevadas ao plano simbólico. Tudo pode ser transfigurado em hierofania, mas isso não supõe que de fato seja. É preciso haver uma vivência do sagrado em relação a tal ou qual elemento mundano. Nem toda pedra é sagrada. A pedra que se torna sagrada não o é necessariamente para todas as pessoas. É necessário mediar uma experiência do transcendente em relação a esse objeto. 3.5 O símbolo dá transparência Essa característica do símbolo é bastante interessante de se entender. Dar-se em transparência é simbolizar de tal maneira uma característica do A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 7 Mistério, a ponto de, retirando-se o símbolo ou substituindo-o, a vivência com o transcendente ser totalmente modificada. Croatto (2010, p. 90-91) usa um exemplo interessante para isso: [...] ele é como uma lente que permite ver o que sem ela não se vê. Sem os objetos convertidos em símbolos, apaga-se a percepção do sagrado na forma como se experimenta, e tampouco se pode expressá-la. A água utilizada no banho ritual é o âmbito no qual se hierofaniza o sagrado como forca de purificação. Se em lugar da agua fosse utilizado outro elemento (azeite por exemplo), o sentido do gesto mudaria e modificar-se-ia o aspecto do sagrado vivido no primeiro caso. O azeite, de fato, não expressa purificação, mas consagração ou alimentação substancial. Por isso, a visualização do sagrado é multifacetada e não pode ser esgotada ao se conhecer apenas uma dessas facetas. Segundo Croatto (2010, p. 91), “a heterogeneidade dos símbolos é uma amostra de sua múltipla riqueza, ainda que cada hierofania concreta parcialize e fragmente o símbolo”. Isso posto, conclui-se que entender a diversidade de símbolos e como estes chegam a ser elevados à dimensão do transcendente, seus sentidos e duplos sentidos, a transignificância, a transparência, suas analogias etc. nos ajuda a perceber melhor a maneira como acontece a comunicação no sistema religioso e assim participar das ações do mistério. TEMA 4 – METÁFORA, ALEGORIA, SIGNO Para que o estudo do símbolo seja mais completo, é necessário verificar também as linguagens que são similares ao símbolo, mas que não são idênticas, fazendo, assim, uma distinção importante. 4.1 Metáfora A metáfora, conquanto tenha o sentido de levar mais adiante, difere do símbolo, pois está mais diretamente ligada à comparação do que a transignificação. Croatto (2010, p. 92) argumenta da seguinte forma: Já se disse que o símbolo “remete” a outro nível da realidade, que é um objeto deste mundo fenomênico capaz de trans-significar outra coisa. Por conseguinte, o símbolo não é uma repetição do que expressa na linguagem comum ou a linguagem científica. Essa coincidência o anularia, tornando-o inútil e vazio. Tampouco é uma metáfora, ainda que essa palavra corresponda-lhe etimologicamente enquanto “leva mais adiante” (grego: meta-fero), ou seja, para outro significado. A metáfora, contudo, “leva mais adiante”, a outro sentido, apoiando-se somente no sentido direto. Ao dizer “este guerreiro é um leão”, não imagino um leão lutando com sua presa, mas penso que tal A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotmail.com 8 indivíduo e na ideia claramente aludida de força, objeto de uma experiência anterior (conheço essa característica do gol do guerreiro e a expresso na comparação. Sobre o símbolo é importante lembrar que não é atribuído a algo conhecido, mas é a intuição do desconhecido. Posso fazer do leão um símbolo (assim aparece, por exemplo, nos baixos-relevos da antiga Babilônia, ou em textos mesopotâmicos com apelativo de Adad), mas então significa força como uma característica do divino, que transcende tanto o animal como o ser humano, a que faz referência. A metáfora é uma comparação; O símbolo é uma transignificação (Croatto, 2010. p. 92). 4.2 Alegoria Diferentemente de símbolo, a alegoria diz “uma coisa diferente”, mas a ideia é que só é possível entender a alegoria (primeiro sentido), se conhecer o significado do segundo sentido. Sendo assim, ao interpretar a alegoria, é essencial conhecer os contextos e o pano de fundo. Sobre isso, Croatto (2010, p. 95) descreve: O símbolo tampouco confunde com a alegoria. Essa figura de linguagem é um “dizer-outra-coisa” (gr. allo-agoreou). Também o símbolo “diz outra coisa”, mas se encaminha para uma direção oposta. A alegoria transporta um “segundo sentido” para um “primeiro sentido”. Em outras palavras, envolve um sentido – conhecido! – com uma aparência comum de significação óbvia e comum. Para entender a alegoria, é preciso ter conhecimento prévio do segundo sentido. Por isso, Croatto (2010, p. 92) destaca que “o símbolo dá em transparência, e a alegoria em tradução, segundo a expressão do próprio autor”. 4.3 Signo Segundo Croatto (2010, p.97), em diferentes aspectos, o signo, a alegoria e o símbolo se assemelham, coincidem. Por isso, uma distinção mais cuidadosa se faz necessária. Em relação à alegoria, assemelha-se quando se supõe “conhecer” o segundo sentido, que se se apresenta “traduzido”. Para que algo seja signo, deve ser de algo conhecido. Por exemplo, a nuvem como signo da chuva; a fumaça como sinal de fogo; a campainha como sinal da chegada de uma pessoa. Portanto, o segundo sentido, ao qual remete o signo, é anterior à sua formalização. Por exemplo: A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 9 Uma pegada no chão informa-nos sobre o passo deste ou daquele animal; é um “signo” porque existe um conhecimento prévio do efeito de uma pegada. Também são “signos” dos chamados símbolos lógicos, matemáticos, químicos, por serem convencionais e suporem uma aprendizagem anterior ao seu uso. Embora sejam chamados de “símbolos”, dos signos estão muito distantes do que que aqui entendemos por símbolo, seja religioso o profano, cósmico, onírico ou artístico (Croatto, 2010. p. 98). Ainda sobre essa distinção, o símbolo: [...] diferencia-se do signo, tanto quanto da metáfora e da alegoria, por “remeter” a algo desconhecido em si, mas que entretanto se faz presente em algo visível, onde é captado em um claro-escuro que afasta qualquer pretensão de apossar-se do Ministério. É intuitivo (lat. Intus-ire, “ir para dentro”); não que prevê, mas que deixa ver “por meio de” (ele mesmo). No âmbito da experiência religiosa, o não-conhecido em si, como é o mistério, é captado, experimentado intuído, no claro- escuro do símbolo (Croatto, 2010. p. 98). Para concluir, Croatto (2010, p. 101) nos apresenta um gráfico que, embora elementar, nos ajuda a entender as diferenças entre símbolo, signo, alegoria e metáfora. Símbolo vai em uma só direção, para dentro/para além/rumo àquilo que só pode expressar-se por ele; Signo assimilar uma equação de conteúdos, ou uma relação de causa e efeito; Alegoria remete a um sentido que, na realidade, “abre” o horizonte do primeiro sentido; Metáfora compra dois elementos conhecidos. TEMA 5 – OUTRAS CLASSIFICAÇÕES Segundo Alves (2012), existe um tipo de classificação de símbolos que nos ajuda a diferenciar a imagem simbólica das demais, já que na prática é difícil delimitar essas fronteiras. Pelo menos no campo teórico, é necessário que haja essa delimitação (Chevalier; Gheerbrant, 1990): O emblema é uma figura visível elaborada convencionalmente para representar uma ideia, um ser biológico ou uma moral; por exemplo, a bandeira é o emblema da pátria; a coroa de louros, o da glória; O atributo corresponde a uma realidade ou imagem que serve de signo diferenciador de um personagem, uma coletividade ou um ser moral; por exemplo: as asas são o atributo de uma sociedade ou empresa de A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 10 navegação aérea; a roda, de uma companhia ferroviária; a balança, da justiça. Escolhe-se um acessório característico para designar o todo; A alegoria é uma figuração que toma com maior frequência a forma humana, mas que por vezes pode tomar a forma de um animal ou de um vegetal, ou, ainda, de um feito heroico, de uma determinada situação, de uma virtude ou de um ser abstrato. Por exemplo: uma mulher alada é a alegoria da vitória, e uma cornucópia é a alegoria da abundância. Saiba mais Cornucópia é um símbolo representativo de fertilidade, riqueza e abundância. Na mitologia greco-romana era representada por um vaso em forma de chifre, com uma abundância de frutas e flores se espalhando dele. Hoje, simboliza a agricultura e o comércio, além de compor o símbolo das ciências econômicas (Wikipedia, 2017). A metáfora desenvolve uma comparação entre dois seres ou duas situações, por exemplo, qualificar de dilúvio verbal a eloquência de um orador, ou dizer que Maria é uma flor – Maria é um ser humano, a flor é uma planta. Não significa que Maria seja uma planta, mas uma pessoa delicada, formosa e perfumada; A analogia é uma relação entre seres ou noções diferentes em sua essência, mas semelhantes sob certo ponto de vista; a cólera de Deus, por exemplo, tem somente uma relação analógica com a corda do homem. O raciocínio por analogia é fonte de inúmeros equívocos; O sintoma é uma modificação nas aparências ou funcionamento os habituais, que pode revelar uma certa perturbação e um conflito; A síndrome é o conjunto de sintomas que caracterizam uma situação evolutiva e que pressagiam um futuro mais ou menos determinado; A parábola é um relato que possui sentido próprio, com objetivo de sugerir, além desse sentido imediato, uma lição moral. Por exemplo: a parábola do semeador, na qual o mesmo tipo de grão cai sobre terrenos diferentes; O apólogo é uma fábula didática, uma ficção de moralistas, destinada, por meio de uma situação imaginária, a transmitir certo ensinamento. Alves conclui: A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 11 tais recursos simbólicos indicam a capacidade do homem de manusear as linguagens figurativas das mais variadas formas. Seja com um objetivo didático, seja com o intuito de se alcançar formas mais elaboradas e profundas de se transmitir uma dada ideia, a presença dos símbolos na divulgação do conhecimento religioso é de imponderável relevância. NA PRÁTICA Como vimos, qualquer coisa pode ser elevada a símbolo, desde que seja diretamente ligado à uma experiência, pessoal, com o mistério. Temos inúmeros escritos religiosos que são carregados de mitos e ritos e, agora, por definição, símbolos. Cabe ao estudante de ciência da religião perceber cada uma dessas características, para distingui-las didaticamente, a fim de chegar mais próximo daquilo que realmente se quis dizer ao relatar da forma como foi relatado. Por exemplo, em Êxodo 3,1-6 Moisés pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro, que era sacerdote de Midiã. Um dia levou o rebanho para o outro lado do deserto e chegou a Horebe, o monte de Deus. Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio deuma sarça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, esta não era consumida pelo fogo. "Que impressionante! ", pensou. "Por que a sarça não se queima? Vou ver isso de perto. "O Senhor viu que ele se aproximava para observar. E então, do meio da sarça Deus o chamou: "Moisés, Moisés!" "Eis-me aqui", respondeu ele. Então disse Deus: "Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa". Disse ainda: "Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó". Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus (Bíblia, NVI. 2003. p. 97). Nesse texto, a sarça cumpre a função de símbolo, pois, apesar de ser uma planta (sentido primário), ultrapassa esse sentido, transignificando em presença de Deus. Mas isso é em relação a Moisés, pois ele teve essa experiência com o Mistério. É interessante lembrar que essa mesma sarça pode ser usada como alegoria, por exemplo: ao dizer aquele pregador é uma sarça ardente. Ou ainda pode ser usada como signo, por exemplo: se a logomarca de algum ministério for uma sarça ardente. Em todos esses sentidos, o uso do símbolo e das suas formas de classificação cumprem o seu papel de comunicar. A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 12 FINALIZANDO Como vimos nesta aula, o símbolo tem em si uma variedade de classificações e distinções, que didaticamente são importantes para o estudante da religião. Contudo, todas essas formas de apresentar o “símbolo” têm uma função importantíssima, que é a da comunicação. Comunicação na religião é importante para entender a manifestação do Mistério (revelação), para os relacionamentos (ritos), seja com o mistério, com o próximo ou consigo mesmo e para as distinções da identidade de cada religião (mitos). A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com 13 REFERÊNCIAS ALVES, L. A. S. Cultura religiosa: caminho para a construção do conhecimento. Curitiba: InterSaberes, 2012. CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Olimpio, 1990. CROATTO, J. S. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia da religião. São Paulo: Paulinas, 2010 WIKIPEDIA. Cornucópia. Wikipedia, 6 dez. 2017. Disponível em: . Acesso em: 2 fev. 2020. WIKIPEDIA. Hierofania. Wikipedia, 27 jun. 2018. Disponível em: . Acesso em: 2 fev. 2020. A luno: D A V I G A LLE T T I S A N T O S E m ail: davi_galletti@ hotm ail.com