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RITOS, MITOS E SÍMBOLOS 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rodrigo Rangel 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta aula vamos conhecer, conceituar e entender mais sobre os 
símbolos, a linguagem fonte da religião. Toda religião tem a sua forma de 
comunicar, e os símbolos são os responsáveis por essa comunicação das mais 
diferenciadas formas. Segundo Croatto (2010, p. 81), “o símbolo é a chave da 
linguagem inteira da experiência religiosa”. 
Como pano de fundo, essa é a definição mais pontual sobre o símbolo, 
que Croatto salienta ao afirmar “ele, na ordem da expressão, além de ser a 
linguagem originária e fundante da experiência religiosa, é a primeira que 
alimenta as demais” (Croatto, 2010, p. 81). 
Além de definir o símbolo e suas implicações na experiência religiosa, 
também faremos, nessa aula, algumas distinções entre signo, metáfora e 
alegoria. 
TEMA 1 – SÍMBOLO, A LINGUAGEM DA RELIGIÃO 
Como vimos na conversa inicial, a religião tem no símbolo uma das suas 
experiências fundantes. Croatto (2010, p. 81) corrobora essa ideia: “a 
experiência da realidade transcendente (o mistério ou qualquer que seja o seu 
nome) é o núcleo do fato religioso, o símbolo é, na ordem da expressão, a 
linguagem ordinária e fundante da experiência religiosa”. 
Com a manifestação do transcendente (hierofania), a tendência é se 
comunicar. Croatto (2010, p. 81-82, grifo nosso) explica que essa é uma das 
características mais “humanas”, e que: 
[...] inclusive o místico precisa dizer que o divino é indizível, indefinível. 
Mesmo o esoterismo e o arcano (que não são tipos de religião, mas 
tendências existentes em muitos sistemas religiosos), nos quais se 
preserva internamente a comunicação da doutrina ou dos ritos, 
evidenciam a necessidade dessa comunicação dentro do grupo. A 
experiência do mistério (inclusive quando não personificado) é 
essencialmente afetiva e portanto participativa. Ela não pode ser vivida 
de forma individual e isolada. Seria uma carga insuportável! Comunicá-
la alivia. A experiência do mistério é um processo psicológico fácil de 
ser entendido. Mas sua comunicação possui um valor sacramental 
enquanto significa e realiza novamente a presença do sagrado. A 
expressão religiosa é tanta comunicação do vivido, como uma nova 
vivência. Cada uma das linguagens dessa vivência – o símbolo do mito 
o rito – recria a experiência religiosa à sua maneira, mas todas 
participaram dessa característica. 
 
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Saiba mais 
Hierofania (do grego hieros (ἱερός) = sagrado e faneia (φαίνειν) = 
manifesto) pode ser definido como o ato de manifestação do sagrado. O termo 
foi cunhado por Mircea Eliade em seu livro Traité d'histoire des religions (1949) 
para se referir a uma consciência fundamentada da existência do sagrado, 
quando se manifesta por meio dos objetos habituais de nosso cosmos como algo 
completamente oposto do mundo profano (ver misticismo). Para traduzir o ato 
de manifestação do sagrado, Eliade sugere o termo hierofania, que é necessário, 
pois se refere apenas ao que corresponde ao sagrado que nos é mostrado 
(Wikipedia, 2018). 
É preciso lembrar que o ponto de partida do estudo do símbolo é a pratica 
religiosa inquestionável, o transcendente inatingível e a experiência com o 
sagrado inesgotável. O símbolo comunica o sagrado e conduz o indivíduo ao 
transcendente. Nesse sentido, o símbolo é uma mediação entre o Homo 
religiosus e o transcendental. Sobre isso, Croatto (2010, p. 83) afirma: 
O mistério é percebido no nível da mediação; o sagrado, enquanto 
realidade transcendente, mostra-se (hierofania) e, ao mostrar-se, 
limita-se. Mas, dessa maneira, ao revestir um objeto ou uma pessoa 
de sacralidade, torna possível ao ser humano comunicar-se com o 
transcendente, o sagrado em sua forma absoluta, o divino. O símbolo 
religioso está localizado, em primeiro lugar “entre” o totalmente o Outro 
e o sujeito humano que o experimenta. 
Sendo assim, o homem como um animal simbólico faz continuamente uso 
dos símbolos como linguagem e arte para expressar suas experiências. 
TEMA 2 – A ORIGEM DO NOME 
Tanto Alves quanto Croatto nos ajudam a entender a origem do nome, 
utilizando a etimologia, bem como o costume originado do nome. 
Alves (2012, p. 155, grifo nosso) salienta que o símbolo: 
[...] é um termo de origem grega que na Grécia antiga era usada como 
usado como sinal de identificação e reconhecimento facilitando 
encontro e a comunicação entre as pessoas nas religiões o símbolo 
além dessas funções funciona como uma chave que abre portas para 
facilitar o processo de aprendizagem e consequentemente 
humanização. 
 Croatto (2010, p. 84-85, grifo nosso) corrobora essa ideia e acrescenta: 
Por sua etimologia (do grego sumballo, ou symballo), o símbolo refere-
se à união de duas coisas. Era um costume grego que, ao se fazer um 
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contrato, fosse quebrado em duas partes um objeto de cerâmica, então 
cada pessoa levava um dos pedaços. Uma reclamação posterior era 
legitimada pela reconstrução (pôr junto = symballo) de cerâmica 
destruída, cujas metades deviam coincidir. A união das partes permitia 
reconhecer que amizade permanecia intacta. 
Além de conceituar símbolo, Croatto (2010, p. 85) exemplifica trazendo 
uma história para ilustrar o uso dentro da cultura popular: 
Esse devia ser um costume muito praticado, pois o livro de Tobias 
(escrito possivelmente na Mesopotâmia) conta que o ancião Tobit 
encarregou o jovem Tobias de recuperar um dinheiro emprestado na 
Média, a um tal Gabael, mas Tobias pergunta-lhe: “como poderei 
recuperar o dinheiro? Nem Gabael me conhece, nem eu o conheço! 
Que sinal (semeion) posso apresentar para Gabael me reconheça, 
acredite e me entregue o dinheiro? Tobit respondeu: “ele me deu seu 
documento e eu lhe dei o meu; eu o dividi em dois para que cada um 
de nós ficasse com a metade. Tomei uma e deixei a outra com o 
dinheiro”. 
Segundo Croatto (2010, p. 85), outro exemplo parecido é o de Davi 
quando, em uma oportunidade, corta um pedaço da barra do manto de Saul, que 
estava desprotegido, como prova posterior de que tinha estado perto dele e teria 
podido então matá-lo. 
Percebe-se com isso que a função básica do símbolo relatada tanto em 
Alves quanto em Croatto era fazer uma “identificação” entre as partes, o que é 
uma linguagem de reconhecimento, no sentido de dar autenticidade ao 
relacionamento. 
TEMA 3 – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SÍMBOLO 
 Ao analisar os símbolos mais de perto, logo percebe-se que algumas 
características acabam se destacando. Croatto nos ajuda a entender melhor 
essas distinções. 
3.1 Duplo sentido 
 O duplo sentido se refere ao fato de o símbolo ser utilizado não no sentido 
primário do objeto, mas no sentido da representação. Nesse sentido, Croatto 
explica que há uma inter-relação entre eles: 
Esses exemplos nos ajuda a compreender o que é o símbolo. Em todos 
eles aparecem duas coisas separadas, mas que se completam. Em 
outras palavras, uma parte remete à outra. Podemos deduzir que no 
símbolo estão presentes dois elementos que de alguma forma se inter-
relacionam. Mas devemos manter-nos no nível do sentido, não no das 
coisas em si mesmas (Croatto, 2010. p. 85). 
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Sabemos que cada coisa, cada objeto tem sua própria identidade, suas 
características e sua função específica. Entretanto, quando se fala do uso na 
forma de símbolo, esses objetos assumem um novo significado, ampliam seu 
sentido e passam a ter um “segundo significado”. Portanto o primeiro sentido é 
ultrapassado para ressignificar uma experiência pessoal. Por exemplo, umapessoa pode atribuir um sentimento, uma emoção a um objeto do cotidiano, e o 
que para a maioria das pessoas é apenas um objeto, para aquela pessoa 
especifica é um símbolo com um significado diferente, pois tem em si uma 
experiência fenomênica. 
Croatto (2010, p. 86) define assim: 
Cada coisa tem a sua própria identidade (uma pedra é uma pedra), tem 
sua própria função e é parte de uma estrutura global dentro do 
universo. Os astros são emissores de luz e os planetas a refletem; o 
sol regula as estações, a rotação da Terra, determinando a sequência 
do dia e da noite; todos os seres da terra, animados ou inanimados, 
têm suas próprias leis biológicas ou físicas. São simplesmente o que 
são. Têm seu próprio sentido. Mas o ser humano pode “atravessar” 
esse primeiro sentido para ver nas coisas de sua experiência 
fenomênica um segundo sentido. Diante do pôr do sol (uma realidade 
astronômica cotidiana), eu posso sentir uma emoção especial tanto 
pela beleza do cenário como pela nostalgia do que termina e fez nesse 
sentido ver uma formosa flor (que obedece a suas próprias leis 
biológicas, seu primeiro sentido) me faz pensar na pessoa que mais 
amo. O voo de uma ave suscita uma sensação de paz e admiração. O 
pôr do sol, uma flor, um pássaro que voa são realidades profanas, mas 
podem chegar a ser simbólicas: elas têm um “segundo sentido”, 
captado por meio do primeiro no cotidiano. 
3.2 Constituição dos símbolos 
 Nessa direção, segundo Croatto (2010), precisamos considerar dois 
aspectos fundamentais. Primeiro, que o segundo sentido nunca está no objeto 
em si, mas na experiência pessoal e singular que cada um tem. Segundo, as 
coisas não são simbólicas nem se constituem símbolos por si sós, mas são 
constituídas símbolos após algum tipo de experiência humana. Sendo assim, 
segundo Croatto (2010, p. 87), “as coisas podem ser elevadas à dimensão de 
símbolos, sejam eles profanos ou religiosos”. 
3.3 O símbolo transignifica 
 O símbolo sofre então uma transformação no seu significado, uma 
transignificação. Ele deixa de lado seu sentido primário e assume um novo 
significado. Sobre isso, Croatto (2010, p. 86-87) argumenta: 
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O símbolo é, então, um elemento desse mundo fenomênico (desde 
uma coisa até uma pessoa ou um acontecimento) que foi 
“transignificado”, enquanto significaria algo além do seu próprio sentido 
primário. A abóboda celeste é símbolo de transcendência e de 
soberania. Tal sentido está por trás do que o céu é para o olhar 
humano. Por isso podemos descrever o símbolo como “remissivo”; 
envia para outra realidade que é aqui importa existencialmente. O sol, 
como símbolo, remete à máxima energia vital, que se expressa como 
ser supremo, ou à “verdade” (o sol vê tudo em seu percurso luminoso) 
que é, por exemplo, o atributo do Varuna do hinduísmo, do Mitra 
iraniano, do Shamash assírio-babilônico ou do Iahweh bíblico (cf. Sl 
19,2-7). Portanto, na experiência do homo religiosus o transcendente 
que o símbolo convoca não é objetivável nem definível em palavras. 
Percebe-se como mistério como claro escuro por isso é preciso a 
mediação das coisas de nossa experiência comum. 
Podemos concluir que o objeto, após ser transignificado, perde o sentido 
primário na experiência humana especifica, levando a essa experiência para o 
transcendente, que por si só não pode ser objetivável nem definido em palavras. 
3.4 Da analogia ao símbolo 
Outra consideração fundamental é que as coisas que se tornam 
simbólicas são elevadas pelo que são e como são. Isso implica dizer que nem 
tudo desse mundo pode ser símbolo de algum aspecto do divino e nem da sua 
vivência. 
Croatto (2010, p. 88) exemplifica e acrescenta da seguinte forma: 
[...] a serpente é um símbolo da sabedoria pelo jeito como age e se 
move; ou é um símbolo de vida porque troca sua pele anualmente ou 
porque vive na terra (é um animal é um animal que ctônico) e pode 
chegar a ser símbolo de morte pois sua mordida é letal. 
É a maneira de se manifestar ou a forma de um objeto, e a 
maneira de agir de um ser vivente (uma árvore, um animal, um ser 
humano) o que o conduz a um ou outro aspecto do sagrado, 
manifestado justamente sob essa dimensão. 
Daí surge, e compreende-se naturalmente, a infinita variedade 
de símbolos. A heterogeneidade é própria do fenomênico, e por isso o 
mistério é visto refletido nessa multiplicidade de coisas e fenômenos 
do mundo, que é o depósito fontal dos símbolos. O sagrado é 
percebido fragmentariamente, mas isso é essencial. O relevante é o 
fato de que se capta e vive analogicamente nas coisas deste mundo 
que por algum motivo são elevadas ao plano simbólico. Tudo pode ser 
transfigurado em hierofania, mas isso não supõe que de fato seja. É 
preciso haver uma vivência do sagrado em relação a tal ou qual 
elemento mundano. Nem toda pedra é sagrada. A pedra que se torna 
sagrada não o é necessariamente para todas as pessoas. É necessário 
mediar uma experiência do transcendente em relação a esse objeto. 
3.5 O símbolo dá transparência 
 Essa característica do símbolo é bastante interessante de se entender. 
Dar-se em transparência é simbolizar de tal maneira uma característica do 
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Mistério, a ponto de, retirando-se o símbolo ou substituindo-o, a vivência com o 
transcendente ser totalmente modificada. Croatto (2010, p. 90-91) usa um 
exemplo interessante para isso: 
[...] ele é como uma lente que permite ver o que sem ela não se vê. 
Sem os objetos convertidos em símbolos, apaga-se a percepção do 
sagrado na forma como se experimenta, e tampouco se pode 
expressá-la. A água utilizada no banho ritual é o âmbito no qual se 
hierofaniza o sagrado como forca de purificação. Se em lugar da agua 
fosse utilizado outro elemento (azeite por exemplo), o sentido do gesto 
mudaria e modificar-se-ia o aspecto do sagrado vivido no primeiro 
caso. O azeite, de fato, não expressa purificação, mas consagração ou 
alimentação substancial. 
Por isso, a visualização do sagrado é multifacetada e não pode ser 
esgotada ao se conhecer apenas uma dessas facetas. Segundo Croatto (2010, 
p. 91), “a heterogeneidade dos símbolos é uma amostra de sua múltipla riqueza, 
ainda que cada hierofania concreta parcialize e fragmente o símbolo”. 
 Isso posto, conclui-se que entender a diversidade de símbolos e como 
estes chegam a ser elevados à dimensão do transcendente, seus sentidos e 
duplos sentidos, a transignificância, a transparência, suas analogias etc. nos 
ajuda a perceber melhor a maneira como acontece a comunicação no sistema 
religioso e assim participar das ações do mistério. 
TEMA 4 – METÁFORA, ALEGORIA, SIGNO 
 Para que o estudo do símbolo seja mais completo, é necessário verificar 
também as linguagens que são similares ao símbolo, mas que não são idênticas, 
fazendo, assim, uma distinção importante. 
4.1 Metáfora 
A metáfora, conquanto tenha o sentido de levar mais adiante, difere do 
símbolo, pois está mais diretamente ligada à comparação do que a 
transignificação. Croatto (2010, p. 92) argumenta da seguinte forma: 
Já se disse que o símbolo “remete” a outro nível da realidade, que é 
um objeto deste mundo fenomênico capaz de trans-significar outra 
coisa. Por conseguinte, o símbolo não é uma repetição do que 
expressa na linguagem comum ou a linguagem científica. Essa 
coincidência o anularia, tornando-o inútil e vazio. Tampouco é uma 
metáfora, ainda que essa palavra corresponda-lhe etimologicamente 
enquanto “leva mais adiante” (grego: meta-fero), ou seja, para outro 
significado. A metáfora, contudo, “leva mais adiante”, a outro sentido, 
apoiando-se somente no sentido direto. Ao dizer “este guerreiro é um 
leão”, não imagino um leão lutando com sua presa, mas penso que tal 
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indivíduo e na ideia claramente aludida de força, objeto de uma 
experiência anterior (conheço essa característica do gol do guerreiro e 
a expresso na comparação. 
Sobre o símbolo é importante lembrar que não é atribuído a algo 
conhecido, mas é a intuição do desconhecido. 
Posso fazer do leão um símbolo (assim aparece, por exemplo, nos 
baixos-relevos da antiga Babilônia, ou em textos mesopotâmicos com 
apelativo de Adad), mas então significa força como uma característica 
do divino, que transcende tanto o animal como o ser humano, a que 
faz referência. A metáfora é uma comparação; O símbolo é uma 
transignificação (Croatto, 2010. p. 92). 
4.2 Alegoria 
 Diferentemente de símbolo, a alegoria diz “uma coisa diferente”, mas a 
ideia é que só é possível entender a alegoria (primeiro sentido), se conhecer o 
significado do segundo sentido. Sendo assim, ao interpretar a alegoria, é 
essencial conhecer os contextos e o pano de fundo. Sobre isso, Croatto (2010, 
p. 95) descreve: 
O símbolo tampouco confunde com a alegoria. Essa figura de 
linguagem é um “dizer-outra-coisa” (gr. allo-agoreou). Também o 
símbolo “diz outra coisa”, mas se encaminha para uma direção oposta. 
A alegoria transporta um “segundo sentido” para um “primeiro sentido”. 
Em outras palavras, envolve um sentido – conhecido! – com uma 
aparência comum de significação óbvia e comum. Para entender a 
alegoria, é preciso ter conhecimento prévio do segundo sentido. 
Por isso, Croatto (2010, p. 92) destaca que “o símbolo dá em 
transparência, e a alegoria em tradução, segundo a expressão do próprio autor”. 
4.3 Signo 
Segundo Croatto (2010, p.97), em diferentes aspectos, o signo, a alegoria 
e o símbolo se assemelham, coincidem. Por isso, uma distinção mais cuidadosa 
se faz necessária. Em relação à alegoria, assemelha-se quando se supõe 
“conhecer” o segundo sentido, que se se apresenta “traduzido”. Para que algo 
seja signo, deve ser de algo conhecido. Por exemplo, a nuvem como signo da 
chuva; a fumaça como sinal de fogo; a campainha como sinal da chegada de 
uma pessoa. 
Portanto, o segundo sentido, ao qual remete o signo, é anterior à sua 
formalização. Por exemplo: 
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Uma pegada no chão informa-nos sobre o passo deste ou daquele 
animal; é um “signo” porque existe um conhecimento prévio do efeito 
de uma pegada. Também são “signos” dos chamados símbolos 
lógicos, matemáticos, químicos, por serem convencionais e suporem 
uma aprendizagem anterior ao seu uso. Embora sejam chamados de 
“símbolos”, dos signos estão muito distantes do que que aqui 
entendemos por símbolo, seja religioso o profano, cósmico, onírico ou 
artístico (Croatto, 2010. p. 98). 
Ainda sobre essa distinção, o símbolo: 
[...] diferencia-se do signo, tanto quanto da metáfora e da alegoria, por 
“remeter” a algo desconhecido em si, mas que entretanto se faz 
presente em algo visível, onde é captado em um claro-escuro que 
afasta qualquer pretensão de apossar-se do Ministério. É intuitivo (lat. 
Intus-ire, “ir para dentro”); não que prevê, mas que deixa ver “por meio 
de” (ele mesmo). No âmbito da experiência religiosa, o não-conhecido 
em si, como é o mistério, é captado, experimentado intuído, no claro-
escuro do símbolo (Croatto, 2010. p. 98). 
Para concluir, Croatto (2010, p. 101) nos apresenta um gráfico que, 
embora elementar, nos ajuda a entender as diferenças entre símbolo, signo, 
alegoria e metáfora. 
 Símbolo vai em uma só direção, para dentro/para além/rumo àquilo que 
só pode expressar-se por ele; 
 Signo assimilar uma equação de conteúdos, ou uma relação de causa 
e efeito; 
 Alegoria remete a um sentido que, na realidade, “abre” o horizonte do 
primeiro sentido; 
 Metáfora compra dois elementos conhecidos. 
TEMA 5 – OUTRAS CLASSIFICAÇÕES 
Segundo Alves (2012), existe um tipo de classificação de símbolos que 
nos ajuda a diferenciar a imagem simbólica das demais, já que na prática é difícil 
delimitar essas fronteiras. Pelo menos no campo teórico, é necessário que haja 
essa delimitação (Chevalier; Gheerbrant, 1990): 
 O emblema é uma figura visível elaborada convencionalmente para 
representar uma ideia, um ser biológico ou uma moral; por exemplo, a 
bandeira é o emblema da pátria; a coroa de louros, o da glória; 
 O atributo corresponde a uma realidade ou imagem que serve de signo 
diferenciador de um personagem, uma coletividade ou um ser moral; por 
exemplo: as asas são o atributo de uma sociedade ou empresa de 
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navegação aérea; a roda, de uma companhia ferroviária; a balança, da 
justiça. Escolhe-se um acessório característico para designar o todo; 
 A alegoria é uma figuração que toma com maior frequência a forma 
humana, mas que por vezes pode tomar a forma de um animal ou de um 
vegetal, ou, ainda, de um feito heroico, de uma determinada situação, de 
uma virtude ou de um ser abstrato. Por exemplo: uma mulher alada é a 
alegoria da vitória, e uma cornucópia é a alegoria da abundância. 
Saiba mais 
Cornucópia é um símbolo representativo de fertilidade, riqueza e 
abundância. Na mitologia greco-romana era representada por um vaso em forma 
de chifre, com uma abundância de frutas e flores se espalhando dele. Hoje, 
simboliza a agricultura e o comércio, além de compor o símbolo das ciências 
econômicas (Wikipedia, 2017). 
 A metáfora desenvolve uma comparação entre dois seres ou duas 
situações, por exemplo, qualificar de dilúvio verbal a eloquência de um 
orador, ou dizer que Maria é uma flor – Maria é um ser humano, a flor é 
uma planta. Não significa que Maria seja uma planta, mas uma pessoa 
delicada, formosa e perfumada; 
 A analogia é uma relação entre seres ou noções diferentes em sua 
essência, mas semelhantes sob certo ponto de vista; a cólera de Deus, 
por exemplo, tem somente uma relação analógica com a corda do homem. 
O raciocínio por analogia é fonte de inúmeros equívocos; 
 O sintoma é uma modificação nas aparências ou funcionamento os 
habituais, que pode revelar uma certa perturbação e um conflito; 
 A síndrome é o conjunto de sintomas que caracterizam uma situação 
evolutiva e que pressagiam um futuro mais ou menos determinado; 
 A parábola é um relato que possui sentido próprio, com objetivo de sugerir, 
além desse sentido imediato, uma lição moral. Por exemplo: a parábola 
do semeador, na qual o mesmo tipo de grão cai sobre terrenos diferentes; 
 O apólogo é uma fábula didática, uma ficção de moralistas, destinada, por 
meio de uma situação imaginária, a transmitir certo ensinamento. 
Alves conclui: 
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tais recursos simbólicos indicam a capacidade do homem de manusear 
as linguagens figurativas das mais variadas formas. Seja com um 
objetivo didático, seja com o intuito de se alcançar formas mais 
elaboradas e profundas de se transmitir uma dada ideia, a presença 
dos símbolos na divulgação do conhecimento religioso é de 
imponderável relevância. 
NA PRÁTICA 
 Como vimos, qualquer coisa pode ser elevada a símbolo, desde que seja 
diretamente ligado à uma experiência, pessoal, com o mistério. 
Temos inúmeros escritos religiosos que são carregados de mitos e ritos 
e, agora, por definição, símbolos. 
Cabe ao estudante de ciência da religião perceber cada uma dessas 
características, para distingui-las didaticamente, a fim de chegar mais próximo 
daquilo que realmente se quis dizer ao relatar da forma como foi relatado. 
 Por exemplo, em Êxodo 3,1-6 
Moisés pastoreava o rebanho de seu sogro Jetro, que era sacerdote 
de Midiã. Um dia levou o rebanho para o outro lado do deserto e 
chegou a Horebe, o monte de Deus. Ali o Anjo do Senhor lhe 
apareceu numa chama de fogo que saía do meio deuma sarça. 
Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, esta não era 
consumida pelo fogo. "Que impressionante! ", pensou. "Por que a 
sarça não se queima? Vou ver isso de perto. "O Senhor viu que ele 
se aproximava para observar. E então, do meio da sarça Deus o 
chamou: "Moisés, Moisés!" "Eis-me aqui", respondeu ele. Então disse 
Deus: "Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em 
que você está é terra santa". Disse ainda: "Eu sou o Deus de seu pai, 
o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó". Então Moisés 
cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus (Bíblia, NVI. 2003. 
p. 97). 
Nesse texto, a sarça cumpre a função de símbolo, pois, apesar de ser 
uma planta (sentido primário), ultrapassa esse sentido, transignificando em 
presença de Deus. Mas isso é em relação a Moisés, pois ele teve essa 
experiência com o Mistério. 
É interessante lembrar que essa mesma sarça pode ser usada como 
alegoria, por exemplo: ao dizer aquele pregador é uma sarça ardente. Ou ainda 
pode ser usada como signo, por exemplo: se a logomarca de algum ministério 
for uma sarça ardente. Em todos esses sentidos, o uso do símbolo e das suas 
formas de classificação cumprem o seu papel de comunicar. 
 
 
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FINALIZANDO 
Como vimos nesta aula, o símbolo tem em si uma variedade de 
classificações e distinções, que didaticamente são importantes para o estudante 
da religião. Contudo, todas essas formas de apresentar o “símbolo” têm uma 
função importantíssima, que é a da comunicação. 
Comunicação na religião é importante para entender a manifestação do 
Mistério (revelação), para os relacionamentos (ritos), seja com o mistério, com o 
próximo ou consigo mesmo e para as distinções da identidade de cada religião 
(mitos). 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
ALVES, L. A. S. Cultura religiosa: caminho para a construção do conhecimento. 
Curitiba: InterSaberes, 2012. 
CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, 
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 3. ed. Rio de Janeiro: J. 
Olimpio, 1990. 
CROATTO, J. S. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à 
fenomenologia da religião. São Paulo: Paulinas, 2010 
WIKIPEDIA. Cornucópia. Wikipedia, 6 dez. 2017. Disponível em: 
. Acesso em: 2 fev. 2020. 
WIKIPEDIA. Hierofania. Wikipedia, 27 jun. 2018. Disponível em: 
. Acesso em: 2 fev. 2020. 
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