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ISBN # Page# XICBB'2005 ANÁLISE BIOMECÂNICA DO EXERCÍCIO DE FLEXÃO PLANTAR SENTADO. Artur Bonezi, Everton Rocha e Jefferson Loss Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Escola de Educação Física The objectives of this study was to caracterize the kind of resistance moment from sit plantar flexion machine by Intensity Line and check if the mechanical about this machine is in accordance with the mechanical and physiological parameters from triceps surae. To determine the resistance moment from machine was used the relationship between the moment arm and the resistance force. The mechanical and physiological variables from triceps surae were found in the literature. The results showed that the resistance moment increases in first quarter of movement and decrease in the three quarter final. The variable mechanical of muscle is only observed in the start of movement and after this point the physiological caracteristic goes with the resistance moment offered by machine. Keywords: Muscle Machine, Resistance Moment and Biomechanics Introdução As características mecânicas do sistema locomotor influenciam a produção de força no sistema músculo- esquelético. Apesar de nas academias existirem diversas linhas e tipos de equipamentos de musculação os quais ao serem planejados e construídos parecem não apresentar um padrão no que se refere à determinação do torque que será oferecido como resistência. Por exemplo, existem diversos equipamentos que visam trabalhar um mesmo grupo muscular que dependendo de sua mecânica oferecem cargas (torques de resistência) que podem ser crescentes, decrescentes ou constantes ao longo do exercício. A literatura carece de estudos que visam conhecer a carga de resistência de aparelhos de musculação com intuito de verificar se esta acompanha as características mecânicas da musculatura, representada pela variação da distância perpendicular da musculatura envolvida no movimento. A importância de conhecer o torque de resistência também se dá pois, o ângulo articular onde um músculo produz o pico de torque não necessariamente coincide com o ângulo onde ocorre o pico de força muscular ou a maior distância perpendicular dessa musculatura [1]. Além disso em um programa de do treinamento um exercício pode ser prescrito em diferentes aparelhos que trabalhem um mesmo grupo muscular e porções musculares diferentes, ou seja, uma vez que um dos equipamentos pode oferecer o máximo de resistência no início do movimento, enquanto outro aparelho pode oferecer o máximo de resistência no final. Outra característica que juntamente com a mecânica deve ser observada refere-se a característica fisiológica da musculatura envolvida no movimento. Baseada na Teoria das Pontes Cruzadas foi determinada uma relação entre comprimento do sarcômero e força produzida pela fibra. Essa relação foi denominada relação força-comprimento muscular [5]. Sendo assim, os objetivos deste estudo foram caracterizar o torque de resistência que o aparelho de Flexão Plantar Sentado (FPS) da marca Intensity Line (Figura 1) oferece, mais especificamente verificar se esta carga está de acordo com as características mecânicas e/ou fisiológicas da musculatura envolvida no movimento, no caso o tríceps sural. Figura 1: Vista lateral do aparelho de Flexão Plantar (Intensity Line) Materiais e Métodos Considerando o caráter exploratório do estudo, um sujeito de 21 anos, 1,65m e 68Kg, saudável e praticante de atividade física regular foi utilizado para executar o movimento. Para os procedimentos de coleta de dados, o início do movimento foi caracterizado com barra abaixo da linha horizontal (7 graus) e o tornozelo em flexão dorsal máxima (Figura 2a); e o final do movimento com a barra acima da mesma linha horizontal (20 graus) e o tornozelo em flexão plantar máxima (Figura 2b). O posicionamento do sujeito no equipamento foi com o joelho e quadril em 90 graus de flexão com o terço anterior do pé sobre uma plataforma específica (Figura 3). ISBN # Page# XICBB'2005 Figura 2a: Início do Exercício Figura 2b: Final do Movimento Figura 3: Plataforma para posicionamento dos pés Cálculo das Variáveis Foram mensurados os ângulos de movimento do tornozelo com um goniômetro manual com acurácia de 1 grau e 1 mm, as dimensões do aparelho foram mensuradas com o auxílio de uma fita métrica. As variáveis medidas foram os ângulos de inclinação da barra e o ângulo interno da articulação do tornozelo, conforme [2]. De modo geral, a carga mecânica de um exercício pode ser obtida calculando-se o torque de resistência que o mesmo oferece. Torque pode ser descrito através da equação 1: T = F. d┴ (1) Onde: T é o torque (Kgf.m), F é a força (Kgf), d┴ é a distância perpendicular (m). A força é representada pela carga selecionada (anilhas) e colocada para a execução do exercício. A distância perpendicular (d┴) foi calculada através de relações trigonométricas. O torque resistente total é representado pelo torque das anilhas calculado através da equação 1, adicionado do torque do peso da barra (TPB). Para a determinação do TPB utilizou-se uma balança, da marca Sensimax 130, para equilibrar o equipamento longitudinalmente (Figura 4). Figura 4: Torque do Peso da Barra A barra possui um peso que gera um torque no sentido horário e como reação a balança produz uma força no sentido para cima, gerando um torque anti- horário, criou-se para o cálculo do TPB uma situação de equilíbrio. Como a soma dos torques num sentido é igual à soma dos torques no outro sentido, ou seja, ΣΓ = 0, o torque do peso da barra foi estimado através da equação 2: TPB= FBa. d┴ba (2) Onde: TPB é o torque do peso da barra (Kgf.m), FBa é quanto a balança registra (Kgf), d┴ba é a distância perpendicular da barra, neste caso o comprimento total dessa (m). Esse procedimento foi necessário, pois não era conhecido o peso da barra assim como a localização do centro de massa e a distância perpendicular desse peso. As Figuras 5a e 5b representam o diagrama de corpo livre (DCL) do aparelho no início e no fim do exercício, respectivamente. O DCL ilustra as forças que atuam na barra bem como a distância perpendicular (d┴) utilizada para os cálculos dos torques. Estão neles representadas, a força resistente (FR) - na extremidade da barra, o TPB, ilustrado no centro da barra e a força humana (FH) - no local de contato entre a perna do executante e a máquina. O peso da perna foi desprezado nos cálculos de torque, pois sua contribuição no torque resistente total não é significativa mesmo quando o exercício é executado sem carga. ISBN # Page# XICBB'2005 Figura 5a: Diagrama de Corpo Livre – Início do Exercício Figura 5b: Diagrama de Corpo Livre – Final do Exercício Resultados A Figura 6 apresenta os dados da variação do torque de resistência (TR) para uma carga de 10Kg. Os resultados mostram que no 1º quarto do movimento o TR possui uma tendência a ser crescente (início do movimento: 12,8 kgf.m; fim do primeiro quarto; 13,2 kgf.m). Nos 3 quartos finais de movimento, o TR do aparelho é decrescente (13,2 kgf.m até 11,5 kgf.m). Figura 6: Variação do Torque de Resistência A Figura 7 mostra o comportamento da distância perpendicular do Tendão de Aquiles (DPTA) ao longo do exercício, ao qual permite verificar os componentes mecânicos que influenciam a resposta do exercício. Os valores apresentados para DPTA representam uma média da população e foram obtidos da literatura [2] e [3]. Figura 7: Distância Perpendicular do Tendão de Aquiles Discussão A partir da relação torque-ângulo articular, sabendo- se a distância perpendicular, é possível fazer o cálculo da relação força muscular-ângulo articular [3] conforme apresentado na Figura 6. Sendo assim é possível associar os dados do TR (Figura 6) com a DPTA (Figura 7) [2] que representa a mecânica muscular.A partir dessa associação é possível saber se a resistência oferecida pelo aparelho acompanha a distância perpendicular da musculatura envolvida. Na Figura 7 a DPTA é crescente, logo o torque muscular também pode respeitar esse padrão no caso do TR constante. Se assim o fosse, o músculo teria uma capacidade de produção de torque crescente e o torque muscular seria máximo no final do exercício. Porém nesse aparelho o TR não é constante, conforme ilustra a figura 6, então o torque muscular não depende exclusivamente da DPTA. Dessa forma, pela análise das Figuras 6 e 7 em conjunto é possível verificar que, no primeiro quarto do movimento, ambos apresentam um padrão crescente, ou seja, o torque de resistência do aparelho acompanha as características mecânicas. Já nos três quartos finais, o torque de resistência do aparelho é decrescente e o torque muscular é crescente, ou seja as características mecânicas passam a não ser respeitadas a parir desse ponto. De modo sintetizado o músculo teria a maior vantagem mecânica onde o aparelho oferece a menor carga. A distância perpendicular do músculo influencia na produção de torque muscular, como já foi relatado [1], [4], no entanto, apesar da DPTA ser crescente, possivelmente ocorre um decréscimo maior na taxa de queda da característica fisiológica ao longo do exercício, ou seja, a variação do TR, nos 3 quartos finais do movimento, provavelmente é o reflexo da característica fisiológica da musculatura (relação força- comprimento). Essa relação determina um vínculo entre o comprimento do sarcômero e a força produzida pela fibra [5]. Em outras palavras a vantagem fisiológica, através da relação força-comprimento prevalece sobre a vantagem mecânica (Figura 7). Pois quanto mais alongada uma musculatura (quão maior o comprimento do sarcômero), maior a sua capacidade de produzir força [5]. Além disso, a capacidade de gerar torque pelo ISBN # Page# XICBB'2005 tríceps sural independe da angulação do joelho apenas reflete na capacidade fisiológica do músculo gastrocnêmico [1]. Dessa forma as suas características mecânicas deste equipamento de musculação sugere que o mesmo seja utilizado em um ciclo da periodização do treinamento onde seja interessante que a resistência oferecida ao praticante seja decrescente ao final do exercício (quando o músculo está mais encurtado). Portanto, de acordo com a relação entre força muscular-ângulo articular [3] e que o ângulo onde o músculo produz o seu pico de torque não coincide com o ângulo onde ocorre o pico de força muscular [1], a variação do torque de resistência é um causador de grande influência na adaptação do músculo ao treinamento imposto. Uma outra utilização alternativa para este aparelho refere-se a indivíduos, que por razões específicas, não possam receber o máximo de resistência no final do movimento. Conclusão O aparelho analisado possui um torque de resistência crescente do início até antes da metade do exercício e decrescente a partir desse ponto. Do ponto de vista mecânico a resistência que o aparelho FPS oferece acompanha a mecânica muscular (DPTA) do início até antes da metade, ou seja, no primeiro quarto do movimento de flexão plantar, o incremento da carga é acompanhado de um aumento da distância perpendicular muscular. Nos três quartos finais do movimento, o aparelho respeita a característica fisiológica da musculatura, ou seja quando o músculo está mais encurtado (final do exercício) a resistência mecânica oferecida (TR) também é menor. Referências [1] HOY M, ZAJAC F, GORDON, M. “A musculoskeletal model of the human lower extremity: the effect of muscle, tendon and moment arm on the moment-angle relationship of musculotendon actuators at the hip, knee and ankle”. J. Biomech. 23(2): 157-169, 1990. [2] RUGG S, GREGOR R, MANDELBAUM B. “In vivo moment arm calculations at the ankle using magnetic resonance imaging (MRI)”. J. Biomech. 23: 495–501, 1990. [3] SPOOR C, VAN LEEUWEN J, MESKERS C. TITULAER A, HUSON A. “Estimation of instantaneous moment arms of lower-leg muscles”. J. Biomechanics. 23(12): 1247-1259, 1990. [4] ZAJAC FE. “How a musculotendon architecture and joint geometry affect the capacity of muscle to move and exert force on objects”. J. Hand Surgery. 17(5): 799-804, 1992. [5] GORDON AM, HUXLEY AF, JULIAN FJ. “The variation in isometric tension with sarcomere length in vertebrate muscle fibres”. J. Physiol. 184 : 170-192, 1966. e-mail dos autores: abonezi@gmail.com everton.kruel@gmail.com jefferson.loss@ufrgs.br
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