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CADERNO DE RESPOSTAS med.estrategia.com Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP RESIDÊNCIA MÉDICA 2 CLÍNICA MÉDICA 1. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Gastroenterologia – Prof. Isabella Parente) Homem de 34 anos procura atendimento por apresentar, há cerca de 1 ano, episódios recorrentes de prurido intenso em superfícies extensoras, com lesões eritematovesiculosas que cicatrizam deixando crostas. Refere emagrecimento de 6 kg no último ano, diarreia intermitente e anemia ferropriva refratária ao uso de reposição oral de ferro. Relata melhora parcial do quadro cutâneo após retirar alimentos à base de trigo, centeio e cevada da dieta por conta própria. Ao exame físico, observam-se lesões crostosas e algumas vesículas agrupadas nos cotovelos e joelhos. A biópsia de pele evidenciou depósitos granulares de IgA nas papilas dérmicas. Qual é o diagnóstico mais provável? A) Psoríase gutata. B) Pênfigo vulgar. C) Doença de Duhring-Brocq. D) Dermatite atópica. Comentários: Estrategista, O caso clínico descreve um paciente com diarreia crônica, anemia ferropriva refratária e perda ponderal, sugerindo um quadro de doença celíaca. A doença celíaca é uma enteropatia autoimune desencadeada pela ingestão de glúten em indivíduos geneticamente predispostos, que leva à má-absorção intestinal e pode ter manifestações extraintestinais. Entre essas manifestações, temos um quadro cutâneo muito clássico chamado de dermatite herpetiforme (ou doença de Duhring-Brocq), caracterizada por lesões vesiculosas extremamente pruriginosas em superfícies extensoras, associadas ao depósito granular de IgA nas papilas dérmicas. Vamos analisar as alternativas?! A) Incorreta a alternativa A. A psoríase gutata caracteriza-se por pápulas eritemato-descamativas em “gotas”, geralmente após infecção estreptocócica. Não cursa com sintomas gastrointestinais nem com depósito de IgA. B) Incorreta a alternativa B. O pênfigo vulgar é uma doença bolhosa autoimune intraepidérmica, com acantólise e depósito de IgG. Acomete principalmente mucosas, o que não ocorre no caso descrito. C) Correta a alternativa C. Não esqueça que doença de Duhring-Brocq e doença celíaca são sinônimos! Trata-se de manifestação cutânea clássica da doença celíaca. Apresenta lesões vesiculosas agrupadas, prurido intenso em superfícies extensoras e depósito granular de IgA nas papilas dérmicas. D) Incorreta a alternativa D. A dermatite atópica é uma dermatose crônica pruriginosa, predominante na infância, com padrão flexural e associação com história atópica. Não se relaciona à doença celíaca. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP RESIDÊNCIA MÉDICA 3 2. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Neurologia – Prof. Rodrigo Frezatti) Homem, 32 anos de idade, sem comorbidades prévias, queixa- se de dor em membros inferiores, dormência nos pés e vontade excessiva de urinar. Nega outras queixas, bem como nega traumas. Refere que teve quadro diarreico há 15 dias, com duração de 3 dias, já resolvido. Ao exame clínico, demonstra hipotonia com fraqueza proximal e distal dos membros inferiores. Hiporreflexia patelar bilateral. Membros superiores com força, sensibilidade e reflexos preservados. Sobre o quadro clínico em questão, assinale a alternativa correta. A) Na síndrome de Guillain-Barré, a presença de diarreia prévia é comum e um sinal de bom prognóstico. B) A presença de urgência urinária afasta o diagnóstico de síndrome de Guillain-Barré. C) O uso de metilprednisolona está indicado em todos os pacientes com a síndrome de Guillain-Barré. D) A punção liquórica na síndrome de Guillain-Barré pode ser normal. Comentários: Essa doença envolve, de forma aguda, várias raízes nervosas, além dos nervos periféricos, por isso pode ser descrita como uma polirradiculoneuropatia aguda. Trata-se de uma doença imunomediada, sendo muito comum a identificação de um “gatilho” imunológico precedendo o início dos sintomas, em média em cerca de 2 semanas. As causas infecciosas são as mais comuns e, entre elas, a infecção pelo Campylobacter jejuni é a mais “clássica” e, inclusive, associa-se a pior prognóstico e lesão axonal! Além desse patógeno, o zika vírus, HIV, dengue, Epstein-Barr, varicela- zóster, citomegalovírus, entre outros, também já foram associados a essa condição. Além das causas infecciosas, antecedente de vacinação e, mais raramente, cirurgia ou trauma, também podem ser os gatilhos imunogênicos. O quadro clínico clássico envolve déficit sensitivo e motor dos membros inferiores, superiores e, eventualmente, da face e que progridem de forma ascendente, simétrica e são acompanhados de hiporreflexia/arreflexia ao exame físico. Além disso, é comum a presença de disautonomia no curso da doença, sendo possíveis as manifestações de alteração do ritmo cardíaco, hipertensão arterial e sudorese. Em crianças, o sintoma inicial pode ser de dor difusa pelos membros, o que é incomum em adultos. O quadro clínico, por definição, pode piorar em média até no máximo quatro semanas desde o início dos sintomas. A piora que se estende além disso, sobretudo quando ultrapassa 8 semanas, passa a ser conhecida como PIDC (polirradiculoneuropatia inflamatória desmielinizante crônica). O diagnóstico é eminentemente clínico! Entretanto, os exames de eletroneuromiografia (ENMG) e punção do LCR podem auxiliar. A ENMG pode revelar o acometimento agudo desmielinizante ou, mais raramente, axonal dos nervos periféricos, contudo, sobretudo precocemente, o exame pode ser normal! Perceba, portanto, que existem dois fenótipos neurofisiológicos: o desmielinizante e o axonal, este último, em geral, de pior prognóstico e ligado a infecções prévias pelo C. jejuni. Já o exame de LCR pode revelar dissociação albumino-citológica (elevação de proteínas sem elevação de celularidade). Cabe ressaltar que tal achado não é patognomônico de Guillain-Barré, podendo ocorrer em condições como diabetes mellitus mal compensado. Além disso, a dissociação albumino-citológica não ocorre em todos os pacientes; em cerca de 10 a 25% deles, mesmo após 3 semanas do início dos sintomas, esse achado não será evidenciado. Destaco, ainda, que algumas bancas maldosas podem descrever elevação de celularidade nos pacientes com Guillain-Barré. É raro, mas pode ocorrer, em geral, não ultrapassando 20 células no LCR. O tratamento é feito com plasmaférese ou infusão de imunoglobulina, não sendo o corticoide uma opção terapêutica. Cabe ressaltar que, especialmente em crianças, o tratamento fica reservado para o aparecimento de disfunção bulbar (disfagia ou disfonia), ventilatória ou piora do quadro motor. Em suma, não é todo o paciente que deve receber o tratamento precocemente! Em casos leves e em melhora, o tratamento pode ser conservador. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 4 RESIDÊNCIA MÉDICA Alguns sinais e sintomas podem apontar para diagnósticos diferenciais de paralisia flácida aguda, fique atento: • Hiponatremia, dor abdominal de repetição, sintomas neuropsiquiátricos: porfiria intermitente aguda. Doença genética causada por um defeito enzimático na metabolização do heme, gerando acúmulo de metabólitos tóxicos (ácido delta-aminolevulínico e porfobilinogênio), o que pode levar à associação de sintomas descrita. • Presença de urgincontinência urinária, déficit sensitivo em nível e síndrome do neurônio motor superior: sugere mielopatia. Note que, embora incomum, um paciente com Guillain-Barré pode apresentar urgincontinência urinária no contexto de sintomas disautonômicos. • Acometimento motor isolado: pode sugerir infecções “polio-like”, sendo a mais conhecida a infecção pelo West Nyle virus. Além da própria poliomielite (muito embora esteja erradicada do Brasil). • Sintomas com propagação descendente e associação com disfunção pupilar: pode sugerir botulismo.com crepitações em 1/3 médio de ambos os pulmões; hepatomegalia dolorosa a 6 cm do RCD e edema ++/4 em membros inferiores. Saturação periférica de O₂ = 80% em ar ambiente. Diante do caso descrito, assinale a conduta correta a ser adotada na sala de emergência. A) Furosemida EV, nitrato EV, morfina EV e manutenção de carvedilol, sacubitril/valsartana e espironolactona. B) Dobutamina EV, furosemida EV, nitrato EV, suspender espironolactona, reduzir carvedilol pela metade e manter sacubitril/valsartana. C) Furosemida EV, digital EV, morfina EV e suspender espironolactona, sacubitril/valsartana e carvedilol. D) Dobutamina EV, furosemida EV, suspender espironolactona, sacubitril/valsartana e carvedilol. Comentários: Caro Estrategista, No paciente da questão, temos sinais e sintomas inequívocos de IC aguda: dispneia progressiva, edema de membros inferiores, B3, crepitações pulmonares... Devemos avaliar se há baixa perfusão (extremidades frias, baixo débito urinário, tempo de enchimento capilar aumentado, estado mental alterado, entre outros) e congestão (turgência jugular, refluxo hepatojugular, edema periférico, B3, dispneia, crepitações, entre outros). Em algumas bibliografias, esses perfis são classificados por letras: Fonte: Trello Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 33 RESIDÊNCIA MÉDICA Esse paciente apresenta sinais clássicos de congestão pulmonar e sistêmica com perfusão reduzida. Portanto, está classificado como frio e úmido (perfil C). Como vamos tratar? Veja o algoritmo: PACIENTE COM IC AGUDA PRESENÇA DE CONGESTÃO? PERFUSÃO PERIFÉRICA ADEQUADA? Paciente”úmido” SIM SIM NÃO SIM NÃO QUENTE-ÚMIDO IC nova Vasodilatador Diurético baixa dose Vasodilatador Diurético alta dose Vasodilatador Diurético Considerar inotrópico em casos refratários Inotrópico considerar vasopressor Durético (após correção da hipoperfusão) Considerar suporte mecânico se não houver resposta IC crônica agudizada PASterminal ou com menor redundância vascular, como a flexura esplênica, que representa uma zona limítrofe entre a irrigação das artérias mesentérica superior e mesentérica inferior – uma região de anastomose fisiológica entre essas duas, vascularização chamada arcada de Riolan. Essa característica anatômica torna a flexura esplênica particularmente vulnerável à isquemia, explicando porque, muitas vezes, a dor e os achados clínicos localizam-se no quadrante superior esquerdo. Adicionalmente, a hipoperfusão colônica durante o exercício pode ser agravada por desidratação, perda de eletrólitos e hipotensão relativa, que aumentam a vulnerabilidade da mucosa. O estresse mecânico associado à corrida, incluindo aumento da pressão intra- abdominal e movimentos repetitivos do intestino durante o impacto, pode gerar microtraumas na mucosa já fragilizada. A hipóxia tecidual desencadeia uma cascata inflamatória, com ativação de radicais livres e mediadores pró-inflamatórios que amplificam a lesão mucosa e podem induzir edema e hemorragia. Esses mecanismos explicam os achados clínicos clássicos: dor abdominal difusa ou em quadrante esquerdo, frequentemente acompanhada de diarreia sanguinolenta, náuseas ou urgência evacuativa. O diagnóstico da colite isquêmica induzida por exercício é essencialmente clínico, apoiado por exames de imagem em casos mais graves ou quando o diagnóstico é incerto. A tomografia computadorizada pode evidenciar espessamento segmentar da parede colônica, sinais de edema ou perfusão reduzida, enquanto a colonoscopia permite avaliação direta da mucosa, detectando edema, eritema e, ocasionalmente, áreas de necrose superficial. O manejo é predominantemente conservador. A prioridade é a correção da desidratação, reposição eletrolítica adequada e suspensão temporária do esforço físico. Antibióticos não são indicados rotineiramente, sendo reservados para pacientes com sinais de infecção sistêmica, perfuração ou necrose colônica. Intervenção cirúrgica é raríssima, aplicada apenas em complicações graves. O conhecimento dos fatores anatômicos e fisiopatológicos é crucial, não apenas para o tratamento, mas também para prevenção. Estratégias preventivas incluem hidratação adequada antes e durante o exercício, aumento gradual da intensidade do treinamento, monitorização de sinais de alerta, como dor abdominal persistente ou diarreia sanguinolenta, e atenção especial a atletas com fatores de risco adicionais, como hipertensão, aterosclerose ou uso de fármacos vasoconstritores. Em síntese, a colite isquêmica relacionada ao exercício é resultado de múltiplos fatores: redistribuição do fluxo sanguíneo durante esforço intenso, vulnerabilidade anatômica da flexura esplênica, desidratação, alterações eletrolíticas e estresse mecânico intestinal. O manejo conservador é eficaz na maioria dos casos, e a compreensão desses mecanismos é essencial para orientar o acompanhamento clínico e prevenir recidivas. Por fim, vamos analisar a imagem da questão e nossas alternativas: A) Incorreta a alternativa A: a letra “A” aponta para o estômago, tentando induzir o aluno a pensar em úlceras de estresse, que estão mais comummente associadas a idosos com internações prolongadas e estresse metabólico crônico. Não é a melhor alternativa para o caso apresentado. B) Correta a alternativa B: a letra “B” aponta para a flexura esplênica, exatamente o local mais comum de sofrimento de mucosa após exercícios físicos extenuantes em pacientes jovens, como já explicado na resolução. C) Incorreta a alternativa C: a letra “C” aponta para flexura hepática, que, diferentemente da flexura esplênica, é bem irrigada pela artéria mesentérica superior, não sendo uma zona de transição e, portanto, sendo menos suscetível ao sofrimento por desidratação por meio dos mecanismos já explicados na resolução. D) Incorreta a alternativa D: a letra “D” aponta para intestino delgado, que, assim como já explicado anteriormente, também é uma região bem suprida pela artéria mesentérica superior. Fonte: Kaiser, A. M., Jiang, J., Ellett, M., & Nguyen, N. T. (2007). The spectrum of ischemic colitis: clinical, radiologic, endoscopic, and histopathologic findings. The American Journal of Surgery, 193(4), 445-450. https://doi.org/10.1016/j.amjsurg.2006.12.038 Gabarito: B Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 37 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 38 RESIDÊNCIA MÉDICA 22. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 67 anos, hipertenso controlado com losartana e ex-tabagista (20 maços- ano), apresenta histórico de alteração do hábito intestinal há 4 meses, associada a episódios de distensão abdominal e sensação de evacuação incompleta. Nega perda ponderal importante. Realizou pesquisa de sangue oculto nas fezes, que foi positiva. Ao exame físico: paciente em bom estado geral, corado, hidratado, afebril, IMC de 27 kg/m², abdome globoso, ruídos hidroaéreos presentes, leve dor difusa à palpação profunda, sem defesa ou sinais de peritonite. Toque retal sem massas palpáveis, esfíncter normotônico. Exames laboratoriais: hemoglobina = 9,2 g/dL, hematócrito = 29%, leucócitos = 6.800/mm³, plaquetas = 250.000/mm³, creatinina = 0,9 mg/ dL, CEA = 12 ng/mL (VRdo câncer retal, mas pode ser considerada em casos selecionados de alto risco, como margens positivas, perfuração, abscesso ou doença T4 com penetração em estruturas adjacentes. Focando, agora, a questão linfonodal, ponto mais específico dessa questão, a ressecção linfonodal é um componente crítico para garantir o tratamento curativo e o adequado estadiamento oncológico. Durante a colectomia, além da remoção completa do segmento de cólon acometido pelo tumor, deve-se incluir o pedículo vascular correspondente e a drenagem linfática regional, retirando um número adequado de linfonodos, geralmente ≥ 12, conforme recomendação das diretrizes internacionais. Essa abordagem permite não apenas a remoção de possíveis micrometástases, que podem impactar diretamente a sobrevida do paciente, mas também fornece informações fundamentais para o estadiamento patológico, influenciando decisões sobre quimioterapia adjuvante, especialmente nos casos de doença estágio II de alto risco ou estágio III (linfonodo positivo). A qualidade da ressecção linfonodal está associada à redução do risco de recidiva locorregional e melhora da sobrevida global. O cirurgião deve respeitar os limites anatômicos do pedículo vascular, incluindo artéria mesentérica superior ou inferior, Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 39 RESIDÊNCIA MÉDICA conforme a localização do tumor, garantindo a retirada completa da drenagem linfática associada. Em tumores localmente avançados ou T4, a extensão da ressecção linfonodal pode ser maior, incluindo linfonodos próximos a estruturas adjacentes envolvidas. Portanto, a ressecção linfonodal não é apenas um detalhe técnico, mas um elemento central do tratamento cirúrgico curativo do câncer de cólon, garantindo controle local da doença, estadiamento preciso e fundamentando decisões terapêuticas subsequentes. Agora, vamos analisar nossas alternativas e responder corretamente à questão: A) Incorreta a alternativa A: para câncer de cólon localizado, a cirurgia primária é o tratamento curativo. A quimioterapia neoadjuvante não é rotina, sendo reservada a casos selecionados de tumores localmente avançados ou não ressecáveis, o que não se aplica ao paciente estável com tumor ressecável. B) Incorreta a alternativa B: embora a ressecção segmentar seja tecnicamente possível, margens curtas e ausência de linfadenectomia adequada podem comprometer o estadiamento e aumentar risco de recidiva. A ressecção oncológica deve respeitar margens amplas e drenagem linfática regional. C) Correta a alternativa C: essa conduta é padrão-ouro para câncer de cólon ressecável. A remoção do segmento tumoral com margens seguras e linfadenectomia adequada permite controle local, estadiamento preciso e fundamenta decisões sobre quimioterapia adjuvante. A evidência indica que a retirada de ≥ 12 linfonodos é associada à melhor sobrevida e redução do risco de recidiva. D) Incorreta a alternativa D: a anastomose primária pode ser realizada em pacientes clinicamente estáveis e sem risco de complicações, mesmo em casos de obstrução parcial. Contraindicações incluem peritonite difusa, instabilidade hemodinâmica ou comprometimento severo do tecido, mas não são absolutas para todos os casos de obstrução. Fonte: UPTODATE. Overview of the management of primary colon cancer. NCCN. Colon cancer, version 2.2025. national comprehensive cancer network. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 39 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 40 RESIDÊNCIA MÉDICA 23. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Mulher de 48 anos dá entrada com dor abdominal epigástrica intensa há 24h, irradiando para dorso, náuseas e vômitos. Paciente relata antecedente de consumo de álcool apenas aos sábados e domingos (3 doses por dia), quatro gestações prévias com parto vaginal, nega cirurgias prévias, nega uso de medicamentos contínuos. Tomou um comprimido de diclofenaco e um de metoclopramida antes de procurar atendimento, mas não houve melhora dos sintomas. Ao exame físico, apresenta- se em regular estado geral, corada e hidratada, sinais vitais com taquicardia discreta, normotensa e afebril, abdome globoso, flácido, sem cicatrizes ou estigmas superficiais, doloroso à palpação difusamente, sem sinais de peritonite, sem sinais de ascite, descompressão brusca negativa, sinal de Murphy e sinal de Giordano negativos. Você prescreve sintomáticos e solicita exames complementares, incluindo tomografia computadorizada apresentada a seguir, com os seguintes resultados: amilase = 850 U/L, lipase = 1.200 U/L, leucócitos = 12.000/mm³ com neutrofilia, ureia = 32 mg/dL, creatinina = 0,9 mg/dL, sódio = 139 mEq/L, potássio = 4,2 mEq/L, TGO (AST) = 65 U/L, TGP (ALT) = 45 U/L, fosfatase alcalina = 110 U/L, GGT = 210 U/L, bilirrubina total = 1,0 mg/dL, bilirrubina direta = 0,2 mg/dL, bilirrubina indireta = 0,8 mg/dL.Troponina ultrassensível abaixo do valor de referência; ECG ritmo sinusal 90 bpm sem sinais de síndrome coronariana aguda. Com base no caso e na imagem a seguir, qual é a alternativa correta? A) Trata-se de pancreatite aguda confirmada por exame de imagem e devemos, além de medidas de suporte, iniciar antibioticoterapia empírica com meropenem. B) Trata-se de pancreatite aguda edematosa, sendo necessário o manejo com suporte clínico exclusivo, sem antibioticoterapia ou medidas cirúrgicas nesse momento. C) O exame de imagem não confirma pancreatite aguda, mas o quadro clínico e os exames laboratoriais são suficientes para diagnóstico. D) O exame de imagem não confirma pancreatite aguda, portanto devemos ampliar a investigação com ressonância magnética em até nas próximas 24h. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 41 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: A pancreatite aguda é uma inflamação súbita do pâncreas, que se manifesta principalmente por dor abdominal intensa, geralmente localizada em epigástrio, muitas vezes irradiando para as costas, acompanhada por elevação das enzimas pancreáticas. O enunciado da questão traz um quadro clínico típico, seguido da confirmação laboratorial com amilase e lipase elevadas. Por algum motivo, que não é explicitado no texto da questão, foi solicitado um exame de tomografia computadorizada de abdome, que nos é apresentado com um corte axial do corpo pancreático sem alterações, sem densificação de gordura ou qualquer outro sinal de inflamação. Vamos rever alguns conceitos sobre pancreatite aguda para analisar melhor nossas alternativas. Entre as causas de pancreatite aguda, a litíase biliar é a mais frequente, sendo responsável por 40 a 70% dos casos, de acordo com a literatura. Apesar de apenas 3 a 7% dos pacientes com colelitíase desenvolverem pancreatite, a alta prevalência de cálculos biliares na população justifica essa etiologia ser tão relevante. O mecanismo pelo qual os cálculos desencadeiam a inflamação não é completamente elucidado, mas as hipóteses mais aceitas envolvem refluxo de bile para o ducto pancreático devido à obstrução transitória da ampola de Vater, ou obstrução direta causada por um cálculo impactado, associada a edema secundário. É importante ressaltar que cálculos menores do que 5 mm têm maior propensão a migrar e causar esse bloqueio. Essa associação é tão clara que a realização da colecistectomia e da desobstrução das vias biliares reduz significativamente a chance de recorrência, consolidando a relação causal. O diagnóstico da pancreatite aguda é estabelecido quando pelo menos dois dos três critérios estão presentes: dor abdominal característica (início súbito, intensa, contínua, geralmente em andar superior e irradiando para dorso), elevação da amilase ou lipase sérica em pelo menos três vezes o limite superior da normalidade e achados típicos em exames de imagem. Entre os marcadoreslaboratoriais, a lipase é preferida por maior sensibilidade e especificidade, além de permanecer elevada por mais tempo do que a amilase, sendo especialmente útil em apresentações tardias. A classificação de Atlanta revisada é fundamental na definição da morfologia e gravidade da doença. Do ponto de vista morfológico, a pancreatite pode ser intersticial edematosa, com inflamação do parênquima e tecidos peripancreáticos sem necrose, ou necrosante, quando há necrose pancreática e/ou peripancreática – porém não é possível estabelecer uma diferença morfológica no nas primeiras 48-72h de doença. Quanto à gravidade, classifica-se em três formas: leve (sem falência orgânica nem complicações locais ou sistêmicas), moderadamente grave (falência orgânica transitória ≤ 48h e/ou complicações locais) e grave (falência orgânica persistente > 48h, em um ou mais sistemas – respiratório, cardiovascular ou renal – definida por escore ≥ 2 no sistema de Marshall modificado). Cerca de 80% dos casos são leves, enquanto formas graves representam menos de 5%, mas estão associadas a alta mortalidade. A imagem desempenha papel relevante tanto no diagnóstico quanto na avaliação de complicações. A ultrassonografia abdominal é frequentemente o primeiro exame, sendo útil para investigar a etiologia biliar, embora possa ser limitada pela interposição gasosa. A tomografia computadorizada (TC) com contraste é o método padrão para avaliar extensão da inflamação, presença de necrose e coleções, mas é recomendada após 72 horas do início dos sintomas para melhor acurácia. Achados incluem aumento difuso ou focal do pâncreas, borramento da gordura peripancreática e ausência de realce em áreas necróticas. A ressonância magnética, especialmente com colangiopancreatografia por ressonância (MRCP), é alternativa em pacientes com contraindicação ao contraste iodado e oferece melhor caracterização de ductos pancreáticos e biliares. Além disso, o uso da RM é vantajoso em casos de dúvida diagnóstica precoce, pois detecta alterações antes da TC. Agora, vamos analisar nossas alternativas e marcar a mais adequada. A) Incorreta a alternativa A: o exame de imagem fornecido apresenta pâncreas dentro da normalidade, sem sinais de necrose, coleções ou alterações compatíveis com pancreatite, o que é esperado pelo tempo de doença inferior a 72h. Além disso, na pancreatite aguda, não há indicação de antibioticoterapia profilática de rotina, como se acreditava no passado. O uso de meropenem seria indicado apenas em casos de pancreatite necrotizante infectada, uma complicação mais tardia (7-10 dias após início dos sintomas), o que não ocorre nesse cenário com 24h de instalação da doença. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 41 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 42 RESIDÊNCIA MÉDICA B) Incorreta a alternativa B: embora o manejo de pancreatite edematosa seja, de fato, clínico, o diagnóstico definitivo ainda não pode ser confirmado por imagem no caso apresentado. A paciente apresenta amilase e lipase elevadas, dor epigástrica característica, mas a tomografia não mostra alterações pancreáticas. Portanto, o diagnóstico é baseado em critérios clínico-laboratoriais, não na imagem. C) Correta a alternativa C: o diagnóstico de pancreatite aguda é estabelecido pela presença de pelo menos dois dos três critérios clássicos: dor abdominal característica, elevação de amilase ou lipase acima de três vezes o limite superior da normalidade e/ou alterações compatíveis na imagem. Nesse caso, a paciente apresenta dor abdominal epigástrica característica e elevação significativa de enzimas pancreáticas, satisfazendo os critérios diagnósticos, mesmo com tomografia normal. O manejo inicial é clínico, incluindo hidratação, controle da dor e suporte nutricional, sem necessidade de antibioticoterapia ou intervenção cirúrgica imediata. D) Incorreta a alternativa D: a ressonância magnética pancreática pode ser útil em casos de dúvida diagnóstica, mas, nesse cenário, a elevação significativa de amilase e lipase associada à dor epigástrica é suficiente para o diagnóstico de pancreatite aguda. Solicitar RM imediatamente não é necessário e não adicionaria informações relevantes para manejo do caso. Na suspeita inicial de pancreatite, o exame inicial a ser solicitado é o USG de abdome superior para investigar colelitíase e outras complicações associadas da via biliar, uma vez que a maioria das pancreatites agudas têm origem biliar. Fonte: BANKS, Peter A. et al. Acute pancreatitis: Etiology. In: UpToDate, WILCOX, C. Mel (Ed.). Waltham, MA: UpToDate Inc., 2024.BANKS, Peter A.; Bollen, Timothy L.; Dervenis, Christos; et al. Classification of acute pancreatitis — 2012: revision of the Atlanta classification and definitions by international consensus. Gut, v. 62, n. 1, p. 102-111, 2013. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 43 RESIDÊNCIA MÉDICA 24. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 55 anos procurou o pronto-socorro por dor abdominal em epigástrio com início há 3 dias, em queimação, contínua, associada a dois episódios de evacuação com fezes enegrecidas nas últimas 24 horas, relata uso diário de diclofenaco por artrose de joelho há mais de 5 anos e tabagismo de 30 maços-ano. Nega etilismo ou uso de anticoagulantes. Ao exame físico, encontra-se consciente, orientado, corado, afebril, com PA de 118 × 72 mmHg, FC de 86 bpm, Sat O₂ de 98% em ar ambiente. Abdome plano, ruídos hidroaéreos presentes, dor discreta à palpação profunda em epigástrio, sem sinais de peritonite, fígado e baço não palpáveis. Toque retal revela fezes enegrecidas, sem lesões tocáveis. Hemograma mostra hemoglobina de 10,5 g/ dL, leucócitos de 8.400/mm³, plaquetas de 250 mil/mm³. Foi submetido à endoscopia digestiva alta com o resultado apresentado nas imagens a seguir. Quais são a classificação de Forrest e a conduta adequada? A) Forrest IA; adrenalina intralesional exclusiva. B) Forrest IB; nenhuma intervenção hemostática. C) Forrest IIA; hemostasia com clipes metálicos. D) Forrest IIC; hemospray. Comentários: A hemorragia digestiva alta (HDA) por úlcera péptica permanece como uma das emergências gastrointestinais mais relevantes, tanto pelo impacto clínico quanto pelo potencial risco de mortalidade e ressangramento, sendo tema frequente em provas de Residência Médica. Nossa questão traz o caso de um paciente com HDA exteriorizada por melena (relato de fezes enegrecidas), sendo, então, realizada endoscopia digestiva alta (EDA) que confirmou se tratar de um sangramento não varicoso, por úlcera provavelmente péptica (causa mais comum de HDA). As imagens de EDA revelam mucosa gástrica intacta na primeira imagem e um vaso visível, mas sem sangramento ativo, na mucosa duodenal na segunda imagem. Agora, vamos revisar um pouco sobre HDA não varicosa para respondermos nossa questão. A conduta inicial é suporte hemodinâmico rigoroso, com reposição volêmica guiada por parâmetros clínicos e laboratoriais, além da administração precoce de inibidores de bomba de prótons (IBP) em altas doses por via intravenosa, visando estabilizar o coágulo e reduzir o pH gástrico. A EDA deve ser realizada idealmente nas primeiras 24 horas após estabilização, permitindo diagnóstico e tratamento. A estratificação de risco endoscópico utiliza a classificação de Forrest, essencial para definição terapêutica. Lesões Forrest Ia (sangramento em jato), Ib (sangramento em babação), IIa (vaso visível) e IIb (coágulo aderido) apresentam elevado risco de ressangramento (cerca de 50-90%) e indicam hemostasia endoscópica. Já as Forrest IIc (base com hematina) e III (base limpa) são consideradas baixo risco, podendo ser manejadas apenas com supressão ácida. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 43 EstratégiaMED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 44 RESIDÊNCIA MÉDICA As modalidades endoscópicas incluem terapias térmicas (coagulação bipolar, sonda térmica), mecânicas (clipes hemostáticos) e terapias combinadas, geralmente associadas à injeção de epinefrina. A monoterapia com epinefrina não é recomendada isoladamente devido ao maior risco de ressangramento; deve ser sempre seguida de método definitivo (mecânico ou térmico). Tanto clipes quanto terapias térmicas apresentam eficácia semelhante, sendo a escolha determinada por características anatômicas da lesão e experiência do endoscopista. Vamos analisar o que seria mais recomendado para cada padrão de achado endoscópico: • Forrest Ia e Ib:São lesões de altíssimo risco, com taxas de ressangramento superiores a 80% se não tratadas. A conduta indicada é hemostasia endoscópica imediata utilizando terapia combinada, que consiste na injeção de adrenalina (diluição 1:10.000) associada a um método definitivo, como coagulação térmica (sonda térmica, bipolar) ou clipes hemostáticos. A monoterapia com adrenalina não é suficiente, pois proporciona apenas tamponamento temporário. Após a intervenção, deve-se iniciar IBP em alta dose (por exemplo, omeprazol 80 mg em bólus, seguido de infusão contínua 8 mg/h por 72 horas), o que reduz significativamente o risco de ressangramento. • Forrest IIa: Também apresenta risco elevado de ressangramento (cerca de 50%). A conduta é semelhante aos sangramentos ativos, com hemostasia endoscópica mandatória. O tratamento padrão é mecânico (clipes) ou térmico, associado ou não à injeção de adrenalina. Caso o vaso esteja parcialmente coberto por fibrina, deve-se expô-lo cuidadosamente antes da aplicação do método definitivo. • Forrest IIb: Representa risco intermediário (10–20%). Recomenda-se tentativa de remoção do coágulo com irrigação vigorosa; se possível, realizar hemostasia da base conforme conduta para IIa. Caso não seja possível remover o coágulo sem risco, é aceitável manter apenas IBP intravenoso em altas doses, embora estudos mostrem benefício adicional quando a base é tratada. • Forrest IIc: Risco baixo (defeito com fio monofilamento permanente ou absorvível, em técnica contínua ou interrompida. Em pacientes estáveis, reparo minimamente invasivo via laparoscopia preferível, apresentando menor morbidade e alta taxa de sucesso. Lesões à direita pequenas e assintomáticas, tamponadas pelo fígado, podem ser manejadas de forma não operatória. Lesões agudas, como na avaliação do trauma, são tipicamente reparadas por via abdominal, enquanto lesões crônicas ou hérnias diafragmáticas como complicação de defeito não corrigido inicialmente podem requerer abordagem torácica. Em casos raros com grande perda de tecido, pode-se utilizar próteses não absorvíveis, desde que não haja contaminação colônica. Lesões associadas graves podem exigir abordagem diferenciada, e princípios de cirurgia de controle de dano devem ser aplicados quando necessário. Em resumo, o diagnóstico precoce, a avaliação adequada das lesões associadas e a escolha criteriosa da via cirúrgica — via abdominal ou torácica, por via aberta ou minimamente invasiva — são essenciais para reduzir morbidade e mortalidade em traumas diafragmáticos. A) Correta a alternativa A: em pacientes hemodinamicamente estáveis com suspeita de lesão diafragmática por trauma contuso ou penetrante, a laparoscopia diagnóstica permite confirmar o diagnóstico e realizar reparo minimamente invasivo. Evidências recentes mostram que essa abordagem reduz a morbidade e o tempo de recuperação, mantendo eficácia equivalente à cirurgia aberta em pacientes selecionados. Além disso, permite inspeção abdominal para lesões associadas, especialmente em trauma de alta energia. B) Incorreta a alternativa B: toracotomia é geralmente reservada para casos instáveis ou quando há necessidade de controlar hemotórax maciço, lesão pulmonar grave ou diagnóstico de hérnia diafragmática crônica. Em trauma agudo e paciente estável, a abordagem torácica aberta apresenta maior morbidade e não é preferida em relação à laparoscopia. C) Incorreta a alternativa C: laparotomia de controle de danos é indicada em pacientes instáveis hemodinamicamente, com risco de choque hemorrágico ou múltiplas lesões intra-abdominais graves. No paciente descrito, a estabilidade hemodinâmica torna essa abordagem desnecessária e mais agressiva, aumentando complicações pós-operatórias. D) Incorreta a alternativa D: a observação pode ser considerada em pequenos traumatismos diafragmáticos diretos sem perfuração ou hérnia, mas, em fraturas de arcos costais inferiores esquerdos associadas à lesão esplênica grau IV e sinais radiológicos de ruptura diafragmática, a conduta conservadora apresenta risco significativo de hérnia e estrangulamento visceral tardio, sendo inaceitável como primeira escolha. Fonte: American College of Surgeons. ATLS: Advanced Trauma Life Support Student Course Manual. 10th ed. Chicago: American College of Surgeons; 2018. MASTERS, F. W. et al. Diaphragmatic injury: recognition and surgical management. UpToDate, 2025. Disponível em: https://www.uptodate.com. Acesso em: 13 ago. 2025. Gabarito: A Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 47 RESIDÊNCIA MÉDICA 26. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Você recebe, na sala de trauma, um homem de 55 anos, vítima de trauma de bicicleta x anteparo fixo a 40 km/h há 30min e faz o seguinte atendimento inicial ao trauma: A – via aérea com estridor audível, fala incompleta, presença de hematoma cervical em expansão, com colar cervical rígido; B – murmúrios vesiculares presentes bilateralmente, sem ruídos adventícios adicionais, expansibilidade simétrica, saturação de O₂: 92% em ar ambiente, FR: 24 irpm, uso discreto de musculatura acessória; C – PA: 98 × 60 mmHg, FC: 122 bpm, não recebeu volume no transporte, pulsos periféricos palpáveis, perfusão capilara realização de tomografia. Fonte: American College of Surgeons. ATLS: Advanced Trauma Life Support Student Course Manual. 10th ed. Chicago: American College of Surgeons; 2018. Gabarito: C 27. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 82 anos, portador de DPOC e insuficiência cardíaca, internado há 12 dias em UTI por exacerbação respiratória, evoluiu com distensão abdominal há 3 dias. Exame físico: abdome distendido, timpânico, indolor à palpação. Radiografia abdominal: dilatação colônica difusa, ceco com 11 cm, sem fatores obstrutivos. Leucócitos: 8.400/mm³, hemoglobina: 13,5 g/dL, hematócrito: 40%, plaquetas: 230.000/mm³, sódio: 139 mEq/L, potássio: 2,8 mEq/L, cloro: 102 mEq/L, cálcio total: 9,0 mg/dL, magnésio: 1,4 mg/dL, fósforo: 3,4 mg/dL, ureia: 55 mg/dL, creatinina: 1,2 mg/dL, AST: 22 U/L, ALT: 25 U/L, fosfatase alcalina: 80 U/L, amilase: 70 U/L, bilirrubina total: 0,8 mg/dL, bilirrubina direta: 0,2 mg/dL, proteína total: 6,8 g/dL, albumina: 3,9 g/dL, lactato venoso: 1,8 mmol/L, PCR: 8 mg/L. Após 48h com medidas conservadoras de correção hidroeletrolítica, suspensão de opioides e mobilização, não houve melhora clínica. Considerando que o paciente mantenha estabilidade hemodinâmica e o padrão do exame de imagem inalterado, que conduta a seguir é a mais indicada? A) Derivação do trânsito intestinal. B) Colonoscopia descompressiva. C) Manutenção de medidas conservadoras por mais 24h D) Colectomia total preventiva. Comentários: A questão traz um paciente idoso em cuidados intensivos há 12 dias com quadro de distensão abdominal e radiografia com padrão de distensão baixa, sem fatores obstrutivos. Perceba que não há sinais de perfuração intestinal ou sofrimento de alça por meio da radiografia e dos exames laboratoriais (amilase e lactato dentro da normalidade). Esse é um caso típico de síndrome de Ogilvie, ou pseudo-obstrução intestinal aguda, que é caracterizada por dilatação aguda do cólon na ausência de uma lesão anatômica que obstrua o trânsito intestinal. Clinicamente, manifesta-se com distensão abdominal e dor, simulando uma obstrução mecânica, porém sem causa estrutural identificável. O diagnóstico deve ser suspeitado em pacientes com abdome distendido e timpânico, e a avaliação objetiva descartar complicações como isquemia, perfuração ou peritonite. Exames laboratoriais incluem hemograma, eletrólitos (potássio, cálcio, magnésio), lactato e, em casos selecionados, função tireoidiana, amilase, lipase e exames de fezes, embora não existam achados laboratoriais patognomônicos. Imagem é essencial, sendo a tomografia abdominal o exame padrão-ouro para diferenciar pseudo-obstrução de obstrução mecânica e identificar fatores precipitantes intra-abdominais. Em alternativa, pode-se utilizar enema contrastado, desde que não haja sinais de peritonite. O manejo inicial de pacientes estáveis e sem sinais de isquemia ou perfuração é conservador, incluindo correção de distúrbios eletrolíticos, suspensão de medicamentos que reduzem a motilidade colônica, jejum, fluidoterapia intravenosa, descompressão gástrica com sonda nasogástrica e posicionamento alternado para favorecer o trânsito intestinal. A taxa de sucesso do tratamento conservador varia entre 70 e 90%, com resolução geralmente em três dias. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 49 RESIDÊNCIA MÉDICA Quando há diâmetro cecal > 12 cm, dor intensa ou falha do manejo conservador, a terapia farmacológica com neostigmina, inibidor de acetilcolinesterase, é indicada. A administração deve ser lenta, com monitorização contínua de sinais vitais, eletrocardiografia e prontidão para atropina em caso de bradicardia. A resposta é rápida, com descompressão em minutos e taxa de sucesso de 89%, podendo repetir a dose em 24 horas se houver resposta parcial. Para pacientes que não respondem ou têm contraindicações à neostigmina, realiza-se descompressão colonoscópica com colocação de tubo de descompressão, minimizando insuflação e risco de perfuração. Pacientes com isquemia colônica, perfuração ou peritonite, ou refratários às terapias médica e endoscópica, necessitam de manejo cirúrgico, incluindo criação de estoma com ou sem ressecção intestinal. Outras estratégias, como eritromicina ou colostomia percutânea, são opções limitadas e dependem de experiência e seleção cuidadosa de pacientes. O enfoque terapêutico progressivo da síndrome de Ogilvie prioriza a descompressão precoce do cólon, monitorização contínua e intervenção escalonada conforme resposta clínica, reduzindo risco de complicações graves e mortalidade associada. Podemos, agora, analisar nossas alternativas e responder a questão: A) Incorreta a alternativa A: esse procedimento cirúrgico é invasivo e reservado para casos refratários ou complicados, quando há isquemia, perfuração ou falha da colonoscopia descompressiva. Não é a primeira escolha em pacientes hemodinamicamente estáveis sem sinais de sofrimento intestinal. B) Correta a alternativa B: é a conduta indicada em pacientes com síndrome de Ogilvie que não respondem a medidas conservadoras em 24- 48h, especialmente quando a dilatação cecal excede 10-12 cm. Permite descompressão rápida do cólon, reduz risco de perfuração e evita cirurgia desnecessária. A colonoscopia deve ser realizada com mínima insuflação de ar, idealmente com CO₂, e pode incluir colocação de tubo de descompressão. Não havendo, entre as opções, a terapia com neostigmina, ficamos com a colonoscopia descompressiva como a conduta mais indicada. C) Incorreta a alternativa C: o paciente já recebeu 48h de manejo conservador sem melhora clínica, com ceco dilatado a 11 cm, aumentando o risco de perfuração. A continuação do manejo conservador atrasaria intervenção necessária e poderia levar a complicações graves. D) Incorreta a alternativa D: é uma intervenção cirúrgica de alto risco, indicada apenas para pacientes com perfuração, isquemia ou falha da terapia endoscópica. Em pacientes estáveis, é desnecessária e associa-se à elevada morbidade e mortalidade. Fonte: KATZ, M. H.; et al. Acute colonic pseudo-obstruction (Ogilvie’s syndrome): Diagnosis and management. UpToDate, 2023. Disponível em: https:// www.uptodate.com. Gabarito: B Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 49 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 50 RESIDÊNCIA MÉDICA 28. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Paciente do sexo masculino de 47 anos, previamente hígido, com história recente de apendicite complicada tratada há 6 semanas por drenagem percutânea guiada por imagem e antibioticoterapia endovenosa por 14 dias, retorna para avaliação ambulatorial assintomático, sem dor abdominal, febre ou alterações no hábito intestinal. Ao exame físico, encontra-se afebril, com abdome plano, flácido, sem ruídos hidroaéreos alterados, indolor à palpação profunda em fossa ilíaca direita, sem sinais de irritação peritoneal ou massa palpável. Exames laboratoriais revelam leucócitos: 10.600/mm³, hemoglobina: 12,5 g/dL, hematócrito: 38%, plaquetas: 320.000/mm³, sódio: 140 mEq/L, potássio: 4,1 mEq/L, ureia: 35 mg/dL, creatinina: 1,0 mg/dL, PCR: 20 mg/L. Tomografia computadorizada de controle mostra massa residual periapendicular sem evidências de abscesso ou coleção líquida. Diante desse quadro, qual é a conduta mais adequada? A) Nova antibioticoterapia prolongada. B) Colonoscopia diagnóstica. C) Observação clínica e seguimento com imagem periódica. D) Apendicectomia com ressecção ampla. Comentários: A apendicite perfurada é uma complicação relevante da apendicite aguda, ocorrendo em cerca de 13 a 20% dos casos, especialmente em homens e idosos. Essa questão traz um paciente de 47 anos, em que a decisão sobre apendicectomia de intervalo já foi tomada, e pergunta qual é o próximo passo após 6 semanas de resolução do quadro. Para revisar o tema, vamosanalisar o quadro de apendicite complicada desde o início dos sintomas, antes de qualquer terapêutica ser instituída. Inicialmente, o manejo depende da estabilidade clínica e do tipo de perfuração. Pacientes instáveis ou com perfuração livre devem ser submetidos à apendicectomia de urgência, associada à drenagem peritoneal, após ressuscitação volêmica adequada. Em pacientes estáveis, com abscesso ou flegmão, pode-se optar por apendicectomia precoce ou tratamento inicial não operatório, com antibióticos, hidratação, repouso intestinal e drenagem percutânea quando possível, reservando a cirurgia para falhas terapêuticas (apendicectomia de resgate) ou de forma eletiva após resolução do quadro (apendicectomia de intervalo). Evidências sugerem que a cirurgia imediata em pacientes estáveis pode reduzir abscessos subsequentes, porém aumenta risco de complicações, como necessidade de colectomia direita, devido à inflamação intensa. A antibioticoterapia deve abranger bacilos gram-negativos e anaeróbios, ajustando conforme culturas. Após controle da infecção, mantêm-se os antibióticos por dois a quatro dias; no tratamento conservador, o curso total varia entre sete e dez dias. A drenagem percutânea reduz complicações e tempo de internação. Em serviços especializados, é comum o procedimento de drenagem de abscessos maiores do que 4-5 cm por radiointervenção. Um aspecto fundamental no manejo de apendicite perfurada tratada conservadoramente é a investigação de neoplasias apendiculares, cuja incidência é significativamente maior nesses pacientes, variando entre 10 e 29% nos espécimes de apendicectomia intervalar, especialmente em indivíduos com mais de 40 anos. Neoplasias identificadas incluem tumores mucinosos de baixo grau, adenocarcinomas e carcinoides. Por isso, recomenda-se a realização de colonoscopia após resolução do processo inflamatório, preferencialmente entre seis e oito semanas após a alta, período suficiente para regressão da inflamação e segurança do exame. Essa investigação é crucial, pois, além de detectar neoplasia apendicular, avalia lesões do ceco e cólon direito que podem estar associadas. A apendicectomia de intervalo continua indicada não apenas para prevenir recidiva, que ocorre em 5 a 38% dos casos, mas principalmente para excluir neoplasia. O prognóstico depende do diagnóstico precoce, tratamento adequado e vigilância oncológica adequada após o episódio inicial. Sendo assim, vamos analisar qual é a melhor alternativa para nosso paciente com apendicite aguda após 6 semanas de tratamento não operatório. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 51 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Incorreta a alternativa A: não há sinais clínicos, laboratoriais ou radiológicos de infecção ativa. O uso de antibióticos nessa fase não traz benefício e pode gerar resistência bacteriana e efeitos adversos. B) Correta a alternativa B: indivíduos acima de 40 anos com apendicite complicada devem realizar colonoscopia para excluir neoplasia cecal ou apendicular, que podem mimetizar ou predispor ao quadro inflamatório. Essa investigação é recomendada antes de considerar cirurgia eletiva. C) Incorreta a alternativa C: embora o paciente esteja assintomático, existe risco de neoplasia oculta. Apenas observar sem investigação colônica pode retardar o diagnóstico de uma doença maligna. D) Incorreta a alternativa D: não há indicação imediata de cirurgia ampla, pois o paciente está assintomático, sem sinais de complicação. Apendicectomia de intervalo pode ser considerada posteriormente, mas a prioridade agora é descartar neoplasia com colonoscopia. Fonte:UPTODATE. Management of acute appendicitis in adults. Gabarito: B 29. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 68 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus tipo 2, submetido a cirurgia de urgência com ressecção intestinal e anastomose primária por obstrução neoplásica em sigmoide. No quinto dia pós-operatório apresenta piora progressiva do estado geral, com FC de 122 bpm, PA de 88 × 54 mmHg e redução do débito urinário. Ao exame físico, apresenta abdome distendido, sensível difusamente, com presença de dor exacerbada e sinais iniciais de irritação peritoneal. Qual é sua principal hipótese diagnóstica e qual é a conduta mais apropriada? A) Sepse de foco abdominal; suporte clínico e antibioticoterapia. B) Deiscência de anastomose; cirurgia de reexploração imediata. C) Sepse de foco abdominal; laparotomia com lavagem da cavidade. D) Deiscência de anastomose; suporte clínico exclusivo. Comentários: Temos um paciente em 5° PO de ressecção e anastomose primária por obstrução neoplásica em sigmoide que apresenta taquicardia e peritonite difusa. Esse é o cenário clássico de deiscência de anastomose gastrointestinal, que costuma ocorrer em decorrência de problemas do paciente (comorbidades, estado nutricional, etc.) entre o 5-6° PO. Quando há falha da técnica cirúrgica da anastomose, a deiscência pode ser mais precoce entre 2-4° PO. É importante lembrar que o sinal clínico mais precoce de deiscência é a taquicardia, que também é precoce para diversas outras complicações pós-operatórias – como infecção de sítio e TEP, que são eventos mais tardios (geralmente após o 7° PO). Diante dessa questão, vamos aproveitar para revisar as complicações anastomóticas após cirurgia colorretal, que representam eventos graves que aumentam a morbimortalidade e prolongam a internação. Entre as principais complicações, destacam-se sangramento, deiscência, fístulas e estenoses. O risco dessas complicações é influenciado por fatores como idade avançada, estado clínico comprometido (ASA III-V), cirurgia de emergência, desnutrição, comorbidades neurológicas e cardiorrespiratórias, além da presença de contaminação peritoneal e tempo cirúrgico prolongado. Vamos falar sobre as complicações precoces: sangramento e deiscência. O sangramento anastomótico pode ser classificado em menor, geralmente autolimitado, e maior, quando há instabilidade hemodinâmica, necessidade de transfusão ou reintervenção. O manejo inicial é conservador, com suporte hemodinâmico e correção de coagulopatias; casos refratários podem necessitar de abordagem endoscópica, angiográfica ou cirúrgica. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 51 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 52 RESIDÊNCIA MÉDICA A deiscência e o extravasamento anastomótico ocorrem em 2 a 7% das anastomoses, com incidência maior nas extraperitoneais, especialmente nas anastomoses colorretais de baixo nível. Os sinais clínicos incluem dor, febre, taquicardia, peritonite e drenagem purulenta ou fecal. Marcadores como PCR e procalcitonina elevados auxiliam na suspeita, enquanto tomografia com contraste é o exame de escolha para confirmação. Os principais fatores de risco para deiscência incluem anastomose baixa (apresente sinais sépticos (hipotensão, taquicardia, oligúria), temos um paciente em 5° PO de anastomose intestinal, período em que mais frequentemente ocorrem as deiscências, o que torna essa hipótese muito mais provável. Na suspeita de complicação cirúrgica grave, como deiscência anastomótica, apenas tratamento clínico é insuficiente. B) Correta a alternativa B: o quadro clínico (dor difusa, irritação peritoneal, instabilidade hemodinâmica no 5º PO de anastomose colorretal) é altamente sugestivo de deiscência anastomótica com peritonite difusa. Nessa situação, a abordagem deve ser laparotomia imediata para controle da fonte (lavagem, ressecção do segmento e considerar confecção de estoma conforme viabilidade, estabilidade clínica e contaminação). C) Incorreta a alternativa C: apesar de a conduta cirúrgica estar parcialmente correta, a alternativa não especifica a principal complicação (deiscência da anastomose), que é o diagnóstico mais provável. Além disso, a simples lavagem não é suficiente — é necessária correção da anastomose ou descontinuidade com ostomia. D) Incorreta a alternativa D: suporte clínico isolado é contraindicado diante de peritonite secundária a deiscência. Essa conduta atrasaria o controle da fonte, aumentando a mortalidade. Fonte:UPTODATE. Management of anastomotic complications of colorectal surgery Gabarito: B Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 53 RESIDÊNCIA MÉDICA 30. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Recém-nascido de 30 dias de vida apresenta icterícia persistente desde as primeiras semanas de vida, acompanhada de acolia fecal e colúria intensa. A mãe relata dificuldade na alimentação e perda leve de peso. Ao exame físico, o bebê encontra-se irritadiço, com hepatomegalia palpável a 3 cm abaixo do rebordo costal direito, sem esplenomegalia., com icterícia 4+/4+, sem sinais de hemorragias ou outras alterações clínicas evidentes. Os exames laboratoriais mostram bilirrubina total = 12,5 mg/dL, bilirrubina direta = 7,8 mg/dL, fosfatase alcalina = 420 U/L, gamaglutamiltransferase (GGT) = 350 U/L, transaminases TGO = 80 U/L e TGP = 90 U/L, tempo de protrombina ligeiramente prolongado, albumina = 3,2 g/dL e PCR = 10 mg/L. Ultrassonografia abdominal revela vesícula biliar atrófica e ausência de dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas. Considerando o quadro clínico, laboratorial e de imagem, qual é a conduta mais adequada? A) Alta hospitalar com seguimento ambulatorial e uso de fenobarbital. B) Colangiorressonância para confirmação diagnóstica e indicar transplante hepático. C) Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) para drenagem das vias biliares. D) Biópsia hepática para confirmação diagnóstica e realização precoce da cirurgia de Kasai. Comentários: A questão apresenta um caso de paciente 30 dias de vida com icterícia às custas de bilirrubina direta associada à colúria e acolia fecal – ou seja, uma icterícia colestática. Sempre que falarmos em icterícia colestática neonatal em sua prova você deve se lembrar de uma única doença: atresia de vias biliares (AVB). Uma doença fibro-obliterativa progressiva e idiopática das vias biliares extra-hepáticas, a AVB manifesta-se exclusivamente no período neonatal com obstrução biliar. Apesar de rara, com incidência estimada entre 1 em 10.000 a 20.000 nascidos vivos, a AVB é a principal causa de icterícia neonatal que requer intervenção cirúrgica e constitui a indicação mais comum de transplante hepático em crianças. A maioria dos recém-nascidos afetados nasce a termo, com peso normal e inicialmente sem alterações aparentes. O primeiro sinal clínico geralmente é a icterícia colestática, que pode aparecer desde o nascimento até oito semanas de vida, acompanhada frequentemente de acolia fecal e colúria, embora esses sinais possam passar despercebidos pelos cuidadores. Achados laboratoriais incluem elevação de bilirrubina direta ou conjugada e discreta elevação das aminotransferases, com aumento proporcional da gamaglutamiltransferase; coagulopatia, se presente, geralmente decorre de deficiência de vitamina K. A identificação precoce é crucial, sendo recomendado o monitoramento da bilirrubina direta/conjugada logo após o nascimento, com encaminhamento para avaliação gastroenterológica se os valores estiverem elevados ou em ascensão. Não identificar a AVB nos primeiros dias ou semanas de vida pode levar o paciente a desenvolver cirrose hepática, com pior prognóstico de tratamento. A avaliação inicial inclui exames laboratoriais, urinários e de imagem, priorizando a exclusão de doenças tratáveis. A ultrassonografia abdominal geralmente é o primeiro exame a ser solicitado na suspeita e é utilizada para excluir diferenciais de colestase e pode identificar sinais sugestivos de AVB, como ausência ou forma anormal da vesícula biliar e sinal do “cordão triangular” no hilo hepático. A biópsia hepática é o padrão-ouro para diagnóstico, identificando alterações histológicas características da AVB, diferenciando-a de outras causas de colestase, mas sua sensibilidade é de aproximadamente 88%, podendo necessitar de repetição. Apesar de o transplante hepático ser o único tratamento definitivo para AVB, uma cirurgia que mudou o prognóstico da doença é a hepatoportoenterostomia (HPE), procedimento de Kasai, que busca restabelecer o fluxo biliar do fígado para o intestino delgado. O sucesso da HPE depende da idade do paciente, sendo mais favorável quando realizada antes de 30 dias de vida, mas é muitas vezes realizada até os 60 dias de vida desde que a criança ainda não esteja em estágio cirrótico. Apesar de restabelecer o fluxo biliar em muitos casos, a maioria dos pacientes desenvolverá doença hepática progressiva e necessitará de transplante hepático, especialmente em casos de falha primária da HPE, complicações da hipertensão portal ou insuficiência hepática progressiva. O transplante é indicado preferencialmente após otimização do crescimento e suporte nutricional, ou quando há falha da HPE, com sobrevida de enxerto e paciente acima de 80% em cinco anos de pós-operatório, mostrando evolução favorável nos desfechos clínicos. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 53 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 54 RESIDÊNCIA MÉDICA Após essa revisão sobre o tema, vamos analisar nossas alternativas. A) Incorreta a alternativa A: o acompanhamento isolado não é adequado, pois a atresia biliar é uma doença progressiva e a conduta expectante atrasaria o tratamento cirúrgico essencial, aumentando o risco de falha da Kasai e a necessidade precoce de transplante. Fenobarbital não modifica o curso da doença. B) Incorreta a alternativa B: embora a colangiorressonância possa fornecer informações anatômicas sobre as vias biliares, não substitui a necessidade de confirmação histológica e avaliação cirúrgica precoce. Além disso, não há indicação de transplante primário nesse paciente estável com 30 dias de vida; a cirurgia de Kasai ainda é a primeira escolha. C) Incorreta a alternativa C: a CPRE não é indicada em neonatos para tratamento de atresia biliar, sendo tecnicamente difícil e sem benefício clínico, pois não permite restabelecer a drenagem biliar adequada. D) Correta a alternativa D: essa conduta é a mais adequada. A biópsia confirma o diagnóstico de atresia biliar, diferenciando-a de outras causas de colestase neonatal, e permite o planejamento da hepatoportoenterostomia precoce (cirurgia de Kasai), essencial para aumentar as chances de sucesso do procedimento e prolongar a sobrevivência com fígado nativo. Fonte: LaBrecque DR, et al. Biliary atresia. UpToDate, 2025. : Gabarito: D 31. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Mulher de 59 anos, do lar, portadora de hérnia incisional em quadrante superior direito do abdome há cerca de 20 anos, secundária àcolecistectomia por incisão transversa. Refere aumento progressivo do abaulamento, associado a desconforto abdominal aos esforços. Nega febre, vômitos ou dor abdominal intensa. Antecedentes: ex-tabagista 30 maços- ano (cessou há 10 anos), hipertensão arterial controlada, sem outras comorbidades relevantes. No exame físico: paciente em bom estado geral, IMC de 27 kg/m², abdome com volumosa hérnia incisional, de aproximadamente 25 cm no maior diâmetro, irredutível, pele sem alterações tróficas ou sinais de inflamação. À palpação, conteúdo de consistência amolecida, indolor, expansível à tosse. Apresenta o exame de tomografia de abdome a seguir. A equipe cirúrgica planeja correção eletiva com fechamento primário da aponeurose e uso de tela. Que exame pré-operatório a seguir é fundamental para planejamento cirúrgico e que estratégia perioperatória pode auxiliar no ganho de complacência da parede abdominal e facilitar a redução do conteúdo herniário, diminuindo o risco de síndrome compartimental abdominal no pós-operatório? Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 55 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Colonoscopia; pneumoperitônio progressivo pré-operatório. B) Colonoscopia; uso profilático de drenos abdominais. C) Ressonância magnética de abdome; técnica operatória de Chevrel. D) Ressonância magnética de abdome; aplicação de toxina botulínica na parede abdominal. Comentários: Vamos, agora, revisar um tema que sempre é cobrado pela banca: hérnias incisionais gigantes. As definições de hérnia incisional gigante na literatura não são uniformes, refletindo a complexidade e a heterogeneidade desses casos. Uma classificação comum divide as hérnias incisionais em pequenas (diâmetro inferior a 5 cm), médias (5 a 10 cm) e grandes (10 a 15 cm). No entanto, hérnias com diâmetro superior a 15 cm são frequentemente consideradas gigantes. Outra abordagem considera o conceito de perda de domínio, que se refere à situação em que uma porção significativa do conteúdo abdominal está permanentemente herniada fora da cavidade abdominal, tornando a redução imediata arriscada por risco de síndrome compartimental abdominal. Tanaka et al. propuseram um índice volumétrico baseado em tomografia computadorizada, calculando a razão entre o volume do saco herniário (HSV) e o volume da cavidade abdominal (ACV); segundo esse critério, hérnias com HSV/ACV > 25% seriam candidatas a estratégias pré-operatórias como o pneumoperitônio progressivo. No manejo de hérnias incisionais gigantes, especialmente aquelas de longa evolução com conteúdo volumoso e abaulamento significativo, o planejamento pré-operatório adequado é essencial para reduzir complicações e otimizar os resultados cirúrgicos. Antes de tudo, você deve ter em mente que estamos falando de uma cirurgia de grande porte, com internação prolongada e pós-operatório em UTI com monitor de PIA (pressão intra-abdominal) devido ao risco de síndrome compartimental abdominal. Por isso, o pré-operatório desses pacientes deve ser feito com muito cuidado, com uma boa avaliação da função pulmonar, cardíaca e comorbidades abdominais e pélvicas. Nesse cenário, devemos considerar que, ao corrigir uma hérnia gigante com colocação de tela, uma futura abordagem da cavidade abdominal será muito difícil tecnicamente em decorrência do uso de tela e, também, das aderências intestinais. Pacientes com hérnias volumosas podem desenvolver aderências extensas entre vísceras e parede abdominal, aumentando o risco de complicações intra e pós-operatórias. Sendo assim, antes da correção cirúrgica, a avaliação completa da cavidade abdominal é recomendada, sendo a colonoscopia fundamental, não apenas para rastrear lesões colônicas ocultas que possam interferir no planejamento cirúrgico, mas também para assegurar que não existam contraindicações para a manipulação intestinal durante a cirurgia. Além da colonoscopia, a literatura recomenda direcionar investigação de outras comorbidades abdominais, como vias biliares e órgãos pélvicos (afecções ginecológicas e da próstata, por exemplo), uma vez que alguns achados podem interferir na indicação cirúrgica. O fechamento primário da aponeurose em hérnias gigantes apresenta risco significativo de hipertensão intra-abdominal, podendo evoluir para síndrome compartimental abdominal. Para mitigar esse risco, estratégias perioperatórias que aumentem a complacência da parede abdominal são recomendadas, como o pneumoperitônio progressivo pré-operatório. Essa técnica consiste na insuflação gradual de ar ou gás na cavidade abdominal dias ou semanas antes da cirurgia, promovendo expansão da parede abdominal e acomodação do conteúdo herniário, o que facilita a redução do saco herniário durante o procedimento cirúrgico e diminui a pressão intra-abdominal pós-operatória. Alternativas como aplicação de toxina botulínica ou técnicas como incisões relaxadoras da musculatura da parede podem ser úteis em cenários específicos, mas o pneumoperitônio progressivo apresenta evidência robusta para a preparação de hérnias gigantes e volumosas, reduzindo complicações respiratórias, cardiovasculares e gastrointestinais pós-operatórias. A) Correta a alternativa A: a colonoscopia é indicada para avaliação pré-operatória do cólon, especialmente em hérnias de longa duração em pacientes acima de 50 anos, garantindo que não haja lesões neoplásicas. O pneumoperitônio progressivo pré-operatório é uma técnica que permite distender gradualmente a cavidade abdominal, aumentando a complacência da parede abdominal e facilitando a reintegração do conteúdo herniário, reduzindo o risco de síndrome compartimental abdominal pós-operatória. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 55 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 56 RESIDÊNCIA MÉDICA B) Incorreta a alternativa B: embora a colonoscopia seja adequada, o uso profilático de drenos não contribui para a expansão da cavidade abdominal nem previne síndrome compartimental. Drenos são indicados apenas para manejo de coleções específicas. C) Incorreta a alternativa C: a ressonância magnética não é o exame padrão para avaliação de hérnias incisionais gigantes; a tomografia computadorizada é preferida para medir o tamanho do defeito e o volume herniário. A técnica de Chevrel é uma abordagem cirúrgica específica, mas não substitui a necessidade de pré-habilitação com pneumoperitônio em hérnias com perda de domínio. D) Incorreta a alternativa D: a toxina botulínica pode auxiliar na distensão muscular em hérnias menores ou como adjuvante, mas não substitui a expansão gradual da cavidade em hérnias gigantes. A ressonância não é exame de escolha para planejamento volumétrico de grandes hérnias. Fonte: TANAKA, Eduardo Yasushi; YOO, Jae Hyun; RODRIGUES JUNIOR, Antônio José; UTIYAMA, Edivaldo Massazo; BIROLINI, Cláudio. A computerized tomography scan method for calculating the hernia sac and abdominal cavity volume in complex large incisional hernia with loss of domain. Hernia, v. 14, p. 63-69, 2010. Subirana H et al. Preoperative Progressive Pneumoperitoneum in the Treatment of Hernias With Loss of Domain. Our Experience in 50 Cases. J Abdom Wall Surg. 2023 Apr 7;2:11230. doi: 10.3389/jaws.2023.11230. PMID: 38312417; PMCID: PMC10831681. Gabarito: A 32. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 45 anos, previamente hígido, procura atendimento devido a dor abdominal inespecífica há cerca de 2 meses, sem outros sintomas associados. Nega febre, náuseas ou vômitos. Ao exame físico, apresenta abdome plano, flácido, sem dor à palpação ou massas palpáveis, sem sinais de irritação peritoneal. Ultrassonografia abdominal realizada para investigação evidencia pólipo vesicular único medindo 12 mm, sem presença de cálculos, sem espessamento da parede vesicular e sem sinais sugestivos de inflamação. Os exames laboratoriais mostramLembre-se de que existe um fenótipo clínico de Guillain-Barré, conhecido como Miller-Fisher, que envolve a tríade: ataxia, oftalmoplegia e arreflexia. Tal fenótipo se associa com a produção de anticorpos contra um antígeno específico: anti-GQ1b. Vamos às alternativas: A) Incorreta a alternativa A. De fato, o antecedente de diarreia é comum, entretanto é sinal de mau prognóstico, não bom. Inclusive, o escore mEGOS, que projeta a probabilidade do indivíduo estar apto a andar após um quadro de Guillain-Barré, leva em consideração o antecedente de diarreia, a idade e o somatório do exame de força, sendo, portanto, essas três variáveis associadas a pior prognóstico, isto é, idade avançada, antecedente de diarreia e fraqueza acentuada. B) Incorreta a alternativa B. De fato, a presença de sintomas geniturinários ou gastrintestinais não é comum, entretanto, no contexto de disautonomia, ocorre em cerca de 6% dos pacientes, portanto não afasta o diagnóstico. C) Incorreta a alternativa C. Os corticoesteroides não são terapia de escolha na síndrome de Guillain-Barré. D) Correta a alternativa D. Até 10% dos pacientes com Guillain-Barré apresentarão exame de liquor normal. Gabarito: D 3. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Neurologia – Prof. Rodrigo Frezatti) Homem, 30 anos, comparece ao PS com queixa de cefaleia iniciada há 3 dias. Tem antecedente de HIV e está em uso irregular de TARV. Descreve que a cefaleia é unilateral, pulsátil, forte intensidade, associada a foto e fonofobia e episódios de vômitos. Ao exame clínico, apresenta PA de 130 x 90 mmHg, FC de 90 bpm, ausculta pulmonar e cardíaca normais. Está consciente, orientado e sem déficit neurológico focal ou rigidez de nuca. Após analgesia, evolui com melhora quase completa da dor e deseja alta hospitalar. Qual é a melhor conduta nesse momento? A) Alta com uso de triptano e seguimento com neurologista. B) Manutenção da internação e realização de neuroimagem. C) Indicar punção liquórica imediatamente. D) Alta com indicação de galcanezumabe e seguimento com neurologista. Comentários: Estrategista, esse é um tema recorrente em provas de Neurologia. Saber identificar os sinais de alerta para uma cefaleia secundária é essencial para as provas e para a prática clínica. A questão destaca uma pegadinha em especial: melhora clínica após analgesia não afasta a possibilidade de uma cefaleia secundária! Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 4 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 5 RESIDÊNCIA MÉDICA Antes de qualquer coisa, a cefaleia pode ser primária, quando não há uma causa específica (enxaqueca, cefaleia tensional) ou secundária, quando a cefaleia é sintoma de alguma outra doença. Nesse grupo, temos causas potencialmente graves, como a hemorragia subaracnóidea, a trombose venosa cerebral e as meningites, por exemplo. Diante de um paciente com cefaleia, identificar os sinais de alerta para cefaleia secundária será fundamental para a elaboração da estratégia de investigação. Veja, a seguir, os principais sinais de alerta, agrupados no mnemônico SNOOP: • Sistêmico: febre, rigidez de nuca, HIV, uso de medicações imunossupressoras e neoplasias • Neurológico: déficit neurológico focal, crises epilépticas, edema de papila. • Older: cefaleia que se inicia após os 50 anos de idade. • Onset: início súbito da dor, pior dor da vida e dor desencadeada por esforço físico/manobra de Valsalva. • Pattern: cefaleia refratária, mudança de padrão prévio de dor ou caráter progressivo. Outra forma de lembrar esses sinais é por meio do mnemônico criado pelo professor Victor Fiorini: insípida. I: início súbito N: déficit neurológico S: sinais sistêmicos I: inédito P: papiledema I: idade > 50 anos D: despertar pela dor A: uso de anticoagulantes O enunciado traz um paciente com cefaleia com padrão típico de migrânea e que melhora após a analgesia. Entretanto, a cefaleia é inédita e o paciente, portador de HIV, circunstâncias inequívocas em apontar para a necessidade de investigação. Vamos às alternativas: A) Incorreta a alternativa A. O triptano, em casos de crises migranosas, de fato, é um possível tratamento. Entretanto, o enunciado destaca um caso com sinais de alerta em que não é possível definir o diagnóstico de migrânea e logo, não está indicado o uso de triptano. B) Correta a alternativa B. Exatamente! Esteja atento, para as provas e para a vida prática! A melhora clínica com analgesia não afasta a possibilidade de uma cefaleia secundária. C) Incorreta a alternativa C. De forma alguma. A neuroimagem é necessária, antes da ponderação de punção liquórica. D) Incorreta a alternativa D. Muito embora o galcanezumabe seja um possível profilático de migrânea, como vimos, esse diagnóstico não está definido no caso em questão. Gabarito: B Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 6 RESIDÊNCIA MÉDICA 4. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Nefrologia – Prof. Diego Ennes) Um paciente de 35 anos, com diagnóstico prévio de síndrome nefrótica por doença de lesões mínimas em acompanhamento ambulatorial, apresenta-se ao pronto-socorro com quadro de dor súbita e intensa no flanco direito, irradiando para a virilha, acompanhada de hematúria macroscópica e oligúria nas últimas 12 horas. Ao exame físico, apresenta-se afebril, com dor à palpação profunda no quadrante superior direito do abdômen. Seus últimos exames mostram piora da função renal (creatinina de 2,1 mg/dL, basal de 1,2 mg/dL) e proteinúria de 24h em 6,7 g e albumina sérica de 1,8 g/ dL. A ultrassonografia à beira-leito descartou hidronefrose em ambos os rins. Qual é a conduta inicial mais apropriada para investigar a principal complicação aguda suspeita nesse caso? A) Solicitar tomografia computadorizada de abdômen e pelve sem contraste intravenoso. B) Administrar diuréticos de alça e albumina para tratar a oligúria e o edema. C) Realizar ultrassonografia com Doppler de veias renais. D) Iniciar pulsoterapia com metilprednisolona para tratar a recorrência da síndrome nefrótica. Comentários: Paciente com síndrome nefrótica e começa com um quadro que simula uma cólica nefrética. O raciocínio imediato é pensarmos em cólica renal por litíase, porém estamos diante de um paciente com síndrome nefrótica descompensada, em que outras possibilidades surgem. A síndrome nefrótica é marcada pela presença de proteinúria em níveis nefróticos (> 3,5 g/dia), edema e hipoalbuminemia. Além da albumina, outras proteínas também são perdidas na urina e podem acarretar consequências deletérias para o paciente. As principais morbidades relacionadas à condição além do edema e da dislipidemia são: aumento do risco de trombose — o edema nefrótico costuma reduzir a mobilidade do paciente. Além disso, existe uma alteração importante nas proteínas da cascata de coagulação, como perda urinária de antitrombina III, além de aumento da agregação plaquetária e da produção endógena de fibrinogênio e fator V. Quanto menor os níveis de albumina, maior o risco de trombose. A) Incorreta a alternativa A: a TC sem contraste seria útil para avaliar na alta probabilidade de litíase renal. B) Incorreta a alternativa B: embora o uso de diuréticos seja talvez indicado no caso, não teremos relação com a principal complicação. C) Correta a alternativa C: a trombose de veia renal é uma importante hipótese diagnóstica no paciente com dor lombar e síndrome nefrótica. A ultrassonografia com Doppler auxilia muito no diagnóstico, bem como angiotomografia computadorizada, com fase venosa. D) Incorreta a alternativa D: o tratamento da síndrome nefrótica sem dúvidas é algo a ser feito, porém não necessariamente com pulsoterapia e essa não é a conduta inicial no momento. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 6 Estratégia MED | Caderno deleucócitos = 7.800/mm³, hemoglobina = 14,0 g/dL, hematócrito = 42%, plaquetas = 250.000/mm³, sódio = 138 mEq/L, potássio = 4,1 mEq/L, cloro = 102 mEq/L, ureia = 40 mg/dL, creatinina = 1,0 mg/ dL, AST = 30 U/L, ALT = 28 U/L, fosfatase alcalina = 85 U/L, amilase = 60 U/L, bilirrubina total = 0,9 mg/dL, bilirrubina direta = 0,3 mg/dL, proteína total = 6,9 g/dL, albumina = 4,0 g/dL e PCR = 5 mg/L. Considerando o quadro clínico, o achado ultrassonográfico e os exames laboratoriais, qual é a conduta recomendada? A) Colecistectomia eletiva devido ao tamanho do pólipo. B) Vigilância com ultrassonografia a cada 6-12 meses. C) Colecistectomia eletiva devido à idade > 40 anos. D) Biópsia do pólipo por radiointervenção. Comentários: Estamos diante de uma questão de pólipos de vesícula, um tema cada vez mais recorrente nas provas. É fundamental compreender que todo pólipo de via biliar, até que se prove o contrário, tem um risco teórico de malignização, portanto nossas condutas devem ser guiadas quanto a esse conceito. O enunciado fala para nós de um paciente de 45 anos que descobriu um pólipo de vesícula biliar de 12 mm durante investigação de uma dor abdominal inespecífica. Os exames laboratoriais estão dentro da normalidade. Vamos, agora, revisar os pólipos para conseguirmos responder adequadamente ao comando da questão. Pólipos de vesícula biliar são classificados em neoplásicos e não neoplásicos. Adenomas, por exemplo, são neoplásicos benignos com potencial de transformação maligna, sendo considerados lesões pré-cancerosas. A dificuldade em diferenciar, por meio de imagem, pólipos benignos de malignos ou de potencial pré-maligno reforça a importância de uma conduta proativa em grupos de risco. Estudos demonstram que o risco de malignidade aumenta com o tamanho do pólipo, morfologia séssil, idade acima de 60 anos, e especialmente em pacientes com colangite esclerosante primária. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 57 RESIDÊNCIA MÉDICA Em pacientes com CEP, a conduta padrão para qualquer pólipo de vesícula, independentemente do tamanho, é a colecistectomia, dada a alta incidência de carcinoma em pólipos nesse contexto. A vigilância por imagem pode atrasar o diagnóstico de câncer em fase precoce e impactar negativamente o prognóstico. Exames como tomografia ou ultrassonografia seriada não substituem a necessidade de colecistectomia nesse grupo específico, visto que a imagem não oferece sensibilidade suficiente para descartar malignidade com segurança. Por outro lado, em adultos sem colangite esclerosante primária, o manejo depende principalmente da presença de sintomas, do tamanho do pólipo e dos fatores de risco para malignidade. Pacientes sintomáticos, especialmente com sinais de colecistite ou pancreatite, devem ser submetidos à colecistectomia, mesmo quando os pólipos são pequenos, pois podem refletir inflamação ou litíase oculta. Em casos de dispepsia inespecífica sem cólica biliar, opta-se por tratamento clínico. Nos pacientes assintomáticos, pólipos ≥ 10 mm indicam colecistectomia devido ao risco de malignização; se > 20 mm, é necessária colecistectomia estendida com ressecção hepática e linfadenectomia. Pólipos entre 10 e 20 mm requerem colecistectomia simples. Para pólipos entre 6 e 9 mm, a conduta depende da presença de fatores de risco, como idade > 60 anos, origem geográfica de alto risco (Ásia, América do Sul, povos indígenas americanos), pólipo séssil e espessamento focal da parede vesicular (> 4 mm). Na presença de pelo menos um desses fatores, indica-se a colecistectomia. Na ausência deles, apenas acompanhamento com USG. Para pólipos ≤ 5 mm, também recomenda-se acompanhar com USG, independentemente dos fatores de risco acima. Ou seja, para pólipos 10 mm) ou presença de sintomas ou fatores de risco adicionais. D) Incorreta a alternativa D: a biópsia de pólipo vesicular não é recomendada devido ao risco de perfuração e disseminação, sendo a cirurgia o método definitivo para diagnóstico e tratamento. Fonte: UPTODATE. Management of gallbladder polyps. Gabarito: A Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 57 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 58 RESIDÊNCIA MÉDICA 33. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 63 anos, DRC dialítico, com fístula arteriovenosa em maturação há 4 semanas, realiza diálise há 2 meses por meio do cateter venoso representado na radiografia a seguir. Apresentou história de febre de 38,5 °C e calafrios durante sessão dialítica na semana anterior, sem outras queixas, sem sinais flogísticos no óstio do cateter, com paciente em bom estado geral, sendo, então, coletadas hemoculturas pareadas de sangue periférico e do cateter, além de início de antibioticoterapia empírica com vancomicina e ceftazidima. Após 72h, verifica-se o resultado de hemocultura do cateter em duas amostras, confirmando se tratar de infecção de corrente sanguínea relacionada ao cateter. Paciente mantém bom estado geral, sem novos picos febris, restante do exame físico inalterado no período. Quais são o tipo de cateter a seguir e a conduta inicial mais adequada? ANTIBIOGRAMA 1 1 - Staphylococcus aureus CLIDAMICINA >= 4R DAPTOMICINA 1 S ERITROMICINA >= 8R GENTAMICINA >= 16R LEVOFLOXACINA >= 8R LINEZOLIDA 2 S OXACILINA >= 4R PENICILINA >= 0,5R RIFAMPICINArápido e sistemático. O diagnóstico é confirmado por hemoculturas coletadas antes do início da antibioticoterapia, fundamentais para identificação do microrganismo e definição da sensibilidade antimicrobiana. A abordagem inicial combina antibioticoterapia sistêmica empírica, geralmente com vancomicina e ceftazidima, e manejo definitivo do cateter, que pode incluir remoção imediata ou lock terapia quando o paciente está clinicamente estável. A remoção imediata é indicada em casos de instabilidade hemodinâmica, sepse grave, infecção metastática, cateteres de curta permanência (não tunelizados) ou infecção do sítio de saída do cateter, sendo a melhor estratégia para erradicação da infecção. Cateteres temporários não tunelizados (por exemplo, cateter de Shilley) podem ser colocados como acesso provisório, enquanto cateteres tunelizados de longa permanência (por exemplo, cateter Permcath) podem ser reinstalados após estabilização clínica e negativação das hemoculturas. Alguns microrganismos devem sempre chamar nossa atenção quando crescem em culturas de cateter, são eles: Staphylococcus aureus, Pseudomonas, micobactérias ou Candida. Tais microrganismos indicam sempre a retirada do cateter, mesmo que de longa permanência, uma vez que apresentam baixa resposta à terapia se a fonte infecciosa não for retirada (ou seja, o cateter). Em pacientes estáveis sem sinais de infecção metastática, a antibioticoterapia sistêmica associada à lock terapia permite a continuação da diálise pelo cateter infectado até a substituição planejada, com taxas de sucesso variando conforme o patógeno. Alguns Gram-negativos e o Staphylococcus epidermidis apresentam maior resposta à lock terapia, enquanto o S. aureus tem baixa taxa de sucesso, justificando a remoção precoce do cateter. A antibioticoterapia empírica deve ser ajustada ao perfil de sensibilidade, com doses administradas durante ou após as sessões de hemodiálise, dependendo da estabilidade clínica do paciente. A lock terapia consiste na instilação de solução antimicrobiana com heparina no lúmen do cateter entre sessões, visando erradicar biofilmes bacterianos. É importante adequar a solução de lock terapia às alterações do regime sistêmico e substituir heparina por solução salina em casos de trombocitopenia induzida por heparina. A implementação correta depende de protocolos bem estruturados e treinamento de enfermeiros em unidades de diálise ambulatoriais. O manejo da ICSRC deve, portanto, ser individualizado, considerando o tipo de cateter, o patógeno isolado e o estado clínico do paciente. Pacientes graves exigem remoção imediata e suporte hospitalar, enquanto pacientes estáveis podem ser tratados de forma ambulatorial com antibioticoterapia sistemática e lock terapia, mantendo a funcionalidade do cateter e minimizando procedimentos invasivos, desde que haja monitoramento rigoroso e seguimento das hemoculturas. A decisão entre remoção e terapia conservadora é guiada por evidências sobre o patógeno, riscos de complicações e necessidade contínua de acesso vascular para diálise. Sendo assim, vamos analisar nossas alternativas: A) Correta a alternativa A: infecção de corrente sanguínea relacionada a cateter (ICSRC) por Staphylococcus aureus apresenta baixa taxa de cura com terapia conservadora e lock terapia, mesmo em pacientes estáveis. A remoção do cateter é a conduta recomendada para controle da fonte infecciosa e prevenção de complicações metastáticas, seguida de reposicionamento do cateter em outro sítio após 48h de antibioticoterapia e negativação das hemoculturas. B) Incorreta a alternativa B: tentativas de manutenção do cateter com lock terapia apresentam baixa eficácia para S. aureus, aumentando risco de falha terapêutica, septicemia recorrente e infecção metastática. C) Incorreta a alternativa C: o cateter do paciente é semi-implantável de longa permanência, não de curta. Além disso, o S. aureus não permite manejo conservador seguro, mesmo que o paciente esteja clinicamente estável. D) Incorreta a alternativa D: embora a remoção fosse indicada para controle da infecção, o cateter do paciente é semi-implantável de longa permanência, portanto a descrição da alternativa está incorreta quanto ao tipo de acesso. Fonte: MIDDLETON, J. et al. Management of hemodialysis catheter-related bloodstream infections. UpToDate, 2025. Gabarito: A Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 59 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 60 RESIDÊNCIA MÉDICA 34. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Paciente do sexo feminino, 68 anos, portadora de diabetes mellitus tipo 2 e IMC 31 kg/m², ASA II na avaliação pré-anestésica, em uso de metformina 850 mg 3x ao dia e semaglutida 0,5 mg 1x por semana, interna eletivamente para colecistectomia videolaparoscópica. Refere controle adequado da glicemia sem episódios recentes de hipoglicemia, nega sintomas anginosos. Queixa apenas de náuseas leves desde início de tratamento com semaglutida há 1 mês. Considerando o risco tromboembólico, está realizando quimioprofilaxia com enoxaparina em dose profilática durante a internação. Qual é a recomendação mais adequada para o tempo de suspensão dos medicamentos antes da cirurgia? A) Suspender enoxaparina 24 horas antes, manter metformina e semaglutida até o dia da cirurgia. B) Suspender enoxaparina 48 horas antes, suspender metformina 48 horas antes e manter semaglutida até o dia da cirurgia. C) Suspender enoxaparina 24 horas antes, suspender metformina 24 horas antes e suspender semaglutida 7 dias antes da cirurgia. D) Não suspender enoxaparina, suspender metformina 24 horas antes e suspender semaglutida 7 dias antes da cirurgia. Comentários: Questão direta sobre suspensão de medicamentos no pré-operatório, mas que traz um medicamento que talvez você não tenha se deparado ainda na prática clínica, mas que tem sido muito utilizado e ganhado atenção midiática, que é a semaglutida (ou ozempic). No contexto da avaliação pré-operatória, a suspensão adequada de medicamentos é essencial para reduzir riscos anestésicos e cirúrgicos. A enoxaparina, utilizada como quimioprofilaxia tromboembólica, deve ser suspensa 24 horas antes da cirurgia eletiva para minimizar o risco de sangramento perioperatório, mantendo-se sua eficácia antitrombótica até esse período. A metformina, embora segura para uso contínuo na maioria dos pacientes, deve ser interrompida 24 horas antes do procedimento cirúrgico, principalmente em pacientes submetidos à anestesia geral, para reduzir o risco de acidose láctica, especialmente quando há possibilidade de jejum prolongado ou instabilidade hemodinâmica. A semaglutida, agonista do receptor GLP-1, pode causar náuseas, vômitos e retardo do esvaziamento gástrico, por isso se recomenda sua suspensão aproximadamente 7 dias antes da cirurgia, permitindo normalização da motilidade gástrica e diminuindo o risco de aspiração durante anestesia. Essa abordagem individualiza a conduta conforme as características farmacológicas de cada fármaco, o risco clínico do paciente (como idade, comorbidades e ASA) e o tipo de cirurgia, garantindo segurança perioperatória e minimizando complicações relacionadas à hipoglicemia, acidose láctica ou sangramento excessivo. Aprofundando um pouco mais sobre a semaglutida, dado o grande aumento de seu uso recentemente, sabemos que os agonistas do receptor GLP-1 são aprovados para o tratamento do diabetes tipo 2 e redução do risco cardiovascular, além de serem usados para perda de peso. Esses medicamentos estão associados a efeitos gastrointestinais adversos, como náuseas, vômitos e retardo do esvaziamento gástrico, o que pode aumentar o risco de regurgitação e aspiração pulmonar durante anestesia geral ou sedação profunda. Devido a esses riscos, o Task Force da American Society of Anesthesiologists recomenda suspender os agonistas de GLP-1 antes de procedimentoseletivos: para doses diárias, suspender no dia da cirurgia; para doses semanais, suspender uma semana antes. Não há evidência definida sobre a duração ideal do jejum, devendo-se seguir as diretrizes atuais da ASA. A suspensão prolongada do GLP-1 em pacientes diabéticos deve ser acompanhada por ajuste da terapia antidiabética para evitar hiperglicemia. Vamos, agora, analisar nossas alternativas: A) Incorreta a alternativa A: manter semaglutida até o dia da cirurgia aumenta o risco de retardo no esvaziamento gástrico, regurgitação e aspiração pulmonar durante anestesia geral ou sedação profunda. B) Incorreta a alternativa B: suspender metformina por 48 horas não é necessário na maioria dos casos de função renal preservada, e manter semaglutida até o dia da cirurgia apresenta risco aumentado de complicações relacionadas ao esvaziamento gástrico retardado. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 61 RESIDÊNCIA MÉDICA C) Correta a alternativa C: essa conduta reduz o risco de complicações anestésicas e de hipoglicemia perioperatória, permitindo que o esvaziamento gástrico esteja adequado e mantendo a segurança na anticoagulação e no controle glicêmico. D) Incorreta a alternativa D: manter enoxaparina no dia da cirurgia aumenta o risco de sangramento perioperatório, tornando essa alternativa inadequada. Referência ABNT:MILLER, R. D. Miller’s Anesthesia. 9. ed. Philadelphia: Elsevier, 2020.AMERICAN SOCIETY OF ANESTHESIOLOGISTS TASK FORCE. Preoperative fasting and the use of glucagon-like peptide-1 receptor agonists: implications for elective procedures. Anesthesiology, v. 139, n. 4, p. 567- 578, 2023. Gabarito: C 35. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Mulher de 49 anos, portadora de hipertensão arterial controlada e sem outras comorbidades significativas, foi submetida à mastectomia total devido a carcinoma invasivo de mama luminal B, estádio IIIB, com linfonodos axilares comprometidos. Está em acompanhamento para início de radioterapia adjuvante. A paciente manifesta desejo de reconstrução mamária para melhora da qualidade de vida e autoestima. Considerando o tratamento radioterápico e o risco de complicações associadas, qual é a abordagem mais recomendada para otimizar os resultados estéticos e reduzir a morbidade pós- operatória? A) Reconstrução imediata com implante mamário subcutâneo, seguida de radioterapia. B) Reconstrução imediata com retalho autólogo, com radioterapia após cicatrização. C) Adiar reconstrução até a conclusão da radioterapia, realizando reconstrução tardia com retalho autólogo. D) Contraindicar reconstrução devido ao risco de recidiva por carcinoma avançado com indicação de radioterapia. Comentários: A reconstrução mamária em pacientes com câncer de mama que irão se submeter à radioterapia requer planejamento cuidadoso para otimizar os resultados estéticos e minimizar complicações. A radioterapia adjuvante, essencial para reduzir recidiva local em tumores de alto risco, tem efeito deletério sobre a pele, tecido subcutâneo e musculatura torácica, podendo aumentar o risco de fibrose, contratura capsular e problemas de cicatrização em reconstruções imediatas com próteses. Estudos demonstram que a radioterapia sobre implantes mamários imediatos está associada a taxas significativamente maiores de complicações, incluindo retração capsular, deformidades, perda do implante e necessidade de revisões cirúrgicas. Por esse motivo, muitos especialistas recomendam reconstrução mamária adiada em pacientes que certamente necessitarão de radioterapia, permitindo que o tecido se recupere antes da colocação de implante definitivo, o que melhora a cicatrização, reduz risco de fibrose e aumenta a satisfação estética. Quando a reconstrução imediata é considerada, estratégias como o uso de expansores teciduais temporários podem ser empregadas para preservar a forma da mama e facilitar a futura colocação de prótese, embora ainda haja risco aumentado de complicações em comparação com a reconstrução adiada. Alternativamente, técnicas autólogas, utilizando retalhos do próprio paciente, como o retalho TRAM ou DIEP, apresentam maior resistência aos efeitos da radiação, melhor cicatrização e menor risco de deformidade, sendo frequentemente preferidas em pacientes que necessitam de radioterapia. Estudos sugerem que, sempre que possível, a reconstrução imediata com tecidos autólogos resulta em menor taxa de contratura capsular e melhor resultado estético a longo prazo em comparação com próteses em contexto irradiado. O momento da reconstrução deve ser individualizado, levando em consideração fatores oncológicos, necessidade de radioterapia, características do tecido, comorbidades da paciente e preferências pessoais. Uma abordagem multidisciplinar envolvendo mastologia, cirurgia plástica e oncologia radioterápica é essencial para otimizar o resultado funcional e estético. A decisão sobre reconstrução imediata Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 61 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 62 RESIDÊNCIA MÉDICA versus adiada deve equilibrar o desejo da paciente por resultados estéticos imediatos com a segurança e a durabilidade da reconstrução. A comunicação clara sobre riscos de fibrose, retração e complicações associadas à radioterapia é fundamental para o consentimento informado. Em resumo, em pacientes com câncer de mama que necessitarão de radioterapia, a reconstrução mamária adiada, especialmente com técnicas autólogas, é preferida para reduzir complicações relacionadas à radiação e otimizar resultados estéticos, enquanto a reconstrução imediata com implantes deve ser cuidadosamente avaliada e, quando empregada, associada a estratégias que minimizem o impacto da radiação. Com isso, vamos para a avaliação das alternativas: A) Incorreta a alternativa A: embora tecnicamente viável, a reconstrução imediata com implante em pacientes que receberão radioterapia está associada a alto risco de complicações, como fibrose, retração capsular, deformidades e necessidade de revisões cirúrgicas, comprometendo o resultado estético a longo prazo. B) Incorreta a alternativa B: apesar de retalhos autólogos serem mais resistentes aos efeitos da radiação, a reconstrução imediata em pacientes com indicação de radioterapia ainda pode resultar em fibrose e complicações de cicatrização, sendo geralmente preferida a abordagem adiada para otimização do resultado estético e menor morbidade. C) Correta a alternativa C: a reconstrução tardia com retalho autólogo permite que a radioterapia seja concluída sem comprometer o tecido reconstruído, reduzindo risco de fibrose, contratura e deformidade, além de otimizar a cicatrização e os resultados estéticos, sendo a abordagem recomendada em pacientes que necessitam de radioterapia adjuvante. D) Incorreta a alternativa D: não há contraindicação absoluta para reconstrução mamária baseada apenas na indicação de radioterapia; o momento e a técnica devem ser planejados para minimizar complicações, sem comprometer a segurança oncológica. Fonte: Cordeiro PG, Albornoz CR, McCormick B, Hu Q, Van Zee K. The impact of postmastectomy radiotherapy on two-stage implant breast reconstruction: an analysis of long-term surgical outcomes, aesthetic results, and satisfaction over 13 years. Plast Reconstr Surg. 2014 Oct;134(4):588- 595. doi: 10.1097/PRS.0000000000000523. PMID: 25357021. Gabarito: C 36. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Paciente feminina de 72 anos, portadora de carcinoma gástrico avançado diagnosticado há 4 meses, apresenta perda ponderal de 18% do peso corporal nos últimos 3 meses, anorexia intensa e redução marcada da ingestão alimentar. Encontra-se internada em unidade de cuidados intermediários para suporte nutricional e cuidados paliativos. Ao exame físico, apresenta fraqueza generalizada, edema periférico discreto,turgor cutâneo diminuído e taquipneia leve, sem sinais de instabilidade hemodinâmica. Após a reintrodução de aporte calórico sem suplementação de vitaminas ou eletrólitos, evoluiu com dispneia, edema periférico progressivo e fraqueza muscular intensa. Exames laboratoriais mostram leucócitos = 7.200/mm³, hemoglobina = 9,2 g/dL, hematócrito = 28%, plaquetas = 210.000/mm³, sódio = 138 mEq/L, potássio = 2,6 mEq/L, cloro = 100 mEq/L, cálcio total = 8,6 mg/dL, magnésio = 1,0 mg/dL, fósforo = 1,5 mg/dL, ureia = 60 mg/dL, creatinina = 1,5 mg/dL, AST = 28 U/L, ALT = 30 U/L, fosfatase alcalina = 85 U/L, bilirrubina total = 0,9 mg/dL, bilirrubina direta = 0,3 mg/dL, proteína total = 6,2 g/dL, albumina = 2,9 g/dL, PCR = 12 mg/L. Qual é o mecanismo fisiopatológico mais importante envolvido nesse quadro? A) Aumento da osmolaridade sérica pelo excesso de glicose. B) Secreção aumentada de glucagon levando à lipólise exacerbada. C) Hipersecreção de insulina induzindo transporte intracelular de eletrólitos. D) Deficiência de proteínas plasmáticas causando edema. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 63 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: Trata-se de uma mulher de 72 anos, com carcinoma gástrico e perda ponderal importante, nos últimos 3 meses. Iniciado suporte enteral sem suplementação de vitaminas ou eletrólitos, no terceiro dia, ela evolui com dispneia, edema periférico e fraqueza muscular. O quadro temporal é clássico de síndrome de realimentação: os sinais aparecem tipicamente entre 24 horas e 5 dias após reintrodução de nutrientes, sobretudo carboidratos, em indivíduos de alto risco, como pacientes com privação calórica prolongada, como o caso em questão. A peça central da fisiopatologia é a mudança abrupta do estado catabólico de jejum para anabolismo mediado por insulina. A carga de carboidrato eleva a insulina e reduz o glucagon; isso direciona glicose para o meio intracelular e, junto com ela, arrasta fósforo, potássio e magnésio para dentro das células por ação da Na⁺/K⁺-ATPase. O resultado é hipofosfatemia, hipocalemia e hipomagnesemia séricas, além de retenção de sódio e água mediada por insulina, explicando edema e precipitação de insuficiência cardíaca e arritmias. A depleção de fósforo reduz ATP e 2,3-DPG, comprometendo contratilidade miocárdica, força diafragmática e liberação de oxigênio aos tecidos, justificando dispneia e astenia. Do ponto de vista de conduta e prevenção, vale fixar para a prática: em pacientes de alto risco, deve-se iniciar nutrição de forma hipocalórica (em torno de 5-10 kcal/kg/dia nos muito desnutridos), corrigindo e monitorando fósforo, potássio e magnésio diariamente nos primeiros 3-5 dias, administrando tiamina antes e durante a realimentação, e aumentando gradualmente o aporte calórico conforme estabilidade laboratorial e clínica. Em suma, o mecanismo fisiopatológico mais importante, que integra a apresentação clínica do caso, é a resposta insulinêmica à realimentação, levando à rápida entrada intracelular de fósforo, potássio e magnésio, com hipofosfatemia como marcador mais sensível e consequências cardiorrespiratórias e neuromusculares potencialmente graves. Vamos, agora, fazer a avaliação das alternativas: A) Incorreta a alternativa A: embora alterações na osmolaridade possam ocorrer em algumas situações clínicas, esse não é o mecanismo fisiopatológico central do quadro apresentado, que se caracteriza por hipofosfatemia, hipocalemia e hipomagnesemia após reintrodução calórica. https://med.estrategia.com/portal/ https://med.estrategia.com/portal/ Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 63 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 64 RESIDÊNCIA MÉDICA B) Incorreta a alternativa B: o aumento do glucagon contribui para catabolismo energético em desnutrição, mas não explica os distúrbios eletrolíticos agudos e a síndrome apresentada após a reintrodução nutricional. C) Correta a alternativa C: na síndrome da realimentação, a reintrodução de carboidratos estimula secreção de insulina, que promove transporte intracelular de fósforo, potássio e magnésio. Essa rápida queda sérica desses eletrólitos provoca fraqueza muscular, edema, dispneia e risco de complicações cardíacas e neuromusculares, caracterizando o mecanismo fisiopatológico principal do quadro. D) Incorreta a alternativa D: a hipoalbuminemia pode contribuir para edema, mas não explica a queda aguda de eletrólitos e os sinais de síndrome da realimentação observados no paciente. Fonte: Obeid, O., Hachem, D. H. & Ayoub, J. Refeeding and metabolic syndromes: two sides of the same coin. Nutrition & Diabetes, v. 4, p. e120, 2014. DOI: 10.1038/nutd.2014.21. Gabarito: C 37. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Paciente de 36 anos, sexo feminino, com histórico de obesidade mórbida (IMC pré- operatório de 42 kg/m²) e hipertensão arterial controlada com losartana, foi submetida à gastrectomia vertical há seis semanas. Refere que, após um período inicial de boa adaptação alimentar, iniciou disfagia progressiva e episódios frequentes de vômitos mesmo após pequenas ingestões. Nega febre e dor abdominal. Ao exame físico, apresenta-se em bom estado geral, com mucosas ressecadas, PA de 100 x 60 mmHg, FC de 102 bpm e perda ponderal significativa de 12 kg desde a cirurgia. O abdome está flácido, indolor à palpação, sem sinais de peritonite. Exames laboratoriais revelam hematócrito = 48%, hemoglobina = 16,2 g/dL, sódio = 148 meq/L, potássio = 4,5 meq/L, ureia = 72 mg/dL, creatinina = 1,8 mg/dL, glicemia = 92 mg/dL. Qual é a complicação mais provável e qual é o tratamento que resultará em menor risco de recidiva? A) Estenose da anastomose; dilatação endoscópica com balão. B) Fístula tardia; vácuo por técnica endoscópica. C) Estenose do tubo gástrico; dilatação endoscópica com balão. D) Estenose do tubo gástrico; conversão para by-pass em Y de Roux. Comentários: Estamos diante de uma paciente em PO tardio de gastrectomia vertical que, após um período de adaptação alimentar, começou com sintomas de regurgitação e perda acentuada de peso. Lembre-se de que a gastrectomia vertical é uma técnica muito restritiva (confira a imagem a seguir), com ressecção do fundo e da grande curvatura gástrica, podendo resultar em um estreitamento do tubo gástrico residual, ou seja, estenose do tubo gástrico. Vamos rever alguns conceitos sobre a cirurgia bariátrica e suas principais técnicas, para respondermos nossa questão. A cirurgia bariátrica é indicada principalmente para pacientes com obesidade mórbida, geralmente definidos como aqueles com índice de massa corporal (IMC) ≥ 35 kg/m² ou IMC ≥ 30 kg/m² associado a comorbidades graves, como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, apneia do sono ou dislipidemia, quando métodos clínicos de perda de peso se mostram insuficientes. Entre as técnicas mais utilizadas, destacam-se o by-pass gástrico em Y de Roux e a gastrectomia vertical (sleeve). O by-pass em Y de Roux consiste na criação de uma pequena bolsa gástrica proximal conectada diretamente ao jejuno, desviando o quimo do restante do estômago e duodeno, promovendo restrição volumétrica e efeito malabsortivo, sendo altamente eficaz na perda de peso e controle do diabetes mellitus tipo 2. A gastrectomia vertical remove aproximadamente 80% do estômago, transformando-o em um tubo estreito e alongado, promovendo restrição alimentar e alterações hormonais, como aumento do GLP-1 e do peptídeo YY, que auxiliam na saciedade e no controle glicêmico. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 65 RESIDÊNCIA MÉDICA Apesar da eficácia, a gastrectomia vertical apresenta complicações tardias específicas, entre elas, a estenose do tubo gástrico. Essa complicação geralmente ocorre de 1 a 12 meses após a cirurgia e pode se manifestar por náuseaspersistentes, vômitos, intolerância alimentar e perda de peso inadequada. A fisiopatologia da estenose está relacionada a pontos de sutura estreitos, fibrose cicatricial ou angulação excessiva do tubo. O diagnóstico é confirmado por exames contrastados (esofagograma), endoscopia digestiva alta e avaliação clínica detalhada. O tratamento da estenose tardia do tubo gástrico pode ser inicialmente endoscópico, com dilatação por balão, que apresenta taxas de sucesso elevadas em casos de estenoses curtas e não complexas, podendo necessitar de sessões repetidas. A endoscopia permite correção menos invasiva, rápida recuperação e manutenção da anatomia gástrica, sendo o primeiro passo na maioria dos protocolos. Nos casos refratários à dilatação endoscópica, ou quando há estenose longa, tortuosa ou associada a úlceras recorrentes, a abordagem cirúrgica é indicada. As técnicas cirúrgicas incluem revisão da gastrectomia, ressecção do segmento estenosado e reconstrução adequada, podendo envolver conversão para by-pass gástrico em Y de Roux em situações selecionadas, sendo essa a opção que trata por definitivo a estenose, uma vez que o tubo gástrico não está mais no trajeto alimentar. A escolha do tratamento deve levar em consideração a gravidade da estenose, comorbidades do paciente, experiência da equipe cirúrgica e risco anestésico, buscando sempre restaurar o trânsito alimentar e otimizar a perda de peso a longo prazo. Portanto, a cirurgia bariátrica é indicada para pacientes com obesidade grave com ou sem comorbidades associadas, e a estenose tardia do tubo gástrico é uma complicação relevante da gastrectomia vertical, sendo a dilatação endoscópica a primeira linha de tratamento, porém com maior recidiva, e a intervenção cirúrgica reservada para casos refratários ou complexos, visando resultados funcionais e manutenção da eficácia bariátrica. A) Incorreta a alternativa A: a paciente foi submetida à gastrectomia vertical, não apresentando anastomose intestinal, portanto essa alternativa não se aplica ao quadro clínico. B) Incorreta a alternativa B: não há sinais de infecção, dor intensa ou peritonite, e os sintomas descritos (disfagia, vômitos, perda ponderal) são típicos de estenose, não de fístula. C) Incorreta a alternativa C: a dilatação endoscópica é primeira linha para estenoses curtas ou leves, mas a estenose do tubo gástrico pós- gastrectomia vertical costuma ser longa, fibrosada e refratária à dilatação, apresentando alto risco de recidiva. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 65 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 66 RESIDÊNCIA MÉDICA D) Correta a alternativa D: considerando a disfagia progressiva, vômitos frequentes, perda ponderal significativa e falha da adaptação alimentar após gastrectomia vertical, a estenose do tubo gástrico é a complicação mais provável. A conversão cirúrgica para by-pass em Y de Roux apresenta menor risco de recidiva e restaura o trânsito alimentar, sendo recomendada em casos de estenoses extensas ou refratárias ao tratamento endoscópico. Fonte: SCHWARTZ, S. et al. Bariatric surgery: sleeve gastrectomy and Roux-en-Y gastric bypass. Surgical Clinics of North America, v. 99, n. 5, p. 1025– 1041, 2019. Gabarito: D 38. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 45 anos, portador de doença de Crohn diagnosticada há 10 anos, em uso irregular de imunossupressores, procura o pronto-socorro por dor intensa na região anal há três dias, associada a calafrios e mal-estar inespecífico. Relata que a dor piora ao evacuar e ao sentar, sendo contínua e progressiva. Nega sangramento retal, mas refere secreção purulenta mínima em roupas íntimas. Ao exame físico, apresenta regular estado geral, sonolento, com FC de 110 bpm, FR de 22 ipm, PA de 110 x 70 mmHg e T de 38,5°C. Na inspeção perianal, observa-se área de hiperemia, calor e enduração no quadrante posterior à esquerda, próxima ao ânus, com intenso edema e ponto de flutuação evidente à palpação, sugerindo coleção purulenta. Não há sinais de peritonite abdominal. Considerando a apresentação clínica e os achados de exame físico, qual é a conduta mais adequada? A) Antibioticoterapia oral e otimização de imunossupressores. B) Incisão e drenagem imediata, associada à antibioticoterapia. C) Esfincterotomia lateral interna, associada à drenagem. D) Drenagem cirúrgica apenas após estabilização clínica e antibioticoterapia. Comentários: Trata-se de paciente com doença de Crohn que apresenta um abscesso perianal e sinais de sepse (sonolência, febre, taquicardia, taquipneia), demandando manejo rápido do foco infeccioso. Vamos revisar primeiro aspectos gerais dos abscessos e, em seguida, aspectos mais específicos do abscesso na DC. Os abscessos anorretais são comuns, caracterizados por dor intensa na região anal ou retal, frequentemente acompanhada de eritema perianal e massa palpável com ponto de flutuação em casos superficiais. Abscessos mais profundos podem ser identificados por exame digital retal ou por meio de exames de imagem, como tomografia computadorizada pélvica, ressonância magnética ou ultrassonografia endorretal, especialmente quando não há massas palpáveis – apesar de não serem exames solicitados rotineiramente para diagnóstico. O diagnóstico diferencial é amplo e inclui fissuras anais, fístulas anais, hemorroidas externas trombosadas, hemorroidas internas prolapsadas, doença pilonidal, abscessos de pele glútea, abscessos de glândula de Bartholin e hidradenite supurativa. Cada uma dessas condições apresenta características clínicas específicas que ajudam a distingui-las dos abscessos anorretais, como localização da dor, relação com evacuações, presença de massa vascular ou alterações cutâneas típicas. O tratamento principal do abscesso anorretal é a drenagem cirúrgica, que deve ser realizada prontamente após o diagnóstico, independentemente da presença de flutuação, para prevenir expansão do abscesso ou progressão para infecção sistêmica. Aproximadamente 30 a 70% dos pacientes com abscesso apresentam fístula concomitante; a decisão de realizar fistulotomia simultânea deve ponderar os benefícios da prevenção de recidiva diante do risco de incontinência fecal, sendo muitas vezes mais seguro aguardar a resolução da inflamação. Antibioticoterapia empírica é recomendada em pacientes sépticos, imunocomprometidos ou com fatores de risco, podendo reduzir a taxa de formação de fístulas. Em pacientes não sépticos, antibióticos podem ser administrados após a drenagem para profilaxia, com esquemas comuns incluindo amoxicilina-clavulanato ou combinação de ciprofloxacino e metronidazol por 4 a 5 dias. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 67 RESIDÊNCIA MÉDICA O acesso cirúrgico depende da localização do abscesso. Os abscessos perianais são geralmente drenados através da pele, em ambiente ambulatorial, com anestesia local. Abscessos perirretais, isquiorretais, intersfincterianos, supralevator ou em ferradura exigem abordagem no centro cirúrgico com anestesia regional ou geral, cada técnica respeitando a anatomia para prevenir complicações e recorrência. Abscessos em ferradura e complexos podem requerer incisões radiais e colocação de seton quando há fístula associada. A recorrência ocorre em até 44% dos casos, principalmente quando a drenagem é inadequada ou a fistulotomia primária não é realizada. Na doença de Crohn, abscessos e fístulas anorretais são complicações comuns devido à natureza transmural da inflamação característica da doença. Diferentemente dos abscessos anorretais esporádicos, geralmente de origem criptoglandular, os abscessos em Crohn resultam de inflamação crônica que atravessa toda a espessura da parede intestinal, promovendo perfuração, supuração e comunicação com tecidos adjacentes. A formação de fístulas ocorre frequentemente em sequênciaà drenagem espontânea ou cirúrgica de abscessos, estabelecendo trajetos anormais entre o intestino e a pele perianal ou outros órgãos pélvicos. Pacientes com Crohn apresentam alto risco de recorrência porque a doença ativa mantém o estímulo inflamatório, dificultando a cicatrização completa dos trajetos fistulosos. Além disso, a inflamação crônica provoca fibrose, estreitamento da luz intestinal e comprometimento vascular local, fatores que dificultam a resolução espontânea de abscessos e aumentam a probabilidade de formação de fístulas complexas, incluindo fístulas em ferradura, interesfincterianas e supraelevatórias. O manejo de abscessos em Crohn segue os princípios de drenagem cirúrgica precoce, principalmente em casos de paciente com sinais de gravidade e infecção sistêmica. Porém, a drenagem isolada sem controle da doença de base a longo prazo tende a ser insuficiente, e frequentemente é necessário associar terapia medicamentosa imunossupressora ou biológica (como anti-TNF) para promover cicatrização adequada e reduzir a recorrência. Fistulotomias complexas são realizadas com cautela, pois pacientes com Crohn têm maior risco de incontinência fecal devido à fragilidade dos esfíncteres e inflamação perianal persistente. Alternativas como colocação de setons temporários ou técnicas de avanço de retalho mucoso são frequentemente preferidas. A) Incorreta a alternativa A: a antibioticoterapia isolada não é suficiente para tratar abscessos perianais, especialmente com ponto de flutuação evidente; o adiamento da drenagem aumenta o risco de sepse e complicações. Lembre-se de que, em toda infecção com foco fechado, devemos drenar o foco sempre que for possível. B) Correta a alternativa B: a drenagem cirúrgica é a intervenção de escolha para abscessos perianais, permitindo evacuação completa da coleção purulenta. Antibióticos adjuvantes são recomendados em pacientes imunocomprometidos ou com sinais sistêmicos de infecção, como febre e taquicardia, para reduzir risco de sepse e complicações. C) Incorreta a alternativa C: esfincterotomia não é indicada no manejo de abscessos perianais simples; seu uso é reservado a casos específicos de hipertonia anal ou fissura concomitante. Associar esfincterotomia pode aumentar risco de incontinência fecal, que já é uma complicação frequente em pacientes com DC devido à formação de fístulas complexas e procedimentos cirúrgicos de doenças orificiais recorrentes. D) Incorreta a alternativa D: adiar a drenagem aumenta risco de progressão da infecção, sepse e formação de fístulas complexas, não sendo recomendada na prática clínica. Na realizada, obteremos a estabilização clínica mais rapidamente após a drenagem, por se tratar de uma infecção com foco fechado. Referência:LORENZO, A. et al. Anorectal abscess and fistula-in-ano: diagnosis and management. UpToDate, 2025. PEPPER, Mark A.; KANE, Sunanda V. Clinical manifestations, diagnosis, and prognosis of Crohn disease in adults. UpToDate. Gabarito: B Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 67 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 68 RESIDÊNCIA MÉDICA 39. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 26 anos, vítima de queda de skate a aproximadamente 20 km/h há 4h, apresenta hematúria macroscópica e dor lombar esquerda. No atendimento inicial apresenta A – via aérea pérvia, fala em frases completas, sem estridor ou alterações de voz, com colar cervical; B – murmúrio vesicular presente bilateralmente, sem ruídos adventícios; saturação de O₂: 97% em ar ambiente, expansibilidade simétrica; C – PA: 118 × 72 mmHg, FC: 92 bpm, pulsos periféricos palpáveis, enchimento capilarclínico rigoroso, exames laboratoriais seriados (hematócrito, creatinina) e acompanhamento por imagem. Esse manejo permite a preservação do parênquima renal, reduz risco de complicações cirúrgicas e apresenta baixa taxa de falha. Hematomas confinados sem extravasamento ativo geralmente reabsorvem espontaneamente. D) Incorreta a alternativa D: indicada para sangramentos ativos evidenciados em imagem (blush arterial), pseudoaneurismas ou instabilidade hemodinâmica relativa. No caso descrito, não há evidência de sangramento ativo ou blush arterial, portanto a intervenção endovascular não traria benefício adicional e poderia expor o paciente a riscos desnecessários, como infarto renal segmentar ou complicações vasculares. Fonte: American College of Surgeons. ATLS: Advanced Trauma Life Support Student Course Manual. 10th ed. Chicago: American College of Surgeons; 2018. Gabarito: C 40. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cirurgia) Homem de 72 anos, previamente hígido, procurou atendimento médico por lombalgia persistente e perda de peso não intencional de 6 kg nos últimos 4 meses. Nega comorbidades significativas, uso de medicações crônicas ou história familiar de câncer. Ao exame físico, encontra-se em bom estado geral, corado e hidratado, sem linfonodomegalias periféricas palpáveis. No toque retal, próstata aumentada de volume, pétrea, com endurecimento difuso e limites imprecisos. Exames laboratoriais: PSA sérico = 180 ng/mL, fosfatase alcalina = 620 U/L. Biópsia prostática: adenocarcinoma acinar de alto grau, escore de Gleason 9 (4+5). Tomografia computadorizada apresentada a seguir. Diante desse quadro, que conduta a seguir é a mais indicada? Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 69 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 70 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Radioterapia pélvica exclusiva. B) Hormonioterapia com bloqueio androgênico. C) Quimioterapia exclusiva com docetaxel. D) Prostatectomia radical paliativa. Comentários: Trata-se de um homem de 72 anos que apresenta adenocarcinoma prostático de alto grau, Gleason 9 (4+5), com PSA extremamente elevado e sinais de doença metastática, evidenciados pela tomografia e pelo aumento da fosfatase alcalina, sugestiva de comprometimento ósseo. O quadro clínico caracteriza câncer de próstata metastático de risco muito alto, em paciente idoso e previamente hígido, com sintomas sistêmicos iniciais como perda ponderal e lombalgia, provavelmente relacionados à disseminação óssea da doença. A imagem de TC mostra- nos uma massa prostática bastante aumentada com invasão de bexiga, além de lesões hepáticas compatíveis com metástases a distância. O câncer de próstata é uma das neoplasias malignas mais prevalentes em homens, com prognóstico geralmente favorável quando diagnosticado em estágios iniciais. Nesses casos, a doença está restrita à próstata, frequentemente assintomática, e pode ser detectada por exame de PSA ou toque retal. O manejo pode incluir vigilância ativa, prostatectomia radical ou radioterapia, dependendo da idade, comorbidades, risco tumoral e preferência do paciente. A detecção precoce é fundamental, pois a sobrevida global nesses casos é elevada e complicações sistêmicas são incomuns. Nos estágios avançados, com doença metastática, o câncer de próstata apresenta disseminação regional ou à distância, frequentemente envolvendo ossos, linfonodos ou órgãos viscerais. Pacientes podem apresentar sintomas sistêmicos como dor óssea, perda ponderal, anemia ou alterações laboratoriais, como aumento da fosfatase alcalina e PSA elevado. O tratamento nesses casos se baseia no bloqueio androgênico sistêmico, também chamado de terapia de privação androgênica (ADT), que visa reduzir os níveis circulantes de testosterona ou bloquear sua ação nos receptores androgênicos, retardando a progressão tumoral e aliviando sintomas. A ressecção tumoral nesse cenário traz mais malefícios do que benefícios para o doente. Estudos demonstram que a ADT prolonga a sobrevida, melhora a qualidade de vida e é considerada o padrão de tratamento inicial para pacientes com câncer de próstata metastático, de alto volume ou sintomático. A evolução da doença pode levar ao desenvolvimento de câncer de próstata resistente à castração (CRPC, do inglês castration-resistant prostate cancer), caracterizado por progressão da doença mesmo com níveis séricos de testosterona castrados. Nessa fase, o manejo torna-se mais complexo, envolvendo terapias sistêmicas adicionais, como antiandrogênios de nova geração (enzalutamida, apalutamida, darolutamida), quimioterapia (docetaxel, cabazitaxel) e terapias direcionadas ao microambiente ósseo, como bisfosfonatos e denosumabe. O objetivo é controlar a progressão tumoral, reduzir sintomas, especialmente dor óssea, e prolongar a sobrevida, mantendo a qualidade de vida. A abordagem deve ser individualizada, considerando volume de doença, comorbidades, resposta prévia à terapia e perfil de toxicidade. Em síntese, o manejo do câncer de próstata varia conforme o estágio da doença: enquanto tumores localizados podem ser tratados de forma curativa, a doença metastática exige terapia sistêmica com bloqueio androgênico, podendo evoluir para resistência à castração, quando estratégias combinadas de quimioterapia e terapias hormonais avançadas se tornam necessárias para controle clínico e prolongamento da sobrevida. Sendo assim, vamos analisar nossas alternativas: A) Incorreta a alternativa A: a radioterapia isolada não é a conduta inicial para paciente com doença metastática à distância, como sugerido pelo PSA muito elevado, escore de Gleason 9 e quadro clínico (dor lombar, perda de peso e provável metástase óssea). Nesses casos, a radioterapia pode ser utilizada de forma paliativa para controle da dor óssea, mas não é o tratamento único enquanto não for realizada a terapia de privação androgênica. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 71 RESIDÊNCIA MÉDICA B) Correta a alternativa B: o paciente apresenta câncer de próstata avançado com provável metástase óssea (PSA > 100 ng/mL, fosfatase alcalina elevada e sintomas ósseos). A primeira linha é a terapia de privação androgênica, seja por orquiectomia bilateral ou análogos/ antagonistas do LHRH, associada ou não a antiandrógenos, podendo incluir novos agentes hormonais dependendo do risco. C) Incorreta a alternativa C: a quimioterapia com docetaxel é indicada em associação à hormonioterapia em pacientes com doença metastática de alto volume ou em casos refratários ao bloqueio androgênico, mas não é indicada de forma exclusiva, pois o bloqueio androgênico continua sendo fundamental. D) Incorreta a alternativa D: a prostatectomia radical não tem papel em doença metastática disseminada, sendo reservada para doença localizada ou localmente avançada. No cenário paliativo, o objetivo é controle hormonal e, se necessário, terapias adicionais para metástases. Fonte: Lee RJ, Smith MR. Overview of systemic treatment for recurrent or metastatic castration-sensitive prostate cancer. UpToDate. AMERICAN UROLOGICAL ASSOCIATION. Advanced Prostate Cancer: AUA/ASTRO/SUO Guideline. American Urological Association, 2023.Gabarito: B Gabarito: Alternativa B Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 71 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 72 RESIDÊNCIA MÉDICA GINECOLOGIA 41. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Mulher de 28 anos vem ao ambulatório queixando- se de aumento de pelos em região de face e na região genital. Refere que seus ciclos sempre foram irregulares e que permanece até 70 dias sem menstruar. Ao exame físico, apresenta sinais de acne e aumento de pelos. IMC de 30,2 kg/m2. Apresenta manchas aveludadas e escurecidas em região cervicale axilar. Considerando a principal hipótese diagnóstica para o quadro da paciente, qual é a fisiopatologia associada aos achados no exame físico? A) O aumento da produção de insulina eleva a produção de androgênios. B) O aumento da produção de SHBG pelo fígado está associado ao aumento de pilificação. C) O aumento do LH em relação ao FSH promove estímulo às células da granulosas na produção de androstenediona. D) Há maior conversão de androgênios em estradiol, aumentando o risco de hiperplasia de endométrio. Comentários: Estrategista, para explicar a fisiopatogenia da SOP vamos, primeiro, revisar a teoria das duas células da esteroidogênese ovariana. Os ovários convertem o colesterol nos hormônios masculinos androstenediona e testosterona, por meio do estímulo do LH nas células da teca. Por sua vez, o FSH faz com que as células da granulosa convertam esses androgênios em estrógenos, pela ação da enzima aromatase. Na SOP, ocorre o aumento da secreção do LH e a diminuição da secreção do FSH. Essa é uma das principais características da doença. Sabendo disso, podemos entender o que está acontecendo nos ovários e por que as pacientes com SOP apresentam o hiperandrogenismo. O LH em excesso leva à maior produção de androstenediona e testosterona nas células da teca e a deficiência de FSH faz com que a conversão desses hormônios em estradiol e estrona, nas células da granulosa, diminua. Isso possibilita que os andrógenos se acumulem, elevando seus níveis e provocando o hiperandrogenismo. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 73 RESIDÊNCIA MÉDICA O hiperandrogenismo é uma das principais características da SOP e é um de seus critérios diagnósticos. Os níveis de testosterona total, em geral, estão elevados, mas não ultrapassam o dobro do valor normal. Existe um distúrbio no feedback do hipotálamo, nas pacientes com SOP, que não permite que ocorra a diminuição da secreção de LH com o aumento dos níveis androgênicos. Nessas pacientes, ocorre a perda do padrão cíclico normal de secreção de GnRH pelo hipotálamo, com o aumento da amplitude e frequência dos pulsos de GnRH. Isso leva à maior produção de LH pela hipófise (perpetuando o ciclo vicioso). A diminuição dos níveis de FSH nas mulheres com SOP ocorre devido ao aumento dos níveis de inibina B, que é produzida pelos folículos ovarianos recrutados. Esses, por sua vez, estão em número aumentado nos ovários policísticos, mantendo um feedback negativo no hipotálamo/hipófise. Essa diminuição da secreção do FSH leva ao distúrbio do amadurecimento dos folículos e ao aparecimento dos micropolicistos nos ovários. Estrategista, o esquema da teoria das duas células é a chave para o entendimento da fisiopatologia da SOP. Lembre-se de que, na SOP, ocorre uma secreção aumentada de LH e diminuída de FSH. Sendo assim, há um aumento da produção de andrógenos e diminuição da produção de estrógenos nos ovários, levando ao hiperandrogenismo característico da SOP. As alterações subsequentes ocorrem devido aos distúrbios do feedback negativo desses hormônios sobre o eixo HHO, que leva à perda da ciclicidade e à anovulação crônica. Uma coisa leva à outra. Uma coisa prejudica a outra, em um ciclo vicioso. Na SOP, ocorre aumento do LH e diminuição do FSH. O FSH é o hormônio folículo estimulante. Ou seja, ocorre a diminuição do estímulo para o desenvolvimento dos folículos, que ficam “estacionados” no meio do caminho e não chegam a se desenvolver completamente. Dessa forma, não há ovulação. Assim, os ovários ficam cheios de folículos imaturos e tornam-se policísticos. Os ciclos anovulatórios caracterizam-se por ciclos monofásicos (de uma fase só), em que o endométrio é submetido ao estímulo proliferativo contínuo do estrogênio, sem oposição da progesterona, que é produzida pelo corpo lúteo após a ovulação. Isso leva ao aumento do risco de desenvolvimento de hiperplasia e câncer do endométrio nessas pacientes. A insulina também é importante na fisiopatologia da SOP. A maioria das mulheres com SOP tem uma resistência aumentada à insulina, que parece estar relacionada a um defeito pós-receptor de insulina nessas pacientes. Na tentativa de vencer essa resistência, o pâncreas aumenta a produção de insulina e isso leva à intolerância à glicose e, possivelmente, ao diabetes. A insulina e o fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-I) têm ação semelhante ao LH nas células da teca interna e do estroma ovariano e contribuem, também, para o aumento da produção de androgênios. Ou seja, a SOP é uma doença em que observamos o desequilíbrio de muitos hormônios. Além da hipersecreção de LH, as mulheres com SOP têm uma resistência aumentada à insulina. A insulina liga-se ao receptor, mas não “funciona”, sendo necessária mais insulina para “cumprir a missão” de fazer a glicose entrar na célula. Essa insulina também age junto do LH nas células da teca, estimulando a produção dos androgênios, causando maior desequilíbrio e piorando, ainda mais, a situação. A hiperinsulinemia faz com que o fígado diminua a produção de SHBG e outras proteínas carreadoras de fatores de crescimento. Isso aumenta a fração livre de andrógenos e de fatores de crescimento, como o IGF-1. Com o aumento da fração livre de andrógenos, ocorre a piora do hiperandrogenismo, já que a fração livre é a forma ativa do hormônio e o IGF-1, juntamente à insulina, exerce um efeito proliferativo sobre o endométrio, aumentando o risco de desenvolver a hiperplasia e o câncer. O aumento da fração livre de fatores de crescimento também aumenta o risco da paciente para outros tipos de câncer, como o câncer de mama, pâncreas, fígado e outros. Além de tudo isso, a hiperinsulinemia favorece a disfunção endotelial e o maior risco de doença cardiovascular, obesidade, apneia do sono e doença hepática gordurosa não alcoólica. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 73 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 74 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Correta a alternativa A, pois a elevação da produção de insulina promove aumento da produção de androgênios pelo ovário. B) Incorreta a alternativa B, pois há redução da produção de SHBG pelo fígado. C) Incorreta a alternativa C, pois os androgênios são produzidos pelas células da teca. D) Incorreta a alternativa D, pois, pela redução do FSH, há menor conversão de androgênios em estradiol. O aumento de risco de hiperplasia está associado aos ciclos anovulatórios, sem produção de progesterona, não ao aumento da produção de estrogênio. Gabarito: A Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 75 RESIDÊNCIA MÉDICA 42. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Paciente de 22 anos vem ao ambulatório, pois deseja trocar seu método contraceptivo. Ela faz uso de pílula combinada de etinilestradiol com desogestrel. Ela opta por fazer a troca por um implante subdérmico de etonogestrel. Após 6 meses de uso, ela retorna queixando-se de aumento de acne. Em relação ao mecanismo de ação dos contraceptivos, assinale a alternativa incorreta. A) A pílula contraceptiva combinada reduz a fração de androgênio livre. B) O desogestrel é o principal responsável pelo controle da acne na pílula combinada. C) O implante de etonogestrel promove anovulação por inibição do LH. D) A molécula de desogestrel é convertida em etonogestrel na metabolização. Comentários: Além da eficácia (índice de Pearl de 0,3 com uso perfeito e 3 com uso típico) e reversibilidade rápida, todos os métodos hormonais combinados possuem diversos benefícios não contraceptivos: 1. Decorrentes da anovulação: • melhora dos sintomas da síndrome pré-menstrual (mastalgia, irritabilidade, cefaleia) e da dismenorreia primária ou secundária; • “repouso ovariano” - provoca redução e desaparecimento de cistos ovarianosimples. 2. Regulação do sangramento menstrual e redução de sangramento excessivo. 3. Melhora da sexualidade: os anticoncepcionais hormonais podem melhorar a sexualidade devido à redução do risco de gestação. Entretanto, também podem estar associados à redução da libido (como veremos no tópico de efeitos adversos). 4. Redução de manifestações dermatológicas de hiperandrogenismo (acne, oleosidade e hirsutismo): esse efeito é maior com o uso de progestágenos antiandrogênicos. 5. Melhora da densidade mineral óssea devido ao componente estrogênico (lembre-se de que o estrogênio reduz a reabsorção óssea). 6. Risco de câncer: os anticoncepcionais hormonais utilizados por tempo prolongado reduzem o risco de câncer de ovário (devido à anovulação), de endométrio (devido à atrofia endometrial) e colorretal. 7. Doença inflamatória pélvica: ao alterar o muco cervical, os métodos hormonais dificultam a ascensão de patógenos para a cavidade uterina, reduzindo o risco de doença inflamatória pélvica. A) Correta a alternativa A, pois o etinilestradiol aumenta a produção de SHBG, reduzindo a fração livre de androgênios. B) Incorreta a alternativa B, pois o desogestrel é uma progesterona com ação androgênica. C) Correta a alternativa C, pois o implante promove anovulação por inibir o pico de LH D) Correta a alternativa D, pois a molécula de desogestrel é um pró-fármaco que é convertido em etonogestrel que é a forma ativa. Gabarito: B Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 75 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 76 RESIDÊNCIA MÉDICA 43. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Mulher de 33 anos realizou coleta de colpocitologia oncótica com resultado de lesão intraepitelial de alto grau. Foi submetida à colposcopia com a imagem a seguir. Sobre a infecção pelo HPV, é correto afirmar que: A) é um vírus que incorpora seu DNA à célula do hospedeiro. B) apresenta baixa infectividade e alta taxa de resolução espontânea. C) a maior parte das lesões induzidas pelo HPV ocorre no epitélio colunar do colo. D) as vacinas contra o HPV são produzidas com vírus vivo atenuado. Comentários: A infecção por HPV é muito comum, cerca de 80% dos indivíduos sexualmente ativos apresentarão esse vírus em algum momento da vida, porém a minoria desenvolverá lesão precursora e menor ainda será o número de mulheres com câncer de colo uterino. A maioria das infecções por HPV desaparece em um período de seis a 24 meses. Entre os fatores capazes de influenciar a persistência e o avanço da infecção pelo HPV, estão: idade, tabagismo, imunidade, uso de contraceptivos, outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e estado nutricional. Cerca de 10% das mulheres não apresentam clareamento, ou seja, mantêm o vírus, o que torna a infecção persistente. O HPV infecta as células basais do epitélio pavimentoso por meio de microtraumas que ocorrem durante a relação sexual ou pela zona de transformação do colo uterino (lembre-se de que, nessa região, há alto índice de proliferação celular) e ficam no núcleo das células do hospedeiro. Em seres humanos, infectam conjuntivas, cavidade oral, laringe, árvore traqueobrônquica, esôfago, bexiga, ânus, canal anal e trato genital inferior. Ao infectar o núcleo da célula hospedeira, o DNA do HPV pode assumir duas formas, de acordo com o padrão de infecção: a epissomal e a integrada. Na forma epissomal, característica das infecções de baixo risco oncogênico (condilomas), o HPV replica-se dentro da célula hospedeira e libera várias partículas virais para infectar novas células. Já na infecção por HPV de alto risco oncogênico, o DNA do HPV integra-se ao DNA do hospedeiro, de forma que o vírus passa a expressar suas proteínas, que inativam as proteínas supressoras tumorais (p53 e pRB), fazendo com que a célula se torne “imortal”. Como consequência, a depender da condição de cada indivíduo, ocorrerá o aparecimento das lesões precursoras ou mesmo o câncer. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 77 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Correta a alternativa A, conforme explicado acima. B) Incorreta a alternativa B, pois o vírus tem elevada taxa de infectividade. C) Incorreta a alternativa C, pois a maior parte das lesões ocorre no epitélio escamoso e na zona de transformação. D) Incorreta a alternativa D, pois as vacinas são produzidas com partículas que se assemelham às proteínas do capsídeo viral (VLPs: virus-like particles). Dessa maneira, as VLPs utilizadas são partículas não infecciosas e apenas imitam a infecção natural pelo HPV. Gabarito: A 44. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Paciente, 14 anos de idade, refere sangramento menstrual intenso com coágulos há 6 dias. Apresenta antecedente de menarca aos 13 anos, com ciclos regulares e fluxo intenso desde então, com duração de oito dias. Nega outras comorbidades ou uso de medicamentos. Ao exame físico, apresentou IMC de 21 kg/m2, PA de 110 x 70 mmHg, FC de 112 bpm, descorada 3+/4+. Exames subsidiários: Ht de 29%, Hb de 9,1 g/dL, plaquetas de 235.000/mm³, teste de gravidez negativo. Diante do quadro da paciente, qual é a provável causa do sangramento? A) Anovulação por imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. B) Alteração da hemostasia. C) Elevação da produção de prostaglandinas endometriais. D) Alteração estrutural uterina. Comentários: Estrategista, temos aqui uma paciente de 14 anos com sangramento uterino anormal. As causas de sangramento uterino anormal são diferentes de acordo com a idade da paciente. Antes da menarca: as causas mais frequentes de sangramento vaginal são os distúrbios hormonais, presença de corpo estranho, infecção, trauma ou câncer. Primeiros anos após a menarca: a causa mais frequente é o distúrbio ovulatório devido à imaturidade do eixo HHO. A segunda causa mais frequente é a coagulopatia (sd. Von Willebrand, por exemplo). Menacme: as causas mais frequentes de sangramento uterino anormal durante o menacme são a disfunção ovulatória, a miomatose uterina, pólipos, adenomiose, infecção, SOP, tireoidopatia, coagulopatia e a medicamentosa (uso de ACO, por exemplo). Após a menopausa: as causas mais comuns de sangramento uterino “anormal” (já que todo sangramento após a menopausa é anormal) são a atrofia endometrial, os pólipos endometriais, a hiperplasia/o câncer de endométrio e o uso de terapia hormonal. A investigação diagnóstica do sangramento uterino anormal deve seguir os seguintes passos: 1- anamnese e exame físico; 2- solicitação do teste de gravidez (beta-hCG); 3- solicitação de hemograma completo e coagulograma; 4- solicitação de ultrassonografia para avaliar causas estruturais do SUA; 5- solicitar dosagens hormonais se quadro clínico sugere endocrinopatia (anovulação ou hiperandrogenismo); 6- se necessário, avaliação secundária com histeroscopia e biópsia do endométrio. Nesse caso, temos uma adolescente, que teve a menarca há um ano, com "ciclos regulares e fluxo intenso desde então". Assim, temos que pensar em coagulopatia. Se os ciclos estão regulares, quer dizer que a paciente não tem distúrbio ovulatório e a queixa de aumento do fluxo menstrual desde a menarca leva à hipótese de coagulopatia. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 77 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 78 RESIDÊNCIA MÉDICA Agora, vamos analisar as alternativas: A) Incorreta a alternativa A, pois os ciclos estão regulares. B) Correta a alternativa B, pois a principal hipótese é de uma coagulopatia. C) Incorreta a alternativa C, pois o aumento de prostaglandinas causa dismenorreia. D) Incorreta a alternativa D, pois as causas estruturais são incomuns nessa faixa etária. Gabarito: B 45. (Estratégia MED 2025 – Inédita– Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Paciente de 48 anos queixa-se de saída de secreção serosanguinolenta da mama esquerda. Ao exame clínico, não apresenta nódulos palpáveis ou linfonodomegalia em cadeias axilares, supra e infraclaviculares. Na mama esquerda, apresenta descarga papilar sanguinolenta e uniductal à expressão. Como deve ser realizada a investigação do quadro? A) Solicitar ultrassonografia e mamografia e, se resultados normais, manter rastreamento habitual. B) Realizar biópsia do complexo aréolo-papilar. C) Realizar análise citológica do derrame. D) Com resultados de exame de imagem normais, deve-se prosseguir com exérese cirúrgica do ducto acometido. Comentários: Estrategista, essa é uma questão sobre as descargas papilares da mama. A grande maioria (cerca de 93%) das descargas papilares é benigna. O principal objetivo da avaliação dos fluxos papilares é diferenciar as secreções benignas das secreções suspeitas de malignidade. Vamos falar dos tipos de descarga papilar: • Galactorreia: a galactorréia geralmente se manifesta como secreção bilateral do mamilo, envolvendo múltiplos ductos. A secreção mamilar é geralmente branca (láctea). Uma das principais causas da galactorreia é a hiperprolactinemia. Mas algumas pacientes podem apresentar galactorreia sem aumento de níveis de prolactina. Devemos dosar a prolactina dessas pacientes e tratar os casos de hiperprolactinemia. • Ectasia ductal: a ectasia dos ductos é uma outra causa patológica benigna comum de descarga papilar, observada em cerca de 1/4 dos casos. A descarga papilar nesses casos geralmente é multiductal e às vezes bilateral. Ocorre pelo acúmulo de líquido nos ductos ectasiados (dilatados). Pode ser citrina, amarelada, azulada, esverdeada. Pode ser espontânea ou não. A conduta para esses casos é a observação e seguimento porque costumam se interromper, sem nenhuma intervenção médica. • Descarga papilar suspeita: a descarga papilar suspeita, que pode se originar de um câncer, geralmente é unilateral, uniductal e espontânea. Pode ser serosa (água de rocha), sanguinolenta ou serossanguínea (misturada com sangue). Mas nem sempre esse tipo de secreção está associada ao câncer. A causa mais frequente desse tipo de descarga papilar é o papiloma intraductal (benigno). Nesses casos, sempre devemos prosseguir com a investigação diagnóstica, realizando a exérese do ducto acometido e o estudo anatomopatológico. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 79 RESIDÊNCIA MÉDICA Gabarito: D 46. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Paciente de 24 anos refere ausência de menstruação há 7 meses. Sua menarca ocorreu aos 12 anos. Apresentava ciclos regulares com 4 dias de sangramento e 28 dias de intervalo. Nega comorbidades. Ela é atleta amadora de maratona e treina 7 vezes por semana. Está atualmente se preparando para uma prova. Ao exame físico, apresenta IMC de 19,8 kg/m2, pilificação e trofismo genital adequados, colo trófico e paredes vaginais com pregueamento normal. Não apresenta sinais de acne ou hirsutismo. Diante do quadro, qual é o mecanismo da amenorreia? A) Inversão da relação LH e FSH. B) Hiperprolactinemia secundária. C) Alteração da secreção pulsátil de GnRH. D) Falência ovariana. Nesse caso, temos uma descarga papilar espontânea, sanguinolenta, uniductal. Ou seja, suspeita de malignidade. Vamos analisar as alternativas: A) Incorreta a alternativa A, pois, se os exames forem normais, devemos prosseguir com a investigação. B) Incorreta a alternativa B, pois devemos realizar exame de imagem antes de qualquer procedimento invasivo. C) Incorreta a alternativa C, pois não há indicação de exame citológico da descarga. D) Correta a alternativa D, conforme explicado acima. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 79 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 80 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: A questão nos pede a fisiopatologia da amenorreia em pacientes com desnutrição. Nesse caso, temos o que chamamos de amenorreia funcional hipotalâmica. Nela, ocorre diminuição dos pulsos de GnRH, levando à anovulação crônica. Nesse grupo, estão incluídos os transtornos alimentares, exercícios físicos extenuantes e estresse. 1. Transtornos alimentares: há redução dos níveis de leptina, um hormônio produzido pelos adipócitos que é importante para o balanço energético no corpo. A queda dos níveis de leptina promove variações nos níveis de insulina, glucagon, catecolaminas e endorfinas que alteram a pulsatilidade do GnRH. 2. Exercícios: a amenorreia associada aos exercícios é mais encontrada nas atividades que necessitam de maior perda de peso e gordura, como balé, corrida de longa distância, patinação e ginástica. Os exercícios físicos extenuantes estão associados com aumento de opiáceos endógenos (endorfinas). O aumento das endorfinas inibe os pulsos de GnRH, reduzindo a produção de gonadotrofinas e levando à anovulação e hipoestrogenismo. 3. Estresse: eventos traumáticos na vida ou estresse induzido por doenças podem causar amenorreia. No estresse, há estímulo à liberação hipotalâmica de hormônio liberador de corticotrofina (CRH), que leva ao aumento da produção de cortisol pela adrenal. Tanto o cortisol como o CRH alteram a pulsatilidade do GnRH. FISIOPATOLOGIA DA AMENORREIA FUNCIONAL • Os exercícios físicos extenuantes estão associados com aumento de opiáceos endógenos (endorfinas). Você lembra-se de que, no tópico de neuroendocrinologia do ciclo menstrual, as endorfinas são reguladoras dos pulsos de GnRH? Pois bem, o aumento das endorfinas inibe os pulsos de GnRH, reduzindo a produção de gonadotrofinas e levando à anovulação e hipoestrogenismo. • No estresse, há estímulo à liberação hipotalâmica de hormônio liberador de corticotrofina (CRH), que leva ao aumento da produção de cortisol pela adrenal. Tanto o cortisol como o CRH alteram a pulsatilidade do GnRH. • Nas pacientes com transtornos alimentares, há redução dos níveis de leptina, um hormônio produzido pelos adipócitos que é importante para o balanço energético no corpo. A queda dos níveis de leptina promove variações nos níveis de insulina, glucagon, catecolaminas, endorfinas e neuropeptídeo Y, que alteram a pulsatilidade do GnRH. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 81 RESIDÊNCIA MÉDICA A paciente em questão tem uma prática de atividade física intensa e um IMC limítrofe para baixo peso, tendo fatores para uma amenorreia hipotalâmica. A) Incorreta a alternativa A, pois a inversão ocorre na SOP e essa paciente não tem sinais desse quadro. B) Incorreta a alternativa B, pois não há sinais de fatores de hiperprolactinemia. C) Correta a alternativa C, pois essa é a fisiopatologia da amenorreia da paciente. D) Incorreta a alternativa D, pois a paciente não tem sinais de falência ovariana. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 81 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 82 RESIDÊNCIA MÉDICA 47. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Paciente de 32 anos está tentando engravidar há 3 anos sem sucesso. O parceiro tem 30 anos e também não tem filhos. A paciente nega comorbidades. Tem ciclos regulares, sem dismenorreia e com fluxo normal. Nega outras queixas. Foi realizada investigação do casal e encontrada a seguinte imagem na histerossalpingografia. Qual é a provável causa da infertilidade dessa paciente? A) Endometriose tubária. B) Salpingite. C) Sinéquias intrauterinas. D) Adenomiose. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 83 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: Observe que nossa paciente tem obstrução tubáriaRespostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 7 RESIDÊNCIA MÉDICA 5. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Nefrologia – Prof. Diego Ennes) Paciente de 68 anos é atendido no ambulatório de doenças glomerulares com a hipótese de síndrome nefrótica. A biópsia renal realizada veio com a seguinte imagem: Qual é o provável diagnóstico? A) Doença por lesões mínimas. B) Nefropatia por IgA. C) Glomerulopatia membranosa. D) Amiloidose. Comentários: Questão difícil, Coruja! Envolve algum grau de conhecimento em patologia renal. E a USP-SP gosta de cobrar análise de imagens nas provas. Aqui na imagem, vemos um glomérulo em uma microscopia óptica, com análise por meio do VERMELHO DO CONGO. Isso já lembra uma possível etiologia, não é? A síndrome nefrótica é causada por uma variedade de doenças glomerulares que levam à proteinúria, edema e hipoalbuminemia. As causas podem ser divididas em primárias (idiopáticas) e secundárias. Nas formas primárias, as principais etiologias variam conforme a faixa etária. Em crianças, a doença de lesões mínimas (minimal change disease, MCD) é a causa mais frequente, seguida pela glomeruloesclerose segmentar e focal (FSGS) e, menos comumente, pela glomerulopatia membranosa. Em adultos, a glomerulopatia membranosa idiopática é predominante, seguida por FSGS e, em menor proporção, MCD. A frequência dessas causas pode variar conforme a idade e o sexo; por exemplo, o lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma causa importante em mulheres jovens. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 8 RESIDÊNCIA MÉDICA Nas formas secundárias, destacam-se doenças sistêmicas como diabetes mellitus (nefropatia diabética), LES, amiloidose, infecções (hepatite B, C, HIV), neoplasias e uso de certos medicamentos. A amiloidose e outras causas secundárias tornam-se mais prevalentes com o avanço da idade. Em resumo, as principais causas da síndrome nefrótica são: • primárias: doença de lesões mínimas, FSGS, glomerulopatia membranosa; • secundárias: diabetes mellitus, LES, amiloidose, infecções, neoplasias, medicamentos. A) Incorreta a alternativa A: na doença por lesões mínimas, classicamente a microscopia óptica não tem alterações. B) Incorreta a alternativa B: na nefropatia por IgA, raramente temos síndrome nefrótica, embora possa ocorrer. Além disso, não temos esse achado característico. C) Incorreta a alternativa C: na glomerulopatia membranosa, é muito comum encontrarmos espessamento das alças capilares. D) Correta a alternativa D: se você já viu alguma vez um vermelho do congo positivo, que é o caso da imagem, vai lembrar para sempre. E, se é positivo, é AMILOIDOSE. Coruja, cuidado que o vermelho do congo não fica vermelho, mas esse tom maçã-verde, pois é feita uma análise posterior com luz polarizada, dando esse aspecto mais “brilhante”. Gabarito: D 6. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pneumologia – Prof. Juan Demolinari) Homem, 54 anos, previamente hígido, chega ao pronto- socorro com quadro de dispneia súbita iniciada há cerca de 2 horas. Foi realizado POCUS no protocolo BLUE, que demonstrou o seguinte padrão: Imagem da direita reflete teste da compressibilidade. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 8 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 9 RESIDÊNCIA MÉDICA Considerando o quadro clínico e os achados ultrassonográficos, qual é o diagnóstico mais provável para a insuficiência respiratória aguda desse paciente? A) Exacerbação aguda de asma. B) Exacerbação aguda da DPOC. C) Tromboembolismo pulmonar agudo. D) Pneumotórax espontâneo. Comentários: A ultrassonografia point of care (POCUS) tornou-se uma ferramenta essencial na avaliação rápida de pacientes com insuficiência respiratória aguda, especialmente em emergências. O protocolo BLUE (bedside lung ultrasound in emergency) é um método validado para diferenciar as principais causas de insuficiência respiratória: pneumonia, exacerbação de DPOC/asma, edema agudo de pulmão, tromboembolismo pulmonar (TEP) e pneumotórax. De forma simplificada, os principais padrões do protocolo BLUE são: A) Linha A: representa um artefato esperado na ultrassonografia pulmonar normal. Os artefatos da linha A são claramente visualizados como artefatos de reverberação horizontal da linha pleural hiperecoica. As duas faixas hipoecogênicas verticais representam as costelas. Corresponde à imagem da questão. B) Linha B: artefato da linha B consiste em linhas ecogênicas verticais, semelhantes a laser, bem definidas, que surgem da linha pleural e se estendem até a parte inferior da imagem. Linhas B dispersas (menos de duas por espaço intercostal) podem estar presentes no pulmão normal. O número de linhas B está diretamente relacionado à gravidade da doença. Portanto, a linha B está relacionada ao espessamento intersticial e possui diversas causas, por exemplo, edema pulmonar, fibrose pulmonar e pneumonite. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 10 RESIDÊNCIA MÉDICA C) Consolidação: a consolidação pode ter uma gama de aparências distintas na ultrassonografia pulmonar, entretanto o padrão radiológico mais característico é a hepatização pulmonar, em que o pulmão acometido apresenta ecogenicidade similar à do fígado. Além disso, notamos broncogramas aéreos de permeio demonstrados pela presença de linhas hiperecogênicas em permeio à consolidação. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 10 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 11 RESIDÊNCIA MÉDICA D) Derrame pleural: o derrame pleural é facilmente reconhecido pela ultrassonografia, demonstrando a presença de líquido anecogênico no espaço pleural. Por vezes, é possível ver o parênquima atelectasiado adjacente, assim como septações em permeio ao derrame. Sinal do código de barras x sinal da praia: a movimentação pleural durante a respiração apresenta um padrão característico durante a avaliação ultrassonográfica no modo M. O sinal da praia é caracterizado por essa movimentação pleural usual, enquanto o sinal do código de barras ou estratosfera marca a ausência de movimentação. No extremo esquerdo da imagem, vemos a movimentação normal pleural durante o exame, caracterizando o sinal da praia, enquanto, no extremo direito, há a ausência de movimentação no modo M, demonstrando o sinal do código de barras. Quando caracterizamos esse ponto de transição exato na ultrassonografia, denominamos de lung point, o que apresenta uma alta especificidade para o diagnóstico de pneumotórax. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 12 RESIDÊNCIA MÉDICA No caso apresentado, o paciente tem dispneia súbita, dor pleurítica e taquicardia. O POCUS mostrou padrão A. Diante disso, devemos seguir o seguinte raciocínio diagnóstico: Diante de uma insuficiência respiratória com padrão A subpleural, as seguintes hipóteses são plausíveis: Pneumotórax: para isso, o autor deveria citar a ausência de deslizamento pleural. DPOC, ASMA ou TEP: nesses casos, o teste de compressibilidade da veia femoral pode nos auxiliar, uma vez que, se estiver alterado, sugere TVP, logo TEP passa a ser a principal hipótese. Na questão, constatamos a ausência de compressibilidade da veia femoral comum e até mesmo um material hiperecogênico em seu interior, sugerindo fortemente TVP. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 12 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 13 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Incorreta a alternativa A, já que, no protocolo BLUE, exacerbação asmática também pode se apresentar com padrão A e deslizamento pleural presente, mas a ausência de antecedentes e o achado de TVP direcionambilateral com acúmulo de contraste nas tubas, sugerindo hidrossalpinge. O fator tubário é responsável por 40% dos casos de infertilidade feminina. Aqui, estão as patologias que comprometem a função e a permeabilidade tubária. A doença tubária e as aderências pélvicas impedem o transporte do espermatozoide e do oócito por meio da tuba uterina. A obstrução tubária distal por qualquer uma das patologias envolvidas aqui pode desenvolver hidrossalpinge (dilatação nas tubas uterinas causadas por acúmulo de líquido), que altera as taxas de implantação e de fertilização in vitro (veremos em detalhes no tópico de “fator uterino”). 1. Doença inflamatória pélvica (DIP) É a principal causa de comprometimento tuboperitoneal. A DIP provoca infertilidade porque é capaz de aglutinar as fímbrias, provocar hidrossalpinge, obstrução tubária, nodulações na musculatura da porção ístmica da tuba uterina e aderências que comprometem a relação tubo-ovariana. Quanto maior o número de episódios de DIP, maior o risco de infertilidade (12-15% após 1 episódio, 23-5% após 2 episódios e 54-75% após 3 episódios). 2. Endometriose É responsável por 7-14% dos casos de fator tubário. Nos casos de endometriose moderada ou grave, formam-se aderências que levam a distorções anatômicas, podendo limitar a motilidade das fímbrias ou causar obstrução tubária. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 83 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 84 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Incorreta a alternativa A, pois a clínica da paciente não é sugestiva de endometriose. B) Correta a alternativa B, pois a doença inflamatória pélvica é a principal causa de infertilidade por fator tubário. C) Incorreta a alternativa C, pois não há nenhuma fala de enchimento no interior da cavidade uterina. D) Incorreta a alternativa D, pois a adenomiose não é avaliada na histerossalpingografia. Gabarito: B 48. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Paciente de 22 anos refere corrimento vaginal há 7 dias. Refere que o corrimento é branco, fluido e tem odor fétido. Nega prurido ou outras queixas. Ao exame físico, apresenta vulva e vagina sem hiperemia, colo sem alterações e a presença de um corrimento branco, homogêneo, não aderido às paredes e com odor fétido. O pH vaginal é de 5,5. Diante do quadro, qual é o achado bacterioscópico mais provável? A) Intensa citólise. B) População de lactobacilos reduzida. C) Hifas e esporos. D) Presença de microorganismos ovalados móveis. Comentários: Os mecanismos implicados na fisiopatologia da vaginose bacteriana (VB) ainda não estão totalmente esclarecidos. Sabemos que os lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio são importantes na prevenção do crescimento excessivo dos anaeróbios normalmente presentes na microbiota vaginal. Na VB, ocorre diminuição dos lactobacilos produtores de ácido lático e peróxido de hidrogênio. Consequentemente, há aumento de pH e aumento da concentração de anaeróbios, tais como: Gardnerella vaginalis, Peptostreptococcus, Bacteroides sp., Mobiluncus sp., Fusobacterium, Atopobium vaginae e Mycoplasma hominis. A proliferação de anaeróbios é acompanhada da produção de enzimas proteolíticas que liberam aminas (putrescina, cadaverina e trimetilamina). Essas, por sua vez, atuam aumentando a transudação de fluidos vaginais e esfoliação de células epiteliais, resultando no corrimento característico da patologia. As células epiteliais, quando descamam, são chamadas de clue cells, ou “células-guia”, e são vistas no exame a fresco ou na bacterioscopia corada pelo Gram como células epiteliais de contorno pouco nítido, rodeadas por anaeróbios. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 85 RESIDÊNCIA MÉDICA 50% a 75% das mulheres com VB são assintomáticas. Quando sintomáticas, apresentam corrimento vaginal branco ou branco- acinzentado, homogêneo, com odor desagradável (“odor de peixe podre”), que piora após o coito e no período menstrual (o sangue menstrual e o sêmen têm pH alcalino, o que provoca volatização das aminas aromáticas). Os critérios de Amsel são utilizados para o diagnóstico clínico da vaginose bacteriana. Para isso, a paciente deve ter pelo menos três dos quatro critérios a seguir: CRITÉRIOS DE AMSEL Corrimento vagianl branco ou branco-acinzentado, homogêneo. pH > 4,5. Teste das aminas positivo. Observação das clue cells (células-alvo ou células-guia) ao exame bacterioscópico (figura 2). O caso da paciente é típico de vaginose bacteriana A) Incorreta a alternativa A, pois é na vaginose citolítica que temos esse achado. B) Correta a alternativa B, pois, na vaginose bacteriana, temos a redução da população de lactobacilos. C) Incorreta a alternativa C, pois, na candidíase, temos pH abaixo de 4,5. D) Incorreta a alternativa D, pois não há sinais de tricomoníase. Gabarito: B 49. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Paciente de 64 anos de idade refere perda urinária há 4 anos. Refere que notou aumento da frequência urinária e que acorda cerca de 3 vezes à noite para urinar. As perdas urinárias ocorrem associadas a um desejo iminente de urinar. Nega outras queixas. A paciente é diabética e apresenta glaucoma de ângulo agudo. Qual é a terapêutica mais adequada para essa paciente? A) Anticolinérgico. B) Beta-3-agonista adrenérgico. C) Agonista muscarínico. D) Alfabloqueadores. Comentários: O tratamento conservador é a primeira linha de tratamento para a incontinência urinária de urgência, segundo a Sociedade Internacional de Continência. As opções de tratamento incluem medidas comportamentais e fisioterapia. O tratamento farmacológico deve ser considerado em paciente sem melhora com o tratamento inicial ou que desejem essa terapêutica. Apesar disso, a ICS, em seu último guideline, recomenda-o como primeira linha de tratamento, associado às demais medidas conservadoras. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 85 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 86 RESIDÊNCIA MÉDICA A base do tratamento reside na fisiologia da micção, sendo os medicamentos anticolinérgicos os mais empregados com essa finalidade. O grande problema com o uso de anticolinérgicos é sua baixa eficácia e os efeitos colaterais importantes. A taxa de interrupção é muito alta devido a esse motivo. As principais contraindicações ao uso dos anticolinérgicos e que são cobradas em prova são: glaucoma de ângulo fechado, arritmias cardíacas, doenças intestinais obstrutivas e lactação. Por esses motivos, antes de introduzir essas medicações, é necessária uma avaliação cardiológica e oftalmológica. Em estudos mais recentes, os agonistas beta-3-adrenérgicos têm se mostrado eficazes no tratamento da bexiga hiperativa. Tais medicamentos têm ação direta sob o músculo detrusor, promovendo o relaxamento e atuando nos nervos parassimpáticos, diminuindo, assim, a secreção de acetilcolina. Essas medicações apresentam menos efeitos colaterais do que os anticolinérgicos. A) Incorreta a alternativa A, pois essa paciente tem contraindicação ao uso de anticolinérgico. B) Correta a alternativa B, conforme explicado na introdução. C) Incorreta a alternativa C, pois um agonista muscarínico pioraria os sintomas da paciente. D) Incorreta a alternativa D, pois os alfabloqueadores podem piorar os sintomas de incontinência. Gabarito: B 50. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Ginecologia - Prof. Carlos Eduardo Nascimento) Durante a realização de uma histerectomia, uma das complicações mais temidas é a lesão do ureter. Em que passo da cirurgia há mais chance de ocorrer essa lesão? A) Secção do ligamento redondo. B) Abertura do ligamento largo. C) Secção da artéria uterina. D) Secção do ligamento infundíbulo pélvico. Comentários:O útero está em íntima relação com as estruturas adjacentes. Anteriormente, localiza-se a bexiga, que é separada apenas por um tecido conectivo frouxo; posteriormente, está o reto, cuja separação é a escavação retouterina. Essa região entre o útero e o reto pode ser palpada por via vaginal, sendo chamada de fundo de saco de Douglas. Outra estrutura importante e que tem íntima relação com o útero é o ureter, que cruza a artéria uterina a menos de 5 cm do útero. É empregado o termo em inglês “water under the bridge”, que significa “água por baixo da ponte”, para recordar-se dessa relação, uma vez que o ureter, que contém urina (água), passa abaixo da artéria uterina (ponte). A artéria uterina cruza o ureter na altura do istmo uterino. A proximidade do útero em relação a esses reparos anatômicos facilita a ocorrência de lesões nas estruturas adjacentes durante cirurgias ginecológicas. A imagem a seguir mostra as principais relações uterinas com as estruturas adjacentes. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 87 RESIDÊNCIA MÉDICA Existem três pontos principais em que o ureter pode ser lesado em uma histerectomia: na ligadura do infundíbulo-pélvico, na ligadura da artéria uterina (mais comum) e na ligadura dos uterossacros. A) Incorreta a alternativa A, pois o ligamento redondo não tem relação com o ureter. B) Incorreta a alternativa B, pois o ligamento largo tem apenas o folheto anterior aberto, não havendo risco de lesão do ureter que está retroperitoneal. C) Correta a alternativa C, conforme explicado acima. D) Incorreta a alternativa D, pois, em uma histerectomia sem salpingooforectomia, não há dissecção desse ligamento. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 87 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 88 RESIDÊNCIA MÉDICA 51. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Mulher, 30 anos de idade, primigesta com 39 semanas de gravidez, sem doenças, foi admitida na maternidade em trabalho de parto espontâneo. Ao exame físico, apresentou bom estado geral, corada, normotensa e normocárdica. Abdome gravídico, altura uterina de 36 cm, dinâmica presente, batimento cardíaco fetal presente de 146 bpm. Após 1 hora de período expulsivo, apresentou amniorrexe espontânea com saída de líquido meconial. Realizada a cardiotocografia a seguir: Como todos os critérios de aplicabilidade estavam presentes, foi optado pela realização do fórcipe de Kielland, com rotação da cabeça fetal de 90 graus no sentido horário para a ultimação do parto em occipto púbica. Indique a variedade de posição encontrada no momento da aplicação do fórcipe. A) Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 89 RESIDÊNCIA MÉDICA B) C) D) Comentários: O que o examinador quer saber: sobre mecanismos do parto. Mecanismo de parto são movimentos passivos que as contrações uterinas provocam no feto ao impulsioná-lo contra os pontos de resistência da pelve materna. Tais movimentos fazem com que os maiores diâmetros fetais coincidam com os maiores diâmetros da bacia obstétrica e, dessa forma, a apresentação fetal possa progredir pelos planos da bacia. Os seis tempos do mecanismo de parto são: insinuação; • descida; • rotação interna; • desprendimento cefálico; • rotação externa; • desprendimento das espáduas. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 89 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 90 RESIDÊNCIA MÉDICA Insinuação caracteriza-se pela passagem do maior diâmetro transverso da apresentação fetal pelo estreito superior da bacia materna ou, ainda, na maioria das mulheres, pelo ponto de referência ósseo da apresentação fetal atingir o estreito médio da bacia obstétrica, ou seja, o nível das espinhas isquiáticas. Descida caracteriza-se pela progressão do feto pelo canal de parto, passando do estreito superior ao estreito inferior da bacia obstétrica. Rotação interna é o movimento no sentido horário ou no anti-horário que a apresentação fetal realiza ao ser impulsionada pelas contrações uterinas contra os pontos de resistência da pelve materna e que permite que o feto adapte seu maior diâmetro ao maior diâmetro da bacia obstétrica. A figura a seguir foi pensada para ajudá-lo a memorizar esse conceito. Ela apresenta os pontos de referência da pelve materna e as nomenclaturas obstétricas relacionadas a cada um deles. A letra que completa as lacunas no início de cada uma delas deve ser a referente ao ponto de referência da apresentação fetal. Por exemplo, no caso das apresentações cefálicas fletidas, a letra O. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 91 RESIDÊNCIA MÉDICA DICA: • Variedades de posição esquerda: rotação interna no sentido anti-horário ◦ OEA = rotação interna de 45º sentido anti-horário. ◦ OET = rotação interna de 90º sentido anti-horário. ◦ OEP = rotação interna de 135º sentido anti-horário. • Variedades de posição direita: rotação interna no sentido horário ◦ ODA = rotação interna de 45º sentido horário. ◦ ODT = rotação interna de 90º sentido horário. ◦ ODP = rotação interna de 135º sentido horário. Desprendimento cefálico, como o nome sugere, relaciona-se ao movimento que permite que a cabeça fetal se desprenda do corpo materno. A maneira mais favorável para que o pólo cefálico desprenda-se do corpo materno consiste em o occipício fetal estar posicionado abaixo da pube da parturiente, isso é, na variedade de posição occipitopúbica (OP). Isso acontece porque, quando o feto atinge o estreito inferior da pelve materna, as contrações uterinas impulsionam-no para fora do canal de parto, enquanto a musculatura do períneo materno oferece resistência a esse movimento. Quando a variedade de posição fetal é a occipitopúbica, essas forças contrárias uma a outra sobre o feto acarretam um processo de alavanca, em que o occipício do feto é pressionado contra a região subpúbica da bacia materna, promovendo a deflexão da cabeça fetal e sua consequente exteriorização do canal de parto. No momento do desprendimento do feto, o diâmetro anteroposterior do estreito inferior (conjugata exitus) aumenta cerca de dois centímetros, graças à retropulsão do cóccix, permitindo a passagem da cabeça fetal pelo estreito inferior e a ocorrência do desprendimento cefálico. Rotação externa consiste no movimento que restitui o dorso fetal para posição em que estava inicialmente no interior do canal de parto. Desprendimento das espáduas caracteriza-se pelo movimento que resulta na exteriorização dos ombros fetais, sendo que, geralmente, o ombro anterior desprende-se primeiro, seguido pelo ombro posterior. A) Incorreta a alternativa A: aqui, temos uma variedade de posição occipito esquerda transversa e a rotação interna deve ser de 90 graus no sentido anti-horário. B) Incorreta a alternativa B: aqui, temos uma variedade de posição occipito esquerda posterior e a rotação interna deve ser de 135 graus no sentido anti-horário. C) Correta a alternativa C: como houve necessidade de rotação da cabeça fetal em 90 graus no sentido horário, a posição da cabeça fetal antes da aplicação do fórcipe era a occipito direita transversa, que necessita de uma rotação de 90 graus no sentido horário para atingir a posição occipitopúbica para o desprendimento do polo cefálico. D) Incorreta a alternativa D: aqui, temos uma variedade de posição occipito direita posterior e a rotação interna deve ser de 135 graus no sentido horário. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 91 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 92 RESIDÊNCIA MÉDICA 52. (EstratégiaMED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Mulher, 28 anos de idade, primigesta com 40 semanas de gravidez, sem doenças, foi admitida na maternidade em trabalho de parto espontâneo. Ao exame físico, apresentou bom estado geral, corada, normotensa e normocárdica. Abdome gravídico, altura uterina de 38 cm, dinâmica presente, batimento cardíaco fetal presente de 146 bpm. O acompanhamento do trabalho de parto está demonstrado no partograma a seguir: Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 93 RESIDÊNCIA MÉDICA Ao avaliar a evolução do trabalho de parto representado, assinale a alternativa que indica, na figura apresentada a seguir, a região da pelve materna em que se encontra a apresentação fetal. A) A B) B C) C D) D Comentários: O que o examinador quer saber: sobre partograma e bacia obstétrica. A bacia obstétrica pode ser dividida em três estreitos: superior, médio e inferior, os quais representam as regiões onde a passagem fetal pode ser prejudicada por serem pontos mais “apertados” ou “estreitos”, como o nome sugere, do canal de parto. O primeiro ponto importante a ser ressaltado é que os estreitos e planos da bacia não são paralelos entre si. Note que o canal de parto tem formato semelhante a um J, acompanhando a curvatura óssea da pelve. A avaliação de cada estreito é realizada separadamente, a partir de seus diâmetros transversais e anteroposteriores. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 93 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 94 RESIDÊNCIA MÉDICA Entender os estreitos e seus diâmetros pode ficar mais simples se você imaginar que estamos avaliando a pelve a olhando “de cima”. Começaremos pelo estreito superior e, conforme formos passando de um estreito a outro, aprofundaremos na bacia em direção aos pés até o estreito inferior. Pense nos estreitos como planos que dividem a bacia, observe a figura a seguir para entender melhor esse conceito. A tabela a seguir resume os estreitos da bacia e seus diâmetros correspondentes: Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 95 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Correta a alternativa A: o partograma mostra uma parada secundária da dilatação em 7 cm, com a cabeça fetal no plano menos 3 de De Lee, isto é, no estreito superior. A região da pelve materna que mostra o estreito superior é a indicada pela letra A. B) Incorreta a alternativa B: a letra B indica o estreito médio que está entre os planos menos 2 e mais 2 de De Lee. C) Incorreta a alternativa C: a letra C indica o estreito médio que está entre os planos menos 2 e mais 2 de De Lee. D) Incorreta a alternativa D: a letra D indica o estreito inferior que está abaixo do plano mais 2 de De Lee. Gabarito: A 53. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Durante o exame físico obstétrico de uma gestante de 36 semanas, foi identificado, na palpação obstétrica: fundo uterino ocupado, posição direita e anterior, cabeça fetal móvel na região suprapúbica e escava desocupada. Assinale a alternativa que indica a estática fetal descrita no exame físico. A) B) C) Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 95 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 96 RESIDÊNCIA MÉDICA D) Comentários: O que o examinador quer saber: sobre exame físico obstétrico e estática fetal. As manobras obstétricas são manobras de palpação abdominal divididas em quatro tempos e que têm o intuito de definir parâmetros da estática fetal. A primeira manobra, ou primeiro tempo, caracteriza-se pela palpação do fundo uterino com as bordas cubitais das duas mãos procurando perceber com as faces palmares qual é a porção fetal que ocupa essa região. O polo cefálico é mais irredutível ao toque em comparação com o polo pélvico, assim como tende a ser menor do que ele. A segunda manobra, ou segundo tempo, também chamada de manobra de Budin, é realizada deslizando-se as mãos para as laterais do útero na intenção de perceber para que lado materno o dorso fetal está voltado. A porção referente ao dorso do feto será sentida à palpação como uma superfície mais contínua e densa, enquanto, na porção contralateral, que contém as partes e os membros fetais, a sensação será oposta. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 97 RESIDÊNCIA MÉDICA A terceira manobra, ou terceiro tempo, é também chamada de manobra de Leopold e dedica-se a investigar se o polo fetal que se apresenta ao estreito superior da pelve materna está móvel ou não. É realizada apreendendo-se o polo fetal presente na porção inferior do útero com a mão em formato de “C”, isto é, entre o dedo médio e o polegar da mão direita, realizando movimentos de lateralização que tentam movimentar de um lado para o outro o polo cefálico apreendido. Caso o polo fetal realize o movimento, isso demonstra que ainda não penetrou na pelve materna, o que denominamos, na prática clínica, de “estar alto e móvel”. A quarta e última manobra, ou quarto tempo, tem o intuito de avaliar a escava. Nesse momento, é necessário que o examinador fique de costas para a gestante e posicione cada uma de suas mãos nas fossas ilíacas, projetando-as em direção ao hipogástrio da grávida, na tentativa de penetrar na pelve materna. A percepção de polo fetal liso e irredutível revela tratar-se de apresentação cefálica; já a percepção de polo fetal irregular e deprimível caracteriza o polo pélvico. Ainda com relação à quarta manobra, a descrição da escava pode remeter à definição da apresentação fetal. Essa informação pode eventualmente ser utilizada na descrição do exame físico da gestante no enunciado da questão. Além de saber realizar os quatro tempos das manobras obstétricas, o examinador espera que você consiga relacionar cada um deles a um dos parâmetros da estática fetal também. Então, vamos lá! Primeiro tempo – situação fetal, isto é, ao perceber qual é a porção fetal que ocupa o fundo uterino, é possível definir a relação entre os maiores eixos do feto e do útero entre si. Lembre-se de que a situação pode ser longitudinal, oblíqua ou transversal. Segundo tempo – posição fetal, ou seja, ao perceber para que lado do corpo materno o dorso fetal está voltado, define-se a posição fetal caracterizada por ser a relação do dorso fetal com o corpo materno. Pode ser esquerda, direita, anterior ou posterior. Terceiro tempo – apresentação fetal, isto é, ao apreender o polo cefálico que está próximo da pelve materna, é possível determinar qual é a porção fetal que se relaciona com o estreito superior da bacia materna e que nele vai se insinuar. Conforme demonstrado na figura 13, o feto pode estar em apresentação cefálica, pélvica ou córmica. Quarto tempo – insinuação fetal, que, embora seja uma avaliação relacionada ao toque vaginal, quando se percebe o feto ocupando a escava materna, infere-se que esteja insinuado, isto é, que seu maior diâmetro transverso da apresentação atravessou o estreito superior da pelve materna. Essa é a forma como o tema aparece nas provas, então é importante que você o conheça assim, mas não “bagunce” os critérios para que se considere que um feto está insinuado, combinado? A) Incorreta a alternativa A: a imagem A é de uma apresentação pélvica e, como a cabeça fetal está na região suprapúbica, trata-se de uma apresentação cefálica. B) Incorreta a alternativa B: a imagem B indica uma apresentação cefálica com o dorso à esquerda do abdome materno. C) Incorreta a alternativa C: a imagem C é de uma apresentação pélvica e, como a cabeça fetal está na região suprapúbica, trata-se de uma apresentação cefálica. D) Correta a alternativa D: como o fundo uterino está ocupado,temos uma situação longitudinal. Como a posição fetal é direita e anterior, o dorso encontra-se à direita e anterior em relação à gestante. Como a cabeça fetal está na região suprapúbica, temos uma apresentação cefálica. Portanto, o feto está em situação longitudinal, apresentação cefálica, posição direita e anterior, o que corresponde à imagem D. Gabarito: D Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 97 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 98 RESIDÊNCIA MÉDICA 54. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Mulher, 24 anos de idade, previamente hígida, comparece no pronto atendimento com sangramento vaginal há 2 dias, com piora há 2 horas. Refere que descobriu estar gestante há 1 semana. Ao exame físico, regular estado geral, descorada, PA de 90 x 60 mmHg, FC de 100 bpm. Abdome flácido, indolor. Toque vaginal com colo pérvio e sangramento vaginal moderado ativo. Exame de imagem apresentado a seguir: A conduta correta a ser adotada diante dos achados é: A) expectante. B) metotrexato. C) AMIU. D) curetagem. Comentários: O que o examinador quer saber: as formas clínicas de aborto. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 99 RESIDÊNCIA MÉDICA As formas clínicas de abortamento estão resumidas na tabela a seguir: Sangramento Colo uterino Ultrassonografia Conduta Ameaça de aborto Discreto Fechado Embrião vivo, pode ter hematoma Expectante Abortamento inevitável ou em curso Moderado ou intenso Pérvio Embrião vivo ou óbito embrionário, pode ter hematoma e saco gestacional mais baixo Internação e esvaziamento uterino Abortamento completo Discreto ou ausente Fechado Endométrio fino (Eco endometrial até 15 mm) Alta Abortamento incompleto Moderado ou intenso Geralmente pérvio Material amorfo e heterogêneo (eco endometrial > 15 mm) Internação e esvaziamento uterino Abortamento retido Discreto ou ausente Fechado Embrião ≥ 7 mm sem vitalidade ou diâmetro médio do saco gestacional ≥ 25 mm sem embrião ou vesícula vitelínica Expectante por até 4 semanas ou ativa com esvaziamento uterino (misoprostol/ AMIU/curetagem) Abortamento infectado Variável, febre e secreção fétida Pérvio e doloroso à mobilização Restos ovulares, endométrio heterogêneo Antibiótico de amplo espectro (clindamicina + gentamicina) e esvaziamento uterino Diante de uma gestante com sangramento vaginal no primeiro trimestre, a primeira hipótese diagnóstica deve ser a de um aborto. Para diferenciar as diferentes formas clínicas de aborto, devemos avaliar a quantidade de sangramento, o colo uterino e a ultrassonografia. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 99 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 100 RESIDÊNCIA MÉDICA Se o sangramento é discreto com colo impérvio, até realizar a ultrassonografia, estamos diante de uma ameaça de aborto. Confirma-se esse diagnóstico com a ultrassonografia mostrando gestação tópica com embrião vivo. Se a ultrassonografia mostrar eco endometrial menor do que 15 mm, podemos estar diante de um aborto completo ou até de uma gestação ectópica. O que ajuda na diferenciação desse diagnóstico é a quantidade de sangramento que a paciente apresentou antes de ser avaliada, uma vez que, no aborto completo, o sangramento vaginal no início é intenso e melhora após a saída completa dos restos ovulares e, na gestação ectópica, o sangramento vaginal geralmente é pequeno. Quando o sangramento é maior e o colo uterino é pérvio, as hipóteses são aborto em curso (aborto inevitável) ou aborto incompleto. O que vai diferenciar é a história clínica e a ultrassonografia. Se a paciente refere saída de material sugestivo de saco gestacional ou embrião, o diagnóstico é aborto incompleto. Na ultrassonografia, observa-se ausência de saco gestacional e embrião, com eco endometrial > 15 mm. No aborto em curso, o saco gestacional e o embrião ainda não foram eliminados e, inclusive, o embrião ainda pode estar vivo. No aborto retido, a paciente, na maioria das vezes, é assintomática e o diagnóstico é ultrassonográfico, com confirmação de uma gestação não evolutiva (saco gestacional ≥ 25 mm ou embrião ≥ 7 mm sem batimento). No aborto infectado, a paciente apresenta febre, dor à mobilização do colo uterino, que, na maioria das vezes, está pérvio, e sangramento com odor fétido. A conduta no aborto completo é dar alta para a paciente, na ameaça de aborto, é expectante, somente com sintomáticos. No aborto incompleto e no aborto em curso, a conduta pode ser ativa com AMIU ou curetagem ou ainda expectante, se a gestante estiver estável e com sangramento controlado. No aborto retido, a conduta pode ser expectante por até 4 semanas ou ativa com uso de misoprostol, AMIU ou curetagem. No aborto infectado, deve-se fazer antibioticoterapia de amplo espectro (clindamicina + gentamicina) e esvaziamento uterino. A) Incorreta a alternativa A: estamos diante de um aborto incompleto com paciente instável, sendo assim, a conduta deve ser ativa com esvaziamento uterino. B) Incorreta a alternativa B: como se trata de um quadro de aborto incompleto, não está indicado o uso de metotrexato, utilizado em alguns casos selecionados de gestação ectópica. C) Correta a alternativa C: temos uma gestante com sangramento vaginal e colo pérvio. A ultrassonografia mostra um ecoendometrial espesso, de 33,5 mm, ausência de saco gestacional, indicando ser um aborto incompleto. Como o sangramento está ativo, a paciente está em regular estado geral, hipotensa e taquicárdica, a conduta deve ser ativa com esvaziamento uterino, de preferência com AMIU. D) Incorreta a alternativa D: diante de aborto incompleto, dá-se preferência à AMIU que é menos agressiva e apresenta menos complicações. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 101 RESIDÊNCIA MÉDICA 55. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Mulher, 28 anos, tercigesta, secundípara, atraso menstrual para 7 semanas, sem comorbidades. Vem à maternidade por apresentar náuseas e vômitos intensos. Refere também sangramento vaginal em pequena quantidade há um dia. Ao exame físico, bom estado geral, corada, desidratada 2+/4, PA de 90 x 60 mmHg, FC de 100 bpm. Abdome flácido indolor, útero palpável na sínfise púbica. Toque vaginal colo impérvio, útero aumentado para 12 semanas. Solicitados exames laboratoriais e ultrassonografia. Exame de imagem apresentado a seguir: O que é esperado encontrar nos exames laboratoriais? A) TSH aumentado. B) T3 diminuído. C) T4 livre aumentado. D) T4 diminuído. Comentários: O que o examinador quer saber: sobre o quadro clínico de doença trofoblástica gestacional. A doença trofoblástica gestacional apresenta a forma benigna (mola hidatiforme – MH) e maligna (neoplasia trofoblástica gestacional). Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 101 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 102 RESIDÊNCIA MÉDICA A mola hidatiforme é a forma clínica mais comum e divide-se em dois tipos distintos: mola hidatiforme completa (MHC) e mola hidatiforme parcial (MHP) com diferenças histopatológicas, genéticas, clínicas e evolutivas. A mola hidatiforme apresenta complicações clínicas e pode apresentar, apesar de incomum, potencial maligno. O grande desafio é manter o seguimento adequado pós-molar, garantindo a vigilância e o controle hormonal do hCG. O termo neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) é dado às alterações que possuem potencial maligno, com invasão local e risco de metástases. Ela ocorre geralmente após uma gestação molar, mas também pode ocorrer após a evoluçãode gestação normal, que evoluiu a termo. A NTG divide-se em: mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide. O quadro clínico vai depender de o diagnóstico ter ocorrido em idade gestacional precoce ou não. Quanto mais tardio o diagnóstico, maior será a sintomatologia. Vou colocar, a seguir, os sinais e sintomas característicos da doença e ajudá-lo a entendê-los. hCG MUITO ELEVADO: a característica principal da doença é a elevação exagerada do título de hCG composta das subunidades alfa e beta. Valores ACIMA DE 200.000 mUI/mL devem sempre fazer você suspeitar fortemente da doença trofoblástica gestacional. O título pode chegar a níveis exageradamente altos, de até 1 milhão de mUI/mL, a depender da idade gestacional e da evolução da doença. Isso é um ponto interessante, porque vai ajudá-lo a raciocinar sobre os outros sintomas que serão descritos a seguir. Como há aumento tanto da subunidade alfa quanto da beta do hCG, os altos valores podem determinar uma reação cruzada levando a outras manifestações clínicas decorrentes desse estímulo. Mas não se esqueça de que valores mais altos de hCG também podem ser encontrados em gestação múltipla normal, porém não tão elevados quanto na gestação molar. SANGRAMENTO VAGINAL: é o sintoma mais comum. Ocorre por volta da 4ª à 16ª semana de gestação, é de coloração escura, indolor, geralmente de pequena quantidade. Pode estar ou não associado à eliminação de vesículas por via vaginal, que é sinal patognomônico da doença. HIPERÊMESE GRAVÍDICA: vômitos geralmente estão presentes, principalmente nos casos de molas volumosas. É só pensar: se, no início da gestação, algumas pacientes já têm náuseas com pequena elevação do hCG, imagine com títulos muito altos do hCG? Em algumas pacientes, as náuseas e vômitos podem ser tão exuberantes e incoercíveis (o que é chamado de hiperêmese gravídica) que provocam alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, levando ao emagrecimento e à desidratação. ÚTERO AUMENTADO PARA A IDADE GESTACIONAL: esse sinal é encontrado em 41% dos casos. Como ocorre uma desordenada e intensa proliferação trofoblástica, o volume uterino aumenta mais rápido do que a altura uterina esperada para a idade gestacional. CISTOS TECALUTEÍNICOS: são cistos ovarianos BENIGNOS uni ou bilaterais, formados pela hiperestimulação ovariana, decorrentes dos altos títulos de hCG. Após a resolução e o esvaziamento uterino, os cistos apresentam uma regressão espontânea, o que determina uma conduta expectante, não sendo necessária sua remoção. HIPERTIREOIDISMO: os sinais de hipertireoidismo, como taquicardia, tremores finos e extremidades quentes, intolerância ao calor, fraqueza muscular, sudorese e perda de peso, podem surgir nos casos de gestação molar avançada em 2% dos casos. Isso ocorre devido à estimulação cruzada do hCG nos receptores do TSH na tireoide. Como há um estímulo intenso da subunidade alfa do hCG direto na tireoide (“tireolike”), ela envia um sinal para a adeno-hipófise, por feedback negativo, para diminuir o estímulo para a tireoide. Então, observa-se uma diminuição do TSH. Logo, uma das características da gravidez molar é o encontro de níveis diminuídos de TSH. DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO ANTES DE 20 SEMANAS: o aumento pressórico antes da 20ª semana de gestação é um sinal que ocorre em 10% dos casos e deve chamar a atenção em pacientes previamente normotensas. Um raciocínio prático para ajudá-lo a memorizar: como há uma proliferação trofoblástica acelerada e desordenada intrauterina, o organismo materno entende que há necessidade de maior aporte de sangue para nutrir a região; logo, como resposta, há um aumento pressórico compensatório para aumentar o Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 103 RESIDÊNCIA MÉDICA fluxo sanguíneo uterino. Esse aumento pressórico pode ser tão pronunciado que pode levar a quadros de eclâmpsia/iminência de eclâmpsia, havendo a necessidade de controle por meio da utilização de sulfato de magnésio e do controle pressórico com a hidralazina. ASPECTO ULTRASSONOGRÁFICO: é o exame mais utilizado para o diagnóstico da gestação molar. O padrão ocorre como imagens em “cachos de uva” ou “flocos de neve”, com múltiplas áreas anecoicas entremeadas com ecos amorfos que correspondem às vesículas. Na mola hidatiforme parcial, essa imagem pode estar ausente, sendo observada também uma placenta espessada, hiperecoica e com imagens císticas. No caso de formação de embrião, identifica-se múltiplas malformações e restrição de crescimento fetal, tornando-o incompatível com a vida. Deve-se internar a gestante logo ao diagnóstico e programar o esvaziamento molar. Para a programação do esvaziamento molar, deve-se estabilizar a paciente quanto aos sintomas clínicos, além da solicitação de alguns exames laboratoriais: dosagem sérica do hCG; hemograma; coagulograma; função tireoidiana; tipagem sanguínea e radiografia de tórax. No caso de grande quantidade de conteúdo intrauterino, com altura uterina superior à estimada de 14 semanas de gestação, recomenda- se a reserva de concentrado de hemácias devido ao risco aumentado de sangramento. A administração de betabloqueadores para controle dos sintomas de hipertireoidismo pode ser necessária para prevenir crise tireotóxica induzida pela anestesia no esvaziamento molar. O controle pressórico adequado também deve ser outro ponto de atenção, já que algumas pacientes com gestações molares avançadas podem apresentar pré-eclâmpsia grave ou até eclâmpsia. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 103 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 104 RESIDÊNCIA MÉDICA A ASPIRAÇÃO A VÁCUO é o tratamento de eleição por ser um procedimento de menor risco. Nas molas de menor volume, pode-se optar pela aspiração manual intrauterina (AMIU) e, para facilitar a aspiração de conteúdo molar em útero de maior volume, pode-se optar por aspiradores elétricos. A aspiração a vácuo pode ser completada por CURETAGEM com cureta romba ou fenestrada, se opção do cirurgião. Não é aconselhável a utilização de misoprostol devido ao risco de embolização trofoblástica e de hemorragia. A dilatação do colo deve ser realizada com as velas de Hegar e, depois, inicia-se a infusão de ocitocina para provocar a contração uterina e diminuir o risco de perfuração durante o esvaziamento molar. A histerectomia é reservada para mulheres com idade superior a 40 anos e prole constituída. O risco de neoplasia trofoblástica diminui consideravelmente após a histerectomia quando comparado ao esvaziamento molar por aspiração a vácuo. O esvaziamento uterino por via abdominal apresenta indicações restritas, devido a maiores taxas de neoplasia trofoblástica gestacional pela abertura uterina e manipulação abdominal. Você deve lembrar que os ovários devem ser preservados, mesmo na presença de cistos tecaluteínicos volumosos, uma vez que sua regressão ocorre espontaneamente após o esvaziamento molar e a normalização no hCG. Pode tornar-se uma urgência no caso de torção dos ovários, na presença de cistos volumosos. Após o esvaziamento molar, o título sérico do hCG deve ser avaliado SEMANALMENTE ou, em alguns serviços, a cada 15 dias, até se tornar indetectável (pois o beta-hCG em níveis elevados mimetiza o TSH, estimulando a produção de hormônios tireoidianos (T4 e T3), que se encontram aumentados e que inibem a produção de TSH, que se encontra diminuído. D) Incorreta a alternativa D: na DTG, os níveis de T4 encontram-se aumentados. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 105 RESIDÊNCIA MÉDICA 56. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Mulher, 28 anos, tercigesta, secundípara, atraso menstrual para 7 semanas, sem comorbidades. Vem à maternidade por apresentar náuseas e vômitos intensos. Refere também sangramento vaginal em pequena quantidade há um dia. Ao exame físico, bom estado geral, corada, desidratada 2+/4, PA de 90 x 60 mmHg, FC de 100 bpm. Abdome flácido indolor, útero palpável na sínfise púbica. Ao toque vaginal, colo impérvio, útero aumentado para 12 semanas. Solicitado exames laboratoriais e ultrassonografia. Exame de imagem apresentado a seguir: Qual é a conduta obstétrica? A) AMIU. B) Curetagem uterina. C) Dosagem seriada de beta-hCG. D) Laparoscopia. Comentários: O que o examinador quer saber: sobre a conduta na doença trofoblástica gestacional. A doença trofoblástica gestacional apresenta a forma benigna (mola hidatiforme – MH) e maligna (neoplasia trofoblástica gestacional). A mola hidatiforme é a forma clínica mais comum e divide-se em dois tipos distintos: mola hidatiforme completa (MHC) e mola hidatiforme parcial (MHP) com diferenças histopatológicas, genéticas, clínicas e evolutivas. A mola hidatiforme apresenta complicações clínicas e pode apresentar, apesar de incomum, potencial maligno. O grande desafio é manter o seguimento adequado pós-molar garantindo a vigilância e o controle hormonal do hCG. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 105 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 106 RESIDÊNCIA MÉDICA O termo neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) é dado às alterações que possuem potencial maligno, com invasão local e risco de metástases. Ela ocorre geralmente após uma gestação molar, mas também pode ocorrer após a evolução de gestação normal, que evoluiu a termo. A NTG divide-se em: mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide. O quadro clínico vai depender de o diagnóstico ter ocorrido em idade gestacional precoce ou não. Quanto mais tardio o diagnóstico, maior será a sintomatologia. Vou colocar, a seguir, os sinais e sintomas característicos da doença e ajudá-lo a entendê-los. hCG MUITO ELEVADO: a característica principal da doença é a elevação exagerada do título de hCG composta das subunidades alfa e beta. Valores ACIMA DE 200.000 mUI/mL devem sempre fazer você suspeitar fortemente da doença trofoblástica gestacional. O título pode chegar a níveis exageradamente altos, de até 1 milhão de mUI/mL, a depender da idade gestacional e da evolução da doença. Isso é um ponto interessante, porque vai ajudá-lo a raciocinar sobre os outros sintomas que serão descritos a seguir. Como há aumento tanto da subunidade alfa quanto da beta do hCG, os altos valores podem determinar uma reação cruzada levando a outras manifestações clínicas decorrentes desse estímulo. Mas não se esqueça de que valores mais altos de hCG também podem ser encontrados em gestação múltipla normal, porém não tão elevados quanto na gestação molar. SANGRAMENTO VAGINAL: é o sintoma mais comum. Ocorre por volta da 4ª à 16ª semana de gestação, é de coloração escura, indolor, geralmente de pequena quantidade. Pode estar ou não associado à eliminação de vesículas por via vaginal, que é sinal patognomônico da doença. HIPERÊMESE GRAVÍDICA: vômitos geralmente estão presentes, principalmente nos casos de molas volumosas. É só pensar: se, no início da gestação, algumas pacientes já têm náuseas com pequena elevação do hCG, imagine com títulos muito altos do hCG? Em algumas pacientes, as náuseas e vômitos podem ser tão exuberantes e incoercíveis (o que é chamado de hiperêmese gravídica) que provocam alterações do equilíbrio hidroeletrolítico, levando ao emagrecimento e à desidratação. ÚTERO AUMENTADO PARA A IDADE GESTACIONAL: esse sinal é encontrado em 41% dos casos. Como ocorre uma desordenada e intensa proliferação trofoblástica, o volume uterino aumenta mais rápido do que a altura uterina esperada para a idade gestacional. CISTOS TECALUTEÍNICOS: são cistos ovarianos BENIGNOS uni ou bilaterais, formados pela hiperestimulação ovariana, decorrentes dos altos títulos de hCG. Após a resolução e o esvaziamento uterino, os cistos apresentam uma regressão espontânea, o que determina uma conduta expectante, não sendo necessária sua remoção. HIPERTIREOIDISMO: os sinais de hipertireoidismo, como taquicardia, tremores finos e extremidades quentes, intolerância ao calor, fraqueza muscular, sudorese e perda de peso, podem surgir nos casos de gestação molar avançada em 2% dos casos. Isso ocorre devido à estimulação cruzada do hCG nos receptores do TSH na tireoide. Como há um estímulo intenso da subunidade alfa do hCG direto na tireoide (“tireolike”), ela envia um sinal para a adeno-hipófise, por feedback negativo, para diminuir o estímulo para a tireoide. Então, observa-se uma diminuição do TSH. Logo, uma das características da gravidez molar é o encontro de níveis diminuídos de TSH. DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO ANTES DE 20 SEMANAS: o aumento pressórico antes da 20ª semana de gestação é um sinal que ocorre em 10% dos casos e deve chamar a atenção em pacientes previamente normotensas. Um raciocínio prático para ajudá-lo a memorizar: como há uma proliferação trofoblástica acelerada e desordenada intrauterina, o organismo materno entende que há necessidade de maior aporte de sangue para nutrir a região; logo, como resposta, há um aumento pressórico compensatório para aumentar o fluxo sanguíneo uterino. Esse aumento pressórico pode ser tão pronunciado que pode levar a quadros de eclâmpsia/iminência de eclâmpsia, havendo a necessidade de controle por meio da utilização de sulfato de magnésio e do controle pressórico com a hidralazina. ASPECTO ULTRASSONOGRÁFICO: é o exame mais utilizado para o diagnóstico da gestação molar. O padrão ocorre como imagens em “cachos de uva” ou “flocos de neve”, com múltiplas áreas anecoicas entremeadas com ecos amorfos que correspondem às vesículas. Na mola hidatiforme parcial, essa imagem pode estar ausente, sendo observada também uma placenta espessada, hiperecoica e com imagens císticas. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 107 RESIDÊNCIA MÉDICA No caso de formação de embrião, identifica-se múltiplas malformações e restrição de crescimento fetal, tornando-o incompatível com a vida. Deve-se internar a gestante logo ao diagnóstico e programar o esvaziamento molar. Para a programação do esvaziamento molar, deve-se estabilizar a paciente quanto aos sintomas clínicos, além da solicitação de alguns exames laboratoriais: dosagem sérica do hCG; hemograma; coagulograma; função tireoidiana; tipagem sanguínea e radiografia de tórax. No caso de grande quantidade de conteúdo intrauterino, com altura uterina superior à estimada de 14 semanas de gestação, recomenda- se a reserva de concentrado de hemácias devido ao risco aumentado de sangramento. A administração de betabloqueadores para controle dos sintomas de hipertireoidismo pode ser necessária para prevenir crise tireotóxica induzida pela anestesia no esvaziamento molar. O controle pressórico adequado também deve ser outro ponto de atenção, já que algumas pacientes com gestações molares avançadas podem apresentar pré-eclâmpsia grave ou até eclâmpsia. A ASPIRAÇÃO A VÁCUO é o tratamento de eleição por ser um procedimento de menor risco. Nas molas de menor volume, pode-se optarpela aspiração manual intrauterina (AMIU) e, para facilitar a aspiração de conteúdo molar em útero de maior volume, pode-se optar por aspiradores elétricos. A aspiração a vácuo pode ser completada por CURETAGEM com cureta romba ou fenestrada, se opção do cirurgião. Não é aconselhável a utilização de misoprostol devido ao risco de embolização trofoblástica e de hemorragia. A dilatação do colo deve ser realizada com as velas de Hegar e, depois, inicia-se a infusão de ocitocina para provocar a contração uterina e diminuir o risco de perfuração durante o esvaziamento molar. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 107 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 108 RESIDÊNCIA MÉDICA A histerectomia é reservada para mulheres com idade superior a 40 anos e prole constituída. O risco de neoplasia trofoblástica diminui consideravelmente após a histerectomia quando comparado ao esvaziamento molar por aspiração a vácuo. O esvaziamento uterino por via abdominal apresenta indicações restritas, devido a maiores taxas de neoplasia trofoblástica gestacional pela abertura uterina e manipulação abdominal. Você deve lembrar que os ovários devem ser preservados, mesmo na presença de cistos tecaluteínicos volumosos, uma vez que sua regressão ocorre espontaneamente após o esvaziamento molar e a normalização no hCG. Pode tornar-se uma urgência no caso de torção dos ovários, na presença de cistos volumosos. Após o esvaziamento molar, o título sérico do hCG deve ser avaliado SEMANALMENTE ou, em alguns serviços, a cada 15 dias, até se tornar indetectável ( 1,5 MoM) ou hidropisia por DHPN é feito por cordocentese. Por meio desse exame, é possível coletar sangue fetal para avaliar a concentração de hemoglobina fetal e a necessidade de transfusão sanguínea fetal intraútero. Se a avaliação da hemoglobina confirmar anemia fetal, deve-se fazer a transfusão fetal intraútero de concentrado de hemácias tipo O Rh negativo de sangue irradiado. O ideal é fazer a transfusão fetal intravascular; caso não seja possível, pode ser feita a intraperitoneal. É importante saber que os valores de hemoglobina e hematócrito variam conforme a idade gestacional, considera-se anemia fetal quando esses valores estão dois desvios-padrões abaixo do esperado para a idade gestacional ou hematócrito abaixo de 30%. Geralmente, fetos com hidropisia fetal apresentam déficit de hemoglobina de pelo menos 7 g/dL abaixo da média para a idade gestacional. A sobrevida fetal aumenta consideravelmente após transfusão intrauterina, sendo em torno de 90% nos fetos não hidrópicos e 75% nos fetos hidrópicos. Sendo assim, a transfusão intrauterina é indicada entre 18 e 34 semanas. Após 34 semanas, os riscos da transfusão superam os riscos da prematuridade e a melhor conduta é a resolução da gestação. A) Incorreta a alternativa A: não há necessidade de repetir o Coombs indireto quando já há indicação de realizar a Dopplervelocimetria para avaliação do pico de velocidade sistólica da artéria cerebral média. B) Incorreta a alternativa B: como a Dopplervelocimetria demostra que o PVS-ACM está acima de 1,5 MOM, não há mais indicação de repetir esse exame, uma vez que já indica anemia grave com necessidade de cordocentese. C) Correta a alternativa C: temos uma gestante de 26 semanas e 5 dias em acompanhamento por aloimunização Rh. O exame de imagem apresentado é a Dopplervelocimetria da artéria cerebral média. Nesse exame, foi observado um pico de velocidade sistólico da artéria cerebral média de 52,62, acima de 1,5 MOM para a idade gestacional, o que corresponde à anemia fetal grave e indica a realização de cordocentese para confirmar a anemia e realizar transfusão sanguínea intrauterina. D) Incorreta a alternativa D: como o feto tem 26 semanas e 5 dias, não está indicada a resolução da gestação, mas, sim, a transfusão intrauterina. Gabarito: C Estratégia MEDEstratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 111 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 112 RESIDÊNCIA MÉDICA 58. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Primigesta, 42 anos, realiza ultrassonografia morfológica do primeiro trimestre com 12 semanas. Imagem e resultados apresentados a seguir: Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 113 RESIDÊNCIA MÉDICA Rastreamento de cromossomopatias no primeiro trimestre: Risco para trissomia do 21 Risco Inicial = 1/42 Risco corrigido = 1/169 A conduta preconizada para essa gestante é: A) amniocentese. B) biópsia de vilo corial. C) ultrassom morfológico 2 trimestre. D) DNA fetal livre. Comentários: O que o examinador quer saber: sobre rastreamento de cromossomopatias. Para o rastreamento de cromossomopatias, pode-se utilizar o DNA fetal livre no sangue materno ou a combinação da idade materna com os marcadores ultrassonográficos e bioquímicos. O rastreamento combinado ainda é o método mais utilizado para o rastreamento de cromossomopatias no Brasil e é capaz de identificar mais de 95% dos casos de fetos com síndrome de Down. Por meio do cálculo de risco utilizando esses marcadores, classifica-se as gestantes em alto risco, risco intermediário e baixo risco. Gestantes de alto risco para cromossomopatias são aquelas em que o cálculo de risco é entre 1:2 e 1:100. A essas gestantes, está indicada a avaliação do cariótipo fetal (teste diagnóstico) por meio de procedimento invasivo, como biópsia de vilosidades coriônicas e amniocentese. Além disso, deve ser feita a avaliação da morfologia fetal no primeiro e no segundo trimestre e o ecocardiograma fetal. Quando o resultado do cálculo de risco é menor do que 1:1000, a gestante é considerada de baixo risco e não é necessário realizar outros testes de rastreamento ou procedimentos invasivos. Por fim, as gestantes que apresentam risco intermediário, isto é, quando o cálculo de risco é entre 1:101 e 1:1000, podem realizar um segundo teste de rastreamento, como o DNA fetal livre no sangue materno, fazer a avaliação morfológica do segundo trimestre, ou serem encaminhadas para o teste de diagnóstico, a depender do desejo da gestante e do aconselhamento genético. A biópsia de vilosidades coriônicas pode ser realizada entre 11 e 14 semanas e a amniocentese após 15 semanas. O risco de perda fetal nesses dois procedimentos invasivos gira em torno de 1%. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 113 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 114 RESIDÊNCIA MÉDICA Quando o cariótipo se apresenta normal, apesar da translucência nucal estar alterada, devem-se investigar malformações cardíacas, infecções congênitas e outras doenças genéticas. O fluxograma a seguir resume a conduta no rastreamento das cromossomopatias: A) Incorreta a alternativa A: como o risco corrigido é menor do que 1/100, não está indicado exame invasivo. B) Incorreta a alternativa B: como o risco corrigido é menor do que 1/100, não está indicado exame invasivo. C) Incorreta a alternativa C: como o risco é intermediário e a paciente tem 42 anos, está indicado o DNA fetal livre no sangue materno para um rastreamento mais acurado. D) Correta a alternativa D: temos uma gestante de 42 anos, cujo cálculo final de risco para cromossomopatias é de 1/169, considerado risco intermediário. Como a idade materna é o principal fator de risco para trissomia do 21, está indicado o rastreamento com o DNA fetal livre, que apresenta maior sensibilidade e especificidade. Gabarito: D Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 115 RESIDÊNCIA MÉDICA 59. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Parturiente, 30 anos, 39 semanas de gestação, sem comorbidade, no período expulsivo do trabalho de parto há 1 hora. Ao exame: bom estado geral, PA de 120 x 80 mmHg, FC de 100 bpm, 4 contrações em 10 minutos, batimentos cardíacos de 150 bpm, com variabilidade e sem desacelerações, cabeça fetal no introito vaginal conforme imagem a seguir: A conduta preconizada nesse momento é: A) manobra de pressão no fundo uterino. B) episiotomia mediolateral direita. C) orientar puxos dirigidos. D) aguardar evolução espontânea. Comentários: O que o examinador quer saber: sobre a assistência ao período expulsivo. O segundo período do trabalho de parto, também chamado de período expulsivo, inicia-se quando a dilatação do colo uterino está completa e a parturiente começa a ter vontade de empurrar. Nessa fase, ocorre a descida da apresentação fetal e a compressão dos músculos Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 115 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 116 RESIDÊNCIA MÉDICA perineais, o que promove a vontade de empurrar, muitas vezes confundido com a vontade de defecar. O segundo período do parto termina com o nascimento do concepto. A duração do período expulsivo é muito variável, sendo em torno de 3 horas em primíparas e 2 horas em multíparas, podendo chegar a 3 horas nas multíparas e 4 horas na primípara, quando a parturiente está sob efeito da analgesia. O mais importante é o feto apresentar boa vitalidade durante todo esse período. Para isso, os batimentos cardíacos fetais devem ser avaliados a cada 5-10 minutos ou de forma contínua. Durante o período expulsivo, é comum observar as desacelerações precoces por compressão do pólo cefálico. Essas desacelerações são fisiológicas e ocorrem com a contração, sendo que, após a contração, os batimentos cardíacos fetais voltam ao normal. A posição do período expulsivo e de nascimento do concepto deve ser de livre escolha da gestante, mesmo se ela estiver sob efeito de analgesia. Tem-se observado que a posição verticalizada diminui o período expulsivo e a chance de laceração perineal. Além disso, deve-se permitir que a gestante tenha puxos espontâneos, evitando os puxos dirigidos que aumentam a chance de desaceleração dos batimentos cardíacos fetais, cansaço materno e laceração perineal. O desprendimento do polo cefálico precisa ser lento e gradual, diminuindo os riscos de laceração perineal. Durante o desprendimento do polo cefálico, recomenda-se proteção perineal com as mãos (manobra de Ritgen), massagem perineal e compressa quente se a parturiente permitir, pois essas manobras mostraram-se efetivas para diminuir as chances de laceração perineal. Por outro lado, a episiotomia não deve ser feita de forma rotineira e liberal, mas, sim, de forma restrita e seletiva, pois há evidências de que evitar episiotomia diminui significativamente o trauma perineal e a dor pós-parto, além de não haver evidências claras de seu benefício. Esse procedimento cirúrgico consiste em uma incisão no períneo realizada no momento do desprendimento do polo cefálico, que tem como objetivo aumentar a abertura vaginal e diminuir lacerações perineais graves. Sendo assim, não há evidências claras sobre a situação em que a episiotomia estaria recomendada. Na situação excepcional em que a equipe de assistência não encontre uma alternativa viável, deve ser médio-lateral direita, autorizada pela parturiente, descrita e justificada em prontuário. Quando a episiotomia é feita, recomenda-se a técnica mediolateral, com atenção especial para garantir que o ângulo esteja a 60º da linha média quando o períneo está distendido. Os planos seccionados durante a episiotomia são: pele, mucosa vaginal, aponeurose superficial do períneo e músculos bulboesponjoso e transverso superficial do períneo. A manobra de Kristeller, por sua vez, é proibida na assistência obstétrica adequada do período expulsivo. Essa manobra consiste em o assistenteempurrar o fundo uterino com o braço para ajudar no desprendimento do polo cefálico. Ela está proscrita na obstetrícia, pois aumenta os riscos maternos e fetais. Após a saída do polo cefálico, ocorre a rotação externa e o desprendimento das espáduas de forma espontânea, com consequente expulsão fetal. É nesse momento que se faz o diagnóstico de distocia de ombro. Com o nascimento, o recém-nascido deve ser colocado no ventre materno e receber os cuidados do pediatra de preferência no colo da mãe. Em seguida, o clampeamento do cordão deve ser adiado por pelo menos 1 minuto, isso é, deve-se fazer o clampeamento tardio do cordão, que permite ao recém-nascido receber um aporte maior de sangue da placenta, diminuindo, assim, os riscos de anemia, de hemorragia intraventricular e enterocolite necrosante, além de proporcionar uma melhor estabilidade circulatória do neonato. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 117 RESIDÊNCIA MÉDICA A) Incorreta a alternativa A: a manobra de pressão no fundo uterino é a manobra de Kristeller e está contraindicada. B) Incorreta a alternativa B: a episiotomia mediolateral direita não deve ser realizada rotineiramente. C) Incorreta a alternativa C: a paciente deve ser orientada a fazer apenas puxos espontâneos. Os puxos dirigidos aumentam a chance de laceração perineal. D) Correta a alternativa D: temos uma parturiente no período expulsivo fisiológico com a cabeça fetal exteriorizando no introito vaginal, nesse momento, pode-se aguardar o desprendimento da cabeça fetal de maneira espontânea. Pode-se realizar proteção perineal com as mãos, massagem perineal ou compressa quente, caso a parturiente aceite tais condutas. Gabarito: D Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 117 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 118 RESIDÊNCIA MÉDICA 60. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Obstetrícia - Prof. Natália Carvalho) Puérpera, parto normal há 1 hora, saída da placenta há 40 minutos, apresenta hipotensão e taquicardia associada a sangramento vaginal intenso. Além da administração de ocitocina endovenosa e ácido tranexâmico, que manobra está indicada nesse momento? A) B) C) Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 119 RESIDÊNCIA MÉDICA D) Comentários: O que o examinador quer saber: hemorragia pós-parto. Como a atonia uterina corresponde a 70% dos casos de HPP, seu tratamento deve ser instituído juntamente com as medidas iniciais, mesmo que a causa ainda não tenha sido estabelecida. O quadro clínico de atonia uterina caracteriza-se por sangramento pós-parto associado a um útero não contraído e acima da cicatriz umbilical. Há diversos esquemas terapêuticos na literatura mundial para a atonia uterina. A seguir, colocamos o preconizado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde, que é cobrado nas provas de Residência Médica. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 119 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 120 RESIDÊNCIA MÉDICA A massagem uterina bimanual é a primeira manobra a ser realizada enquanto se administra o uterotônico e se aguarda seu efeito. A figura a seguir ilustra a referida massagem, conhecida também por manobra de Hamilton: Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 121 RESIDÊNCIA MÉDICA Concomitantemente à manobra de Hamilton, aplica-se a ocitocina intravenosa, que é o uterotônico de primeira escolha no tratamento de HPP. Vale mencionar que existem diversos esquemas para sua administração. A OMS recomenda aplicar ocitocina endovenosa na dose de 20 a 40 UI, sendo 5 UI em bólus lento e o restante diluído em 500 mL de soro fisiológico a 0,9%. Se o sangramento não se resolver com ocitocina, devem-se utilizar outros uterotônicos, como a metilergometrina ou ergometrina e o misoprostol, que estão disponíveis no Brasil. A ordem de aplicação dessas medicações pode variar, a depender da disponibilidade nos serviços. A metilergometrina ou ergometrina deve ser administrada via intramuscular na dose de 0,2mg, tendo que ser repetida a cada duas a quatro horas. Evita-se o uso dessa medicação nos quadros hipertensivos, pois pode piorar a hipertensão e levar a infarto agudo do miocárdio. Por sua vez, o misoprostol deve ser aplicado via retal na dose de 800 μg (quatro comprimidos). O intervalo de tempo entre a tomada de decisão para a administração dos uterotônicos não deve ser superior a 15 min. A reposição hídrica de cristaloides e a administração de ácido tranexâmico têm de ser feitas concomitantemente aos uterotônicos para todas as puérperas com HPP. O ácido tranexâmico é administrado na dose de 1 g endovenoso a cada seis horas. O uso de ácido tranexâmico deve ser feito para todos os casos de HPP, independentemente da causa. Se o sangramento não parar, apesar do tratamento com todos os uterotônicos disponíveis, deve-se lançar mão dos dispositivos intrauterinos. Atualmente, temos disponíveis o balão de tamponamento intrauterino (BIU) e o dispositivo intrauterino de controle hemorrágico induzido por vácuo (JADA). Os dispositivos intrauterinos reduzem a necessidade de abordagem cirúrgica e podem ser utilizados tanto após o parto vaginal quanto após a cesárea. Os BIUs podem ser industrializados ou artesanalmente manufaturados. Para sua inserção, deve-se fazer antissepsia, sondagem vesical de demora, exposição do colo uterino pelas valvas vaginais, pinçar e tracionar o lábio anterior do colo, inserir o balão e fixá-lo. Então, infunde- se solução salina aquecida. É obrigatória a administração de antibiótico e ocitocina durante todo o uso dos BIUs, que pode se estender até 24h. Na figura a seguir, podem ser visualizados os BIUs. Quando o sangramento se mantiver, a despeito do tratamento conservador, a adoção de intervenções cirúrgicas faz-se necessária, como a sutura compressiva de B-Lynch e as suturas vasculares (ligadura das artérias uterinas ou das artérias ilíacas internas). A histerectomia, por sua vez, deve ser a última medida diante de uma HPP, utilizada somente se todas as outras intervenções falharem. A) Correta a alternativa A: diante de uma hemorragia pós-parto, além de ocitocina e ácido tranexâmico, está indicada a massagem uterina bimanual, conhecida como manobra de Hamilton, indicada na alternativa A. B) Incorreta a alternativa B: a manobra indicada nessa figura corresponde à manobra de Taxe, utilizada para corrigir inversão uterina. C) Incorreta a alternativa C: a manobra indicada nessa figura corresponde à manobra de Taxe, utilizada para corrigir inversão uterina. D) Incorreta a alternativa D: a manobra indicada corresponde à manobra de Brandt-Andrews, utilizada para auxiliar na retirada da placenta. Gabarito: A Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 121 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 122 RESIDÊNCIA MÉDICA PEDIATRIA 61. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Bruno Calvo) João Guilherme tem 8 anos, previamente asmático. Dá entrada no Pronto-Socorro Infantil com crise de tosse seca, dispneia e sibilância. Na admissão, os sinais vitais observados foram: A: vias aéreas pérvias; B: FR de 32 irpm, SpO2 de 89 em ar ambiente, tiragem de fúrcula e intercostal moderadas, sibilância difusa; C: TEC de 2 segundos, pulsos fortes, PA de 90 x 60 mmHg, FC de 126 bpm, ritmo sinusal em monitor; D: agitado, orientado, glicemia capilar de 96 mg/dL; E: afebril, sem lesões de pele. O paciente recebeu, ao longo da primeira hora de atendimento, 6 puffs de salbutamol de 20 em 20 minutos, prednisolona 2 mg/kg e foi alocado em cânula simples de O2 (CNO2). Em reavaliação:A: vias aéreas pérvias; B: FR de 36 irpm, SpO2 de 92% em CNO2, padrão respiratório mantido, sibilância difusa; C: TEC de 2 segundos, pulsos fortes, PA de 100 x 66 mmHg, FC de 134 bpm, ritmo sinusal em monitor; D: agitado, orientado; E: afebril, sem lesões de pele. Entre as alternativas a seguir, qual é a mais adequada para João? A) Manter salbutamol 6 puffs de 20 em 20 minutos por mais uma hora, associar brometo de ipratrópio e trocar CNO2 por máscara não reinalante. Considerar sulfato de magnésio. B) Ajustar salbutamol para 6 puffs a cada hora, associar brometo de ipratrópio e sulfato de magnésio. Manter CNO2. C) Manter salbutamol 6 puffs de 20 em 20 minutos por mais uma hora, prescrever brometo de ipratrópio. Preparar material para intubação orotraqueal. D) Ajustar salbutamol para 6 puffs a cada hora, prescrever sulfato de magnésio. Trocar CNO2 por máscara não reinalante. Comentários: Fala, Coruja! Questão sobre exacerbação de asma. Note a sistematização dos sinais vitais do paciente: essa prática é comum nos hospitais da USP-SP. Acostume-se a organizar e valorizar os sinais vitais de suas questões caso queira ser Residente lá, ok? Nas questões de emergência, a resposta quase sempre está nos sinais vitais. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 123 RESIDÊNCIA MÉDICA Antes de mais nada, é importante checar a idade do paciente. Lembre-se de que o manejo de asma, tanto manutenção quanto exacerbação, mudam para menores de 6 anos, ok? Nessa questão, vou me ater às recomendações para pacientes a partir de 6 anos. Vamos começar com o fluxograma: EXACERBAÇÃO DE ASMA 40 irpm • SpO2 180 bpm ( 150 bpm ( 120 bpm Frequência respiratória 30 irpm Uso de musculatura acessória Ausente Presente PFE > 50% do predito ≤ 50% do predito Os parâmetros favoritos da maioria dos examinadores são: incapacidade de falar frases, uso de musculatura acessória e hipoxemia! Busque sinais de gravidade de forma direcionada. Na avaliação inicial, João está: agitado, com FR > 30 irpm, FC > 120 bpm, SpO2 baixa e usando musculatura acessória. É uma crise grave! Ah, e ele não está hipotenso. Lembre-se de que utilizamos a regra PAScontra esta hipótese. B) Incorreta a alternativa B, já que a exacerbação de DPOC seguiria a mesma lógica citada anteriormente para asma no protocolo BLUE. C) Correta a alternativa C, já que o protocolo BLUE mostra o padrão A com deslizamento pleural presente associado a sinais de TVP não compressível como altamente sugestivo de TEP. O quadro clínico de início súbito com dispneia reforça esse diagnóstico. D) Incorreta a alternativa D, já que o pneumotórax apresenta padrão A sem deslizamento pleural, podendo haver o sinal do “lung point”. No caso, esses achados não foram mostrados, o que afasta esse diagnóstico. Gabarito: C 7. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pneumologia – Prof. Juan Demolinari) Homem, 28 anos, previamente hígido, chega ao pronto- socorro com quadro de dispneia intensa e chiado difuso há 2 horas. Relata antecedentes de asma desde a infância, com múltiplas internações prévias, sem intubação orotraqueal. Nega febre, tosse produtiva ou dor torácica. Exame físico: FR = 36 irpm, SatO₂ de 88% em ar ambiente, FC = 132 bpm, PA = 118 x 70 mmHg, T = 36,7 °C. Paciente em uso de musculatura acessória, fala entrecortada, sibilos difusos à ausculta e tempo expiratório prolongado. Foi intubado devido à falência respiratória iminente e colocado em ventilação mecânica invasiva. A capnografia mostrou uma curva característica de seu quadro clínico. Considerando o quadro clínico, o exame físico e os achados compatíveis com crise grave de asma em ventilação mecânica, assinale a alternativa que representa o padrão de onda de capnografia esperado. A) CO2 (mmHg) 40 0 B) CO2 (mmHg) 40 0 C) 0 10 20 30 40 50 Time Et CO 2 m m Hg D) 40 CO2 0 Time Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 14 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: A capnografia em forma de onda é um dispositivo que faz uma medição gráfica dos níveis de CO² nas vias aéreas e pode ser utilizada por vários motivos. É obtida por meio de um aparelho que se conecta ao tubo orotraqueal e detecta os níveis de CO² expirados (ETCO²) por meio de ondas de infravermelho. O capnograma, que representa graficamente a concentração de dióxido de carbono (CO₂) ao longo do ciclo respiratório, é dividido em quatro fases principais: 1. Fase 1 – ventilação do espaço morto (AB): • marca o início da expiração, quando o ar proveniente das vias aéreas superiores (espaço morto) é eliminado; • a concentração de CO₂ nesse momento é próxima de zero. 2. Fase 2 – ascensão rápida (BC): • representa a chegada do CO₂ proveniente dos alvéolos às vias aéreas superiores; • há um aumento súbito na concentração do gás na corrente respiratória. Fase 3 – platô alveolar (CD): • o nível de CO₂ estabiliza-se, refletindo a concentração uniforme do gás ao longo das vias respiratórias; • o ponto D, situado no final dessa fase, indica o CO₂ expirado final (EtCO₂), valor exibido no monitor. Fase 4 – inspiração (DE): • ocorre o início da inspiração, quando o CO₂ retorna a zero. Forma de onda normal de CO2 Time (seconds) C A B D Inhalation begins Exhalation begins A - B: Ventilação do espaço morto B - C: Fase expiratória ascendente C - D: Platô alveolar D: CO2 expirado D - E: Fase inspiratória descendente E 1 CO2 (mmHg) 40 0 UpToDate Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 15 RESIDÊNCIA MÉDICA A crise grave de asma cursa com broncoespasmo difuso, gerando obstrução expiratória. Na capnografia, isso se traduz no padrão em dente de tubarão (“shark fin”), caracterizado por elevação lenta e inclinada da fase expiratória, ausência de platô e aumento progressivo do ETCO₂ devido ao aprisionamento aéreo. A) Incorreta a alternativa A, já que, nesse traçado, há rápida ascensão até platô horizontal, indicando ventilação alveolar preservada, o que não corresponde ao paciente com asma grave e broncoespasmo difuso. Esse seria um padrão normal da capnografia. B) Incorreta a alternativa B, já que essa curva representa a intubação esofágica, que gera curvas com valores de CO₂ ausentes ou rapidamente decrescentes, chegando a zero, incompatíveis com um paciente que mantém eliminação de CO₂, mesmo obstruída. C) Correta a alternativa C, já que o broncoespasmo altera a fase expiratória, tornando-a lenta e inclinada. É o achado clássico em crises de asma grave, exatamente o quadro clínico apresentado, esse é o formato dente de tubarão. D) Incorreta a alternativa D, já que, na hiperventilação, a curva pode manter morfologia normal, mas com valores de ETCO₂ persistentemente baixos ( 2%, especialmente com valores maiores do que 3%). C) Incorreta a alternativaproblema é o suporte de O2! O paciente não atingiu o alvo, então é prudente aumentar a FiO2. C) Incorreta a alternativa C. Evite ao máximo intubar seu paciente em crise de asma! É um verdadeiro pesadelo ventilá-los na UTI. O fenômeno do aprisionamento aéreo é muito traiçoeiro! Lembre-se de que o esvaziamento dos pulmões é um fenômeno que costuma ser passivo, dependendo da elasticidade da caixa torácica e resistência das vias aéreas. Acontece que pacientes com distúrbios obstrutivos têm uma resistência muito aumentada nas vias aéreas, especialmente na expiração. Dessa forma, para otimizar a capacidade de exalar o CO2 desses pacientes, devemos aumentar o tempo expiratório no ventilador (o que implica uma redução da frequência respiratória, já que um minuto continua tendo 60 segundos, e precisamos aumentar a proporção de tempo da expiração: inspiração). Mas aí é que está o problema! Se reduzirmos demais a FR, o paciente começará a reter muito CO2, pois o volume-minuto diminuirá, e fará uma acidose respiratória. Se aumentarmos a FR em uma tentativa de compensar essa acidose respiratória, o tempo expiratório diminuirá e o paciente fará auto-PEEP por aprisionamento aéreo e aumentará o risco de barotrauma. O cobertor é curto! Por isso, só vamos indicar IOT em um contexto de asma se o paciente estiver muito mal: rebaixamento do nível de consciência, tendendo à bradipneia, acidose respiratória ou hipoxemias graves e refratárias. D) Incorreta a alternativa D. A dose do SABA fica muito baixa, e a alternativa não faz menção ao brometo de ipratrópio. A MRNI é uma boa opção para oferta de O2. Gabarito: A Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 127 RESIDÊNCIA MÉDICA 62. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Bruno Calvo) João Guilherme de 8 anos, da questão anterior, acabou sendo internado para manejo da exacerbação de asma. No primeiro dia de internação, apresentou boa evolução, a dose de SABA foi espaçada para 2/2h e paciente foi mantido em máscara de Venturi FiO2 50% com SpO2 de 96%. No segundo dia na enfermaria, apresentou uma piora expressiva do padrão respiratório: A: vias aéreas pérvias, traqueia desviada para a esquerda. B: SpO2 91% em Venturi 50%; FR 42 irpm; desconforto respiratório grave; sibilos difusos em hemitórax esquerdo; MV abolido em hemitórax à direita, hipertimpanismo à percussão. C: TEC de 4 segundos, pulsos filiformes, PA de 76 x 50 mmHg, FC de 146 bpm, turgência jugular, taquicardia sinusal em monitor. D: agitado, glicemia capilar de 89 mg/dL. E: afebril ao longo das últimas 24h, sem lesões de pele. Aparelhos de radiografia e POCUS indisponíveis. Qual é a conduta imediata? A) Drenagem torácica fechada em selo d’água. B) Fisioterapia respiratória com pressão positiva intermitente. C) Punção com jelco 16 em 2º EIC na linha do mamilo. D) Antibioticoterapia de amplo espectro e investigação de derrame pleural. Comentários: Fala, Coruja! Parece que estamos diante de uma complicação de uma exacerbação de asma. Nosso paciente estava evoluindo bem, mas apresentou uma piora súbita. Quando falamos de complicações de uma crise de asma, as principais são as seguintes: Complicação Tratamento ATELECTASIA Fisioterapia respiratória PNEUMOTÓRAX Drenagem torácica fechada + - Punção de alívio (se instável) PNEUMONIA (+ - derrame pleural) Antimicrobianos + - investigação do DP Na atelectasia, espera-se: • piora rápida do padrão respiratório; • não costuma ter febre; • macicez ou submacicez na percussão do lobo afetado; MV abolido/reduzido; Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 127 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 128 RESIDÊNCIA MÉDICA • desvios de estruturas (diafragma, traqueia, mediastino) para o lado da atelectasia: imagine que havia um pulmão insuflado ali que não ocupa mais aquele espaço, então a tendência é as outras estruturas “invadirem” a topografia do pulmão; • tratamento: fisioterapia respiratória com pressão positiva intermitente e higiene das vias aéreas para desobstruir o caminho do ar para o lobo que colapsou. No pneumotórax, espera-se: • piora súbito do padrão respiratório; • não costuma ter febre; • hipertimpanismo à percussão do hemitórax afetado; MV abolido/reduzido; • desvios de estruturas para o lado oposto ao pneumotórax: o ar invade o espaço pleural, empurrando tudo o que estiver no caminho; • podemos ter sinais de choque obstrutivo (hipotensão, turgência jugular, taquicardia, TEC prolongado), pois a tração abrupta do mediastino junto com o aumento da pressão intratorácica prejudicam o retorno venoso e circulação; • tratamento: se o paciente estiver INSTÁVEL, a conduta emergencial é uma punção de alívio no 2º EIC na linha mamilar. Depois da punção (ou se paciente estável), fazemos a drenagem torácica fechada como tratamento definitivo. Na pneumonia (com derrame pleural), espera-se: • piora insidiosa e presença de febre com tosse produtiva; • submacicez no lobo acometido; MV abolido/reduzido. Em caso de derrame pleural, as alterações se concentram na base do hemitórax; • não costuma desviar estruturas, a não ser que haja um derrame pleural muito extenso que empurra as estruturas para o lado contralateral; • podemos ter sinais de choque se houver sepse associada; • tratamento: se “apenas” pneumonia, terapia antimicrobiana. Se pneumonia com derrame pleural, além do antibiótico, devemos investigar o derrame pleural com uma toracocentese diagnóstica seguida (ou não) de drenagem torácica fechada. Tudo indica que nosso paciente está com um pneumotórax com choque obstrutivo. Ele está instável e hipotenso (lembre-se de que utilizamos a regra PAShipotensão, taquipneia, SpO2 baixa, desconforto respiratório, alterações em TEC e pulsos, alteração em nível de consciência; • sinais de disfunção miocárdica: além da instabilidade hemodinâmica, temos estertoração bilateral pulmonar compatível com congestão pulmonar e rebaixamento do fígado. Nosso primeiro impulso é pensar em uma bronquiolite viral aguda, afinal é um lactente com IVAS que evoluiu com desconforto respiratório. Mas você não pode perder de vista os sinais claros de disfunção miocárdica! O paciente está chocado, e há pistas apontando para a direção de componente cardiogênico. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 129 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 130 RESIDÊNCIA MÉDICA Isso sugere um importante diagnóstico diferencial: miocardite viral. Importante diagnóstico diferencial em quadros de bronquiolite! Complicação de infecções virais: enterovírus, adenovírus, influenza, parvovírus B19 figuram entre os principais agentes. Evolução subaguda Inicialmente com sintomas inespecíficos (TGI, mal-estar) Deois evolui com sinais da disfunção cardíaca Sinais de disfunção miocárdica e choque: • TEC prolongado; • Pulsos fracos; • Extremidades frias; • Congestão pulmonar; • PA convergente; • Cardiomegalia e congestão pulmonar em RX; • POCUS com disfunção de contratilidade e congestão pulmonar. Tratamento: • Imunoglobulina EV + - corticoide sistêmico; • Suporte hemodinâmico e ventilatório precoce. Bom, nosso paciente pode ter um choque cardiogênico “puro” por miocardite viral; mas também não conseguimos descartar, nesse momento, um choque séptico avançado com comprometimento da função miocárdica, afinal o quadro se iniciou com uma infecção. Dessa forma, nosso tratamento inicial deve cobrir tanto um choque séptico quanto um choque cardiogênico “puro”, concorda? Pelo menos até estabilizarmos o paciente e entendermos melhor o que está rolando. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 131 RESIDÊNCIA MÉDICA O tratamento inicial de todos os tipos de choque objetiva aumentar a oferta de oxigênio para os tecidos e restaurar o equilíbrio entre a perfusão tecidual e a demanda metabólica. Assim, as primeiras medidas devem ser: Especificamente falando de choque séptico, recomenda-se que crianças com diagnóstico de choque séptico e evidências clínicas de perfusão anormal devem ser submetidas a seis passos dentro de um intervalo de 1 hora: • monitorizar, oferecer O2, obter acesso venoso ou considerar intraósseo; • idealmente coletar hemocultura antes de iniciar ATB de amplo espectro; • considerar expansão volêmica com solução isotônica 10-20 mL/kg, que pode ser repetida; • considerar iniciar precocemente drogas vasoativas (DVA), especialmente se houver presença de disfunção miocárdica e/ou choque persistente após expansão volêmica inicial (NÃO precisa esperar fazer 60 mL/kg de expansão antes de iniciar DVA); • coletar exames pertinentes para o escore de Phoenix (plaquetas, INR, D-dímero, fibrinogênio, gasometria arterial, lactato sérico), bem como avaliação funcional renal e hepática. Sempre que você for expandir um paciente com solução cristaloide, três perguntas precisam ser respondidas: 1. O paciente precisa de volume? 2. O paciente responde à reposição de volume? 3. O paciente tolera a reposição de volume? A resposta às três perguntas acontece "em tempo real", conforme você vai administrando o volume ao paciente e reavaliando a resposta. Nada de esperar 2 horas para reavaliar: isso deve ser feito de forma constante nos pacientes graves para evitar iatrogenia! Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 131 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 132 RESIDÊNCIA MÉDICA Hoje em dia, preconiza-se a introdução precoce de drogas vasoativas (DVA). Você não precisa necessariamente fazer os 60 mL/kg antes de indicar uma DVA! Se você fizer alíquotas menores e logo notar que não há resposta e/ou perceber que o paciente não tolera volume, já há indicação de iniciar uma amina vasoativa! Bom, tudo indica que nosso paciente não vai tolerar volume! Temos sinais claros de disfunção miocárdica, então o mais prudente é iniciar uma droga vasoativa precocemente. Caso opte por fazer um volume antes, é prudente optar por alíquotas menores e infusão mais lenta enquanto se avalia a tolerância e resposta do paciente em tempo real. A indicação de drogas vasoativas clássicas, que antigamente utilizava conceitos de choque quente e frio, foi substituída por outra, que avalia variáveis hemodinâmicas avançadas. Em crianças em choque séptico, as primeiras drogas a serem utilizadas são a adrenalina e noradrenalina. • Se houver disfunção miocárdica (antigo "choque frio", com TEC prolongado, pulsos fracos, sinais de congestão, extremidades frias etc.), a escolha inicial deve ser a adrenalina. • A noradrenalina é preferível em pacientes com sinais de baixa resistência vascular sistêmica (pulsos amplos, extremidades quentes, PA divergente etc.), chamado de choque vasoplégico. No fundo, a escolha baseia-se na preferência do profissional, fisiopatologia do choque e condições locais — mas fique atento às pistas do enunciado sobre disfunção miocárdica. Caso não se observe resposta com essa dose, deve ser iniciado um segundo vasopressor. No choque vasoplégico, temos a PA divergente. A sistólica fica até preservada, mas a diastólica despenca — refletindo perda do tônus vascular sistêmico. Aqui, a noradrenalina vai super bem, pois o efeito alfa-agonista "contrai" esses vasos que ficaram frouxos. No choque com disfunção miocárdica, temos a PA convergente. A sistólica fica baixa, pois o coração está fraco, e a diastólica fica um pouco mais alta — refletindo aumento da resistência vascular sistêmica para tentar manter uma pressão arterial média adequada. A adrenalina vai bem, pois o efeito beta-agonista dá mais força para o coração. ADRENALINA NORADRENALINA Efeito beta-agonista em doses baixas. Efeito alfa-agonista em doses médias. Efeito predominante alfa-agonista. Melhor para pacientes com disfunção miocárdica: • TEC prolongado; • Pulsos fracos; • Extremidades frias; • Congestão pulmonar; • PA convergente. Melhor para pacientes vasoplégicos: • TEC em flush; • Extremidades quentes; • Pulsos amplos; • PAD muito mais baixa. Para nosso paciente, então, a medicação mais adequada para a estabilização hemodinâmica será a adrenalina EV contínua. A) Incorreta a alternativa A. Claro que vamos prescrever antibióticos para essa criança no atendimento inicial, afinal não dá para saber se isso é um choque cardiogênico ou um choque séptico com componente cardiogênico. No entanto, preste atenção à voz de comando da questão: queremos uma conduta imediata para estabilização hemodinâmica! Ou seja, nossa resposta deve conter medidas para suporte hemodinâmico. O antibiótico demora horas para fazer efeito. B) Correta a alternativa B. Temos um paciente em choque com sinais de disfunção miocárdica. A adrenalina tem um efeito beta-agonista interessante que pode ajudar nisso. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 133 RESIDÊNCIA MÉDICA C) Incorreta a alternativa C. Veja, tudo indica que nosso paciente não vai tolerar volume! Temos sinais claros de disfunção miocárdica, então o mais prudente é iniciar uma droga vasoativa precocemente. Caso opte por fazer um volume antes, é prudente optar por alíquotas menores e infusão mais lenta enquanto se avalia a tolerância e resposta do paciente em tempo real (por exemplo, 10 mL/kg em 20 ou 30 minutos). A dose está muito alta e tempo de infusão muito curto, em um coração que já nos dá indícios de falha! D) Incorreta a alternativa D. A noradrenalina é mais interessante para choques com componente vasoplégico. O efeito alfa-adrenérgicovai promover uma vasoconstrição sistêmica que ajuda a elevar a pressão arterial média, mas também aumenta a pós-carga. O coração, fraco desse jeito, não vai lidar bem com o aumento da pós-carga. Compensa mais atuar na contratilidade e volume sistólico! Gabarito: B 64. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Bruno Calvo) Paciente, sexo masculino, com cerca de 12 anos, é trazido ao PS Infantil direto da escola, via SAMU. Foi encontrado inconsciente na quadra junto com outros dois colegas, com um frasco de alprazolam vazio próximo. Na admissão: A: vias aéreas pérvias; B: FR 6 irpm, SpO2 82%, respiração superficial, MV globalmente reduzidos; C: TEC de 2 segundos, FC de 120 bpm, PA de 90 x 60 mmHg, extremidades quentes; D: GCS de 8, glicemia capilar de 106 mg/dL; E: afebril, sem lesões de pele ou sinais de trauma. Paciente sem acesso venoso obtido. Qual é a conduta imediata? A) Preparar material para intubação orotraqueal. B) Obter acesso intraósseo e administrar flumazenil. C) Iniciar a ventilação com bolsa-válvula-máscara. D) Alocar máscara não reinalante. Comentários: Fala, Coruja! Estamos diante de uma questão sobre intoxicação exógena por benzodiazepínicos. Nossa preocupação com o uso de benzodiazepínicos é a depressão respiratória. É o sintoma que mais preocupa em caso de intoxicação por essa classe de medicamentos. Aparentemente, o paciente fez uso recreativo da medicação de forma inadvertida. Após ingestão de alprazolam, evoluiu com: • hipoxemia; • redução do murmúrio vesicular bilateralmente, compatível com um padrão respiratório superficial, em um cenário em que se espera aumento do esforço respiratório para aumentar o volume minuto diante de uma acidose respiratória e/ou hipoxemia; • bradipneia em um momento em que eu esperaria taquipneia para compensar a hipoxemia e retenção de CO2. Ou seja, é a cara da depressão respiratória. Não temos um drive respiratório que responde às necessidades. A criança intoxicou-se com benzodiazepínico e está praticamente em parada respiratória. Agora, vem a manha de prova: preste sempre atenção no que o examinador pede. Quero a conduta imediata! Ora, se temos um paciente que não respira, é óbvio que a primeira coisa é fazê-lo respirar, certo? Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 133 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 134 RESIDÊNCIA MÉDICA Como ele não tem drive respiratório, não adianta largar o oxigênio na cara dele… já que o ar não será "puxado" para os pulmões. Ou seja: a ventilação deve envolver pressão-positiva. Qual é o dispositivo que é o melhor amigo do emergencista pediátrico quando o assunto é ventilação? Isso mesmo, o AMBU (bolsa- válvula-máscara). Mas vamos aproveitar para revisar esse tema. Para escolher o melhor suporte ventilatório para seu paciente em uma prova, gosto de analisar principalmente duas características: a FiO2 que o método oferece e a capacidade de oferecer pressão-positiva (isto é, “empurrar” o ar para os pulmões do paciente). Geralmente, quadros mais graves de hipoxemia exigem métodos que forneçam uma FiO2 mais elevada; e, em cenários em que o paciente não respira, precisamos de métodos que forneçam pressão positiva de forma prática (pois você precisa “empurrar” o ar para dentro). Então, preste atenção nas seguintes características centrais dos diferentes tipos de suporte ventilatório: • Máscara não reinalante (MNRI): essa é ótima para cenários de emergência em que o paciente TEM DRIVE RESPIRATÓRIO. Oferece uma FiO2 próxima de 100%, mas depende de o paciente "puxar" o ar, ou seja, não oferece pressão positiva. Geralmente, só vamos manter a MNRI no atendimento inicial e, depois, escalonamos o suporte de acordo com o que o paciente precisa! Lembre-se de que hiperóxia também faz mal. • Máscara de Venturi: é uma máscara com uma válvula que pode ser trocada. Tem várias cores de válvulas, e cada cor de válvula oferecerá uma determinada FiO2 para um determinado fluxo de ar. A FiO2 geralmente vai de 25 até 50%! Ou seja, uma FiO2 menor do que a MNRI. Ah, e claro: o paciente deve ter drive respiratório! Não fornece pressão positiva. • Cânula nasal simples: não podemos ultrapassar 2 ou 3 L/min, porque o O2 acaba sendo fornecido praticamente puro e isso pode queimar o nariz do paciente. Então, é um dispositivo de baixo fluxo que fornece baixas FiO2 (próximo de 30%). Não costuma ser adequado para cenários de emergência - é mais utilizado em pacientes em processo de desmame de O2, ou usuários crônicos de O2. • Cânula nasal de alto fluxo (CNAF): grande estrela que salva muito bebê com bronquiolite do tubo. Ótima escolha para pacientes com bronquiolite moderada-grave sem sinais de insuficiência respiratória. Aquece e umidifica o ar, ajuda a lavar o CO2 do espaço morto. O fluxo de ar é titulado de 1,0-2,0 L/kg/min + FiO2 titulável até 100%, que varia de acordo com a necessidade do paciente. Para uma criança que pesa 4 kg, um fluxo de 8 L/min gera 2,0 L/kg/min, que é OK. Também exige que o paciente TENHA DRIVE RESPIRATÓRIO, pois não oferece pressão positiva de forma confiável. • Ventilação mecânica não invasiva (CPAP ou BIPAP): aqui a conversa já começa a mudar. Conseguimos ofertar pressão positiva para o paciente, reduzindo o trabalho respiratório. É um degrau acima do CNAF em termos de suporte ventilatório. Temos várias interfaces diferentes - máscaras full-face, máscaras nasais, capacetes. No CPAP, setamos a FiO2 e a pressão contínua. No BIPAP, setamos a FiO2, PEEP e uma PRESSÃO DE SUPORTE, além da possibilidade de FR dependendo do modo de ventilação. Mas note o seguinte: apesar de oferecer pressão positiva, é imperativo que o paciente apresente um bom nível de consciência, estabilidade hemodinâmica e drive respiratório para a VNI funcionar, pois esse método exige uma sincronia entre o padrão respiratório do paciente e o ventilador para funcionar bem. Além disso, depende de uma vedação perfeita da interface com o paciente e é desconfortável. Por isso, muitas vezes, precisamos sedar o paciente (sedação leve com dexmedetomidina, por exemplo) para termos um bom resultado. Ou seja: dificilmente é a primeira linha de suporte ventilatório no pronto-socorro! Mas é ótimo para fisioterapia respiratória e para quadros mais graves de desconforto respiratório que não respondem ao suporte inicial (com CNAF, por exemplo). Costuma ser a última linha antes do tubo. • Ventilação mecânica invasiva: aí é tubo + ventilação mecânica. A depender do modo de ventilação, podemos controlar FR, Tinsp, PEEP, pressão inspiratória, FiO2… enfim, tudo na mão. Descrição de sinais como: bradicardia, instabilidade hemodinâmica, rebaixamento do nível de consciência, falência respiratória podem sugerir a necessidade de IOT. Mas lembre-se sempre de ESTABILIZAR o paciente antes do procedimento, ok? Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 135 RESIDÊNCIA MÉDICA • Ventilação bolsa-válvula-máscara: você conecta um AMBU em uma fonte de O2 (geralmente FiO2 100%) para ventilar o paciente sem drive respiratório. Oferece pressão e é usada em emergência: paciente que não respira, em parada cardiorrespiratória, e por aí vai… é utilizada como resgate na emergência. Veja os sinais vitais do paciente na questão: se ele está sem drive, a resposta imediata será BVM! Bom, então fica claro que o mais rápido aqui será ventilar o paciente com o AMBU. Promova uma leve extensão da cervical, selecione uma máscara que cubra boca e nariz, vede bem com a técnica do C-E e ofereça uma ventilação a cada 2 a 3 segundos. Enquanto você ventila o paciente, um colega obtém um acesso venoso com calma e administra o flumazenil. Caso a resposta não seja satisfatória, aí pensamos em IOT. Dá para salvar esse paciente sem alarde ou desespero! O que acha? O PACIENTE ESTÁ SEM DRIVE RESPIRATÓRIO! Você precisa ofertar PRESSÃO POSITIVA. Para ventilá-lo,utilize inicialmente a BOLSA-VÁLVULA-MÁSCARA! Se ele não recuperar o drive, a IOT pode ser necessária. Nada de: • Cânula nasal de O2; • Cateter nasal de alto fluxo; • Máscara não-reinalante; • Máscara de Venturi; • Ventilação não invasiva (BIPAP ou CPAP - exige drive, apesar de oferecer pressão positiva). E o flumazenil? Apesar de ser um antídoto para benzodiazepínicos, o flumazenil é contraindicado em pacientes em status epilepticus/epilépticos de base ou hipertensão intracraniana. Isso acontece porque perderíamos a primeira linha de tratamento caso o paciente volte a convulsionar. Então, esse antídoto é interessante justamente para casos de intoxicação acidental para pacientes sem epilepsia ou problemas estruturais do SNC. Ele será administrado sim, mas o primordial aqui é fazer o moleque respirar! A) Incorreta a alternativa A. O que é mais prudente? Separar o material de intubação e tentar intubar o paciente sem nenhum preparo de paciente ou equipe, ou ventilá-lo com calma usando um AMBU enquanto se obtém mais informações sobre o paciente e se definem os próximos passos? Só vamos recorrer à IOT caso o paciente persista com a depressão respiratória mesmo após a administração do antídoto. B) Incorreta a alternativa B. A questão pede a conduta imediata! O AMBU está prontamente disponível em qualquer sala de emergência. Vai ser muito mais rápido fazê-lo respirar do que pegar um acesso e administrar o flumazenil. Promova uma leve extensão da cervical, selecione uma máscara que cubra boca e nariz, vede bem com a técnica do C-E e ofereça uma ventilação a cada 2 a 3 segundos. Enquanto você ventila o paciente, um colega obtém um acesso venoso com calma e administra o flumazenil. Caso a resposta não seja satisfatória, aí pensamos em IOT. C) Correta a alternativa C. Paciente sem drive respiratório precisa respirar! Isso é feito com pressão positiva. A forma mais rápida de fazer isso é com um AMBU. D) Incorreta a alternativa D. Essa é ótima para cenários de emergência em que o paciente TEM DRIVE RESPIRATÓRIO. Oferece uma FiO2 próxima de 100%, mas depende de o paciente "puxar" o ar, ou seja, não oferece pressão positiva. Geralmente, só vamos manter a MNRI no atendimento inicial e, depois, escalonamos o suporte de acordo com o que o paciente precisa! Lembre-se de que hiperóxia também faz mal. Gabarito: C Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 135 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 136 RESIDÊNCIA MÉDICA 65. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Bruno Calvo) Sérgio tem 5 anos e pesa 20 kg. Recentemente, sua mãe recebeu o diagnóstico de tuberculose pulmonar e iniciou o tratamento. Sérgio foi investigado como contactante. Está assintomático, apresenta radiografia de tórax normal e um PPD de 6 mm. Mesmo com muita conversa e insistência dos familiares, o menino não aceita comprimidos de jeito nenhum. Qual é a conduta mais adequada para Sérgio? A) Repetir o PPD em 8 semanas. B) Prescrever tratamento para ILTB com rifapentina + isoniazida, dose semanal, por 3 meses. C) Prescrever tratamento para ILTB com rifampicina + isoniazida, dose diária, por 3 meses. D) Prescrever tratamento para ILTB com rifampicina, dose diária, por 4 meses. Comentários: Fala, Coruja! Questão sobre infecção latente por tuberculose (ILTB) em crianças. Vamos dar uma olhada? QUAL É O PRIMEIRO PASSO PARA CONSIDERARMOS A HIPÓTESE DE ILTB? Vamos investigar tuberculose em todas as crianças que tiveram contato com alguém bacilífero. Antes de mais nada, devemos afastar tuberculose em atividade na criança! Ou seja, para pensar em ILTB, o paciente deve estar ASSINTOMÁTICO, beleza? Ah, e vale lembrar que o diagnóstico de tuberculose ativa em crianças usa o SISTEMA DE PONTOS, já que é muito difícil isolar a Mycobacterium tuberculosis na molecada, já que eles são paucibacilíferos. Acho que vale a breve revisão: Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 137 RESIDÊNCIA MÉDICA QUADRO CLÍNICO QUADRO RADIOLÓGI- CO CONTATO COM ADULTO COM TU- BERCULOSE PROVA TUBER- CULÍNICA ESTADO NUTRI- CIONAL Febre ou sintomas como tosse, adinamia, expectoração, emagre- cimento e sudorese por 2 semanas ou mais 15 pontos Adenomegalia hilar ou padrão miliar E/OU Condensação ou infiltrado (com ou sem escavação) inalterado por 2 semanas ou mais E/OU Condensação ou infiltrado (com ou sem escavação) por 2 semanas ou mais, evoluindo com piora ou sem melhora, com antibióticos para germes comuns 15 pontos *Contato próximo, nos últimos 2 anos 10 pontos PT entre 5 e 9mm 5 pontos Desnutrição grave (peso 2 anos, que já conseguem tomar comprimidos. Rifampicina 4 meses – Dose diária É SOLUÇÃO! Esquema recomendado exclusivamente para crianças menores de 4 kg. Isoniazida 6 a 9 meses – Dose diária Pode ser utilizado quando não for possível usar os demais esquemas. Veja que o esquema preferencial seria ISONIAZIDA + RIFAPENTINA. É muito prático, pois as doses são semanais e facilita a adesão do paciente ao tratamento. No entanto, só pode ser indicado para > 2 anos que já tomamcomprimidos e não têm infecção pelo HIV. Sérgio não é muito fã dos comprimidos. Dessa forma, vamos indicar o esquema de rifampicina + isoniazida, que é um “xarope”! A desvantagem é que a tomada da medicação é diária, mas fazer o que, não é? Crianças rs. Vamos dar uma olhada nas alternativas? A) Incorreta a alternativa A. Seria a conduta se o PPD fosse 2 anos em relação à cronológica: avançada, reiterando possível excesso de hormônios esteroides sexuais; • virilização (desenvolvimento peniano e de pilificação) com testículosde verificar o efeito estrogênico em grandes lábios, presença de acne, aumento de clitóris e hirsutismo, como sinais androgênicos. A presença de sinais de androgenismo direciona ao diagnóstico de doenças na adrenal. No caso dos meninos, a assimetria testicular indica possibilidade de tumor de testículo. São causas de PPP. O exame neurológico pode auxiliar no diagnóstico das causas de origem central, que podem ocasionar uma PPC. 3º passo: idade óssea e cronológica Aqui está o exame que deve ser realizado em todos os pacientes com precocidade sexual. A avaliação da IDADE ÓSSEA POR MEIO DA RADIOGRAFIA DE PUNHO pode avaliar a ação dos esteroides sexuais na maturação óssea, uma vez que esse processo é especialmente estrogênio-dependente. A avaliação da maturação óssea auxilia tanto no diagnóstico diferencial da puberdade precoce como pode definir um potencial prejuízo em estatura que esses pacientes possam apresentar. É considerada normal a idade óssea que está entre 2 desvios-padrão (DP) para cima ou para baixo em relação à idade cronológica. De uma forma geral, isso coincide com até 2 anos de diferença entre IO e IC. VARIANTES BENIGNAS DE PRECOCIDADE SEXUAL NÃO ACELERAM A IDADE ÓSSEA. Ou seja, são duas informações que você precisa ter de seu paciente com precocidade sexual: velocidade de crescimento e idade óssea. Se forem compatíveis com uma criança pré-púbere, há uma chance maior de se tratar apenas de uma variante benigna da maturação sexual. VELOCIDADE DE CRESCIMENTO E IDADE ÓSSEA SÃO SUAS MELHORES AMIGAS NESSAS QUESTÕES. 4º passo: outros exames laboratoriais e de imagem A partir daqui, a solicitação dos exames deve ser individualizada. O diagnóstico da puberdade precoce é clínico, porém a diferenciação entre puberdade central e periférica requer uma avaliação laboratorial cuidadosa. De uma forma geral, a dosagem basal de gonadotrofinas (especialmente LH basal) acaba sendo solicitada por ajudar na diferenciação de PPC e PPP. Na PPC, esperamos um LH basal acima do valor de referência para crianças (geralmente, utiliza-se o corte de 0,6 UI/L, o que sugere ativação do eixo-HHO). A dosagem de hormônios como estradiol, testosterona, SDHEA costuma ser indicada a depender do que encontramos no exame físico (p. ex., se estou desconfiando de excesso de estrógenos, vale a dosagem de estradiol). A ultrassonografia pélvica e abdominal permite avaliar a presença de tumores ovarianos e adrenais, assim como pode avaliar a ação estrogênica por meio da avaliação da espessura do endométrio e do volume uterino. É interessante quando estamos desconfiando de uma PPP. Além disso, a ressonância magnética de sela túrcica é indicada nos casos em que há suspeita de lesões em região hipotálamo hipofisária, pois esse exame permite o diagnóstico de hamartomas e cistos nessa região. É um exame recomendado para todos os meninos e para as meninas menores de 6 anos com diagnóstico clínico e laboratorial de PPC. Em meninas na faixa etária entre 6 e 8 anos, é recomendado na presença de suspeita clínica de alteração do SNC. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 143 RESIDÊNCIA MÉDICA Ou seja, a escolha dos exames deve ser individualizada. Os únicos exames que costumam ser úteis em praticamente todos os casos são: radiografia para idade óssea e dosagem de gonadotrofinas basais. O resto deve ser direcionado de acordo com a suspeita clínica! Por fim, quando falamos de variante da normalidade, três condições devem ser lembradas: Característica Telarca precoce Pubarca precoce Menarca precoce isolada Manifestações clínicas Aumento de mamas antes dos 8 anos em meninas Pilificação pubiana e axilar com odor antes dos 8 anos em meninas e antes dos 9 anos em meninos Sangramento vaginal antes dos 8 anos de idade Dosagem hormonal FSH ↑ / LH e estradiol ↓ DHEAS ↑ LH e FSH pré-púberes Ativação do eixo HHG Não Não Não Idade óssea Normal Discretamente aumentada Normal Velocidade de crescimento Normal Discretamente aumentada Normal Evolução Regressão ou não progressão Progressão lenta Regressão espontânea Note que o ponto-chave em todas elas é a ausência de ativação do eixo-HHO Nada que fale a favor de um processo dependente de gonadotrofinas, beleza? Por isso, repito: são duas informações que você precisa para diferenciar uma variante benigna de uma patologia - velocidade de crescimento pré-púbere (5-7 cm/ano) + idade óssea compatível com a cronológica (no máximo 2 anos de diferença). São informações cruciais aqui! Busque-as no enunciado. Bom, agora tudo ficou mais claro. Vamos dar uma olhada nas alternativas? A) Incorreta a alternativa A. Os tumores que envolvem o SNC, como hamartoma, podem afetar a produção de GnRH, FSH e LH. Devem sempre ser investigados em casos de puberdade precoce central nos pacientes de sexo masculino! No entanto, a ausência do desenvolvimento testicular diz-nos que não há FSH/LH. Ou seja, a fonte do desenvolvimento não é central! Devemos procurar causas de puberdade precoce periférica. B) Incorreta a alternativa B. Mesmo que fosse uma variante benigna de precocidade sexual, continua sendo um desenvolvimento puberalBora lá. Quando iniciar a suplementação de ferro? A profilaxia para anemia ferropriva deve ser universal até os 2 anos de idade, e você já deve ter percebido que podemos iniciar a profilaxia com ferro aos 30 dias, 90 dias (3 meses) e 180 dias (6 meses) de vida. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 145 RESIDÊNCIA MÉDICA O primeiro passo será definir isso! Passo 1: veja a idade gestacional final da criança e peso ao nascimento Se a criança é prematura ( p90 Trauma Doença celíaca Dieta materna pobre em Fe Atraso na introdução alimentar (> 6 meses) Atletas de competição Menorragia Doença inflamatória intestinal Sangramento na gestação Consumo de leite de vaca antes de 1 ano Uso de AINE Gastrite atrófica Não suplementação de Fe na gestação Baixo consumo de alimentos ricos em Fe Infecção por H. pylori Uso de antiácidos, inibidor de bomba de prótons (IBP) ou bloqueador H2 Verminoses Discrasias sanguíneas Malária Os fatores de risco são razoavelmente intuitivos, né? Se o bebê não tem fatores de risco, iniciamos a suplementação de ferro com 6 meses. Se o bebê tem fatores de risco, iniciamos a suplementação de ferro com 3 meses. Uma coisa importante é que o início da suplementação pela SBP INDEPENDE DO REGIME DE ALEITAMENTO DA CRIANÇA (aleitamento materno exclusivo, misto ou fórmula infantil). A exceção seria consumo de leite de vaca in natura/diluído, que configura um fator de risco. Tivemos um sangramento periparto (descolamento prematuro de placenta) e clampeamento imediato do cordão umbilical. Dessa forma, Nágila tem fatores de risco para ferropenia, o que a torna candidata a iniciar a suplementação aos 3 meses de idade! https://www.uptodate.com/contents/hiatus-hernia?search=hernia%20hiato&source=search_result&selectedTitle=1~75&usage_type=default&display_rank=1#topicGraphics Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 145 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 146 RESIDÊNCIA MÉDICA Passo 3: definir a dose do ferro. SUPLEMENTAÇÃO DE FERRO SBP MS e OMS Nova recomendação do MS RNT, AIG SEM FATOR DE RISCO 1 mg/kg/dia a partir de 6 meses de idade SEM FATOR DE RISCO 1 mg/kg/dia a partir de 3 meses de idade 1 mg/kg/dia a partir de 6 meses até 2 anos de idade 2 ciclos de 3 meses na dose de 10 a 12,5 mg/dia, preferencialmente aos 6 meses e 12 meses RNT ou RNPT 100 ml Avaliar individualmente (pode ser necessário adiar o início da suplementação de ferro para > 30 dias de vida). Note que a suplementação é mantida até os 2 anos de idade e, para os bebês prematuros e/ou baixo peso, a dose cai a partir do primeiro ano de vida. Essa dose é de ferro elementar, beleza? Nágila vai usar 1 mg/kg/dia de ferro elementar a partir dos 3 meses de vida. Exames na suplementação de ferro Não é necessária a realização de nenhum exame para a indicação da profilaxia de Fe. No entanto, solicitamos exames nas seguintes situações (SBP, 2021): • RASTREIO laboratorial da deficiência de ferro, com ou sem anemia, aos 12 meses de vida para todas as crianças. • Na SUSPEITA CLÍNICA de deficiência de ferro, especialmente se não estiver fazendo a profilaxia. Os exames que são inicialmente solicitados são: HEMOGRAMA com índices hematimétricos; PCR (avaliação de inflamação); ferritina (avaliação de estoques de ferro). Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 147 RESIDÊNCIA MÉDICA SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA) Aproveitando o gancho, vamos falar da suplementação da vitamina D. A ideia da profilaxia com colecalciferol (vitamina D3) é prevenir o desenvolvimento de raquitismo. A profilaxia é universal, devendo ser iniciada ao nascimento e mantida até os 18 anos. Grupos Dose de vitamina D3 (Colecalciferol) 1,5 kg. C) Incorreta a alternativa C. Seria a conduta se não houvesse descrição de fatores de risco para ferropenia. D) Incorreta a alternativa D. Dica de prova: doses acima de 1 mg/kg/dia de ferro elementar sempre vão ser iniciadas aos 30 dias de vida! Gabarito: A 68. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Bruno Calvo) Josué, 8 anos, tem antecedente de síndrome de Marfan e utiliza atenolol para prevenção de dilatação da aorta. Durante um passeio pelo parque, foi picado por uma abelha. Alguns minutos após o acidente, passou a apresentar desconforto respiratório com estridor inspiratório e sibilância expiratória, bem como urticária generalizada e vômitos. Foi trazido ao PS infantil, e recebeu três doses de adrenalina 0,01 mg/kg IM, mas continua instável do ponto de vista hemodinâmico. Entre as medicações a seguir, qual deverá ser a mais efetiva no tratamento de Josué? A) Anti-histamínico de 1ª geração. B) Corticoide sistêmico. C) Glucagon. D) B-2-agonista endovenoso. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 147 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 148 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: Fala, Coruja! A anafilaxia caracteriza-se por uma reação sistêmica aguda, grave, potencialmente fatal, que acomete vários órgãos e sistemas simultaneamente. É um espectro grave de uma reação alérgica mediada por mastócitos previamente sensibilizados por IgE. Quando o IgE reconhece o alérgeno, rapidamente "manda" o sinal para o mastócito degranular e liberar enormes quantidades de histaminas e outros mediadores vasoativos. Por isso, pessoas com outras doenças alérgicas têm risco aumentado de anafilaxia. Na maioria das questões, o diagnóstico de anafilaxia é baseado em um conjunto de sinais e sintomas clínicos, mas memorize acometimento agudo mucocutâneo + gastrointestinal E/OU respiratório E/OU cardíaco. São poucas as questões que utilizam o critério 2, mas é bom que você também o conheça: CRITÉRIOS CLÍNICOS PARA O DIAGNÓSTIOC DE ANAFILAXIA Considera-se que a anafilaxia é muito provável quando qualquer um dois critérios seguintes são preenchidos: 1. Início agudo (minutos a horas) de um quadro de envolviemnto da pele, do tecido mucoso ou de ambos (urticária generalizada, prurido ou hiperemia, edemade lábios, língua ou óvula) e pelo menos uma das condições seguintes: a. Comprometimento respiratório como broncoespasmo, dispneia, estridor laríngeo, redução do PFE ou hipoxemia. b. redução da pressão arterial ou sintomas associados de disfunção de órgão-alvo como hipotonia, colapso, síncope, incontinência urinária e ou fecal. c. Sintomas gastrointestinais severos como diarreia, cólicas graves, vômitos repetitivos, sobretudo após exposição a alérgenos não alimentares. 2. Início agudo de hipotensão ou broncoespasmo ou envolvimento laríngeo após exposição a algum alérgeno conhecido ou altamente provável para o paciente que se manifesta em minutos a horas, mesmo quando não há envolviemnto cutâneo típico. Bom, temos acometimento tegumentar, respiratório e gastrointestinal após exposição a potencial alérgeno. Feito o diagnóstico, você não deve enrolar: adrenalina IM no paciente! As bases do gerenciamento inicial da anafilaxia são: • monitorização de pressão arterial, saturação de oxigênio por oximetria de pulso, frequência cardíaca e respiratória; • remoção da causa; • ADRENALINA INTRAMUSCULAR: é a medicação mais importante. A dose é 0,01 mg/kg (a dose máxima de criança é de 0,3 mg/dose), injetada na face anterolateral da coxa, intramuscular, na concentração de 1:1.000 (ou seja, sem diluir, ofertando 0,1 mL/kg da solução padrão de 1 mg/mL). Em adultos e adolescentes, a dose preconizada varia de 0,2-0,5 mg. Se os sintomas persistirem ou piorarem, a dose inicial pode ser repetida em até 2 a 3 vezes, com intervalos de 5 a 15 minutos. Adrenalina EV contínua e GLUCAGON podem ser consideradas em casos refratários. O glucagon é útil em pacientes em uso de betabloqueadores que sofrem anafilaxia. • Anti-histamínicos: diminui o prurido, a urticária e o angioedema. É adjuvante, então só devem ser administrados após o tratamento inicial com adrenalina. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 149 RESIDÊNCIA MÉDICA • B-2-agonista inalatório: é indicado para pacientes com broncoespasmo. Mas é ADJUVANTE. • Corticoide sistêmico: pouca evidência, mas amplamente utilizado com adjuvante. • Colocar paciente em decúbito dorsal com extremidades inferiores elevadas, se paciente não estiver vomitando ou presença de edema de glote. Isso ajuda no retorno venoso nesse choque distributivo; • Tratamento do choque com reanimação volêmica com fluidos intravenosos e suplementação de O2 se hipoxemia. Josué faz uso de atenolol, um betabloqueador. Pode ser que isso atrapalhe na resposta da adrenalina, pois os receptores adrenérgicos estão bloqueados. A terapia com betabloqueadores, isoladamente ou em combinação com inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), tem sido associada à anafilaxia mais grave. No entanto, a epinefrina deve continuar sendo utilizada como terapia de primeira linha, mesmo em pacientes que usam betabloqueadores. Caso um paciente em uso de betabloqueadores seja refratário à epinefrina, o glucagon pode oferecer efeitos inotrópicos e cronotrópicos que não são mediados por receptores beta. Vamos dar uma olhada nas alternativas? A) Incorreta a alternativa A. Os anti-histamínicos são apenas adjuvantes e não exercerão grande efeito no status hemodinâmico do paciente. B) Incorreta a alternativa B. Temos poucas evidências sobre o real efeito do corticoide sistêmico no contexto da anafilaxia, mas, ainda assim, é uma medicação frequentemente utilizada. De toda forma, é apenas adjuvante. C) Correta a alternativa C. Pacientes em uso de betabloqueadores refratários à adrenalina IM podem se beneficiar do glucagon. Mas lembre- se: a primeira linha continua sendo a andrelina IM. D) Incorreta a alternativa D. Podemos associar um B-2-agonista inalatório como adjuvante, mas a evidência da administração endovenosa não é conclusiva. Gabarito: C 69. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Bruno Calvo) Lúcia tem 6 meses de idade e pesa 7 kg, previamente hígida. Iniciou, há cerca de 24 horas, quadro de febre de até 39 ºC e vômitos que impedem sua alimentação. Foi trazida ao PS infantil com sinais de desidratação moderada. Na avaliação inicial, constatou-se uma febre sem sinais localizatórios. Laboratório de sedimentos urinários revelou nitrito positivo e numerosas bactérias, e a urocultura por sondagem vesical de alívio está em análise. Foi hidratada, está em bom estado geral e estável do ponto de vista hemodinâmico, mas segue recusando alimentação e hidratação enteral. Qual é a conduta mais adequada para Lúcia? A) Internar a paciente, iniciar tratamento para infecção de trato urinário com ceftriaxona e aguardar resultado de urocultura. B) Alta hospitalar com cefuroxima e reavaliação clínica em 48h com checagem de resultado de urocultura. C) Alta hospitalar com amoxicilina-clavulanato para tratamento de infecção de trato urinária confirmada. D) Internar paciente, iniciar tratamento para infecção de trato urinário confirmada com meropenem e solicitar USG de rins e vias urinárias agora. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 149 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 150 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: Fala, Coruja! O cenário é o seguinte: • lactente previamente hígida; • quadro agudo de febre sem sinais localizatórios e vômitos (que é um sinal inespecífico); • desidratação já resolvida, mas recusa de aceitação via oral persistente; • análise de sedimentos urinários compatível com infecção de trato urinário, mas ainda sem resultado da urocultura. A infecção de trato urinário na pediatria é uma importante causa de febre sem sinais localizatórios. Lactentes e pré-escolares podem ter dificuldades de relatar os sintomas urinários, e muitas vezes irão manifestar apenas uma febre. Por isso, você vai notar que a análise de urina consta no fluxograma de investigação de febre sem sinais localizatórios de boa parte dos fluxogramas de investigação! Em crianças maiores, os sintomas clássicos urinários descritos em adultos estarão presentes. No entanto, nos menores, espere febre, irritabilidade, choro persistente… alterações bem inespecíficas: Note que a presença de febre já sugere um acometimento mais alto do trato urinário. De toda forma, diante da suspeita clínica, solicitamos dois exames principais: análise de sedimento urinário (EAS, urina 1, como preferir) e urocultura. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 151 RESIDÊNCIA MÉDICA Sensibilidade Especialidade Esterase leucocitária 83% 78% Niitrito positivo 53% 92% Contagem leucocitária 73% 81% Baxterioscopia 81% 83% Gram 93% 95% No EAS, podemos ver as seguintes características que SUGEREM infecção de trato urinário:Veja que eu falei SUGEREM, pois esse exame não é capaz de fechar diagnóstico de ITU, ok? Atenção! Análise de sedimenti urinário NÃO FECHA DIAGNÓSTICO. Apenas sugere enquanto a URC não fica pronta. O padrão-ouro para o diagnóstico de ITU é a UROCULTURA. Mas é importante frisar que a UROCULTURA deve ser coletada por técnica adequada! A coleta por saco coletor tem um bom valor preditivo negativo… isto é, se vem negativa, praticamente exclui a possibilidade de ITU. Mas se ela vem positiva de nada serve, pois o risco de contaminação é muito alto. Por isso, para crianças que ainda não conseguem coletar urina por jato médio, não tenham medo de solicitar um cateterismo vesical ou punção suprapúbica diante da suspeita forte! Atenção UROCULTURA é considerada o método padrão-ouro para o diagnóstico de ITU! Resultados positivos para ITU conforme o método de coleta (UFC/mL) PSP Qualquer númeno de colônias Cateterismo vesical 1.000 a 50.000 de um único patógeno Jato médio 100.000 de um único patógeno Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 151 Estratégia MED | Caderno de Respostas| 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 152 RESIDÊNCIA MÉDICA O principal causador da ITU é a E. coli (quase 90% dos casos). A antibioticoterapia empírica deve envolver uma cobertura para esse agente etiológico, ok? Mas não tem receita de bolo: cada lugar tem um perfil de resistência específico, então não tenho como lhe dizer qual é o antibiótico de primeira escolha, como vemos nos casos de pneumonia, por exemplo. De uma forma geral, você encontrará na pediatria: amoxicilina-clavulanato, cefuroxima e cefalexina como opções via oral; ceftriaxona e cefotaxima como opção parenteral. A nitrofurantoína pode ser considerada em casos de cistite isolada, sem pielonefrite. Mas isso não é regra absoluta, ok? Em ITU febril, por 10 dias; ITU afebril, por 5 dias — a depender da resposta do paciente, é claro. Mas, Bruno, a UROCULTURA não demora para sair? Sim, ela pode demorar alguns dias para ficar pronta. Mas você não vai ficar de braços cruzados esperando esse resultado, né? Se a clínica é sugestiva e a análise de sedimento urinário também é, inicie o tratamento empírico e, depois, ajuste-o de acordo com o resultado da UROCULTURA com ANTIBIOGRAMA. Se o paciente não apresenta nenhum fator de risco para germes multirresistentes (hospitalizações ou ITUs frequentes), podemos utilizar antibióticos adequados para a comunidade. Quando eu preciso internar o paciente? Em geral, o tratamento oral apresenta a mesma eficácia do parenteral, porém há situações específicas em que o tratamento parenteral se impõe. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda o tratamento parenteral nas seguintes situações: • idade menor do que 2 ou 3 meses; • crianças criticamente doentes; • risco de não adesão ao tratamento. Já de acordo com o Tratado de Pediatria, trataremos com antibioticoterapia endovenosa nas seguintes situações: • febre alta (esse é polêmico); • toxemia; • crianças desidratadas; • vômitos persistentes; • menores de 3 meses. Então, vai depender da referência que a banca utiliza! Minha sugestão? Devemos ponderar caso a caso e considerar a gravidade do quadro clínico, além da idade do paciente para indicar o tratamento parenteral. Ou seja, se for "só" a febre alta, acho improvável a resposta incluir ATB parenteral. A tendência para indicar internação é o examinador enfatizar que o paciente não está bem! Ah, e só para lembrar. Para crianças 30 mmol/mg urina isolada, • manhã Hematúria > 5 hemácias/campo ou Cilindros hemáticos) • Vasculite leucocitoclástica ou glomerulonefrite proliferativa com deposição predominante de IgA Então, você precisa ter um hemograma sem evidência deplaquetopenia e um coagulograma normal. De uma forma geral, é uma doença que não é grave. No entanto, devemos ficar atentos com a possibilidade de sangramentos e complicações de trato gastrointestinal, bem como disfunção renal por glomerulonefrite. São incomuns, mas podem acontecer. Entre os diagnósticos diferenciais, destacam-se: PÚRPURA ARTRITE GASTROINTESTINAL RENAL Púrpura trombocitopênica imunológica Lúpus eritematoso sistêmico Apendicite aguda GNPE Doença meningocócica Artrite idiopática juvenil Outras causas de sangramento intestinal Outras glomerulopatias Leucemia Febre reumática Artrite idiopática juvenil Artrite séptica Lúpus eritematoso sistêmico Síndrome hemolíticourêmica Coagulopatias Outras vasculites A dica principal para a prova é: PÚRPURA NAS PERNAS DE CRIANÇA EM BOM ESTADO GERAL. Esse é o protótipo de caso clínico nas provas. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 155 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 156 RESIDÊNCIA MÉDICA Como você pôde ver, a vasculite por IgA é uma doença benigna e autolimitada e a maioria dos pacientes recupera-se espontaneamente. Portanto, a terapia é voltada apenas para o suporte e alívio dos sintomas. Podemos utilizar analgésicos simples, AINHs e considerar corticoide sistêmico em casos mais graves. O prognóstico a curto e longo prazo é, geralmente, excelente na maior parte das crianças. Contudo, pode haver episódios recorrentes em até um terço dos pacientes, especialmente nos primeiros seis meses. Vamos dar uma olhada nas alternativas? A) Incorreta a alternativa A. Seria um exame importante caso nossa principal hipótese diagnóstica fosse de febre reumática. A febre reumática é uma complicação de faringite estreptocócica, mas o período de latência costuma ser de 2 a 3 semanas, e a clínica conta com artrite migratória e/ou cardite e/ou nódulos subcutâneos e/ou coreia e/ou exantema. Não justifica a dor abdominal e as petéquias, portanto não é nossa principal hipótese diagnóstica. B) Correta a alternativa B. Se tivermos petéquias ou púrpura sem evidência de plaquetopenia, podemos atribuir o fenômeno à fragilidade capilar, que é a cara da vasculite por IgA! No contexto dessa questão, praticamente fecha o diagnóstico. C) Incorreta a alternativa C. Já temos um teste de antígeno (streptest) positivo, então não há necessidade de outro exame para evidência estreptocócica prévia. Além disso, nossa principal hipótese diagnóstica não é febre reumática, e sim vasculite por IgA. D) Incorreta a alternativa D. É prudente solicitarmos um perfil de função renal, mas isso não nos ajudará na elucidação diagnóstica! Uma alteração da função renal não seria critério, tampouco específico para vasculite por IgA. Gabarito: B 71. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Você recepciona, em sala de parto, um bebê de 35 semanas, nascido de cesariana de emergência após descolamento prematuro de placenta. Ele nasceu em apneia e hipotônico, e você iniciou a reanimação neonatal. Após ter sido ventilado e intubado, você precisou realizar massagem cardíaca. Nesse caso, a melhor técnica a ser utilizada e a frequência de compressões x ventilações são: A) técnica dos dois dedos; 30 compressões x 2 ventilações. B) técnica dos dois dedos; 3 compressões x 2 ventilações. C) técnica dos dois polegares; 15 compressões x 1 ventilação. D) técnica dos dois polegares; 3 compressões x 1 ventilação. Comentários: Olá, Estrategista. A primeira coisa que você precisa entender sobre reanimação neonatal é que ela é uma SEQUÊNCIA DE PASSOS. Começamos na recepção do RN, quando fazemos três perguntas. 1. RN é ≥ 34 semanas? 2. RN respira ou chora? 3. RN tem bom tônus? A primeira define a diretriz a ser utilizada. As duas últimas definem se ele tem boa vitalidade, nesse caso, ele pode fazer o contato pele a pele e ter seu cordão clampeado tardiamente, independentemente da idade gestacional. Caso a resposta seja "não" para qualquer uma das duas últimas perguntas, independentemente da idade gestacional, iniciamos a sequência de reanimação neonatal. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 157 RESIDÊNCIA MÉDICA REANIMAÇÃO PARA MAIORES DE 34 SEMANAS. 1) PASSOS INICIAIS. Levar o RN à mesa de reanimação. Colocar ele sob fonte de calor radiante. Prevenir a hipotermia, por meio da secagem, retirada de campos úmidos e colocação de touca. Manter vias aéreas abertas, por meio do posicionamento do pescoço em leve extensão e aspiração de vias aéreas, se necessário. Avaliar frequência cardíaca (deve estar acima de 100 bpm) e ritmo respiratório (deve ser regular) para decidir se há necessidade de manobras adicionais. 2) Se apneia, respiração irregular ou FC menor do que 100 bpm = ventilação com pressão positiva (VPP), com balão, máscara e oxigênio a 21% (ar ambiente) por 30 segundos. Revisar a técnica e reavaliar. 3) Se apneia, respiração irregular ou FC menor do que 100 bpm, primeiro consideramos máscara laríngea. Se falhar ou não estiver disponível, intubar e ventilar por mais 30 segundos. Revisar a técnica e reavaliar. 4) Se FC estiver menor do que 60 bpm, iniciar a massagem cardíaca por 60 segundos, sincronizada com a ventilação 3 compressões : 1 ventilação. Revisar a técnica e reavaliar. 5) Se FC persistir menor do que 60 bpm, administrar adrenalina. Vamos voltar ao que é solicitado? A técnica mais utilizada na reanimação neonatal é a dos dois polegares, por gerar maior pico de pressão sistólica e de perfusão coronariana, além de ser menos cansativa. A frequência é de 3 compressões para uma ventilação. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 157 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 158 RESIDÊNCIA MÉDICA Incorretas as alternativas A e B. A técnica dos dois dedos é mais cansativa, gera menos pico de pressão sistólica e perfusão coronariana. Incorreta a alternativa C. Aqui, a frequência de compressões e ventilação está incorreta. Gabarito: D 72. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Menino, 4 anos de idade, 15 quilos, deu entrada no pronto atendimento com quadro de vômitos e diarreia há 1 dia. Você encontra uma criança prostrada, com desidratação grave. A enfermagem garante um acesso venoso periférico calibroso e você inicia o plano C, do Ministério da Saúde, prescrevendo um total de: A) 1500 mL de soro fisiológico em 3 horas. B) 300 mL de soro fisiológico em uma hora. C) 450 mL de soro fisiológico em duas horas e meia. D) 1050 mL de soro fisiológico em 6 horas. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 159 RESIDÊNCIA MÉDICA Comentários: Olá, Estrategista, temos aqui uma criança que deu entrada com desidratação grave. Pelo Ministério da Saúde, a conduta inicial para esses casos é sempre a expansão volêmica com soro fisiológico ou ringer lactato, no plano C. Devem ser realizados os seguintes volumes: • menores de 1 ano: 30 mL/kg de SF 0,9% ou ringer lactato, em 1 hora + 70 mL/kg de SF 0,9% ou ringer lactato, em 5 horas; • maiores de 1 ano: 30 mL/kg de SF 0,9% ou ringer lactato, em 30 minutos + 70 mL/kg de SF 0,9% ou ringer lactato, em 2h e 30 minutos. Para facilitar: repare que o total é de 100 mL/kg, dividido em duas etapas, a primeira de 30 mL/kg e a segunda de 70 mL/kg. Caso a criança seja menor de um ano, o tempo total de infusão será maior, de 6 horas (1 hora + 5 horas). Caso a criança seja maior de um ano, ela tolera um volume mais rápido, então dividiremos tudo por dois e faremos o total em 3 horas (meia hora + 2 horas e meia). Como a criança do caso tem 15 quilos, seu total será de 1500 mL, em 3 horas. Divididos em 450 mL em meia hora e 1050 mL em 2 horas e meia. Gabarito: A 73. (EstratégiaC. A anemia é hipoproliferativa, não hiperproliferativa, devido ao baixo índice de reticulócitos. D) Correta a alternativa D. Temos uma anemia hipoproliferativa (baixo índice de reticulócitos), por provável sangramento oculto (fezes escurecidas em um paciente de 61 anos, uma causa comum de deficiência de ferro nessa faixa etária). Além disso, RDW elevado e ferro sérico e ferritina diminuídos, caracterizando uma deficiência de ferro. Gabarito: D 9. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Hematologia – Prof. Thiago Peixoto) Paciente feminina de 71 anos, com insuficiência cardíaca, mielodisplasia de baixo risco e histórico de múltiplas transfusões de concentrado de hemácias ambulatoriais, comparece à unidade hospitalar para mais uma transfusão agendada. Cerca de 45 minutos após o início da infusão, desenvolve desconforto respiratório, taquipneia, febre de 38,5 °C e queda da saturação de O₂ para 88% em ar ambiente. Ao exame, apresenta crepitações bilaterais à ausculta pulmonar. A pressão arterial e o ritmo cardíaco permanecem estáveis. A radiografia de tórax revela infiltrado alveolar difuso bilateral. O diagnóstico mais provável é: A) reação transfusional febril não hemolítica. B) lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão (TRALI). C) sobrecarga volêmica associada à transfusão (TACO). D) reação hemolítica tardia imunomediada. Comentários: Estrategista, temos aqui uma paciente que apresenta início agudo de insuficiência respiratória, febre e infiltrado bilateral em menos de 6 horas após a transfusão. Esse quadro clínico é clássico de TRALI (transfusion-related acute lung injury). Vamos rever o assunto! A insuficiência pulmonar aguda associada à transfusão (ou TRALI – transfusion-related acute lung injury) é uma grave complicação da transfusão sanguínea alogênica caracterizada por hipoxemia e edema pulmonar não cardiogênico, ocorrendo geralmente de 4 a 6 horas após a transfusão. Qualquer tipo de hemocomponente pode precipitar a TRALI. A TRALI é marcada por um quadro semelhante à SARA (síndrome da angústia respiratória do adulto), com presença de dispneia, hipóxia, edema pulmonar bilateral, cianose, febre e hipotensão. A fisiopatogenia desse quadro, entretanto, é pouco elucidada, apesar de existirem fortes indícios de que seja um evento imune, aparentemente envolvendo anticorpos anti-HLA e anti-HNA (contra determinados antígenos de neutrófilos), que estão presentes no hemocomponente transfundido. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 17 RESIDÊNCIA MÉDICA Apesar de ser um quadro dramático, a TRALI costuma ter bom prognóstico. Apesar disso, alguns casos terão evolução adversa, fazendo da TRALI a reação transfusional mais letal. Contudo, não há tratamento específico para essa condição, além do suporte ventilatório e hemodinâmico. Devemos suspeitar da TRALI quando estivermos diante de um quadro de insuficiência respiratória aguda precipitado por uma transfusão, cursando com hipoxemia e com infiltrado pulmonar bilateral à radiografia de tórax. Após essa revisão, vamos analisar as alternativas! A) Incorreta a alternativa A. A reação transfusional febril não hemolítica é caracterizada por febre e mais nada, ou seja, sem outras manifestações sistêmicas graves, como o extenso comprometimento respiratório e os infiltrados pulmonares observados nesta paciente. B) Correta a alternativa B. O início agudo dos sintomas respiratórios (desconforto respiratório, taquipneia, hipoxemia, crepitações, infiltrados difusos) e a presença de febre são clássicos da apresentação da TRALI. C) Incorreta a alternativa C. Cuidado, Estrategista! A questão queria induzi-lo a marcar essa alternativa ao mencionar o histórico de insuficiência cardíaca, que, de fato, é um fator de risco para TACO, a qual cursa com os achados pulmonares (edema pulmonar). Porém, na TACO, não temos a presença de febre e a pressão arterial geralmente estará elevada, pela sobrecarga de volume. D) Incorreta a alternativa D. A reação ocorreu 45 minutos após o início da transfusão, caracterizando-se como uma reação aguda, não tardia (> 24 horas). Gabarito: B 10. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Hematologia – Prof. Élio Castro) Homem de 54 anos, portador de cirrose hepática por vírus C descompensada (Child-Pugh C), chega à emergência com dor abdominal intensa difusa há 24 horas, febre de 38,5 °C, sonolência e desorientação. Ao exame físico, encontra-se ictérico, com ascite volumosa, sem sinais de peritonite localizada. Foi realizada paracentese diagnóstica com os seguintes resultados: • Albumina sérica: 2,8 g/dL • Albumina no líquido ascítico: 0,8 g/dL • Contagem total de células: 3.500/mm³, sendo 80% neutrófilos • Glicose no líquido ascítico: 35 mg/dL • LDH no líquido ascítico: acima do valor sérico • Proteínas totais do líquido ascítico: 2,2 g/dL A conduta inicial deve ser: A) iniciar ceftriaxona intravenosa associada à infusão de albumina no D1 e D3. B) iniciar antibiótico de amplo espectro (piperacilina-tazobactam ou meropenem) e solicitar tomografia de abdome. C) encaminhar para videolaparoscopia exploradora imediata. D) considerar peritonite tuberculosa e iniciar esquema com rifampicina. Comentários: Caro aluno, esse caso ilustra uma situação clássica nas provas da USP-SP: o diagnóstico diferencial entre peritonite bacteriana espontânea Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 17 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 18 RESIDÊNCIA MÉDICA (PBE) e peritonite bacteriana secundária (PBS) em pacientes cirróticos com ascite. A PBE é caracterizada por neutrófilos (PMN) ≥ 250/mm³ no líquido ascítico, geralmente com celularidade moderada, baixa proteína total e glicose normal. Já a PBS deve ser lembrada quando os critérios de infecção estão presentes, mas acompanhados de valores atípicos, como celularidade muito elevada (> 1.000 ou 1.500/mm³, com predominância de neutrófilos), glicose 1,5 g/dL. Nesse caso, apesar de o paciente ser cirrótico e preencher critério de neutrófilos ≥ 250/mm³, os achados adicionais (neutrófilos extremamente elevados, glicose baixa, LDH elevado e proteína alta) são fortemente sugestivos de peritonite bacteriana secundária, geralmente associada à perfuração de víscera oca (apendicite ou diverticulite complicadas, por exemplo) ou abscesso intra-abdominal. Assim, o manejo deve ir além da cobertura empírica da PBE e incluir antibióticos de amplo espectro e investigação de foco secundário com tomografia de abdome. Tendo isso em mente, vamos analisar as alternativas: A) Incorreta a alternativa A. Essa é a conduta clássica da PBE, porém os critérios do líquido ascítico (celularidade extremamente elevada, glicose 1,5 g/dL) apontam para PBS. A conduta isolada com ceftriaxona seria insuficiente. B) Correta a alternativa B. Esse é o manejo inicial recomendado na suspeita de peritonite bacteriana secundária, cobrindo germes mais variados e buscando o foco intra-abdominal por meio de tomografia antes de definir abordagem cirúrgica. C) Incorreta a alternativa C. Apesar de a PBS muitas vezes necessitar de tratamento cirúrgico, a conduta inicial é realizar imagem (tomografia) para localizar e caracterizar a fonte infecciosa. A abordagem cirúrgica imediata sem imagem pode expor o paciente a risco desnecessário. D) Incorreta a alternativa D. A tuberculose peritoneal cursa com ascite exsudativa rica em linfócitos (não neutrófilos), além de um quadro febril mais insidioso, arrastado, acompanhado de perda ponderal. O quadro aqui é agudo e supurativo, incompatível com TB peritoneal. Gabarito: B 11. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Infectologia – Prof. Sérgio Beduschi Filho) Homem, 34 anos, vivendo com HIV há 5 anos, com adesão irregular à terapia antirretroviral (TARV). Procura o pronto-socorroMED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Menino, 4 anos de idade, 16 quilos, deu entrada no pronto atendimento com quadro de vômitos e diarreia há 1 dia. Você encontra uma criança prostrada, com desidratação grave. Após a expansão inicial com soro fisiológico, há melhora da desidratação e você interna-o para fazer soro de manutenção nas próximas 24 horas. A prescrição correta é: A) SG 10% 1300 mL + 52 mL de Nacl 20% + 13 mL de KCl 19,1%. B) SG 5% 1600 mL + 56 mL de Nacl 20% + 16 mL de KCl 19,1%. C) SG 5% 1000 mL + 50 mL de Nacl 20% + 12 mL de KCl 19,1%. D) SG 5% 1200 mL + 54 mL de Nacl 20% + 15 mL de KCl 19,1%. Comentários: Olá, Estrategista. O primeiro passo para montar um soro de manutenção é definir a necessidade hídrica diária do paciente. Para calcularmos a necessidade hídrica diária, usamos a regra de Holliday-Segar: TABELA - REGRA DE HOLLIDAY SEGGAR Até 10 kilos de peso 100x peso De 10 a 20 kilos 1000 + 50 x peso que exede 10 quilos Maior de 20 kilos 1500 + 20 x peso que exede 20 quilos Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 159 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 160 RESIDÊNCIA MÉDICA O resultado dessa regra é o que chamamos de peso calórico do paciente. A necessidade hídrica diária do paciente, em mL, é peso calórico X 100. Para nosso paciente, temos um peso calórico de 16 kg. Ou seja, a oferta hídrica diária dele é de 1300 mL. Agora, precisamos descobrir como será composta a solução que vai conter esses 1300 mL da oferta diária. O ideal é que seja uma solução ISOTÔNICA, isto é, com uma osmolaridade próxima da plasmática do paciente para evitar oscilações bruscas de sódio, certo? Com a necessidade hídrica na mão, fazemos o cálculo do soro de manutenção isotônico, com a seguinte base: SORO GLICOSADO 5-10% 1.000 mL + NaCl 20% 40 mL + KCl 19,1% 10 mL Vamos aos cálculos então: Necessidade hídrica diária = 1000 + 50x6 = 1000+300 = 1300 mL/ dia Necessidade de sódio. Se, em 1000 mL de soro glicosado, usamos 40 mL de sódio 20%, em 1300 mL, usamos 52 mL. 3. Necessidade do potássio: Se, em 1000 mL de soro glicosado, usamos 10 mL de KCl 19,1%, em 1300 mL, usamos 13 mL. Chegamos à prescrição final: SG 10% 1300 mL + 52 mL de Nacl 20% + 13 mL de KCl 19,1%. Gabarito: A 74. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Menina, de 4 meses, iniciou há 2 semanas com estrias de sangue nas fezes em todas as evacuações, distensão abdominal, irritabilidade e perda ponderal. Recentemente, a mãe trocou o leite materno por fórmula elementar de partida, pois voltou a trabalhar. Como comorbidade, possui dermatite atópica importante. Considerando o caso clínico descrito, a melhor opção para essa criança, é trocar a fórmula elementar por: A) fórmula de proteína de soja. B) fórmula de aminoácidos. C) fórmula de proteína extensamente hidrolisada. D) fórmula de proteína parcialmente hidrolisada. Comentários: Olá, Estrategista. Alergia alimentar é uma resposta do organismo à exposição a um determinado alimento, seja por ingesta, inalação ou contato. Elas podem ser mediadas por IgE, não mediadas por IgE ou mistas. A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é a alergia alimentar mais comum nas crianças e acomete de 2 a 4,9% delas. Você já sabe que os sintomas podem ser IgE mediados, não IgE mediados e mistos. Aqui, na APLV, damos ênfase aos sintomas gastrointestinais. O principal ponto-chave das questões é a hematoquezia. O examinador geralmente traz um lactente jovem com sangue nas fezes e isso, meu caro Estrategista, é indicativo de APLV até que se prove o contrário. Outros sinais que podem estar presentes são irritabilidade, anorexia, perda ou dificuldade de ganho de peso e sintomas sistêmicos alérgicos, como respiratórios ou cutâneos. O tratamento da APLV é de exclusão das proteínas da dieta do bebê. Se o lactente está em aleitamento materno exclusivo, a conduta é a dieta de exclusão das proteínas do leite de vaca feita pela mãe. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 161 RESIDÊNCIA MÉDICA Caso a alimentação seja por fórmula infantil, é indicado utilizar as fórmulas de proteínas extensamente hidrolisadas, em que as proteínas são hidrolisadas (quebradas) e perdem seu potencial alérgeno. Agora, atenção! A fórmula de aminoácidos é indicada para pacientes que não melhoram dos sintomas com a fórmula extensamente hidrolisada, apresentaram anafilaxia prévia ou doença gastrointestinal mais grave (com distensão importante, dor abdominal, irritabilidade e perda ponderal). Além disso, deve ser considerada como primeira opção em casos de dermatite atópica associada. Volte ao caso… temos uma criança com suspeita de APLV, porém ela tem dermatite atópica e sinais intensos gastrointestinais. Preferencialmente, devemos considerar a fórmula de aminoácidos como primeira opção. A) Incorreta a alternativa A. A fórmula de proteína de soja não é nossa primeira opção, pois pode ter reação cruzada e causar alergia alimentar. Além disso, não é indicada em menores de 6 meses. B) Alternativa B correta. C) Incorreta a alternativa C. A fórmula de proteína extensamente hidrolisada estaria indicada se não fossem os sintomas intensos gastrointestinais e a dermatite atópica. D) Incorreta a alternativa D. A fórmula de proteína parcialmente hidrolisada, também chamada de fórmula hipoalergênica, não está indicada no tratamento da APLV. Gabarito: B 75. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Pediatria - Prof. Helena Schetinger) Menino, com 4 dias de vida, é levado ao pediatra pois está ictérico. A mãe relata que o bebê quer mamar o tempo todo e chora bastante. Seu peso de nascimento foi de 3600 g e, hoje, está pesando 3150 g. O tipo sanguíneo da mãe é O positivo e do RN, A positivo. Considerando o caso descrito, a causa mais provável da icterícia é: A) icterícia do leite materno. B) icterícia da amamentação. C) icterícia por incompatibilidade sanguínea. D) icterícia colestática. Comentários: Estrategista, temos aqui um bebê com 4 dias de vida com icterícia. A mãe relata que ele mama o tempo todo e chora bastante. Além disso, a perda de peso foi considerável, de 12,5% do peso de nascimento, sendo que o normal é perder até 10%. O que podemos concluir é que a amamentação não está indo bem e a bilirrubina indireta não tem sido excretada. Vamos relembrar a fisiopatologia da bilirrubina? A bilirrubina provém da degradação de proteínas contendo heme, principalmente a hemoglobina das hemácias. O heme das proteínas é oxidado em biliverdina. A biliverdina é reduzida em bilirrubina, que é transportada pelo sangue até os hepatócitos, ligada à albumina sérica (bilirrubina não conjugada ou indireta – BNC ou BI). Ocorre, então, a dissociação da albumina, e ela atravessa a membrana plasmática do hepatócito. O fígado tem um papel importante no metabolismo da bilirrubina, sendo responsável por sua captação, conjugação e excreção. Dentro dele, a bilirrubina é conjugada ao ácido glicurônico pela enzima uridina (difosfoglicerato glucuronosiltransferase - UDP), quando passa a ser denominada bilirrubina direta ou conjugada (BD ou BC). Juntos, eles vão até a vesícula biliar, e a bilirrubina direta, o ácido glicurônico e a bile são excretados até ao trato gastrointestinal. No íleo terminal, as enzimas bacterianas hidrolisam a bilirrubina em urobilinogênio, que é excretado pelas fezes, dando sua cor característica. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 161 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 162 RESIDÊNCIA MÉDICA Agora, precisamos lembrar que o intestino neonatal inicialmente é estéril e colonizado aos poucos, portanto há poucas enzimas bacterianas para transformar a BD em urobilinogênio. Com isso, a bilirrubina solta-se do ácido glicurônico, liga-secom queixa de dor retroesternal intensa e dificuldade para engolir alimentos sólidos e líquidos há uma semana. Nega febre ou tosse. Ao exame, apresenta-se emagrecido, com múltiplas placas esbranquiçadas na orofaringe, removíveis com espátula. Sua última contagem de linfócitos T-CD4, realizada há 6 meses, era de 88 células/mm³. Qual é a conduta mais apropriada nesse momento? A) Iniciar fluconazol via oral e reavaliar a resposta terapêutica em 72 horas. B) Solicitar endoscopia digestiva alta com biópsia e cultura para fungos antes de iniciar qualquer tratamento. C) Prescrever nistatina em suspensão oral para bochechos e deglutição e agendar retorno ambulatorial. D) Internar o paciente e iniciar fluconazol intravenoso. Comentários: Candidíase esofágica é uma infecção oportunista comum em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) com contagem de CD4(> 80%), hiperproteinorraquia acentuada e hipoglicorraquia importante, com bacterioscopia pelo Gram positiva. B) Pleocitose discreta com predomínio de linfócitos, proteinorraquia normal ou levemente aumentada e glicorraquia normal. C) LCR claro, pleocitose com predomínio de linfomononucleares, hiperproteinorraquia elevada (> 150 mg/dL) e hipoglicorraquia acentuada (11,5 g/dL Leucócitos: 12.100/mm³ com 60% de neutrófilos, 22% de linfócitos e 15% de eosinófilos Plaquetas: 250.000/mm³ Proteína C reativa: 30 mg/L Velocidade de hemossedimentação: 49 mm/h. Assinale o provável diagnóstico. A) Poliarterite nodosa. B) Síndrome de Sjögren. C) Poliangiite microscópica. D) Granulomatose eosinofílica com poliangiite. Comentários: Nosso caso clínico envolve uma mulher de meia-idade apresentando rinite alérgica, asma com crises frequentes, achados compatíveis com neuropatia periférica (mais especificamente mononeurite múltipla), anemia discreta, eosinofilia significativa e elevação de provas de atividade inflamatória. Unindo as peças desse quebra-cabeça clínico, a principal hipótese diagnóstica deve ser granulomatose eosinofílica com poliangiite (GEPA) ou síndrome de Churg-Strauss. A GEPA é uma vasculite associada ao ANCA de caráter necrosante que afeta, predominantemente, vasos de pequeno calibre associada à formação de granulomas e infiltração tecidual por eosinófilos. A rinite alérgica costuma ser a primeira manifestação clínica da doença e está associada à formação de pólipos nasais. A asma é a manifestação clínica mais frequente e mais relevante na GEPA e pode preceder as demais manifestações da doença em anos. Caracteristicamente, os pacientes apresentam um quadro de difícil controle e que tende a piorar em termos de gravidade e número de exacerbações conforme surgem os sintomas da fase vasculítica. Já na fase eosinofílica, surgem infiltrados migratórios e nódulos pulmonares que, caracteristicamente, não cavitam. Hemorragia alveolar secundária à vasculite também é descrita, mas menos frequentemente do que nas demais associadas ao ANCA. Também secundária à infiltração eosinofílica, pode surgir uma gastroenterite que se manifesta com dor abdominal, diarreia e, eventualmente, sangramento. O acometimento do sistema nervoso periférico é mais frequente na GEPA do que nas outras vasculites associadas ao ANCA, e a mononeurite múltipla é sua manifestação clínica mais comum. A fase vasculítica pode vir acompanhada por sintomas constitucionais, como febre, perda de peso, mal-estar e mialgias. Lesões cutâneas são frequentes e surgem como nódulos subcutâneos em faces extensoras (podem ulcerar), urticária, púrpura palpável e isquemia de extremidades, entre outras. As manifestações cardíacas da doença são resultado da combinação entre vasculite e infiltração eosinofílica/ granulomatosa, cursando com pericardite, fibrose endocárdica, valvopatias, síndromes coronarianas agudas, miocardite, distúrbios de condução e cardiomiopatia. Glomerulonefrite é menos comum na GEPA do que nas demais vasculites associadas ao ANCA e raramente evolui de forma grave. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 25 RESIDÊNCIA MÉDICA Achados associados ao processo inflamatório sistêmico, como anemia normocítica e normocrômica, leucocitose, plaquetose e elevação de PCR e VHS, são comuns. A eosinofilia periférica (em geral, maior do que 1.500 células/ mm³ ou maior do que 10% da contagem diferencial dos leucócitos) é muito característica dessa vasculite e nível elevado de imunoglobulina E (IgE) sérica também é descrito. O ANCA é positivo em 40% a 50% dos casos - frequência menor se comparada à granulomatose com poliangiite e à poliangiite microscópica – com padrão perinuclear (p-ANCA) e presença do anticorpo antimieloperoxidase (anti-MPO). Dito isso, vamos às alternativas: A) Incorreta a alternativa A: a poliarterite nodosa é uma vasculite que acomete, predominantemente, vasos de médio calibre e é mais frequente em homens de meia-idade. Cursa com diversas manifestações clínicas, como mononeurite múltipla, lesões cutâneas (nódulos subcutâneos, livedo reticular, púrpura, úlceras, necrose, gangrena), nefropatia vascular com elevação de níveis pressóricos e aumento de ureia e creatinina, vasculite mesentérica e vasculite testicular, entre outras. Ainda que seja um diagnóstico diferencial importante para o quadro neurológico e a lesão cutânea apresentados, não está associada à asma de difícil controle e polipose nasal. B) Incorreta a alternativa B: a síndrome de Sjögren é uma doença autoimune do tecido conjuntivo que acomete pacientes em nossa faixa etária e que, ainda que possa cursar com acometimento neurológico periférico, é marcada pela ocorrência de síndrome seca, especialmente com xeroftalmia e xerostomia, ausentes no enunciado. No mais, cursa comumente com fadiga, artralgia/artrite, parotidite de repetição e, quanto à pele, esperamos xerose, vasculite de pequenos vasos, fenômeno de Raynaud e outras menos frequentes, que não incluem classicamente o nódulo subcutâneo doloroso. Por fim, também não está associada à asma e polipose nasal. C) Incorreta a alternativa C: a poliangiite microscópica é uma vasculite associada ao ANCA que, assim como a GEPA, tem caráter necrosante. No entanto, não está associada à asma e polipose nasal e, ainda que possa cursar com envolvimentos cutâneo e neurológico periférico, é marcada pelos acometimentos pulmonar e/ou renal e pela síndrome pulmão-rim, com hemorragia alveolar e glomerulonefrite rapidamente progressiva. D) Correta a alternativa D: conforme discutido acima. Gabarito: D 16. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Reumatologia – Prof. David Nordon) Paciente de 75 anos é trazido ao pronto-socorro após queda da própria altura. Apresenta encurtamento e rotação externa do membro inferior esquerdo. Apresenta a seguinte radiografia: Fonte: arquivo pessoal. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 25 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 26 RESIDÊNCIA MÉDICA O melhor tratamento para esse paciente é: A) tratamento conservador com repouso por dois meses até consolidação. B) tração cutânea. C) prótese parcial de quadril. D) fixação com DHS. Comentários: O que o examinador quer saber com essa pergunta? Tratamento de fraturas transtrocantéricas do fêmur. O que você precisa saber para responder a essa pergunta? Fraturas do fêmur proximal em idosos As fraturas do fêmur proximal são uma fratura típica osteoporótica, acometendo idosos após os 60 anos de idade. É mais frequente em mulheres, de baixo IMC. A fratura do colo do fêmur acomete pacientes mais novos do que as fraturas transtrocantéricas. O mecanismo de trauma geralmente é de baixa energia, como rodar em torno do próprio corpo, ou uma queda da própria altura. A apresentação clínica é de dor, encurtamento e rotação externa do membro, mas não necessariamente incapacidade de deambular. A avaliação é sempre feita com radiografias da bacia e do quadril, esse em incidência anteroposterior e com tração e rotação interna. Fratura transtrocantérica. A fratura transtrocantérica acomete pacientes mais idosos do que a fratura do colo do fêmur e segue do trocânter maior para o trocânter menor. O mecanismo de trauma geralmente é de baixa energia, como rodar em torno do próprio corpo, ou uma queda da própria altura. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 27 RESIDÊNCIA MÉDICA A fratura transtrocanteriana é classificada por Evans em estável (sem desvio ou desviada, mas reduzida) ou instável (desviada e não reduzida, cominuta ou obliquidade reversa, em que vai do trocânter menor para lateral e distal no fêmur). A classificação de Tronzo é mais detalhada e vai de I a V: I: fratura incompleta. II: fratura completa, sem desvio, com fratura do trocânter menor, mas sem cominuição posteromedial. III: fratura com telescopagem de fragmentos, em que o traço de fratura não atinge o trocânter maior e a diáfise está medializada. III variante: fratura com telescopagem de fragmentos, em que o traço de fratura atinge o trocânter maior e a diáfise está medializada. IV: fratura em 4 partes, com diáfise lateralizada.V: traço reverso (da parede medial proximal para lateral distal). Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 27 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 28 RESIDÊNCIA MÉDICA É uma classificação difícil, com pouca confiabilidade entre avaliadores. De forma resumida: Tronzo I e II são estáveis e podem ser tratadas com parafuso deslizante (DHS). As fraturas tipos III a V são instáveis e devem ser tratadas com haste cefalomedular. Discussão das alternativas A) Incorreta a alternativa A, pois, embora a fratura transtrocantérica possa ser tratada de forma conservadora, ao contrário da fratura do colo do fêmur, esse não é o melhor tratamento, a não ser que o tratamento cirúrgico seja contraindicado por razões clínicas. B) Incorreta a alternativa B, pois a tração cutânea não é indicada nem mesmo enquanto se aguarda a intervenção cirúrgica nesse tipo de fratura. C) Incorreta a alternativa C, pois a artroplastia parcial de quadril é indicada nas fraturas de colo do fêmur desviadas (Garden III e IV) em idosos com baixa expectativa de vida. D) Correta a alternativa D, sem ressalvas. Gabarito: D Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 29 RESIDÊNCIA MÉDICA 17. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Reumatologia – Prof. David Nordon) Paciente de 27 anos de idade, vítima de acidente de moto, é trazido ao pronto-socorro da ortopedia com lesão exclusiva do joelho esquerdo. Apresenta a seguinte radiografia: Fonte: arquivo pessoal. Tratando-se de uma fratura do planalto tibial esquerdo Schatzker 1 isolada, qual é a melhor conduta para esse paciente? A) Tratamento conservador com gesso inguinopodálico. B) Tratamento cirúrgico com fixador externo transarticular. C) Tratamento cirúrgico com placa de suporte. D) Tratamento cirúrgico com haste intramedular bloqueada. Comentários: O que o examinador quer saber com essa pergunta? Tratamento das fraturas de planalto tibial. O que você precisa saber para responder a essa pergunta? Princípios da osteossíntese Há duas premissas básicas na osteossíntese de fraturas: estabilidade absoluta ou estabilidade relativa. Fraturas articulares necessitam de estabilidade absoluta, pois nenhum desvio é aceitável. Fraturas diafisárias toleram um certo grau de desvio, então estabilidade relativa, com formação de calo ósseo, é aceitável. Estabilidade absoluta: A estabilidade absoluta implica: redução anatômica do foco de fratura; compressão interfragmentária; e síntese rígida. Existem diversas técnicas para se obter a estabilidade absoluta, sendo a mais frequente o uso de placas e parafusos. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 29 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 30 RESIDÊNCIA MÉDICA Síntese do platô tibial O platô tibial apresenta uma particularidade: conforme a gravidade, o platô pode cisalhar (um traço de fratura que vem da superfície articular para a região metafisária, sem cominuição, faz com que uma parte do platô escorregue como uma parte de iceberg se rompendo) e/ ou afundar (a cominuição da superfície articular ou da metáfise faz uma parte do platô desabar, como se tirassem o pilar de sustentação de uma parte do forro do teto de uma casa). Como é necessária estabilidade absoluta, cada um dos traços de fratura necessita de uma técnica específica para síntese. Fraturas em afundamento necessitam que a parte metafisária fraturada seja elevada, a superfície articular seja reconstruída, e alguma forma de apoio seja estabelecida abaixo da fratura, para sustentá-la (o que chamamos de grelha). Isso é feito por meio de placas com parafusos bloqueados na face medial ou lateral do platô. Por outro lado, as fraturas em cisalhamento são mais estáveis. Pode-se reduzir o fragmento cisalhado e aplicar parafusos para mantê- lo fixado, ou aplicar o que chamamos de “placa de suporte” ou anticisalhante: uma placa moldada à borda metafisária do platô, fixada por dois parafusos no ápice da fratura – onde o fragmento perde a estabilidade e escorrega. Esta simples montagem é suficiente para sustentar a fratura, sem que o fragmento escorregue mais, e consolidar com princípios de estabilidade absoluta. Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 31 RESIDÊNCIA MÉDICA Discussão das alternativas A) Incorreta a alternativa A, pois o tratamento conservador é conduta de exceção. As fraturas articulares sempre necessitam de redução anatômica e estabilidade absoluta. B) Incorreta a alternativa B. O fixador externo transarticular tem indicação nas fraturas Schatzer IV, V e VI, que são de mais alta energia e apresentam evolução com formação de flictenas e grave lesão de partes moles. O fixador é, assim, uma medida temporária até a resolução da lesão de partes moles para poder proceder à cirurgia definitiva. C) Correta a alternativa C, sem ressalvas. D) Incorreta a alternativa D, pois a haste intramedular é indicada para síntese de fraturas diafisárias, não articulares. Gabarito: C 18. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Dermatologia – Prof. Bruno Souza) Mulher, 31 anos, previamente hígida, apresenta lesões pruriginosas em superfície extensora de cotovelos, joelhos e dorso. Ao exame: pápulas eritematosas e vesículas escoriadas nos cotovelos e joelhos. Hemograma: leucocitose e eosinofilia. Imunofluorescência direta de pele perilesional: depósitos granulares de IgA nas papilas dérmicas. Sorologias virais negativas. Endoscopia digestiva revela mucosa duodenal atrófica, com redução vilositária. Tendo em vista o diagnóstico, assinale a alternativa correta. A) A doença apresenta padrão histológico clássico com bolha subepidérmica e microabscessos neutrofílicos nas papilas dérmicas. B) O tratamento de escolha consiste em antifúngicos sistêmicos e corticosteroides tópicos nas fases ativas. C) A deposição de IgA no exame de imunofluorescência é mais comum nas zonas interpapilares da junção dermoepidérmica. D) A dapsona está contraindicada devido ao risco de anemia hemolítica, mesmo em pacientes com G6PD normal. Comentários: Você tem uma mulher jovem, com lesões em superfícies extensoras, febre baixa, vesículas agrupadas, deposição granular de IgA nas papilas dérmicas e atrofia de vilosidades duodenais. Isso é clássico de dermatite herpetiforme, que é a manifestação cutânea da doença celíaca. A) Correta a alternativa A. Essa é a exata descrição do achado histopatológico de uma biópsia de pele da dermatite herpetiforme B) Incorreta a alternativa B. Nada a ver com antifúngico. O tratamento de escolha é dapsona, por sua ação anti-inflamatória neutrofílica. C) Incorreta a alternativa C. A deposição de IgA é granular e localizada nas papilas dérmicas, não na junção interpapilar. Isso é uma armadilha clássica de prova — muita gente confunde com padrões de outras doenças bolhosas. D) Incorreta a alternativa D. Como vimos, a dapsona é a droga de escolha. Gabarito: A Estratégia MED Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 31 Estratégia MED | Caderno de Respostas | 15° Simulado Residência Médica - USP-SP 32 RESIDÊNCIA MÉDICA 19. (Estratégia MED 2025 – Inédita – Cardiologia – Prof. Bruno Ferraz) Homem de 63 anos, portador de miocardiopatia isquêmica com fração de ejeção de 25%, é admitido na sala de emergência com queixa de dispneia progressiva, ortopneia e edema em membros inferiores há 1 semana. Faz uso irregular de carvedilol, sacubitril/valsartana e espironolactona. Ao exame clínico: paciente em regular estado geral, consciente, corado, sudoreico, com esforço ventilatório; frequência respiratória = 28 irpm, frequência cardíaca = 118 bpm, pressão arterial = 86 x 48 mmHg, tempo de enchimento capilar = 5 segundos, presença de terceira bulha; murmúrio vesicular globalmente diminuído