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Introdução à JUSTIÇA RESTAURATIVA: fundamentos básicos para uma nova visão da justiça MÓDULO 1 Estrutura da Justiça Restaurativa EXPEDIENTE BY NC ND GOVERNO FEDERAL Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Vice-Presidente da República Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho Ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino de Castro e Costa Secretário da Secretaria Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN Rafael Velasco Brandani Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais – ESPEN Stephane Silva de Araújo Chefe da Divisão de Educação a Distância Haynara Jocely Lima de Almeida Equipe ESPEN PRONASCI Ademir Santos da Silva Diógenes Gonçalves Bem Eberson Trindade Rodrigues Leonardo Conceição Cruz Maria de Fátima de Souza Moreno UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Coordenação Geral Luciano Patrício Souza de Castro Financeiro Fernando Machado Wolf Consultoria Técnica EaD Giovana Schuelter Coordenação de Produção Francielli Schuelter Coordenação de AVEA Andreia Mara Fiala Revisão Textual Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo Victor Rocha Freire Silva Vivianne Oliveira Rodrigues Design Instrucional Supervisão: Milene Silva de Castro Joyce Regina Borges Julia Dias Lopes Larissa Usanovich de Menezes Design Gráfico Supervisão: Mary Vonni Meürer de Lima Cleber da Luz Monteiro Giovana Aparecida dos Santos Guilherme Comerão Stecca Almeida Julia Morato Leite Lucas Nicole Alves Guglielmetti Renata Cristina Gonçalves Sonia Trois Tiago Augusto Paiva Programação Supervisão: Alexandre Dal Fabbro Luan Rodrigo Silva Costa Luiz Eduardo Pizzinatto Audiovisual Supervisão: Rafael Poletto Dutra Angie Luiza Moreira de Oliveira Arthur Pereira Neves Daniele de Castro Dilney Carvalho da Silva Kimberly Araujo Lazzarin Marcelo Vinícius Netto Spillere Marília Gabriela Salomao Dauer Rodrigo Humaitá Witte Apresentação Áureo Mafra de Moraes Conteúdo Carlos André dos Santos Pereira Todo o conteúdo do curso Introdução à Justiça Restaurativa: fundamentos básicos para uma nova visão da justiça, da Secretaria Nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo federal – 2023, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem Derivações 4.0 Internacional. Para visualizar uma cópia desta licença, acesse: https://creativecommons. org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt_BR A partir de 1º de janeiro de 2023, o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) passou a ser denominado Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), instituída pelo Art. 59 da Medida Provisória nº 1.154; porém, devido ao fato de o material deste curso ter sido produzido antes da vigência da referida medida provisória, há conteúdos em que a atual SENAPPEN é mencionada como DEPEN. É possível, ainda, que outros órgãos gover- namentais federais citados nos materiais, como ministérios, secretarias e departamentos, disponham de uma nova estrutura regimental e uma nova nomenclatura e sejam mencionados de maneira diferente da atual. ESCLARECIMENTO SUMÁRIO Apresentação ................................................................................................................................................6 Objetivos do módulo 6 Unidade 1: Fundamentos da Justiça Restaurativa ..................................8 1.1 Resumo histórico 9 1.2 Princípios da Justiça Restaurativa 12 1.3 Visão do crime para a Justiça Restaurativa 15 1.4 Justiça Restaurativa ou prática restaurativa? 16 Unidade 2: Pilares da Justiça Restaurativa ....................................................18 2.1 Contexto 19 2.2 Conceito 21 2.3 O que não é Justiça Restaurativa 24 Unidade 3: Objetivos da Justiça Restaurativa ........................................... 27 3.1 Tratamento do ato lesivo 27 3.2 Tratamento das causas 27 SUMÁRIO Unidade 4: Elementos da Justiça Restaurativa .......................................30 4.1 A importância do “como” 30 4.2 A importância do “quem” 32 Unidade 5: Fundamentos legais da Justiça Restaurativa .........34 5.1 Resolução 2002/12, da ONU 34 5.2 Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais 35 5.3 Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça 37 Síntese do Módulo .............................................................................................................................. 39 Referências ...................................................................................................................................................40 INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 6 APRESENTAÇÃO Olá, cursista! Seja bem-vindo(a) ao nosso primeiro módulo de estudos sobre Justiça Restaurativa. Os conflitos na sociedade levam-nos a fazer uma reflexão sobre o con- texto e a complexidade das relações sociais e interpessoais, bem como sobre as fragilidades que as compõem. Podemos perceber que os conflitos nascem de um processo natural e são inerentes às relações humanas; portanto, fazem parte de toda sociedade. Eles dependem de uma transformação cultural nas relações sociais para que sejam tratados a partir do desenvolvimento de um novo olhar – que preserve a escuta, o diálogo, e que promova novas perspectivas de soluções. Neste módulo, o cursista terá a oportunidade de conhecer, diferente- mente do modelo tradicional, o processo inicial e conceitual da Justiça Restaurativa como ferramenta de solução de conflitos. Objetivos do módulo • Apresentar informações iniciais sobre a Justiça Restaurativa, indicando comparações entre Justiça Restaurativa e Retributiva. • Contextualizar historicamente o surgimento da Justiça Restaurativa no cenário mundial e brasileiro. • Conceituar a Justiça Restaurativa. • Possibilitar a percepção da colocação da Justiça Restaurativa diante dos dispositivos legais existentes, com o viés de posicioná-la no âmbito do mundo jurídico. UNIDADE 1 Fundamentos da Justiça Restaurativa INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 8 1. FUNDAMENTOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA A justiça é um valor fundamental e vital para o ser humano, que ante- cede a sua tradução em direito, leis ou instituições (REALE, 2002 apud TONET; VIEIRA, 2019). A ideia de citar a justiça como valor fundamental tem o intuito de propor a reflexão sobre o que deve ser entendido como justiça, antes de com- parar a tradicional e a restaurativa no contexto da violência. Justiça, portanto, é um valor e deve ser amparado como condição primeira, sobrepondo-se sobre qualquer outro valor existente, justamente para que, numa condição de equilíbrio e proporção, haja para a harmonização de todos outros valores. “A justiça é, sempre, um laço entre um homem e outros homens, como bem do indivíduo, enquanto membro da sociedade, e, concomitan- temente, como bem do todo coletivo. Por conseguinte, o bem social situa-se em outro campo da ação humana, a que chamamos de direito.” (REALE, 2011 apud DELLAGNEZZE, 2020, p. 39). Complementa-se a questão da justiça com mais uma menção definida por Reale, que ensina: INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 9 “A nosso ver, a Justiça não se identifica com qualquer desses valores, nem mesmo com aqueles que mais dignificam o homem. Ela é antes a condição primeira de todos eles, a condição transcendental de sua possibilidade como atualização histórica. Ela vale para que todos os valores valham. Não é uma realidade acabada, nem um bem gratuito, mas é antes uma intenção radical vinculada às raízes do ser do homem, o único ente que, de maneira originária, é enquanto deve ser. Ela é, pois, tentativa renovadae incessante de harmonia entre as experiências axiológicas necessariamente plurais, distintas e complementares, sendo, ao mesmo tempo, a harmonia assim atingida.” (REALE, 2002 apud TONET; VIERA, 2019, p. 375). No contexto apresentado, quando se fala de justiça, busca-se um equilí- brio, uma solução dos conflitos sociais de forma harmônica. No entanto, a cultura de solução de conflitos, arraigada na sociedade por leis e có- digos, impõe um processo de solução baseado na retribuição do injusto, com punições severas aos seus transgressores, e na ampliação do poder estatal punitivo como a única proposta viável. Decerto, vivemos dias difíceis, a violência está cada vez mais acentuada, e a política criminal, que viria como remédio para sanar essas dores, na verdade não é capaz de contê-la com medidas efetivas na solução de conflitos. O modelo tradicional de Justiça penal (retributivo-punitivo) não tem sido eficaz, nem na teoria, nem na prática. Portanto, é importante se pensar em um sistema ampliado, que permita o protagonismo das partes envolvidas no conflito (vítima, ofensor e comunidade) na busca da reparação de danos, restauração de laços, solução do conflito e restabelecimento da paz social. Nada obstante, propõe-se neste módulo a demarcação da Justiça Res- taurativa como alternativa ou complemento à Justiça tradicional. 1.1 Resumo histórico As práticas restaurativas originam-se nas comunidades onde os inte- resses coletivos superavam os interesses individuais, e sua proposta era a manutenção da coesão do grupo, a solução de conflito, com o objetivo de restaurar o equilíbrio rompido. Axiológico Tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 10 Segundo a literatura, a prática restaurativa teve início no Canadá e na Nova Zelândia, e foi baseada nos mecanismos de solução de conflitos aborígenes, voltados ao enfrentamento das consequências experimen- tadas pela vítima em detrimento da proposta de punição do agressor. PODCAST Prudente (2013) relata que a primeira experiência contempo- rânea com práticas restaurativas se deu em 1974, em Kitchener, província de Ontário, Canadá, onde dois jovens foram acusados da prática de vandalismo contra 22 propriedades. Conta-se que esse caso ganhou muita publicidade e surgiu naturalmente em um grupo de cristãos que havia se reunido para discutir uma resposta cristã a assaltos em lojas. Já, na Nova Zelândia, segundo o autor, o movimento foi gerado a partir da grande insatisfação na comunidade Maori (população indígena do país), pela maneira como eles e seus jovens eram tra- tados pelas agências sociais e pelo sistema de Justiça Criminal. As famílias Maori (whanau) e os enormes grupos tribais (hapu) não se sentiam contemplados pelos processos dos tribunais. Os jovens infratores recebiam sanções sem sentido antes de serem liberados, ou eram recolhidos a instituições punitivas, que os isolava de qualquer influência social positiva de suas famílias. No mesmo sentido, Howard Zehr (2015) resume que, desde os anos 1970, vêm surgindo vários programas e práticas restau- rativas em centenas de comunidades espalhadas pelo mundo. Atualmente, a Justiça Restaurativa tem ganhado alcance e, ao longo do tempo, começa a aparecer em diversos institutos legais. Ela passa também a ser efetivamente considerada como mecanismo a ser utilizado dentro do sistema de Justiça tradicional como modelo de reforma da Justiça Criminal por meio de novas lentes para a solução dos conflitos sociais. Apontando uma cronologia de acontecimentos e tomando por base a década de 1970, pode-se observar o avanço desse processo de solução de conflitos. Tonet e Viera (2019, p. 6-7) informam os fatos apresentados na linha do tempo a seguir. Aborígenes Povo originário da Austrália. Que ou quem é originário do país em que vive. Que foi o primeiro a habitar ou que pertence aos primitivos habitantes. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 11 Cronologia de acontecimentos em relação à solução de conflitos 1999/5 países - Conferências de grupo familiar de bem-estar e projetos-piloto de justiça em curso na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Grã-Bretanha, África do Sul. 2001/Europa - Decisão-quadro do Conselho da União Europeia sobre a participação das vítimas nos processos penais para implementação de lei nos Estados. Decisão-quadro é a decisão coletiva sobre a revisão de determinada situação. 2002/ONU - Resoluções do Conselho Econômico e Social da ONU. Definição de conceitos relativos à Justiça Restaurativa, balizamento e uso de programas no mundo. 2005/Brasil - No Brasil, o Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) patrocinam três projetos de Justiça Restaurativa em Porto Alegre, São Caetano do Sul e Brasília. Início do Projeto Justiça Século 21. 2010/Porto Alegre (RS, Brasil) - Implantação do Projeto Justiça Juvenil Restaurativa na Comunidade e oficialização da Central de Práticas Restaurativas do Juizado da Infância e Juventude pelo Tribunal de Justiça do Estado. Cronologia de acontecimentos em relação à solução de conflitos 1970/EUA - O Instituto para Mediação e Resolução de Conflito (IMCR) usou 53 mediadores comunitários e recebeu 1.657 indicações em 10 meses. 1976/Canadá - Criado o Centro de Justiça Restaurativa Comunitária de Victoria, na cidade de Victoria, Canadá. 1980/Austrália - Estabelecidos 3 Centros de Justiça Comunitária experimentais em Nova Gales do Sul. 1982/Reino Unido - Primeiro serviço de mediação comunitária do Reino Unido. 1988/Nova Zelândia - Mediação vítima-agressor por oficiais da condicional da Nova Zelândia. 1989/Nova Zelândia - Promulgada a "Lei sobre Crianças, Jovens e suas Famílias", incorporando a Justiça Penal Juvenil. 1994/EUA - Pesquisa nacional localizou 123 programas de mediação vítima-infrator no país. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 12 Cronologia de acontecimentos em relação à solução de conflitos 1999/5 países - Conferências de grupo familiar de bem-estar e projetos-piloto de justiça em curso na Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Grã-Bretanha, África do Sul. 2001/Europa - Decisão-quadro do Conselho da União Europeia sobre a participação das vítimas nos processos penais para implementação de lei nos Estados. Decisão-quadro é a decisão coletiva sobre a revisão de determinada situação. 2002/ONU - Resoluções do Conselho Econômico e Social da ONU. Definição de conceitos relativos à Justiça Restaurativa, balizamento e uso de programas no mundo. 2005/Brasil - No Brasil, o Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) patrocinam três projetos de Justiça Restaurativa em Porto Alegre, São Caetano do Sul e Brasília. Início do Projeto Justiça Século 21. 2010/Porto Alegre (RS, Brasil) - Implantação do Projeto Justiça Juvenil Restaurativa na Comunidade e oficialização da Central de Práticas Restaurativas do Juizado da Infância e Juventude pelo Tribunal de Justiça do Estado. Cada local realizou a aplicação da Justiça Restaurativa, considerando diferentes técnicas, que foram construídas a partir da experiência e cultura de cada localidade, levando em consideração o seu contexto sociocultural e jurídico. 1.2 Princípios da Justiça Restaurativa O artigo 2º da Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), prescreve: “Art. 2º São princípios que orientam a Justiça Restaurativa: a cor- responsabilidade, a reparação dos danos, o atendimento às neces- sidades de todos os envolvidos, a informalidade, a voluntariedade, a imparcialidade,a participação, o empoderamento, a consensualidade, a confidencialidade, a celeridade e a urbanidade.” (CNJ, 2016). Por conseguinte, trazemos os conceitos principiológicos dispostos no Manual de Gestão para as Alternativas Penais (BRASIL, 2020, p. 94-96): INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 13 Conceitos principiológicos Empoderamento: agrega a necessidade de que todas as pessoas envolvidas se sintam igualmente importantes, afirmando a sua autonomia para expressar livremente seus sentimentos e sua visão da história, à sua maneira e com os sentidos que considere necessários, além de pressupor também o direito de aceitar participar ou não de uma prática restaurativa, aceitar ou não o pedido de desculpas ou o acordo proposto pela outra parte. Voluntariedade: pressupõe participação espontânea de todas as pessoas, bem como a possibilidade de interromperem o procedimento a qualquer tempo, cientes da responsabilidade dos seus atos. Consensualidade: imprime à prática restaurativa a busca por uma negociação pacífica e a abertura dos envolvidos para se chegar a uma solução justa e harmônica. Conceitos principiológicos Atendimento à necessidade: requer atenção para que todos os sujeitos envolvidos sejam igualmente considerados em suas individualidades, autonomia e necessidades frente ao caso trazido à esfera restaurativa. Participação: corresponde à importância de que todas as pessoas que integram uma prática restaurativa tenham igual condição de participar do procedimento, respeitadas em suas manifestações. Reparação dos danos: significa a busca por restaurar os danos dos afetados no conflito e pode ser de ordem material (como indenização, conserto, devolução etc.) ou emocional (como escuta ativa sobre os danos causados e pedido de desculpas). Corresponsabilidade: pressupõe a assunção da responsabilidade por todas as pessoas que integram uma prática restaurativa. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 14 Conceitos principiológicos Confidencialidade: significa a proteção dos assuntos tratados no procedimento, considerando: a) que os diálogos realizados em qualquer uma das etapas do procedimento são considerados privados e sigilosos; b) o compromisso das pessoas, dos facilitadores e de outras pessoas que porventura participem, como grupos de apoio e advogados, quanto ao sigilo das questões tratadas ali; c) que nenhum fato tratado ali poderá servir de justificação em processos posteriores e; d) que não poderão os facilitadores ou grupos de apoio serem chamados a testemunhar posteriormente em processos judiciais em relação às questões tratadas ali, caso a prática restaurativa seja interrompida. Imparcialidade: significa a atitude que deve ter o facilitador quanto a não favorecer nenhuma das pessoas. O facilitador deve se eximir de dar respostas ou sugerir soluções, que possa ser interpretado como a beneficiar uma das partes. Por isso, é importante que os facilitadores tenham formação anterior, para que estejam munidos de técnicas de comunicação, garantindo a condução de forma imparcial. Conceitos principiológicos Empoderamento: agrega a necessidade de que todas as pessoas envolvidas se sintam igualmente importantes, afirmando a sua autonomia para expressar livremente seus sentimentos e sua visão da história, à sua maneira e com os sentidos que considere necessários, além de pressupor também o direito de aceitar participar ou não de uma prática restaurativa, aceitar ou não o pedido de desculpas ou o acordo proposto pela outra parte. Voluntariedade: pressupõe participação espontânea de todas as pessoas, bem como a possibilidade de interromperem o procedimento a qualquer tempo, cientes da responsabilidade dos seus atos. Consensualidade: imprime à prática restaurativa a busca por uma negociação pacífica e a abertura dos envolvidos para se chegar a uma solução justa e harmônica. Conceitos principiológicos Informalidade: como princípio de uma prática restaurativa, contrapõe-se ao extremo rigor dos processos judiciais, atendo-se à liberdade de ação e palavra dos seus protagonistas e caracterizando-se por um estilo consensuado pelo qual as pessoas buscam se relacionar em prol de uma solução para os seus dilemas. Considerando-se o direito penal e os bens por ele tutelados como sendo do âmbito do direito público, o princípio da gratuidade determina que práticas restaurativas que pretendem fazer frente ao processo penal não podem ter custos financeiros para as pessoas, uma vez que o acesso à Justiça é um direito constitucional. Interdisciplinaridade: é importante por considerar a complexidade dos problemas e a necessidade de abordagens mediante a convergência, a cooperação e a combinação adequada de diferentes olhares e saberes, incompletos e provisórios, promovendo a tolerância às diferenças e a busca de consenso. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 15 1.3 Visão do crime para a Justiça Restaurativa Baseado em estudos de Zehr (2015) sobre aspectos principiológicos, o crime e os comportamentos nocivos representam uma ferida na co- munidade, por meio da quebra da teia de relacionamentos e do desfa- zimento de vínculos. Assim, o crime provoca ondas de repercussão e acaba por perturbar a teia, que perde o equilíbrio em função de um comportamento nocivo, e exige, portanto, o restabelecimento dos prejudicados, dos provocadores do dano e de suas comunidades. Conceitos principiológicos Celeridade: relaciona-se à garantia das práticas restaurativas de promoverem o acesso à Justiça dentro de uma temporalidade razoável, sob risco de, devido às dificuldades próprias à lentidão e extrema burocratização do sistema de Justiça impedirem a possibilidade de resolução ou mesmo levarem à acentuação do conflito. A celeridade não deve ser entendida como um obstáculo para as práticas restaurativas, justificando procedimentos rápidos que, via de regra, são incapazes de promover abordagens capazes de restaurar e reparar verdadeiramente os conflitos e controvérsias. Urbanidade: tocante à necessidade de respeito ao outro no curso da prática restaurativa, promovendo uma escuta ativa por parte de todos, cordialidade e dignidade de todas as pessoas envolvidas. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 16 Com efeito, Zehr (2015) faz um comparativo acerca da visão do crime, considerando a importância de corrigir, consertar e endireitar as coisas, em contraponto ao crime para o sistema jurídico tradicional. Fonte: Adaptado de Zehr (2015, p. 37). As abordagens são condensadas em três questionamentos centrais. Fonte: Adaptado de Zehr (2015, p. 37). 1.4 Justiça Restaurativa ou prática restaurativa? A terminologia para a questão da Justiça Restaurativa é controversa, pois a ferramenta restauradora pode ser utilizada em qualquer âmbito que busque a solução de conflitos de relações, seja na família, no trabalho ou na escola, o que ensejaria a utilização da expressão “prática restaurativa”. Todavia, há que se ressaltar a experiência de Zehr (2015), que, reconhe- cendo os limites da linguagem da Justiça e considerando o fato de a maioria dos conflitos envolverem uma vivência ou percepção de injustiça, opta pela expressão “Justiça Restaurativa”, mesmo reconhecendo “prática restaurativa” como um termo mais apropriado. Nesse sentido, a abordagem ideal é considerar a Justiça Restaurativa como instituto de solução de conflitos diferente do sistema tradicional. Duas visões diferentes Justiça Criminal Justiça Restaurativa O crime é uma violação da lei e do Estado. O crime é uma violação de pessoas e de relacionamentos. As violaçõesgeram culpa. As violações geram obrigações. A Justiça exige que o Estado determine a culpa e o imponha uma punição (sofrimento). A Justiça envolve vítimas, ofensores e membros da comunidade num esforço comum para corrigir a situação. Foco central: os ofensores devem receber o que merecem. Foco central: as necessidades da vítima e a responsabilidade do ofensor de reparar o dano cometido. Três perguntas diferentes Justiça Criminal Justiça Restaurativa Que leis foram infringidas? Quem sofreu danos? Quem fez isso? Quais são suas necessidades? O que o ofensor merece? De quem é a obrigação de suprir essas necessidades? UNIDADE 2 Pilares da Justiça Restaurativa INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 18 2. PILARES DA JUSTIÇA RESTAURATIVA De acordo com Zehr (2015), a Justiça Restaurativa possui três pilares: a) danos e necessidades; b) obrigações; e c) engajamento. Nesse sentido, ao perceber o crime como dano causado a pessoas e comunidades, a Justiça Restaurativa tem como foco o dano cometido, diferente do sistema jurídico tradicional, que prevê a Justiça focada em regras e leis, em que o Estado substitui a pessoa ofendida na qualidade de vítima. O sistema tradicional propõe a solução de conflitos por meio da punição do agressor, na medida de seu merecimento. Já a vítima, para o mesmo sistema, é uma preocupação secundária. Na Justiça Restaurativa, o foco é o dano, e não a vítima. Portanto, a pre- ocupação é inerente às necessidades da vítima, de maneira que o “fazer justiça” tem essa questão como ponto de partida. O segundo pilar enfatiza a acusação e a responsabilização da- queles que causaram danos, implicando obrigações que esti- mulam o ofensor a compreender o dano que causou e as res- pectivas consequências de seu comportamento sob o prisma da necessidade de responsabilidade de correção da situação, no intuito de “fazer a coisa certa”. A obrigação recai primeiramente sobre o responsável pelo dano, mas reflete-se também na comu- nidade e na sociedade, que também têm obrigações. O último pilar baseia-se no engajamento das partes afetadas pelo crime: ofensor, vítima e comunidade, tendo em vista que desempenham pa- péis importantes para a solução do conflito no processo judicial ao pro- piciar um diálogo direto entre as partes (ofensor e vítima), ou indireto, por meio de representantes, de modo que se possa chegar a um con- senso do que pode ser feito. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 19 2.1 Contexto O fenômeno criminológico tem exigido dos especialistas grande esforço para se pensar soluções para a lógica da retributividade penal. O que se vê é que, mesmo com o engessamento da pena, com a manutenção da prisão como mecanismo de combate ao crime, a violência não diminui. Cada vez mais, pessoas estão sendo encarceradas. Cada vez mais, o sistema penal se alimenta e é sobrecarregado sob a perspectiva de melhoria dos índices de violência. Foto: © [Joa Souza] / Shutterstock. No entanto, a mobilização frente ao fenômeno do crime enseja resposta diferente do que vem sendo proposto como solução, haja vista a neces- sidade de encará-lo em toda a sua complexidade. Pilares da Justiça Restaurativa Danos e necessidades Obrigações Engajamento INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 20 Somente a oferta de um sistema de punição ou responsabilização criminal rígido não é suficiente para avançar no processo de cultura de paz com a capacidade de diminuir a violência e os índices criminais e de reduzir a população carcerária de maneira eficiente. A proposta para se combater o fenômeno criminológico é pensar em políticas públicas de base, que tenham a capacidade de combater as razões que levam as pessoas a cometerem crimes. A outra medida é avançar para um sistema flexível de Justiça Criminal, que permita uma avaliação real do caso concreto e possibilite uma maior participação dos sujeitos envolvidos, com o objetivo de enxergar o sistema penal com uma ótica dife- rente, saindo de uma espécie de sistema punitivo rígido do Estado para um sistema multifacetado, que ofereça respostas diferentes e mais adequadas à criminalidade. Pois bem, a privação da liberdade pressupõe uma desintegração social e a destruição dos laços familiares e comunitários que marcam o aprisionado e dificultam ou impedem o retorno da pessoa ao mundo extramuros sem sequelas. Portanto, a punição sem medida, a aplicação do castigo e toda a violência decorrida do encarceramento somente confirma que o sofrimento é o modelo de punição adotado como resposta à violência causada. Nesse sentido, é preciso pensar novas formas de responsabilização criminal para substituir o exercício do poder punitivo estatal pela aplicação de mo- delos mais efetivos de solução de conflitos, como a Justiça Restaurativa. QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre formas de combate ao fenômeno criminológico, ou acesse o link: https:// youtu.be/hFIcGOqBs3g. https://youtu.be/hFIcGOqBs3g https://youtu.be/hFIcGOqBs3g INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 21 2.2 Conceito O conceito de Justiça Restaurativa pressupõe uma outra visão do que se entende como justiça, para que se possa enxergar o crime como violação dos interesses das pessoas, e não como infrações das normas. A justiça não pode ser sinônimo de punir, mas de buscar por mecanismos que possibilitem a solução de conflitos nos quais as pessoas estejam em primeiro plano. O que temos hoje é uma Justiça tradicional focada na punição, no es- tabelecimento da culpa, na imposição de dor por meio da pena. É uma visão da justiça segundo a qual a violação da lei atenta contra os inte- resses do Estado. Na Justiça Restaurativa, como o próprio nome sugere, o objetivo é res- taurar as relações, trazer a reparação para as pessoas, proporcionar uma ação transformadora que promova a cultura da paz. Foto: Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Mas enfim, como a literatura especializada conceitua a Justiça Restaurativa? PODCAST “A Justiça Restaurativa baseia-se num procedimento de consenso, em que a vítima, o infrator e, quando apropriado, outras pessoas ou membros da comunidade afetados pelo crime, participam coletiva e ativamente como sujeitos centrais na construção INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 22 de soluções para a cura das feridas, dos traumas e das perdas causados pelo crime” (PINTO, 2005, p. 20). O conceito trazido aborda a questão de maneira bem ampla, mas, na essência, o que se ressalta é um procedimento voluntário onde são valorizadas as pessoas envolvidas no conflito como sujeitos centrais para a construção da solução e cura das feridas. O processo tem características predominantemente informais, e pode ser realizado em espaços comunitários, por profissionais que detenham as técnicas de mediação, conciliação e transação, sob a proposta de alcance do resultado restaurativo, em busca da reintegração social da vítima e do ofensor. “A Justiça Restaurativa é uma abordagem que visa promover justiça e que envolve, tanto quanto possível, todos aqueles que tem como interesse numa ofensa ou dano específico, num processo que coletivamente identifica e trata os danos, necessidade e obrigações decorrentes da ofensa, a fim de resta- belecer as pessoas e endireitar as coisas na medida do possível” (ZEHR, 2015, p. 54). Embora haja um entendimento firmado sobre os contornos conceituais básicos de Justiça Restaurativa, de acordo com Zehr (2015), os profissionais doramo não conseguiram chegar a um consenso sobre um significado específico. Esse autor enfatiza que alguns questionam a utilidade de uma definição ou mesmo duvidam da sabedoria de se fixar tal definição. E critica: “mesmo reconhecendo a necessidade de princípios e critérios de qualidade, preocupa-nos a arrogância e a finalidade de estabelecer uma conceituação rígida” (ZEHR, 2015, p. 53). Outro conceito que corrobora o que foi apresentado acima é o de Jaccoud (2005), citado por Sica (2007), segundo o qual, a Justiça Restaurativa “[...] é uma aproximação que privilegia toda a forma de ação, individual ou coletiva, visando corrigir as consequências vivenciadas por ocasião de uma infração, a resolução de um conflito ou a reconciliação das partes ligadas a este.” (JACCOUD, 2005 apud SICA, 2007, p. 169). INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 23 Por fim, num conceito bem mais enxuto e objetivo, de acordo com o artigo 1º da Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), temos a seguinte definição: “Art. 1º. A Justiça Restaurativa constitui-se como um conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais motivadores de conflitos e violência, e por meio do qual os conflitos que geram dano, concreto ou abstrato, são solucionados de modo estruturado na seguinte forma: I – é necessária a participação do ofensor, e, quando houver, da vítima, bem como, das suas famílias e dos demais envolvidos no fato danoso, com a presença dos representantes da comunidade direta ou indireta- mente atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores restaurativos; II – as práticas restaurativas serão coordenadas por facilitadores res- taurativos capacitados em técnicas autocompositivas e consensuais de solução de conflitos próprias da Justiça Restaurativa, podendo ser servidor do tribunal, agente público, voluntário ou indicado por entidades parceiras; III – as práticas restaurativas terão como foco a satisfação das neces- sidades de todos os envolvidos, a responsabilização ativa daqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a ocorrência do fato danoso e o empoderamento da comunidade, destacando a necessidade da reparação do dano e da recomposição do tecido social rompido pelo conflito e as suas implicações para o futuro.” (BRASIL, 2016). QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre o conceito de Justiça Restaurativa de acordo com o Conselho Nacional de Justiça, ou acesse o link: https://youtu.be/-g3HkiGmB6E. https://youtu.be/-g3HkiGmB6E INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 24 2.3 O que não é Justiça Restaurativa O estudo de Zehr (2015) nos traz importantes informações que auxiliam na identificação dos princípios restauradores que solidificam o conceito de Justiça Restaurativa. Nesse sentido, considerando as definições conceituais do que vem ou não a ser Justiça Restaurativa, fica cada vez mais clara a ideia de mudança de cultura sobre a questão da punição por meio da prisão, sugerindo a aplicação de outros meios de solução de conflitos. A Justiça Restaurativa, de acordo com Zehr (2015, p. 19-26): • Não tem como objetivo principal o perdão ou a reconciliação: algumas vítimas e defensores de vítimas reagem negativamente à Jus- tiça Restaurativa, porque imaginam que o objetivo do programa seja estimular, ou mesmo forçar, a vítima a perdoar ou a se reconciliar com aqueles que causaram danos a ela ou aos seus entes queridos. O perdão ou a reconciliação podem ocorrer com mais frequência do que ocorreria no processo penal; contudo, não deve haver pressão no sentido de per- doar ou buscar a reconciliação, pois estes não são pré-requisitos nem resultados necessários da Justiça Restaurativa. • Não implica necessariamente um retorno às circunstâncias anteriores: o termo “restaurativo” pode suscitar controvérsia porque pode sugerir um retorno ao passado, como se a ofensa não tivesse acontecido. Isso não é possível, especialmente no caso de danos graves. • Não é mediação: tal como a mediação, muitos programas de Justiça Restaurativa são desenhados em torno da possibilidade de um en- contro facilitado entre vítimas, ofensores e, possivelmente, familiares e membros da comunidade. O encontro com mediação pode acontecer, mas não descreve a Justiça Restaurativa adequadamente; pois, num con- flito mediado, presume-se que as partes atuem num mesmo nível ético, com responsabilidades que muitas vezes precisam ser partilhadas. No caso da mediação, portanto, a linguagem neutra pode induzir a erro, enquanto na restaurativa, na maioria dos casos o ofensor deve admitir algum grau de responsabilidade. • Não tem por objetivo principal reduzir a reincidência ou as ofensas em série: a redução da reincidência é um subproduto da prática da Justiça Restaurativa, mas não é o motivo pela qual se deve promover INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 25 os programas restauradores. Aqueles que sofreram o dano devem ser capazes de identificar suas necessidades e tê-las apontadas, ao passo que aqueles que causaram o dano devem ser estimulados a assumir a responsabilidade, e aqueles que foram afetados por um delito devem ser envolvidos no processo. • Não é um programa ou um projeto específico: não existe um mo- delo puro que possa ser visto como ideal ou passível de implementação imediata em qualquer comunidade. Todos os modelos estão, em alguma medida, atrelados à cultura e devem ser construídos de baixo para cima pelas comunidades, através do diálogo sobre suas necessidades e recursos. • Não se limita a ofensas menores ou ofensas primárias: as abordagens restaurativas podem produzir maior impacto nos casos de crimes mais graves, mesmo quando seja mais fácil o apoio da comunidade para os casos de menor potencial ofensivo. • Não é algo novo nem surgiu nos Estados Unidos da América: as raízes dos elementos restaurativos são tão antigas quanto a história da humanidade e têm precedentes inspirados nas tradições indígenas dos povos nativos da América do Norte e da Nova Zelândia. • Não é uma panaceia nem necessariamente um substituto para o sistema judicial: a Justiça Restaurativa não é uma resposta para todas as situações nem substituiria o sistema judicial num mundo ideal. Assim, mesmo que a Justiça Restaurativa pudesse ganhar ampla imple- mentação em algum tipo de sistema jurídico ocidental, ainda seria ne- cessária, como salvaguarda e defesa dos direitos humanos fundamentais, a manutenção do sistema jurídico tradicional. • Não é necessariamente uma alternativa ao aprisionamento: se a Justiça Restaurativa fosse levada a sério, nosso recurso ao aprisionamento seria reduzido, e a natureza dos estabelecimentos prisionais mudaria signifi- cativamente. No entanto, as abordagens restaurativas podem também ser usadas em conjunto com as sentenças de detenção ou em paralelo a estas. O fato é que a Justiça Restaurativa pode ser uma alternativa à prisão, mas não elimina a sua necessidade para alguns casos. • Não se contrapõe necessariamente à Justiça Retributiva: a Justiça Restaurativa não se opõe totalmente à Justiça Retributiva, muito embora a retributiva reduza a confiança na punição por si só. UNIDADE 3 Objetivos da Justiça Restaurativa INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 27 3. OBJETIVOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA A Justiça Restaurativa busca o restabelecimento das coisas sob o enfoque da retificação ou minimização do dano causado, objetivando o tratamento do ato lesivoe das causas que levaram a sua prática. 3.1 Tratamento do ato lesivo Está no escopo da Justiça Restaurativa endireitar as coisas, como en- sina Zehr (2015). Nesse sentido, para aqueles que causaram um dano, ela é uma oportunidade e um estímulo para fazer a coisa certa diante das pessoas que foram lesadas, assumindo responsabilidades tanto quanto possíveis para reparar o dano causado à vítima. BOAS PRÁTICAS Como exemplo da possibilidade de reparar o dano causado, pode o ofensor responsabilizar-se a ponto de satisfazer interesses do ofendido, o que podemos chamar de reparação de fato. Já na reparação de danos mais graves, cujo ato lesivo seja de impossível reparação, a responsabilidade pode alcançar as “covítimas”, num pro- cesso de reparação indireta, que signifique, por exemplo, a indenização a familiares. No caso de um homicídio, por exemplo, em que não seja possível reparar o dano, essa reparação pode ser simbólica, por meio de indenização à família da vítima, ou do processo de arrependimento em que o ofensor deseje retratar-se pelo dano causado à família da vítima ou ainda de outra forma que signifique o exercício do perdão e do arrependimento através das práticas de Justiça Restaurativa. 3.2 Tratamento das causas Na busca do endireitamento das coisas, é necessário não só cuidar dos danos, mas abordar as causas do crime (ZEHR, 2015). INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 28 A ideia trazida consiste no fato de que muitos dos que foram vitimados desejam saber quais medidas estão sendo tomadas para reduzir os danos para si ou para outrem. Para o tratamento da causa, é preciso pensar num plano que permita verificar a necessidade da vítima e a possibilidade do ofensor para o cumprimento das obrigações num primeiro momento; mas, por seguinte, contemplar as necessidades do ofensor para que possa modificar o seu comportamento. Fonte: Adaptado de Zehr (2015, p. 47). Para corrigir a situação, é preciso: Tratar os danos Tratar as causas UNIDADE 4 Elementos da Justiça Restaurativa INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 30 4. ELEMENTOS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA Os elementos da Justiça Restaurativa traduzem as pessoas envolvidas no processo restaurador e o modo pelo qual se dá a relevância entre o “como” e o “quem”, consoante a proposta de Howard Zehr (2015). 4.1 A importância do “como” Zher (2015) entende que o processo jurídico é um sistema conduzido por profissionais que representam o ofensor e o Estado, tendo como árbitro o juiz, e cujo resultado é imposto por autoridades que são alheias ao conflito. Os interessados e integrantes dos conflitos, compostos pelas vítimas, comunidade e ofensores, raramente participam do processo de maneira substancial. Diferentemente da Justiça Criminal, a Restaurativa dá preferência a pro- cessos colaborativos e inclusivos e, na medida do possível, a desfechos que tenham sido alcançados pelo consenso. No entanto, ressalta-se que o processo de Justiça Restaurativa admite a necessidade de autoridades externas e reconhece o papel dos profissionais envolvidos, mas sobressai a importância da participação daqueles que estão diretamente envolvidos e sofreram o impacto ou têm interesse legítimo no evento danoso. Nesse sentido, o “como” pressupõe um encontro direto dos interessados com um facilitador, precedido de preparação, planejamento e salvaguarda adequados. Via de regra, no “como”, realiza-se um encontro entre as pessoas que foram prejudicadas e aquelas que causaram o dano com a finalidade de negociar diretamente um modo de corrigir a situação. Nessa oportunidade, o ofendido tem a chance de expor ao ofensor o impacto da ofensa, de modo que o ofensor poderá ouvir e compreender os efeitos de seu comportamento. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 31 QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir ao vídeo de animação sobre como podem se dar os processos de resolução de conflitos na óptica da Justiça Restaurativa, ou acesse o link: https://youtu.be/ OQqO6fcagOA. Cabe salientar que o encontro direto, embora mais eficaz, não é regra e deve ser avaliado caso a caso, considerando que, a depender da ofensa, não é recomendado. Já o encontro indireto pode ser uma solução razoável para as situações que devem ser tratadas com certo distanciamento, por exemplo, por meio de carta, vídeo gravado ou por meio de representação. Em suma, deve-se possibilitar ao máximo a troca de informações e o envolvimento entre as partes interessadas. https://youtu.be/OQqO6fcagOA https://youtu.be/OQqO6fcagOA INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 32 4.2 A importância do “quem” Além dos membros da comunidade eventualmente afetados e que tenham interesse imediato no caso, o “quem” são as pessoas diretamente prejudicadas pelo dano e aquelas que o causaram. Deve-se lembrar que, além do círculo envolvendo vítima, ofensor e comunidade, há outros membros secundários que podem ter sido im- pactados pelo dano, como família e amigos, bem como pessoas que têm vínculos com quem causou o dano. Por fim, é importante ressaltar que, quando se fala em comunidade, fala-se da microcomunidade de lugar e de relacionamento, daquela que está imediatamente afetada pelas ofensas, mas, de maneira geral, é negligenciada pela Justiça estatal. QR CODE Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet) no QR Code ao lado para assistir ao vídeo de animação sobre quem são as pessoas que sofrem com os impactos causados por um dano criminal, ou acesse o link: https://youtu.be/cwjUjpj7U6k. https://youtu.be/cwjUjpj7U6k UNIDADE 5 Fundamentos legais da Justiça Restaurativa INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 34 5. FUNDAMENTOS LEGAIS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA A Justiça Restaurativa surge como nova possibilidade a ser inserida no âmbito comunitário e jurídico como ferramenta de solução de conflitos. O marco inicial da regulação da Justiça Restaurativa foi a Resolução 26, de 28 de julho de 1999, intitulada “Desenvolvimento e Implementação de Medidas de Mediação e Justiça Restaurativa na Justiça Criminal”, seguida pela Resolução 2000/14, de 27 de julho de 2000, intitulada “Princípios Básicos para utilização de Programas Restaurativos em Matérias Criminais” e pela Resolução 2002/12, que trouxe diversas proposições do grupo de especialistas estudiosos do tema a serem adotadas na implantação da Justiça Restaurativa. 5.1 Resolução 2002/12, da ONU A Resolução 2002/12 estabelece os princípios básicos para utilização de programas de Justiça Restaurativa em matéria criminal, representando um importante instrumento de convocação dos Estados-membros da ONU a difundirem a Justiça Restaurativa no contexto criminal. O item I trata da terminologia e, no art. 2º, define: “2. Processo restaurativo significa qualquer processo no qual a vítima e o ofensor, e, quando apropriado, quaisquer outros indivíduos ou membros da comunidade afetados por um crime, participam ati- vamente na resolução das questões oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador. Os processos restaurativos podem incluir a mediação, a conciliação, a reunião familiar ou comunitária (conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles).” (ONU, 2002). O artigo 6º abre o tópico da utilização de programas de Justiça Restaura- tiva e indica esse instituto como mecanismo a ser utilizado em qualquer fase do sistema de Justiça Criminal nacional. Em linhas gerais, a Resolução 2002/12 apresenta fundamentos que devemser respeitados na implantação de um programa de Justiça Restaurativa no âmbito penal. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 35 Aliás, o artigo 15 da resolução prevê a incorporação nas decisões judiciais e julgamentos dos acordos oriundos dos programas de Justiça Restaura- tiva, apreciando status resolutivo à decisão no sentido de fazer precluir a ação penal relacionada aos mesmos fatos. Ou seja, resolvida a situ- ação no âmbito da Justiça Restaurativa, esta não poderá ser retomada no processo judicial criminal, tendo em vista a aplicação da preclusão. No entanto, não havendo acordo, prevalecerá o procedimento tradi- cional de Justiça Criminal, conforme estabelece o artigo 16 da resolução em comento: “Art. 16. Quando não houver acordo entre as partes, o caso deverá retornar ao procedimento convencional da justiça criminal e ser deci- dido sem delonga. O insucesso do processo restaurativo não poderá, por si, [ser] usado no processo criminal subsequente.” (BRASIL, 2002). Por fim, outro artigo importante é o artigo 20, que impõe aos Estados- -membros o dever de buscar a formulação de estratégias e políticas nacionais de desenvolvimento da Justiça Restaurativa e a promoção de cultura da paz. 5.2 Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais A Lei 9.099/1995 tem como principal característica a promoção da conciliação, do julgamento célere e da execução das causas jurídicas consideradas menos complexas. Na essência, a norma denominada Lei dos Juizados Especiais e Criminais veio regulamentar o processo nos juizados para prever a possibilidade de conciliação e julgamento de infrações que são consideradas de menor potencial ofensivo, determinando rumos das situações menos graves. Fonte: Adaptado de © [vTopRated] e © [freepik] / Freepik. Precluir Impedimento do uso de uma faculdade processual no âmbito jurídico, por não a ter usado no tempo determinado pela lei ou por já ter sido exercida. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 36 Em consonância com o processo conciliador, a lei em comento dispõe em seus artigos 72 e 73, parágrafo único, a composição entre as partes para solução dos conflitos, determinando a condução da conciliação por juiz ou conciliador sob sua orientação, recrutado preferencialmente dentre os bacharéis em direito. O parágrafo único do artigo 74 dispõe que o acordo homologado acar- reta a renúncia ao direito de queixa ou representação nos casos de ação privada ou pública sujeita à representação. Nestes casos, o poder juris- dicional não fica afastado e, caso o acordo deixe de ser cumprido em algum momento, poderá ser executado em esfera cível pela outra parte. Outro instrumento importante é a suspensão do processo como método de pena alternativa à prisão, previsto de forma expressa, conforme se verifica no artigo 89, da Lei 9.099/1995, de maneira que o Ministério Público poderá propor a suspensão do processo, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime. Conforme se encontra no Manual de Gestão para as Alternativas Penais (2020), quanto à utilização de práticas restaurativas em crimes não acolhidos pela lei dos Juizados Especiais Criminais, estudiosos sobre o tema têm defendido essa possibilidade. Nesse sentido, de acordo com o manual mencionado: “São vários os mecanismos de que se lança mão, na experiência comparada, para a efetivação dos ideais de Justiça Restaurativa. A utilização dos princípios da oportunidade e do consenso caracte- rizam a experiência anglo-saxônica, em que a ação penal está na disponibilidade do autor, que pode desistir ou transigir com o arguido, tendo em conta os fins ou interesses que pretende atingir ou defender.” (ACHUTTI, 2014 apud BRASIL, 2020, p. 99). Confira alguns exemplos comentados pelo autor. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 37 Ao estudar o Manual de Alternativas Penais (2020), podemos destacar que, em que pese a existência de obstáculos na legislação brasileira, a discricionariedade da ação penal é um princípio basilar da Justiça Res- taurativa nos países que a abrigam, permitindo ao Ministério Público o direito de dispor da ação, caso considere inexistentes as provas que caracterizam materialidade delitiva ou autoria, ou ainda, se considerar atípica a ação. 5.3 Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça A Resolução 225/16 do CNJ veio dispor sobre a Política Nacional de Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário, considerando as recomen- dações da Organização das Nações Unidas para fins de implantação da Justiça Restaurativa nos Estados-membros. Entre as informações mais importantes, o artigo 1º (já apresentado neste Módulo, na Unidade 2, no subitem 2.2, intitulado “Conceito”) nos traz a definição e a estrutura pelas quais os conflitos e a violência deverão ser solucionados, incluindo, portanto, a necessidade de participação do ofensor, da vítima, de suas famílias e dos demais envolvidos no fato Na Espanha, foi prevista a possibilidade de a acusação e a defesa pedirem ao juiz a “sentença de conformidade” com a acusação, no processo abreviado para crimes de menor gravidade. Na Alemanha, desde 1924, foi conferida ao Ministério Público a possibilidade de arquivamento do processo, mediante a verificação de certos requisitos. Na Itália, o Código de Processo Penal (CPP) de 1988 introduziu vários procedimentos especiais, com soluções de simplificação e também de consenso. Discricionariedade Liberdade para agir e tomar decisões dentro dos limites da lei. INTRODUÇÃO À JUSTIÇA RESTAURATIVA: FUNDAMENTOS BÁSICOS PARA UMA NOVA VISÃO DA JUSTIÇA MÓDULO 1 | Estrutura da Justiça Restaurativa 38 danoso, com a presença dos representantes da comunidade, a coorde- nação de facilitadores e a realização de práticas com foco na satisfação das necessidades de todos os envolvidos. Por fim, cabe destacar a importância dos incisos I, II e III, referendados pelo artigo em comento, pois demonstram o modo de operação do pro- cesso restaurativo, indicando a necessidade da participação do ofensor e, quando houver, da vítima, bem como das suas famílias e dos demais envolvidos no fato danoso, com a presença dos representantes da co- munidade direta ou indiretamente atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores restaurativos, bem como definindo como e a meta das práticas restaurativas. SAIBA MAIS Para saber mais sobre o fenômeno da Justiça Restaurativa e seus impactos no sistema de Justiça Criminal brasileiro, leia o artigo completo de Renato Sócrates Gomes Pinto (2009), intitulado “A construção da Justiça Restaurativa no Brasil – O impacto no sistema de Justiça Criminal”, disponível em: https://revistas.unaerp. br/paradigma/article/view/54/65. Confira a seguir uma retomada dos principais pontos deste módulo. https://revistas.unaerp.br/paradigma/article/view/54/65 https://revistas.unaerp.br/paradigma/article/view/54/65 SÍNTESE DO MÓDULO 39 Na Unidade 1, aprendemos sobre os fundamentos da Justiça Restaurativa, abordando seus princípios, sua visão sobre o crime e um resumo histórico sobre as origens das práticas restaurativas. Na Unidade 2, foram apresentados os três pilares da Justiça Restaurativa: a) danos e necessidades; b) obrigações; e c) engajamento. Além disso, conceituamos o que é e o que não é Justiça Restaurativa. Já, na Unidade 3, aprendemos que tratar os danos e as causas do crime são os principais objetivos da Justiça Restaurativa, e, em seguida, na Unidade 4, vimos que os elementos dessa Justiça se referem às pessoas envolvidas no processo restaurador, pensando principalmente “como” e “quem”. Por fim, na Unidade 5, abordamos os fundamentos legais da JustiçaRes- taurativa, trazendo as Resoluções da ONU, do Conselho Nacional de Justiça e a Lei 9.099/1995, que trata dos juizados Especiais Cíveis e Criminais. Você finalizou o Módulo 1! Vamos agora para o Módulo 2, aprender mais sobre a prática em Justiça Restaurativa. . REFERÊNCIAS ACHUTTI, D. S. Justiça Restaurativa e Abolicionismo Penal: contribuições para um novo modelo de administração de conflitos no Brasil. 2021. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais, Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. 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Disponível em: https://www.sica.adv.br/wp-content/uploads/2022/09/ Justica-restaurativa-e-mediacao-penal.pdf. Acesso em: 2 fev. 2023. SLAKMON, C., R. V.; PINTO, R. G. (org.). Justiça Restaurativa. Brasília: Ministério da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi- mento, 2005. TONET, G. L.; VIERA, D. (org.). Tudo que você precisa saber sobre Justiça Restaurativa. [S.l], 2019. E- book. ZEHR, H. Justiça Restaurativa. São Paulo: Palas Athena, 2015. ZEHR, H. Uma lente restaurativa. In: ZEHR, H. Trocando as lentes. São Paulo: Palas Athena, 2008. https://www.sica.adv.br/wp-content/uploads/2022/09/Justica-restaurativa-e-mediacao-penal.pdf https://www.sica.adv.br/wp-content/uploads/2022/09/Justica-restaurativa-e-mediacao-penal.pdf Apresentação Objetivos do módulo 1. Fundamentos da Justiça Restaurativa 1.1 Resumo histórico 1.2 Princípios da Justiça Restaurativa 1.3 Visão do crime para a Justiça Restaurativa 1.4 Justiça Restaurativa ou prática restaurativa? 2. Pilares da Justiça Restaurativa 2.2 Conceito 2.3 O que não é Justiça Restaurativa 3. Objetivos da Justiça Restaurativa 3.1 Tratamento do ato lesivo 3.2 Tratamento das causas 4. Elementos da Justiça Restaurativa 4.1 A importância do “como” 4.2 A importância do “quem” 5. Fundamentos legais da Justiça Restaurativa 5.1 Resolução 2002/12, da ONU 5.2 Lei 9.099/1995, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais 5.3 Resolução 225/2016, do Conselho Nacional de Justiça Síntese do Módulo Referências