Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Toxicologia Clínica
A evolução da Toxicologia Clínica como área especializada e sua importância na prevenção, no diagnóstico
e no tratamento das intoxicações.
Prof. Rodrigo Yukio Shiroma Dias
1. Itens iniciais
Propósito
A avaliação clínica dos efeitos nocivos decorrentes das interações de substâncias químicas com o organismo,
bem como o diagnóstico clínico-laboratorial e o direcionamento do tratamento das intoxicações, faz parte do
escopo de uma equipe multidisciplinar, em que o farmacêutico e o biomédico estão inseridos. Assim, esses
profissionais desempenham papel fundamental para o sucesso terapêutico e a prevenção das intoxicações.
Objetivos
Reconhecer os fundamentos básicos relacionados à Toxicologia Clínica.
Identificar os principais sintomas decorrentes de diferentes intoxicações e os principais procedimentos 
aplicados no tratamento do paciente intoxicado.
Comparar as matrizes biológicas e as técnicas usualmente empregadas nas análises toxicológicas de 
urgência.
Identificar casos reais de intoxicação.
Introdução
(...) uma área da medicina que se fundamenta nos conhecimentos da Toxicologia para ajudar as pessoas
na manutenção da saúde quando expostas às substâncias químicas, e a obterem a cura, quando
estiverem doentes
(OGA; CAMARGO, 2014, p. 601)
Com o aumento crescente do uso de substâncias químicas na sociedade moderna, profissionais que se
dedicam à Toxicologia Clínica exercem papel fundamental para subsidiar a prevenção, o diagnóstico e o
tratamento das intoxicações. 
Por isso, neste conteúdo, compreenderemos a importância dessa disciplina e de seus conceitos que vão
nortear os procedimentos terapêuticos realizados na abordagem inicial do paciente intoxicado.
Apresentaremos as principais síndromes tóxicas que fomentam a estratégia do diagnóstico clínico dos
principais casos de intoxicação. Abordaremos também os fundamentos básicos das análises toxicológicas de
urgência, como as características dessas análises: O que procurar? Em qual amostra biológica? Usando qual
método ou técnica? Com que finalidade? 
Por fim, exemplificaremos casos reais de intoxicações, nos quais você exercitará o raciocínio clínico e
analítico, integrados na prática da assistência e da vigilância em saúde, com ênfase nas intoxicações agudas. 
Orientações sobre unidade de medida
Orientações sobre unidade de medida
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de
tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a
unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o
padrão internacional de separação dos números e das unidades.
• 
• 
• 
• 
1. Fundamentos da Toxicologia Clínica
Objetivos e finalidades da Toxicologia Clínica
Para começar a compreender a temática, citaremos uma definição contemporânea que considera que a
Toxicologia Clínica é: 
Mas o conceito que ela sugere precisa ser aprofundado para responder a algumas questões que veremos a
seguir.
Quais são os objetivos da Toxicologia Clínica?
Dentre eles podemos destacar: 
Prevenir exposições a substâncias químicas potencialmente tóxicas.
 
Identificar e avaliar quais os efeitos das substâncias químicas no organismo humano, e com isso
implementar o diagnóstico clínico.
 
Utilizar métodos seguros que possibilitem o tratamento e a cura do paciente intoxicado.
 
Produzir dados de interesse epidemiológico envolvendo intoxicações.
Quem exerce a Toxicologia Clínica?
O profissional com estudos nessa área que aplica e emprega seu conhecimento para cumprir os objetivos
propostos poderá, então, ser reconhecido como toxicologista clínico. Sabemos que, na prática, a Toxicologia
Clínica implica assumir muitas funções e atribuições. Por isso, necessita das contribuições dos demais
profissionais da saúde (enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos e médicos). Com esse entendimento,
surgiram no Brasil os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciat). Entenda o que são essas
unidades, de que forma elas se integram, sua composição e seu objetivo: 
• 
• 
• 
• 
Retrato de Paracelso (1493-1541).
Integração
Esses centros são integrados pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência
Toxicológica (Renaciat), criada em 2005 pela RDC nº 19, coordenada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).
Composição
Essa rede é composta por 36 Ciat, que funcionam em hospitais universitários, secretarias estaduais e
municipais de saúde e fundações de 19 unidades federadas.
Objetivo
Os Ciat têm como objetivo fornecer informações toxicológicas, assim como o diagnóstico, o
tratamento e o registro dos casos de intoxicação e envenenamento provocados por agrotóxicos,
medicamentos, cosméticos, domissanitários, produtos químicos industriais, metais, plantas tóxicas,
animais peçonhentos e quaisquer outras substâncias potencialmente agressivas para o ser humano.
Saiba mais
Os centros mantêm um serviço de plantão 24 horas para atender, por telefone e em serviços
hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), às demandas sobre intoxicações. Os serviços são
prestados em caráter de emergência e urgência aos profissionais de saúde que necessitam orientação
para o atendimento dos casos e à população em geral. O Disque-Intoxicação atende pelo número
0800-722-6001. A ligação é gratuita, e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Renaciat. A
ligação é transferida para o Ciat mais próximo da região de onde a chamada foi originada. Os 36 centros
estão preparados para receber ligações de longa distância, 24 horas por dia, sete dias por semana,
durante todo o ano. 
Quais substâncias são tóxicas?
Uma figura de grande importância na medicina, assim como
na história da ciência, Paracelso (1493-1541) desenvolveu
estudos, revolucionários na época, envolvendo a toxicologia
e a terapêutica. Vários de seus princípios permanecem
ainda com validade, principalmente seu postulado mais
conhecido: todas as substâncias são venenos, não há
nenhuma que não seja um veneno. A dose correta
diferencia o veneno do remédio. Ou seja, podemos afirmar,
categoricamente, que todas as substâncias, dependendo da
dose de exposição, são potencialmente tóxicas.
Mão na massa
Antes de nos aprofundarmos na abordagem clínica, é
importante revermos alguns termos muito importantes na área da Toxicologia. Vamos lá?
Questão 1
“Conjunto de sinais e sintomas que demonstra o desequilíbrio orgânico promovido pela ação de uma
substância química após a exposição.”
 
Essa definição corresponde a qual termo?
A
Veneno
B
Ação tóxica
C
Intoxicação
D
Toxicante
E
Toxicidade
A alternativa C está correta.
A intoxicação é revelada pelos sintomas apresentados pelo paciente ou ainda através do diagnóstico
laboratorial. As intoxicações podem ser classificadas, cronologicamente, em agudas e crônicas, de acordo
com o número e frequência da exposição do indivíduo ao agente tóxico. A intoxicação aguda ocorre quando
o indivíduo é exposto uma única vez ou várias vezes dentro de um período de 24 horas. Já a modalidade
crônica é resultado de exposições repetidas ao agente tóxico, por um período prolongado, de meses ou
anos. Além disso, podemos classificar as intoxicações em intencionais, acidentais e ocupacionais. Vejamos
alguns exemplos para fixarmos esses termos:
Intoxicação intencional: Um jovem, com histórico de depressão, ingere grande quantidade de
medicamentos psicotrópicos com o objetivo de cometer suicídio;
Intoxicação acidental: Uma criança, por descuido dos pais, acidentalmente ingere um saneante
domissanitário em sua residência;
Intoxicação ocupacional: Um trabalhador rural, deixa de utilizar os EPIs (equipamentos de proteção
individual), e acaba sendo exposto a agrotóxicos enquanto aplica este praguicida na lavoura.
• 
• 
• 
Questão 2
“Diz respeito a mistura de substâncias de origem biológica (animal ou vegetal) capaz de causar alterações
nocivas a órgãos ou sistemas de organismos vivos quando interage com eles.”nesses serviços procedem às análises em CCD, fornecendo respaldo analítico ao corpo clínico.
4. Casos reais de intoxicação
Intoxicação medicamentosa
Neste módulo, abordaremos casos reais de intoxicação exógena, nos quais você poderá exercitar o raciocínio
clínico e analítico, integrando e aplicando os conhecimentos adquiridos anteriormente à análise de casos
clínicos.
M.D.S., sexo feminino, 27 anos de idade, com transtorno
depressivo grave sem tratamento, deu entrada no pronto-
socorro com história de tentativa de suicídio por ingestão
de medicamentos.
Acompanhe de que maneira foram conduzidas as etapas
de: anamnese, conduta inicial e evolução.
Anamnese
Foi encontrada pela família sozinha em casa, deitada na cama, pouco responsiva e com diversas
embalagens do medicamento Gardenal® localizadas sobre o colchão (provável quantidade de ingesta:
80 comprimidos de fenobarbital – 6,0g). O comunicante, pai da paciente, não soube relatar o tempo
decorrido entre a ingesta e o atendimento.
Na admissão, apresentava: mau estado geral (MEG), corada, hidratada, dispneica (com dificuldade de
respirar), com cianose labial; exame neurológico: hipotonia generalizada (tônus muscular
enfraquecido), não respondia a estímulos verbais, pupilas mióticas. Ausência de lesões na pele.
Hipotensão grave: pressão arterial = 50/00mmHg.
Conduta inicial
Ventilação invasiva em virtude de depressão respiratória.
Revivan® (dopamina) para tratamento de choque circulatório e controle do quadro
hemodinâmico.
Lavagem gástrica copiosa, carvão ativado e alcalinização urinária.
Encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Monitorização cardíaca e de pressão arterial; oximetria contínua.
Triagem por CCD em urina e dosagem do fenobarbital sérico.
• 
• 
• 
• 
• 
• 
Evolução
Resultado do fenobarbital sérico: 107µg/mL. O valor de referência terapêutico desse fármaco é
de 15 a 40µg/mL. Logo, foi indicada hemodiálise, que foi realizada durante quatro horas.
Paciente aparentemente consciente, abre os olhos quando solicitado. Novo resultado do
fenobarbital sérico: 11µg/mL.
Melhora do nível de consciência após a diálise; extubada e suspenso CA seriado e
alcalinização urinária.
Diagnóstico psiquiátrico: transtorno bipolar II, tratado com carbonato de lítio.
Comentário
Diante das informações coletadas durante a anamnese e a apresentação clínica da paciente,
caracterizada pela tríade sintomática miose, depressão neurológica e respiratória (síndrome hipnótico-
sedativa), a intoxicação por fenobarbital foi confirmada pelo teste de triagem CCD e pela dosagem
sérica Clae. 
Teste de triagem CCD
Placa cromatográfica após a revelação com
reagente cromogênico Zwicker, em pesquisa
direcionada para detecção de fenobarbital.
Você deve estar se perguntando o que é a síndrome hipnótico-sedativa. 
A síndrome hipnótico-sedativa é comum em casos de intoxicação envolvendo fármacos depressores
do SNC (morfina, benzodiazepínicos, etanol, entre outros). Frequentemente, faz-se necessário, além
• 
• 
• 
• 
de anamnese mais detalhada, empregar análises toxicológicas e antídotos, quando disponíveis, para
a confirmação inequívoca do agente tóxico envolvido.
Características toxicocinéticas e toxicodinâmicas do fenobarbital:
 
É um fármaco depressor não seletivo do SNC, agonista do GABA (ácido gama-aminobutírico),
hipnótico-sedativo, com propriedades anticonvulsivantes. Portanto, a síndrome detectada pelo corpo
clínico foi compatível com o mecanismo de ação do agente causal.
 
O fenobarbital é bem absorvido pela via digestiva, apresentando recirculação êntero-hepática e
diminuição da motilidade do trato gastrintestinal (retardando o tempo de esvaziamento gástrico). Por
isso, durante o tratamento, foi usado CA em múltiplas doses.
 
É parcialmente biotransformado no fígado e, portanto, excretado nas formas biotransformada e
inalterada pela via urinária. A porção excretada inalterada na urina pode atingir, em casos de
sobredose, até 50% do total ingerido. Por se tratar de fármaco de caráter ácido e com excreção
inalterada importante, foi realizada a técnica de alcalinização urinária, com o objetivo de diminuir a
reabsorção tubular renal e favorecer a eliminação do fármaco.
 
O fenobarbital apresenta baixo grau de ligação proteica durante o processo cinético de distribuição.
Por isso, foi realizada a hemodiálise, com o intuito de acelerar a eliminação do toxicante.
Intoxicação por praguicida
S.F.R., sexo feminino, 65 anos de idade, foi
trazida ao Hospital Universitário (HU) de
Londrina pelo Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu), transferida do Hospital Zona
Sul, entubada em razão de baixa pO₂ e
rebaixamento do nível de consciência, com
história de crise convulsiva medicada com
diazepam. A família da paciente relatou ter
encontrado um frasco vazio de veneno de rato
granulado escuro na residência. A lavagem
gástrica foi realizada ainda no Hospital Zona
Sul.
Acompanhe de que maneira foram conduzidas
as etapas de: anamnese, conduta inicial e evolução.
• 
• 
• 
• 
Anamnese
A paciente residia sozinha em seu apartamento, recentemente havia se separado do marido e,
segundo informações dos familiares, não tinha histórico depressivo e apresentava antecedente
hipertensivo. Ao ser admitida no HU, apresentava rebaixamento do nível de consciência, hipotermia
(32°C/33,4°C), sialorreia (hipersecreção salivar), pupilas puntiformes (miose), liberação esfincteriana,
lacrimejamento excessivo e hipersecreção brônquica. Além disso, estava hipotensa e com bradicardia.
Conduta inicial
Ventilação invasiva em virtude de depressão respiratória.
Administrada uma dose de carvão ativado.
Encaminhada à UTI para monitorização e tratamento de suporte.
Hipótese diagnóstica: AVC ou intoxicação por inibidor de colinesterase.
Tomografia computadorizada (TC) de crânio para elucidação de hipótese diagnóstica de AVC.
Triagem por CCD no conteúdo estomacal e dosagem plasmática de colinesterase para
diagnóstico diferencial.
• 
• 
• 
• 
• 
• 
Evolução
Resultado da colinesterase plasmática: 902U/L. O valor de referência para esse parâmetro
bioquímico é 7.000U/L a 19.000U/L. Portanto, foi descartada a hipótese de AVC e confirmada a
intoxicação por agente anticolinesterásico, sendo realizada a administração de atropina.
Melhora do nível de consciência e reversão dos sintomas colinérgicos após a administração de
atropina; extubada e com melhora do quadro hemodinâmico.
Monitoramento por seis dias na UTI até que os valores de colinesterase voltassem à
normalidade; último resultado da colinesterase plasmática: 7.690U/L.
Observação por sete dias em enfermaria até alta hospitalar e encaminhamento para serviço
psiquiátrico.
Triagem por CCD
Placa cromatográfica após a revelação com
reagente cromogênico Zwicker, em pesquisa
direcionada para detecção de fenobarbital.
Comentário
A paciente, segundo informações dos acompanhantes, teria ingerido um frasco de “chumbinho”, veneno
granulado e de coloração cinza, compatível, pela descrição, com o aldicarb (inseticida, comercializado
ilegalmente como raticida, pertencente à classe dos carbamatos – inibidores da colinesterase). O fato foi
confirmado pelo quadro clínico que a paciente apresentou (síndrome colinérgica) e pelas técnicas
analíticas: CCD em urina e quimioluminescência no plasma. 
Características toxicocinéticas e toxicodinâmicas do aldicarb:
 
É um inseticida que inibe reversivelmente a enzima acetilcolinesterase. Essa enzima exerce papel
importante, em nível da fenda sináptica dos neurônios do sistema nervoso periférico e central,
hidrolisando o neurotransmissor acetilcolina. Quando a acetilcolinesterase é inibida pelo aldicarb,
ocorre um acúmulo de acetilcolina nos receptores colinérgicos, resultando em hiperestimulação desses
• 
• 
• 
• 
• 
neurônios. Logo, a síndrome identificada pelo corpo médico foi compatível com o mecanismo de ação
do xenobiótico.
 
O aldicarb é bem absorvido pelo trato digestivo, não apresenta recirculação êntero-hepática, é
biotransformado principalmenteem nível hepático e excretado pela via urinária e fecal. Por isso,
durante o tratamento, foi usado CA em dose única.
 
Além do tratamento sintomático e de suporte, foi utilizado o antídoto atropina. Esse fármaco atua como
antagonista competitivo dos receptores colinérgicos localizados no SNC e no sistema nervoso
periférico (SNP), impedindo a interação da acetilcolina (em excesso na fenda sináptica) com esses
receptores e neutralizando os efeitos exacerbados nos neurônios colinérgicos.
A rapidez do diagnóstico clínico-laboratorial, associada ao emprego do antídoto, foi essencial para a
estabilização da paciente até que ocorresse o restabelecimento da atividade colinesterásica. Esses fatores
foram cruciais para a boa evolução clínica da paciente, que foi encaminhada para o serviço de assistência
psiquiátrica do SUS, após receber alta hospitalar.
Intoxicação por domissanitário
Y.S.S., sexo masculino, 2 anos de idade, foi trazido ao
pronto-socorro do Hospital Universitário (HU) de Londrina
pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu)
com história de exposição acidental à soda cáustica líquida.
Acompanhe de que maneira foram conduzidas as etapas
de: anamnese, conduta inicial e evolução.
• 
• 
Anamnese
O paciente residia com os avós em área rural. Segundo informações dos familiares, a criança ingeriu
soda cáustica que estava em uma garrafa plástica de refrigerante, enquanto a avó preparava sabão
caseiro. Ao ser admitido no HU, apresentava sinais vitais estáveis, sialorreia (hipersecreção salivar),
vômito, queimadura grave e dolorosa com necrose tecidual na região oral, face, pescoço e tórax.
Conduta inicial
Remoção das vestes e descontaminação local.
Administração de analgésicos, corticoides e antibiótico como tratamento sintomático e de
suporte.
Correção de distúrbios hidroeletrolíticos.
Manutenção de jejum.
Endoscopia digestiva alta para avaliar possível lesão esofágica em até 24 horas pós exposição.
Evolução
A endoscopia digestiva alta revelou lesões por queimadura química na laringe, na epiglote, nas
cordas vocais e no esôfago.
Alcalose metabólica corrigida com eletrólitos.
Episódios de vômito controlados com antieméticos.
Observação por 20 dias em enfermaria até encaminhamento para serviço especializado de
gastroenterologia, no qual foi realizada nova endoscopia e constatada estenose esofágica, a
sequela mais comum em pacientes que ingerem álcalis concentrados.
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
Queimadura grave
Lesões cáusticas causadas pela ingestão
acidental de soda cáustica.
Comentário
O hidróxido de sódio é um cáustico de caráter alcalino que, em contato com as mucosas digestivas,
causa saponificação dos lipídios e solubilização das proteínas, favorecendo o aprofundamento das
lesões. 
Como a exposição foi por via oral (ingesta), durante o tratamento foram contraindicados:
 
Diluição, pois poderia distender o estômago e aumentar a superfície de contato com o xenobiótico.
 
Vômito, pela possibilidade de reexposição do trato digestivo ao cáustico.
 
Lavagem gástrica e remoção do conteúdo estomacal com sonda nasogástrica, pelo risco de perfuração
do trato digestivo.
 
Neutralização do álcali, pois poderia proporcionar reação exotérmica (liberação de calor) e maior dano
à mucosa.
O histórico e as lesões características por necrose de liquefação provocadas por soda cáustica (hidróxido de
sódio), auxiliaram a equipe médica a estabelecer o diagnóstico e a instituir o tratamento adequado do
paciente, já que não há exame específico para diagnóstico laboratorial. Casos de intoxicação por cáusticos
envolvem um atendimento clínico que visa basicamente a tratar os sintomas e a dar suporte a possíveis
complicações.
Acidente ofídico
• 
• 
• 
• 
R.S.R., sexo masculino, 56 anos de idade, foi trazido ao
pronto-socorro do Hospital Universitário (HU) de Londrina
pela esposa com história de acidente ofídico por serpente
jararaca (Bothrops).
Acompanhe de que maneira foram conduzidas as etapas
de: anamnese, conduta inicial e evolução.
Anamnese
O paciente relatou que, enquanto trabalhava em área rural, sentiu uma “ferroada” na mão esquerda e
em seguida avistou uma jararaca próximo à lavoura. Além disso, relatou que sabia reconhecer
serpentes peçonhentas. Foi levado imediatamente à unidade básica de saúde de sua região e
encaminhado ao HU de Londrina para avaliação. O tempo decorrido entre o acidente ofídico e o
atendimento foi de aproximadamente duas horas. Ao ser admitido, apresentava sinais vitais estáveis,
náusea e intensa dor no local da picada (dedo médio).
Conduta inicial
Limpeza do local com água e sabão.
Tratamento sintomático para dor e vômitos.
Profilaxia do tétano.
Realização de exames bioquímicos que avaliam a coagulação para diagnóstico de acidente
ofídico por jararaca.
Avaliação das características da lesão após duas horas do acidente: pequeno ponto
equimótico e leve edema.
Evolução
O resultado do coagulograma demonstrou retardo do tempo de coagulação (TC: 20min; valor
de referência TC: 10min).
Após 24 horas, a lesão evoluiu com edema, equimose com coloração cinza-escuro e
sangramento espontâneo.
Diante dos fatores relatados, foi iniciada soroterapia (antiveneno) direcionado para serpentes
do gênero Bothrops.
Após 24 horas da administração do soro antibotrópico, houve melhora significativa da lesão e
normalização dos parâmetros de coagulação sanguínea; o paciente recebeu alta hospitalar
quatro dias após a melhora clínica.
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
Lesão
Evolução da lesão causada por picada de
serpente do gênero Bothrops.
Comentário
O acidente botrópico, causado pelas serpentes do gênero Bothrops, é responsável por cerca de 90% dos
casos de envenenamento envolvendo cobras peçonhentas no Brasil. O veneno das serpentes desse
gênero é composto por um conjunto de toxinas que apresentam ação proteolítica, coagulante e
hemorrágica. Os distúrbios hemorrágicos ocorrem pela ativação e pelo consumo dos fatores de
coagulação e, simultaneamente, por ação lesiva das toxinas sobre o endotélio dos vasos sanguíneos. A
combinação desses mecanismos resulta em incoagubilidade e sangramentos ativos. O efeito proteolítico
ocorre pela ação tóxica direta do veneno sobre o tecido local, em que é inoculado o veneno. A
insuficiência renal aguda, principal complicação sistêmica, ocorre pela ação nefrotóxica direta do veneno
e pela formação de microtrombos nos capilares renais. O histórico, as características da lesão e as
alterações laboratoriais corroboraram o diagnóstico de acidente botrópico. O soro antibotrópico,
administrado por via intravenosa, é composto por anticorpos que agem neutralizando o veneno em
circulação. O resultado do tratamento com a aplicação das doses recomendadas desse soro é mais
eficiente quanto mais precocemente essas doses forem administradas. 
No caso de acidente causado por jararacas jovens, pode não haver presença de edema. Isso porque, nessa
fase de desenvolvimento, o veneno desses espécimes apresenta predominantemente ação hemorrágica.
Outro fator que deve ser considerado é se a cobra ingeriu alimentos em um período próximo ao incidente.
Quando alimentadas recentemente, as jararacas inoculam uma quantidade inferior de veneno, gerando, assim,
efeitos hemorrágicos e proteolíticos mais brandos.
Quiz – Casos reais de intoxicações
Neste vídeo, o especialista responderá à questões baseadas em casos clínicos de intoxicações que serão
apresentadas na forma de quiz.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Intoxicação por domissanitários
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Acidentes ofídicos
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Sobre o relato de caso de intoxicação por fenobarbital, considere as seguintes alternativas e assinale a
correta.
A
Se levarmos em contasomente o quadro clínico (tríade sintomática): miose, depressão respiratória e
depressão neurológica, esses sintomas também poderiam caracterizar uma intoxicação por opioides.
B
A manobra de alcalinizar a urina pode ser realizada para fármacos tanto de caráter ácido quanto de caráter
alcalino.
C
O carvão ativado foi utilizado em múltiplas doses, pois não se sabia o tempo decorrido entre a exposição e o
atendimento.
D
A cromatografia em camada delgada foi realizada a partir da urina, pois o fenobarbital é extensivamente
metabolizado e excretado na forma de metabólitos.
E
A hemodiálise poderia ter sido substituída por hemoperfusão, pois ambas têm o mesmo princípio e poderiam
ser benéficas ao paciente.
A alternativa A está correta.
A anamnese e exames laboratoriais nem sempre estão disponíveis no serviço médico de emergência.
Nesse contexto, o quadro clínico é o grande norteador do diagnóstico de uma intoxicação aguda. Os
opioides, assim como os barbitúricos, são substâncias depressoras do SNC. Diferem-se pelo mecanismo de
ação, porém apresentam sintomas similares. O diagnóstico diferencial poderia ser realizado por meio das
análises toxicológicas e também pela administração do antídoto dos opioides (naloxona), que reverte seus
efeitos depressores.
Questão 2
Em relação à exposição digestiva acidental de crianças aos cáusticos de caráter alcalino, assinale a alternativa
correta.
A
O diagnóstico laboratorial pode ser realizado a partir de exames bioquímicos que apontem alcalose
metabólica.
B
O antídoto mais utilizado em casos de ingestão de álcalis é o ácido acético, que neutraliza o xenobiótico.
C
Cáusticos alcalinos provocam necrose de coagulação em virtude da desnaturação das proteínas.
D
Em casos de intoxicação por ingestão de soda cáustica líquida, devemos induzir o vômito e administrar carvão
ativado para reduzir a absorção do álcali.
E
Não há um exame toxicológico ou bioquímico específico para o diagnóstico laboratorial de intoxicação por
álcalis, portanto o diagnóstico é baseado nos sintomas e no histórico coletado na anamnese.
A alternativa E está correta.
Boa parte dos agentes tóxicos não apresenta provas diagnósticas laboratoriais específicas, como é o caso
de cáusticos alcalinos. O diagnóstico é realizado pelas características específicas das lesões por necrose
de liquefação: profundas, úmidas e de difícil cicatrização.
5. Conclusão
Considerações finais
Como vimos, a Toxicologia Clínica pode ser definida como um conjunto de conhecimentos aplicáveis à
resolução de problemas toxicológicos que permeiam as intoxicações agudas. Portanto, é considerada uma
das áreas da Toxicologia, intimamente relacionada com a Química Analítica, a Farmacologia, a Patologia, entre
outras, servindo essencialmente ao diagnóstico, ao tratamento, à prevenção e à vigilância epidemiológica/
toxicológica das intoxicações agudas. 
Também analisamos a importância da integração entre o clínico e o analista, que é indispensável para a
obtenção de resultados apropriados, permitindo direcionar a análise e despender o menor tempo possível
para o desfecho da contribuição laboratorial, indicando, confirmando, estabelecendo ou excluindo a suspeita
de intoxicação. Para que o diagnóstico laboratorial seja efetivo e colabore para a condução do caso, algumas
informações são importantes para a seleção das matrizes biológicas, a definição do tipo de análise a ser
realizada e a interpretação dos resultados obtidos. 
À medida que o conhecimento dos agentes tóxicos, de suas características de toxicidade, dos mecanismos de
ação e do quadro clínico que produzem passa a ser de domínio dos profissionais de saúde, a hipótese
diagnóstica da intoxicação pode ser incluída na avaliação dos pacientes. Da mesma forma, o reconhecimento
do agravo e o desenho de seu perfil epidemiológico facilitam o desenvolvimento das políticas de saúde
necessárias para prevenir, tratar e controlar as intoxicações agudas. 
Agradecimento: Ao Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Londrina e a toda a sua
equipe, por cederem as informações e imagens dos casos relatados neste material. Sem as informações e
imagens cedidas pelo Ciatox, não seria possível trazer casos reais para você, aluno. 
Podcast
O podcast contribuirá com um resumo dos principais pontos abordados no conteúdo estudado.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para ouvir o áudio.
Explore +
Pesquise e assista ao vídeo sobre envenenamentos causados por animais peçonhentos e encontre textos que
abordem diagnóstico, tratamento e prevenção dos acidentes envolvendo esses animais no Portal do Ministério
da Saúde.
 
Pesquise a página da web do Sinitox, no Portal da Fiocruz, e veja os dados epidemiológicos relacionados com
as intoxicações que ocorreram no território nacional. Além disso, nesse site é possível buscar produções
científicas relacionadas com o tema.
 
Pesquise e assista ao vídeo WebPalestra: intoxicações agudas na APS – o que fazer? e reveja alguns conceitos
relacionados com a abordagem inicial do paciente intoxicado. A webpalestra foi realizada pela Telessaúde ES
(Espírito Santo), que integra o Projeto Nacional Telessaúde Brasil Redes (Portaria nº 2.546/2011), e está
disponível no canal Telessaúde ES no YouTube.
Referências
ALBUQUERQUE, P. L. M. M. Intoxicações agudas: guia prático para o tratamento. 1. ed. Fortaleza: Soneto,
2017.
 
ANDRADE FILHO, A. de; CAMPOLINA, D.; DIAS, M. B. Toxicologia na prática clínica. 2. ed. Belo Horizonte:
Folium, 2017.
 
CARVALHO, V. M.; ROCHA, E. D. Toxicologia analítica: da triagem à confirmação. In: PEIXE, T. S.; RIBEIRO
NETO, L. M.; GRAFF, S.; SANTOS, C. E. M. Toxicologia: tópicos aplicados. Curitiba: Brazil Publishing, 2020. p.
303-347.
 
FLANAGAN, R. J. Developing an analytical toxicology service: principles and guidance. Toxicological Reviews,
v. 23, n. 4, p. 251-263, 2004. Consultado na internet em: 21 out. 2021.
 
GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As bases farmacológicas da terapêutica. 11. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill,
2010.
 
ITHO, S. F. Rotina no atendimento ao paciente intoxicado. 3. ed. Vitória: Bibliufes, 2007.
 
MOREAU, R. L. de M.; SIQUEIRA, M. E. P. B. de. Toxicologia analítica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008.
 
OGA, S.; CAMARGO, M. M. de A.; BATISTUZZO, J. A. de O. (Org.). Fundamentos de toxicologia. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2014.
 
SANTOS, A.; MAIA, F.; COUTINHO, M.; RODRIGUES, A. L. Aspectos gerais da intoxicação por paraquat em
animais domésticos. Revista Lusófona de Ciência e Medicina Veterinária, Lisboa, v. 5, p. 43-55, 2012.
Consultado na internet em: 21 out. 2021.
 
ZAMBOLIM, C. M.; OLIVEIRA, T. P.; HOFFMANN, A. N.; VILELA, C. E. B.; NEVES, D.; ANJOS, F. R. et al. Perfil das
intoxicações exógenas em um hospital universitário. Revista de Medicina de Minas Gerais, Belo Horizonte, v.
18, p. 5-10, 2008. Consultado na internet em: 21 out. 2021.
 
ZEEUW, R. A.; DEGEL, F.; CHUTZ, H. Thin-layer chromatographic Rf values of toxicologically relevant
substances on standardized systems. 2. ed. Weinheim: Verlagsgemeinschaft-VCH, 1992.
	Toxicologia Clínica
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Objetivos
	Introdução
	1. Fundamentos da Toxicologia Clínica
	Objetivos e finalidades da Toxicologia Clínica
	Quais são os objetivos da Toxicologia Clínica?
	Quem exerce a Toxicologia Clínica?
	Integração
	Composição
	Objetivo
	Saiba mais
	Quais substâncias são tóxicas?
	Mão na massa
	Conceitos relacionados à Toxicologia Clínica
	Fases da intoxicação
	Fase de exposição
	Fase toxicocinética
	Fase toxicodinâmica
	Fase clínica
	Exemplo
	Prevenção e vigilância das intoxicações
	Saiba mais
	Primeiro
	Segundo
	Terceiro
	Conceitos e aplicações da Toxicologia Clínica – verdadeiro ou falso
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Objetivos e finalidades da Toxicologia Clínica
	Conteúdo interativo
	Prevenção e vigilância das intoxicações
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	2. Intoxicação: sintomas e principais tratamentos
	Abordagem emergencial do pacienteintoxicado
	Quando devemos suspeitar de intoxicação?
	Espontaneidade
	Consumo
	Sintomas não usuais
	Coletividade
	Avaliação clínica pré-hospitalar
	Passo 1
	Passo 2
	Passo 3
	Avaliação clínica hospitalar
	Anamnese (histórico da exposição)
	Atenção
	O paciente
	O agente tóxico suspeito
	O tempo decorrido entre a exposição ao toxicante e os primeiros sintomas
	O local
	O motivo
	Exame clínico
	Síndrome anticolinérgica
	Síndrome colinérgica
	Síndrome sedativo-hipnótica
	Síndrome narcótica
	Síndrome adrenérgica
	Síndrome extrapiramidal
	Síndrome serotoninérgica
	Saiba mais
	Exames complementares
	Exemplo
	Tratamento
	Descontaminação
	Lavagem gástrica (LG)
	Carvão ativado (CA)
	Atenção
	Técnicas de depuração de agentes tóxicos
	Indicação
	Metótodos mais empregados
	Diurese forçada
	Manipulação do pH urinário
	Relembrando
	Eliminação extracorpórea de agentes tóxicos
	Hemodiálise
	Hemoperfusão
	Avaliação e abordagem clínica do paciente intoxicado
	Conteúdo interativo
	Antídotos
	Vem que eu te explico!
	Anamnese (histórico da exposição)
	Conteúdo interativo
	Exame clínico
	Conteúdo interativo
	Descontaminação
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	3. Análises toxicológicas e urgência: matrizes biológicas e técnicas
	A importância do laboratório de análises toxicológicas
	Fase de diagnóstico
	Fase de tratamento
	Fase de prognóstico
	Matrizes biológicas
	Sangue
	Comentário
	Urina
	Atenção
	Conteúdo estomacal
	Recomendação
	Matrizes não convencionais
	Cabelo
	Saliva
	Ar exalado
	Técnicas analíticas
	Análises de triagem
	Análises confirmatórias
	Química de via úmida
	Possibilidade de interpretações distintas
	Probabilidade de resultados falso-positivos
	Imunoensaios
	Saiba mais
	Cromatografia em camada delgada
	Fase estacionária
	Fase móvel
	Primeiro
	Segundo
	Técnicas de confirmação
	Cromatografia em fase gasosa (CG)
	Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
	Saiba mais
	Técnicas analíticas aplicadas à Toxicologia Clínica
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Importância do laboratório de análises toxicológicas
	Conteúdo interativo
	Sangue e urina
	Conteúdo interativo
	Técnicas analíticas
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	4. Casos reais de intoxicação
	Intoxicação medicamentosa
	Anamnese
	Conduta inicial
	Evolução
	Comentário
	Teste de triagem CCD
	Intoxicação por praguicida
	Anamnese
	Conduta inicial
	Evolução
	Triagem por CCD
	Comentário
	Intoxicação por domissanitário
	Anamnese
	Conduta inicial
	Evolução
	Queimadura grave
	Comentário
	Acidente ofídico
	Anamnese
	Conduta inicial
	Evolução
	Lesão
	Comentário
	Quiz – Casos reais de intoxicações
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Intoxicação por domissanitários
	Conteúdo interativo
	Acidentes ofídicos
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	5. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
	Conteúdo interativo
	Explore +
	ReferênciasEssa definição corresponde a qual termo?
A
Toxicante
B
Ação tóxica 
C
Veneno 
D
Toxicidade
E
Intoxicação 
A alternativa C está correta.
Denominamos toxina o componente bioativo que
pode ser isolado a partir de uma secreção tóxica
(veneno), apresentando atividade biológica capaz de alterar mecanismos fisiológicos. Quando a Toxicologia
Clínica trata pacientes que sofreram exposição a venenos, é utilizado o termo envenenamento. 
Questão 3
“Contato do indivíduo com um agente tóxico, por qualquer via de introdução, interna ou externa, que possa
ocasionar ou não uma intoxicação.”
Essa definição corresponde a qual termo? 
A
Veneno 
B
Ação tóxica 
C
Intoxicação
D
Toxicidade 
E
Exposição 
A alternativa E está correta.
Podemos considerar exposição todo e qualquer contato que o indivíduo venha a ter com o agente tóxico
seja por via interna ou externa ainda que não leve a um quadro de intoxicação. 
Questão 4
“É a capacidade de uma substância de produzir danos aos organismos vivos que sofreram a exposição.”
 
Essa definição corresponde a qual termo?
A
Veneno
B
Intoxicação
C
Ação tóxica
D
Toxicidade 
E
Toxicante 
A alternativa D está correta.
A toxicidade de uma substância é a característica de ser nociva ao organismo que é exposto a ela. Note
que a toxicidade diz respeito apenas ao fato ser nociva, mas o quanto varia de uma substância para a
outra. 
Questão 5
“É a maneira pela qual o agente tóxico provoca os efeitos nocivos ao organismo.”
 
Essa definição corresponde a qual termo? 
A
Veneno 
B
Ação tóxica 
C
Intoxicação 
D
Toxicante 
E
Toxicidade 
A alternativa B está correta.
A ação tóxica está relacionada com a toxicocinética e dinâmica do agente tóxico. São os mecanismos da
substância que levam ao efeito tóxico que ela produz.
Questão 6
“Conjunto de sinais e sintomas que demonstra o desequilíbrio orgânico promovido pela ação de uma
substância química após a exposição.” 
 
Essa definição corresponde a qual termo? 
A
Veneno
B
Ação tóxica 
C
Intoxicação 
D
Toxicante
E
Toxicidade
A alternativa C está correta.
A intoxicação é revelada pelos sintomas apresentados pelo paciente ou ainda através do diagnóstico
laboratorial. As intoxicações podem ser classificadas, cronologicamente, em agudas e crônicas, de acordo
com o número e frequência da exposição do indivíduo ao agente tóxico. A intoxicação aguda ocorre quando
o indivíduo é exposto uma única vez ou várias vezes dentro de um período de 24 horas. Já a modalidade
crônica é resultado de exposições repetidas ao agente tóxico, por um período prolongado, de meses ou
anos. Além disso, podemos classificar as intoxicações em intencionais, acidentais e ocupacionais. Vejamos
alguns exemplos para fixarmos esses termos:
Intoxicação intencional: Um jovem, com histórico de depressão, ingere grande quantidade de
medicamentos psicotrópicos com o objetivo de cometer suicídio;
Intoxicação acidental: Uma criança, por descuido dos pais, acidentalmente ingere um saneante
domissanitário em sua residência; 
Intoxicação ocupacional: Um trabalhador rural, deixa de utilizar os EPIs (equipamentos de proteção
individual), e acaba sendo exposto a agrotóxicos enquanto aplica este praguicida na lavoura. 
Conceitos relacionados à Toxicologia Clínica
Outros dois conceitos importantes que precisamos relembrar são os conceitos de fármaco e droga. 
Veja a seguir!
• 
• 
• 
Estamos acostumados a utilizar o termo droga para nos referirmos a drogas de abuso, mas o conceito
acadêmico é diferente. Para entendermos melhor a diferença entre fármaco e droga tomamos como exemplo a
seguinte comparação: a Cannabis sativa (maconha) por definição seria uma droga enquanto o seu principal
constituinte, o Δ-9- tetraidrocanabinol, um fármaco. 
Fases da intoxicação
Didaticamente, para entendermos mais a fundo os fatores que influenciam o processo patológico da
intoxicação, podemos dividi-la em quatro fases:
Fase de exposição
Nessa fase, ocorre efetivamente o contato do indivíduo com o toxicante. Devemos considerar a via de
introdução (oral, cutânea, pulmonar), as propriedades físico-químicas e a dose ou a concentração do
agente tóxico, a frequência e a duração dessa exposição e a sensibilidade de cada indivíduo a
determinada substância química. Todos esses fatores determinam a quantidade do xenobiótico que
estará disponível para absorção.
Fase toxicocinética
Essa etapa envolve os processos de absorção, distribuição, armazenamento, biotransformação e
excreção das substâncias químicas. Devemos levar em conta, especialmente, as propriedades físico-
químicas dos agentes tóxicos que vão determinar o grau de acesso aos órgãos-alvo, bem como a
velocidade com que serão eliminados do organismo. Esses fatores condicionam a biodisponibilidade
dos xenobióticos, ou seja, como essa substância se movimenta no organismo.
Fase toxicodinâmica
É a fase em que ocorre a interação, em nível molecular, entre o agente tóxico e os sítios de ação,
específicos ou não, dos órgãos, causando um desequilíbrio fisiológico e o aparecimento de sinais
clínicos e sintomas.
Fase clínica
Nessa fase, ocorre o aparecimento das manifestações clínicas resultantes dos efeitos nocivos
provocados pela interação do agente tóxico com o organismo. Ou seja, é a fase em que surgem os
sintomas, ou ainda alterações patológicas, que são detectadas mediante provas diagnósticas
(exames laboratoriais). Nesse contexto, o efeito tóxico pode ser local (é produzido onde ocorre o
primeiro contato entre o agente tóxico e o organismo) ou sistêmico (é produzido em local distante do
sítio de penetração do toxicante).
Como exemplo de efeito tóxico local e sistêmico, podemos citar o gás sulfídrico.
Fármaco 
Toda substância de estrutura química
definida, capaz de modificar o sistema
fisiológico ou estado patológico, sempre em
benefício ao organismo receptor.
Droga 
Toda substância capaz de modificar o
sistema fisiológico ou estado
patológico, utilizada com ou sem a
intenção de benefício do organismo
receptor.
Exemplo
Também conhecido como sulfeto de hidrogênio, usualmente encontrado nas indústrias petrolíferas.
Trata-se de um gás incolor, inflamável e de odor desagradável, que causa irritação na pele, nos olhos e
nas mucosas do trato respiratório superior (efeito local) e que, após ser absorvido nos pulmões e
distribuído, provoca depressão do sistema nervoso central (efeito sistêmico): sonolência, fadiga,
desmaio e até morte. 
Prevenção e vigilância das intoxicações
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as intoxicações, acidentais, ocupacionais ou intencionais,
são importantes causas de agravos à saúde. Estima-se que 1,5% a 3% da população intoxicam-se todos os
anos. Para o Brasil, isso representa, aproximadamente, 4.800.000 casos novos a cada ano, dos quais 0,1% a
0,4% das intoxicações resulta em óbito (ZAMBOLIM et al., 2008). 
O Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas
(Sinitox) compila as informações dos 36 Ciat, constituindo-
se na principal fonte de dados sobre as intoxicações em
território nacional. A partir dessas informações, a
toxicovigilância recomenda e adota as medidas de
prevenção e controle, além de contribuir para o
planejamento, a organização e a operacionalização dos
serviços destinados à atenção à saúde da população
relacionada com as exposições às substâncias químicas.
Diminuir o acesso a substâncias tóxicas é uma medida que
tem se mostrado eficiente para reduzir o número de
intoxicações e de mortes.
Saiba mais
O Ato no 54, de 9 de outubro de 2012, do Ministério da Agricultura e Abastecimento, cancelou o registro
do produto Temik 150, único produto disponível no país contendo aldicarb, principal componente do
chumbinho, raticida ilegal, responsável por inúmeros casos de intoxicação. 
No Brasil, as principais substâncias envolvidas em casos de intoxicação exógena são os medicamentos. Vários
fatores favorecem as intoxicações medicamentosas:
 
Dificuldade no entendimento da receita ou da posologia prescrita.
 
Prescriçãoindiscriminada (especialmente de ansiolíticos e antidepressivos).
• 
• 
 
Automedicação.
 
Armazenamento inadequado nos domicílios, o que facilita o acesso de crianças e pessoas com
desequilíbrio emocional.
 
A falsa ideia de que medicamentos fitoterápicos e homeopáticos são inofensivos e não apresentam
contraindicações.
Com o objetivo de controlar a disponibilidade dos medicamentos, tanto para o público infantil quanto para o
público adulto, podemos utilizar estratégias de prevenção, como embalagem de segurança para proteção das
crianças e venda de medicamentos fracionados, ou seja, em menor quantidade (RDC no 80, de 11 de maio de
2006), para evitar a manutenção de estoque de medicamentos na residência, a chamada “farmacinha de
casa”. Além disso, como profissionais da área da saúde, cumprimos papel importante, abordando temas que
deveriam ser mais debatidos na sociedade, como:
Primeiro
Prescrição racional e orientação aos pacientes e familiares em relação aos riscos de intoxicação e
efeitos adversos, especialmente dos psicotrópicos.
Segundo
Assistência farmacêutica presente e adequada nos programas e nas Estratégias de Saúde na Família
(ESF).
Terceiro
Orientação à população quanto ao descarte dos medicamentos, vencidos ou não usados, com base
na Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em agosto de 2010.
A frequência das exposições a substâncias
químicas está relacionada diretamente à
disponibilidade desses produtos no mercado.
Nesse cenário, notamos que, em nosso país, a
vigilância das intoxicações ainda se desenvolve
de modo mais lento, não acompanhando
proporcionalmente o crescimento das indústrias
químicas.
Para que a toxicovigilância seja efetiva, é
necessária uma integração das atuações
governamentais de controle, prevenção e
vigilâncias epidemiológica, sanitária e
ambiental. Além disso, as vigilâncias
necessitam dos sistemas de informação em saúde eficientes e alimentados pelos Ciat, para realizar suas
ações de detecção de agravos à saúde e à prevenção de danos.
• 
• 
• 
Por fim, profissionais inseridos no contexto da Toxicologia Clínica serão essenciais para subsidiar as
medidas de controle e as ações de promoção de saúde e bem-estar da população brasileira.
Conceitos e aplicações da Toxicologia Clínica – verdadeiro ou falso
Veja a seguir algumas questões sobre os fundamentos e as aplicações da Toxicologia Clínica que serão
apresentadas pelo especialista Rodrigo Dias no formato de falso ou verdadeiro:
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Objetivos e finalidades da Toxicologia Clínica
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Prevenção e vigilância das intoxicações
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Em relação às bases conceituais da Toxicologia Clínica, assinale a afirmativa correta.
A
A Toxicologia Clínica estuda os efeitos nocivos causados, exclusivamente, pela interação de substâncias
químicas contaminantes do meio ambiente (água, ar, solo) com o organismo humano.
B
A Toxicologia Clínica somente será desempenhada por médico clínico-geral em unidades de emergência de
hospitais credenciados pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat).
C
Os efeitos tóxicos provocados por substâncias químicas presentes no ambiente de trabalho com os indivíduos
a elas expostas é exclusivamente objeto de estudo da Toxicologia Clínica.
D
A Toxicologia Clínica tem como objetivo o diagnóstico, o tratamento e a prevenção das intoxicações. É
considerada uma área multidisciplinar, podendo ser exercida por diversos profissionais da área da saúde,
especialmente os que integram os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciat).
E
Os efeitos tóxicos provocados por medicamentos e cosméticos decorrentes de uso inadequado ou da
suscetibilidade individual é o principal objeto de estudo da Toxicologia Clínica.
A alternativa D está correta.
O atendimento do paciente exposto ao toxicante ou do intoxicado, para prevenir ou diagnosticar a
intoxicação e a aplicação de uma terapêutica específica, é de competência dos profissionais da área da
saúde que se dedicam à Toxicologia Clínica, em especial os integrantes dos Ciat.
Questão 2
Com base nos conhecimentos adquiridos sobre as fases da intoxicação, julgue os itens a seguir:
 
I – O desequilíbrio fisiológico provocado pela interação do toxicante com sítios, específicos ou não, dos
órgãos-alvo é observado na fase de exposição.
 
II – O diagnóstico clínico do paciente intoxicado ocorre simultaneamente a ou após o aparecimento de sinais
clínicos e sintomas, correspondendo à fase clínica da intoxicação.
 
III – A primeira fase da intoxicação se dá a partir da movimentação do xenobiótico no organismo do indivíduo
exposto.
 
IV – Alterações moleculares e bioquímicas nos sítios de ação do agente tóxico são resultantes da terceira fase
da intoxicação, a toxicodinâmica.
 
Estão corretos somente os itens:
A
I e IV.
B
I e II.
C
III e IV.
D
II e III.
E
II e IV.
A alternativa E está correta.
De maneira bem simplificada, podemos definir que a intoxicação é a manifestação dos efeitos tóxicos, ou
seja, um processo patológico desencadeado por substâncias químicas, geralmente exógenas, que, após
entrar em contato com o organismo (fase de exposição), deslocam-se até o sítio de ação (fase
toxicocinética), onde provocam um desequilíbrio fisiológico (fase toxicodinâmica). Esse processo é
evidenciado pelo aparecimento de sinais clínicos e sintomas, a última fase da intoxicação.
2. Intoxicação: sintomas e principais tratamentos
Abordagem emergencial do paciente intoxicado
Partindo da premissa que considera que:
Tratar o paciente, não o veneno, continua a ser o princípio básico e importante da Toxicologia Clínica 
(GOODMAN; GILMAN, 2010, p. 1746)
Podemos concluir que a equipe multiprofissional de saúde deve estar preparada para tratar de forma imediata
o paciente, e não o agente tóxico. Isso não quer dizer que esses profissionais não tenham que se informar
sobre o agente causador e sobre a existência de antídotos. Porém, se a busca do antídoto ocorre em primeiro
lugar, o quadro do paciente pode ser agravado.
Quando devemos suspeitar de intoxicação?
Alguns fatores indicam a ocorrência de intoxicação. Vejamos alguns deles a seguir.
Espontaneidade 
Aparecimento repentino de sintomas, sem motivo evidente, com história
incoerente, principalmente se existir histórico de intoxicação.
Consumo
Casos em que o paciente foi encontrado inconsciente ao lado de
embalagens e frascos de medicamentos ou produtos tóxicos.
Sintomas não usuais
Quando nos deparamos com casos em que o paciente apresenta
sintomas estranhos ou obscuros, como delírio, alucinação, depressão
neurológica, secura da boca ou hipersalivação, miose (constrição da
pupila) ou midríase (dilatação da pupila).
Coletividade
Nos casos em que os sinais clínicos e sintomas estejam presentes em
mais de uma pessoa (intoxicação coletiva).
Avaliação clínica pré-hospitalar
Acompanhe agora o passo a passo que deve ser seguido no processo de avaliação clínica pré-hospitalar: 
Passo 1
O primeiro passo do atendimento pré-hospitalar de um paciente intoxicado é realizar um breve exame
físico, a fim de identificar as ações imediatas necessárias para estabilizar o indivíduo e evitar a piora
clínica. Portanto, nesse momento, é importante checar a função cardiorrespiratória (Tem pulso? Está
respirando?).
Passo 2
Em seguida, deve-se ligar imediatamente para o Ciat, para tomar conhecimento de outras medidas
específicas.
Passo 3
Após essas ações, é importante diminuir o contato da pessoa com o agente tóxico, principalmente se
a exposição for cutânea. Por último, devem-se retirar as roupas contaminadas e lavar a região
exposta com água corrente, enquanto se providencia o transporteao serviço médico próximo. Se o
agente causal for um gás toxico, deve-se remover o paciente da área de exposição para um ambiente
arejado.
Avaliação clínica hospitalar
No ambiente hospitalar, a primeira abordagem do paciente
intoxicado segue os mesmos protocolos de todo paciente
grave, ou seja, inicia-se pela avaliação detalhada das
funções cardíaca, respiratória e circulatória e pela avaliação
do estado neurológico do paciente. Nessa abordagem, os
sinais clínicos que geralmente precedem a parada
cardiorrespiratória podem ser reconhecidos e tratados.
Após a estabilização do paciente, divide-se a avaliação em
duas etapas, que ocorrem simultaneamente: a anamnese e
o exame clínico.
Anamnese (histórico da exposição)
Anamnese é uma entrevista objetiva na qual procuramos
obter informações sobre o paciente e sobre a substância química potencialmente tóxica.
Atenção
É importante pontuar que as informações repassadas aos profissionais de saúde podem ser falsas ou
omitidas, principalmente em situações constrangedoras, como tentativas de suicídio e uso de drogas
ilícitas, ou comprometedoras, como violência praticada contra terceiros (abortamento, maus-tratos e
tentativa de homicídio). 
Durante a anamnese, devem-se abordar informações sobre:
O paciente
Saber sobre condição de saúde atual e pregressa, histórico de doenças, medicações em uso,
tentativas de suicídio anteriores, profissão, uso de drogas e gravidez.
O agente tóxico suspeito
Saber qual foi a substância utilizada e a quantidade. Sempre que possível, solicitar que os
acompanhantes tragam os frascos ou as embalagens e perguntar sobre a procedência do produto, se
pode ser um produto clandestino, por exemplo.
O tempo decorrido entre a exposição ao toxicante e os primeiros sintomas
Verificar qual foi o horário da exposição e por quanto tempo a substância foi utilizada, nos casos de
exposições repetidas.
O local
Verificar onde ocorreu a exposição e se foram encontrados frascos, embalagens, seringas ou cartelas
de comprimidos próximos ao paciente. Questionar quais medicamentos são utilizados pelos familiares
ou pela pessoa e onde o indivíduo foi encontrado. Também é útil saber se foi encontrada alguma
carta de despedida, a fim de identificar possíveis casos de tentativa de suicídio.
O motivo
Identificar a circunstância da exposição, já que é de extrema importância saber se foi tentativa de
suicídio, homicídio, acidente, abuso de drogas ou ocupacional.
Exame clínico
É a principal ferramenta que utilizamos para analisar os sintomas do paciente e estabelecer o diagnóstico de
intoxicação aguda, especialmente na identificação de síndromes tóxicas. 
Síndromes tóxicas
Síndrome tóxica é o conjunto de sintomas produzidos por determinado grupo de substâncias químicas. A
análise minuciosa desses sinais clínicos tem a finalidade de facilitar a identificação da substância tóxica
envolvida, sendo fundamental para as decisões clínicas, epidemiológicas e sanitárias.
Veremos a seguir os sinais e sintomas das principais síndromes toxicológicas e os possíveis agentes
causadores.
1
Síndrome anticolinérgica
Sinais clínicos: midríase, taquicardia, rubor facial, pele e boca secas, diminuição das
secreções, constipação, retenção urinária, agitação psicomotora e alucinação.
 
Agentes causadores: atropina, escopolamina (hioscina), espécies de plantas do gênero
Datura (zabumba ou saia- branca), anti-histamínicos, antidepressivos tricíclicos e toxina
botulínica.
2
Síndrome colinérgica
Sinais clínicos: miose, bradicardia, incontinência fecal e urinária, sudorese, sialorreia (excesso
de saliva), aumento da secreção brônquica, convulsões, coma e morte por insuficiência
respiratória.
 
Agentes causadores: inseticida organofosforado (Malation e Paration), inseticida carbamato
(Propoxur, Carbofuran, Adicarb).
3
Síndrome sedativo-hipnótica
Sinais clínicos: sonolência, torpor, hipotermia, hipotensão, depressão respiratória e
neurológica, bradicardia e coma, miose ou midríase.
 
Agentes causadores: etanol, barbitúrico, benzodiazepínico e outros sedativo-hipnóticos.
4
Síndrome narcótica
Sinais clínicos: miose, hipotensão, depressão neurológica e respiratória.
 
Agentes causadores: ópio, morfina, codeína e outros opioides.
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
5 Síndrome adrenérgica
Sinais clínicos: agitação, delírio, alucinação visual e/ou auditiva, taquicardia, hipertensão,
hipertermia, sudorese, midríase, convulsão, disritmia cardíaca e distúrbios neurológicos.
 
Agentes causadores: cocaína, anfetamina, efedrina, cafeína, entre outros.
6
Síndrome extrapiramidal
Sinais clínicos: crise oculógira, que é quando os olhos são forçosamente desviados para
cima, contração involuntária dos músculos, espasmos musculares e parkinsonismo.
 
Agentes causadores: antipsicóticos (clorpromazina, levomepromazina, haloperidol e
metoclopramida).
7
Síndrome serotoninérgica
Sinais clínicos: distúrbios do trato gastrointestinal (náusea, vômito e diarreia), anorexia,
hipertensão, hipertermia, taquicardia, midríase, delírio, alucinação, agitação, convulsão e
disritmia cardíaca.
 
Agentes causadores: antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina (ISRS-
fluoxetina, sertralina, venlafaxina, citalopram, entre outros) e drogas de abuso, como o
êxtase-MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina).
 
A compreensão de cada síndrome toxicológica vai além da mera memorização dos sintomas. Nesse
contexto, podemos colocar em prática o raciocínio clínico no qual levamos em conta a
toxicodinâmica dos agentes tóxicos.
Sabemos que a depressão, em parte, é causada por um deficit da transmissão sináptica de serotonina em
determinados locais do cérebro. A fluoxetina age inibindo a recaptação de serotonina nos neurônios
serotoninérgicos, causando um acúmulo desse neurotransmissor na fenda sináptica, o que,
consequentemente, aumenta a disponibilidade e a probabilidade de a serotonina interagir com seus
respectivos receptores. 
• 
• 
• 
• 
• 
• 
Administração adequada 
Quando administrado em doses terapêuticas,
esse fármaco normaliza a transmissão
serotoninérgica nos pacientes depressivos,
promovendo a regulação do sono, o humor, o
apetite e as emoções.
Superdosagem 
Em casos de intoxicação aguda
(administração em sobredose), ocorre
uma hiperestimulação dos receptores
de serotonina, causando um
desequilíbrio homeostático neurológico.
Saiba mais
Desequilíbrio homeostático neurológico Esse desequilíbrio é caracterizado pelo aparecimento da
síndrome serotoninérgica, caracterizada por insônia, irritabilidade, agitação, convulsões, alucinações,
anorexia etc. 
Exames complementares
Dependendo do agente tóxico causal, podemos
solicitar exames laboratoriais, em especial os
que avaliam as funções hepáticas: aspartato-
aminotransferase (AST), alanina-
aminotransferase (ALT), gama-glutamil-
transpeptidase (GGT), fosfatase-alcalina (FA), e
as funções renais: ureia e creatinina.
Exemplo
A intoxicação aguda por paracetamol é um exemplo prático no qual podemos observar uma elevação
acentuada na atividade sérica das transaminases hepáticas, ALT e AST, em razão do efeito tóxico desse
fármaco sobre os hepatócitos. Além disso, diversos fármacos podem apresentar nefrotoxicidade,
quando administrados de maneira crônica, promovendo o aumento dos níveis séricos de creatinina e
ureia, como os anti-inflamatórios não esteroides. 
Essas provas diagnosticadas devem ser monitoradas, em especial nos pacientes com intoxicações moderadas
ou graves, pois o fígado e os rins são órgãos de eliminação e depuração da maioria dos toxicantes. Exames de
imagem (raios X, tomografia, endoscopia e ressonância magnética), eletrocardiograma (ECG) e outros exames
bioquímicos também podem ser requeridos, conforme o agente causal envolvido. Os exames específicos são
as análises toxicológicas, que estudaremos detalhadamente mais à frente.
Tratamento
Além da terapia sintomática, a fim de estabilizar as funções vitais e prevenir sequelas e complicações, o
tratamento envolve medidas específicas, que devem consideraro agente tóxico envolvido e sua toxicidade,
bem como o tempo decorrido entre a exposição e o atendimento. Os procedimentos terapêuticos de
descontaminação, administração de antídotos e técnicas de eliminação serão abordados a seguir.
Descontaminação
Essa medida tem como principal objetivo impedir ou diminuir a absorção de substâncias químicas pelo
organismo. Quando a exposição ocorre pela via cutânea ou ocular, procede-se à descontaminação da área
atingida com água corrente ou soro fisiológico por 15 minutos. Em se tratando de exposição por via oral
(ingestão), adotam-se dois métodos que são utilizados para a descontaminação gástrica, consecutivamente: 
Lavagem gástrica (LG)
Apesar de associar-se a riscos importantes e de exigir equipe capacitada e ambiente hospitalar, a LG
ainda é comumente realizada e indicada por profissionais de saúde. Deve-se considerá-la quando o
paciente tiver ingerido dose volumosa do toxicante ou quando o agente causar retardo do
esvaziamento gástrico. Deve-se realizá-la até duas horas após a ingestão. Após esse período, sua
eficácia é duvidosa. Na presença de depressão neurológica, convulsões e coma, as vias aéreas
devem ser protegidas antes do procedimento (intubação traqueal). Essa medida é contraindicada em
caso de ingesta de cáusticos e solventes voláteis, em razão da maior possibilidade de lesão da
mucosa digestiva e pneumonia aspirativa, respectivamente.
Carvão ativado (CA)
O CA é produzido a partir de matéria vegetal orgânica (madeira), que é pulverizada e aquecida
(600ºC a 900ºC), sendo posteriormente “ativado” com vapor quente, para aumentar sua superfície de
contato, o que o torna capaz de adsorver grande número de substâncias químicas. Em resumo, o CA
se complexa às moléculas das substâncias químicas e previne sua absorção em nível gastrointestinal.
Usualmente, é administrado por via oral ou sonda nasogástrica, após a LG, em dose única ou múltipla,
até duas horas após a exposição. Em alguns casos particulares, pode ser administrado algumas horas
após a exposição, especialmente quando a substância química envolvida apresenta recirculação
êntero-hepática ou diminui a motilidade gastrointestinal (p. ex.: carbamazepina, fenitoína, amitriptilina
e fenobarbital). Essa técnica é contraindicada quando há risco de hemorragia e perfuração
gastrintestinal, em caso de ingesta de cáusticos, solventes voláteis, etanol, metanol, cianeto, ácidos
inorgânicos e metais, pois são substâncias pouco adsorvidas pelo CA.
Atenção
Nos dias atuais, não é recomendada, rotineiramente, a indução de vômitos como medida de suporte nas
intoxicações agudas, uma vez que não há evidências de que essa medida melhore a evolução de
pacientes intoxicados. Além disso, se utilizarmos esse procedimento, poderemos interferir na eficácia de
outros métodos de descontaminação, como o uso do CA. 
Técnicas de depuração de agentes tóxicos
São medidas utilizadas para favorecer a eliminação de substâncias tóxicas que já foram absorvidas, do
sangue e dos tecidos. Acompanhe alguns exemplos a seguir.
Indicação
Casos severos de intoxicação, agentes tóxicos que produzem efeitos tardios graves e casos em que a taxa
normal de eliminação do paciente se encontra prejudicada, seja por patologia prévia, seja por idade de risco
(crianças e idosos).
Metótodos mais empregados
Temos como os métodos mais empregados a diurese forçada, a manipulação do pH urinário e a eliminação
extracorpórea de agentes tóxicos. Vejamos, a seguir, um pouco mais sobre eles. 
Diurese forçada
A eliminação de grande parte das substâncias químicas é
realizada pelos rins; portanto, se aumentarmos o fluxo
urinário (diurese), poderemos amplificar a eliminação de
substâncias cuja depuração é dependente da excreção
renal. Para isso, administramos cristaloides (sorbitol), que
alteram o gradiente de concentração urinário, diminuindo o
tempo de meia-vida e o nível plasmático de algumas
substâncias, como o fenobarbital e a teofilina.
Manipulação do pH urinário
A urina pode ser alcalinizada ou acidificada para ionizar a
molécula do toxicante e reduzir sua reabsorção em nível dos
túbulos renais.
Relembrando
Relembrando alguns conceitos da toxicocinética: a substância que se encontra em sua forma não
ionizada (apolar) apresentará a capacidade de atravessar as membranas e, por consequência, de ser
absorvida ou reabsorvida no compartimento em que se encontra, por exemplo nos rins, e retornar para a
corrente sanguínea. Quando uma substância se encontra ionizada (forma polar), será mais solúvel em
meio aquoso e, portanto, mais facilmente eliminada junto com a urina. Então, podemos concluir que uma
urina com pH 8,0 aumenta a excreção renal de substâncias ácidas, que estarão predominantemente em
sua forma iônica, por exemplo fenobarbital e ácido acetil salicílico. Já com urina de pH ácido, aumenta-
se a excreção de substâncias de caráter alcalino, como anfetaminas, cocaína e outras. 
Eliminação extracorpórea de agentes tóxicos
Para favorecer a eliminação de toxicantes que já sofreram absorção, também podem ser empregadas — em
casos mais graves e quando possível — a hemodiálise e a hemoperfusão. Esses procedimentos são
clinicamente indicados se os níveis dos agentes tóxicos forem potencialmente letais ou se as funções vitais do
paciente, em especial a renal, estiverem comprometidas.
Hemodiálise
A hemodiálise é um procedimento pelo qual
uma máquina filtra o sangue e remove
impurezas e substâncias nocivas, endógenas
ou exógenas. Nesse processo, ocorre a difusão
do agente tóxico (exógeno) através de uma
membrana semipermeável dialítica, do sangue
para o fluido de diálise. É empregada para
remoção de substâncias de baixo peso
molecular ou pouca ligação às proteínas
plasmáticas.
Hemoperfusão
Na hemoperfusão, ocorre a passagem do
sangue através de uma coluna de carvão
ativado que se liga ao agente tóxico e promove
sua retirada do compartimento sanguíneo. É
aplicada para eliminar substâncias que
apresentem alto grau de ligação proteica.
Pessoa em equipamento de hemodiálise.
Vimos que o atendimento inicial do paciente intoxicado envolve uma abordagem sistemática constituída por:
anamnese, exame clínico e medidas terapêuticas genéricas de estabilização e descontaminação, conforme o
fluxograma a seguir: 
Fluxograma da abordagem inicial do paciente intoxicado.
Avaliação e abordagem clínica do paciente intoxicado
Agora que compreendemos o fluxograma da abordagem inicial do paciente intoxicado, o especialista Rodrigo
Dias discorrerá sobre cada uma das etapas.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Antídotos
Após a realização do tratamento de suporte e sintomático inicial, podemos instituir um tratamento mais
específico e direcionado para anular os efeitos tóxicos causados pelo toxicante. Nesse contexto, os antídotos
são substâncias que atuam no organismo, neutralizando ou diminuindo ações ou efeitos de outras substâncias
químicas. A utilização dos antídotos não é a primeira escolha a ser tomada na maioria dos episódios de
intoxicação. 
Já vimos que a maior parte das intoxicações pode ser tratada apenas com medidas de suporte e
sintomáticas, porém algumas situações exigem a administração de antídotos e, às vezes, de
medicamentos específicos.
É sempre bom lembrar que os antídotos compõem um arsenal terapêutico bastante limitado em face dos
milhões de substâncias às quais o organismo humano pode estar exposto. Além disso, muitos podem
ocasionar reações adversas, por isso, antes da administração, devemos sempre avaliar a relação risco-
benefício terapêutico. A seguir, veremos os principais antídotos utilizados na terapêutica emergencial:
Quadro: Antídotos mais comumente utilizados no atendimento do paciente
intoxicado.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Anamnese (histórico da exposição)
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Exame clínico
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistirao vídeo.
Descontaminação
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Após a estabilização do paciente com suspeita de intoxicação, o próximo passo é estabelecer o diagnóstico
clínico para a implementação do tratamento. Em relação à investigação clínica, assinale a alternativa correta:
A
A anamnese, entrevista informal que o profissional da saúde realiza com o objetivo de identificar os sintomas
do paciente, as circunstâncias da exposição e o possível agente causal, não contribui para o diagnóstico do
paciente.
B
O exame clínico é o tratamento sintomático e de suporte do paciente quando este dá entrada no serviço de
emergência.
C
Sinais clínicos e sintomas apresentados pelo paciente, quando agrupados, podem caracterizar uma síndrome
toxicológica. A identificação desses sinais e sintomas, e, por consequência, do agente causal envolvido, é
essencial para o diagnóstico e o tratamento efetivo do paciente.
D
As síndromes toxicológicas não auxiliam na identificação do agente tóxico causador, pois são inespecíficas e
podem ser confundidas com os sintomas de outras patologias basais do paciente.
E
A síndrome narcótica é causada pela exposição do indivíduo às substâncias estimulantes do sistema nervoso
central (SNC), como cocaína, cafeína e anfetamina.
A alternativa C está correta.
Alguns aspectos são extremamente importantes no diagnóstico do paciente intoxicado, sendo o principal
deles a identificação sindrômica. A correlação entre os sinais e sintomas apresentados pelo indivíduo
exposto com o mecanismo de ação do toxicante estabelece o nexo de causalidade e contribui para o
sucesso terapêutico.
Questão 2
Em relação às medidas de descontaminação gástrica realizadas durante o tratamento do paciente intoxicado,
assinale a alternativa correta:
A
As medidas de descontaminação gástrica, lavagem gástrica e uso de carvão ativado, visam a aumentar a
eliminação dos agentes tóxicos do organismo exposto.
B
A lavagem gástrica deverá ser utilizada sempre após a administração de carvão ativado, e a indução de
vômito é indicada em casos de ingesta de cáusticos.
C
O paciente assintomático que fez ingesta acidental de dose não tóxica de um analgésico deverá
obrigatoriamente passar por medida de descontaminação (lavagem gástrica e carvão ativado).
D
Não existem contraindicações para o emprego das medidas de descontaminação gástrica em âmbito
hospitalar.
E
A utilização das medidas de descontaminação gástrica leva em conta o tempo decorrido entre a exposição e o
atendimento e visa a diminuir ou a impedir a absorção dos agentes tóxicos em nível gastrintestinal.
A alternativa E está correta.
A ingestão é, sem dúvida, a via mais comum nas intoxicações, principalmente das mais graves. Nesse
contexto, a descontaminação gástrica é um procedimento simples, realizado em ambiente hospitalar, e,
quando concluída em tempo hábil (que varia de acordo com o agente causal, mas, de modo geral, deverá
ser feita até no máximo duas horas após a ingestão), diminui significativamente o potencial tóxico da
substância ingerida.
3. Análises toxicológicas e urgência: matrizes biológicas e técnicas
A importância do laboratório de análises toxicológicas
As análises toxicológicas relacionadas com o serviço de emergência médica são necessárias quando é
imprescindível identificar ou confirmar o agente tóxico responsável pela intoxicação aguda, fornecer suporte
aos profissionais de saúde para o tratamento, ou analisar o prognóstico do paciente intoxicado. Veremos, a
seguir, a importância dos exames toxicológicos nas três fases distintas do atendimento ao paciente
intoxicado.
Fase de diagnóstico
No diagnóstico, esses exames poderão confirmar ou excluir substâncias suspeitas, baseando-se nas
síndromes tóxicas sugeridas a partir da história e do exame físico. No caso de intoxicação por
múltiplas substâncias, em que os sinais e sintomas são mistos, a detecção dos agentes tóxicos
também será de extrema importância para a investigação clínica. Além disso, a identificação do
agente tóxico envolvido será útil para um diagnóstico diferencial; se um paciente está em coma, é
fundamental saber a causa para, por exemplo, diferenciar um acidente vascular cerebral (AVC) de
uma intoxicação por barbitúricos.
Fase de tratamento
No tratamento, as análises contribuirão para avaliar a eficiência do método terapêutico utilizado e
para o manejo adequado das intoxicações, auxiliando nas decisões médicas (hospitalização,
observação, UTI, monitorização, descontaminação, manipulação de pH, diurese forçada ou uso de
antídotos).
Fase de prognóstico
No prognóstico, a pesquisa de agentes tóxicos será útil para estimar a gravidade da intoxicação,
obter resposta sobre a precisão clínica e confirmar o diagnóstico.
A maioria dos pacientes intoxicados pode ser tratada com sucesso sem a contribuição do
laboratório toxicológico. São aqueles casos em que há certeza sobre o agente causal, seja pela
identificação da síndrome toxicológica, seja pela anamnese eficiente.
Esses exames devem ser primordialmente realizados em um curto intervalo de tempo, de 4 a 24 horas, no
máximo. Portanto, o recurso analítico deve apresentar características como sensibilidade, seletividade,
precisão e, acima de tudo, rapidez. 
Assim, fica clara a importância do entrosamento entre a Toxicologia Clínica e a Toxicologia Analítica, para que
o agente causador seja identificado rapidamente, e o tratamento, aplicado mais adequadamente, visando
sempre a minimizar os danos ocasionados ao paciente. 
Toxicologia Analítica
A Toxicologia Analítica, quando utilizada como ferramenta na área de Toxicologia Clínica, compreende a
detecção, a identificação e, frequentemente, a quantificação de substâncias químicas potencialmente
tóxicas e seus produtos de biotransformação em amostras biológicas, para auxiliar no diagnóstico, no
tratamento, no prognóstico e na prevenção de casos de intoxicação.
Seguidamente, vamos abordar algumas técnicas empregadas para qualificação (identificação) e quantificação
de substâncias químicas usualmente envolvidas em casos de intoxicação, bem como as principais matrizes
biológicas utilizadas.
Quadro: Antídotos mais comumente utilizados no atendimento do paciente
intoxicado. Extraído de Andrade Filho et al., 2017, p. 24, adaptado por Rodrigo Dias.
Matrizes biológicas
A seleção da amostra biológica que será
analisada depende basicamente do agente
tóxico envolvido. É importante conhecer as
características toxicocinéticas e
toxicodinâmicas das principais substâncias
envolvidas em casos de intoxicação, para
escolher a técnica analítica mais adequada.
Além disso, o instante em que é realizada a
coleta é importante para não provocar erros de
interpretação.
Lembremos que algumas substâncias, quando
ingeridas em altas doses, podem apresentar
uma modificação de sua cinética, como anticolinérgicos, antidepressivos tricíclicos e opioides, que terão sua
absorção retardada, pois diminuem a motilidade do trato gastrintestinal. Desse modo, o pico da concentração
plasmática desses fármacos não será observado nos períodos normalmente encontrados, sendo necessário
postergar o momento de uma nova coleta para ter ideia da gravidade da intoxicação.
É importante reforçar que cada amostra coletada é única e retrata o estado da intoxicação do
indivíduo naquele instante, ou seja, novos resultados serão obtidos a cada nova coleta, pois os
processos cinéticos (absorção, distribuição, armazenamento, metabolização e excreção) são
dinâmicos.
Outro aspecto que devemos destacar é que não há uma única matriz biológica que sirva para todas as
análises toxicológicas, em razão das singularidades de cada espécime biológica. A seguir, veremos as
principais características de algumas amostras biológicas que podem ser utilizadas nos exames laboratoriais,
devendo ser selecionada a mais adequada, conforme o caso clínico.
Sangue
Coleta de sangue.
Amostras de sangue ou de seus derivados (soro e plasma)
são importantíssimas nasanálises toxicológicas, pois
permitem estabelecer uma correlação direta da
concentração plasmática da substância com os efeitos
clínicos do paciente, ou seja, a detecção de um xenobiótico
nessa amostra indica que a pessoa está sob o efeito dele.
Por isso, é importante proceder a análises quantitativas
para realizar o manejo adequado dos casos suspeitos de
intoxicação por medicamentos e para definir a dose de
antídoto que será empregado.
A coleta de sangue é realizada a partir de punção venosa,
pois se trata de procedimento invasivo; além disso, as
substâncias presentes nessa amostra apresentam uma
janela de detecção curta (algumas horas), que representa o
intervalo que uma substância pode ser detectada em
determinada matriz biológica após a última exposição. 
Comentário
Na maioria dos casos, a análise toxicológica nessa amostra biológica é mais demorada que nas outras,
pois o sangue constitui uma matriz complexa, com vários interferentes endógenos (proteínas e lipídeos),
necessitando de um preparo de amostra mais cuidadoso e que, por consequência, demanda mais tempo. 
Urina
A urina é um fluido biológico amplamente
utilizado em análises toxicológicas, pois se trata
de uma matriz mais “limpa”, com menor número
de interferentes endógenos, sendo constituída
basicamente por água e apenas apresentando
quantidade significativa de proteínas em
estados patológicos.
Além disso, quando comparada ao sangue, a
urina apresenta maior concentração de
xenobióticos e/ou seus produtos de
biotransformação e ainda pode ser coletada de
forma menos invasiva.
Atenção
É essencial lembrar que, nessa amostra biológica, frequentemente, pesquisa-se o produto de
biotransformação do xenobiótico, por apresentar maior janela de detecção que a substância original,
causadora da intoxicação. 
Desse modo, a substância-alvo da análise (metabólito) permanece por mais tempo nesse fluido biológico
(dias), podendo, assim, avaliar uma exposição mais tardia. Diante dos fatores que mencionamos, a urina é
considerada a matriz biológica de escolha para realizar a triagem toxicológica, em que geralmente se
empregam técnicas cromatográficas ou imunonoensaios. 
Triagem toxicológica
Refere-se a métodos analíticos genéricos empregados quando não se conhece a identidade do agente
tóxico pesquisado. Esse tipo de análise é realizado para verificar a presença ou a ausência de
determinada classe ou grupo de compostos, apresentando, desse modo, apenas valor qualitativo.
Nesse cenário, os resultados provenientes das análises realizadas em urina determinam somente que a
substância estava presente no organismo, pois não há correlação direta entre a concentração da substância
na urina e o estado clínico do paciente, já que vários fatores podem modificar a excreção urinária do toxicante
(fluxo urinário, características individuais de metabolização e excreção e uso de medicamentos). 
O quadro seguinte demonstra a janela de detecção para algumas drogas de abuso e metabólitos após dose
única, no sangue e na urina. Lembramos que esses valores podem ser influenciados por dose administrada,
frequência de uso, via de administração e características cinéticas individuais. 
Quadro: Janela de detecção para algumas drogas de abuso em sangue e
urina. Extraído de Andrade Filho ., 2017, p. 646, adaptado por Rodrigo Dias.
Conteúdo estomacal
Essa amostra biológica é utilizada nas análises toxicológicas quando o indivíduo tiver ingerido grande
quantidade do xenobiótico, e esse fato tenha ocorrido pouco tempo antes da coleta (duas a três horas). De
outro modo, a substância já teria sido absorvida e poderia não ser detectada nessa amostra. Geralmente, nos
casos de superdosagem, a concentração dos xenobióticos no estômago continua sendo alta, mesmo que a
maior parte tenha chegado ao intestino delgado. Além disso, as substâncias presentes no conteúdo gástrico
ainda não sofreram os processos de metabolização. Portanto, a pesquisa será direcionada para a detecção
desses agentes em sua forma inalterada (não biotransformada). 
Podemos coletar essa matriz a partir de aspiração gástrica, lavagem gástrica e vômito do paciente. 
Recomendação
Devemos sempre ficar atentos à presença de restos de comprimidos, drágeas e ao cheiro que é exalado
pela amostra, pois todos esses aspectos podem auxiliar no direcionamento da pesquisa toxicológica. 
A principal desvantagem dessa amostra é sua composição, que pode sofrer grande variação, desde um fluido
aquoso até uma massa pastosa de alimentos. Lembramos que, dependendo do tipo e da quantidade de
alimentos, essa matriz pode tornar-se extremamente complexa pela presença de interferentes (gordura,
proteínas e carboidratos), dificultando o preparo da amostra e tornando a análise toxicológica mais demorada.
Matrizes não convencionais
Além das principais matrizes biológicas, como sangue, urina e conteúdo gástrico, outras amostras alternativas
podem ser empregadas nas análises toxicológicas de urgência:
1
Cabelo
A coleta é não invasiva e geralmente utilizada para avaliar intoxicações crônicas (exposição a longo
prazo, meses). Nessa amostra, realizamos a pesquisa, principalmente, pela substância inalterada,
que se incorpora na matriz capilar. As principais desvantagens são a contaminação externa e a
interferência de produtos cosméticos.
2
Saliva
Assim como o sangue, essa matriz também permite estabelecer uma boa correlação com os sinais
clínicos no paciente. A coleta é não invasiva, e a janela de detecção é curta (algumas horas),
apresentando poucos interferentes, sendo essencial que se conheça a relação da concentração
saliva-plasma de cada substância para uma correta interpretação dos resultados obtidos. Porém,
devemos ficar atentos aos contaminantes orais.
3
Ar exalado
Comumente utilizado para a análise de substâncias voláteis, como etanol (proveniente de bebidas
alcoólicas), solventes orgânicos e anestésicos gerais. Também permite correlacionar a concentração
do xenobiótico com o estado clínico do paciente, apresentando janela de detecção curtíssima, em
razão da intensa troca entre os gases no sangue e o ar alveolar. A coleta é não invasiva e necessita
de um dispositivo específico para o procedimento, além de uma técnica analítica apropriada para
realizar a análise de amostras gasosas.
Com a ajuda do quadro a seguir, veremos as vantagens e desvantagens das principais amostras biológicas
empregadas na Toxicologia Clínica.
Quadro: Características de algumas matrizes biológicas utilizadas em análises
toxicológicas de urgência. Extraído de Andrade Filho ., 2017, p. 647, adaptado por
Rodrigo Dias.
Técnicas analíticas
Entre as ações de um toxicologista clínico na investigação de casos de intoxicação, estão incluídas: 
Conhecer o princípio das técnicas analíticas.
Reconhecer suas insuficiências.
1. 
2. 
Identificar suas vantagens e desvantagens.
Ao mesmo tempo, o laboratório de toxicologia deve
apresentar condições analíticas para viabilizar a análise de
diferentes grupos de substâncias encontradas em amostras
biológicas distintas. Também é essencial ter consciência
das limitações da Toxicologia Analítica na seara clínico-
emergencial.
É muito comum, durante a rotina hospitalar, depararmos
com um corpo clínico que passa a falsa impressão da
existência de uma única e rápida análise capaz de detectar
qualquer agente tóxico causador da intoxicação. Na
realidade, das milhares de substâncias capazes de causar intoxicação, um laboratório bem-equipado tem a
capacidade de detectar apenas um décimo desse total e de quantificar dezenas delas nas várias amostras
biológicas disponíveis. 
As técnicas analíticas podem ter um propósito qualitativo, em que pesquisamos a presença ou a ausência do
agente tóxico na matriz biológica; ou quantitativo, em que realizamos a determinação da concentração dos
analitos nas amostras, podendo ser útil para evidenciar a natureza e a gravidade da exposição a uma
substância em particular ou a um grupo de substâncias. Além disso, as técnicas analíticas podem ser divididas
em: 
Análises detriagem
São métodos rápidos e gerais, utilizados quando não se conhece o analito a ser pesquisado.
Normalmente, são empregados para verificar a presença de uma classe de compostos. Devem
fornecer uma identificação presuntiva do agente tóxico, ou ao menos a classe à qual o agente
pertence. Ou seja, um teste positivo para benzodiazepínicos significa que não necessariamente o
agente tóxico causal foi o diazepam.
Análises confirmatórias
Os resultados obtidos por meio de técnicas de triagem devem ser confirmados por técnicas analíticas
de princípio químico diferente daquele da triagem e com parâmetros analíticos em níveis mais
sofisticados, como elevada especificidade. Para tal, é comum utilizarmos cromatógrafos gasosos
acoplados a espectrômetro de massas (CG-EM) e cromatógrafos líquidos acoplados a espectrômetro
de massas (CL-EM). É comum também a utilização desses cromatógrafos, gasosos e líquidos, a
outros tipos de detectores, como o de ionização por chama (CG-DIC), arranjo de diodos (CLAE-DAD),
entre outros. Em resumo, essas técnicas identificam o composto, em vez de simplesmente a classe a
que pertence, são demoradas e apresentam elevado custo. Além disso, nem todos os serviços
médicos emergenciais têm esse aparato analítico disponível.
A seguir, veremos as principais técnicas utilizadas para identificação e quantificação de agentes tóxicos em
matrizes biológicas, desde as mais simples até as mais complexas.
Química de via úmida
São testes simples, baratos e baseados na reação entre grupos químicos funcionais dos analitos de interesse
(substâncias-alvo) e dos reagentes químicos que darão origem a complexos coloridos ou a qualquer alteração
na amostra (precipitação e cristalização), podendo ser visualizada macroscopicamente. No entanto, esse tipo
de teste apresenta algumas desvantagens. São elas:
3. 
Teste qualitativo por via úmida direcionado para
pesquisa de paraquat em urina.
Possibilidade de interpretações distintas
Os complexos coloridos podem sofrer variação
na coloração, de acordo com a concentração
do analito na amostra, o que pode resultar em
interpretação distinta entre toxicologistas
analistas diferentes.
Probabilidade de resultados falso-
positivos
A presença de interferentes, a baixa
sensibilidade e a falta de seletividade, podendo
haver reações cruzadas entre mais de um
agente tóxico, originando os chamados falso-
positivos.
Na imagem é possível ver um exemplo de teste
qualitativo por via úmida aplicado para pesquisa
de paraquat (herbicida comumente envolvido
em intoxicações intencionais de suicídio).
Esse teste usualmente é realizado a partir da
adição de 1mL de urina em 1mL de solução de
ditionito de sódio 0,1% em hidróxido de sódio na
concentração de 1mol/L.
A mudança de cor para azul caracteriza
resultado positivo para o herbicida.
Imunoensaios
Entre os testes de triagem, os imunoensaios
são muito empregados na área clínica, em que
utilizamos a urina como matriz de eleição. Em casos em que não há disponibilidade de urina, alguns
imunoensaios podem ser realizados em sangue e em macerados de vísceras, com o devido preparo. 
Essa técnica é baseada em reação antígeno-anticorpo, ou seja, interação do toxicante-alvo
(antígeno) com seu anticorpo correspondente.
Saiba mais
A técnica se baseia na competição pela ligação aos anticorpos entre o agente tóxico presente na
amostra (livre) e o agente tóxico marcado presente no kit. O agente tóxico marcado, também chamado
de antígeno marcado ou traçador, só poderá ligar-se ao anticorpo específico dependendo da
concentração do agente tóxico de interesse (não marcado) da amostra; ou seja, há uma disputa pelos
sítios de ligação dos anticorpos entre o analito não marcado (toxicante de interesse) e o analito marcado
(toxicante presente no kit). 
Conheça as vantagens e desvantagens dos imunoensaios:
Cromatografia em camada delgada
A cromatografia em camada delgada (CCD) é uma técnica de baixo custo, rápida e simples, empregada para
separar e identificar os agentes tóxicos, baseando-se na migração diferencial dessas substâncias entre duas
fases:
Fase estacionária
É uma camada fina formada por um sólido granulado (sílica-gel) depositada sobre uma placa de vidro,
funcionando como meio para que ocorram as interações moleculares com os analitos. 
Fase móvel
É um solvente ou mistura de solventes cuja polaridade deve ser compatível com a natureza química
dos compostos analisados, pois desempenha o papel de solubilizar e carrear os analitos (toxicantes)
através da fase estacionária por capilaridade.
As substâncias aplicadas na placa são arrastadas pelo solvente, e a separação delas ocorre em função de sua
solubilidade na fase móvel e do modo como interagem com a fase estacionária, por adsorção. Como resultado
das afinidades químicas de cada composto pelas fases móvel e estacionária, os componentes da amostra
analisada são separados espacialmente em diferentes zonas ou bandas cromatográficas. Normalmente, são
empregados agentes cromogênicos que coram os analitos de interesse, como:
 
Iodo platinado
Dragendorff
Zwicker
Cloreto de paládio
O parâmetro de identificação usual em CCD é a coloração das manchas e o fator de retenção (Rf), o qual é a
razão entre a distância percorrida pelo analito e a distância percorrida pelo eluente, a partir do ponto de
aplicação, conforme comparação com padrões. A principal limitação dessa técnica é que se trata de análise
não automatizada, podendo, em casos de triagem às cegas, demandar muito tempo para alcançar o resultado
analítico esperado. Além disso, as matrizes biológicas necessitam de preparo pré-analítico, geralmente
extração líquido-líquido, para a obtenção do extrato que será utilizado na fase analítica propriamente dita.
Vemos na imagem a seguir um exemplo de análise qualitativa por CCD, em que a amostra utilizada foi a urina e
a pesquisa foi direcionada para detecção de cocaína em um caso de intoxicação causada por overdose. 
Vantagens 
Os imunoensaios são análises simples,
rápidas, de fácil automação e que requerem
pequeno volume de amostra. Outra
vantagem que nos chama atenção é sua alta
sensibilidade, sendo utilizados
principalmente na fase de triagem, em
substituição às técnicas cromatográficas.
Desvantagens 
A principal desvantagem dessa técnica
reside no fato de que as amostras
positivas necessitam passar por exames
confirmatórios mais seletivos, como
análises cromatográficas e
espectrométricas. Isso ocorre porque
esses testes carecem de seletividade,
pois os anticorpos reagem com grupos
de substâncias (benzodiazepínicos,
anfetamínicos, canabinoides, opioides) e
não especificamente com o composto
isolado.
• 
• 
• 
• 
Placa cromatográfica após a revelação com reagente cromogênico Dragendorff, em
pesquisa direcionada para detecção de cocaína.
Após a revelação e a interpretação da placa cromatográfica, notamos, no sítio em que foi aplicado o extrato de
urina do paciente, a presença de dois compostos:
Primeiro
De coloração violeta, compatível com o padrão
analítico de cafeína.
Segundo
De coloração alaranjada, podendo ser
compatível com os padrões de lidocaína e/ou
cocaína.
Lembremos que a CCD é uma técnica de triagem, qualitativa e útil para verificar a presença de uma classe de
compostos e direcionar a análise confirmatória.
Técnicas de confirmação
A maior parte das análises confirmatórias é baseada na cromatografia. Isso quer dizer que a identificação do
analito é precedida por sua separação. Os principais tipos de cromatografia que adotamos nos métodos
confirmatórios são a cromatografia em fase gasosa (CG) e a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE).
Em ambos os tipos, a fase estacionária é fixada em uma coluna, e a fase móvel em fluxo contínuo é composta
por gás (GC) ou um líquido (CLAE) inerte. 
A coluna, por sua vez, é acoplada a um detector sensível o suficiente para identificar os analitos no extrato
obtido na preparação da amostra. Vários detectores e tipos de colunas, computadores e softwares podem ser
adaptados aos sistemas cromatográficosinstrumentais. A maioria dos métodos confirmatórios pode ser
adotada na quantificação do analito. Para tanto, é necessária a construção de uma curva de calibração com
padrão de referência certificado (analito isolado com pureza ou teor predeterminado e certificado).
Vamos agora definir cada um dos principais tipos de cromatografia que adotamos nos métodos
confirmatórios:
Cromatografia em fase gasosa (CG)
A CG é uma técnica de confirmação automatizada, de elevada sensibilidade e seletividade, que
possibilita detectar e quantificar várias substâncias ao mesmo tempo em diversas matrizes. Tem
como desvantagem sua aplicabilidade, podendo ser utilizada somente para análise de compostos
voláteis e termoestáveis. Por isso, constitui a técnica de eleição para analisar etanol, inalantes e
solventes em amostras biológicas. Em ocasiões nas quais se suspeita da presença de determinado
agente tóxico, pode-se utilizar um detector mais apropriado para sua identificação, com a finalidade
de aumentar a sensibilidade e a seletividade da técnica. Nesse contexto, o detector de ionização em
chama (DIC) é o mais empregado, pois responde a todos os compostos que têm a ligação C-H. Para
toxicantes que tenham fósforo e nitrogênio em sua estrutura molecular (praguicidas, carbamatos,
organofosforados, cocaína), pode-se utilizar o detector de nitrogênio-fósforo, pois tem maior
sensibilidade a esses compostos. Já o detector de captura de elétrons (DCE) é empregado para
detectar substâncias eletronegativas (praguicidas organoclorados, piretroides e benzodiazepínicos).
Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
A Clae tem como principal vantagem sua versatilidade, pois, diferentemente da CG, não fica restrita a
compostos voláteis e termoestáveis. O princípio de separação é o mesmo da CG, exceto pela fase
móvel, que nesse caso é uma mistura de solventes. É uma técnica confirmatória automatizada, que
apresenta alta sensibilidade e seletividade, e, assim como a CG, também pode empregar diversos
detectores, de acordo com o agente tóxico pesquisado. O mais utilizado é o detector de ultravioleta
(UV), no qual os toxicantes são detectados pela capacidade de absorver a luz UV, emitida por uma
lâmpada, em comprimentos de onda característicos. A Clae dispõe de outros detectores que podem
ser aplicados de acordo com as características físico-químicas dos toxicantes (detector de
fluorescência, detector de arranjo de diodos e espectrometria de massas).
Saiba mais
Segundo as recomendações preconizadas pela maioria das agências regulatórias, a presença do
toxicante é confirmada com confiabilidade se detectada por pelo menos duas técnicas analíticas
diferentes. Isso pode ser alcançado em uma única análise, se for utilizada a combinação da
cromatografia gasosa ou líquida com o sistema de detecção por espectrometria de massas (EM). Assim,
a informação fornecida pelo tempo de retenção na coluna cromatográfica é complementada pelo
espectro de massas. O detector por EM combina alta sensibilidade com alta seletividade, sendo a
técnica de melhor detectabilidade (capacidade de detectar baixas concentrações dos analitos) e de
melhor especificidade para a maior parte dos toxicantes. 
Técnicas analíticas aplicadas à Toxicologia Clínica
No vídeo a seguir, o especialista apresentará os principais equipamentos e o fundamento das principais
técnicas analíticas aplicadas à Toxicologia Clínica.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Importância do laboratório de análises toxicológicas
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Sangue e urina
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Técnicas analíticas
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
A escolha da matriz biológica é crucial para realizar o diagnóstico do paciente intoxicado no menor tempo
possível e, consequentemente, estabelecer as medidas adequadas de tratamento. Em relação às matrizes
biológicas, assinale a alternativa correta.
A
O tempo decorrido entre a exposição ao agente tóxico e a coleta da amostra biológica não interfere
diretamente no diagnóstico laboratorial da intoxicação.
B
O sangue é a matriz de eleição para avaliar intoxicações crônicas e exposições passadas, por apresentar uma
janela de detecção longa.
C
O conteúdo estomacal constitui uma matriz biológica simples, com poucos interferentes, em que as análises
toxicológicas serão voltadas para a detecção dos produtos de biotransformação dos toxicantes.
D
A urina, usualmente, é utilizada para testes de triagem, pois apresenta alta concentração do toxicante ou de
seus metabólitos; além disso, permite estabelecer boa correlação com efeitos clínicos observados no
paciente.
E
O sangue é considerado uma matriz biológica complexa, apresentando janela de detecção curta; porém, tem
boa correlação da concentração do xenobiótico com os sintomas apresentados pelo paciente, sendo
essencial quantificar, quando possível, o agente causal para um direcionamento terapêutico adequado.
A alternativa E está correta.
O sangue, apesar de necessitar de maior tempo de preparo, maior custo analítico e ser coletado de maneira
invasiva, constitui a principal matriz biológica empregada na seara clínico-emergencial, pois, entre as
amostras biológicas convencionais, é a única que estabelece uma relação entre a concentração da
substância no plasma e os efeitos clínicos notados no paciente. Por esse motivo, essa matriz é utilizada
para quantificar o toxicante, podendo, desse modo, ser determinadas a gravidade da intoxicação e a
orientação adequada do tratamento.
Questão 2
A Toxicologia Analítica insere-se no diagnóstico e no prognóstico da intoxicação e dedica-se ao estudo de
métodos precisos e de exatidão adequada na pesquisa de toxicantes ou de parâmetros bioquímicos
relacionados com a intoxicação ou as ocorrências de interesse toxicológico. No escopo da Toxicologia Clínica,
o diagnóstico laboratorial tem a finalidade de determinar o agente envolvido, para nortear um tratamento
clínico apropriado ao paciente intoxicado. Nesse contexto, considere as alternativas a seguir e assinale a
correta.
A
Os testes colorimétricos (químicos de via úmida) são usualmente utilizados para a confirmação do toxicante,
pois apresentam elevada sensibilidade e seletividade.
B
A técnica mais empregada na fase analítica de triagem são os imunoensaios, testes de elevada sensibilidade
capazes de diferenciar, inequivocamente, o composto causador da intoxicação de outras substâncias
pertencentes à mesma classe.
C
As principais técnicas de confirmação compreendem: cromatografia líquida de alta eficiência, cromatografia
em camada delgada e cromatografia gasosa.
D
A cromatografia em camada delgada é útil para a fase de triagem, pois contempla os requisitos necessários
para essa etapa analítica: rapidez, baixo custo e fácil execução, permitindo a identificação da classe a que
pertence o xenobiótico envolvido na intoxicação.
E
A cromatografia gasosa é uma técnica confirmatória mais flexível e aplicável que a cromatografia líquida de
alta eficiência, pois nela é possível empregar diversos detectores, conforme as características do analito
(toxicante-alvo). Isso possibilita uma análise de amplo espectro, abrangendo substâncias voláteis e não
voláteis.
A alternativa D está correta.
A CCD é uma técnica essencialmente qualitativa, muito utilizada em laboratórios de urgência em razão da
rapidez de análise, da simplicidade na execução, da facilidade na interpretação, do baixo custo e da boa
reprodutibilidade. A maioria dos serviços de emergência médica não tem à disposição um laboratório de
toxicologia com todo o aparato instrumental necessário para realizar um diagnóstico laboratorial com a
agilidade que o cenário de uma intoxicação exige. Logo, os laboratórios de análises clínicas alocados

Mais conteúdos dessa disciplina