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Tornozelo e Pé Página 1 TORNOZELO E PÉ 1. FUNCIONALIDADE DO PÉ O pé possui funções importantes como suportar o peso e servir como alavanca para impulsionar o corpo. A construção do pé com vários ossos e articulações, permite a adaptação do pé aos tipos de superfícies, além de aumentar sua ação propulsora. 2. ESQUELETO DO PÉ O pé humano é composto de 26 ossos assim distribuídos: sete ossos do tarso (tálus, calcâneo, cuboide e os três cuneiformes); cincos ossos do metatarso; 14 falanges (três para cada um dos dedos, exceto para o hálux, que tem apenas duas). Quase todos os ossos se unem por articulações sinoviais, conferindo mobilidade necessária para se adaptar a forças longitudinais aplicadas sobre o pé e se moldar aos diferentes tipos de superfícies durante a marcha. 2.1- Os ossos do tarso (do grego – tarso = superfície plana) - São ossos pares e curtos, totalizando sete ossos em cada pé. 2.1.1- O tálus (do latim – talus = tornozelo, dado de jogar), articula-se, proximalmente, com a face inferior da tíbia e, as porções articulares dos maléolos (lateral e medial – faces articulares), constituindo a articulação talocrural (tornozelo). O tálus repousa sobre o calcâneo. É dividido em três principais porções: tróclea (face articular para o tornozelo), colo (região estreita) e a cabeça (porção que se articula com o navicular). Ele não tem nenhuma inserção muscular, no entanto, todos os músculos extrínsecos passam por ele para inserir-se nos ossos do pé. 2.1.2- O calcâneo (do latim – calx = calcanhar) é o maior osso do tarso. Recebe toda a carga proveniente do corpo. Articula-se com os ossos: tálus, navicular e cuboide. Recebe a inserção do músculo tríceps sural (tendão do calcâneo, denominado antigamente como tendão de “Aquiles”). 2.1.3- Osso cuboide (do grego – kúbus = cubo, óides = forma de) articula-se com o calcâneo, navicular e com a base do 4º e 5º metatarsais. 2.1.4- Osso navicular (do latim – navícula = diminutivo de navio) articula-se com a cabeça do tálus, cuboide e os três cuneiformes. É também chamado de escafoide. 2.1.5- Ossos cuneiformes (do latim – cuneus = cunha, formis = forma de), são nomeados no sentido transversal, sendo, cuneiforme medial, intermédio e lateral. Os cuneiformes se articulam com o osso navicular e com a base do 1º, 2º e 3º metatarsais. 2.2- Ossos metatarsais (do grego – meta = depois) são em número de cinco ossos, numerados de medial para lateral (desta forma, o 1º está no hálux). São ossos longos e podemos identificar três regiões: base, corpo e cabeça. As bases dos ossos metatarsais se articulam com os ossos tarsais. As cabeças dos ossos metatarsais se articulam com a base das falanges proximais, constituindo a articulação metatarsofalangiana. Comumente, na cabeça dos 1º metatarsos estão localizados dois ossos supranumerários, os ossos sesamoides lateral e medial. Em alguns casos a tuberosidade do Vº metatarsal pode desenvolver-se separada, imersa no tendão do músculo fibular longo, formando um osso sesamoide, denominado de osso de Vesalius. 2.3- As falanges (do grego – phalanx = tropa de soldados). A phalanx era uma formação de infantaria grega em fileiras. Aristóteles utilizou o termo para os ossos dos dedos, devido sua disposição em fileiras. São em número de 14 falanges em cada pé, formando o esqueleto dos dedos, divididas em proximais, médias e distais, com exceção no hálux (formado pelas falanges proximal e distal). As Tornozelo e Pé Página 2 falanges possuem uma base (articulada com o osso metatarsal correspondente), um corpo e uma tróclea (articula-se com a base da próxima falange correspondente). As articulações entre as falanges são denominadas de articulações interfalangianas (proximal e distal, exceto no hálux). 3. DIVISÃO CLÍNICA DO ESQUELETO DO PÉ Clinicamente o pé é dividido em três porções: 3.1- O retropé ou região posterior: formado pelos ossos tálus e calcâneo, é o ápice do pé e parte da articulação do tornozelo. Ele basicamente sustenta o corpo por sua articulação com a tíbia, no encaixe do tornozelo. O calcâneo é a porção posterior do pé em contato direto com o solo. Na sustentação do peso, o retropé sustenta 2/3 do peso do corpo. 3.2- O mediopé ou região média: formado pelos ossos navicular, cuboide e cuneiformes medial, intermédio e lateral. 3.3- O antepé ou região anterior: constituído pelos metatarsos e falanges. A articulação entre o mediopé e antepé, articulação tarsometatarsal, também é conhecida como articulação de Lisfranc. O antepé sustenta cerca de 1/3 do peso. 4. ARCOS DO PÉ Para se adaptar às irregularidades do solo, suportar o peso do corpo e a força de reação do solo, o pé é constituído por três arcos plantares que funcionam como amortecedores e que distribuem as cargas recebidas pelos pés em três regiões: calcâneo (60% da carga), mediopé (8%) e antepé, principalmente cabeça do quinto e primeiro metatarsos (32%). Considerada em conjunto, a arquitetura da planta do pé pode ser definida como uma abóbada sustentada por três arcos. Os arcos plantares tem como função receber o peso do corpo, amortecer os choques de deambulação, participar da adaptação do pé no solo e constituem alavancas de impulso na marcha. A maior parte da sustentação dos arcos é fornecida pelos ligamentos plantares, pela aponeurose plantar (ou fáscia plantar) e pelos músculos plantares curtos (quadrado plantar e flexor curto dos dedos), tibiais anterior e posterior. 4.1- Arcos transversos Arco transverso tarsal - O segmento funcional médio consiste de cinco ossos tarsais: o navicular, o cuboide e os três ossos cuneiformes. Sua configuração e seus firmes ligamentos interósseos formam um arco rijo. Esses ossos no arco constituem articulações “lado a lado” sustentadas por ligamentos e pelos tendões dos músculos fibular longo, tibiais anterior e posterior. Arco transverso metatarsal posterior - criado pelas bases dos ossos metatarsais e também razoavelmente firme. Arco metatarsal anterior - é flexível e se achata nas fases de carga da marcha e na pronação e supinação. 4.3- Arcos longitudinais – A fáscia plantar é formada por espessas faixas fibrosas interligadas de tecido conjuntivo que se estendem por sobre a superfície plantar do pé e ajuda o apoio do arco longitudinal. Arco longitudinal lateral - é formado pelo calcâneo, pelo cuboide e pelos quarto e quinto ossos metatarsais. Ele é pequeno e suporta o peso da passada na fase inicial, antes que o pé realize pronação para colocar o peso sobre o arco medial. É suportado pelos ligamentos plantar longo e plantar curto. Arco longitudinal medial - é maior que o lateral e formado pelo calcâneo, pelo tálus, pelo navicular, por três cuneiformes e por três metatarsais mediais. É mais alto que o lateral, tendo seu ápice na cabeça do tálus e do navicular. O tendão tibial posterior, que se insere nos segundo, terceiro e quarto Tornozelo e Pé Página 3 ossos metatarsais, após passar sob o ligamento da base da mola, atua como suporte para o arco, juntamente com o flexor do hálux, do fibular longo e do adutor do hálux. Tem a função de amortecer a gravidade e os choques na marcha. 5 – MOVIMENTOS DO PÉ Dorsiflexão é o movimento de aproximação do dorso do pé à parte anterior da perna. A amplitude desse movimento é em torno de 20°. É realizada principalmente pelos músculos tibial anterior, extensores longos dos dedos e do hálux. Plantiflexão ou flexão plantar consiste em abaixar o pé procurando alinhá-lo em maior eixo com a perna, elevando o calcanhar do chão. A amplitude média desse movimento é de 50°. Realizada principalmente pelos músculos solear e gastrocnêmio; auxiliada pelo tibial posterior, fibulares longo e curto, flexores longos dos dedos e do hálux. Quando em posição em pé, comdescarga de peso, em cadeia cinética fechada, o principal músculo é o sóleo. Tornozelo e Pé Página 4 Abdução é o movimento que ocorre no plano transverso, com os artelhos apontando para fora. Enquanto a adução consiste no movimento oposto, de apontar os artelhos para dentro. Ocorrem nas articulações tarsais, com o movimento do antepé. A pronação ocorre quando a borda lateral do pé dirige-se para a parte lateral da perna e sua amplitude máxima é de 5°. A supinação ocorre quando a borda medial do pé dirige-se para a parte medial da perna e sua amplitude máxima deste movimento é de 20°. Ambas ocorrem na articulação subtalar. Eversão é um movimento triplanar, que ocorre com uma combinação de movimentos sendo formada por uma pronação do calcâneo, abdução do antepé e dorsiflexão, sendo que o calcâneo move- se em relação ao tálus. A amplitude máxima desse movimento é de 20° e os principais músculos responsáveis por ele são os fibulares longo e curto. Inversão é o oposto da eversão, ocorrendo uma supinação do calcâneo, adução do antepé e flexão plantar. A amplitude máxima desse movimento é de 40° e os principais músculos são tibial posterior e tibial anterior. A flexão dos artelhos ocorre quando eles se aproximam da região plantar do pé e é realizada pelos músculos flexores curto e longo dos dedos, quadrado plantar, lumbricais e interósseos. A extensão dos artelhos ocorre quando eles se aproximam da região dorsal do pé e é realizada pelos músculos extensor longo do hálux, extensores curto e longo dos dedos. 6- ARTICULAÇÕES DO PÉ E TORNOZELO O pé é uma estrutura rígida, mas ao mesmo tempo é formada por inúmeras articulações que lhe permitem muitos movimentos. A articulação do tornozelo divide-se em articulação superior ou talocrural (entre a tíbia, fíbula e a face superior do tálus) e articulação inferior, subtalar ou talocalcânea (entre a face inferior do tálus e a face superior do calcâneo). O tálus e o calcâneo articulam-se de várias outras formas, sendo que a articulação subtalar também pode ser chamada de articulação talocalcânea posterior, enquanto a articulação talocalcânea anterior divide a cápsula articular com a articulação talonavicular, formando a articulação talocalcâneanavicular. Por sua vez, a articulação talonavicular forma junto com a articulação calcaneocuboidea a articulação transversa do tarso, mediotársica ou de Chopart. 6.1- Articulação superior do tornozelo, tibiotársica ou talocrural Ocorre entre a tíbia, fíbula e o tálus. A articulação superior do tornozelo é uma juntura sinovial, do tipo gínglimo, que funciona como uma dobradiça, fazendo movimentos de dorsiflexão e flexão plantar. O corpo do tálus tem forma de cunha, convexa, chamado tróclea, e a parte articular da tíbia é côncava, encaixando-se na tróclea. A tíbia transfere o peso do corpo ao tálus. A fíbula não recebe carga, mas faz parte da pinça maleolar. Na pinça maleolar, os maléolos da tíbia e fíbula formam uma pinça onde se encaixa o tálus, permitindo flexão plantar e dorsiflexão, limitando os movimentos laterais. O maléolo lateral fica mais Tornozelo e Pé Página 5 baixo que o medial, assim, na dorsiflexão, a fíbula sobe e na flexão plantar ela desce, em movimento de pistão, em virtude do ângulo oblíquo do ligamento tibiofibular, permitindo o movimento do tornozelo. Os movimentos da fíbula ocorrem da seguinte forma: Na dorsiflexão: o maléolo externo se afasta do interno; simultaneamente, ele se eleva levemente, enquanto que as fibras dos ligamentos fíbulo-tibiais e da membrana interóssea tornam-se horizontais; enfim, ela gira sobre si mesma internamente. Esse movimento de elevação da fíbula é provocado pelo músculo bíceps femoral. Na flexão plantar: aproximação do maléolo externo do interno (movimento ativo: o músculo tibial posterior, cujas fibras se inserem nos dois ossos, aperta a pinça maleolar); abaixamento do maléolo externo e leve rotação externa da fíbula. Esse movimento de depressão da fíbula é provocado pelo músculo fibular longo. O corpo do tálus tem a porção anterior mais alargada. Com a dorsiflexão do tornozelo no encaixe, a porção mais larga fica entre os dois maléolos e se acunha entre eles, dando estabilidade à articulação. A flexão plantar faz com que a menor porção posterior do tálus fique no encaixe, permitindo algum movimento lateral e menos estabilidade. Isso dá mais estabilidade durante o choque de calcanhar na marcha. O maléolo medial está anterior ao maléolo lateral no plano transverso, gerando uma angulação de 16° do tálus no encaixe. Os maléolos também funcionam como polias que irão orientar os tendões dos músculos que cruzam o tornozelo para um trajeto posterior ou anterior ao eixo de rotação. Como o músculo tríceps sural mobiliza duas articulações no tornozelo, na tíbiotársica ele realiza flexão plantar, enquanto na subtalar, a fíbula quando desce impede a pronação, ocorrendo então uma supinação do calcâneo. A cápsula articular é relativamente frouxa nas suas porções anterior e posterior para permitir os movimentos de flexão plantar e dorsiflexão, por isso, ela é reforçada por ligamentos colaterais: 1. Ligamentos colaterais laterais – sustentam o aspecto lateral do tornozelo minimizando a inversão. a) Ligamento talofibular anterior b) Ligamento calcaneofibular c) Ligamento talofibular posterior Tornozelo e Pé Página 6 Os dois primeiros são os mais frequentemente lesionados nas torções de inversão, pois com o pé em flexão plantar o tálus é mais instável no encaixe do tornozelo e, portanto, mais dependente do suporte ligamentar. Soma-se a isso o fato deles permanecerem retesados durante todos os movimentos, devido ao eixo de rotação estar sobre a ponta distal da fíbula e esta se elevar durante a flexão plantar. 2. Ligamentos colaterais mediais – sustentam o aspecto medial do tornozelo, minimizando a eversão e são chamados de ligamento deltoide. É mais forte e resiste a lesões de eversão, pois não permanece sempre retesado. a) Ligamento tibionavicular; b) Ligamento talotibial anterior; c) Ligamento calcaneotibial; d) Ligamento talotibial posterior; Quanto à artrocinética do movimento, enquanto faz dorsiflexão, o tálus rola para frente e desliza pra trás. Na flexão plantar, o tálus rola para trás e desliza para frente. O movimento de dorsiflexão é limitado pela cápsula articular posterior, pelo tendão do calcâneo (músculo tríceps sural), pelo ligamento calcaneofibular e pelo contato ósseo anterior (tíbia e colo do tálus). O movimento de flexão plantar é limitado pela cápsula articular anterior, pela tensão dos músculos anteriores (tibial anterior, extensor longo dos dedos e extensor longo do hálux), pelo ligamento talofibular e pelo contato ósseo posterior (tíbia e tubérculos posteriores do tálus). 6.2- Articulação inferior do tornozelo, subtalar ou talocalcânea posterior As funções dessa articulação são absorver a rotação da tíbia e do fêmur em cadeia fechada, através da pronação ou supinação e realizar o choque de calcanhar durante a marcha. A articulação talocalcânea contém várias articulações em diferentes planos, para permitir o movimento simultâneo em diferentes direções. Um sulco profundo, o seio do tarso, separa as facetas posteriores das facetas anteriores. No interior do seio fica o ligamento interósseo calcâneo. A articulação talocalcânea posterior tem cavidade sinovial, sendo conhecida como articulação subtalar. A articulação talocalcânea anterior divide a cavidade sinovial com a articulação talonavicular, formando a articulação talocalcaneonavicular. A articulação posterior sobre a superfície superior do calcâneo é convexa, ao passo que a superfície articular no aspecto inferior do tálus é côncava. Essa relação permite a inversão ea eversão. A maior parte da inversão e da eversão do tornozelo se processa na articulação talocalcânea quando o tálus é “bloqueado” no encaixe do tornozelo. Há quatro ligamentos conectando o tálus ao calcâneo: talocalcâneo interósseo; talocalcâneo lateral; talocalcâneo posterior e talocalcâneo medial. Por serem ligamentos fracos, a articulação talocalcânea é mais habilmente reforçada pela porção calcaneofibular do ligamento lateral do tornozelo e pela porção calcaneotibial do ligamento medial (deltóide) da articulação do tornozelo. O suporte é também provido pelos tendões dos músculos fibular longo, fibular curto, flexor longo do hálux, tibial posterior e flexor longo dos dedos. 6.3- Articulação talocalcaneonavicular A articulação talocalcaneonavicular é do tipo esferoide, formada inferiormente pela superfície posterior do navicular (N) e pelas facetas média (FM) e anterior (FA) do tálus. A cabeça do tálus encaixa- se num receptáculo formado por essas facetas articulares (dos ossos navicular e calcâneo). Entre o navicular e o sustentáculo do calcâneo existe um firme ligamento, o calcaneonavicular plantar, chamado de “ligamento de mola” (LM). Assim, essa articulação pode ser dividida didaticamente em outras duas, a talocalcânea e a talonavicular. Tornozelo e Pé Página 7 A cápsula articular é reforçada, medialmente, pela porção tibionavicular do ligamento deltoide e, lateralmente, pelo ligamento calcâneonavicular que faz parte do ligamento bifurcado. Faz parte ainda desta articulação o ligamento calcaneonavicular plantar. As facetas anteriores do calcâneo são côncavas, enquanto as facetas anteriores do tálus são convexas, permitindo movimentos de pronação e supinação nessa articulação. 6.4- Articulação transversa do tarso, mediotársica ou articulação de Chopart A articulação transversa do tarso consiste das articulações talonavicular e calcaneocuboidea. Ela tem um papel importante no antepé e mediopé, abaixando o arco longitudinal durante a pronação do pé e elevando o arco durante a supinação, além de ligar o antepé interno ao externo. Ela é dominada pela dupla navicular- cuboide e resume a adaptação do pé à gravidade, às desigualdades do terreno, sobretudo trazendo a interdependência do antepé em relação ao retropé. Todos os movimentos do navicular sobre o tálus levam o antepé interno no mesmo sentido. Todos os movimentos do cuboide sobre o calcâneo levam o antepé externo no mesmo sentido. No centro, o ligamento Y de Chopart faz a junção entre os dois movimentos. 6.4.1- Articulação Talonavicular A cabeça arredondada do tálus encaixa- se na superfície abobadada do navicular. O movimento é a rotação em um eixo através do tálus, que corre para frente, para baixo e medialmente. A superfície articular do tálus é mais larga do que a superfície articular do navicular, por isso permite um deslizamento significativo na articulação talonavicular, promovendo inversão e eversão. A articulação é reforçada pelo ligamento talonavicular dorsal. 6.4.2- Articulação Calcaneocuboidea Essa articulação é acessória na inversão e na eversão. A superfície anterior do calcâneo é arredondada (convexa) medialmente e a superfície posterior do cuboide é côncava. As duas unem-se por dois ligamentos: os plantares longo e curto, e são reforçadas pelo ligamento bifurcado, formado por uma parte calcaneocuboidea e outra calcaneonavicular, e pelos ligamentos calcaneocuboide dorsal e calcaneonavicular plantar. O plantar longo estende-se da superfície plantar do calcâneo até a crista do cuboide. Suas fibras mais superficiais inserem-se nas bases do segundo, terceiro, quarto e, ocasionalmente, quinto metatarsais. Essas fibras convertem o sulco do cuboide em um túnel com o tendão do músculo fibular longo. O ligamento plantar curto estende-se do tubérculo anterior do calcâneo até o cuboide. 6.4.3- O Ligamento Y de Chopart O ligamento em Y insere-se atrás, sobre a face dorsal da grande apófise do calcâneo, depois, divide-se em dois feixes. O feixe externo é horizontal e liga-se na frente sobre a face dorsal do cuboide. O feixe interno é vertical e fixa-se na porção externa do navicular. Como uma dobradiça em livro aberto, liga os dois ossos por suas porções centrais. É fácil entender que nas rotações, um leva o outro em sentido inverso. Tornozelo e Pé Página 8 Quando o navicular gira com o antepé interno em rotação interna, ele leva o cuboide e o antepé externo em rotação externa. O ligamento Y se abre. A porção central do pé sobe e a abóboda aumenta. Como o navicular gira mais do que o cuboide, a porção interna do pé sobe ligeiramente. A inversão resulta da tensão tônica do tibial posterior. O navicular puxado para dentro, para trás e para baixo, escorrega sobre a cabeça do tálus. O antepé é levado em uma adução e flexão. A tuberosidade do navicular sobre a qual se liga o tibial posterior é puxada para baixo: o navicular gira em rotação interna e leva o cuboide em rotação externa. Isto estimula o aumento da abóbada. No impulso lateral da marcha, o fibular longo lateral dobra-se sobre o bordo externo do cuboide. Ele leva primeiro todo o pé em valgo (abdução), faz girar o cuboide em rotação interna e por isso mesmo o navicular em rotação externa, depois everte o pé para trazê-lo em um apoio sobre a cabeça do primeiro metatarsiano. Aqui o movimento é bastante amplo. A abóbada central se achata. A eversão do antepé é o movimento do impulso lateral da marcha. Como os dois ossos se encontram livres para suas rotações inversas, ele é bastante amplo. Trata-se de uma função dinâmica. 6.5- Articulações entre o cuboide, o navicular e os cuneiformes Estas são articulações com pouca importância clínica. Elas são reforçadas pelos ligamentos cuboidenaviculares dorsal e plantar; cuneonaviculares dorsais e plantares; cuneocuboide dorsal; plantares longo e curto; e intercuneiformes plantares e dorsais. Elas apresentam movimentos muito limitados. 6.6- Articulações tarsometatársicas e intermetatársicas Ocorrem entre os ossos cuneiformes e o cuboide com as bases dos ossos metatársicos e destes últimos entre si. São junturas sinoviais planas, permitindo apenas pequenos movimentos, sendo que o segundo metatarso é o que apresenta menor mobilidade, e a maior amplitude de movimento ocorre entre o 4º e o 5º metatarsos. São reforçadas pelos ligamentos tarsometatársicos dorsais e plantares e intermetatársicos dorsais e plantares e seus movimentos mudam a forma do arco. 6.7- Articulações metatarsofalângicas e interfalângicas São articulações sinoviais do tipo condilar, que ocorrem entre os metatarsos e as falanges, e destas entre si. As falanges articulam-se sobre as amplas superfícies articulares convexas dos metatarsais com característica deslizante. A cobertura cartilagínea das cabeças metatarsais estende-se a partir da superfície plantar destas até os seus dorsos, permitindo a dorsiflexão excessiva dos dedos. Na marcha normal, o dedo maior “hiperestende” a cada passo, o que permite estimar que realiza esse movimento 900 vezes durante uma caminhada de 1,6 quilômetros. A extensão ativa dos dedos é de 50-60°, enquanto a flexão ativa de 30-40°. Isso é muito importante na fase propulsora na marcha. Enquanto as articulações metatarsofalangiana são biaxiais, realizando movimentos de flexão, extensão, adução e abdução, as articulações interfalângicas só permitem movimentos no plano sagital: flexão e extensão, sendo maior a flexão. Esses movimentos têm importante papel na fase de propulsão da marcha. Dois ligamentos colaterais, em leque, reforçados inferiormente pelo ligamento plantar (que forma uma pequena glena) reforçam essa articulação. 7- MÚSCULOS Os movimentos do pé são realizados pelos músculos, que são classificados em extrínsecos e intrínsecos.Eles formam também um amortecedor ativo das alterações de pressão e das desigualdades do solo. Os músculos extrínsecos possuem origem abaixo do joelho e inserção no pé, e realizam os movimentos do tornozelo como dorsiflexão, a plantiflexão, a inversão e eversão, além de atuarem na movimentação dos artelhos (dedos). São eles: gastrocnêmio, solear, tibial posterior, flexor longo dos dedos, flexor longo do hálux, tibial Tornozelo e Pé Página 9 anterior, extensor longo dos dedos, extensor longo do hálux, fibular longo e fibular curto. Os músculos intrínsecos são representados pelos que se originam abaixo da articulação do tornozelo, podendo situar-se no dorso ou na planta do pé, estes músculos realizam a movimentação dos artelhos. São eles: extensor curto dos dedos, abdutor do hálux, flexor curto dos dedos, abdutor do dedo mínimo, quadrado plantar, lumbricais, flexor curto do hálux, adutor do hálux, flexor do dedo mínimo, interósseos dorsais e plantares. 8- RETINÁCULOS DO PÉ Retináculos são espessamentos da fáscia no tornozelo e no dorso do pé. À medida que os tendões dos músculos se aproximam ou cruzam a articulação talocrural para o pé, eles são retidos por retináculos que os mantém no lugar. 1- Retináculo superior dos extensores – se estende entre as bordas anteriores da tíbia e fíbula, logo acima do tornozelo. Retém os tendões do tibial anterior, dos extensores longos do hálux e dos dedos e do fibular terceiro, além de conter os vasos tibiais anteriores e o nervo fibular profundo. Sua borda distal se une ao retináculo inferior dos músculos extensores. 2- Retináculo inferior dos extensores – é uma faixa em forma de Y, localizada anteriormente à articulação talocrural. Seu tronco está fixado na face superior do calcâneo, lateralmente. Medialmente, ele forma alças em torno dos tendões do fibular terceiro e do extensor longo dos dedos. A partir da extremidade medial da alça, continuam duas faixas divergentes, uma proximal e outra distal. A proximal está sob os tendões do extensor longo do hálux e do tibial anterior e superficial aos vasos tibiais anteriores e ao nervo fibular profundo, alcançando o maléolo medial. A distal estende-se ínfero- lateralmente até a face medial do pé; ela é superficial aos tendões do extensor longo do hálux e do tibial anterior, à artéria dorsal do pé e aos ramos terminais do nervo fibular profundo. 3- Retináculo dos flexores – se estende entre o maléolo medial e a face medial do calcâneo. Apoia os tendões do tibial posterior e dos flexores longos dos dedos e do hálux, além dos vasos tibiais posteriores (artéria e veia tibial posterior) e do nervo tibial. 4- Retináculo dos fibulares – ligamento anular lateral, divide-se em superior, na altura do maléolo lateral e inferior, alguns centímetros abaixo, apoia os tendões dos fibulares longo e curto à medida que eles se curvam laterais ao tornozelo. 9- CIRCULAÇÃO A artéria poplítea é a continuação direta da artéria femoral. Esta última passa para o interior do quadrante poplíteo posterior e se divide em artérias tibiais anterior e posterior ao descer o joelho. A artéria tibial posterior segue o mesmo curso do nervo tibial, suprindo os músculos posteriores da perna. Ao alcançar o maléolo medial, ela passa para a superfície plantar do pé, dividindo-se em artérias plantares medial e lateral. Abaixo da bifurcação, a artéria poplítea ramifica-se lateralmente, passando pela membrana interóssea, descendo o aspecto lateral da perna e suprindo os músculos laterais. Ela termina como a artéria calcânea lateral. Abaixo do quadrante poplíteo, a artéria poplítea se bifurca, originando a artéria tibial anterior. Esta última passa anteriormente entre a tíbia e a fíbula pela margem superior da membrana interóssea, dirigindo-se para a superfície anterior da membrana, onde supre os músculos do compartimento anterior. Ao alcançar o dorso do pé, ela se transforma em artéria dorsal do pé, cujos ramos terminais são as artérias metatarsal dorsal e digital dorsal. Elas se comunicam com os ramos distais das artérias plantares. Tornozelo e Pé Página 10 10- INERVAÇÃO Os principais nervos da extremidade inferior são os ramos do nervo isquiático, que se divide no ângulo poplíteo para formar os nervos tibial e fibular comum. O nervo isquiático origina-se dos ramos primários não-divididos de L4, L5, S1, S2 e S3. É um tronco único dividido em dois componentes: o nervo tibial e o nervo fibular comum. Estes, por sua vez, dividem-se em ramos com nomes variados. O nervo tibial, essencialmente uma continuação do nervo isquiático, deriva de todos os ramos primários anteriores não-divididos do plexo sacral. Após separar-se do nervo fibular comum, ele penetra na perna entre a origem das duas cabeças do músculo gastrocnêmio e passa profundamente ao músculo sóleo para entrar no compartimento posterior da perna. No trajeto, o nervo tibial supre ambas as cabeças do músculo gastrocnêmio, o sóleo, o plantar e o músculo tibial posterior. Ele contribui para a formação do nervo sural, que perfura a fáscia profunda do terço médio da perna e, então, continua para trás, formando o nervo do calcâneo lateral, que supre o calcanhar. O nervo tibial posterior é uma continuação do nervo tibial. Ele inicia ao nível do arco fibroso do sóleo, cruza por baixo da tíbia e, então, termina (sob o retináculo flexor, atrás e inferiormente ao maléolo medial) nas divisões medial e lateral do nervo plantar. O nervo fibular comum é comparativamente curto e contém segmentos das raízes de L4, L5, S1 e S2. Ele cruza por baixo junto à borda lateral da fossa poplítea para alcançar posteriormente a cabeça da fíbula. Enrola-se ao redor do colo da fíbula, onde se divide em nervos fibulares profundo e superficial. O nervo fibular superficial desce na perna em frente à fíbula. Após descer por dois terços, ele perfura a fáscia e penetra na pele da frente, na área lateral da perna e no dorso do pé. O nervo fibular profundo começa logo abaixo da cabeça da fíbula. Após enrolar-se ao redor do colo da fíbula, desce pela perna em frente à membrana interóssea. Ao alcançar o tornozelo, passa sob o retináculo extensor superior, onde se divide em dois ramos, medial e lateral, indo à superfície cutânea da área lateral do hálux e ao segundo dedo. Sua função motora é para o extensor Tornozelo e Pé Página 11 curto dos dedos, tibial anterior, extensor longo do hálux, fibular acessório e primeiro interósseo dorsal. Os nervos plantares são divisões do nervo tibial posterior. O nervo plantar medial envia ramos sensitivos cutâneos para a superfície plantar dos três dedos mais mediais e para o aspecto medial do quarto dedo. Seus ramos motores suprem o abdutor e o flexor curto do hálux, o flexor curto dos dedos e os primeiros dois lumbricais. O nervo plantar lateral passa pela superfície plantar do pé. Após dividir-se em ramos profundo e superficial, supre a sensibilidade da superfície plantar dos dedos remanescentes do aspecto lateral do pé. Ele confere inervação motora ao quadrado plantar, ao flexor curto do quinto dedo, ao abdutor do quinto dedo e aos músculos plantares interósseos e lumbricais remanescentes. 11- DEFORMIDADES DO PÉ Aproximadamente 60 por cento de qualquer grupo de pessoas possui algum tipo de incapacidade no pé. As mais frequentes deformidades do pé são: Pé calcâneo: a fraqueza do tríceps sural ou do fibular longo, ou ambos, permite que os músculos anteriores elevem a parte anterior do pé de modo que o peso gravite sobre o calcanhar. Pé equino: a fraqueza dos dorsiflexores permite a contratura do tríceps sural de modo que o calcanhar seja elevado e o peso gravite sobre os artelhos. É comum em mulheres que usam saltos muito altos com frequência e pode gerar calos e dedos em martelo. Pé varo:a fraqueza dos fibulares longo e curto pode permitir que os tibiais anterior e posterior tracionem o pé para uma inversão. Pé valgo: a fraqueza do tibial posterior ou dos plantares intrínsecos, ou a contratura do fibular longo podem produzir a eversão da planta do pé. Pé cavo: fraqueza do tríceps sural permite que os flexores desloquem o calcâneo para frente, a fáscia plantar se contrai formando um arco muito acentuado. (pé supinado, maior apoio no 5º meta) Pé plano: os músculos tibiais anterior e posterior e os plantares intrínsecos distendidos permitem que o pé ceda, diminuindo o arco plantar, principalmente o arco longitudinal medial, que desaba. (pé pronado, maior apoio no 1º meta) 11.1- HÁLUX VALGO É um desvio lateral do grande artelho, causado frequentemente pelo uso de calçados com bicos finos por mulheres. (JOANETE) 11.2- PÉ PLANO Caracterizado por pronação subtalar, calcâneo valgo e ausência do arco longitudinal medial do pé. O pé plano ou pé chato é normal em crianças até 2 ou 3 anos. Depois desta idade a camada de gordura da planta do pé é absorvida e o arco do pé começa a formar-se pelo próprio exercício de andar. Os pés planos das crianças podem ser corrigidos com tratamentos simples, tendo como base a realização de exercícios que favoreçam o fortalecimento da musculatura da planta dos pés, como caminhar descalço na areia, caminhar na ponta dos pés e pelo calcanhar, fazer movimentos circulares com as pontas dos pés, tentar pegar objetos com os dedos dos pés. Quando o pé chato é muito acentuado e flexível, pode provocar dores nas crianças. Além das dores, as crianças com pés planos podem sentir câimbras musculares, assim como outros incômodos, por isso a necessidade de se levar a criança a um ortopedista infantil. Enquanto os ossos da criança continuam crescendo, pode-se curar o pé plano. A idade máxima para reverter esse quadro é aos 15 anos. É importante definir se o tipo de deformidade da criança é móvel ou rígida, se é funcionalmente aceitável ou não e quais são as possíveis consequências para o futuro. Se a deformidade for rígida é mais preocupante e seu tratamento é muitas vezes cirúrgico. Se a deformidade for móvel ou fisiológica, normalmente tem caráter involutivo e vai diminuindo sem a intervenção de nenhum artefato externo. Classificação: Grau I – facilmente corrigível. Esse tipo de deformidade é passível de correção espontânea ou passa muitas vezes despercebida. Tornozelo e Pé Página 12 Grau II – o tratamento por meio de palmilhas simples é muito demorado, sendo frequentemente impossível a correção completa. Há necessidade de utilizar-se botas especiais associadas às palmilhas feitas sob medida. Grau III – a deformidade é muito evidente, associando-se frequentemente à hipermobilidade articular ou frouxidão ligamentar. Pé valgo postural normal – até 2 anos é normal. Acima de 2 anos, avaliar: flexibilidade (apoio no antepé), retração (TFL, tríceps sural, MMII em geral), hipermobilidade articular. Pé plano funcional acentuado – de 4 a 7 anos com dor – palmilha. Pé plano flexível grave – tratamento cirúrgico após os 7 anos – osteotomia para medialização e distalização do calcâneo. Pé plano patológico – rígido, limitante, doloroso, progressivo. Causas: fraturas, doenças neuromusculares, barra óssea (união anormal entre calcâneo e navicular ou talo-navicular). Tratamento: artrodese. Pé plano flexível – apresenta o arco sem apoio, há mobilidade do retropé (calcâneo), avaliar relação com joelho valgo. Pé plano rígido – não apresenta arco nem retirando o apoio, sem mobilidade, é raro. 11.3- PRONAÇÃO EXCESSIVA Os indivíduos com pé plano tem uma pronação excessiva durante a marcha, o que causa uma rotação medial compensatória da tíbia, podendo resultar em maior estresse na fáscia plantar, no tendão calcaneano e a membrana interóssea, podendo causar: canelites, condromalácia, fasciite plantar e tendinite do tendão calcaneano. 11.4- PÉ CAVO Caracterizado por: Supinação subtalar, calcâneo varo e aumento do arco longitudinal medial. Apresenta elevação excessiva do arco longitudinal medial. O exagero dessa curvatura se caracteriza pela distribuição do peso em apenas dois pontos: o calcâneo e a cabeça dos metatarsos. Frequentemente ocorre um desequilíbrio na distribuição dos pontos de pressão, que pode ocasionar dores e calosidades na base dos dedos. Caracteriza-se por apresentar rigidez excessiva e inflexibilidade, dificultando o amortecimento das forças pelas arcadas plantares. Isso pode causar dificuldades de adaptação aos calçados, que, em geral, necessitam de suporte de arco, e dor ao realizar atividades como caminhar, correr e ficar longos períodos em pé. Em casos mais graves, pode causar incapacitação importante. Sua causa pode ser neurológica, ortopédica ou neuromuscular. Geralmente são observados desvios compensatórios ascendentes em joelhos, pelve e coluna, associados ao calcâneo varo. A melhor forma de compensar a rigidez e a falta de amortecimento de um pé cavo será com sapatos com características contrárias às do pé. Neste caso, o ideal é procurar sapatos que ofereçam mais flexibilidade e amortecimento de impactos. Outro fator é a acomodação de pé nos sapatos, além de uma boa folga no comprimento. O pé deve ajustar sem exceder a largura do sapato, promovendo a movimentação natural do pé. 11.5- ENCURTAMENTO DO SOLEAR Deformidades provocadas pelo encurtamento do músculo solear: Limitação da dorsiflexão em cadeia cinética aberta ou pé equino varo em cadeia cinética fechada (varo por causa da pinça maleolar); Joelho recurvatum: o solear provoca a posteriorização da tíbia em cadeia cinética fechada; Joelho valgo (falso varo) Pé valgo e pé plano estáticos – o encurtamento do solear provoca fraqueza do tibial posterior, que não consegue manter o arco longitudinal medial, que desaba. Rotação externa da tíbia: aumenta o ângulo Q, aumentando também a resultante de forças sobre a patela, podendo provocar osteoartrose na articulação patelofemoral. Tornozelo e Pé Página 13 11.6- FASCIITE PLANTAR Resultado do estiramento repetitivo da fáscia plantar, uma condição caracterizada por microlacerações e inflamação da fáscia plantar próximo de sua inserção no calcâneo. A fascite plantar é uma síndrome dolorosa muito frequente, mas sua exata etiologia ainda permanece obscura. O diagnóstico é essencialmente clínico e tem como base a história e o exame físico. Exames complementares laboratoriais e de imagem podem ser úteis no diagnóstico diferencial. O tratamento é essencialmente conservador, com elevada taxa de sucesso (ao redor de 90%). A essência do tratamento conservador é o programa domiciliar com exercícios para alongamento da fáscia plantar. A indicação do tratamento cirúrgico somente é feita quando os sintomas persistem sem melhoria significativa, após pelo menos seis meses de tratamento conservador supervisionado diretamente pelo médico ou fisioterapeuta. Sintomas: dor no calcanhar e/ou no arco do pé. Quarta causa mais comum de dor entre corredores e outros atletas, pode ser provocada pelos seguintes fatores anatômicos: pé plano, pé cavo rígido, tendão calcaneano tenso. Tratamento: palmilhas, eventuais modificações do treinamento, anti-inflamatórios, fisioterapia e repouso. Fisioterapia: Ultrassom, crioterapia, tratar a causa, reeducação postural, alongamento, orientação do calçado (distribuir peso), massagem na face plantar. 11.7- CONTRATURA DE DUPUYTREN A contratura de Dupuytren resulta de afilamento, encurtamento e fibrose da fáscia palmar ou plantar. Normalmente, há presença de nódulos indolores ao longo da fáscia. Está presente em 16% a 42% de todos os diabéticos. Leva a contratura em flexão dos dedos, em especial do quarto dedo da mão. Ocorre também dosegundo ao quinto dedos. 11.8- ESPORÃO DO CALCÂNEO É uma formação óssea com a forma de uma ponta que se desenvolve na parte plantar ou na tuberosidade superior do calcâneo. Trata-se de um processo degenerativo que está relacionado a esforços e cargas na região do calcanhar (Lei de Wolf). Ele é resultante de um estiramento que lesa a fixação perióstica da fáscia plantar ao osso do calcanhar. Nem sempre causa dor, podendo ser assintomático por muitos anos (dependendo da intensidade do processo inflamatório). A dor é experimentada somente com o apoio de carga ou com pressão digital no local, podendo irradiar-se para outras regiões do calcanhar e, algumas vezes, anteriormente ao pé. A radiografia é o único meio certo de diagnóstico. Quanto mais rígida ou obesa for a pessoa, maior o esforço local. Aumento súbito em atividades diárias ou uma mudança de sapatos porde gerar o esporão. Tratamento: Nos casos mais intensos, deve-se recorrer ao tratamento cirúrgico não só pela retirada do esporão, como o alívio das pressões nessas regiões do calcanhar. Porém, a cirurgia é raramente indicada porque produz uma queratose plantar que é como uma cicatriz, que produz mais dor que o próprio esporão. Conduta: Utilização de palmilhas, sapatos com salto mais elevado, medicação e, nos casos mais intensos, imobilização completa por botas rígidas (plásticas ou gessadas). Fisioterapia: Ultrassom, crioterapia, tratar a causa, reeducação postural, alongamento, orientação do calçado (distribuir peso), massagem na face plantar. 11.9- TENDINITE DO AQUILEU Envolve inflamação e, às vezes, microrrupturas dos tecidos no tendão calcaneano, acompanhadas tipicamente por edema. Está associada habitualmente com a corrida e as atividades de salto. O tendão do calcâneo é circundado pelo paratendão, em locais de atrito, 2 a 6 cm acima da inserção (bolsa sinovial). O suprimento de sangue no tendão do calcâneo é reduzido devido ao paratendão. Tendinite = lesão com ruptura. Paratendinite = inflamação do paratendão. Tornozelo e Pé Página 14 Causas: carga prolongada e repetitiva, mudança de superfície para treinamento, calçado, técnica ou clima. Sintomas e diagnóstico: dor intensa e constante com edema difuso, dor a movimentação com crepitação (estágio subagudo ou crônico). Medidas preventivas: escolher calçado apropriado, apoio de calcanhar de 1 cm aliaviará a tensão; aquecimento e exercícios de alongamento e fortalecimento. 11.10- RUPTURAS DO TENDÃO DO CALCÂNEO A) Ruptura parcial – lesão, inflamação, cicatrizes, cronicidade. Sintomas e diagnóstico: dor súbita ao término da atividade; dor cede ao repouso e retoma com a atividade; rigidez matinal, antes e após o exercício; dor localizada e pequeno edema local. Tratamento: Repouso + gelo Muletas se a dor for intensa Sapatos com apoio no calcanhar Imobilização por 4-6 semanas Cirurgia para retirar tecido cicatricial Tratamento cirúrgico: 5-6 semanas de imobilização Recuperação em 10-12 semanas e competir após 4-6 meses. B) Ruptura total – tendões sofrem alterações degenerativas a partir de 25-30 anos. Causa: carga aumentada. Sintomas e diagnóstico: dor intensa na área da rotura na fase aguda; impossibilidade de andar na ponta do pé; edema crescente com sangramento; teste de Thompson positivo (falha no tendão). Tratamento: Cirúrgico. Cicatrização e complicações: imobilização por 6-8 semanas, TVP, mobilidade articular (alongamento), cirurgia (afastamento de 6-8 meses da competição). 11.11- ENTORSES Estão entre as mais comuns de todas as lesões de tornozelo. Entorse – termo frequente usado em referência específica à lesão de um ligamento. Lesão – estiramento ou laceração de tecidos moles como cápsula articular, ligamentos, tendões ou músculos. Mecanismo de lesão: são causadas por uma súbita aplicação de força que exceda a resistência dos ligamentos, rodando o pé em inversão ou eversão. Visto que a cápsula articular e os ligamentos são mais fortes na face medial do tornozelo, as entorses por inversão envolvendo estiramento ou ruptura dos ligamentos laterais são muito mais comuns que as entorses por eversão dos ligamentos mediais, principalmente o talofibular anterior e o calcâneofibular. De fato, os feixes do ligamento deltoide são tão resistentes que é mais provável que a eversão excessiva possa resultar em fratura da fíbula distal que em ruptura do ligamento deltoide. Esta condição clínica é caracterizada pelo estiramento ou ruptura de um ou mais ligamentos do tornozelo. As entorses são classificadas quanto a sua gravidade que pode evoluir com vários graus de limitação funcional. Grau 1: distensão ligamentar sem rotura macroscópica, pequeno aumento de volume e pouca dor, leve ou nenhuma incapacidade funcional e sem instabilidade articular (estiramento). Tornozelo e Pé Página 15 Grau 2: rotura parcial macroscópica do ligamento, com dor e aumento de volume moderados, perda da função e instabilidade articular leve a moderada. Porção maior do ligamento é danificada, que gera uma leve frouxidão da articulação. Presença de hematoma. Grau 3: Ruptura completa macroscópica do ligamento, considerável aumento de volume, hematoma e dor, perda de função e grave instabilidade articular. Cicatrização do ligamento: vascularização regular, cicatriza lentamente, reparo por tecido fibroso e colágeno, ruptura total deve ser suturada cirurgicamente. Diagnóstico: exames radiológicos, testes de instabilidade, ultrassonografia e RM. Objetivos do tratamento: melhorar o processo de cicatrização das estruturas envolvidas; estabilizar as articulações do pé e tornozelo, melhorando o equilíbrio e a coordenação; orientar AVDs e exercícios em casa. Tratamento: Grau I – crioterapia + compressão + elevação + fortalecimento muscular + propriocepção. Grau II – imobilização de 3 a 4 semanas, após 20 dias faz-se crioterapia + fortalecimento muscular + propriocepção. Grau III – cirúrgico. A reabilitação tem por objetivo inicialmente, redução do edema, do sangramento, da dor e proteção do ligamento envolvido, que já se encontra em recuperação. Nesta fase realizar um controle do edema é crucial para o processo de recuperação. Diante disto, recomenda-se fazer uso do gelo por 20-30 minutos a cada 3 horas para reduzir o metabolismo local e deter a hemorragia, elevação da perna para favorecer a ação da gravidade no sistema linfático de forma a permitir a redução do edema, repouso com intuito de aguardar que o processo inflamatório seja concluído. Porém vale ressaltar que repouso não significa não fazer nada. Podem ser feitos exercícios de baixa intensidade de dorsiflexão e flexão plantar e proteção da articulação com uso de imobilização que limite os movimentos de inversão e eversão do pé como o tipo “air cast” ou bota imobilizadora (robofoot), que irão auxiliar no controle do edema. Nesta fase estão contraindicados os exercícios vigorosos. Na segunda fase, após a retirada da imobilização, a fisioterapia motora composta por alongamento e fortalecimento já poderá ser aplicada com exercícios isométricos (contração sem movimento), evoluindo para isotônicos (com produção de movimento), agregando cargas progressivas com auxílio de faixas elásticas (thera band), tendo atenção ao grau de força aplicada. Pode-se aplicar o treino de descarga de peso gradativa sobre o pé acometido para iniciar o treino de marcha e adequar a propriocepção (consciência da posição do corpo). Podem ser introduzidos exercícios na bicicleta ergométrica, trabalhando a resistência muscular e a mobilização articular; técnicas como bandagens funcionais e kinesio taping (bandagem elástica) podem ser aplicadas também visando uma melhor estabilidade, controle de edema e redução do quadro álgico. Técnicas de eletroterapia são de fundamentalimportância, visto que aparelhos como o ultrassom, TENS, infravermelho e laser irão promover efeitos anti-inflamatórios, analgésicos, circulatórios e cicatriciais, respectivamente, que podem ser usados a partir do primeiro dia após a lesão, a depender do tipo de imobilização aplicada. Outra técnica muito interessante é a massagem transversa profunda de Cyriax, com o objetivo de quebrar as aderências promovidas pelas fibras de colágeno do tecido cicatricial formado após a lesão, que se tornarão fracas, sem flexibilidade e desalinhadas no período de reparação. Portanto a técnica irá promover uma melhor movimentação articular e muscular sem dores. À medida que o quadro álgico e o edema reduzem, o indivíduo ganha independência funcional com a realização de exercícios com cargas em ortostase (em pé), novos objetivos são importantes para adicionar à reabilitação da entorse. O ganho de força muscular aumenta gradativamente com exercícios cada vez mais complexos e se intensificam os exercícios de propriocepção, que irão promover uma melhor estabilidade articular e prevenir novas lesões com exercícios em tábuas de propriocepção, cama- elástica, colchonetes, balancinho, giroplano, ortostase com apoio unipodal evoluindo para saltos, realização de treino pliométrico visando um aumento da ação neuromuscular, circuitos com treino de corrida associado a obstáculos e mudança de direção e terrenos estimulando todo o reequilíbrio e propriocepção das estruturas musculares, tendíneas e ligamentares. Tornozelo e Pé Página 16 O foco do tratamento não se baseia apenas na lesão ligamentar, seja ela lateral ou medial. Como dito anteriormente, nem sempre a entorse gera uma lesão no ligamento, ela pode promover uma lesão articular com subluxação antero-inferior da fíbula, sendo assim o tratamento mais indicado é a terapia manual, capaz de corrigir essa falha posicional com mobilizações articulares para reposicionar a fíbula distal posteriormente. Pode ser aplicada a técnica do Mulligan ou a técnica de Maitland, em que a mobilização é aplicada com movimentos ativos ou sem movimentos, respectivamente, promovendo aumento da amplitude articular para a inversão com redução do quadro álgico e edema. O objetivo da reabilitação é que o retorno do paciente ao esporte ou à atividade física, laboral ou social aconteça o mais breve e seguramente possível. Para isso é de fundamental importância que o paciente siga todas as etapas com supervisão do fisioterapeuta e que mantenha o ritmo de atividade para manter a estabilidade alcançada e se previna de novas lesões. Outro fator preventivo é a importância do aquecimento adequado e o uso correto dos calçados durante o dia-a-dia e nas práticas esportivas. 11.11- NEUROMA DE MORTON Causa comum de metatarsalgia, desencadeada com maior frequência, pela compressão mecânica dos ramos digitais dos nervos plantares. Caracteriza-se por uma lesão não neoplásica, com formação de fibrose perineural do nervo plantar, com predileção pelo terceiro espaço digital, já que este é o sítio mais frequente da união dos ramos lateral e medial dos nervos digitais plantares, os quais espessados, ficam comprimidos dentro do terceiro espaço digital, potencializados pela maior mobilidade do quarto metatársico em relação ao terceiro metatársico, o que confere microtraumas de repetição. Há predileção pelo sexo feminino, com faixa etária a partir da quinta década de vida e relacionada ao uso de sapatos “antifisiológicos”, caracterizados por uma câmara anterior estreita, resultando em uma hiperextensão da articulação metatarsofalângica, a qual favorece a compressão do nervo contra o ligamento intermetatársico, potencializado por um compartimento posterior elevado, presente nestes sapatos. O neuroma de Morton, clinicamente, é apresentado pelos pacientes com uma sintomatologia de dor no antepé, a qual tem fator de melhora com a retirada do calçado e massagem dos dedos. Possui irradiação para os dedos, acompanhada ou não de fenômenos parestésicos nas áreas inervadas pelos ramos envolvidos, com dor tipo queimação, com piora a persistência ao uso dos calçados. Ao exame físico, durante a palpação, encontramos o Sinal de Mulder, caracterizado pela compressão látero-lateral das cabeças metatársicas com uma mão, enquanto a outra mão do examinador comprime o espaço acometido, na região plantar. Este teste pode produzir dor e um clique palpável (Mulder positivo), devido ao deslocamento do neuroma durante a compressão das cabeças metatársicas, sobre o nervo interdigital espessado, durante seu movimento pelo ligamento intermetatarsal transverso. Inicialmente, o tratamento institui-se a mudanças de hábitos, envolvendo o uso de calçados fisiológicos, associado ao uso de anti-inflamatórios não hormonais e fisioterapia, com o objetivo de alongamento da fáscia plantar e musculatura flexora dos dedos, associado ao ultrassom. Palmilhas para supressão da carga na região metatarsal acometida, com base retrocapital, pode ser usada como coadjuvante. Na falha do tratamento conservador, pode-se realizar a liberação cirúrgica do ligamento metatarsal transverso, para descompressão, ou a ressecção do neuroma e do segmento afetado do nervo.
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