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TRABALHO DE AMBIENTAL COMPLETO

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
ANTONIA ELENA DAS NEVES PISSOLATO - B814IE-6 /TURMA : DR7F-34
BRUNO DOS SANTOS REGO - B7864B-5 / TURMA: DR7E-34
PROFESSORA: ISABELA BOLFARINI
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
RELATÓRIO SOBRE O ROMPIMENTO DA BARRAGEM EM MINAS GERAIS
MANAUS
2016
1 - INTRODUÇÃO
O presente relatório tem como objetivo apresentar uma perspectiva jurídica aos critérios de Responsabilidade Civil à luz da Agenda 21 e as consequências ambientais advindas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana/MG. 
A barragem se rompeu em 05 de novembro de 2015, por volta das 15 horas e 30 minutos, pertencente à Mineradora Samarco, liberando cerca de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minérios de ferro, aproximadamente 60 bilhões de litros do material, do qual cerca de 600 pessoas tiveram suas casas destruídas. Um dos possíveis motivos para a ruptura da barragem pode ter sido ocasionado pela mudança de sua estrutura, que era em linha reta e foi ganhando o formato de “s”, processo conhecido como alteamento. Em 2014 a empresa Samarco foi comunicada de uma possível ruptura na margem esquerda da barragem, e a recomendação do engenheiro que projetou a barragem foi para que se realizassem obras de reforço, porém o Ministério Público investiga se alguma medida foi tomada para evitar o desastre. (Portal Zero Hora, 2015)
Dados oficiais apontam a confirmação de 17 mortes, e mesmo após o decurso de mais de um mês do ocorrido, duas pessoas ainda se encontram desaparecidas (R7, 2015-a). 
Além disso, estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) indicou que "o solo atingido pela enchente de lama da mineradora Samarco não pode mais ser cultivado porque se tornou inerte". 
A metodologia empregada neste relatório consiste na análise dos fatos, das disposições normativas estabelecidas pela legislação pátria em matéria de responsabilidade civil por danos ambientais e as jurisprudências dos tribunais, em questões controversas.
 
2 - DESENVOLVIMENTO
Esta catástrofe pode ser considerada um dos maiores desastres ambientais sofridos pelo Brasil, considerando que não foi apenas um rompimento de barragem, e sim o que ele ocasionou, como poluição dos rios, do solo, atingindo diretamente as pessoas que moravam próximas à barragem e as demais pessoas da região, pois essa calamidade abrangeu outros municípios. Os envolvidos são os principais responsáveis pelo ocorrido, e os mesmo tem grande poder econômico; é de extrema importância que os fatos sejam apurados, para que se identifique o grau desse impacto ambiental com a maior precisão possível, para que as empresas que administravam a barragem sejam responsabilizadas civilmente pelo dano ambiental causado.
Isto é de extrema importância para que decisões relacionadas ao evento sejam tomadas também de forma isenta, reais responsabilidades sejam apuradas, além de proporcionar condições para amenizar os danos causados e fornecer subsídios que ajudem a criar procedimentos que minimizem o risco de que o fato se repita em empreendimentos semelhantes. 
Segundo a Agenda 21 as empresas não tem também responsabilidade social, as suas atividades tem que se enquadrar no cumprimento de exigências da Legislação Ambiental; as empresas devem saber também que juntamente com o direito de possuir, administrar ou usar os recursos naturais, vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas; devem também assumir que o poder que elas têm para usar os recursos implica na responsabilidade e na promoção do bem comum.
De acordo com a Carta da Terra, a responsabilidade das empresas é de prevenir o dano ao meio ambiente com o melhor método de proteção ambiental e se o conhecimento for limitado sobre os possíveis danos, devem assumir uma postura de precaução, evitando assim, danos irreversíveis ao meio ambiente.
Embora essas sejam as responsabilidades das empresas com o meio ambiente, pode-se notar que a empresa Samarco não tomou os devidos cuidados com o uso e administração dos recursos naturais, provavelmente não se precaveu dos riscos de ruptura da barragem, não impediu o dano causado ao meio ambiente e consequentemente não protegeu o direito das pessoas.
Os danos causados não refletem apenas na área ambiental, mas implica também na responsabilidade civil, tendo em vista que as empresas são responsáveis pelos danos que elas causam, gerando assim o dever de reparar o dano e indenizar as vítimas, que são tanto o poder público, pois os danos causados ao meio ambiente são bastante óbvios segundo estudiosos, podem ser irreversíveis, assim como as pessoas que foram diretamente atingidas pelo desastre causado.
Caso as investigações, realizadas pelo Ministério Público desde o dia 05 de novembro por meio de inquérito civil aberto por meio do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais do Ministério Público de Minas Gerais (NUCAM-MP/MG, 2015), apontem, também, responsabilização de qualquer ente público – uma vez que se afirma que “o Parecer Único nº 262/2013 [da Fundação Estadual de Meio Ambiente – FEAM] aponta apenas erosões e alterações na paisagem como possíveis impactos no meio físico [...]” (MORENO, 2015), não suscitando a possibilidade de ruptura da barragem –, também o Poder Público poderá ser integrado à condição de poluidor indireto (AMADO, 2014, p. 552). 
Essa questão sobreleva o debate acerca da necessidade de aferição de elemento subjetivo em questões de reparação de danos ambientais produzidos, uma vez que, mesmo estando em dia com a documentação licenciatória, conforme informado pela SEMAD/MG (FERREIRA, 2015), a Empresa Samarco teve participação notável e direta nas atividades relacionadas aos danos decorrentes do rompimento da barragem. Embora a Constituição de 1988 não estabeleça a responsabilidade civil objetiva do poluidor por danos ambientais – salvo os nucleares (art. 21, XXIII, d, CRFB/88) –, aposição prevalecente conserva o entendimento de que, em virtude do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981, é objetiva a responsabilidade civil ambiental no Brasil, com fundamento na “Teoria do Risco Integral”.
Isso provoca relevantes consequências materiais: o reconhecimento da adoção da Teoria do Risco Integral em casos do tipo impede que se recorra até mesmo às hipóteses excludentes de responsabilidade - caso fortuito, força maior e culpa exclusiva de terceiros - como forma de isentar-se do dever de indenizar. Desse modo, em termos práticos, são indiferentes as tentativas, por parte da Empresa Samarco, em apontar agentes ou estímulos externos como supostos causadores, catalisadores ou agravadores dos danos ambientais, com o propósito de eximir-se da obrigação de reparar os prejuízos provocados ou de recuperar/compensar os danos ambientais engendrados (LOURES, 2015). Nesse mesmo sentido, já se posicionou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, conforme o julgado abaixo colacionado:
APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - ROMPIMENTO DE BARRAGEM - MINERAÇÃO RIO POMBA CATAGUASES - DANO AMBIENTAL - TEORIA DO RISCO INTEGRAL - MINORAÇÃO DO VALOR ARBITRADO - IMPOSSIBILIDADE - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - MULTA - CARÁTER PROTELATÓRIO- NÃO CONFIGURAÇÃO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
- Para o dano ambiental se aplica a teoria do risco integral, logo, é objetiva a responsabilidade e não se admite a incidência das excludentes de força maior, caso fortuito e fato de terceiro;
- A indenização por dano moral deve ser fixada em valor suficiente para reparar o dano, como se extrai do art. 944, caput, do Código Civil;
- Não sendo evidenciado o propósito protelatório dos embargos, afasta-se a multa prevista no art. 538, p. Único do CPC;
- Recurso parcialmente provido.
(Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ/MG. Apelação Cível nº 10439070714993001. Relator: Amorim Siqueira. Data de Julgamento: 03/12/2013. Órgão julgador: 9ª Câmara Cível. Data de Publicação: 09/12/2013). 
Dessa forma, considerando-se que dificilmente a Mineradora Samarco conseguirá “demonstrar que inexiste dano ambiental [...],que o mesmo não decorreu direta ou indiretamente da atividade que desenvolve” ou que "o risco não foi criado", encontra-se sujeita à pretensão reparatória – que é imaterial e perpétua, não subordinando- se a prazo prescricional. Na seara privada, relaciona-se o conceito de dano ao prejuízo patrimonial de alguém. Uma vez que, no direito ambiental, existem “especificidades que impedem a adoção integral da linha privatística [...], dever-se-á partir para uma compensação ambientalou, em último caso, para a indenização em pecúnia” (AMADO, 2014, p. 569-571; DUARTE, 2015).
3 - CONCLUSÃO
Conforme a determinação constitucional relacionada ao tema, as responsabilizações penais e administrativas das pessoas físicas e jurídicas pelas “condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente” independem da obrigação de reparar os danos causados – a responsabilização civil (CRFB/1988, art. 225, § 3º). Dessa forma, nos termos de Frederico Amado (2014, p. 562), “inexiste bis in idem na aplicação das sanções penais e administrativas juntamente com a indenização, uma vez que a regra é a independência das instâncias”.
O texto constitucional também ressalta o dever de recuperação do meio ambiente degradado por parte do explorador de recursos minerais, em conformidade com as soluções técnicas exigidas pelo órgão público competente (CRFB/1988, art. 225, § 2º). Esse dispositivo, todavia, refere-se à denominada “poluição lícita”, relacionada às intervenções ambientais cujo grau de degradação se encontra dentro dos limites calculados, esperados e autorizados, em atenção ao princípio da prevenção. Esse aspecto destaca o caráter reparatório da responsabilidade civil, na hipótese de geração de danos ambientais (AMADO, 2014, p. 552).
As investigações apontam que o plano de emergência da Samarco previa que a lama liberada em caso de rompimento de uma das barragens de contenção de rejeitos ficaria limitada ao distrito de Bento Rodrigues (G1, 2015-f). "Não se imaginava chegar sequer ao Rio Doce, o que mostra a incapacidade dos estudos apresentados, a insuficiência e a omissão dos estudos apresentados no processo de licenciamento", afirma o promotor responsável pelo caso, Carlos Eduardo Ferreira Pinto (G1, 2015-f).
É imponível, além da indenização pelos danos patrimoniais ambientais, a responsabilização pelo dano moral coletivo do poluidor, em presunção à ocorrência de prejuízos às gerações presentes e futuras ou pelo abalo psicológico causado às vítimas. Ademais, podem ser impostas obrigações de não fazer – com o fim de cessar ou mitigar a lesão ao meio ambiente –, tal qual obrigações de fazer – destinadas à reparação ou compensação do dano. O Superior Tribunal de Justiça vem aceitando a inversão do ônus da prova nas ações de reparação (AMADO, 2014, p. 573, 574, 579).
O artigo 14, § 1º da Lei 6.938/81 prevê, expressamente, a legitimidade, por parte do Ministério Público da União e dos Estados, para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Isso não obsta, no entanto, o exercício do direito reservado às próprias vítimas, no caso de danos causados a terceiros, de ajuizar demandas individuais em virtude de prejuízos patrimoniais e extrapatrimoniais de ordem individual (LOURES, 2015).
Considerando-se o notável enquadramento das consequências relacionadas ao desastre em Mariana/MG ante o conceito normativo de poluição ambiental, talvez com o malfadado cumprimento de todos os requisitos legais alternativamente exigidos, conforme demonstrado no tópico anterior, em decorrência da extensão dos danos ambientais causados, afere-se que a Mineradora Samarco se encontra na qualidade de “agente poluidor”, posto que representa a pessoa jurídica responsável, diretamente, pela atividade causadora da degradação ambiental.

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