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Justiça Restaurativa: Fundamentos Básicos

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Introdução à JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
fundamentos básicos para uma 
nova visão da justiça
MÓDULO 1
Estrutura da Justiça Restaurativa
EXPEDIENTE
BY NC ND
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República 
Luiz Inácio Lula da Silva
Vice-Presidente da República 
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho
Ministro da Justiça e Segurança Pública 
Flávio Dino de Castro e Costa
Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN 
Rafael Velasco Brandani
Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN 
Stephane Silva de Araújo
Chefe da Divisão de Educação a Distância 
Haynara Jocely Lima de Almeida
Equipe ESPEN PRONASCI
Ademir Santos da Silva
Diógenes Gonçalves Bem
Eberson Trindade Rodrigues
Leonardo Conceição Cruz
Maria de Fátima de Souza Moreno
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Coordenação Geral 
Luciano Patrício Souza de Castro
Financeiro 
Fernando Machado Wolf
Consultoria Técnica EaD 
Giovana Schuelter
Coordenação de Produção
Francielli Schuelter
Coordenação de AVEA 
Andreia Mara Fiala
Revisão Textual
Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo 
Victor Rocha Freire Silva
Vivianne Oliveira Rodrigues
 
Design Instrucional
Supervisão: Milene Silva de Castro 
Joyce Regina Borges 
Julia Dias Lopes 
Larissa Usanovich de Menezes
Design Gráfico
Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima
Cleber da Luz Monteiro
Giovana Aparecida dos Santos
Guilherme Comerão Stecca Almeida
Julia Morato Leite Lucas 
Nicole Alves Guglielmetti
Renata Cristina Gonçalves
Sonia Trois
Tiago Augusto Paiva 
Programação
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Luan Rodrigo Silva Costa
Luiz Eduardo Pizzinatto
Audiovisual 
Supervisão: Rafael Poletto Dutra 
Angie Luiza Moreira de Oliveira
Arthur Pereira Neves 
Daniele de Castro 
Dilney Carvalho da Silva 
Kimberly Araujo Lazzarin 
Marcelo Vinícius Netto Spillere 
Marília Gabriela Salomao Dauer 
Rodrigo Humaitá Witte 
Apresentação 
Áureo Mafra de Moraes
Conteúdo 
Carlos André dos Santos Pereira 
Todo o conteúdo do curso Introdução à Justiça Restaurativa: fundamentos básicos para uma nova visão da 
justiça, da Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo 
federal – 2023, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial - 
Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons.
org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR
A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional 
(DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais 
(SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém, 
devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência 
da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN 
é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover-
namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias 
e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma 
nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual.
ESCLARECIMENTO
SUMÁRIO
Apresentação ................................................................................................................................................6
Objetivos do módulo 6
Unidade 1: Fundamentos da Justiça Restaurativa ..................................8
1.1 Resumo histórico 9
1.2 Princípios da Justiça Restaurativa 12
1.3 Visão do crime para a Justiça Restaurativa 15
1.4 Justiça Restaurativa ou prática restaurativa? 16
Unidade 2: Pilares da Justiça Restaurativa ....................................................18
2.1 Contexto 19
2.2 Conceito 21
2.3 O que não é Justiça Restaurativa 24
Unidade 3: Objetivos da Justiça Restaurativa ........................................... 27
3.1 Tratamento do ato lesivo 27
3.2 Tratamento das causas 27
SUMÁRIO
Unidade 4: Elementos da Justiça Restaurativa .......................................30
4.1 A importância do “como” 30
4.2 A importância do “quem” 32
Unidade 5: Fundamentos legais da Justiça Restaurativa .........34
5.1 Resolução 2002/12, da ONU 34
5.2 Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais 35
5.3 Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça 37
Síntese do Módulo .............................................................................................................................. 39
Referências ...................................................................................................................................................40
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 6
APRESENTAÇÃO
Olá, cursista!
 
Seja bem-vindo(a) ao nosso primeiro módulo de estudos sobre 
Justiça Restaurativa.
Os conflitos na sociedade levam-nos a fazer uma reflexão sobre o con-
texto e a complexidade das relações sociais e interpessoais, bem como 
sobre as fragilidades que as compõem. 
Podemos perceber que os conflitos nascem de um processo natural 
e são inerentes às relações humanas; portanto, fazem parte de toda 
sociedade. Eles dependem de uma transformação cultural nas relações 
sociais para que sejam tratados a partir do desenvolvimento de um 
novo olhar – que preserve a escuta, o diálogo, e que promova novas 
perspectivas de soluções.
Neste módulo, o cursista terá a oportunidade de conhecer, diferente-
mente do modelo tradicional, o processo inicial e conceitual da Justiça 
Restaurativa como ferramenta de solução de conflitos.
Objetivos do módulo
• Apresentar informações iniciais sobre a Justiça Restaurativa, indicando 
comparações entre Justiça Restaurativa e Retributiva.
• Contextualizar historicamente o surgimento da Justiça Restaurativa 
no cenário mundial e brasileiro. 
• Conceituar a Justiça Restaurativa.
• Possibilitar a percepção da colocação da Justiça Restaurativa diante 
dos dispositivos legais existentes, com o viés de posicioná-la no âmbito 
do mundo jurídico.
UNIDADE 1
Fundamentos da Justiça Restaurativa
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 8
1. FUNDAMENTOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
A justiça é um valor fundamental e vital para o ser humano, que ante-
cede a sua tradução em direito, leis ou instituições (REALE, 2002 apud 
TONET; VIEIRA, 2019). 
A ideia de citar a justiça como valor fundamental tem o intuito de propor 
a reflexão sobre o que deve ser entendido como justiça, antes de com-
parar a tradicional e a restaurativa no contexto da violência.
Justiça, portanto, é um valor e deve ser amparado como condição primeira, 
sobrepondo-se sobre qualquer outro valor existente, justamente para 
que, numa condição de equilíbrio e proporção, haja para a harmonização 
de todos outros valores.
“A justiça é, sempre, um laço entre um homem e outros homens, como 
bem do indivíduo, enquanto membro da sociedade, e, concomitan-
temente, como bem do todo coletivo. Por conseguinte, o bem social 
situa-se em outro campo da ação humana, a que chamamos de 
direito.” (REALE, 2011 apud DELLAGNEZZE, 2020, p. 39).
Complementa-se a questão da justiça com mais uma menção definida 
por Reale, que ensina:
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 9
“A nosso ver, a Justiça não se identifica com qualquer desses valores, 
nem mesmo com aqueles que mais dignificam o homem. Ela é antes 
a condição primeira de todos eles, a condição transcendental de sua 
possibilidade como atualização histórica. Ela vale para que todos 
os valores valham. Não é uma realidade acabada, nem um bem 
gratuito, mas é antes uma intenção radical vinculada às raízes do 
ser do homem, o único ente que, de maneira originária, é enquanto 
deve ser. Ela é, pois, tentativa renovadae incessante de harmonia 
entre as experiências axiológicas necessariamente plurais, distintas 
e complementares, sendo, ao mesmo tempo, a harmonia assim 
atingida.” (REALE, 2002 apud TONET; VIERA, 2019, p. 375).
No contexto apresentado, quando se fala de justiça, busca-se um equilí-
brio, uma solução dos conflitos sociais de forma harmônica. No entanto, 
a cultura de solução de conflitos, arraigada na sociedade por leis e có-
digos, impõe um processo de solução baseado na retribuição do injusto, 
com punições severas aos seus transgressores, e na ampliação do poder 
estatal punitivo como a única proposta viável.
Decerto, vivemos dias difíceis, a violência está cada vez mais acentuada, e a 
política criminal, que viria como remédio para sanar essas dores, na verdade 
não é capaz de contê-la com medidas efetivas na solução de conflitos.
O modelo tradicional de Justiça penal (retributivo-punitivo) 
não tem sido eficaz, nem na teoria, nem na prática. Portanto, 
é importante se pensar em um sistema ampliado, que permita o 
protagonismo das partes envolvidas no conflito (vítima, ofensor 
e comunidade) na busca da reparação de danos, restauração de 
laços, solução do conflito e restabelecimento da paz social.
Nada obstante, propõe-se neste módulo a demarcação da Justiça Res-
taurativa como alternativa ou complemento à Justiça tradicional.
1.1 Resumo histórico
As práticas restaurativas originam-se nas comunidades onde os inte-
resses coletivos superavam os interesses individuais, e sua proposta era 
a manutenção da coesão do grupo, a solução de conflito, com o objetivo 
de restaurar o equilíbrio rompido.
Axiológico 
Tudo aquilo que se refere 
a um conceito de valor 
ou que constitui uma 
axiologia, isto é, os valores 
predominantes em uma 
determinada sociedade.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 10
Segundo a literatura, a prática restaurativa teve início no Canadá e na 
Nova Zelândia, e foi baseada nos mecanismos de solução de conflitos 
aborígenes, voltados ao enfrentamento das consequências experimen-
tadas pela vítima em detrimento da proposta de punição do agressor.
PODCAST
Prudente (2013) relata que a primeira experiência contempo-
rânea com práticas restaurativas se deu em 1974, em Kitchener, 
província de Ontário, Canadá, onde dois jovens foram acusados 
da prática de vandalismo contra 22 propriedades. Conta-se que 
esse caso ganhou muita publicidade e surgiu naturalmente em 
um grupo de cristãos que havia se reunido para discutir uma 
resposta cristã a assaltos em lojas. 
Já, na Nova Zelândia, segundo o autor, o movimento foi gerado a 
partir da grande insatisfação na comunidade Maori (população 
indígena do país), pela maneira como eles e seus jovens eram tra-
tados pelas agências sociais e pelo sistema de Justiça Criminal. 
As famílias Maori (whanau) e os enormes grupos tribais (hapu) 
não se sentiam contemplados pelos processos dos tribunais. 
Os jovens infratores recebiam sanções sem sentido antes de 
serem liberados, ou eram recolhidos a instituições punitivas, 
que os isolava de qualquer influência social positiva de suas famílias.
No mesmo sentido, Howard Zehr (2015) resume que, desde os 
anos 1970, vêm surgindo vários programas e práticas restau-
rativas em centenas de comunidades espalhadas pelo mundo.
Atualmente, a Justiça Restaurativa tem ganhado alcance e, ao longo do 
tempo, começa a aparecer em diversos institutos legais. Ela passa também 
a ser efetivamente considerada como mecanismo a ser utilizado dentro 
do sistema de Justiça tradicional como modelo de reforma da Justiça 
Criminal por meio de novas lentes para a solução dos conflitos sociais.
Apontando uma cronologia de acontecimentos e tomando por base a 
década de 1970, pode-se observar o avanço desse processo de solução 
de conflitos. Tonet e Viera (2019, p. 6-7) informam os fatos apresentados 
na linha do tempo a seguir.
Aborígenes 
Povo originário da 
Austrália. Que ou quem é 
originário do país em que 
vive. Que foi o primeiro a 
habitar ou que pertence 
aos primitivos habitantes.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 11
Cronologia de acontecimentos em 
relação à solução de conflitos
1999/5 países - Conferências de grupo familiar de bem-estar e 
projetos-piloto de justiça em curso na Austrália, Nova 
Zelândia, Estados Unidos, Grã-Bretanha, África do Sul.
2001/Europa - Decisão-quadro do Conselho da União 
Europeia sobre a participação das vítimas nos processos 
penais para implementação de lei nos Estados. 
Decisão-quadro é a decisão coletiva sobre a revisão de 
determinada situação.
2002/ONU - Resoluções do Conselho Econômico e Social da 
ONU. Definição de conceitos relativos à Justiça Restaurativa, 
balizamento e uso de programas no mundo.
2005/Brasil - No Brasil, o Ministério da Justiça e o Programa 
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) 
patrocinam três projetos de Justiça Restaurativa em Porto 
Alegre, São Caetano do Sul e Brasília. Início do Projeto Justiça 
Século 21.
2010/Porto Alegre (RS, Brasil) - Implantação do Projeto 
Justiça Juvenil Restaurativa na Comunidade e oficialização da 
Central de Práticas Restaurativas do Juizado da Infância e 
Juventude pelo Tribunal de Justiça do Estado.
Cronologia de acontecimentos em 
relação à solução de conflitos
1970/EUA - O Instituto para Mediação e Resolução de 
Conflito (IMCR) usou 53 mediadores comunitários e 
recebeu 1.657 indicações em 10 meses.
1976/Canadá - Criado o Centro de Justiça Restaurativa 
Comunitária de Victoria, na cidade de Victoria, Canadá. 
1980/Austrália - Estabelecidos 3 Centros de Justiça 
Comunitária experimentais em Nova Gales do Sul.
1982/Reino Unido - Primeiro serviço de mediação 
comunitária do Reino Unido.
1988/Nova Zelândia - Mediação vítima-agressor por 
oficiais da condicional da Nova Zelândia.
1989/Nova Zelândia - Promulgada a "Lei sobre Crianças, 
Jovens e suas Famílias", incorporando a Justiça Penal Juvenil.
1994/EUA - Pesquisa nacional localizou 123 programas de 
mediação vítima-infrator no país.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 12
Cronologia de acontecimentos em 
relação à solução de conflitos
1999/5 países - Conferências de grupo familiar de bem-estar e 
projetos-piloto de justiça em curso na Austrália, Nova 
Zelândia, Estados Unidos, Grã-Bretanha, África do Sul.
2001/Europa - Decisão-quadro do Conselho da União 
Europeia sobre a participação das vítimas nos processos 
penais para implementação de lei nos Estados. 
Decisão-quadro é a decisão coletiva sobre a revisão de 
determinada situação.
2002/ONU - Resoluções do Conselho Econômico e Social da 
ONU. Definição de conceitos relativos à Justiça Restaurativa, 
balizamento e uso de programas no mundo.
2005/Brasil - No Brasil, o Ministério da Justiça e o Programa 
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) 
patrocinam três projetos de Justiça Restaurativa em Porto 
Alegre, São Caetano do Sul e Brasília. Início do Projeto Justiça 
Século 21.
2010/Porto Alegre (RS, Brasil) - Implantação do Projeto 
Justiça Juvenil Restaurativa na Comunidade e oficialização da 
Central de Práticas Restaurativas do Juizado da Infância e 
Juventude pelo Tribunal de Justiça do Estado.
Cada local realizou a aplicação da Justiça Restaurativa, considerando 
diferentes técnicas, que foram construídas a partir da experiência e 
cultura de cada localidade, levando em consideração o seu contexto 
sociocultural e jurídico.
1.2 Princípios da Justiça Restaurativa
O artigo 2º da Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça 
(CNJ), prescreve:
“Art. 2º São princípios que orientam a Justiça Restaurativa: a cor-
responsabilidade, a reparação dos danos, o atendimento às neces-
sidades de todos os envolvidos, a informalidade, a voluntariedade, 
a imparcialidade,a participação, o empoderamento, a consensualidade, 
a confidencialidade, a celeridade e a urbanidade.” (CNJ, 2016).
Por conseguinte, trazemos os conceitos principiológicos dispostos no 
Manual de Gestão para as Alternativas Penais (BRASIL, 2020, p. 94-96):
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 13
Conceitos principiológicos
Empoderamento: agrega a necessidade de que todas as 
pessoas envolvidas se sintam igualmente importantes, 
afirmando a sua autonomia para expressar livremente seus 
sentimentos e sua visão da história, à sua maneira e com os 
sentidos que considere necessários, além de pressupor 
também o direito de aceitar participar ou não de uma prática 
restaurativa, aceitar ou não o pedido de desculpas ou o 
acordo proposto pela outra parte. 
Voluntariedade: pressupõe participação espontânea de 
todas as pessoas, bem como a possibilidade de 
interromperem o procedimento a qualquer tempo, 
cientes da responsabilidade dos seus atos. 
Consensualidade: imprime à prática restaurativa a busca 
por uma negociação pacífica e a abertura dos envolvidos 
para se chegar a uma solução justa e harmônica. 
Conceitos principiológicos
Atendimento à necessidade: requer atenção para que todos 
os sujeitos envolvidos sejam igualmente considerados em 
suas individualidades, autonomia e necessidades frente ao 
caso trazido à esfera restaurativa. 
Participação: corresponde à importância de que todas as 
pessoas que integram uma prática restaurativa tenham igual 
condição de participar do procedimento, respeitadas em 
suas manifestações. 
Reparação dos danos: significa a busca por restaurar os 
danos dos afetados no conflito e pode ser de ordem 
material (como indenização, conserto, devolução etc.) 
ou emocional (como escuta ativa sobre os danos 
causados e pedido de desculpas).
Corresponsabilidade: pressupõe a assunção da 
responsabilidade por todas as pessoas que integram 
uma prática restaurativa.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 14
Conceitos principiológicos
Confidencialidade: significa a proteção dos assuntos tratados 
no procedimento, considerando: a) que os diálogos realizados 
em qualquer uma das etapas do procedimento são 
considerados privados e sigilosos; b) o compromisso das 
pessoas, dos facilitadores e de outras pessoas que porventura 
participem, como grupos de apoio e advogados, quanto ao 
sigilo das questões tratadas ali; c) que nenhum fato tratado ali 
poderá servir de justificação em processos posteriores e; 
d) que não poderão os facilitadores ou grupos de apoio serem 
chamados a testemunhar posteriormente em processos 
judiciais em relação às questões tratadas ali, caso a prática 
restaurativa seja interrompida.
Imparcialidade: significa a atitude que deve ter o facilitador 
quanto a não favorecer nenhuma das pessoas. O facilitador 
deve se eximir de dar respostas ou sugerir soluções, que possa 
ser interpretado como a beneficiar uma das partes. Por isso, 
é importante que os facilitadores tenham formação anterior, 
para que estejam munidos de técnicas de comunicação, 
garantindo a condução de forma imparcial. 
Conceitos principiológicos
Empoderamento: agrega a necessidade de que todas as 
pessoas envolvidas se sintam igualmente importantes, 
afirmando a sua autonomia para expressar livremente seus 
sentimentos e sua visão da história, à sua maneira e com os 
sentidos que considere necessários, além de pressupor 
também o direito de aceitar participar ou não de uma prática 
restaurativa, aceitar ou não o pedido de desculpas ou o 
acordo proposto pela outra parte. 
Voluntariedade: pressupõe participação espontânea de 
todas as pessoas, bem como a possibilidade de 
interromperem o procedimento a qualquer tempo, 
cientes da responsabilidade dos seus atos. 
Consensualidade: imprime à prática restaurativa a busca 
por uma negociação pacífica e a abertura dos envolvidos 
para se chegar a uma solução justa e harmônica. 
Conceitos principiológicos
Informalidade: como princípio de uma prática restaurativa, 
contrapõe-se ao extremo rigor dos processos judiciais, 
atendo-se à liberdade de ação e palavra dos seus 
protagonistas e caracterizando-se por um estilo consensuado 
pelo qual as pessoas buscam se relacionar em prol de uma 
solução para os seus dilemas. Considerando-se o direito penal 
e os bens por ele tutelados como sendo do âmbito do direito 
público, o princípio da gratuidade determina que práticas 
restaurativas que pretendem fazer frente ao processo penal 
não podem ter custos financeiros para as pessoas, uma vez 
que o acesso à Justiça é um direito constitucional.
Interdisciplinaridade: é importante por considerar a 
complexidade dos problemas e a necessidade de 
abordagens mediante a convergência, a cooperação e a 
combinação adequada de diferentes olhares e saberes, 
incompletos e provisórios, promovendo a tolerância às 
diferenças e a busca de consenso.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 15
1.3 Visão do crime para a Justiça Restaurativa
Baseado em estudos de Zehr (2015) sobre aspectos principiológicos, 
o crime e os comportamentos nocivos representam uma ferida na co-
munidade, por meio da quebra da teia de relacionamentos e do desfa-
zimento de vínculos. 
Assim, o crime provoca ondas de repercussão e acaba por perturbar a 
teia, que perde o equilíbrio em função de um comportamento nocivo, 
e exige, portanto, o restabelecimento dos prejudicados, dos provocadores 
do dano e de suas comunidades.
Conceitos principiológicos
Celeridade: relaciona-se à garantia das práticas restaurativas 
de promoverem o acesso à Justiça dentro de uma 
temporalidade razoável, sob risco de, devido às dificuldades 
próprias à lentidão e extrema burocratização do sistema de 
Justiça impedirem a possibilidade de resolução ou mesmo 
levarem à acentuação do conflito. A celeridade não deve ser 
entendida como um obstáculo para as práticas restaurativas, 
justificando procedimentos rápidos que, via de regra, 
são incapazes de promover abordagens capazes de restaurar 
e reparar verdadeiramente os conflitos e controvérsias. 
Urbanidade: tocante à necessidade de respeito ao outro 
no curso da prática restaurativa, promovendo uma 
escuta ativa por parte de todos, cordialidade e dignidade 
de todas as pessoas envolvidas. 
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 16
Com efeito, Zehr (2015) faz um comparativo acerca da visão do crime, 
considerando a importância de corrigir, consertar e endireitar as coisas, 
em contraponto ao crime para o sistema jurídico tradicional. 
Fonte: Adaptado de Zehr (2015, p. 37).
As abordagens são condensadas em três questionamentos centrais.
Fonte: Adaptado de Zehr (2015, p. 37).
1.4 Justiça Restaurativa ou prática restaurativa?
A terminologia para a questão da Justiça Restaurativa é controversa, 
pois a ferramenta restauradora pode ser utilizada em qualquer âmbito que 
busque a solução de conflitos de relações, seja na família, no trabalho ou 
na escola, o que ensejaria a utilização da expressão “prática restaurativa”. 
Todavia, há que se ressaltar a experiência de Zehr (2015), que, reconhe-
cendo os limites da linguagem da Justiça e considerando o fato de a 
maioria dos conflitos envolverem uma vivência ou percepção de injustiça, 
opta pela expressão “Justiça Restaurativa”, mesmo reconhecendo “prática 
restaurativa” como um termo mais apropriado.
Nesse sentido, a abordagem ideal é considerar a Justiça Restaurativa 
como instituto de solução de conflitos diferente do sistema tradicional.
Duas visões diferentes
Justiça Criminal Justiça Restaurativa
O crime é uma violação da lei e do Estado. O crime é uma violação de pessoas e de relacionamentos.
As violaçõesgeram culpa. As violações geram obrigações.
A Justiça exige que o Estado determine a culpa e o 
imponha uma punição (sofrimento).
A Justiça envolve vítimas, ofensores e membros da 
comunidade num esforço comum para corrigir a situação.
Foco central: os ofensores devem receber o que merecem. Foco central: as necessidades da vítima e a 
responsabilidade do ofensor de reparar o dano cometido.
 Três perguntas diferentes
Justiça Criminal Justiça Restaurativa
Que leis foram infringidas? Quem sofreu danos?
Quem fez isso? Quais são suas necessidades?
O que o ofensor merece? De quem é a obrigação de suprir essas necessidades?
UNIDADE 2
Pilares da Justiça Restaurativa
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 18
2. PILARES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
De acordo com Zehr (2015), a Justiça Restaurativa possui três pilares: 
a) danos e necessidades; b) obrigações; e c) engajamento. 
Nesse sentido, ao perceber o crime como dano causado a pessoas 
e comunidades, a Justiça Restaurativa tem como foco o dano 
cometido, diferente do sistema jurídico tradicional, que prevê a 
Justiça focada em regras e leis, em que o Estado substitui a pessoa 
ofendida na qualidade de vítima.
O sistema tradicional propõe a solução de conflitos por meio da punição 
do agressor, na medida de seu merecimento. Já a vítima, para o mesmo 
sistema, é uma preocupação secundária.
Na Justiça Restaurativa, o foco é o dano, e não a vítima. Portanto, a pre-
ocupação é inerente às necessidades da vítima, de maneira que o “fazer 
justiça” tem essa questão como ponto de partida.
O segundo pilar enfatiza a acusação e a responsabilização da-
queles que causaram danos, implicando obrigações que esti-
mulam o ofensor a compreender o dano que causou e as res-
pectivas consequências de seu comportamento sob o prisma 
da necessidade de responsabilidade de correção da situação, 
no intuito de “fazer a coisa certa”. A obrigação recai primeiramente 
sobre o responsável pelo dano, mas reflete-se também na comu-
nidade e na sociedade, que também têm obrigações.
O último pilar baseia-se no engajamento das partes afetadas pelo crime: 
ofensor, vítima e comunidade, tendo em vista que desempenham pa-
péis importantes para a solução do conflito no processo judicial ao pro-
piciar um diálogo direto entre as partes (ofensor e vítima), ou indireto, 
por meio de representantes, de modo que se possa chegar a um con-
senso do que pode ser feito.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 19
2.1 Contexto
O fenômeno criminológico tem exigido dos especialistas grande esforço 
para se pensar soluções para a lógica da retributividade penal. O que se 
vê é que, mesmo com o engessamento da pena, com a manutenção da 
prisão como mecanismo de combate ao crime, a violência não diminui.
Cada vez mais, pessoas estão sendo encarceradas. Cada vez mais, 
o sistema penal se alimenta e é sobrecarregado sob a perspectiva de 
melhoria dos índices de violência.
Foto: © [Joa Souza] / Shutterstock. 
No entanto, a mobilização frente ao fenômeno do crime enseja resposta 
diferente do que vem sendo proposto como solução, haja vista a neces-
sidade de encará-lo em toda a sua complexidade.
Pilares da Justiça Restaurativa
Danos e 
necessidades Obrigações Engajamento
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 20
Somente a oferta de um sistema de punição ou responsabilização criminal 
rígido não é suficiente para avançar no processo de cultura de paz com 
a capacidade de diminuir a violência e os índices criminais e de reduzir 
a população carcerária de maneira eficiente.
A proposta para se combater o fenômeno criminológico é pensar em 
políticas públicas de base, que tenham a capacidade de combater as 
razões que levam as pessoas a cometerem crimes.
A outra medida é avançar para um sistema flexível de Justiça 
Criminal, que permita uma avaliação real do caso concreto e 
possibilite uma maior participação dos sujeitos envolvidos, 
com o objetivo de enxergar o sistema penal com uma ótica dife-
rente, saindo de uma espécie de sistema punitivo rígido do Estado 
para um sistema multifacetado, que ofereça respostas diferentes 
e mais adequadas à criminalidade.
Pois bem, a privação da liberdade pressupõe uma desintegração social e a 
destruição dos laços familiares e comunitários que marcam o aprisionado 
e dificultam ou impedem o retorno da pessoa ao mundo extramuros 
sem sequelas.
Portanto, a punição sem medida, a aplicação do castigo e toda a violência 
decorrida do encarceramento somente confirma que o sofrimento é o 
modelo de punição adotado como resposta à violência causada.
Nesse sentido, é preciso pensar novas formas de responsabilização criminal 
para substituir o exercício do poder punitivo estatal pela aplicação de mo-
delos mais efetivos de solução de conflitos, como a Justiça Restaurativa.
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de combate ao fenômeno criminológico, ou acesse o link: https://
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INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 21
2.2 Conceito
O conceito de Justiça Restaurativa pressupõe uma outra visão do que se 
entende como justiça, para que se possa enxergar o crime como violação 
dos interesses das pessoas, e não como infrações das normas.
A justiça não pode ser sinônimo de punir, mas de buscar por 
mecanismos que possibilitem a solução de conflitos nos quais 
as pessoas estejam em primeiro plano.
O que temos hoje é uma Justiça tradicional focada na punição, no es-
tabelecimento da culpa, na imposição de dor por meio da pena. É uma 
visão da justiça segundo a qual a violação da lei atenta contra os inte-
resses do Estado.
Na Justiça Restaurativa, como o próprio nome sugere, o objetivo é res-
taurar as relações, trazer a reparação para as pessoas, proporcionar uma 
ação transformadora que promova a cultura da paz.
Foto: Tribunal de Justiça do Estado do Ceará.
Mas enfim, como a literatura especializada conceitua a Justiça Restaurativa?
PODCAST
“A Justiça Restaurativa baseia-se num procedimento de consenso, 
em que a vítima, o infrator e, quando apropriado, outras pessoas 
ou membros da comunidade afetados pelo crime, participam 
coletiva e ativamente como sujeitos centrais na construção 
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 22
de soluções para a cura das feridas, dos traumas e das perdas 
causados pelo crime” (PINTO, 2005, p. 20). 
O conceito trazido aborda a questão de maneira bem ampla, mas, 
na essência, o que se ressalta é um procedimento voluntário 
onde são valorizadas as pessoas envolvidas no conflito como 
sujeitos centrais para a construção da solução e cura das feridas.
O processo tem características predominantemente informais, 
e pode ser realizado em espaços comunitários, por profissionais 
que detenham as técnicas de mediação, conciliação e transação, 
sob a proposta de alcance do resultado restaurativo, em busca 
da reintegração social da vítima e do ofensor.
 “A Justiça Restaurativa é uma abordagem que visa promover 
justiça e que envolve, tanto quanto possível, todos aqueles 
que tem como interesse numa ofensa ou dano específico, 
num processo que coletivamente identifica e trata os danos, 
necessidade e obrigações decorrentes da ofensa, a fim de resta-
belecer as pessoas e endireitar as coisas na medida do possível” 
(ZEHR, 2015, p. 54).
Embora haja um entendimento firmado sobre os contornos conceituais 
básicos de Justiça Restaurativa, de acordo com Zehr (2015), os profissionais 
doramo não conseguiram chegar a um consenso sobre um significado 
específico. Esse autor enfatiza que alguns questionam a utilidade de 
uma definição ou mesmo duvidam da sabedoria de se fixar tal definição. 
E critica: “mesmo reconhecendo a necessidade de princípios e critérios 
de qualidade, preocupa-nos a arrogância e a finalidade de estabelecer 
uma conceituação rígida” (ZEHR, 2015, p. 53). 
Outro conceito que corrobora o que foi apresentado acima é o de Jaccoud 
(2005), citado por Sica (2007), segundo o qual, a Justiça Restaurativa 
“[...] é uma aproximação que privilegia toda a forma de ação, individual 
ou coletiva, visando corrigir as consequências vivenciadas por ocasião 
de uma infração, a resolução de um conflito ou a reconciliação das 
partes ligadas a este.” (JACCOUD, 2005 apud SICA, 2007, p. 169).
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 23
Por fim, num conceito bem mais enxuto e objetivo, de acordo com o 
artigo 1º da Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 
temos a seguinte definição:
“Art. 1º. A Justiça Restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado 
e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, 
que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais 
e sociais motivadores de conflitos e violência, e por meio do qual os 
conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de 
modo estruturado na seguinte forma:
I – é necessária a participação do ofensor, e, quando houver, da vítima, 
bem como, das suas famílias e dos demais envolvidos no fato danoso, 
com a presença dos representantes da comunidade direta ou indireta-
mente atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores restaurativos;
II – as práticas restaurativas serão coordenadas por facilitadores res-
taurativos capacitados em técnicas autocompositivas e consensuais 
de solução de conflitos próprias da Justiça Restaurativa, podendo 
ser servidor do tribunal, agente público, voluntário ou indicado por 
entidades parceiras;
III – as práticas restaurativas terão como foco a satisfação das neces-
sidades de todos os envolvidos, a responsabilização ativa daqueles que 
contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência do fato danoso 
e o empoderamento da comunidade, destacando a necessidade da 
reparação do dano e da recomposição do tecido social rompido pelo 
conflito e as suas implicações para o futuro.” (BRASIL, 2016).
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Justiça Restaurativa de acordo com o Conselho Nacional de Justiça, 
ou acesse o link: https://youtu.be/-g3HkiGmB6E.
https://youtu.be/-g3HkiGmB6E
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
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MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 24
2.3 O que não é Justiça Restaurativa
O estudo de Zehr (2015) nos traz importantes informações que auxiliam 
na identificação dos princípios restauradores que solidificam o conceito 
de Justiça Restaurativa. 
Nesse sentido, considerando as definições conceituais do que vem ou 
não a ser Justiça Restaurativa, fica cada vez mais clara a ideia de mudança 
de cultura sobre a questão da punição por meio da prisão, sugerindo a 
aplicação de outros meios de solução de conflitos.
A Justiça Restaurativa, de acordo com Zehr (2015, p. 19-26):
• Não tem como objetivo principal o perdão ou a reconciliação: 
algumas vítimas e defensores de vítimas reagem negativamente à Jus-
tiça Restaurativa, porque imaginam que o objetivo do programa seja 
estimular, ou mesmo forçar, a vítima a perdoar ou a se reconciliar com 
aqueles que causaram danos a ela ou aos seus entes queridos. O perdão 
ou a reconciliação podem ocorrer com mais frequência do que ocorreria 
no processo penal; contudo, não deve haver pressão no sentido de per-
doar ou buscar a reconciliação, pois estes não são pré-requisitos nem 
resultados necessários da Justiça Restaurativa.
• Não implica necessariamente um retorno às circunstâncias anteriores: 
o termo “restaurativo” pode suscitar controvérsia porque pode sugerir 
um retorno ao passado, como se a ofensa não tivesse acontecido. 
Isso não é possível, especialmente no caso de danos graves.
• Não é mediação: tal como a mediação, muitos programas de Justiça 
Restaurativa são desenhados em torno da possibilidade de um en-
contro facilitado entre vítimas, ofensores e, possivelmente, familiares 
e membros da comunidade. O encontro com mediação pode acontecer, 
mas não descreve a Justiça Restaurativa adequadamente; pois, num con-
flito mediado, presume-se que as partes atuem num mesmo nível ético, 
com responsabilidades que muitas vezes precisam ser partilhadas. 
No caso da mediação, portanto, a linguagem neutra pode induzir a erro, 
enquanto na restaurativa, na maioria dos casos o ofensor deve admitir 
algum grau de responsabilidade.
• Não tem por objetivo principal reduzir a reincidência ou as ofensas 
em série: a redução da reincidência é um subproduto da prática da 
Justiça Restaurativa, mas não é o motivo pela qual se deve promover 
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 25
os programas restauradores. Aqueles que sofreram o dano devem ser 
capazes de identificar suas necessidades e tê-las apontadas, ao passo 
que aqueles que causaram o dano devem ser estimulados a assumir a 
responsabilidade, e aqueles que foram afetados por um delito devem 
ser envolvidos no processo.
• Não é um programa ou um projeto específico: não existe um mo-
delo puro que possa ser visto como ideal ou passível de implementação 
imediata em qualquer comunidade. Todos os modelos estão, em alguma 
medida, atrelados à cultura e devem ser construídos de baixo para cima 
pelas comunidades, através do diálogo sobre suas necessidades e recursos.
• Não se limita a ofensas menores ou ofensas primárias: as abordagens 
restaurativas podem produzir maior impacto nos casos de crimes mais 
graves, mesmo quando seja mais fácil o apoio da comunidade para os 
casos de menor potencial ofensivo. 
• Não é algo novo nem surgiu nos Estados Unidos da América: 
as raízes dos elementos restaurativos são tão antigas quanto a história 
da humanidade e têm precedentes inspirados nas tradições indígenas 
dos povos nativos da América do Norte e da Nova Zelândia.
• Não é uma panaceia nem necessariamente um substituto para o 
sistema judicial: a Justiça Restaurativa não é uma resposta para todas 
as situações nem substituiria o sistema judicial num mundo ideal. 
Assim, mesmo que a Justiça Restaurativa pudesse ganhar ampla imple-
mentação em algum tipo de sistema jurídico ocidental, ainda seria ne-
cessária, como salvaguarda e defesa dos direitos humanos fundamentais, 
a manutenção do sistema jurídico tradicional.
• Não é necessariamente uma alternativa ao aprisionamento: se a Justiça 
Restaurativa fosse levada a sério, nosso recurso ao aprisionamento seria 
reduzido, e a natureza dos estabelecimentos prisionais mudaria signifi-
cativamente. No entanto, as abordagens restaurativas podem também 
ser usadas em conjunto com as sentenças de detenção ou em paralelo 
a estas. O fato é que a Justiça Restaurativa pode ser uma alternativa à 
prisão, mas não elimina a sua necessidade para alguns casos.
• Não se contrapõe necessariamente à Justiça Retributiva: a Justiça 
Restaurativa não se opõe totalmente à Justiça Retributiva, muito embora 
a retributiva reduza a confiança na punição por si só.
UNIDADE 3
Objetivos da Justiça Restaurativa
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 27
3. OBJETIVOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
A Justiça Restaurativa busca o restabelecimento das coisas sob o enfoque 
da retificação ou minimização do dano causado, objetivando o tratamento 
do ato lesivoe das causas que levaram a sua prática.
3.1 Tratamento do ato lesivo
Está no escopo da Justiça Restaurativa endireitar as coisas, como en-
sina Zehr (2015). Nesse sentido, para aqueles que causaram um dano, 
ela é uma oportunidade e um estímulo para fazer a coisa certa diante das 
pessoas que foram lesadas, assumindo responsabilidades tanto quanto 
possíveis para reparar o dano causado à vítima.
BOAS PRÁTICAS
Como exemplo da possibilidade de reparar o dano causado, pode 
o ofensor responsabilizar-se a ponto de satisfazer interesses do 
ofendido, o que podemos chamar de reparação de fato.
Já na reparação de danos mais graves, cujo ato lesivo seja de impossível 
reparação, a responsabilidade pode alcançar as “covítimas”, num pro-
cesso de reparação indireta, que signifique, por exemplo, a indenização 
a familiares. 
No caso de um homicídio, por exemplo, em que não seja possível reparar 
o dano, essa reparação pode ser simbólica, por meio de indenização à 
família da vítima, ou do processo de arrependimento em que o ofensor 
deseje retratar-se pelo dano causado à família da vítima ou ainda de 
outra forma que signifique o exercício do perdão e do arrependimento 
através das práticas de Justiça Restaurativa.
3.2 Tratamento das causas
Na busca do endireitamento das coisas, é necessário não só cuidar dos 
danos, mas abordar as causas do crime (ZEHR, 2015).
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 28
A ideia trazida consiste no fato de que muitos dos que foram vitimados 
desejam saber quais medidas estão sendo tomadas para reduzir os danos 
para si ou para outrem.
Para o tratamento da causa, é preciso pensar num plano que permita verificar 
a necessidade da vítima e a possibilidade do ofensor para o cumprimento 
das obrigações num primeiro momento; mas, por seguinte, contemplar as 
necessidades do ofensor para que possa modificar o seu comportamento. 
Fonte: Adaptado de Zehr (2015, p. 47).
Para corrigir a situação, é preciso:
Tratar os danos Tratar as causas
UNIDADE 4
Elementos da Justiça Restaurativa
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 30
4. ELEMENTOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
Os elementos da Justiça Restaurativa traduzem as pessoas envolvidas 
no processo restaurador e o modo pelo qual se dá a relevância entre o 
“como” e o “quem”, consoante a proposta de Howard Zehr (2015).
4.1 A importância do “como”
Zher (2015) entende que o processo jurídico é um sistema conduzido 
por profissionais que representam o ofensor e o Estado, tendo como 
árbitro o juiz, e cujo resultado é imposto por autoridades que são alheias 
ao conflito. Os interessados e integrantes dos conflitos, compostos pelas 
vítimas, comunidade e ofensores, raramente participam do processo de 
maneira substancial. 
Diferentemente da Justiça Criminal, a Restaurativa dá preferência a pro-
cessos colaborativos e inclusivos e, na medida do possível, a desfechos 
que tenham sido alcançados pelo consenso. 
No entanto, ressalta-se que o processo de Justiça Restaurativa admite a 
necessidade de autoridades externas e reconhece o papel dos profissionais 
envolvidos, mas sobressai a importância da participação daqueles que 
estão diretamente envolvidos e sofreram o impacto ou têm interesse 
legítimo no evento danoso.
Nesse sentido, o “como” pressupõe um encontro direto dos 
interessados com um facilitador, precedido de preparação, 
planejamento e salvaguarda adequados. 
Via de regra, no “como”, realiza-se um encontro entre as pessoas que 
foram prejudicadas e aquelas que causaram o dano com a finalidade de 
negociar diretamente um modo de corrigir a situação.
Nessa oportunidade, o ofendido tem a chance de expor ao ofensor o 
impacto da ofensa, de modo que o ofensor poderá ouvir e compreender 
os efeitos de seu comportamento.
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MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 31
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como podem se dar os processos de resolução de conflitos na 
óptica da Justiça Restaurativa, ou acesse o link: https://youtu.be/
OQqO6fcagOA.
Cabe salientar que o encontro direto, embora mais eficaz, não é regra e 
deve ser avaliado caso a caso, considerando que, a depender da ofensa, 
não é recomendado. Já o encontro indireto pode ser uma solução razoável 
para as situações que devem ser tratadas com certo distanciamento, por 
exemplo, por meio de carta, vídeo gravado ou por meio de representação.
Em suma, deve-se possibilitar ao máximo a troca de informações e o 
envolvimento entre as partes interessadas.
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MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 32
4.2 A importância do “quem”
Além dos membros da comunidade eventualmente afetados e 
que tenham interesse imediato no caso, o “quem” são as pessoas 
diretamente prejudicadas pelo dano e aquelas que o causaram.
Deve-se lembrar que, além do círculo envolvendo vítima, ofensor e 
comunidade, há outros membros secundários que podem ter sido im-
pactados pelo dano, como família e amigos, bem como pessoas que 
têm vínculos com quem causou o dano.
Por fim, é importante ressaltar que, quando se fala em comunidade, 
fala-se da microcomunidade de lugar e de relacionamento, daquela 
que está imediatamente afetada pelas ofensas, mas, de maneira geral, 
é negligenciada pela Justiça estatal.
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quem são as pessoas que sofrem com os impactos causados por 
um dano criminal, ou acesse o link: https://youtu.be/cwjUjpj7U6k.
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UNIDADE 5
Fundamentos legais da 
Justiça Restaurativa
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MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 34
5. FUNDAMENTOS LEGAIS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
A Justiça Restaurativa surge como nova possibilidade a ser inserida no 
âmbito comunitário e jurídico como ferramenta de solução de conflitos.
O marco inicial da regulação da Justiça Restaurativa foi a Resolução 26, de 
28 de julho de 1999, intitulada “Desenvolvimento e Implementação de 
Medidas de Mediação e Justiça Restaurativa na Justiça Criminal”, seguida 
pela Resolução 2000/14, de 27 de julho de 2000, intitulada “Princípios 
Básicos para utilização de Programas Restaurativos em Matérias Criminais” 
e pela Resolução 2002/12, que trouxe diversas proposições do grupo de 
especialistas estudiosos do tema a serem adotadas na implantação da 
Justiça Restaurativa.
5.1 Resolução 2002/12, da ONU
A Resolução 2002/12 estabelece os princípios básicos para utilização de 
programas de Justiça Restaurativa em matéria criminal, representando 
um importante instrumento de convocação dos Estados-membros da 
ONU a difundirem a Justiça Restaurativa no contexto criminal.
O item I trata da terminologia e, no art. 2º, define:
“2. Processo restaurativo significa qualquer processo no qual a vítima 
e o ofensor, e, quando apropriado, quaisquer outros indivíduos ou 
membros da comunidade afetados por um crime, participam ati-
vamente na resolução das questões oriundas do crime, geralmente 
com a ajuda de um facilitador. Os processos restaurativos podem 
incluir a mediação, a conciliação, a reunião familiar ou comunitária 
(conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles).” (ONU, 2002).
O artigo 6º abre o tópico da utilização de programas de Justiça Restaura-
tiva e indica esse instituto como mecanismo a ser utilizado em qualquer 
fase do sistema de Justiça Criminal nacional.
Em linhas gerais, a Resolução 2002/12 apresenta fundamentos que devemser respeitados na implantação de um programa de Justiça Restaurativa 
no âmbito penal.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 35
Aliás, o artigo 15 da resolução prevê a incorporação nas decisões judiciais 
e julgamentos dos acordos oriundos dos programas de Justiça Restaura-
tiva, apreciando status resolutivo à decisão no sentido de fazer precluir 
a ação penal relacionada aos mesmos fatos. Ou seja, resolvida a situ-
ação no âmbito da Justiça Restaurativa, esta não poderá ser retomada 
no processo judicial criminal, tendo em vista a aplicação da preclusão.
No entanto, não havendo acordo, prevalecerá o procedimento tradi-
cional de Justiça Criminal, conforme estabelece o artigo 16 da resolução 
em comento:
“Art. 16. Quando não houver acordo entre as partes, o caso deverá 
retornar ao procedimento convencional da justiça criminal e ser deci-
dido sem delonga. O insucesso do processo restaurativo não poderá, 
por si, [ser] usado no processo criminal subsequente.” (BRASIL, 2002).
Por fim, outro artigo importante é o artigo 20, que impõe aos Estados-
-membros o dever de buscar a formulação de estratégias e políticas 
nacionais de desenvolvimento da Justiça Restaurativa e a promoção de 
cultura da paz.
5.2 Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
A Lei 9.099/1995 tem como principal característica a promoção da 
conciliação, do julgamento célere e da execução das causas jurídicas 
consideradas menos complexas.
Na essência, a norma denominada Lei dos Juizados Especiais e Criminais 
veio regulamentar o processo nos juizados para prever a possibilidade de 
conciliação e julgamento de infrações que são consideradas de menor 
potencial ofensivo, determinando rumos das situações menos graves.
Fonte: Adaptado de © [vTopRated] e © [freepik] / Freepik.
Precluir 
Impedimento do uso 
de uma faculdade 
processual no âmbito 
jurídico, por não a 
ter usado no tempo 
determinado pela lei ou 
por já ter sido exercida.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 36
Em consonância com o processo conciliador, a lei em comento dispõe 
em seus artigos 72 e 73, parágrafo único, a composição entre as partes 
para solução dos conflitos, determinando a condução da conciliação 
por juiz ou conciliador sob sua orientação, recrutado preferencialmente 
dentre os bacharéis em direito.
O parágrafo único do artigo 74 dispõe que o acordo homologado acar-
reta a renúncia ao direito de queixa ou representação nos casos de ação 
privada ou pública sujeita à representação. Nestes casos, o poder juris-
dicional não fica afastado e, caso o acordo deixe de ser cumprido em 
algum momento, poderá ser executado em esfera cível pela outra parte.
Outro instrumento importante é a suspensão do processo como 
método de pena alternativa à prisão, previsto de forma expressa, 
conforme se verifica no artigo 89, da Lei 9.099/1995, de maneira 
que o Ministério Público poderá propor a suspensão do processo, 
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha 
sido condenado por outro crime.
Conforme se encontra no Manual de Gestão para as Alternativas Penais 
(2020), quanto à utilização de práticas restaurativas em crimes não 
acolhidos pela lei dos Juizados Especiais Criminais, estudiosos sobre o 
tema têm defendido essa possibilidade. 
Nesse sentido, de acordo com o manual mencionado:
“São vários os mecanismos de que se lança mão, na experiência 
comparada, para a efetivação dos ideais de Justiça Restaurativa. 
A utilização dos princípios da oportunidade e do consenso caracte-
rizam a experiência anglo-saxônica, em que a ação penal está na 
disponibilidade do autor, que pode desistir ou transigir com o arguido, 
tendo em conta os fins ou interesses que pretende atingir ou defender.” 
(ACHUTTI, 2014 apud BRASIL, 2020, p. 99).
Confira alguns exemplos comentados pelo autor.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 37
Ao estudar o Manual de Alternativas Penais (2020), podemos destacar 
que, em que pese a existência de obstáculos na legislação brasileira, 
a discricionariedade da ação penal é um princípio basilar da Justiça Res-
taurativa nos países que a abrigam, permitindo ao Ministério Público 
o direito de dispor da ação, caso considere inexistentes as provas que 
caracterizam materialidade delitiva ou autoria, ou ainda, se considerar 
atípica a ação. 
5.3 Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça
A Resolução 225/16 do CNJ veio dispor sobre a Política Nacional de Justiça 
Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário, considerando as recomen-
dações da Organização das Nações Unidas para fins de implantação da 
Justiça Restaurativa nos Estados-membros.
Entre as informações mais importantes, o artigo 1º (já apresentado neste 
Módulo, na Unidade 2, no subitem 2.2, intitulado “Conceito”) nos traz 
a definição e a estrutura pelas quais os conflitos e a violência deverão 
ser solucionados, incluindo, portanto, a necessidade de participação do 
ofensor, da vítima, de suas famílias e dos demais envolvidos no fato 
Na Espanha, foi prevista a possibilidade 
de a acusação e a defesa pedirem ao juiz a “sentença 
de conformidade” com a acusação, no processo 
abreviado para crimes de menor gravidade.
Na Alemanha, desde 1924, foi conferida ao Ministério 
Público a possibilidade de arquivamento do processo, 
mediante a verificação de certos requisitos.
Na Itália, o Código de Processo Penal (CPP) de 1988 
introduziu vários procedimentos especiais, 
com soluções de simplificação e também de consenso.
Discricionariedade 
Liberdade para agir e 
tomar decisões dentro 
dos limites da lei.
INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: 
FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA
MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 38
danoso, com a presença dos representantes da comunidade, a coorde-
nação de facilitadores e a realização de práticas com foco na satisfação 
das necessidades de todos os envolvidos.
Por fim, cabe destacar a importância dos incisos I, II e III, referendados 
pelo artigo em comento, pois demonstram o modo de operação do pro-
cesso restaurativo, indicando a necessidade da participação do ofensor 
e, quando houver, da vítima, bem como das suas famílias e dos demais 
envolvidos no fato danoso, com a presença dos representantes da co-
munidade direta ou indiretamente atingida pelo fato e de um ou mais 
facilitadores restaurativos, bem como definindo como e a meta das 
práticas restaurativas.
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre o fenômeno da Justiça Restaurativa e seus 
impactos no sistema de Justiça Criminal brasileiro, leia o artigo 
completo de Renato Sócrates Gomes Pinto (2009), intitulado 
“A construção da Justiça Restaurativa no Brasil – O impacto no 
sistema de Justiça Criminal”, disponível em: https://revistas.unaerp.
br/paradigma/article/view/54/65.
Confira a seguir uma retomada dos principais pontos deste módulo.
https://revistas.unaerp.br/paradigma/article/view/54/65
https://revistas.unaerp.br/paradigma/article/view/54/65
SÍNTESE DO MÓDULO
39
Na Unidade 1, aprendemos sobre os fundamentos da Justiça Restaurativa, 
abordando seus princípios, sua visão sobre o crime e um resumo histórico 
sobre as origens das práticas restaurativas. 
Na Unidade 2, foram apresentados os três pilares da Justiça Restaurativa: 
a) danos e necessidades; b) obrigações; e c) engajamento. Além disso, 
conceituamos o que é e o que não é Justiça Restaurativa.
Já, na Unidade 3, aprendemos que tratar os danos e as causas do 
crime são os principais objetivos da Justiça Restaurativa, e, em seguida, 
na Unidade 4, vimos que os elementos dessa Justiça se referem às 
pessoas envolvidas no processo restaurador, pensando principalmente 
“como” e “quem”.
Por fim, na Unidade 5, abordamos os fundamentos legais da JustiçaRes-
taurativa, trazendo as Resoluções da ONU, do Conselho Nacional de Justiça 
e a Lei 9.099/1995, que trata dos juizados Especiais Cíveis e Criminais. 
Você finalizou o Módulo 1! 
Vamos agora para o Módulo 2, aprender mais sobre a prática em Justiça 
Restaurativa. 
.
REFERÊNCIAS
ACHUTTI, D. S. Justiça Restaurativa e Abolicionismo Penal: contribuições 
para um novo modelo de administração de conflitos no Brasil. 2021. 
Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais, 
Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul, Porto Alegre, 2012.
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Jui-
zados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Brasília, DF: 
Presidência da República, 1995. Disponível em: https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 20 jan. 2023
BRASIL. Manual de gestão para as alternativas penais. Brasília, DF: 
Conselho Nacional de Justiça, 2020. Disponível em: https://www.cnj.jus.
br/wp-content/uploads/2020/09/manual-de-gest%C3%A3o-de-alter-
nativas-penais_eletronico.pdf. Acesso em: 28 nov. 2022.
BRASIL. Resolução nº 225, de 31 de maio de 2016. Dispõe sobre a Política 
Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário e dá outras 
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REFERÊNCIAS
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	Apresentação
	Objetivos do módulo
	1. Fundamentos da Justiça Restaurativa
	1.1 Resumo histórico
	1.2 Princípios da Justiça Restaurativa
	1.3 Visão do crime para a Justiça Restaurativa
	1.4 Justiça Restaurativa ou prática restaurativa?
	2. Pilares da Justiça Restaurativa
	2.2 Conceito
	2.3 O que não é Justiça Restaurativa
	3. Objetivos da Justiça Restaurativa
	3.1 Tratamento do ato lesivo
	3.2 Tratamento das causas
	4. Elementos da Justiça Restaurativa
	4.1 A importância do “como”
	4.2 A importância do “quem”
	5. Fundamentos legais da Justiça Restaurativa
	5.1 Resolução 2002/12, da ONU
	5.2 Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
	5.3 Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça
	Síntese do Módulo
	Referências

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