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GESTÃO E MAPEAMENTO DE PROCESSOS AULA 2 Prof. Roberto Pansonato 2 CONVERSA INICIAL Olá, prezado(a), lá vamos nós para mais uma etapa do estudo sobre gestão e mapeamento de processos. Anteriormente, aprendemos muita coisa referente ao que são os processos e seus tipos, aprendemos sobre gestão funcional e gestão por processos e sobre a visão sistêmica. Você pode até questionar: mas quando vamos mapear processos? Ainda não será nesta etapa. É muito comum, principalmente na nossa cultura, não termos paciência em ler o manual e já ir direto para a ação, o que é importante, porém cada um no seu tempo. Mas o que queremos chamar atenção nessa conversa inicial é justamente sobre isso: assim como os processos devem ter uma ordem sequencial de atividades, o mesmo se aplica quando se precisa mapear um processo qualquer. É necessário que o profissional da área de processo, no mínimo, saiba o que é um processo e suas particularidades e tenha conhecimento acerca do todo, e aí que entra o pensamento sistêmico, o qual vimos anteriormente. De posse dessas informações, o profissional pode partir para uma atividade básica da profissão: analisar o processo. Afinal de contas, conforme mencionado na seção “Trocando Ideias” em outro momento, o profissional de processos buscado pelo mercado de trabalho é chamado de “Analista de Processos”. Bom, acredito que agora já dá para tentar adivinhar quais serão as palavras-chaves desta etapa: análise e processo. Vamos aos principais temas dessa etapa: 1. técnicas de análise de processos; 2. realizando a análise de processos; 3. análise de GAPs (melhorias pontuais); 4. indicadores e desempenho de processos; e 5. melhoria contínua. CONTEXTUALIZANDO Conforme o dicionário Priberam de língua portuguesa, análise significa “exame minucioso de uma coisa em cada uma das suas partes”. Para um exame minucioso, geralmente é necessário tempo e paciência, o que para muitos é algo difícil de se dispor. Quando se aborda o termo paciência, não quer dizer que 3 esse processo de análise tenha que ser lento. Como dito anteriormente, os japoneses, especificamente os da Toyota, foram muito auspiciosos em focar nos processos como forma de alavancar os resultados da empresa. Lembrem-se da frase que, como já previsto, se repetirá várias vezes durante o nosso estudo: “O processo correto irá proporcionar o produto ou serviço correto”. Quando se estuda a Filosofia Lean, ou Sistema Toyota de Produção, é comum encontrar muitas histórias que ilustram como na prática as pessoas aderiram a essa filosofia de trabalho. Diz a lenda que, nos anos 1950/1960, um diretor de operações solicitou ao seu engenheiro que fosse ao chão de fábrica para verificar os problemas e aplicar as respectivas melhorias no processo. No dia seguinte, o diretor perguntou ao engenheiro o que ele tinha conseguido durante o dia. Meio sem jeito, o engenheiro disse ao diretor que estava tudo em ordem na fábrica. Segundo a história que se conta, o diretor chamou o engenheiro até o chão de fábrica, pediu que ele ficasse em um ponto de observação da linha de produção em traçou um círculo ao redor do engenheiro, deu-lhe uma prancheta e uma caneta e disse a ele: “você vai ficar dentro desse círculo por um determinado tempo e volte a minha sala apenas quando tiver observado algo que possa ser um problema que você seja capaz de resolver”. Ao final do dia, o engenheiro volta a sala do diretor com vários problemas detectados e algumas soluções de melhorias. Bom, essa história, nem sempre contada da mesma forma, tem como objetivo ressaltar a importância da observação dos processos. Para o analista de processos, a ação de analisar envolve observação e técnicas de análise que irão dar sentido ao seu trabalho. Mike Rother e John Shook, autores norte- americanos que se especializaram sobre práticas da Filosofia Lean, o que inclui os processos, escreveram um livro com o título: “Aprendendo a enxergar: mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar o desperdício”. O que nos chama atenção é a expressão dos autores em “aprendendo a enxergar”. Será que precisamos apreender a enxergar os processos de forma diferenciada que possa trazer resultados positivos? Acreditamos que sim, e é o que vamos aprender durante este momento. TEMA 1 – TÉCNICAS DE ANÁLISE DE PROCESSOS A atitude do diretor de operações relatada na seção “Contextualizando” desta etapa, embora um tanto quanto drástica, demonstra como a atividade de 4 análise deve ser feita da melhor forma possível, pois a partir dessa análise é que se pode mapear o processo na condição atual, também conhecida como “as-is”, ou seja, como está, e promover as melhorias para alcançar o estado futuro, conhecido como “to-be”, ou seja, como será a condição futura do processo. Portanto, a análise dos processos de negócio é o ponto de partida para a introdução de melhorias e o analista de processo deve empreender muito esforço nessa fase, pois, quanto mais se conhece os processos de negócio, mais possibilidades surgirão para aperfeiçoá-los. Para Muller (2003), a análise dos processos de negócio tem por objetivo ampliar a compreensão das características de processo, de forma a possibilitar uma posterior melhoria e padronização (quando necessária e desejada). Crédito: tynyuk/Shutterstock. Para compreender onde estamos e onde queremos e podemos chegar, é necessária a análise de alguns elementos básicos, que eventualmente podem ser desdobrados em indicadores. Vamos a eles. 5 1.1 Análise de tempo O fator tempo é um diferencial de sucesso para qualquer organização que precisa ser competitiva no acirrado mundo corporativo. Na análise de tempo, devem ser considerados o tempo de ciclo, tal qual o tempo de atendimento de um determinado serviço, e o lead time, referente ao tempo que um produto leva para chegar ao consumidor, desde o momento do pedido, passando por todos os processos de produção até a entrega ao cliente final. O conceito de lead time é aplicável, tanto na manufatura quanto em serviços. Dentro do lead time existem várias atividades, cada uma com seus tempos de ciclos, algumas maiores e algumas menores, revelando quais são as restrições (ou gargalos) do processo. Cabe ao analista de processo identificar as restrições e reduzir os tempos de ciclos. Para ilustrar a importância da análise de tempo, vamos utilizar o exemplo das entregas de produtos adquiridos por meio do comércio eletrônico (e- commerce). Cada vez mais os consumidores querem, além de um preço justo, uma entrega cada vez mais rápida. Empresas de sucesso no e-commerce devem fazer constantemente análises de tempo em seus processos para se tornarem competitivas no mercado. 1.2 Análise de custo Embora o foco principal do mapeamento não é a aplicação direta sobre custos, é evidente que após o mapeamento de processos no estado atual (as- is), estudos podem direcionar para atividades de redução de custos na elaboração do estado futuro (to-be). Conforme BPM CBOK V3.0 (ABPMP, 2013, p. 124), alguns questionamentos devem ser realizados na análise de processos quanto ao fator custo: • qual é o custo total do processo, levando em consideração a frequência e as circunstâncias de sua execução? • o custo está alinhado com as melhores práticas de mercado? • o custo pode ser reduzido pela automação ou melhorias tecnológicas? Se sim, como e até que ponto? • qual seria o impacto no valor e margens operacionais de cada opção para tornar o processo mais eficiente? 6 1.3 Análise da qualidade A análise da qualidade deve passar pelas atividades e, consequentemente, pelos processos de uma organização. Partindo do pressuposto que o processo correto irá proporcionar o produto ou serviço correto, a análise da qualidade tem uma participaçãoespecial. Conforme Ishikawa (1993), a preocupação mais importante no controle de qualidade deve estar centrada no atendimento dos requisitos do cliente e na prevenção de reincidências. Para auxiliar o analista de processo na análise da qualidade, segue alguns pontos relevantes, conforme BPM CBOK V3.0 (ABPMP, 2013, p. 199): • erro ou taxa de defeito associado à saída de um processo ou atividade; • expectativa de nível de serviço por parte do cliente; • variação de lançamento de produto; • precisão da previsão; • confiabilidade do produto, confiabilidade do serviço; e • percepções do produto ou serviço pelo cliente, experiência de consumo. Nesse momento, o analista de processos deve possuir conhecimentos e habilidades para interpretar os mais diversos gráficos de qualidade de manufatura de um produto ou prestação de serviços, para que sirvam de base para a elaboração do desenho de processo para o estado futuro (to-be). Uma boa dica para suporte à análise da qualidade quanto a solução de problemas é a utilização das ferramentas da qualidade. 1.4 Análise de valor agregado Embora o termo valor, no contexto da análise de processos, seja algo subjetivo, não há como analisar processos sem levar em consideração o valor agregado. Estudaremos o conceito de valor mais detalhadamente no futuro, porém, de forma geral, valor agregado está associado a algo que atenda a expectativa do cliente e ao próprio processo; portanto, é necessário identificar as atividades que realmente agregam valor sob a perspectiva do cliente. 7 Crédito: tynyuk/Shutterstock. Para dirimir essa dúvida, seguem as atividades que devem ser avaliadas durante a análise de um processo. • Valor Real Agregado (VRA): atividades que com certeza agregam valor às saídas previstas pelo cliente. • Valor Empresarial Agregado (VEA): atividades realizadas para realização do produto ou serviço que não agregam valor direto ao cliente, mas precisam ser realizadas. • Sem Valor Agregado (SVA): atividades que não agregam valor ao cliente e tampouco são necessárias, portanto, devem ser eliminadas. TEMA 2 – REALIZANDO A ANÁLISE DE PROCESSOS Os tópicos de análise apresentados no tema anterior referem-se à base inicial para a análise de processos; portanto, pode servir como ponto de partida para o profissional da área de processos. É evidente que, para um analista de processos, a quantidade de variáveis vai muito mais além dos quatro tipos de 8 análise estudados. A seguir, com base em Pavani e Scucuglia (2011, p. 286) são exibidos alguns tópicos que auxiliam o analista na análise dos processos. 2.1 Análise da variação de indicadores de processo Talvez um dos principais pontos de partida, os indicadores, se elaborados de forma correta, com certeza irão mostrar de forma clara o desempenho de um processo. Tal qual um médico utiliza de um termômetro para avaliar um paciente, o analista de processo deve utilizar os indicadores. Suponha que você está analisando dois processos de atendimento similares (A e B) e a informação que você obtém com o pessoal envolvido é de que o lead time dos dois processos tem uma média de 7 minutos. Considere que você terá que escolher um dos dois para analisar. Como os dois teoricamente têm o mesmo lead time, você pode escolher qualquer um deles, no entanto, aí pode estar escondido problemas que podem estar afetando diretamente o cliente. Nesse momento, dois elementos de análise devem ser levados em consideração: a análise gráfica e desvio-padrão. Veja os dois processos com a mesma média de entrega apresentados em forma de gráfico. Gráfico 1 – Lead Time Processo "A" Fonte: Pansonato, 2022. 9 Gráfico 2 – Lead Time Processo "B" Fonte: Pansonato, 2022. Embora os dois processos possuam a mesma média de lead time, o processo “B” é muito mais estável que o processo “A”. Além do auxílio gráfico, o desvio-padrão apresentado pelo processo “B” foi de 0,5, enquanto o processo “A” foi de 2. 2.2 Análise das restrições (gargalos) É fato que todo e qualquer processo sempre terá uma restrição, ou gargalo. Não há como, seja em um processo de manufatura ou serviço, que tenha, por exemplo, 10 atividades, que todas tenham o mesmo tempo de ciclo. Um dos objetivos da análise de processo é identificar esse gargalo e reconhecê- lo como o limitador da capacidade do processo. Para ilustrar esse pensamento, vamos avaliar o processo seguir, relativa a um processo de manufatura. Conforme o trecho de processo anterior, a capacidade produtiva está condicionada à atividade “C”, por mais capazes que sejam os demais processos. Atividade A 10 Peças/ minuto Atividade B 15 Peças/ minuto Atividade C 08 Peças/ minuto Atividade D 18 Peças/ minuto Atividade C 10 Peças/ minuto 10 Conforme um dos princípios da Teoria das Restrições, de Eliyahu M. Goldratt, a capacidade máxima de um processo é determinada pelo recurso restritivo ou ponto de estrangulamento (também conhecido como gargalo do sistema ou processo). 2.3 Análise de handoffs Na empresa em que você trabalha ou em outro local, você já deve ter ouvido a expressão “eu fiz a minha parte, daqui para frente não é problema meu”. Esse momento de transferência de trabalho (ou atividade) é conhecido como handoff, ou passagem do bastão, tal qual uma corrida de atletismo. Em resumo, handoff refere-se ao momento em que um processo muda de responsabilidade, sendo, na maioria das vezes, um ponto vulnerável de um processo, em que ocorre a relação com o cliente interno, e geralmente há conflito e consequentemente perda de eficiência. Conforme Pavani e Scucuglia (2011, p. 193), alguns questionamentos são importantes para que o analista possa identificar os handoffs: • quais handoffs são mais prováveis de impactar o processo? • existem alguns gargalos de informação ou serviços como resultado de handoff ocorrendo muito rapidamente? • algum handoff pode ser eliminado? Em qualquer processo, quanto mais trocas de bastão (ou handoffs) existirem, geralmente esse processo será menos eficiente e eficaz. 2.4 Análise das interações humanas Diferentemente das máquinas, os humanos são mais suscetíveis a erros, o que pode ocasionar falhas nos processos. Pode-se dizer que quanto menor for a interação humana menor será a probabilidade de falhas em um processo. Entretanto, o ser humano, de alguma forma, sempre fará parte dos processos. A participação de pessoas nos processos é mais complexa, visto que envolve conhecimento, julgamento, decisão e determinadas habilidades que nem sempre podem ser automatizadas. O BPM CBOK V3.0 (ABPMP, 2013, p. 125) elenca um checklist para análise do envolvimento humano nos processos, conforme resumo a seguir. 11 • Quanta variabilidade é introduzida pelo executor do processo? A variabilidade é desejável? É tolerável? • Qual a complexidade da tarefa? Quais são as habilidades necessárias? Como os executores são treinados para a tarefa? • Como os executores sabem quando a tarefa é bem realizada? Quais mecanismos de feedback são usados para orientar o executor? • O executor sabe onde a tarefa se encaixa no processo e quais resultados das ações são levados adiante no fluxo de trabalho? O executor sabe o que acontece antes da tarefa? • Quanto conhecimento está disponível para o executor realizar nessa tarefa? É suficiente? Geralmente, para evitar erros de processo provenientes do envolvimento, recorre-se a automatização; entretanto, nem sempre isso é possível. Quando não for possível, uma alternativa interessante é ter processos totalmente padronizados, que via de regra reduzem a variabilidade (lembram do exemplo da análise da variação de indicadores de processo?). Empresas como a McDonald’s investiram bastante na padronização dos processos, o que lhes confere baixíssima variabilidade nos processosde atendimento ao cliente, de produção de sanduíches e na entrega. Vale ressaltar que a padronização não é uma camisa de força, pois os funcionários envolvidos no processo podem sugerir alterações que venham melhorar o desempenho, e que, se aprovadas, passam a formar um novo padrão de processo. 2.5 Análise das interações externas Todos os processos são importantes, no entanto, aqueles que possuem uma interação direta com o ambiente externo devem ter um cuidado especial, pois são pontos de visibilidade do cliente, da sociedade e dos acionistas da empresa. Conforme Pavani e Scucuglia (2011, p. 194), a análise das interações externas são os objetos de nível zero e devem ter especial atenção no estabelecimento de ações de melhoria. 2.6 Análise das regras de negócio 12 Aqui vale uma reflexão: quando nós trocamos de empresa, uma das primeiras impressões que temos refere-se à forma como a nova empresa executa seus processos. Normalmente, e talvez inconscientemente, comparamos os processos da empresa anterior com os processos da empresa atual e podemos chegar à conclusão: “puxa, como eles trabalham diferente nessa empresa!”. A isso, nós chamamos de regras de negócio, que está intimamente ligado à cultura organizacional. Processos referentes à aprovação de documentos, por exemplo, devem atender às regras específicas dos procedimentos internos da organização. Cabe ao analista de processos entender as regras do negócio e, quando ouvir uma frase do tipo “desde que eu entrei aqui funciona desse jeito”, analisar minuciosamente o processo e propor as melhorias. TEMA 3 – ANÁLISE DE GAPS (MELHORIAS PONTUAIS) Na seção “Contextualizando” desta etapa, foi mencionado o caso do engenheiro que não conseguia enxergar os problemas nos processos de chão de fábrica a ponto de seu diretor instruí-lo a ficar observando os processos até perceber os problemas e propor as possíveis soluções. Pois bem, se tivesse em suas mãos uma relação de “gaps”, ou seja, de melhorias pontuais, talvez não teria passado pelo constrangimento de ter que ficar parado em um círculo desenhado pelo seu diretor. O objetivo desse checklist de melhorias pontuais é auxiliar o analista de processos a enxergar pontos de obstáculos nas diversas atividades de um processo. Pavani Junior e Scucuglia (2011, p. 196) elaboraram uma lista com alguns GAPs que podem ser avaliados pelo analista de processos: • produto ou serviço errado; • restrições impostas por regulações ou recursos; • políticas restritivas; • processos sem procedimento padrão; • falta de controle de qualidade; • controle exagerado; • recursos inadequados ou indisponíveis; 13 • ergonomia pobre; • layout e ambiente inadequados; • formação de filas; • pessoas controlando pessoas; • valor agregado baixo ou negativo; • inflexibilidade comportamental; • respostas muita lentas de outras áreas; • pequenos conflitos de relacionamento entre pessoas; • falta de credibilidade na liderança; • etapas sendo executadas “porque sempre foi assim”; e • procedimentos operacionais desnecessários. É evidente que os itens anteriores não se esgotam com essa lista, no entanto, já é um bom começo para uma análise mais detalhada. Os GAPs, quando analisados de forma consistente proporcionam ganhos incrementais que traduzem em resultados positivos para as empresas. Os japoneses, por meio dos kaizens, também conhecidos por melhoria contínua, foram muito felizes ao incutir aos processos essa forma de análise, ou seja, pequenas melhorias realizadas de forma contínua podem ter tanto ganho quanto uma inovação de grande impacto. Nesse aspecto referente a melhorias incrementais, é importante ressaltar que o executor da atividade, na maioria das vezes, é a pessoa que mais entende da dinâmica de execução, e saber ouvi-lo e interpretar seus anseios é parte importante da análise de processos. É atribuição do analista de processo, compreender a lógica sequencial das atividades do processo, analisá-las e propor a execução diferenciada das atividades que pode resultar em algum tipo de ganho. TEMA 4 – INDICADORES E DESEMPENHO DE PROCESSOS Um dos elementos que sem dúvida alguma propõe ações sobre os processes refere-se aos indicadores. É interessante como diariamente, 14 principalmente por meio do noticiário, somos impactados pelos indicadores de processos. Índices de inflação, Produto Interno Bruto (PIB), Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) etc. Sem contar os indicadores empresariais sobre serviços ou manufatura. Para sintetizarmos a importância dos indicadores, vale a pena recorrermos a uma frase atribuída a Willian Edwards Deming, engenheiro, estatístico, palestrante e consultor americano, que entre suas contribuições para a área da qualidade se destaca o fortalecimento do Japão no pós-guerra, que diz o seguinte: “não se gerencia o que não se mede; não se mede o que não se define; não se define o que não se entende; não há sucesso no que não se gerencia”. Em resumo, o administrador precisa medir os seus processos a partir das análises estabelecidas, como as apresentadas neste conteúdo. 4.1 Elementos dos indicadores de desempenho Conforme Wildauer e Wildauer (2015, p. 40), ao utilizar indicadores, os gestores (administradores) precisam ter a consciência de que devem coletar dados que resultam de observações (ou medições) diretamente nas ações de cada atividade, de cada processo. Atualmente, por meio do BIG Data, que, conforme a Oracle, são dados com maior variedade que chegam em volumes crescentes e com velocidade cada vez maior, é possível resolver problemas de negócios que não seriam possíveis anteriormente. Isso quer dizer que hoje em dia os administradores têm a seu dispor uma quantidade enorme de dados que podem ser transformados em informações e posteriormente em indicadores. O grande desafio é entender como utilizar esses dados na construção de um indicador. Para facilitar as nossas vidas, segue um quadro orientativo para esse devido fim. Quadro 1 – Elementos a serem considerados na construção de um indicador Elemento a considerar na construção do indicador Exemplo 15 Definição dos dados a serem coletados e sua respectiva temporalidade (aqui sugere-se definir o responsável por essa coleta dentro da organização) • Número de atendimentos de clientes por dia • Número de reclamações por semana Peças fabricadas por hora Definição do tipo de tarefa ou programa a ser monitorado • Atendimento aos clientes • Reclamações • Fabricação de peças Definição do produto a ser contemplado (bem ou serviço) • Atendimento • Parafusos Definição do tipo de escala a ser utilizada no indicador relação • Número inteiro • Número real com 2 casas decimais • Porcentagem Definição da fórmula • Atendimento/dia • Reclamações/semana • Número de peças/ hora Definição do tipo do gráfico • Barras • Linhas • Setor Fonte: Wildauer e Wildauer, 2015, p. 41. O quadro anterior nos orienta quanto aos elementos a serem considerados na construção de um indicador; no entanto, é importante incluirmos algumas recomendações para a elaboração de indicadores com base em Pansonato [S.d.]. • Objetividade: forma simples e direta. • Clareza: de fácil compreensão. • Preciso: evitar duplicidade de informações. • Viabilidade: devem medir resultados, não intenções (algo mensurável). • Representatividade: estatisticamente representativa do universo analisado. • Visualização: permitir interpretação rápida (uso de gráficos, por exemplo). • Ajuste: adaptado à realidade do processo e da empresa. • Alcance: possibilitar análise das causas, não apenas dos efeitos. • Resultados: devem relatar fielmente o que está ocorrendo na organização. Vale ressaltar que tanto os elementos para elaboração dos indicadoresquanto as recomendações anteriores são aplicáveis aos indicadores nos três níveis hierárquicos: estratégico, tático e operacional. Seguem alguns exemplos 16 práticos para a elaboração de indicadores com base nas análises básicas de processo estudadas no tema 1 desta etapa. Custo CONCEITO FÓRMULA SUGERIDA Percentual do custo total de transporte em relação ao valor total das vendas = Custo total de transporte Total de vendas ($) 𝑋 100 Qualidade CONCEITO FÓRMULA SUGERIDA Percentual do número de pedidos entregues no prazo em relação ao número total de pedidos processados = Nº pedidos entregues Nº pedidos processados 𝑋 100 Tempo CONCEITO FÓRMULA SUGERIDA Tempo médio da entrega em relação ao número total de pedidos (índice menor, melhor) = Tempo médio de entrega Nº pedidos processados Produtividade CONCEITO FÓRMULA SUGERIDA Percentual do número total de funcionários pelo número de veículos carregados = Nº total de funcionários Nº veículos carregados 𝑋 100 Bom, agora que já sabemos analisar os processos, elaborar indicadores e definir algumas fórmulas, basta saber onde queremos chegar, ou seja, as metas. 4.2 Identificando as metas (metodologia SMART) A meta para que uma enfermidade não evolua é manter a temperatura entre 36,5ºC e 37ºC. O mesmo pode-se dizer dos processos empresariais. Para que se possa definir as metas de forma clara e objetiva, existe uma metodologia denominada SMART, conforme detalhado a seguir. 17 • Specific (específico): ter uma meta bem definida, clara e inequívoca. Por exemplo, se há o desejo de se aumentar as vendas, o que se pretende alcançar com essa meta? • Measurable (mensurável): a meta precisa ter critérios específicos que possibilitem aferir seu progresso rumo à realização. Por exemplo: a meta prevista para uma determinada equipe é aumentar as vendas em 10% em relação as vendas do ano anterior. • Achievable (alcançável): deve ser realizável, ou seja, possível de alcançar. Questionamento: com base no histórico da empresa e da atual conjuntura a meta pode ser atingida? • Realistic (realista): a meta deve estar ao alcance, ser realista e relevante para as estratégias da empresa e dos funcionários. Metas que atendam diretamente o que foi definido no planejamento estratégico da organização (aumento de lucros, receita etc.) são relevantes. • Time based (temporal): deve ter um prazo para acontecer e uma linha do tempo claramente definida, incluindo uma data de início e fim. Por exemplo, no caso das vendas, poderia ser obter o aumento de 10% nas vendas no prazo máximo de seis meses. Esse resumo da metodologia SMART foi ajustado para aplicação em processos, no entanto, ela pode ser adaptada aos mais diversos setores empresariais e até pessoais. TEMA 5 – MELHORIA CONTÍNUA Esse é um tema que, provavelmente, necessitaria de mais espaço para explorá-lo de forma completa. Mas vamos buscar um entendimento que nos ajude a elaborar processos eficazes e eficientes por meio da melhoria contínua. De forma resumida, podemos definir melhoria contínua como uma filosofia de trabalho em que uma empresa, uma instituição, ou até mesmo uma pessoa, adota no sentido de aperfeiçoar seus produtos e seus processos de forma ininterrupta. Diferentemente da inovação, que promove um impacto maior e consome mais recursos, principalmente os financeiros, as melhorias contínuas, também conhecidas como kaizen, são pequenas e incrementais, proporcionando 18 resultados positivos no decorrer do tempo. De acordo com Imai (2015, p. 9), em japonês Kaizen significa melhoria contínua. A palavra implica melhoria que envolve todos – gerentes e trabalhadores – e envolve poucas despesas. Quando se afirma que a melhoria contínua é uma filosofia de trabalho, não há nenhum exagero nisso. O termo kaizen ou melhoria contínua virou um jargão no meio empresarial, mas são poucas as empresas que realmente praticam a melhoria contínua de forma realmente contínua e eficaz. Mesquita e Alliprandini (2003) corroboram com essa afirmação e mencionam que “várias empresas possuem atividades de melhoria contínua, mas que na maioria dos casos apenas ressaltam a aplicação de técnicas e ferramentas com pouca atenção aos comportamentos relacionados a cultura da empresa”. Em síntese, pode-se afirmar que implantar um sistema de melhoria contínua em uma organização é algo simples, no entanto, manter esse sistema operando de forma contínua e se tornar parte da cultura organizacional é algo complexo. Quando se trata do assunto melhoria contínua, é importante salientarmos a metodologia PDCA, criada por Shewart e difundida por Deming no Japão, o PDCA é uma ferramenta em forma de ciclo contínuo utilizada na gestão dos processos e solução de problemas e o significado de cada letra está identificado a seguir. • Plan (planejar): estabelecer o objetivo para a melhoria, definindo as atividades, as metas e os planos de ação. • Do (fazer): implementar o plano de acordo com o que foi estipulado. • Check (verificar): determinar se a implementação da melhoria alcançou os objetivos e metas estabelecidos. • Act (agir): com as informações obtidas na verificação, deve-se padronizar novos procedimentos para evitar recorrência do problema original e estabelecer metas para as novas melhorias. 19 Figura 1 – Ciclo PDCA Fonte: Pansonato, 2022. Uma das causas para o fracasso na implantação da melhoria contínua é a falta de padronização dos processos. Não há como implementar melhorias em um processo que não tenha o mínimo de padronização, ou seja, primeiro elimine o “caos”, padronize o processo para depois propor as melhorias. A outra causa que contribui para o fracasso dos projetos de melhoria contínua é a falta de manutenção das melhorias implantadas. Muitas vezes, aplica-se uma melhoria que proporciona excelentes resultados, é aprovada por todos os envolvidos e após um determinado período, retorna-se à condição ineficaz manifestada anteriormente, sem nenhuma explicação convincente. Os gráficos a seguir apresentam as diferenças entre melhorias inconsistentes e melhorias contínuas. PLAN (planejar) A P D C ACT (agir) DO (fazer) CHECK (verificar) MELHORIA CONTÍNUA 20 Fonte: Pansonato, 2022. Os gráficos apresentados nos fazem refletir não somente sobre os processos dentro das organizações, mas também sobre nossas vidas pessoais. Vale a pena pensar nisso! TROCANDO IDEIAS Muitas vezes, quando falamos sobre padronização de processos, vem à tona que é algo típico dos orientais, como os japoneses, sul-coreanos e chineses, por exemplo. Mas não é bem assim não. Grandes empresas ocidentais possuem processos super padronizados que trazem um diferencial positivo para essas empresas. Uma delas, o McDonald’s, utiliza a padronização de forma eficiente e eficaz, conforme é possível verificar a seguir. Saiba mais Quer saber mais sobre a importância da padronização de processos? Acesse o link a seguir. Disponível em: . Acesso em: 1 abril. 2022. 1 2 3 4 Melhorias contínuas (melhora, mantém, melhora, mantém) 1 2 3 4 5 6 7 Melhorias inconsistentes (melhora, piora, melhora, piora) 21 NA PRÁTICA 1- Difundida nos anos 1950 por Willian Edwards Deming e muito utilizada na administração geral, possui como característica o controle e a melhoria de processos de uma forma contínua e está vinculada à filosofia Kaizen (cultura japonesa referente à melhoria contínua e um dos pilares da administração da qualidade). Esta definição se refere: I) Aos cinco tópicos da metodologia SMART para definição de metas. II) Ao PDCA, que significa: planejar, definir, construir e agir. III) À inovação dos processos por meiode ações que requerem recursos e que geram impactos. IV) Ao PDCA, que significa: planejar, executar, verificar e agir. Assinale a alternativa correta: a) ( ) As alternativas I e II estão corretas. b) ( ) Somente a alternativa I está correta. c) ( ) Somente a alternativa II está correta. d) ( ) As alternativas III e IV estão corretas. e) ( ) Somente a alternativa IV está correta. A resposta dessa questão será apresentada em outra ocasião. FINALIZANDO Chegamos ao fim desta etapa com a certeza de que ao fazer uma análise criteriosa dos processos, com certeza o mapeamento do estado futuro (to be) terá grande possibilidade de sucesso. Agora, você é capaz de realizar as análises básicas de processos bem como as análises mais pontuais apresentadas nos temas 2 e 3. Aprendemos que os indicadores podem ser o ponto de partida para análise dos processos, por fim, você está apto a desenvolver projetos de melhoria por meio da utilização do PDCA. Até a próxima! 22 REFERÊNCIAS BPM CBOK Versão 3.0. Guia para o Gerenciamento de Processos de Negócios, Corpo Comum de Conhecimento, ABPMP BMP CBOK V3.0. 1. ed. 2013. DICIONÁRIO PRIBERAM DE LÍNGUA PORTUGUESA. "Análise". Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021. Disponível em: . Acesso em: 8 fev. 2022. ISHIKAWA, K. Controle de Qualidade Total: à maneira japonesa. Rio de Janeiro: Campus, 1993. MESQUITA, M.; ALLIPRANDINI, D. H. Competências essenciais para melhoria contínua da produção: estudo de caso em empresas da indústria de autopeças. Gestão & Produção, v. 10, n. 1, p. 17-33, 2003. MÜLLER, C. J. Modelo de gestão integrando planejamento estratégico, sistemas de avaliação de desempenho e gerenciamento de processos (MEIO – Modelo de Estratégia, Indicadores e Operações), 2003. Tese (Doutorado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ORACLE. O que é Big Data? Disponível em: . Acesso em: 14 fev. 2022. PAVANI JUNIOR, O.; SCUCUGLIA, R. Mapeamento e Gestão por Processos – BPM. São Paulo: M. Books, 2011. PAIM, R.; CARDOSO, V.; CAULLIRAUX, H.; CLEMENTE, R. Gestão de Processos: pensar, agir e aprender. Porto Alegre: Bookman, 2009. ROTHER, M.; SHOOK, J. Aprendendo a Enxergar (mapeando o fluxo de valor para agregar valor e eliminar o desperdício). Lean Institute Brasil (São Paulo, SP), 2009. WILDAWER, W. E.; WILDAWER, L. D. B. S. Mapeamento de Processos: conceitos, técnicas e ferramentas. Curitiba: Intersaberes, 2015.