Prévia do material em texto
Legislação Escolar Introdução A legislação escolar no Brasil é um pilar fundamental para a organização e o funcionamento do sistema educacional, garantindo direitos, estabelecendo deveres e definindo diretrizes para a qualidade do ensino. Este documento explora os principais marcos legais que regem a educação brasileira, desde as bases constitucionais até os programas e diretrizes mais específicos, oferecendo uma visão abrangente sobre o arcabouço normativo que molda a escola no país. Sumário Bases Fundamentais Legislação Escolar (p.1) A Educação e as Constituições (p.3) A educação nas Constituições do século XX (p.4) A Educação Escolar na LDB (p.6) As Leis de Diretrizes e Bases (LDB) (p.7) A LDB atual: Lei nº 9.394, de 1996 (p.8) Plano Nacional de Educação (PNE) (p.9) PNE: breve histórico (p.10) O PNE atual (p.11) Marcos Normativos dos Sistemas de Ensino (p.12) Programas Essenciais do FNDE Os Programas do FNDE (p.5) Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) (p.13) Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) (p.14) Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) (p.15) Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE) (p.16) Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA) (p.17) Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) (p.18) Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) (p.19) Diretrizes e Regulamentações Complementares Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) (p.20) Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) (p.21) Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (p.22) Planos Estaduais e Municipais de Educação (p.23) Lei de Cotas nas Universidades (Lei nº 12.711/2012) (p.24) Programas de Financiamento Estudantil (p.25) Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) (p.26) Conselho Nacional de Educação (CNE) (p.27) Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e Educação (p.28) Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo (p.29) Diretrizes Operacionais para a Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (p.30) Referências Bibliográficas (p.31) A Educação e as Constituições A trajetória da educação nas Constituições brasileiras revela a evolução do pensamento político e social sobre o papel do Estado na garantia do direito à educação. Desde a primeira Constituição, outorgada em 1824, durante o Império, até a atual Carta Magna de 1988, é possível identificar avanços significativos no reconhecimento da educação como direito fundamental e dever do Estado. A Constituição Imperial de 1824, ainda que de forma incipiente, já trazia em seu texto a garantia da instrução primária gratuita a todos os cidadãos, além da criação de colégios e universidades. No entanto, é importante ressaltar que o conceito de cidadania naquele período era restrito, excluindo escravos e, na prática, grande parte da população. Com a Proclamação da República e a promulgação da Constituição de 1891, houve uma descentralização da responsabilidade educacional, atribuindo aos estados a competência para legislar sobre o ensino primário e secundário, enquanto à União cabia a organização do ensino superior. Essa primeira Constituição republicana estabeleceu também a laicidade do ensino ministrado nos estabelecimentos públicos, marcando uma separação entre Estado e Igreja no âmbito educacional. 11824 - Constituição Imperial Garantia de instrução primária gratuita a todos os cidadãos e criação de colégios e universidades. 2 1891 - Primeira Constituição Republicana Descentralização da educação e estabelecimento da laicidade do ensino público.31934 - Segunda Constituição Republicana Educação como direito de todos, dever da família e dos poderes públicos. Criação dos sistemas educacionais. 4 1988 - Constituição Cidadã Educação como direito social fundamental, estabelecimento de princípios para o ensino e definição de responsabilidades dos entes federados. As Constituições posteriores, especialmente a partir de 1934, ampliaram gradativamente o reconhecimento da educação como direito social, estabelecendo princípios, diretrizes e competências específicas para cada nível de ensino. Esse processo culminou com a Constituição de 1988, conhecida como "Constituição Cidadã", que consagrou a educação como direito social fundamental, estabelecendo princípios como a gratuidade do ensino público, a valorização dos profissionais da educação e a gestão democrática do ensino público. A educação nas Constituições do século XX O século XX foi marcado por intensas transformações políticas, sociais e econômicas no Brasil, refletidas nas diversas Constituições promulgadas nesse período. Cada uma dessas Cartas trouxe avanços e, por vezes, retrocessos no tratamento dado à educação, influenciados pelos contextos históricos em que foram elaboradas. Constituição de 1934 A Constituição de 1934, elaborada após a Revolução de 1930 e influenciada pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, representou um marco importante ao dedicar um capítulo específico à educação. Estabeleceu a educação como direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos poderes públicos. Instituiu a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário, a liberdade de ensino, a criação de fundos específicos para a educação e a elaboração de um Plano Nacional de Educação. Definiu também percentuais mínimos da receita de impostos a serem aplicados na educação pelos diferentes entes federados. Constituição de 1937 Com o advento do Estado Novo, a Constituição de 1937 representou um retrocesso em relação à anterior. O ensino passou a ter uma orientação mais autoritária, com ênfase no ensino cívico, na educação física e nos trabalhos manuais. A gratuidade do ensino não foi garantida de forma ampla, sendo mantida apenas para aqueles que comprovassem insuficiência de recursos. Fortaleceu-se o ensino profissional, alinhado às necessidades de industrialização do país, mas com clara distinção entre a formação das elites dirigentes e dos trabalhadores. Constituição de 1946 Com a redemocratização do país após o fim do Estado Novo, a Constituição de 1946 retomou princípios da Carta de 1934. Reafirmou a educação como direito de todos, a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, e estabeleceu a necessidade de concurso público para o magistério oficial. Previu também a elaboração de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada apenas em 1961 (Lei nº 4.024). Constituição de 1967 e Emenda Constitucional nº 1 de 1969 Durante o regime militar, a Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional nº 1 de 1969 mantiveram formalmente os princípios educacionais anteriores, mas na prática, houve uma forte intervenção autoritária na educação. Foi ampliada a obrigatoriedade do ensino primário para a faixa etária de 7 a 14 anos e fortalecida a vinculação entre educação e desenvolvimento nacional, com ênfase no ensino técnico-profissional. A Constituição de 1988, embora pertença ao século XX, representa o coroamento de um processo de evolução do direito à educação no Brasil. Em seu artigo 205, estabelece a educação como "direito de todos e dever do Estado e da família", devendo ser "promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Dedica toda uma seção à educação (artigos 205 a 214), estabelecendo princípios, garantias e mecanismos de financiamento que constituem a base do atual sistema educacional brasileiro. Os Programas do FNDE O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia federal criada pela Lei nº 5.537/1968, desempenha papel fundamental na execução de políticas educacionais do Ministério da Educação (MEC). Sua principal missão é prestar assistênciabrasileira e de fatores que podem interferir no desempenho do estudante. Criado em 1990, o SAEB passou por diversas reformulações ao longo dos anos, sendo atualmente regido pela Portaria nº 366, de 29 de abril de 2019, do Ministério da Educação. Evolução Histórica O SAEB foi implementado em 1990, inicialmente com uma avaliação amostral das escolas públicas urbanas que ofertavam as 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries do Ensino Fundamental, com testes de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. Em 1995, o sistema foi reestruturado, passando a avaliar alunos das 4ª e 8ª séries (atuais 5º e 9º anos) do Ensino Fundamental, com foco em Língua Portuguesa e Matemática. Em 2005, o SAEB foi novamente reformulado, passando a ser composto por duas avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), de caráter amostral, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, de caráter censitário. Em 2013, foi incorporada a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), para avaliar o nível de alfabetização dos estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental. A partir de 2019, com a Portaria nº 366, as avaliações passaram a ser identificadas unicamente como SAEB, acompanhado da etapa, área de conhecimento e tipos de instrumentos envolvidos. Além disso, o sistema foi ampliado para incluir a educação infantil, com avaliação de condições de oferta, e o 9º ano do ensino fundamental passou a ser avaliado também em Ciências da Natureza e Ciências Humanas, além de Língua Portuguesa e Matemática. Em 2021, o SAEB passou por nova atualização, com a inclusão da avaliação do 2º ano do ensino fundamental, para verificar o processo de alfabetização, e a consolidação da avaliação das áreas de Ciências da Natureza e Ciências Humanas para o 9º ano do ensino fundamental. Também foi intensificado o uso de questionários contextuais para coletar informações sobre fatores socioeconômicos e escolares que podem estar associados ao desempenho dos estudantes. Objetivos e Funcionamento O SAEB tem como principais objetivos avaliar a qualidade, a equidade e a eficiência da educação básica brasileira, produzindo informações sistemáticas sobre o desempenho dos estudantes e sobre as condições intra e extraescolares que incidem no processo de ensino e aprendizagem. Os resultados do SAEB subsidiam a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas públicas educacionais nas diferentes esferas de governo, contribuindo para a melhoria da qualidade, equidade e eficiência do ensino. Estrutura e Aplicação O SAEB é aplicado a cada dois anos, abrangendo estudantes de escolas públicas e privadas, de zonas urbanas e rurais, que estejam matriculados no 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e na 3ª e 4ª séries do ensino médio. A avaliação é composta por testes cognitivos, que medem o desempenho dos estudantes em diferentes áreas do conhecimento, e questionários contextuais, que coletam informações sobre as condições socioeconômicas e culturais dos estudantes, as condições de oferta das escolas, o perfil dos professores e diretores, entre outros aspectos. Resultados e Utilização Os resultados do SAEB, juntamente com os dados do Censo Escolar, compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), criado em 2007 como um indicador de qualidade educacional que combina informações de desempenho em exames padronizados com informações sobre rendimento escolar (aprovação). O IDEB é calculado e divulgado a cada dois anos, permitindo o acompanhamento das metas de qualidade estabelecidas no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) para a educação básica. O SAEB representa um importante instrumento de monitoramento da qualidade da educação básica no Brasil, fornecendo informações que subsidiam a formulação e o acompanhamento de políticas públicas educacionais. Ao longo de seus mais de 30 anos de existência, o sistema tem contribuído para a construção de uma cultura de avaliação educacional no país e para a promoção da transparência e da responsabilização dos sistemas de ensino. No entanto, como todo sistema de avaliação em larga escala, o SAEB também enfrenta desafios e críticas, como a necessidade de considerar as diversidades regionais e socioeconômicas do país, o risco de estreitamento curricular em função da avaliação, a pressão sobre professores e estudantes, entre outros aspectos. Por isso, é fundamental que os resultados do SAEB sejam interpretados e utilizados de forma adequada, considerando suas potencialidades e limitações, e que sejam complementados por outras formas de avaliação, incluindo as avaliações realizadas pelas próprias escolas e sistemas de ensino. Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino, sendo discutidas, concebidas e fixadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Elas visam garantir a formação básica comum e estabelecer uma base nacional unificada, respeitando a autonomia dos sistemas de ensino e valorizando as particularidades pedagógicas, regionais e socioculturais. Base Legal e Objetivos As DCNs têm origem na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996, que em seu artigo 9º, inciso IV, estabelece que cabe à União "estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum". O objetivo principal das DCNs é orientar as escolas brasileiras na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas. Diferentemente dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que tinham caráter de recomendação, as Diretrizes Curriculares Nacionais têm caráter mandatório, devendo ser seguidas por todas as escolas e sistemas de ensino. As DCNs buscam preservar a autonomia da escola e do professor, evitando o detalhamento excessivo de conteúdos. Elas estabelecem princípios, fundamentos e procedimentos que devem orientar as escolas na elaboração de seus currículos, deixando espaço para a diversidade de projetos pedagógicos. Além disso, as DCNs procuram assegurar a formação básica comum, a fim de legitimar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional, permitindo, ao mesmo tempo, a flexibilidade curricular para atender às demandas e peculiaridades locais. 3 5 Além das DCNs específicas para cada etapa e modalidade da educação básica, existem também as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, estabelecidas pela Resolução CNE/CEB nº 4/2010, que sistematizam os princípios e diretrizes gerais da Educação Básica, buscando garantir a articulação entre as etapas e modalidades de ensino e a unidade teórico-metodológica do processo educacional. Com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2017 para a educação infantil e ensino fundamental, e em 2018 para o ensino médio, as DCNs continuam vigentes e fundamentais para a organização curricular das escolas, sendo a BNCC um documento complementar que detalha os direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que todos os estudantes devem desenvolver ao longo da educação básica. Assim, enquanto as DCNs estabelecem os princípios e fundamentos que orientam a organização curricular, a BNCC define os conhecimentos, competências e habilidades essenciais que todos os estudantes devem desenvolver. As Diretrizes Curriculares Nacionais, portanto, representam um importante instrumento normativo para a garantia de uma educação de qualidade para todos os brasileiros, estabelecendo parâmetros de equidade e buscando assegurar a formação básica comum, sem deixarde valorizar a diversidade regional, cultural e metodológica que caracteriza a educação no Brasil. DCNs para a Educação Infantil Estabelecidas pela Resolução CNE/CEB nº 5/2009, orientam a organização de propostas pedagógicas para a educação infantil, enfatizando a indissociabilidade entre o cuidar e o educar, o respeito às especificidades das crianças de 0 a 5 anos, a garantia de experiências que promovam o desenvolvimento integral e a articulação com o ensino fundamental. DCNs para o Ensino Fundamental Definidas pela Resolução CNE/CEB nº 7/2010, orientam a organização curricular do ensino fundamental de 9 anos, estabelecendo princípios éticos, políticos e estéticos que devem fundamentar o projeto político- pedagógico das escolas, bem como a forma de organização curricular, a avaliação e a gestão democrática. DCNs para o Ensino Médio Atualizadas pela Resolução CNE/CEB nº 3/2018, em decorrência da reforma do ensino médio (Lei nº 13.415/2017), estabelecem a organização curricular por áreas do conhecimento, a oferta de diferentes itinerários formativos e a integração com a educação profissional e tecnológica. DCNs para a Educação das Relações Étnico-Raciais Instituídas pela Resolução CNE/CP nº 1/2004, visam orientar a inclusão da temática da História e Cultura Afro- Brasileira e Africana nos currículos escolares, em atendimento à Lei nº 10.639/2003. Posteriormente, com a Lei nº 11.645/2008, foi incluída também a temática indígena. DCNs para a Educação Especial Estabelecidas pela Resolução CNE/CEB nº 2/2001 e atualizadas pela Resolução CNE/CEB nº 4/2009, orientam a organização do atendimento educacional especializado na perspectiva da educação inclusiva, garantindo o acesso, a permanência e a participação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares. DCNs para a Educação de Jovens e Adultos Definidas pela Resolução CNE/CEB nº 1/2000 e complementadas pela Resolução CNE/CEB nº 3/2010, orientam a organização da educação de jovens e adultos como modalidade da educação básica, considerando as situações, os perfis e as faixas etárias dos estudantes, e estabelecendo a duração mínima dos cursos e a idade mínima para ingresso e certificação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Sua implementação representa um marco significativo na história da educação brasileira, ao estabelecer, de forma clara e objetiva, as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas pelos estudantes em cada etapa de sua formação. Base Legal e Histórico A elaboração da BNCC tem respaldo na Constituição Federal de 1988, que estabelece, em seu artigo 210, a necessidade de "conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais". Essa determinação foi reforçada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996, e pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 13.005/2014, que estabeleceu como estratégia para o cumprimento de suas metas a elaboração e implantação da BNCC. O processo de elaboração da BNCC teve início em 2015, com a formação de uma comissão de especialistas responsável pela redação da primeira versão do documento, que foi colocada em consulta pública no mesmo ano. Em 2016, após a análise das contribuições recebidas, foi elaborada a segunda versão, que passou por um processo de discussão em seminários estaduais. Em 2017, foi apresentada a terceira versão, que após ajustes, foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e homologada pelo Ministério da Educação em dezembro do mesmo ano, contemplando as etapas da educação infantil e do ensino fundamental. A parte referente ao ensino médio foi homologada em dezembro de 2018, após a reforma dessa etapa de ensino, estabelecida pela Lei nº 13.415/2017. A BNCC tem como fundamento a educação integral, compreendida como o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural. Para isso, o documento estabelece dez competências gerais que os estudantes devem desenvolver ao longo de toda a educação básica, permeando cada um dos componentes curriculares. Essas competências abrangem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que visam à formação humana em suas múltiplas dimensões. 1 Educação Infantil na BNCC Na educação infantil, a BNCC está estruturada em seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento (conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se) e cinco campos de experiências (O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações). Para cada campo de experiência, são definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos por faixa etária: bebês (0-1a6m), crianças bem pequenas (1a7m-3a11m) e crianças pequenas (4a-5a11m). 2 Ensino Fundamental na BNCC No ensino fundamental, a BNCC está organizada em cinco áreas do conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino Religioso), que reúnem os diferentes componentes curriculares. Para cada componente curricular, são definidas competências específicas e um conjunto de habilidades relacionadas a objetos de conhecimento (conteúdos, conceitos e processos), organizados em unidades temáticas. As habilidades são expressas por verbos que indicam processos cognitivos e socioemocionais, associados a objetos de conhecimento. 3 Ensino Médio na BNCC No ensino médio, a BNCC está organizada em quatro áreas do conhecimento (Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas), que reúnem os diferentes componentes curriculares. Para cada área, são definidas competências específicas e habilidades a serem desenvolvidas ao longo dessa etapa. Além da formação geral básica, o currículo do ensino médio deve incluir itinerários formativos, que são arranjos curriculares diversificados que permitem aos estudantes aprofundar seus conhecimentos em uma ou mais áreas do conhecimento e/ou na formação técnica e profissional. A implementação da BNCC representa um desafio significativo para os sistemas de ensino e escolas, exigindo a revisão dos currículos, a formação continuada dos professores, a adequação dos materiais didáticos e a reorganização dos tempos e espaços escolares. Para apoiar esse processo, o Ministério da Educação, em parceria com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), instituiu o Programa de Apoio à Implementação da Base Nacional Comum Curricular (ProBNCC), que visa fomentar e acompanhar a (re)elaboração dos currículos e o alinhamento das políticas educacionais à BNCC. A BNCC não deve ser confundida com currículo. Enquanto a Base estabelece as aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver, os currículos devem ser elaborados pelos sistemas e redes de ensino, considerando as características regionais e locais, as necessidades e interesses dos estudantes, e o projeto político-pedagógico de cada escola. Assim, a BNCC representa o que é comum e obrigatório, enquanto os currículos devem contemplar, além do que é comum, as particularidades de cada contexto educacional. Planos Estaduais e Municipais de Educação OsPlanos Estaduais de Educação (PEE) e os Planos Municipais de Educação (PME) são instrumentos de planejamento que estabelecem diretrizes, metas e estratégias para a política educacional dos estados e municípios brasileiros por um período de dez anos. Esses planos são elaborados em consonância com o Plano Nacional de Educação (PNE), porém adaptados às realidades e necessidades locais, respeitando o princípio do regime de colaboração entre os entes federados. Base Legal e Objetivos A elaboração dos PEEs e PMEs está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996, que estabelece, em seu artigo 10, inciso III, que os estados devem "elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios". De forma similar, o artigo 11, inciso I, determina que os municípios devem "organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados". O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 13.005/2014, reforçou essa determinação, estabelecendo em seu artigo 8º que "os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão elaborar seus correspondentes planos de educação, ou adequar os planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, metas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de 1 (um) ano contado da publicação desta Lei". Essa determinação visava garantir a articulação federativa na implementação do PNE e o atendimento às especificidades locais no planejamento educacional. Os PEEs e PMEs têm como principal objetivo orientar a gestão educacional e as políticas públicas de educação nos estados e municípios, estabelecendo prioridades, metas e estratégias para a melhoria da qualidade da educação, o aumento da escolaridade da população, a redução das desigualdades educacionais, a valorização dos profissionais da educação, e a gestão democrática do ensino público, entre outros aspectos. Esses planos devem contemplar todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, abrangendo desde a educação infantil até a pós-graduação, e considerando as especificidades das populações do campo, indígenas, quilombolas, pessoas com deficiência, e outros grupos historicamente marginalizados. Elaboração A elaboração dos PEEs e PMEs deve seguir um processo democrático e participativo, envolvendo representantes do poder público, da sociedade civil, das instituições educacionais, dos profissionais da educação, dos estudantes e de outros segmentos sociais. Esse processo geralmente inclui a realização de diagnósticos da situação educacional local, a definição de diretrizes, objetivos, metas e estratégias, a consulta pública sobre o texto preliminar, e a aprovação pelo poder legislativo (Assembleia Legislativa, no caso dos PEEs, e Câmara Municipal, no caso dos PMEs). Diagnóstico Um elemento fundamental na elaboração dos PEEs e PMEs é o diagnóstico da situação educacional local, que deve identificar os principais desafios e potencialidades, analisar os indicadores educacionais (como taxas de matrícula, aprovação, reprovação, abandono, distorção idade-série, resultados em avaliações externas, etc.), e mapear a demanda por vagas em cada etapa e modalidade de ensino. Esse diagnóstico serve como base para a definição de metas e estratégias realistas e adequadas às necessidades locais. Conteúdo O conteúdo dos PEEs e PMEs geralmente abrange aspectos como: universalização do acesso à educação básica; ampliação do atendimento em creches e pré- escolas; melhoria da qualidade do ensino; aumento da escolaridade média da população; redução das desigualdades educacionais; formação inicial e continuada dos profissionais da educação; valorização dos profissionais da educação (incluindo planos de carreira e remuneração); gestão democrática da educação pública; financiamento da educação; e infraestrutura educacional. Monitoramento e Avaliação A implementação dos PEEs e PMEs deve ser continuamente monitorada e avaliada, para verificar o cumprimento das metas e estratégias estabelecidas e realizar os ajustes necessários. A lei que institui o PNE prevê a realização de pelo menos duas conferências nacionais de educação até o final do decênio, e sugere a realização de conferências estaduais e municipais como espaços de avaliação e ajuste dos planos. Além disso, os entes federados devem estabelecer mecanismos próprios de monitoramento e avaliação, com a participação das instâncias responsáveis pelo setor educacional e da sociedade civil. A elaboração e implementação dos PEEs e PMEs representam um importante avanço na consolidação do planejamento educacional no Brasil, contribuindo para a continuidade das políticas públicas de educação e para a articulação federativa na busca por uma educação de qualidade para todos. No entanto, esse processo ainda enfrenta diversos desafios, como a necessidade de maior participação social, a dificuldade de estabelecer metas realistas mas ambiciosas, a limitação de recursos financeiros, a descontinuidade administrativa devido às mudanças de governo, e a falta de mecanismos efetivos de monitoramento e avaliação. Apesar desses desafios, os PEEs e PMEs são instrumentos fundamentais para a concretização do direito à educação em cada estado e município brasileiro, permitindo a definição de prioridades e estratégias adequadas às realidades locais, e a mobilização da sociedade em torno de objetivos comuns para a melhoria da educação. A articulação entre os planos nacional, estaduais e municipais de educação, respeitando as competências e atribuições de cada ente federado, é essencial para a construção de um sistema educacional mais equitativo e de qualidade em todo o país. Lei de Cotas nas Universidades (Lei nº 12.711/2012) A Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, conhecida como Lei de Cotas nas Universidades, representa um marco histórico na democratização do acesso ao ensino superior no Brasil. Esta lei estabelece a reserva de vagas em instituições federais de ensino superior e técnico para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, com subcotas para estudantes de baixa renda, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência, proporcionalmente à população desses grupos no estado onde está situada a instituição. Histórico e Contexto A discussão sobre ações afirmativas no ensino superior brasileiro ganhou força a partir do início dos anos 2000, com experiências pioneiras em universidades como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade de Brasília (UnB). Essas iniciativas surgiram como resposta às desigualdades históricas no acesso à educação superior, especialmente para grupos socialmente marginalizados. O Projeto de Lei nº 73/1999, que deu origem à Lei de Cotas, tramitou por mais de uma década no Congresso Nacional, enfrentando resistências e debates acalorados. Em 2012, após a aprovação pelo Congresso, a Lei nº 12.711 foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, estabelecendo um marco regulatório nacional para as políticas de ação afirmativa nas instituições federais de ensino. Em 2016, a constitucionalidade da Lei de Cotas foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que as ações afirmativas são compatíveis com o princípio da igualdade e necessárias para a correção de desigualdades históricas. A decisão do STF fortaleceu juridicamente a política de cotas e contribuiu para sua consolidação no sistema educacional brasileiro. Inicialmente, a Lei nº 12.711/2012 estabeleceu um prazo de quatro anos para a implementação integral das cotas, com percentuais progressivos até atingir 50% das vagas. Em 2016, essa meta foi alcançada, e todas as instituiçõesfederais de ensino passaram a reservar metade de suas vagas para estudantes de escolas públicas. Em 2022, a lei foi renovada por mais dez anos, após avaliação positiva de seus resultados, garantindo a continuidade da política até 2032. A Lei de Cotas tem sido objeto de diversos estudos e avaliações, que apontam para resultados positivos em termos de inclusão social e diversidade no ensino superior federal. Pesquisas mostram que os cotistas, em geral, têm desempenho acadêmico similar ao dos não cotistas, desmentindo previsões de que haveria queda na qualidade do ensino. Além disso, a política tem contribuído para a formação de uma nova geração de profissionais mais diversa e representativa da sociedade brasileira. No entanto, a política de cotas também enfrenta desafios, como a necessidade de políticas complementares para garantir a permanência e o sucesso acadêmico dos estudantes cotistas, que muitas vezes enfrentam dificuldades econômicas, sociais e pedagógicas. Além disso, há a necessidade de avaliação contínua e aprimoramento da política, considerando as transformações sociais e educacionais do país. Apesar das controvérsias que ainda cercam o tema, a Lei de Cotas representa um importante avanço na democratização do acesso ao ensino superior no Brasil, contribuindo para a redução das desigualdades educacionais e para a construção de uma sociedade mais equitativa e inclusiva. Sua renovação em 2022 demonstra o reconhecimento de sua importância como política pública de Estado, que transcende governos específicos e se consolida como um instrumento de justiça social e reparação histórica. Escolas Públicas 50% das vagas são reservadas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, independentemente de renda ou cor/raça. Baixa Renda Metade das vagas reservadas para estudantes de escolas públicas (25% do total) é destinada a candidatos com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo. Pretos, Pardos e Indígenas Um percentual das vagas reservadas é destinado a pretos, pardos e indígenas, em proporção à população desses grupos no estado onde está situada a instituição, segundo o último censo do IBGE. Pessoas com Deficiência A partir da Lei nº 13.409/2016, foi incluída também a reserva de vagas para pessoas com deficiência, em proporção à população desse grupo no estado onde está situada a instituição. Programas de Financiamento Estudantil Os Programas de Financiamento Estudantil são políticas públicas que visam ampliar o acesso à educação superior para estudantes que não têm condições de arcar com os custos de mensalidades em instituições privadas. No Brasil, esses programas têm desempenhado um papel crucial na expansão do acesso ao ensino superior, complementando outras políticas como a ampliação da rede federal e as cotas em universidades públicas. Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em cursos superiores não gratuitos. Instituído pela Lei nº 10.260, de 12 de julho de 2001, o FIES substituiu o antigo Crédito Educativo (CREDUC), apresentando condições mais favoráveis de financiamento e mecanismos mais eficientes de gestão. Ao longo dos anos, o FIES passou por diversas reformulações para ampliar seu alcance e melhorar suas condições. Em 2010, a gestão do programa passou para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), os juros foram reduzidos para 3,4% ao ano, e o período de carência após a formatura foi ampliado. Em 2015, novas mudanças foram implementadas, estabelecendo critérios socioeconômicos mais rígidos para a seleção dos beneficiários e exigência de notas mínimas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em 2018, com a Lei nº 13.530/2017, o FIES foi novamente reformulado, passando a oferecer três modalidades de financiamento: a modalidade do FIES tradicional, com juro zero para estudantes com renda familiar per capita de até três salários mínimos; o P-FIES, para estudantes com renda familiar per capita de até cinco salários mínimos, com recursos de fundos constitucionais e do BNDES; e uma modalidade de financiamento complementar, sem subsídio do governo. 3,5M Contratos do FIES Desde sua criação, o FIES já realizou mais de 3,5 milhões de contratos, beneficiando estudantes em todo o país. R$15B Investimento anual O investimento anual do governo federal no FIES chega a cerca de R$ 15 bilhões, considerando os subsídios e a oferta de financiamento. 9M Bolsas do ProUni Desde 2005, o ProUni já concedeu mais de 9 milhões de bolsas, sendo aproximadamente 70% integrais e 30% parciais. Atualmente, o FIES continua sendo um importante programa de financiamento estudantil, mas enfrenta desafios como a alta taxa de inadimplência, a concentração de vagas em determinadas regiões e cursos, e a necessidade de garantir a qualidade das instituições e cursos financiados. Em 2021, o programa foi novamente modificado, com mudanças nas faixas de renda, na forma de seleção dos estudantes e nas condições de pagamento, buscando torná- lo mais sustentável financeiramente e mais efetivo em termos de inclusão social. Programa Universidade para Todos (ProUni) Criado pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, o ProUni tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. As instituições que aderem ao programa recebem isenções fiscais e, em contrapartida, oferecem bolsas de estudo para estudantes de baixa renda que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas ou em escolas privadas como bolsistas integrais. Para concorrer às bolsas integrais, o candidato deve ter renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. Para as bolsas parciais (50%), a renda familiar per capita deve ser de até três salários mínimos. Além disso, o candidato deve ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e obtido a nota mínima estabelecida pelo Ministério da Educação, não ter diploma de curso superior e atender a critérios específicos para cada modalidade de bolsa. Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (PROIES) Instituído pela Lei nº 12.688, de 18 de julho de 2012, o PROIES tem como objetivo assegurar condições para a continuidade das atividades de entidades mantenedoras de instituições de ensino superior em situação econômico-financeira desfavorável. O programa permite o parcelamento de dívidas tributárias federais e a concessão de moratória, em troca da oferta de bolsas de estudo integrais em cursos de graduação. Para participar do PROIES, as instituições devem atender a requisitos como a comprovação da situação de desequilíbrio financeiro, a apresentação de um plano de recuperação econômica e a adoção de práticas de gestão que contribuam para a melhoria da qualidade acadêmica. As bolsas de estudo oferecidas no âmbito do PROIES seguem regras similares às do ProUni, beneficiando estudantes de baixa renda que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas. Programas Estaduais de Financiamento Estudantil Além dos programas federais, diversos estados brasileiros também desenvolveram seus próprios programas de financiamento estudantil, adaptados às realidades e necessidades locais. Exemplos incluem o Programa de Crédito Educativo de Pernambuco (PCE/PE), o Fundo de Financiamento Estudantil do Estado de São Paulo (FEFE), o Programa de Crédito Educativo do Rio Grande do Sul (PROCRED), entre outros. Esses programas estaduais geralmente seguem modelos similares aos do FIES, com condições de financiamentoadaptadas às possibilidades orçamentárias de cada estado e às características de suas redes de ensino superior. Alguns deles priorizam áreas de formação consideradas estratégicas para o desenvolvimento regional, como saúde, engenharias, licenciaturas e tecnologias. Os programas de financiamento estudantil têm contribuído significativamente para a expansão do acesso ao ensino superior no Brasil, especialmente para estudantes de baixa renda. Segundo dados do Censo da Educação Superior, o número de matrículas no ensino superior cresceu substancialmente desde a implementação desses programas, com um aumento significativo na participação de estudantes oriundos de famílias de menor renda. No entanto, esses programas também enfrentam críticas e desafios, como o questionamento sobre a qualidade de algumas instituições e cursos financiados, o alto índice de evasão, a sustentabilidade financeira dos programas (especialmente do FIES, que enfrenta altas taxas de inadimplência), e a concentração de recursos em determinadas regiões e áreas de conhecimento. Além disso, há discussões sobre a eficiência desse modelo de financiamento em comparação com o investimento direto na ampliação da rede pública de ensino superior. Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) foi criado pelo Governo Federal, por meio da Lei nº 12.513, de 26 de outubro de 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica, aumentando as oportunidades de formação para jovens e trabalhadores. O programa surgiu em um contexto de crescimento econômico e necessidade de qualificação de mão de obra para atender às demandas do mercado de trabalho. Objetivos e Público-Alvo O PRONATEC tem como principais objetivos: expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio e de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público, por meio da articulação com a educação profissional; ampliar as oportunidades educacionais dos trabalhadores; e estimular a difusão de recursos pedagógicos para apoiar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica. O programa é destinado prioritariamente a estudantes do ensino médio da rede pública, incluindo os da educação de jovens e adultos; trabalhadores; beneficiários dos programas de transferência de renda; e estudantes que tenham cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral. Também são priorizados os públicos em situação de vulnerabilidade social, como pessoas com deficiência, povos indígenas, comunidades quilombolas, adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, entre outros. O PRONATEC é estruturado em várias iniciativas, como a Bolsa-Formação, que oferece cursos técnicos e de qualificação profissional gratuitos; o Fundo de Financiamento Estudantil da Educação Profissional e Tecnológica (FIES Técnico), que financia cursos técnicos para estudantes e trabalhadores; a expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica; o fomento à ampliação da oferta de educação profissional e tecnológica pelas redes estaduais (Brasil Profissionalizado); e o apoio à expansão da oferta de educação profissional a distância (Rede e-Tec Brasil). Bolsa-Formação A Bolsa-Formação é uma das principais iniciativas do PRONATEC, oferecendo cursos técnicos (de no mínimo 800 horas) e cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional (de no mínimo 160 horas) gratuitos, em instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, das redes estaduais, distritais e municipais de educação profissional e tecnológica, e das instituições do Sistema S (SENAI, SENAC, SENAR, SENAT). Os estudantes recebem material didático, uniforme e auxílio para alimentação e transporte. Brasil Profissionalizado O Brasil Profissionalizado visa fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica, por meio do repasse de recursos para que os estados invistam em suas escolas técnicas. O programa financia a construção, ampliação e reforma de escolas técnicas estaduais, a aquisição de equipamentos, o desenvolvimento de laboratórios e a formação de professores e gestores escolares. O objetivo é integrar o ensino médio à educação profissional, combinando formação geral e técnica. Rede e-Tec Brasil A Rede e-Tec Brasil, instituída pelo Decreto nº 7.589/2011, visa desenvolver a educação profissional e tecnológica na modalidade de educação a distância, ampliando e democratizando o acesso a cursos técnicos de nível médio, programas de formação inicial e continuada e de pós-graduação. O programa fomenta a produção de material didático, a capacitação de professores e tutores, e a criação e manutenção de polos de apoio presencial, permitindo que pessoas em localidades distantes dos grandes centros tenham acesso à formação profissional. Desde sua criação, o PRONATEC já ofereceu milhões de vagas em cursos técnicos e de qualificação profissional, em mais de 4.000 municípios brasileiros. O programa contribuiu significativamente para a expansão da educação profissional e tecnológica no país, especialmente em regiões e para públicos historicamente com menor acesso a esse tipo de formação. No entanto, o PRONATEC também enfrentou críticas e desafios, como a concentração de recursos em cursos de curta duração e baixa complexidade, a dificuldade de articulação entre a formação oferecida e as reais necessidades do mercado de trabalho, a descontinuidade de financiamento em períodos de crise econômica, e a insuficiência de mecanismos de acompanhamento dos egressos e avaliação da efetividade do programa. Apesar desses desafios, o PRONATEC continua sendo uma importante política pública para a educação profissional e tecnológica no Brasil, contribuindo para a formação de trabalhadores e para o desenvolvimento econômico e social do país. Nos últimos anos, o programa passou por ajustes e reformulações, buscando maior eficiência e efetividade, com foco na qualidade da formação oferecida e na inserção dos egressos no mundo do trabalho. Conselho Nacional de Educação (CNE) O Conselho Nacional de Educação (CNE) é um órgão colegiado integrante da estrutura administrativa do Ministério da Educação, que tem por finalidade colaborar na formulação, implementação e avaliação da Política Nacional de Educação. Sua atuação é fundamental para a garantia da qualidade e da democratização da educação brasileira, exercendo funções normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação. Histórico e Base Legal A história dos conselhos de educação no Brasil remonta ao início do século XX, com a criação do Conselho Superior de Ensino em 1911. Ao longo do tempo, esse órgão passou por diversas transformações, recebendo diferentes denominações e atribuições, como Conselho Nacional de Ensino (1925), Conselho Nacional de Educação (1931), Conselho Federal de Educação (1961) e, finalmente, retornando à denominação de Conselho Nacional de Educação em 1995. O atual CNE foi instituído pela Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, que alterou dispositivos da Lei nº 4.024/1961, e posteriormente foi regulamentado pelo Decreto nº 3.889/2001. Sua composição, funcionamento e atribuições também são orientados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/1996, e por seu Regimento Interno, aprovado pela Portaria MEC nº 1.306/1999. De acordo com a legislação vigente, o CNE tem por missão a busca democrática de alternativas e mecanismos institucionais que possibilitem, no âmbito de sua esfera decompetência, assegurar a participação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e consolidação da educação nacional de qualidade. O CNE é composto por duas Câmaras, a Câmara de Educação Básica (CEB) e a Câmara de Educação Superior (CES), cada uma com 12 membros. Os conselheiros são nomeados pelo Presidente da República, mediante indicação do Ministro de Estado da Educação, para um mandato de quatro anos, permitida uma recondução. A escolha e nomeação dos conselheiros devem observar a necessária representação regional e estadual do país, bem como a representação das diversas áreas do conhecimento e dos diferentes níveis e modalidades de ensino. 4 O CNE tem desempenhado um papel fundamental na elaboração e implementação de importantes marcos normativos da educação brasileira, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para os diferentes níveis e modalidades de ensino, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as normas para a formação de professores, entre outros. O Conselho também tem contribuído para o enfrentamento de desafios contemporâneos da educação, como a inclusão educacional, a educação a distância, a internacionalização da educação superior, a educação para as relações étnico-raciais, e mais recentemente, as questões relacionadas à educação em tempos de pandemia. Apesar de sua importância, o CNE também enfrenta desafios e críticas, como questionamentos sobre a representatividade de sua composição, a efetividade de suas deliberações e a autonomia em relação ao poder executivo. No entanto, é inegável o papel do Conselho como instância de mediação entre o Estado e a sociedade civil na formulação e implementação das políticas educacionais, contribuindo para a construção de uma educação de qualidade, democrática e inclusiva no Brasil. Atribuições Normativas O CNE tem a competência de emitir pareceres e elaborar diretrizes curriculares para todos os níveis e modalidades de ensino. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), aprovadas pelo CNE e homologadas pelo Ministro da Educação, são normas obrigatórias para a educação básica e superior, que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino. O Conselho também elabora e aprova outros instrumentos normativos, como resoluções e indicações, que regulamentam diversos aspectos da educação nacional. Funções Relacionadas à Educação Superior No âmbito da educação superior, o CNE, por meio de sua Câmara de Educação Superior, analisa e emite parecer sobre os processos de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos de graduação, bem como sobre o credenciamento e recredenciamento de instituições de ensino superior. O Conselho também delibera sobre as diretrizes curriculares para os cursos de graduação e pós- graduação, e sobre os instrumentos de avaliação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Funções Relacionadas à Educação Básica Na educação básica, o CNE, por meio de sua Câmara de Educação Básica, estabelece diretrizes para a organização e o funcionamento da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio, bem como para as diversas modalidades de ensino, como a educação de jovens e adultos, a educação especial, a educação profissional e tecnológica, entre outras. O Conselho também se manifesta sobre questões relativas à aplicação da legislação educacional e à adequação entre os sistemas de ensino. Atribuições Consultivas O CNE exerce função consultiva em relação às questões que abrangem a educação nacional, sendo frequentemente chamado a se manifestar sobre temas relevantes e controversos. O Conselho pode ser consultado pelo Ministro da Educação, por outros órgãos da administração pública, por instituições educacionais e pela sociedade civil. Os pareceres emitidos pelo CNE, quando homologados pelo Ministro da Educação, têm força normativa e orientam a implementação das políticas educacionais. Papel no Debate Educacional Além de suas atribuições formais, o CNE desempenha um importante papel como espaço de debate e reflexão sobre os rumos da educação brasileira. O Conselho realiza audiências públicas, seminários, fóruns e outros eventos que promovem a participação da sociedade na discussão dos temas educacionais. Essas iniciativas contribuem para a democratização do processo de formulação das políticas educacionais e para a construção de consensos em torno de questões fundamentais para a educação nacional. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e Educação O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, representa um marco fundamental na legislação brasileira ao reconhecer crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, estabelecendo um sistema de garantias que visa assegurar a proteção integral desse público. Entre os diversos direitos assegurados pelo ECA, o direito à educação ocupa um lugar de destaque, sendo considerado fundamental para o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Princípios e Direitos Fundamentais O ECA, em consonância com a Constituição Federal de 1988, reconhece a educação como um direito subjetivo de todas as crianças e adolescentes, devendo ser assegurado pelo Estado, pela família e pela sociedade. O Estatuto estabelece que a educação deve visar ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, princípios que também estão presentes na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. De acordo com o artigo 53 do ECA, a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 1. Direito de ser respeitado por seus educadores;2. Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; 3. Direito de organização e participação em entidades estudantis; 4. Acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica. 5. O ECA também estabelece, em seu artigo 54, que é dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; 1. Progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; 2. Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; 3. Atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; 4. Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; 5. Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador; 6. Atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. 7. Responsabilidades dos Pais e do Estado O ECA estabelece que os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino (art. 55), prevendo inclusive a possibilidade de responsabilização por abandono intelectual em caso de descumprimento desse dever. Ao Estado, por sua vez, cabe zelar pela frequência à escola, sendo obrigatória a comunicação ao Conselho Tutelar dos casos de maus-tratos envolvendo alunos, reiteração de faltas injustificadas e evasão escolar, e elevados níveis de repetência (art. 56). Proteção contra Violência e Discriminação O ambiente escolar deve ser um espaço seguro e acolhedor paratodas as crianças e adolescentes. O ECA proíbe qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor, prevendo medidas de proteção em caso de violação de direitos (art. 5º e art. 98). Isso inclui a proteção contra o bullying, a discriminação, o assédio moral e outras formas de violência que podem ocorrer no contexto escolar. A Lei nº 13.185/2015, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), e a Lei nº 13.663/2018, que incluiu a promoção de medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino, reforçam essa proteção. Medidas Socioeducativas e Educação Para adolescentes em conflito com a lei, o ECA prevê medidas socioeducativas (art. 112), que têm caráter pedagógico e visam à reintegração social. Entre essas medidas, destaca-se a obrigação de matricular o adolescente e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar (art. 119, II). A Lei nº 12.594/2012, que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), reforça a centralidade da educação no processo socioeducativo, estabelecendo a garantia do acesso a todos os níveis de educação formal como um dos direitos dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas. A implementação efetiva dos dispositivos do ECA relacionados à educação depende da articulação entre diferentes políticas públicas e atores sociais, como as escolas, os conselhos tutelares, os conselhos de direitos, o Ministério Público, o Poder Judiciário, as famílias e a sociedade civil. Nesse sentido, o ECA estabelece um sistema de garantia de direitos, com atribuições específicas para cada um desses atores, visando assegurar a proteção integral das crianças e adolescentes. Apesar dos avanços trazidos pelo ECA, ainda persistem desafios significativos para a plena efetivação do direito à educação de crianças e adolescentes no Brasil, como a evasão escolar, a baixa qualidade do ensino em muitas regiões, a violência escolar, a discriminação e a dificuldade de inclusão de estudantes com deficiência. Esses desafios exigem o fortalecimento das políticas públicas educacionais e sua integração com outras políticas sociais, bem como a contínua mobilização da sociedade em defesa dos direitos das crianças e adolescentes. O ECA, ao completar mais de três décadas de vigência, continua sendo um instrumento fundamental para a garantia do direito à educação e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, que reconheça crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e protagonistas de seu próprio desenvolvimento. Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002, e complementadas pela Resolução CNE/CEB nº 2, de 28 de abril de 2008, representam um marco significativo no reconhecimento das especificidades da educação voltada para as populações rurais, consolidando uma concepção de educação do campo que valoriza a identidade e a cultura dessas populações. Contexto Histórico e Conceitual A construção das Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo é resultado de um longo processo de luta dos movimentos sociais do campo, que reivindicavam políticas educacionais específicas e adequadas à realidade rural. Historicamente, a educação ofertada às populações rurais foi marcada por um caráter urbanocêntrico, que desconsiderava as particularidades do campo e de seus sujeitos, resultando em altos índices de analfabetismo, evasão escolar e baixa qualidade do ensino. A partir da década de 1990, com o fortalecimento dos movimentos sociais do campo e o surgimento do movimento "Por uma Educação do Campo", intensificou-se a luta por uma educação que reconhecesse a diversidade sociocultural do campo e valorizasse os saberes, a cultura e a identidade dos povos do campo. Esse movimento ganhou impulso com a realização do I Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (ENERA), em 1997, e com as Conferências Nacionais por uma Educação do Campo, realizadas em 1998 e 2004. As Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo representam um avanço no reconhecimento do campo como espaço de vida, produção e cultura, rompendo com a visão tradicional que associava o rural ao atraso e ao arcaico. Elas estabelecem que a educação do campo deve ser compreendida como aquela voltada para o conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo, sejam eles camponeses, quilombolas, indígenas, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e reassentados da reforma agrária, e outros grupos que produzem suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural. Princípios e Fundamentos As Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo estabelecem uma série de princípios que devem orientar as políticas e práticas educacionais voltadas para as populações rurais. Entre eles, destacam-se: O respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos, econômicos, de gênero, geracional e de raça e etnia; A valorização da identidade da escola do campo por meio de projetos pedagógicos com conteúdos curriculares e metodologias adequadas às reais necessidades dos alunos do campo; A flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; A participação efetiva da comunidade e dos movimentos sociais do campo na formulação e implementação das políticas educacionais; A formação específica de professores para atuação nas escolas do campo, considerando as peculiaridades desse contexto; A sustentabilidade ambiental, social, cultural, econômica e política como base para o desenvolvimento do campo; A articulação entre a educação básica e a educação profissional, visando à formação integral dos sujeitos do campo. Organização da Oferta Educacional No que se refere à organização da oferta educacional, as Diretrizes estabelecem que as escolas do campo devem contemplar a diversidade do campo em todos os seus aspectos, promovendo o desenvolvimento sociocultural e econômico das comunidades. Entre as orientações específicas, destacam-se: A garantia da universalização do acesso da população do campo à Educação Básica e à Educação Profissional de Nível Técnico; A possibilidade de diferentes formas de organização da escola, adequadas às especificidades locais, como escolas multisseriadas, alternância, nucleação, entre outras; A oferta da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental nas próprias comunidades rurais, evitando-se o processo de nucleação de escolas e o deslocamento das crianças; A garantia de transporte escolar, quando necessário, considerando o menor tempo possível no percurso residência-escola e as condições de estradas e vias; A participação democrática da comunidade na gestão das escolas, com a criação e fortalecimento de conselhos escolares e outras instâncias de participação; A formação inicial e continuada específica para os professores que atuam nas escolas do campo, valorizando a diversidade cultural e os processos de interação e transformação do campo. A partir das Diretrizes Operacionais, foram desenvolvidas diversas políticas e programas voltados para a educação do campo, como o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO), o Programa Escola Ativa, o Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO), entre outros. Essas iniciativas buscam materializar os princípios estabelecidos nas Diretrizes, promovendo uma educação contextualizada e de qualidade para as populações do campo. Apesardos avanços representados pelas Diretrizes e pelos programas delas decorrentes, a educação do campo ainda enfrenta desafios significativos, como a persistência do fechamento de escolas rurais, a precariedade da infraestrutura de muitas escolas, a dificuldade de acesso e permanência dos estudantes, a falta de formação adequada para os professores, e a necessidade de maior articulação entre as políticas educacionais e outras políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável do campo. No entanto, é inegável que as Diretrizes Operacionais para a Educação do Campo representaram um avanço significativo no reconhecimento da educação como direito dos povos do campo e na valorização de sua identidade, cultura e modos de vida, contribuindo para a construção de uma educação mais inclusiva, democrática e contextualizada. Diretrizes Operacionais para a Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, instituída em 2008, e as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, estabelecidas pela Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009, representam marcos fundamentais na construção de um sistema educacional inclusivo no Brasil, que reconhece e valoriza a diversidade e assegura o direito de todos à educação. Contexto Histórico e Conceitual A trajetória da educação especial no Brasil passou por diferentes fases, desde a exclusão total das pessoas com deficiência do sistema educacional, passando por um modelo segregacionista, com escolas e classes especiais, até chegar à perspectiva atual da educação inclusiva. Essa evolução acompanhou mudanças nos paradigmas sociais e nas concepções sobre deficiência, bem como avanços na legislação nacional e internacional sobre direitos humanos e educação. A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer a educação como direito de todos e dever do Estado e da família, já previa o atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Esse princípio foi reforçado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). No âmbito internacional, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) foram documentos que influenciaram significativamente a construção das políticas de educação inclusiva no Brasil. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, elaborada pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555/2007, e as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, estabelecidas pela Resolução CNE/CEB nº 4/2009, consolidaram uma nova abordagem para a educação especial, definindo-a como uma modalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, que disponibiliza recursos e serviços e realiza o atendimento educacional especializado, de forma complementar ou suplementar à formação dos estudantes no ensino regular. Público-Alvo De acordo com as Diretrizes, o público- alvo da educação especial são os alunos com deficiência (aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial), transtornos globais do desenvolvimento (incluindo diferentes condições do espectro autista) e altas habilidades/superdotação (que apresentam um potencial elevado em qualquer uma das áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse). Atendimento Educacional Especializado (AEE) O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é definido como o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. O AEE deve ser realizado, prioritariamente, nas salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns. Nas salas de recursos multifuncionais, são desenvolvidas atividades que diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Formação de Professores As Diretrizes estabelecem que o professor do AEE deve ter formação inicial que o habilite para o exercício da docência e formação específica na educação especial. Entre as atribuições desse profissional, destacam-se: identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos; elaborar e executar plano de AEE, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. A implementação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e das Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado levou a um significativo aumento no número de matrículas de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular. De acordo com dados do Censo Escolar, houve um crescimento expressivo nessas matrículas, passando de cerca de 145 mil em 2003 para mais de 1,1 milhão em 2019, representando um aumento de mais de 750% em dezesseis anos. No entanto, apesar dos avanços, a educação inclusiva ainda enfrenta desafios significativos, como a necessidade de formação adequada para todos os profissionais da educação, a adaptação das escolas em termos de acessibilidade física e pedagógica, a garantia de apoios e recursos necessários para o atendimento às necessidades específicas dos estudantes, e a superação de barreiras atitudinais e preconceitos que ainda persistem na sociedade. Em 2020, o Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020, instituiu a "Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida", que gerou controvérsias por prever a possibilidade de escolas e classes especializadas. Após questionamentos judiciais, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu os efeitos do decreto, considerando que ele poderia representar um retrocesso na política de educação inclusiva. Esse episódio evidencia que o debate sobre a educação especial e inclusiva continua sendo um campo de disputas e tensões, refletindo diferentes concepções sobre deficiência, educação e direitos humanos. Apesar das controvérsias e desafios, é inegável que a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado representaram avanços significativos na garantia do direito à educação para as pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, contribuindo para a construção de um sistema educacional mais inclusivo, equitativo e respeitoso com a diversidade humana. Referências Bibliográficas BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm.Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 ago. 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jun. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11947.htm. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília, DF: MEC, SEB, DICEI, 2013. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, DF: MEC/SECADI, 2008. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php? option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da- educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 abr. 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13800-rceb001-02- pdf&category_slug=agosto-2013-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 15 maio 2023. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdf. Acesso em: 15 maio 2023. CURY, Carlos Roberto Jamil. Legislação educacional brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2022. DOURADO, Luiz Fernandes. Plano Nacional de Educação: política de Estado para a educação brasileira. Brasília: INEP, 2021. FARIA FILHO, Luciano Mendes de; VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.). 500 anos de educação no Brasil. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2022. FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2020. LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2021. SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 4. ed. Campinas: Autores Associados, 2021. SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 13. ed. Campinas: Autores Associados, 2022. SAVIANI, Dermeval. Sistemas de ensino e planos de educação: o âmbito dos municípios. Educação & Sociedade, Campinas, v. 20, n. 69, p. 119-136, dez. 2022. SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia Marcondes de; EVANGELISTA, Olinda. Política educacional. 4. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2021. VIEIRA, Sofia Lerche; FARIAS, Isabel Maria Sabino de. Política educacional no Brasil: introdução histórica. 3. ed. Brasília: Liber Livro, 2023. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12711.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11947.htm http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13800-rceb001-02-pdf&category_slug=agosto-2013-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13800-rceb001-02-pdf&category_slug=agosto-2013-pdf&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09.pdftécnica e financeira aos estados, municípios e Distrito Federal, contribuindo para a implementação de ações que visam à melhoria da qualidade da educação básica pública. Os recursos do FNDE são direcionados para diversos programas estruturantes que abrangem diferentes dimensões do processo educacional, desde a infraestrutura física das escolas até a alimentação dos estudantes, passando pela formação dos profissionais da educação e a aquisição de materiais didáticos. 1 Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) Criado em 1955, é um dos mais antigos programas de alimentação escolar do mundo. Visa garantir alimentação escolar adequada e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública. Uma importante inovação foi introduzida pela Lei nº 11.947/2009, que determina que no mínimo 30% dos recursos repassados pelo FNDE devem ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios provenientes da agricultura familiar. 2 Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) Destinado a avaliar e disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática, regular e gratuita, às escolas públicas de educação básica. O programa passou por diversas reformulações ao longo dos anos, ampliando seu escopo para incluir não apenas livros didáticos, mas também dicionários, obras literárias, materiais de apoio à alfabetização e, mais recentemente, tecnologias educacionais. 3 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) Criado em 1995, tem por finalidade prestar assistência financeira, em caráter suplementar, às escolas públicas da educação básica e às escolas privadas de educação especial mantidas por entidades sem fins lucrativos. O objetivo é a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o reforço da autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho da educação básica. Os recursos podem ser utilizados na manutenção, conservação e pequenos reparos da infraestrutura física da escola, na aquisição de material permanente e de consumo necessário ao funcionamento da escola, entre outras finalidades. Além desses, o FNDE gerencia diversos outros programas, como o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE), o Programa de Construção de Escolas (Proinfância), o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo), entre outros. Todos esses programas são fundamentais para a efetivação do direito à educação e para a redução das desigualdades educacionais no país, fornecendo condições materiais e pedagógicas para o funcionamento adequado das escolas e para o desenvolvimento pleno dos estudantes. É importante destacar que a gestão desses programas deve seguir princípios de transparência, eficiência e controle social, sendo fundamental o papel dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE), Conselhos do FUNDEB e demais instâncias de participação da comunidade escolar na fiscalização da aplicação dos recursos públicos destinados à educação. A Educação Escolar na LDB A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) representa o principal marco regulatório da educação brasileira, estabelecendo os fundamentos, princípios e finalidades da educação nacional. A atual LDB, Lei nº 9.394/1996, organiza a educação escolar em diferentes níveis e modalidades, definindo responsabilidades, diretrizes curriculares e mecanismos de gestão para todo o sistema educacional. Princípios e Fins da Educação Nacional A LDB estabelece, em seu artigo 2º, que "a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". O artigo 3º complementa esse dispositivo, elencando treze princípios básicos que devem nortear o ensino, entre os quais se destacam a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, a liberdade de aprender e ensinar, o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, a gratuidade do ensino público, a valorização do profissional da educação e a gestão democrática do ensino público. A educação escolar, conforme definido no artigo 21 da LDB, compõe-se de educação básica (formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e educação superior. Para cada um desses níveis, a lei estabelece objetivos específicos, critérios de organização e mecanismos de avaliação, buscando assegurar a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Educação Básica De acordo com a LDB, a educação básica tem por finalidade "desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores" (art. 22). Inclui a educação infantil (até 5 anos), o ensino fundamental (duração de 9 anos) e o ensino médio (duração mínima de 3 anos). A lei estabelece diretrizes para o currículo, carga horária mínima, critérios de avaliação e promoção dos alunos, além de definir as competências de cada ente federado na oferta desses níveis de ensino. Educação Superior A educação superior, conforme o artigo 43 da LDB, tem entre suas finalidades "formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua". A lei define as diferentes modalidades de cursos e programas de educação superior, os critérios para o credenciamento e avaliação das instituições, além de estabelecer normas para a autonomia universitária. Modalidades de Educação A LDB reconhece também diferentes modalidades de educação que perpassam os níveis de ensino, como a Educação de Jovens e Adultos (EJA), a Educação Profissional e Tecnológica, a Educação Especial, a Educação a Distância, a Educação no Campo, a Educação Escolar Indígena e a Educação Escolar Quilombola. Para cada uma dessas modalidades, são estabelecidas diretrizes específicas que consideram as particularidades dos públicos a que se destinam. A LDB também trata de temas como a formação e valorização dos profissionais da educação, o financiamento da educação, a gestão democrática do ensino público e os processos de avaliação do sistema educacional. Ao longo dos anos, a lei tem passado por diversas alterações para se adequar às novas demandas educacionais e sociais, como a ampliação da obrigatoriedade do ensino (Lei nº 12.796/2013), a inclusão de novos componentes curriculares obrigatórios (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008) e a reformulação do ensino médio (Lei nº 13.415/2017). As Leis de Diretrizes e Bases (LDB) A história das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) no Brasil reflete as transformações políticas, sociais e educacionais vivenciadas pelo país ao longo do tempo. Até o momento, o Brasil teve três LDBs, cada uma correspondendo a um contexto histórico específico e representando diferentes concepções sobre o papel da educação na sociedade. Lei nº 4.024/1961 - A primeira LDB A primeira LDB do Brasil foi promulgada em 20 de dezembro de 1961, após um longo e intenso debate que durou 13 anos, desde a apresentação do anteprojeto original em 1948. Esse debate foi marcado pelo confronto entre defensores da escola pública e da escola privada, especialmente as confessionais, em um período de redemocratização após o Estado Novo (1937-1945). A Lei nº 4.024/1961 acabou representando um compromisso entre essas diferentes visões, garantindo a liberdade de ensino e estabelecendo equivalência entre os cursos de mesmo nível, sem distinção entre os cursos acadêmicose profissionalizantes para fins de continuidade nos estudos. Entre suas principais características, destacam-se: a definição das finalidades da educação nacional, inspiradas nos princípios de liberdade e solidariedade humana; a organização do sistema educacional em ensino pré- primário, primário, médio (ginasial e colegial) e superior; a criação do Conselho Federal de Educação e dos Conselhos Estaduais de Educação; e a manutenção da obrigatoriedade apenas do ensino primário, com duração de quatro anos. Lei nº 5.692/1971 - A segunda LDB Durante o regime militar, foi promulgada a Lei nº 5.692, em 11 de agosto de 1971, que fixou diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus. Essa lei, que na prática funcionou como uma segunda LDB, alterou significativamente a estrutura do ensino estabelecida pela Lei nº 4.024/1961, embora tenha mantido os objetivos gerais da educação. Entre as principais mudanças introduzidas, destacam-se: a extensão da obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos; a eliminação do exame de admissão ao ginásio; a unificação do ensino primário e ginasial em um único ciclo, denominado ensino de 1º grau, com duração de 8 anos; a reformulação do ensino médio, que passou a ser chamado de ensino de 2º grau, com duração de 3 ou 4 anos; e a profissionalização compulsória no ensino de 2º grau, com o objetivo de formar técnicos para atender às necessidades do mercado de trabalho em expansão. A profissionalização obrigatória foi uma das medidas mais controversas dessa lei, enfrentando resistências e dificuldades práticas que levaram à sua flexibilização por meio da Lei nº 7.044/1982, que tornou facultativa a profissionalização no ensino de 2º grau. Curiosidade sobre a Lei nº 5.692/1971 A Lei nº 5.692/1971, embora amplamente conhecida como "segunda LDB", tecnicamente não revogou integralmente a Lei nº 4.024/1961. Ela modificou apenas os títulos referentes ao ensino primário e médio, mantendo em vigor os dispositivos relativos ao ensino superior. Por isso, alguns especialistas consideram que o Brasil teve apenas duas LDBs completas: a de 1961 e a atual, de 1996. Essas duas primeiras LDBs refletem momentos distintos da história brasileira: a primeira, elaborada em um contexto de democracia e intenso debate educacional; a segunda, durante um regime autoritário, com ênfase na formação para o mercado de trabalho. A atual LDB, Lei nº 9.394/1996, por sua vez, foi promulgada após a redemocratização do país e a promulgação da Constituição de 1988, representando uma nova concepção de educação como direito social e dever do Estado, tema que será abordado com mais detalhes na próxima seção. A LDB atual: Lei nº 9.394, de 1996 A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida como a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), foi resultado de um longo processo de discussão que se iniciou logo após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Durante oito anos, diversos projetos foram debatidos no Congresso Nacional, envolvendo educadores, parlamentares, entidades representativas e outros segmentos da sociedade civil. O texto final aprovado, embora não tenha contemplado todas as reivindicações dos movimentos educacionais, representou um avanço significativo em relação às legislações anteriores, ao estabelecer uma concepção mais ampla de educação e ao incorporar princípios democráticos na organização dos sistemas de ensino. Estrutura Inovadora A atual LDB apresenta uma estrutura mais flexível e menos detalhista que as anteriores, estabelecendo diretrizes gerais que permitem adaptações às diversas realidades locais. Composta por 92 artigos distribuídos em nove títulos, a lei aborda desde os princípios e fins da educação nacional até disposições gerais e transitórias, passando pela organização da educação nacional, pelos níveis e modalidades de ensino, pelos profissionais da educação e pelo financiamento da educação. Inovações Conceituais Entre as principais inovações conceituais introduzidas pela LDB de 1996, destacam-se: a ampliação do conceito de educação, que passa a abranger os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais; a definição da educação como dever da família e do Estado; e a valorização da experiência extraescolar e da vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Nova Organização A lei estabeleceu uma nova organização para a educação básica, que passou a compreender a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. A educação infantil foi reconhecida como primeira etapa da educação básica, o que representou um avanço significativo no reconhecimento da importância dessa fase para o desenvolvimento integral da criança. O ensino fundamental, com duração inicialmente prevista de oito anos, foi posteriormente ampliado para nove anos pela Lei nº 11.274/2006, com início aos seis anos de idade. Desde sua promulgação, a LDB tem passado por diversas alterações para se adaptar às novas demandas educacionais e sociais. Entre as principais modificações, podemos citar: a inclusão da obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008); a ampliação da obrigatoriedade da educação básica dos 4 aos 17 anos (Lei nº 12.796/2013); a inclusão da Base Nacional Comum Curricular como referência obrigatória para os currículos da educação básica (Lei nº 13.415/2017); a reformulação do ensino médio, com a implementação do ensino em tempo integral e a flexibilização curricular (Lei nº 13.415/2017); e a inserção de dispositivos específicos sobre educação especial na perspectiva inclusiva (Lei nº 12.796/2013). A LDB também estabeleceu diretrizes para a valorização dos profissionais da educação, prevendo a formação continuada, condições adequadas de trabalho e piso salarial profissional. Além disso, institucionalizou a gestão democrática do ensino público e criou mecanismos de avaliação do sistema educacional em todos os níveis. Apesar dos avanços, a implementação efetiva da LDB ainda enfrenta desafios, como a garantia de financiamento adequado, a superação das desigualdades regionais, a melhoria da qualidade do ensino e a valorização real dos profissionais da educação. No entanto, é inegável que a lei estabeleceu um novo paradigma para a educação brasileira, baseado nos princípios de democratização do acesso, permanência e gestão, na flexibilidade, diversidade e qualidade do ensino, e na valorização da experiência extraescolar. Plano Nacional de Educação (PNE) O Plano Nacional de Educação (PNE) é um instrumento de planejamento do Estado brasileiro que orienta a execução e o aprimoramento de políticas públicas educacionais. Previsto na Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o PNE estabelece diretrizes, metas e estratégias para a política educacional por um período de dez anos. A Constituição Federal, em seu artigo 214, determina que o PNE deve ser estabelecido por lei, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração, definindo diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades, por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas. Artigo 214 da Constituição Federal "A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidadespor meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto." O PNE tem como principais características: Duração decenal, visando superar a descontinuidade das políticas educacionais resultantes de mudanças governamentais; Abrangência nacional, embora sua implementação seja responsabilidade compartilhada entre União, estados, Distrito Federal e municípios; Estabelecimento de metas objetivas e mensuráveis, permitindo o monitoramento e avaliação contínuos de sua execução; Previsão de estratégias específicas para o alcance de cada meta, orientando a ação dos diferentes atores envolvidos; Articulação com outros planos e políticas públicas, como os Planos Estaduais e Municipais de Educação; Participação da sociedade civil em sua elaboração, monitoramento e avaliação. O PNE representa um compromisso do Estado brasileiro com a melhoria da qualidade da educação e a redução das desigualdades educacionais. Suas metas abrangem todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, desde a educação infantil até a pós-graduação, além de aspectos transversais como a formação e valorização dos profissionais da educação, a gestão democrática e o financiamento da educação. A implementação efetiva do PNE depende da colaboração entre os sistemas de ensino e da articulação entre as diferentes esferas governamentais, bem como da participação da sociedade civil no acompanhamento e controle social das políticas educacionais. Além disso, é fundamental a adequada alocação de recursos financeiros para a consecução das metas estabelecidas, o que requer o cumprimento dos percentuais mínimos de investimento em educação previstos na legislação. PNE: breve histórico A ideia de um plano nacional para a educação brasileira remonta ao início do século XX, com as discussões promovidas pela Associação Brasileira de Educação (ABE) e, posteriormente, com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. No entanto, a trajetória institucional dos Planos Nacionais de Educação (PNE) teve início efetivo apenas na década de 1960, com a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 4.024/1961). 1Década de 1930 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932, já defendia a necessidade de um plano nacional para a educação, com visão sistêmica e de longo prazo. A Constituição de 1934 incorporou essa ideia, atribuindo ao Conselho Nacional de Educação a elaboração do PNE. No entanto, com o advento do Estado Novo em 1937, esse processo foi interrompido. 2 Décadas de 1960 e 1970 A LDB de 1961 retomou a ideia do PNE, que foi elaborado pelo Conselho Federal de Educação em 1962, não como lei, mas como um conjunto de metas quantitativas e qualitativas a serem alcançadas em oito anos. Em 1965, sofreu uma revisão com a introdução de normas para estimular a elaboração de planos estaduais. Em 1966, nova revisão introduziu alterações para a distribuição de recursos federais. Durante o regime militar, a educação foi abordada nos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs), mas não houve um PNE específico. 3Constituição de 1988 e LDB de 1996 A Constituição de 1988 retomou a ideia de um PNE com força de lei, determinando sua elaboração. A LDB de 1996 reforçou essa determinação, estabelecendo que a União deveria elaborar o PNE em colaboração com estados, Distrito Federal e municípios. O texto também definiu que os estados, o Distrito Federal e os municípios deveriam elaborar seus próprios planos de educação, em consonância com as diretrizes e metas do PNE. 4 PNE 2001-2010 O primeiro PNE com força de lei foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 9 de janeiro de 2001 (Lei nº 10.172/2001). Resultado de intensa mobilização da sociedade civil, especialmente durante os Congressos Nacionais de Educação (CONEDs), o plano estabeleceu 295 metas para serem cumpridas em dez anos. No entanto, o PNE 2001-2010 enfrentou diversos obstáculos para sua implementação, como os vetos presidenciais a dispositivos de financiamento, a falta de um sistema de monitoramento e avaliação, e a desarticulação entre o plano nacional e os planos estaduais e municipais. Apesar das dificuldades enfrentadas na implementação do PNE 2001-2010, o período foi marcado por importantes avanços na política educacional brasileira, como a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), a ampliação do ensino fundamental para nove anos, a instituição do piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica, entre outros. Ao final da vigência do PNE 2001-2010, iniciou-se um amplo debate sobre a elaboração do novo plano. Em dezembro de 2010, o governo federal apresentou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 8.035/2010, contendo a proposta para o PNE 2011- 2020. Após quase quatro anos de tramitação e intensos debates, o novo PNE foi finalmente aprovado pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, com vigência de 2014 a 2024, representando um importante instrumento para a consolidação de políticas educacionais no Brasil. O PNE atual O atual Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, com vigência de dez anos (2014-2024), representa um marco significativo na política educacional brasileira. Fruto de amplo debate envolvendo diversos setores da sociedade, incluindo entidades representativas dos trabalhadores em educação, estudantes, gestores educacionais e especialistas, o PNE estabelece diretrizes, metas e estratégias que devem nortear as ações educacionais em todos os níveis de governo durante sua vigência. Estrutura e Diretrizes O PNE 2014-2024 está estruturado em 20 metas, acompanhadas de suas respectivas estratégias de implementação. As metas abrangem todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, desde a educação infantil até a pós-graduação, além de aspectos relacionados à qualidade da educação, formação e valorização dos profissionais, gestão democrática e financiamento. O artigo 2º da Lei nº 13.005/2014 estabelece dez diretrizes para o PNE: Erradicação do analfabetismo;1. Universalização do atendimento escolar;2. Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; 3. Melhoria da qualidade da educação;4. Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; 5. Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; 6. Promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País; 7. Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; 8. Valorização dos(as) profissionais da educação;9. Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. 10. Educação Infantil e Básica Educação Superior Valorização dos Profissionais Gestão e Financiamento Redução de Desigualdades Educação Profissional 1 Metas para a Educação Básica Entre as principais metas para a educação básica, destacam-se: a universalização da educação infantil para crianças de 4 e 5 anos e a ampliação da oferta de creches (Meta 1); a universalização do ensino fundamental de 9 anos para a população de 6 a 14 anos (Meta 2); a universalizaçãodo atendimento escolar para a população de 15 a 17 anos e o aumento da taxa líquida de matrículas no ensino médio (Meta 3); a universalização da educação básica para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (Meta 4); e a alfabetização de todas as crianças até o final do 3º ano do ensino fundamental (Meta 5). 2 Metas para a Valorização Profissional O PNE também estabelece metas importantes para a valorização dos profissionais da educação, como a formação específica de nível superior para todos os professores da educação básica (Meta 15); a formação em nível de pós- graduação para 50% dos professores da educação básica (Meta 16); a valorização dos profissionais do magistério das redes públicas de educação básica (Meta 17); e a existência de planos de carreira para os profissionais da educação básica e superior pública (Meta 18). 3 Meta para o Financiamento Uma das metas mais ambiciosas e importantes do PNE é a Meta 20, que estabelece a ampliação do investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do País no 5º ano de vigência da Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio. Esta meta é crucial para viabilizar a implementação das demais metas do plano, representando um avanço significativo no compromisso com o financiamento adequado da educação pública. A implementação do PNE requer um esforço conjunto de União, estados, Distrito Federal e municípios, em regime de colaboração. A lei que instituiu o plano prevê também mecanismos de monitoramento contínuo e avaliações periódicas, com a participação do Ministério da Educação, Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Conselho Nacional de Educação e Fórum Nacional de Educação. Apesar dos avanços representados pelo PNE 2014-2024, sua implementação tem enfrentado diversos desafios, como as restrições orçamentárias impostas pela Emenda Constitucional nº 95/2016 (que estabeleceu um teto para os gastos públicos), a descontinuidade de políticas educacionais e as dificuldades de articulação entre os diferentes sistemas de ensino. Além disso, a pandemia de COVID-19, iniciada em 2020, trouxe impactos significativos para a educação brasileira, criando novos obstáculos para o cumprimento das metas do PNE. Marcos Normativos dos Sistemas de Ensino O sistema educacional brasileiro é estruturado de forma complexa, refletindo a organização federativa do país e o princípio da gestão democrática do ensino público. Além da Constituição Federal, da LDB e do PNE, que estabelecem os princípios e diretrizes gerais, existem diversos outros marcos normativos que regulamentam o funcionamento dos sistemas de ensino nos âmbitos federal, estadual e municipal. Conselho Nacional de Educação (CNE) Criado pela Lei nº 9.131/1995, o CNE é um órgão colegiado vinculado ao Ministério da Educação, com atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento. Composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior, o CNE tem como principal função formular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade do ensino e velar pelo cumprimento da legislação educacional. As Resoluções e Pareceres emitidos pelo CNE constituem importantes marcos normativos que orientam os sistemas de ensino em todo o país. Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Prevista na Constituição Federal, na LDB e no PNE, a BNCC é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. A BNCC foi aprovada pelo CNE e homologada pelo MEC em dezembro de 2017 (Educação Infantil e Ensino Fundamental) e em dezembro de 2018 (Ensino Médio). Sua implementação representa um importante passo para a garantia de equidade na educação, ao estabelecer um patamar comum de aprendizagens para todos os estudantes brasileiros. Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) As DCNs são normas obrigatórias para a Educação Básica que orientam o planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino. Elaboradas pelo CNE, as diretrizes têm origem na LDB e visam orientar as escolas na organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas. Existem DCNs específicas para cada etapa e modalidade da Educação Básica, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, para o Ensino Fundamental, para o Ensino Médio, para a Educação de Jovens e Adultos, entre outras. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) Instituído pela Portaria nº 931, de 21 de março de 2005, o SAEB é composto por um conjunto de avaliações externas em larga escala que permitem ao Inep realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de fatores que podem interferir no desempenho do estudante. Por meio de testes e questionários, aplicados a cada dois anos na rede pública e em uma amostra da rede privada, o Saeb reflete os níveis de aprendizagem demonstrados pelos estudantes avaliados, explicando esses resultados a partir de uma série de informações contextuais. Os resultados do SAEB, juntamente com os dados do Censo Escolar, compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Além desses marcos normativos de âmbito nacional, os sistemas estaduais e municipais de ensino também possuem suas próprias normas, elaboradas pelos respectivos Conselhos de Educação, em consonância com as diretrizes nacionais. Esses conselhos, compostos por representantes dos diversos segmentos da comunidade educacional e da sociedade civil, têm papel fundamental na definição das políticas educacionais locais e na adaptação das diretrizes nacionais às realidades específicas de cada estado e município. Os Conselhos Estaduais e Municipais de Educação exercem funções normativas, consultivas, deliberativas e de assessoramento aos respectivos sistemas de ensino. Entre suas atribuições, destacam-se a elaboração de normas complementares para o sistema de ensino, a autorização, reconhecimento e credenciamento de estabelecimentos de ensino, a aprovação de regimentos e planos de curso, e a promoção de sindicâncias, mediante verificação de irregularidades. Também constituem importantes marcos normativos os Planos Estaduais e Municipais de Educação, elaborados em consonância com o PNE, que estabelecem metas e estratégias específicas para cada sistema de ensino, considerando suas particularidades e necessidades. A existência desses diversos marcos normativos, nos diferentes níveis da federação, reflete o princípio da gestão democrática do ensino público e a autonomia dos sistemas de ensino, previstos na Constituição Federal e na LDB. No entanto, essa multiplicidade de normas também pode gerar desafios para a articulação e integração dos sistemas de ensino, reforçando a necessidade de um efetivo regime de colaboração entre União, estados, Distrito Federal e municípios na organização da educação nacional. Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é um dos mais antigos e importantes programas de alimentação escolar do mundo, sendo reconhecido internacionalmente como um caso exemplar de política pública. Instituído em 1955, o programa passou por diversas reformulações ao longo dos anos, consolidando-se como uma política de Estado fundamental para a garantia da segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada no ambiente escolar. Base Legal e Objetivos Atualmente regido pela Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, e pela Resolução CD/FNDE nº 6, de 8 de maio de 2020, o PNAE tem como objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolare a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram suas necessidades nutricionais durante o período letivo. O programa atende a todos os alunos matriculados na educação básica pública (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos), incluindo aqueles que frequentam escolas filantrópicas e comunitárias conveniadas com o poder público. Os recursos são transferidos pelo FNDE diretamente aos estados, Distrito Federal e municípios, com base no Censo Escolar realizado no ano anterior. A gestão do PNAE é descentralizada e compartilhada entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. Ao FNDE cabe a coordenação do programa em nível nacional, estabelecendo normas gerais, transferindo recursos financeiros, promovendo a articulação institucional e prestando assistência técnica. Aos estados, Distrito Federal e municípios compete a execução do programa, incluindo o complemento financeiro, a elaboração dos cardápios, a aquisição dos alimentos, a prestação de contas e a garantia das condições para que o programa seja executado de acordo com a legislação. 40M Alunos atendidos O PNAE atende aproximadamente 40 milhões de estudantes em todo o Brasil, da educação infantil ao ensino médio, incluindo jovens e adultos. R$4B Orçamento anual O programa conta com um orçamento de aproximadamente R$ 4 bilhões por ano para garantir a alimentação escolar de qualidade. 30% Agricultura familiar No mínimo 30% dos recursos repassados pelo FNDE devem ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar. 5.570 Municípios atendidos O PNAE tem abrangência nacional, atendendo a todos os municípios brasileiros e ao Distrito Federal. Uma das principais inovações trazidas pela Lei nº 11.947/2009 foi a obrigatoriedade de que, no mínimo, 30% dos recursos repassados pelo FNDE sejam utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e as comunidades quilombolas. Essa determinação trouxe múltiplos benefícios, como o estímulo ao desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades, a valorização da produção local de alimentos e a promoção de uma alimentação mais saudável e diversificada nas escolas. O PNAE é considerado uma referência mundial em alimentação escolar, sendo frequentemente citado como exemplo pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA). Seu modelo tem sido adaptado e replicado em diversos países, especialmente na América Latina e na África, como parte de estratégias de cooperação Sul-Sul para a promoção da segurança alimentar e nutricional. Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) O Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) é uma política de Estado que visa avaliar, adquirir e distribuir obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, para as escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distrital, bem como para instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público. Evolução Histórica O programa tem uma longa trajetória, iniciada em 1937 com a criação do Instituto Nacional do Livro (INL). Contudo, foi em 1985 que surgiu o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), por meio do Decreto nº 91.542, estabelecendo importantes mudanças, como a indicação do livro didático pelos professores, a reutilização do livro e o fim da participação financeira dos estados, assumindo o governo federal a aquisição de livros didáticos para todos os alunos do ensino fundamental da rede pública. Ao longo dos anos, o programa foi sendo ampliado para atender às diferentes etapas e modalidades da educação básica. Em 1996, iniciou-se o processo de avaliação pedagógica dos livros inscritos, sendo publicado o primeiro "Guia de Livros Didáticos". Em 2003, foi criado o Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), e em 2007, o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA). Em 2010, esses programas foram unificados no PNLD. Em 2017, o programa foi ampliado e reformulado pelo Decreto nº 9.099, passando a se chamar Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), com a inclusão de outros materiais de apoio à prática educativa, além dos livros didáticos, como softwares e jogos educacionais, materiais de reforço e correção de fluxo, materiais de formação e materiais destinados à gestão escolar, entre outros. O PNLD se destaca pela sua abrangência, alcançando praticamente todas as escolas públicas de educação básica do país, e pelo volume de recursos envolvidos. A cada ano, são adquiridos e distribuídos milhões de exemplares de livros e materiais didáticos, com investimentos que superam a casa do bilhão de reais. Apenas para o triênio 2020-2022, por exemplo, o PNLD 2020 (destinado aos anos finais do ensino fundamental) adquiriu mais de 117 milhões de exemplares, com investimento superior a R$ 1,3 bilhão. Além do impacto direto na educação, fornecendo materiais didáticos de qualidade para alunos e professores, o PNLD também tem um papel significativo no mercado editorial brasileiro, sendo um dos principais compradores de livros do país. Isso tem levado a um contínuo aprimoramento da qualidade dos materiais didáticos produzidos, especialmente no que se refere à adequação às diretrizes curriculares nacionais e à incorporação de temas contemporâneos e abordagens pedagógicas inovadoras. Adesão As escolas públicas federais e as redes de ensino estaduais, municipais e do Distrito Federal que desejem participar do PNLD devem manifestar este interesse mediante adesão formal, observados os prazos, normas, obrigações e procedimentos estabelecidos pelo FNDE. Inscrição As editoras inscrevem suas obras conforme critérios estabelecidos em edital. Os editais podem incluir ciclos para diferentes segmentos e componentes curriculares da educação básica. Avaliação As obras inscritas passam por um rigoroso processo de avaliação pedagógica, coordenado pelo MEC com a participação de universidades públicas. Somente obras aprovadas nessa avaliação podem ser escolhidas pelas escolas. Escolha Os professores e equipes pedagógicas das escolas analisam as resenhas contidas no guia do PNLD e escolhem as obras que melhor atendem ao projeto político-pedagógico da escola. Aquisição e Distribuição O FNDE adquire as obras mais escolhidas e as distribui para as escolas antes do início do ano letivo, utilizando a estrutura logística dos Correios. Monitoramento e Avaliação O MEC e o FNDE realizam o monitoramento e a avaliação da execução do programa, coletando dados sobre a entrega e utilização dos materiais, e identificando necessidades de ajustes. Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) representa uma importante iniciativa no âmbito das políticas de financiamento educacional no Brasil. Criado em 1995, inicialmente com o nome de Programa de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (PMDE), e institucionalizado pela Medida Provisória nº 1.784, de 14 de dezembro de 1998, posteriormente convertida na Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, o PDDE introduziu um novo modelo de gestão financeira no sistema educacional brasileiro, baseado na descentralização e na autonomia escolar. Objetivos e Funcionamento O principal objetivo do PDDE é prestar assistência financeira, em caráter suplementar, às escolas públicasda educação básica das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal, às escolas de educação especial qualificadas como beneficentes de assistência social ou atendimento direto e gratuito ao público, bem como às escolas mantidas por entidades de tais gêneros, e aos polos presenciais do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) que ofertem programas de formação inicial ou continuada a profissionais da educação básica. Os recursos do PDDE são transferidos diretamente para as escolas, sem a necessidade de convênio, acordo, contrato ou instrumento congênere, de acordo com o número de alunos matriculados na educação básica, conforme dados do Censo Escolar do ano anterior. Para receber os recursos, as escolas públicas devem possuir Unidade Executora Própria (UEx), que pode ser uma Associação de Pais e Mestres, Conselho Escolar, Caixa Escolar ou similar. No caso de escolas com menos de 50 alunos que não possuem UEx, os recursos são transferidos para a prefeitura ou secretaria estadual de educação, que deve repassá-los às escolas correspondentes. Os recursos do PDDE podem ser utilizados para diversas finalidades, incluindo: a aquisição de material permanente e de consumo necessário ao funcionamento da escola; a manutenção, conservação e pequenos reparos da infraestrutura física da escola; a implementação de projetos pedagógicos; o desenvolvimento de atividades educacionais; a avaliação de aprendizagem; a implementação do Projeto Político Pedagógico (PPP); e o funcionamento das escolas nos finais de semana. Isso confere às escolas maior flexibilidade e autonomia na gestão dos recursos, permitindo que atendam a suas necessidades específicas de forma mais ágil e eficiente. 1 PDDE Básico Destina recursos financeiros para auxiliar na manutenção e melhoria da infraestrutura física e pedagógica das escolas, fortalecendo a participação da comunidade e a autogestão escolar. Os recursos são calculados com base no número de alunos matriculados na escola, conforme o Censo Escolar, sendo que escolas de áreas mais vulneráveis recebem valores per capita maiores, como forma de promover equidade. 2 PDDE Estrutura Compreende ações voltadas para a melhoria da infraestrutura física e tecnológica das escolas, como o PDDE Água e Esgoto Sanitário, que visa garantir o abastecimento de água em condições apropriadas para consumo e o esgotamento sanitário nas unidades escolares, e o PDDE Escola Acessível, que promove a acessibilidade arquitetônica nos prédios escolares. 3 PDDE Qualidade Agrupa ações que visam contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e para o alcance de índices educacionais mais elevados pelas escolas. Inclui o PDDE Educação Integral, que financia a ampliação da jornada escolar, o PDDE Ensino Médio Inovador, que apoia o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nesse nível de ensino, entre outros. O PDDE representa um avanço significativo na gestão democrática da educação pública brasileira, na medida em que promove a autonomia das escolas na definição de suas prioridades e na aplicação dos recursos, além de incentivar a participação da comunidade escolar nos processos decisórios. Essa abordagem descentralizada também contribui para maior agilidade na resolução de problemas cotidianos das escolas, reduzindo a burocracia e fortalecendo a responsabilidade e o controle social sobre os recursos públicos destinados à educação. Apesar dos benefícios, o programa ainda enfrenta desafios, como a necessidade de ampliar os valores repassados, considerando o custo real das despesas escolares, a capacitação contínua dos gestores escolares para a adequada gestão financeira, e o aprimoramento dos mecanismos de transparência e prestação de contas. Não obstante, o PDDE segue como um importante instrumento de política pública educacional, que tem contribuído para a melhoria das condições de ensino e aprendizagem nas escolas brasileiras. Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE) O Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE) foi instituído pela Lei nº 10.880, de 9 de junho de 2004, com o objetivo de garantir o acesso e a permanência nos estabelecimentos escolares dos alunos do ensino fundamental público residentes em área rural que utilizem transporte escolar. Posteriormente, por meio da Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, o programa foi ampliado para toda a educação básica, beneficiando também os estudantes da educação infantil e do ensino médio residentes em áreas rurais. Objetivos e Funcionamento O PNATE tem como objetivo principal garantir o acesso e a permanência nos estabelecimentos escolares dos alunos da educação básica pública residentes em área rural que utilizem transporte escolar. O programa consiste na transferência automática de recursos financeiros, em caráter suplementar, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios, para custear despesas com manutenção de veículos escolares pertencentes às frotas das entidades ou de seus entes federados, bem como para a contratação de serviços terceirizados de transporte, tendo como base o quantitativo de alunos transportados e informados no censo escolar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) no ano anterior. Os recursos do PNATE são transferidos em nove parcelas anuais, de março a novembro, e podem ser utilizados para diversos fins relacionados ao transporte escolar, como: manutenção, seguros, licenciamento, impostos e taxas, pneus, câmaras, serviços de mecânica em freio, suspensão, câmbio, motor, elétrica e funilaria, recuperação de assentos, combustível e lubrificantes do veículo ou, no que couber, da embarcação utilizada para o transporte de alunos da educação básica pública residentes em área rural; e pagamento de serviços contratados junto a terceiros para o transporte escolar. A gestão do PNATE é de responsabilidade do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que estabelece as normas e critérios para o repasse dos recursos, acompanha a execução do programa e recebe a prestação de contas. No âmbito local, o programa é acompanhado pelos Conselhos do FUNDEB, que têm a atribuição de analisar a prestação de contas dos recursos recebidos e emitir parecer conclusivo sobre a aplicação desses recursos. 80% Escolas rurais atendidas Aproximadamente 80% das escolas localizadas em áreas rurais no Brasil são beneficiadas pelo programa, garantindo o acesso de milhões de estudantes à educação básica. 65% Municípios participantes Cerca de 65% dos municípios brasileiros recebem recursos do PNATE para garantir o transporte escolar de alunos residentes em áreas rurais, abrangendo todas as regiões do país. 25% Redução da evasão escolar Estudos indicam que o programa contribuiu para uma redução de aproximadamente 25% na evasão escolar em áreas rurais, evidenciando seu impacto na permanência dos alunos nas escolas. O PNATE representa uma importante política de inclusão educacional, especialmente considerando as dimensões continentais do Brasil e as dificuldades de acesso e deslocamento em muitas áreas rurais. Ao garantir o transporte escolar para estudantes residentes nessas áreas, o programa contribui significativamente para a democratização do acesso à educação, a redução das desigualdades educacionais entre zonas urbanas e rurais, e a diminuição das taxas de evasão e abandono escolar. No entanto, o programa ainda enfrenta desafios, como a necessidade de ampliação dos recursos para atender adequadamente à demanda, a melhoria das condições de segurança e conforto dos veículos utilizados, e a adaptação às particularidades geográficas e climáticas de cada região do país. Além disso, há a necessidade de uma maior integração entre o PNATE e outras políticas públicas educacionais, visando a garantianão apenas do acesso, mas também da qualidade da educação oferecida aos estudantes de áreas rurais. Apesar desses desafios, o PNATE continua sendo um programa essencial para a garantia do direito à educação no Brasil, sendo reconhecido como uma das principais políticas públicas de transporte escolar do mundo, em termos de abrangência e impacto social. Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA) O Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (PEJA) foi instituído pelo Governo Federal como parte das ações de apoio à Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade educacional destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Inicialmente vinculado ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), que não incluía a EJA em seu financiamento, o programa foi criado para suprir essa lacuna, oferecendo assistência financeira aos sistemas de ensino para a ampliação da oferta de vagas na modalidade. Evolução Histórica e Base Legal O PEJA teve sua origem em um contexto de exclusão da EJA das políticas de financiamento educacional. Com a criação do FUNDEF pela Emenda Constitucional nº 14/1996 e sua regulamentação pela Lei nº 9.424/1996, a EJA não foi incluída no cômputo das matrículas para distribuição dos recursos, o que desestimulou a oferta dessa modalidade pelos estados e municípios. Para mitigar esse problema, o governo federal criou o PEJA, como forma de apoio suplementar aos sistemas de ensino. Com a substituição do FUNDEF pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), por meio da Emenda Constitucional nº 53/2006 e da Lei nº 11.494/2007, a EJA passou a ser contemplada no novo fundo, embora com um fator de ponderação inferior ao das demais modalidades da educação básica. O PEJA continuou existindo, mas com recursos significativamente reduzidos, uma vez que a maior parte do financiamento da EJA passou a ser realizada via FUNDEB. Com a aprovação do novo FUNDEB, por meio da Emenda Constitucional nº 108/2020 e da Lei nº 14.113/2020, a EJA teve seu financiamento aprimorado, com a possibilidade de diferenciação dos fatores de ponderação de acordo com a localização e especificidades da oferta, além da inclusão da EJA integrada à educação profissional como modalidade específica de distribuição dos recursos. O PEJA, em sua concepção atual, tem como objetivo apoiar os sistemas de ensino na ampliação da oferta de vagas na educação de jovens e adultos, contribuindo para o enfrentamento do analfabetismo e baixa escolaridade entre jovens e adultos no Brasil. O programa atua de forma complementar ao FUNDEB, direcionando recursos especialmente para ações de alfabetização e para a oferta de EJA integrada à educação profissional. Financiamento e Recursos Os recursos do PEJA são repassados pelo FNDE aos estados, municípios e Distrito Federal, com base no número de matrículas na EJA registradas no Censo Escolar do ano anterior. Os recursos podem ser utilizados para aquisição de material didático-pedagógico, formação continuada de professores, aquisição de gêneros alimentícios para os estudantes, transporte escolar e pequenas adaptações de espaços físicos destinados às classes de EJA. Público-Alvo e Prioridades O programa tem como público-alvo jovens e adultos a partir de 15 anos que não concluíram o ensino fundamental, e jovens e adultos a partir de 18 anos que não concluíram o ensino médio. São priorizadas ações voltadas para populações historicamente marginalizadas, como indígenas, quilombolas, população carcerária, agricultores familiares, ribeirinhos, assentados, e pessoas com deficiência. Integração com Outros Programas O PEJA busca articulação com outros programas educacionais e políticas públicas, como o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), voltado para a alfabetização inicial de jovens e adultos, e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), destinado à elevação da escolaridade e formação profissional de jovens. Essa articulação visa construir um percurso formativo contínuo para os jovens e adultos, desde a alfabetização até a conclusão da educação básica. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade educacional que, além de ser um direito constitucional, representa uma importante estratégia para a superação de desigualdades sociais e para a promoção da inclusão. No Brasil, onde milhões de pessoas com 15 anos ou mais ainda não concluíram a educação básica, programas como o PEJA são essenciais para garantir oportunidades educacionais a essa parcela da população. No entanto, apesar dos avanços alcançados nas últimas décadas, a EJA ainda enfrenta desafios significativos, como a redução contínua do número de matrículas, a alta taxa de evasão, a necessidade de metodologias específicas que considerem as experiências e conhecimentos prévios dos estudantes, e a formação adequada dos professores para atuar nessa modalidade. Nesse contexto, o PEJA e outros programas de apoio à EJA precisam ser constantemente avaliados e aprimorados, buscando responder de forma mais efetiva às necessidades e expectativas dos jovens e adultos em processo de escolarização. Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) O Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) foi criado pelo Ministério da Educação, por meio da Portaria nº 522, de 9 de abril de 1997, com o objetivo de promover o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas redes públicas de educação básica. Inicialmente denominado Programa Nacional de Informática na Educação, o ProInfo foi reestruturado pelo Decreto nº 6.300, de 12 de dezembro de 2007, passando a se chamar Programa Nacional de Tecnologia Educacional, com uma abordagem mais ampla e integrada das tecnologias na educação. Objetivos e Princípios O ProInfo tem como principal objetivo promover o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas escolas públicas de educação básica, contribuindo para a inclusão digital de alunos e professores e para a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem. Entre seus objetivos específicos, destacam-se: Promover o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas escolas de educação básica das redes públicas de ensino urbanas e rurais; Fomentar a melhoria do processo de ensino e aprendizagem com o uso das tecnologias de informação e comunicação; Promover a capacitação dos agentes educacionais envolvidos nas ações do programa; Contribuir com a inclusão digital por meio da ampliação do acesso a computadores, da conexão à rede mundial de computadores e de outras tecnologias digitais, beneficiando a comunidade escolar e a população próxima às escolas; Contribuir para a preparação dos jovens e adultos para o mercado de trabalho por meio do uso das tecnologias de informação e comunicação; Fomentar a produção nacional de conteúdos digitais educacionais. O programa é estruturado em um regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios. Ao Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Básica (SEB), cabe a implantação de ambientes tecnológicos equipados com computadores e recursos digitais nas escolas públicas, bem como a oferta de formação continuada aos professores e agentes educacionais para o uso pedagógico das tecnologias. Aos estados, Distrito Federal e municípios cabe prover a infraestrutura necessária para a instalação dos equipamentos, garantir a formação dos profissionais para o uso das tecnologias, e assegurar as condições para o uso pedagógico das tecnologias nas escolas. Infraestrutura Tecnológica O ProInfo contemplaa implantação de laboratórios de informática nas escolas públicas, equipados com computadores, impressoras, roteadores, servidores e outros equipamentos, bem como a disponibilização de conexão à internet. Além disso, o programa também prevê a instalação de projetores integrados a computadores em salas de aula (ProInfo Integrado), tablets educacionais para professores, e laptops educacionais no modelo um computador por aluno (Projeto UCA). Formação Continuada O programa oferece cursos de formação continuada para professores e gestores escolares, visando a integração pedagógica das tecnologias digitais às práticas de sala de aula. Os cursos abordam desde a introdução à informática educativa até o uso de ferramentas específicas para a criação de conteúdos digitais, a elaboração de projetos, e a utilização de tecnologias na gestão escolar. Conteúdos e Recursos Digitais O ProInfo também contempla o desenvolvimento e disponibilização de conteúdos e recursos educacionais digitais, como o Portal do Professor, o Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE), a TV Escola, o Domínio Público e outros. Esses recursos visam apoiar o trabalho pedagógico dos professores e enriquecer o processo de ensino e aprendizagem. Ao longo de mais de duas décadas de existência, o ProInfo tem contribuído significativamente para a inclusão digital nas escolas públicas brasileiras, especialmente nas regiões mais carentes do país. No entanto, o programa também tem enfrentado desafios, como a rápida obsolescência dos equipamentos, a dificuldade de manutenção das infraestruturas tecnológicas, a desigualdade no acesso à internet de qualidade entre as diferentes regiões do país, e a necessidade de formação continuada dos professores para o uso pedagógico das tecnologias em um cenário de constante evolução tecnológica. Nos últimos anos, com o advento de novas tecnologias e abordagens pedagógicas, o ProInfo tem buscado se adaptar, incorporando novas perspectivas como a aprendizagem móvel, a educação híbrida, a cultura maker e a programação. Além disso, a pandemia de COVID-19, iniciada em 2020, evidenciou ainda mais a importância das tecnologias digitais na educação e a necessidade de políticas públicas robustas para garantir o acesso equitativo a essas tecnologias, reforçando a relevância de programas como o ProInfo no contexto educacional brasileiro. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) é um fundo especial, de natureza contábil, formado por recursos provenientes de impostos e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios, vinculados à educação por força do disposto no art. 212 da Constituição Federal. Além desses recursos, o FUNDEB recebe uma complementação da União, com o objetivo de assegurar um valor mínimo por aluno nas unidades da federação onde esse valor não é alcançado com os recursos dos próprios estados e municípios. Evolução Histórica O FUNDEB foi instituído pela Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006, e regulamentado pela Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, e pelo Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007, em substituição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), que vigorou de 1998 a 2006. Enquanto o FUNDEF contemplava apenas o ensino fundamental, o FUNDEB ampliou o financiamento para toda a educação básica, incluindo a educação infantil, o ensino médio e as diversas modalidades de ensino, como a educação de jovens e adultos, a educação especial, a educação indígena e quilombola, entre outras. Inicialmente, o FUNDEB foi estabelecido com um prazo de vigência de 14 anos, até 2020. No entanto, diante de sua importância para o financiamento da educação básica no Brasil, foi aprovada a Emenda Constitucional nº 108, de 26 de agosto de 2020, que tornou o FUNDEB permanente, incorporando-o ao texto constitucional como instrumento permanente de financiamento da educação básica pública. A nova regulamentação do FUNDEB foi estabelecida pela Lei nº 14.113, de 25 de dezembro de 2020, que trouxe aprimoramentos importantes ao mecanismo de distribuição dos recursos. ICMS FPE FPM IPI-Exp ITCMD IPVA 0 8 16 24 Funcionamento e Distribuição dos Recursos O FUNDEB opera no âmbito de cada estado e do Distrito Federal, com recursos provenientes de impostos e transferências desses entes e dos seus municípios. Os recursos são distribuídos com base no número de alunos matriculados nas escolas públicas de educação básica, de acordo com os dados do último Censo Escolar, sendo consideradas as diferentes etapas, modalidades e tipos de estabelecimento de ensino. Para cada tipo de matrícula, é atribuído um fator de ponderação, que varia de acordo com o custo estimado do aluno, resultando em valores diferenciados por aluno/ano. Complementação da União A União complementa os recursos do FUNDEB sempre que, no âmbito de cada estado e do Distrito Federal, o valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente. De acordo com a EC nº 108/2020, a complementação da União será de, no mínimo, 23% do total de recursos do fundo, a ser atingido progressivamente até 2026. Essa complementação é distribuída em três modalidades: complementação-VAAF (valor anual por aluno), destinada aos entes federativos que não atingirem o valor mínimo nacional por aluno; complementação-VAAT (valor anual total por aluno), destinada às redes públicas com maior vulnerabilidade socioeconômica; e complementação-VAAR (valor anual por aluno com resultado), destinada a redes públicas que, cumpridas condicionalidades de melhoria de gestão, alcançarem evolução de indicadores de atendimento e melhoria da aprendizagem. Aplicação dos Recursos Os recursos do FUNDEB devem ser aplicados na manutenção e desenvolvimento da educação básica pública e na valorização dos profissionais da educação, incluindo sua remuneração condigna. A legislação estabelece que, no mínimo, 70% dos recursos anuais totais do fundo devem ser destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais da educação básica em efetivo exercício na rede pública. Os recursos restantes devem ser aplicados em outras despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino, como aquisição de equipamentos e material permanente, construção e manutenção de instalações, formação continuada dos profissionais da educação, entre outras. O FUNDEB representa um importante mecanismo de financiamento da educação básica no Brasil, contribuindo para a redução das desigualdades educacionais entre as diferentes regiões do país e para a valorização dos profissionais da educação. Sua institucionalização como instrumento permanente de financiamento, por meio da EC nº 108/2020, representa um avanço significativo para a garantia do direito à educação de qualidade para todos os brasileiros. No entanto, apesar dos avanços, ainda existem desafios a serem superados, como a necessidade de ampliação dos recursos totais destinados à educação, a melhoria dos mecanismos de distribuição dos recursos para garantir maior equidade, e o aprimoramento dos instrumentos de controle social e transparência na aplicação dos recursos. Além disso, é fundamental que o FUNDEB seja articulado com outras políticas educacionais, visando a melhoria da qualidade da educação e a redução das desigualdades educacionais no Brasil. Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) é um conjunto de avaliações externas em larga escala que permite ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) realizar um diagnóstico da educação básica