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Jurisdição Constitucional Prof. Dr. Douglas da Veiga Nascimento E-mail: douglas.veiga@usf.edu.br Faculdade de Direito Universidade São Francisco Mandado de Injunção 1. Características dos direitos fundamentais A) Direitos universais: Todos são titulares de direitos fundamentais na qualidade de seres humanos. Alguns direitos são destinados a determinados grupos ou categorias, como os direitos dos trabalhadores, dos contribuintes e dos consumidores. 1. Características dos direitos fundamentais Os direitos fundamentais possuem prioridade sobre qualquer interesse particular. Mas há direitos que são oponíveis exclusivamente contra o Estado: Devido processo legal, contraditório e ampla defesa, duplo grau de jurisdição. 1. Características dos direitos fundamentais B) Historicidade: Não são absolutos ou imutáveis. Sua interpretação e aplicação dependem do contexto histórico e social. Não nasceram todos de uma só vez. Consolidaram-se ao longo das mudanças nos paradigmas do estado moderno. 1. Características dos direitos fundamentais Exemplo: Tanto a Constituição atual como a anterior estabeleceram vedação à pena de caráter perpétuo. CF/88, Art. 5º, XLVII - não haverá penas: b) de caráter perpétuo; Em fins de 1998, o STF confirmando acórdão do STJ, estendeu a garantia ao âmbito das sanções administrativas. Porém, STF continuou a admitir a extradição para o cumprimento de penas de caráter perpétuo, jurisprudência somente revista em 2004. 1. Características dos direitos fundamentais C) Inalienabilidade/indisponibilidade: Não podem ser renunciados, negociados, alienados ou transferidos. Estão acima da vontade dos seus titulares. Exemplo: Integridade física, saúde, vida. Veda a alienação de órgãos ou partes do corpo. 1. Características dos direitos fundamentais D) Constitucionalização: Na esfera internacional, encontram-se os direitos humanos. No direito interno dos Estados nacionais, encontram-se os direitos fundamentais positivados nas Constituições. Quando positivados, os direitos fundamentais são mais facilmente concretizados a partir dos instrumentos de garantia e da tutela do Judiciário. 1. Características dos direitos fundamentais E) Vinculação dos poderes públicos: São parâmetros de organização e de limitação dos poderes constituídos dos Estado: Poder Judiciário, Executivo e Legislativo. Legislativo - Proibição de retrocessos - vedação de revogação ou limitação de direitos fundamentais. Vedação de aprovação de PECs tendentes a abolir direitos e garantias fundamentais. (Art. 60, § 4º, IV). 1. Características dos direitos fundamentais Executivo – seus atos estão vinculados aos direitos fundamentais. Violação gera nulidade dos atos administrativos. Limita a interpretação e aplicação das normas nos atos da administração pública. Judiciário – controle de constitucionalidade dos atos Legislativo e do Executivo. Impõe o dever aos magistrados de observância dos direitos fundamentais, cujas decisões são revistas pelos Tribunais através de recurso. 2. Titularidade dos direitos fundamentais A) Pessoas físicas: Princípio da universalidade. Todos são titulares dos direitos fundamentais. Dignidade da pessoa humana como valor intrínseco dos seres humanos. Não se admites exclusões ou discriminações. 2. Titularidade dos direitos fundamentais B) Pessoas jurídicas: A CF/88 também resguarda os direitos fundamentais às pessoas jurídicas: Direito à imagem, à propriedade, à livre iniciativa. Pessoas jurídicas podem sofrer danos morais: Súmula 227/STJ consolida que: “a pessoa jurídica pode sofrer dano moral” 2. Titularidade dos direitos fundamentais Há, entretanto, direitos fundamentais de titularidade exclusiva de pessoas físicas: Vida, integridade física, as formas e os limites às penas de prisão. Por essa razão, pessoas jurídicas não podem impetrar Habeas Corpus. Jamais estará em jogo a sua liberdade de ir e vir ou de locomoção. 2. Titularidade dos direitos fundamentais C) Estrangeiros: CF/88: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Não se admite exclusões em razão do critério de nacionalidade. 2. Titularidade dos direitos fundamentais D) Capacidade de fato e de direito: Capacidade de fato: de exercício. Capacidade de direito: de ser titular do direito. Esta distinção do direito civil não se aplica aos direitos fundamentais. Seriam titulares de direitos fundamentais apenas as pessoas com capacidade jurídica? 2. Titularidade dos direitos fundamentais Não, as pessoas ainda que incapazes de fato ou de direito tem assegurados os seus direitos fundamentais. Menores de 18 anos e pessoas com deficiência que sejam incapazes de manifestar suas vontade e praticar os atos da vida civil. Todos possuem a correspondente atribuição de capacidade para o seu exercício. 3. Dimensão Subjetiva e Objetiva A) Dimensão subjetiva: Consiste na possibilidade de exigir uma ação ou abstenção diante de uma situação específica. Pretensão para que se adote um comportamento. É pensada na perspectiva do indivíduo. O indivíduo que possui um direito fundamental é titular de uma posição jurídica subjetiva. 3. Dimensão Subjetiva e Objetiva B) Dimensão objetiva: Direitos fundamentais como princípios no ordenamento jurídico. Delimita os poderes públicos e os limites do Estado. Vai além do indivíduo e afeta a sociedade como um todo. Implica que o Estado deve promover condições que permitam o exercício efetivo dos direitos. Justiça social, Estado deve combater a desigualdade e promover o bem-estar geral. 4. Aplicabilidade dos direitos fundamentais Aplicabilidade imediata: ou direta Não são normas meramente programáticas. Possuem eficácia plena. Regulam diretamente as relações jurídicas. Independem de regulamentação por meio de lei. São princípios constitucionais. Estão fundados diretamente na CF/88. Entretanto, as leis podem facilitar a sua aplicabilidade, como no caso dos direitos sociais. 4. Aplicabilidade dos direitos fundamentais Mas existem direitos fundamentais que possuem eficácia limitada: Art 5º, VI - e inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII - e assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; 4. Aplicabilidade dos direitos fundamentais XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais; 4. Aplicabilidade dos direitos fundamentais Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; Art. 8º, XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; 4. Eficácia Vertical, Horizontal e Diagonal A) Eficácia vertical: Aplicação dos direitos fundamentais na relação entre o particular e o Estado. Limitação aos poderes e à atuação do Estado. O Estado deve considerar os direitos fundamentais como baliza e referência para seus atos. 4. Eficácia Vertical, Horizontal e Diagonal B) Eficácia horizontal: Aplicação dos direitos fundamentais na relação entre os particulares. Violação pode ocorrer nas relações privadas. Violação da integridadefísica, da propriedade, da imagem. 4. Eficácia Vertical, Horizontal e Diagonal C) Eficácia diagonal: Aplicação dos direitos fundamentais nas relações contratuais entre os particulares, quando há um desequilíbrio entre eles. Uma das partes é hipossuficiente e demanda a intervenção e regulação do Estado. Relações trabalhistas e consumeristas. 5. Eficácia Direta e Indireta Teorias da Eficácia dos direitos fundamentais A) Eficácia Direta: Direitos Fundamentais aplicam-se obrigatória e diretamente nas relações entre particulares. Independe de mediação legislativa do Estado. São princípios e cláusulas gerais que regem os atos e negócios jurídicos. Art. 5º, § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 5. Eficácia Direta e Indireta B) Eficácia Indireta: Direitos Fundamentais são direitos de defesa da liberdade contra o Estado. Não se aplicam às relações entre os particulares de forma imediata. Precisam ser regulados pela legislação civil e criminal. Do contrário, haveria violação da autonomia da vontade. Não foi adotada pelo CF/88. 6. Mandado de injunção CF/88: Art. 5º, LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; Um dos remédio constitucionais. É uma garantia fundamental. 6. Mandado de injunção Instrumento do processo constitucional. Voltado para a defesa de direitos subjetivos em face de omissão do legislador ou de outro órgão com poder regulatório. Sistema de controle de constitucionalidade por omissão, art. 103, § 2º da CF/88: § 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias. 6. Mandado de injunção Mandado de injunção pode ter como objeto a omissão total, absoluta, do Legislador ou omissão parcial, ou o cumprimento incompleto ou defeituoso de dever constitucional. Não declara a nulidade de um ato, apenas reconhece a omissão. O prazo de 30 dias pode ser exíguo como em casos de construção de escolas, hospitais e presídios. No julgamento do MI poderá ser fixado prazo maior proporcional e razoável. 6. Mandado de injunção OBS. STF no Mandado de Injunção n. 107, acórdão publicada em 1997, de relatoria do Ministro Moreira Alves: A Corte deve limitar-se a declarar a configuração da omissão inconstitucional, determinando, que o Legislador supra a lacuna. STF não está autorizado a expedir uma norma para o caso concreto ou a editar norma geral e abstrata. Apenas declara a mora. Violaria os princípios constitucionais da democracia, da divisão de Poderes e da legalidade. Têm caráter obrigatório ou mandamental. 6. Mandado de injunção No MI n. 670 de 2007, STF afastou-se da sua orientação inicial e aplicou uma solução diante da omissão do Legislador em regular ao direito de greve dos servidores públicos. Estabeleceu a aplicação, no que couber, da Lei n. 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito de greve na iniciativa privada. Passou a assumir compromisso com o exercício de uma típica função legislativa. Estabeleceu regulação provisória pelo próprio Judiciário. 7. Regime Jurídico Lei nº 13.300/2016. Disciplina o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo. A) Cabimento: Falta total ou parcial de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente. 7. Regime Jurídico B) Legitimidade e competência: Ativa: Pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas constitucionais. Passiva: como impetrado, o Poder, o órgão ou a autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora. 7. Regime Jurídico Ação será impetrada: 1) STF - CF/88: Art. 102, I, “q” Quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; 7. Regime Jurídico 2) STJ - CF/88: Art. 105, I, “h”: quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; 7. Regime Jurídico 3) Tribunais de Justiça: Os Estados-Membros podem legislar a respeito da competência dos tribunais de justiça e dos juízes de direito de primeira instância. Quando a edição da norma regulamentadora for atribuição de órgão, de entidade, ou de autoridade estadual da administração direta e indireta. 4) Juízes de direito: Quando a edição da norma regulamentadora for atribuição de vereadores, prefeito, Mesa Diretora, ou autarquia ou fundação municipal. 7. Regime Jurídico C) Petição inicial: A petição inicial deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual (Art. 319 do CPC). Indicará, além do órgão impetrado, a pessoa jurídica que ele integra ou aquela a que está vinculado. Quando o documento comprobatório encontrar-se em repartição pública, em poder de autoridade ou de terceiro, havendo recusa em fornecê-lo será ordenada, a pedido do impetrante, a exibição do documento no prazo de 10 (dez) dias. 7. Regime Jurídico D) Despacho inicial: Art. 5º Recebida a petição inicial, será ordenada: I - a notificação do impetrado sobre o conteúdo da petição inicial, devendo-lhe ser enviada a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste informações; II - a ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, devendo-lhe ser enviada cópia da petição inicial, para que, querendo, ingresse no feito. Obs. Não há contestação ou reconvenção como resposta do impetrado. 7. Regime Jurídico E) Indeferimento da inicial: A petição inicial será desde logo indeferida quando a impetração for manifestamente incabível ou manifestamente improcedente. Da decisão de relator que indeferir a petição inicial, caberá agravo, em 5 (cinco) dias, para o órgão colegiado competente para o julgamento da impetração. 7. Regime Jurídico F) Ministério Público: Findo o prazo para apresentação das informações, será ouvido o Ministério Público, que opinará em 10 (dez) dias, após o que, com ou sem parecer, os autos serão conclusos para decisão. 7. Regime Jurídico G) Decisão final: Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para: I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora; II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado. 7. Regime Jurídico Não será concedido novo prazo quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma. A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora. Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da impetração. 7. Regime Jurídico Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos casos análogos por decisão monocrática do relator. Oindeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a renovação da impetração fundada em outros elementos probatórios. 7. Regime Jurídico H) Ação de Revisão: Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão poderá ser revista, a pedido de qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes modificações das circunstâncias de fato ou de direito. Seguirá o mesmo procedimento do MI. 7. Regime Jurídico I) Efeitos da decisão: A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada em julgado. Salvo se a aplicação da norma editada lhes for mais favorável. Estará prejudicada a impetração se a norma regulamentadora for editada antes da decisão, caso em que o processo será extinto sem resolução de mérito. 7. Regime Jurídico J) Mandado de Injunção Coletivo: Os direitos protegidos são os pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou categoria. Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido: I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis; II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária; 7. Regime Jurídico III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial; IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal. 7. Regime Jurídico A sentença fará coisa julgada limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º. (Efeito erga omnes e casos análogos.) Não induz litispendência em relação aos MI individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a desistência da demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva. 7. Regime Jurídico Aplicam-se subsidiariamente ao mandado de injunção: As normas do mandado de segurança, Lei nº 12.016/2009. Código de Processo Civil.