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As mudanças vividas pela odontologia nas últimas décadas, decorrentes da redução drástica na prevalência da doença cárie, determinaram um novo papel para os cirurgiões- -dentistas que se prontificam ao atendimento de crianças e adolescentes. O monitoramento do desenvolvimento da oclusão dentária, dentro de um programa permanente de saúde bucal, faz parte do espectro de responsabilidades confiadas a esses profissionais. Tal acompanhamento deve contribuir para o desenvolvimento de uma dentadura per- manente saudável nos aspectos funcionais e estéticos.1 Neste capítulo optou-se por utilizar a classificação da biogênese da oclusão dentária em três momentos distin- tos: as dentaduras decídua, mista e permanente. Tal no- menclatura é de uso simples pelos clínicos, permitindo uma boa comunicação entre os profissionais e o núcleo familiar no dia a dia. Para as fases de dentaduras decídua e mista adotaram-se, ainda, algumas subdivisões, para facilitar o entendimento. Antes de iniciar a descrição das características de nor- malidade no desenvolvimento da oclusão dentária, faz-se necessária a diferenciação dos termos dentição e denta- dura, usados muitas vezes de maneira incorreta. Os seres humanos são difiodontes, ou seja, têm duas dentições: uma decídua e outra permanente. Entretanto, durante o proces- so de maturação, passamos por diversos estágios de de- senvolvimento da oclusão, que vão determinando diferentes dentaduras: decídua, mista e permanente. Assim, o termo dentição deve ser empregado para designar os dois tipos de dentes, enquanto o termo dentadura indica o conjunto de dentes dentro de suas bases ósseas.1 DENTADURA DECÍDUA Para um melhor entendimento do desenvolvimento da den- tadura decídua, que acontece desde o nascimento até o período imediatamente anterior à erupção do primeiro dente permanente, este assunto será apresentado em três está- gios: pré-dental, erupção dos dentes decíduos e dentadura decídua madura.1 Pré-dental Também conhecido como período dos roletes gengivais, caracteriza-se pelos abaulamentos gengivais espessos e segmentados que indicam o local de desenvolvimento dos germes dentários. A arcada superior apresenta formato de ferradura e se encontra posicionada anteriormente à arca- da inferior, mais estreita e em forma de U. Não existe uma padronização ou relação fixa entre maxila e mandíbula, mas geralmente se observam contatos entre os roletes gengi- vais posteriores e o espaçamento entre os arcos anteriores (Figura 4-1).2 A relação entre mandíbula e maxila observa- da neste período não é preditiva de alterações ósseas ou oclusais futuras.2 Entretanto, deve-se enfatizar que a ama- mentação desenvolve importante papel no crescimento e desenvolvimento dessas estruturas.3 Ao nascimento, os dentes decíduos se encontram api- nhados em suas bases ósseas. Porém, no primeiro semes- tre de vida, ocorre um extenso crescimento da mandíbula Desenvolvimento da oclusão dentária Bernardo Quiroga Souki Cybelle Luisa Pereira Izabella Lucas Abreu Lima Daniel Santos Fonseca Figueiredo CAPÍTULO 4 FIGURA 4-1 Visão lateral dos roletes gengivais. Observa-se con- tato dos roletes posteriores e espaçamento entre os arcos ante- riores. Observa-se, ainda, o posicionamento anterior da maxila em relação à mandíbula. Fonte: Toledo.4 Abrao_cap_04.indd 33Abrao_cap_04.indd 33 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 34 JORGE ABRÃO E COLABORADORES e da maxila, tanto no sentido transversal (sutura palatina mediana e sínfise mandibular) quanto no sagital. Esse cres- cimento, na maioria dos casos, é suficiente para que a erup- ção dos dentes decíduos ocorra sem apinhamento.2,5 Ocasionalmente, observa-se a presença de dentes na- tais (presentes ao nascimento) ou neonatais (irrompem até 30 dias após o nascimento). Nesses casos, cabe ao odon- topediatra e/ou ao pediatra definirem a melhor conduta a ser tomada.6,7 Erupção dos dentes decíduos A erupção dos dentes decíduos inicia-se, geralmente, seis meses após o nascimento da criança. Quase sempre os pri- meiros dentes decíduos a irromper são os incisivos centrais inferiores e, antes dos 3 anos de idade, todos os dentes de- cíduos já se encontram irrompidos.2 A cronologia da erupção é muito variável e parece haver uma tendência à precocidade na transição entre dentadura decídua e mista em crianças com padrões eruptivos precoces dos dentes decíduos.8 A sequência de erupção também é bastante variável, e essa variabilidade costuma não causar nenhuma alteração no desenvolvimento da oclusão. Apesar de serem muito ra- ras nessa etapa do desenvolvimento, deve-se ficar atento à erupção ectópica e à impacção dental. A sequência erupti- va mais observada é: I, II, IV, III e V.1 O desenvolvimento da dentadura decídua pode ser di- vidido em quatro fases distintas, com características bem peculiares: erupção dos incisivos, erupção e intercuspida- ção dos primeiros molares, erupção dos caninos, erupção dos segundos molares. Fase I – Erupção dos incisivos Caracteriza-se por uma sobremordida acentuada, causada pela ausência dos dentes posteriores. Além disso, a fossa ar- ticular praticamente inexistente e o côndilo mandibular pouco desenvolvido permitem amplas excursões mandibulares.1,9 Fase II – Erupção e intercuspidação dos primeiros molares Nesse momento ocorre o primeiro ganho de dimensão ver- tical de oclusão (DVO) e, consequentemente, observa-se uma redução da sobremordida. Essa fase se caracteriza pela estabilidade dos arcos dentários nos sentidos trans- versal e sagital.5 Fase III – Erupção dos caninos Observa-se o estabelecimento e a manutenção dos espa- ços primatas entre os caninos e os incisivos laterais supe- riores e entre os caninos e os primeiros molares inferiores. Fase IV – Erupção dos segundos molares Caracteriza-se pela consolidação do primeiro ganho de DVO e pela aquisição de maturidade oclusal. Essa condi- ção se manterá estável até a erupção dos primeiros dentes permanentes, exceto nas situações onde fatores etiológicos extremos possam estar presentes. Em 1950, Baume10 descreveu dois tipos de arcos den- tários decíduos. No arco do tipo I existem diastemas gene- ralizados e no arco do tipo II, nenhum espaçamento inter- dentário, apenas o espaço primata pode ser identificado. Os dois tipos de relação dentoalveolar descritos por Bau- me são considerados normais. Porém, incisivos alinhados e sem diastemas têm 75% de chance de se apresentarem apinhados no futuro.11 É importante salientar que é possí- vel haver, em uma mesma criança, um arco tipo I em uma arcada dentária, enquanto a outra é do tipo II (Figura 4-2). O espaço primata independe do tipo de arco (I ou II de Baume) e está localizado mesialmente aos caninos decí- duos no arco superior e distalmente aos caninos decíduos no arco inferior (Figura 4-2). Seu tamanho pode variar em um mesmo indivíduo e entre diferentes indivíduos. Em um estudo conduzido com 350 crianças brasileiras, os espaços primatas foram mais prevalentes na maxila (97%) do que na mandíbula (78%).12 Os dentes decíduos encontram-se verticalizados em suas bases ósseas e a angulação interincisivos está próxima Arco tipo I de Baume Arco tipo II de Baume FIGURA 4-2 Arcos de Baume. Tipo I – apresenta diastemas ge- neralizados entre os incisivos (•), além dos espaços primatas (*). Tipo II – não apresenta espaçamento dentário, apenas os espa- ços primatas podem estar presentes. Abrao_cap_04.indd 34Abrao_cap_04.indd 34 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 MANUAL DE ORTODONTIA PREVENTIVA 35 dos 180°. Na região posterior não se observa curva de Wilson nem de Spee (Figura 4-3).5 No plano sagital, o engrenamento dentário ideal ocorre quando o longo eixo dos caninos decíduos superiores oclui na ameia interproximal dos primeiros molares e dos caninos decíduosinferiores (Figura 4-3). Essa relação é classificada como normo-oclusão e pode ser encontrada em 60% das crianças brasileiras.13 Na região anterior, um trespasse hori- zontal de 0-3 mm é considerado normal. Transversalmente, as cúspides palatinas dos molares decíduos superiores ocluem nas fossas centrais dos seus antagonistas, enquanto as superfícies palatinas dos cani- nos decíduos superiores estão em contato com a superfície vestibular dos caninos e dos primeiros molares decíduos inferiores (Figura 4-3). No aspecto vertical, um trespasse vertical de até 2/3 de cobertura incisal pode ser considerado normal (Figura 4-3). É importante destacar que há uma baixa incidência de todas essas características ideais identificáveis em uma mesma criança. As características mais comumente encon- tradas são os diastemas interincisivos e a variabilidade nos trespasses vertical e horizontal.14 Dentadura decídua madura Dos 2,5 aos 5 anos de idade, durante a maturidade da den- tadura decídua, ocorrem poucas alterações dimensionais nos arcos dentários.5 Entretanto, algumas mudanças po- dem acontecer nesse estágio. Destacam-se: • Pequena migração mesial fisiológica dos segundos mo- lares decíduos (principalmente os inferiores), causada pela movimentação pré-eruptiva dos primeiros molares permanentes. Tal fato favorece a diminuição dos dias- temas entre os molares decíduos. Consequentemente, pode ser observada uma diminuição do perímetro e do comprimento da arcada. • Desgaste oclusal por abrasão mecânica e crescimento mandibular podem levar a uma relação dentária anterior de topo e a uma alteração do engrenamento sagital. • Desgaste interproximal ou perda prematura dos dentes decíduos (lesões cariosas, restaurações insatisfatórias, extrações precoces) também podem causar uma alte- ração da relação sagital e vertical interarcos. • Alteração positiva ou negativa das distâncias interca- ninos e intermolares. As alterações variam de acordo com o gênero e o tipo de arco dentário.15 • Fatores ambientais (p. ex., sucção digital, interposição lingual) podem causar mordidas cruzadas posteriores e/ou mordida aberta anterior. Os hábitos deletérios que persistem após os 4 anos de idade têm maior chance de causar danos oclusais irreversíveis espon- taneamente.16 DENTADURA MISTA A fase de dentadura mista é caracterizada pela presença tanto de dentes decíduos quanto de dentes permanentes na cavidade oral.2,5,17 A substituição dos dentes decíduos pelos permanentes acontece ao longo dos anos, em pe- ríodos distintos. Existem diversas formas de se classificar e estudar a evolução da dentadura mista. Neste capítulo está sendo adotada a classificação proposta por van der Linden,5 na qual três períodos são identificados.No primeiro período transitório os incisivos são trocados. No segundo período transitório os caninos e os molares decíduos são substituídos pelos seus sucessores. Entre eles está o pe- ríodo intertransitório. Primeiro período transitório (erupção dos primeiros molares e dos incisivos permanentes) Os dentes permanentes iniciam a fase pré-eruptiva após a formação completa da coroa, tendo entre 2 e 5 anos para Sagital Transversal Vertical FIGURA 4-3 Oclusão ideal da dentadura decídua nas visões sa- gital, transversal e vertical. Observe: chave de caninos decíduos (sagital); dentes decíduos verticalizados em suas bases ósseas, ausência das curvas de Spee e Wilson (transversal) e trespasse vertical dos incisivos de 1/3 a 1/2 de coroa. Abrao_cap_04.indd 35Abrao_cap_04.indd 35 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 36 JORGE ABRÃO E COLABORADORES alcançar a crista alveolar e mais 1-2 para chegar à oclusão.2 Nessa fase pré-eruptiva os germes dos dentes permanen- tes movimentam-se dentro do osso, para fora, para cima e para baixo, à medida que os maxilares crescem em altura, largura e comprimento.18 Um dente permanente começa seu movimento de erupção após 1/4 do comprimento to- tal de sua raiz ter sido alcançado.5 Variações na sequência de erupção dos dentes permanentes são comuns, mas, em geral, a erupção dos dentes permanentes inferiores antece- de a dos dentes superiores.5 A transição da dentadura decídua para a permanente começa por volta dos 6 anos de idade, geralmente com a erupção dos primeiros molares permanentes, seguidos pe- los incisivos permanentes.2,5,17 No entanto, não é incomum a erupção dos incisivos inferiores permanentes antes dos primeiros molares permanentes. Esses dentes normalmente erupcionam ao mesmo tempo, podendo ocorrer uma variação normal na sequência de aparecimento na cavidade bucal, sendo que normalmen- te o molar inferior precede o molar superior.17 O processo de remodelação óssea na região poste- rior dos arcos dentários, responsável por um crescimento prévio, proporciona espaço para a erupção dos primeiros molares permanentes. Os primeiros molares permanentes, tanto superiores quanto inferiores, têm uma orientação de erupção perpendicular ao plano oclusal, tanto no sentido mesiodistal quanto no vestibulolingual.5 Entretanto, a traje- tória de erupção intraóssea desses dentes é distinta. En- quanto os molares superiores têm inicialmente a sua coroa voltada para distal, e durante os movimentos eruptivos ela gira em torno do próprio eixo, buscando o seu posiciona- mento na cavidade oral, os molares inferiores têm a sua co- roa inclinada para mesial.19 A relação anteroposterior entre os primeiros molares permanentes antagonistas, após a erupção completa, de- pende de suas posições previamente ocupadas no interior dos arcos, das relações sagitais entre as bases ósseas (ma- xila e mandíbula) e das proporções coronárias mesiodistais dos molares decíduos superiores e inferiores.5 Assim, a relação oclusal inicial dos primeiros molares permanentes também está diretamente relacionada ao posicionamento e ao tamanho dos segundos molares decíduos.2 Estando as bases ósseas (maxila e mandíbula) bem posicionadas, se as dimensões mesiodistais dos segundos molares decíduos inferiores e superiores forem normais, esses dentes terão as superfícies distais alinhadas em plano terminal reto, e assim os primeiros molares permanentes irão assumir uma posi- ção de topo ao entrar em erupção.20 Nesse caso, a fim de estabelecer uma adequada chave de molares (relação de Classe I), faz-se necessário um movimento mesial do pri- meiro molar permanente inferior. Tal ajuste pode ser con- seguido por meio de dois mecanismos: 1) deslocamento mesial precoce dos dentes inferiores posteriores determi- nando o fechamento do espaço primata; 2) deslocamento mesial tardio do primeiro molar permanente inferior duran- te o segundo período transitório, após a esfoliação do se- gundo molar decíduo inferior, no “Espaço E” (Figura 4-4). Ocasionalmente, pode ocorrer um degrau mesial na distal dos segundos molares decíduos; nesse caso, os primeiros molares permanentes terão uma tendência de erupção em uma relação de Classe III (Figura 4-4). Uma situação con- trária seria a presença de um degrau distal posterior aos segundos molares decíduos, levando os primeiros molares permanentes a uma erupção em relação de Classe II (Fi- gura 4-4). Entretanto, deve ser ressaltado que todas essas características da dentadura decídua, que influenciam o estabelecimento da oclusão posterior, podem ser significa- tivamente influenciadas pelo crescimento maxilar e mandi- bular que ocorre durante esse período.2,17 Além do diâmetro mesiodistal dos molares decíduos, a relação sagital dos pri- meiros molares permanentes também pode ser influenciada por molares decíduos perdidos precocemente ou por di- mensões mesiodistais de suas coroas reduzidas por lesões de cárie.5 A transição dos incisivos é um processo complexo. A perda de um dente decíduo ocorre pela reabsorção de sua raize, em menor extensão, pela redução do osso que circunda cervicalmente tal raiz. Ambos os processos começam bastante cedo. Durante a erupção dos dentes permanentes, após a esfoliação dos antecessores, o pro- cesso alveolar que envolverá suas raízes é gradualmente reposto.5 Os incisivos centrais superiores irrompem geralmente um ano depois dos incisivos centrais inferiores. Todavia, tal erupção acontece pouco tempo após o aparecimento dos incisivos laterais inferiores na cavidade bucal.17 Por volta dos 8 anos de idade, ocorre a erupção dos incisivos laterais superiores permanentes. A localização dos incisivos e dos caninos permanentes em formação no interior dos arcos é determinada pelo tamanho da região que esses dentes ocu- pam e pelas dimensões de suas coroas.5 O diâmetro mesiodistal dos incisivos permanentes é maior do que o diâmetro mesiodistal dos dentes decíduos antecessores em ~5 mm no arco inferior e 7 mm no arco superior. O espaço para o posicionamento adequado dos incisivos no arco é conseguido por alguns mecanismos: 1) consumo do espaço presente entre os incisivos decíduos; 2) posicionamento mais labial durante a erupção dos inci- sivos permanentes (especialmente na maxila), ocupando um perímetro maior no arco; 3) distalização dos caninos decíduos durante a erupção dos incisivos permanentes; 4) aumento da dimensão transversal dos arcos na região dos caninos (distância intercaninos).2 A erupção completa dos quatro incisivos superiores e inferiores, bem como dos primeiros molares permanentes, marca o final do primeiro período transitório. Geralmente, nos 18-24 meses subsequentes, haverá uma pausa no aparecimento de dentes permanentes na cavidade bucal. Abrao_cap_04.indd 36Abrao_cap_04.indd 36 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 MANUAL DE ORTODONTIA PREVENTIVA 37 Todavia, o processo de rizogênese dos dentes permanentes (tanto daqueles que já irromperam, como dos ainda intraós- seos) e de rizólise dos dentes decíduos continua ativo. Período intertransitório Durante este período, que normalmente acontece entre os 9-10 anos de idade, não ocorre a erupção de qualquer den- te permanente.17 Os incisivos superiores estão inclinados labialmente e diastemas entre eles se fazem presentes. No arco inferior os incisivos estão menos inclinados e raramen- te existe diastema entre eles.5 Diante da discrepância nega- tiva de espaço entre os diâmetros mesiodistais dos incisivos decíduos e permanentes, é normal que haja um desalinha- mento dentário na região anteroinferior mesmo existindo os mecanismos compensatórios descritos anteriormente. A Degrau mesial Classe III Classe I Classe I Classe II Ajuste tardio Espaço primata E E E E D C CDE Plano terminal reto Plano terminal reto Degrau distal E E E 6 6 6 6 6 6 6 6 “Espaço E’’ (maior na mandíbula) 5 5 4 4 3 3 6 6 6 Ajuste precoce 6 E E D D C C FIGURA 4-4 Ajuste mais provável da relação dos primeiros molares permanentes de acordo com a relação dos segundos molares de- cíduos. O degrau mesial tende a evoluir para uma relação molar de Classe III. O degrau distal tende a evoluir para uma relação molar de Classe II. O plano terminal reto evolui para uma relação de primeiros molares permanentes de topo em um primeiro momento (Classe II); entretanto, dois mecanismos de ajuste podem fazer com que esses dentes se engrenem em Classe I. Pode haver um deslocamento mesial precoce dos dentes inferiores posteriores por meio da ocupação do diastema primata, bem como um deslocamento mesial tardio por ocupação do “Espaço E”. Abrao_cap_04.indd 37Abrao_cap_04.indd 37 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 38 JORGE ABRÃO E COLABORADORES acomodação dos incisivos inferiores sobre o rebordo, mes- mo com alguma giroversão, é aspecto de normalidade. Os dentes decíduos na região posterior, ainda presen- tes, podem estar desgastados pela atrição das superfícies adjacentes durante a função, bem como pela ação de bru- xismo, que muitas vezes está presente durante esse estágio de vida das crianças.21 Nesse período é marcante o posicionamento anties- tético, porém fisiológico, dos incisivos superiores perma- nentes (período do “patinho feio”). Tal aspecto fisiológico se dá pela pressão dos germes dos caninos permanentes superiores nas raízes dos incisivos laterais permanentes adjacentes, causando uma convergência de suas raízes e uma divergência e vestibularização das coroas dos incisivos permanentes (Figura 4-5).2,5,17 Com a erupção dos caninos, a pressão é transferida da região apical dos incisivos para a região das coroas, melhorando sua inclinação e fechando o diastema.2,17 Segundo período transitório (erupção dos pré-molares, caninos e segundos molares permanentes) A segunda parte do desenvolvimento da oclusão é caracte- rizada pela erupção dos pré-molares, dos caninos e dos se- gundos molares permanentes,2,17 iniciando-se normalmente entre 10 e 12 anos de idade. A sequência de erupção mais frequente dos dentes permanentes, na região posterior da mandíbula, é: canino, primeiro pré-molar, segundo pré-mo- lar e segundos molares. Na maxila, a sequência geralmente é: primeiro pré-molar, segundo pré-molar e caninos simulta- neamente aos segundos molares. Como consequência, os segundos pré-molares inferiores e os caninos permanentes superiores são os dentes mais suscetíveis à impacção e à falta de espaço para os mesmos. A diferença entre a largura mesiodistal das cúspides dos molares decíduos e a de seus sucessores permanentes é chamada de Leeway space. Segundo Nance,22,23 essa dife- rença é de 1,7 mm, em média, na mandíbula e 0,9 mm na maxila, em cada quadrante. No entanto, essa medida varia consideravelmente e deve ser analisada para cada criança. A maior discrepância positiva de diâmetros mesiodistais en- tre dentes decíduos e permanentes acontece na região dos segundos molares decíduos/segundos pré-molares,17 sendo esta “sobra” deixada quando da esfoliação do segundo pré- -molar, batizada por Gianelly24 como “Espaço E” (Figura 4-6). O alinhamento adequado dos dentes posteriores per- manentes em cada quadrante depende de variados fatores, como: a) quantidade de “Espaço E”; b) invasão dos incisi- vos permanentes no espaço destinado aos caninos perma- nentes; e c) movimentação fisiológica mesial dos molares permanentes.2 A parte final desta fase do desenvolvimento ocorre com a erupção dos segundos molares permanentes, geralmen- te por volta dos 12 anos de idade. Na maioria dos casos, os segundos molares permanentes erupcionam depois que todos os dentes decíduos tenham se esfoliado e sido subs- tituídos. Contudo, em alguns casos, os segundos molares permanentes erupcionam enquanto os segundos molares decíduos ainda estão presentes na cavidade bucal.5 A erupção dos segundos molares permanentes está frequentemente associada a uma redução do comprimen- to do arco, favorecendo um agravamento do apinhamento na região dos incisivos inferiores.25 Caso esses dentes na mandíbula erupcionem precocemente (antes da erupção dos caninos e dos pré-molares), isso pode resultar em uma redução considerável do perímetro do arco e levar a um api- nhamento na região dos pré-molares. Ocasionalmente pode ocorrer uma falta de espaço na região posterior dos arcos, levando à impacção dos segundos molares permanentes.2 FIGURA 4-5 Fase do “patinho feio”, caracterizada pela angula- ção distal das coroas dos incisivos em função do posicionamen- to das coroas dos caninos superiores. ~ 0,9 mm ~ 1,7 mm FIGURA 4-6 “Espaço E” decorrente da diferença de diâmetro mesiodistal dos segundos molares decíduos e segundos pré-mo- lares. No arco superior esta “sobra” é de ~0,9 mm, enquanto no arco inferior estima-se que seja de ~1,7 mm por quadrante.Abrao_cap_04.indd 38Abrao_cap_04.indd 38 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 MANUAL DE ORTODONTIA PREVENTIVA 39 DENTADURA PERMANENTE Com a esfoliação do último dente decíduo, inicia-se a fase de dentadura permanente. Considera-se a dentadura per- manente completa somente após a intercuspidação dos 28 dentes permanentes (exceção aos terceiros molares), por volta dos 12-13 anos de idade. O formato dos arcos, bem como o alinhamento das coroas dentárias, é afetado pelo equilíbrio muscular do sistema estomatognático. A pressão dos lábios, das bochechas e da língua tem grande influência na posição final dos dentes.5 Apesar de as forças musculares muitas vezes serem de baixa intensidade, a frequência e a duração são suficientes para a modelagem óssea, especial- mente diante de fatores morfogenéticos predisponentes.5,17 As raízes dentárias são distribuídas pelo espaço disponível no interior dos ossos maxilar e mandibular, sendo que a posi- ção final dos ápices é determinada principalmente pela mor- fologia dos maxilares e pelo espaço neles existente.5 Oclusão normal versus oclusão ideal A palavra “normal” implica variações em torno de um va- lor médio, enquanto “ideal” denota um objetivo que reúne todas as perfeições concebíveis. Uma oclusão pode ser considerada como normal quando todos os dentes estão presentes ocluem de maneira estável, saudável e agradável, mas com variações nas posições dentro dos limites acei- táveis.20 A oclusão ideal seria a oclusão perfeita. Talvez ela não exista na prática, mas o dentista deve ter um padrão ideal em mente, mesmo que nunca seja atingido.20 Os ortodontistas tiveram por mais de um século uma referência para a avaliação da “normalidade” da oclusão na fase de dentadura permanente. De acordo com Edward H. Angle,26 uma oclusão é normal quando a cúspide mesioves- tibular do primeiro molar superior permanente oclui no sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior permanente, e os demais dentes do arco estão alinhados. Entretanto, por se basear essencialmente na relação anteroposterior dos pri- meiros molares permanentes, a classificação de Angle tem recebido críticas ao longo dos anos. Ainda assim, a essência da ideologia dessa classificação prevalece na ortodontia. Décadas mais tarde, em busca do aprimoramento das características de normalidade da oclusão, Andrews estu- dou as características comuns de indivíduos com padrão oclusal considerado normal, sendo então identificados seis parâmetros (“chaves”, em sua definição).27 Assim, foram descritas as características fundamentais de uma oclusão dentária sob o ponto de vista morfológico, servindo também como guia para a finalização adequada dos tratamentos or- todônticos. As seis “chaves” são: 1. Relação molar: a vertente distal da cúspide distovesti- bular do primeiro molar permanente superior deve ocluir com a superfície mesial da cúspide mesiovestibular do segundo molar inferior permanente. Essa descrição da relação molar é diferente da tradicional, proposta por Edward H. Angle. De acordo com Andrews,27 é possível a cúspide mesiovestibular do molar permanente supe- rior ocluir no sulco mesiovestibular do molar permanen- te inferior (como descrito por Angle)26 e, ainda assim, haver uma relação inadequada dos molares (Figura 4-7). 2. Angulação dentária: refere-se à angulação da coroa no sentido mesiodistal. A região cervical do longo eixo de- veria estar distal à região incisal do dente (Figura 4-8). a b c FIGURA 4-7 (a) Primeiros molares permanentes em relação de Classe I de Angle, porém com posicionamento inadequado do segundo pré-molar em função da inadequação da inclinação da coroa do molar superior de acordo com a primeira “chave de oclusão” de Andrews. (b) Melhora na inclinação do primeiro molar superior. (c) Relação molar adequada permitindo o ajuste sagital do segundo pré-molar. Fonte: Adaptada de Andrews.27 Angulação de coroa 5o 90o Mesial Distal Incisivo central superior esquerdo FIGURA 4-8 Angulação da coroa. Longo eixo da coroa medi- do a partir de uma linha perpendicular ao plano oclusal. Fonte: Adaptada de Andrews.27 Abrao_cap_04.indd 39Abrao_cap_04.indd 39 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 40 JORGE ABRÃO E COLABORADORES A oclusão normal é dependente da angulação dentária, especialmente dos dentes anteriores superiores, uma vez que eles têm as coroas mais longas. Basta lembrar que um retângulo ocupa mais espaço quando inclinado do que quando em posição vertical. A quantidade de angulação mesiodistal ajuda a definir a quantidade de espaço que esses dentes vão requerer, influenciando tanto na oclusão posterior como na estética anterior. 3. Inclinação dentária: refere-se à inclinação vestibulolin- gual do longo eixo da coroa. Essas inclinações apre- sentam diferenças peculiares em relação à região na arcada. Nos dentes anteriores, a inclinação dos inci- sivos superiores e inferiores deve ser suficiente para evitar sua sobre-erupção dentária. Além disso, deve ser também suficiente para permitir um adequado con- tato oclusal entre os dentes posteriores (Figuras 4-9 e 4-10). Nos dentes posteriores superiores (caninos até molares), a inclinação é lingual de coroa, sendo simi- lar de caninos até segundos pré-molares, e levemente mais aumentada nos molares. Nos dentes posteriores inferiores (caninos até molares), a inclinação lingual da coroa aumenta progressivamente dos caninos até os segundos molares. 4. Ausência de rotações dentais: as rotações podem modificar a harmonia do arco. Um molar girado, por exemplo, geralmente ocupa um espaço maior do que o normal (Figura 4-11), causando uma falta de engrena- mento correto entre os dentes superiores e inferiores. FIGURA 4-9 A inclinação da coroa é deter- minada pelo ângulo resultante entre uma linha perpendicular ao plano oclusal e uma linha tangente à vestibular da coroa clínica. Em (a), mostrando inclinação de +7o. Em (b), inclinação de –7o. Fonte: Adaptada de Andrews.27 +7o 90o 90o –7oTorque de coroa Plano oclusal Visão distal Incisivo central superior esquerdo a b FIGURA 4-10 (a) Inclinação inadequada dos incisivos ocasio- nando falta de engrenamento na região posterior. (b) Quando os dentes anteriores estão adequadamente inclinados, os pontos de contato se deslocam distalmente, permitindo uma oclusão normal. Fonte: Adaptada de Andrews.27 –10o –10o +7o Abrao_cap_04.indd 40Abrao_cap_04.indd 40 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 MANUAL DE ORTODONTIA PREVENTIVA 41 5. Pontos de contato justos: não deve haver espaçamen- to interdental. 6. Curva de Spee: deve ser suave ou inexistente. Mudanças dimensionais no arco durante a fase de dentadura permanente Os arcos dentários não permanecem estáticos ao longo da vida. Estudos longitudinais mostraram que, mesmo em indivíduos que não realizaram tratamento ortodôntico, al- gumas mudanças dimensionais são observadas.28,29 Exis- te uma tendência de diminuição espontânea da distância intercaninos e do comprimento do arco mandibular com o passar dos anos, bem como um aumento da irregularidade no posicionamento dos incisivos inferiores. Essas mudan- ças ocorrem em maior quantidade nos indivíduos do sexo feminino. Em relação à sobremordida, à sobressaliência e à distância intermolares, as alterações são mínimas. Entretan- to, as mudanças dimensionais, em um nível individual, são variáveis e de difícil previsão. O desenvolvimento do terceiro molar Apesar de atualmente a presença do terceiro molar não ser essencial para classificarmos a fase de dentadura perma- nente como madura, pode-se considerar que a eventual erupção do terceiro molar faz parte do estágio final da for- mação da dentadura permanente. Tais dentes apresentam grande variabilidade na época de erupção (entre 17 e 21 anosde idade), na cronologia de mineralização e na mor- fologia coronorradicular, assim como grande incidência de agenesia.20 A erupção do terceiro molar tem sido associada ao desenvolvimento tardio de apinhamento nos incisivos in- feriores, por supostamente pressioná-los mesialmente. Tal crença, entretanto, vem sendo cientificamente questiona- da.17,20,30 Sabe-se que mudanças fisiológicas acontecem na mesma época em que o terceiro molar se encontra em processo de erupção, o que causa certa confusão na de- terminação do exato agente etiológico do apinhamento.17,20 Pode-se citar: 1) uma redução do perímetro do arco dentá- rio inferior (mesmo em pacientes com agenesia de terceiros molares), em função da força mesial que incide naturalmen- te sobre a dentição;17,20,28 2) o crescimento diferenciado tar- dio da mandíbula em relação à maxila;17,20,31 e 3) a redução da abrasão dentária na região dos incisivos inferiores, que compensaria a migração mesial descrita no item 1. Assim, acredita-se que o apinhamento tardio dos incisivos esteja mais relacionado com o crescimento mandibular do que com a erupção dos terceiros molares e, portanto, a remo- ção profilática desse dente provavelmente não resolveria o problema.30 Além disso, nota-se mais apinhamento nos ho- mens do que nas mulheres, provavelmente devido ao fato de que o desenvolvimento mandibular no sexo masculino é maior nessa época.31 REFERÊNCIAS 1. Souki BQ. Desenvolvimento da oclusão. In: Toledo OA. Odontope- diatria: fundamentos para a prática clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Medbook; 2012. 2. Cobourne MT, DiBiase AT. Handbook of orthodontics. New York: Mosby; 2010. 3. Romero CC, Scavone-Junior H, Garib DG, Cotrim-Ferreira FA, Fer- reira RI. Breastfeeding and non-nutritive sucking patterns related to the prevalence of anterior open bite in primary dentition. J Appl Oral Sci. 2011;19(2):161-8. 4. Toledo OA. Odontopediatria fundamentos para a prática clínica. 2. ed. 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Fonte: Adaptada de Andrews.27 Abrao_cap_04.indd 41Abrao_cap_04.indd 41 26/09/13 11:3626/09/13 11:36 42 JORGE ABRÃO E COLABORADORES 12. Cândido IRF, Figueiredo ACP, Cysne SS, Santiago BM, Valença AMG. Característica da oclusão decídua em crianças de 2 a 5 anos de idade em João Pessoa, PB, Brasil. Pesqui Bras Odonto- pediatria Clín Integr. 2010;10(1):15-22. 13. Ferreira RI, Barreira AK, Soares CD, Alves AC. Prevalência de características da oclusão normal na dentição decídua. Pesqui Odontol Bras. 2001;15(1):23-8. 14. Foster TD, Hamilton MC. Occlusion in the primary dentition. Study of children at 2 and one-half to 3 years of age. Br Dent J. 1969;126(2):76-9. 15. Dinelli TCS, Martins LP, Pinto AS. Mudanças dimensionais dos ar- cos dentários em crianças entre 3 e 6 anos de idade. Rev Dent Press Ortodon Ortopedi Facial. 2004;9(4):60-7. 16. Warren JJ, Bishara SE, Steinbock KL, Yonezu T, Nowak AJ. Effects of oral habits’ duration on dental characteristics in the primary den- tition. 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Abrao_cap_04.indd 42Abrao_cap_04.indd 42 26/09/13 11:3626/09/13 11:36
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