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volume 12 — nº 3— 2004 ISSN - 0104-3579 Artigos • Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP • Uma análise do comprometimento da fala em portadores de doença de Parkinson • Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico • Trombólise endovenosa com Alteplase em AVC Isquêmico - Experiência em 27 casos - Joinville – SC • Tratamento inicial da doença de Parkinson • Utilização do SF-36 em ensaios clínicos envolvendo pacientes fibromiálgicos: determinação de critérios mínimos de melhora clínica • Intervenções fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia • Midazolan nasal no tratamento de crises convulsivas 115Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 revistaNeurociências Editorial Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP Rodrigues, José Erickson; Sá,Márcia da Silva; Alouche, Sandra Regina. .......................................................................................... 117 Uma análise do comprometimento da fala em portadores de doença de Parkinson Alcidézio Luís Sales de Barros, Erideise Gurgel da Costa Silveira, Roberta Cristiny Medeiros de Souza, Lorena Canto de Freitas .......................................................................................................................................................................123 Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães, Débora C. A. Galdino, Fábio Luiz Mendonça Martins, Simone R. Abreu, Mary Lima, Débora Fernandes de Melo Vitorino. ....................................................................................................................................................130 Trombólise endovenosa com Alteplase em AVC Isquêmico - Experiência em 27 casos - Joinville – SC LONGO,A.L.; MORO,C.H.C.; CABRAL,N.L. ........................................................................................................................................134 Tratamento inicial da doença de Parkinson. Antônio L. Teixeira Jr, Francisco Cardoso. ...........................................................................................................................................141 Utilização do SF-36 em ensaios clínicos envolvendo pacientes fibromiálgicos: determinação de critérios mínimos de melhora clínica Débora Fernandes de Melo Vitorino; Fábio Luiz Mendonça Martins; Alessandra de Castro Souza; Débora Galdino; Gilmar Fernandes do Prado. ................................................................................................................................................................147 Índice Variação terapêutica e ensino médico O que é possível ensinar aos nossos alunos e residentes? O que poderia ser duradouro o suficiente para justificar o mestre? Do que necessita o aluno para querer ao seu lado alguém experiente? A prática da neurologia, principalmente no que concerne às doenças cérebro-vasculares, vem ganhando um corpo de evidências cada vez mais consistente, conduzindo obrigatoriamente a uma reflexão do que ensinar. A linguagem da epidemiologia clínica necessita ser difundida, e independentemente de interesses, custos e preconceitos, nossos futuros médicos não escaparão às exigências de uma prática científica do diagnóstico e tratamento. Aquele mestre que fazia de uma maneira muito própria, peculiar e sua parece não ter mais lugar no mundo médico. O mestre que agia e determinava os destinos de pacientes porque tinha convicções fundamentadas na sua vida e racionalidade particular passou a fazer parte dos experimentos da clínica. O avanço tecnológico e a difusão da clínica como ciência permitiu uma constante avaliação das posturas e decisões médicas. Argumentos baseados em autoridade foram progressivamente sendo desconsiderados e muito pouco tolerados, principalmente nos países desenvolvidos. Na medicina americana, pelo menos nos centros de excelência no atendimento (que nem sempre coincidem com os de pesquisa ou renomados pesquisadores), ocorre uma prática menos deificada da medicina. Os argu- mentos clínicos e o que ensejam à pesquisa são a moeda de troca no mercado do pensamento e atenção ao paciente. Já não se requer mentes excepcionais para praticar e fazer evoluir o conhecimento médico: um modo de pensar e fazer, prático e eficiente, vem dando conta da demanda clínica e científica. O trabalho a ser realizado é enorme! As ciências básicas e associadas apontam indicadores relevantes, mas o paradigma da reatividade idiossincrásica do corpo exige o experimento clínico. E o experimento clínico pode reacender chamas de outrora, ou condenar ao esquecimento vultosos investimentos em uma terapêutica. O aluno de medicina é aluno para toda a vida, e seus verdadeiros mestres deveriam ensiná-lo a aprender eternamente. O aluno levará do mestre a postura diante da medicina e paciente, o cuidado propedêutico e o bom senso terapêutico. O mestre se justifica pela dimensão do possível, pelo espectro do comparável e pela força de modelação tão necessárias ao psiquismo humano. Quando o aluno se depara com a variação terapêutica não se lembrará de argumentos autoritários, mas da mão que o guiou para a melhor opção científica de tratamento. Felizmente estamos assistindo a uma grande transformação na maneira de pensar clinicamente no Brasil, e apesar de algo atrasados em relação aos países desenvolvidos, muito tem sido implementado na assistência terapêutica ao paciente, motivo porque gostaria de parabenizar todos aqueles que estão se dedicando ao enorme trabalho de prover treinamento profissional, pesquisa e atendimento aos pacientes com “acidente vascular cerebral” em nosso país. Os excelentes trabalhos sobre trombólise no AVC publicados aqui na Revista Neurociências tem sido de grande utilidade para reflexões e ações de saúde neste importante campo epidemiológico e clínico que muito onera nosso país e faz sofrer nossos cidadãos. Gilmar Fernandes do Prado Editor Intervenções fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia: Atualização Débora Fernandes de Melo Vitorino, Gilmar Fernandes do Prado ......................................................................................................152 Midazolan nasal no tratamento de crises convulsivas Sueli Rizzutti, Lucila Bizari Fernandes do Prado, Gilmar Fernandes do Prado. ....................................................................................157 ARTIGOS ORIGINAIS ARTIGOS DE REVISÃO 116Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 REVISTA NEUROCIÊNCIAS Editor Chefe / Editor in chief Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP Co-editor / Co-editor José Osmar Cardeal, MD, PhD, São Paulo, SP. Editores Associados / Associate Editors Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, São Paulo, SP Esper Abrão Cavalheiro,MD, PhD, São Paulo, SP Fernando Menezes Braga, MD, PhD, São Paulo, SP Corpo Editorial / Editorial Board Desordens do Movimento / Movement Disorders Chefe / Head Henrique Ballalai Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Francisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte, MG Sônia Maria Cézar de Azevedo Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Egberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SP Maria Sheila Guimarães Rocha, MD, PhD, São Paulo, SP Vanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SP Roberto César Pereira do Prado, MD, PhD, Aracajú, SE Epilepsia / Epilepsy Chefe / Head Elza Márcia Targas Yacubian, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Américo Seike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo, SP Carlos José Reis de Campos, MD, PhD, São Paulo, SP Luiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SP Alexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Margareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SP Henrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Neurophysiology Chefe / Head João AntonioMaciel Nóbrega, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Nádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, São Paulo, SP José Fábio Leopoldino, MD, Aracajú, SE José Maurício Golfetto Yacozzill, MD, Ribeirão Preto, SP Francisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo, SP Gilberto Mastrocola Manzano, MD, PhD, São Paulo, SP Carmelinda Correia de Campos, MD, PhD, São Paulo, SP Reabilitação / Rehabilitation Chefe / Head Sissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Jefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR. Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo, SP Ana Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, São Paulo, SP Carla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SP Fátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond, OK, USA Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São Paulo, SP Luci Fuscaldi, PhD, Belo Horizonte, MG Fátima Goulart, PhD, Belo Horizonte, MG Odete Fátima Salles Durigon, PhD, São Paulo, SP Distúrbios do Sono / Sleep Disorders Chefe / Head Lucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Flávio Aloe, MD, São Paulo, SP Stela Tavares, MD, São Paulo, SP Dalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SP Ademir Baptista Si lva, MD, PhD, São Paulo, SP Alice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SP Luciane B. Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP Maria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ES Virna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SP Geraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RS Rosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SP Robert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, SK, Canadá Sílvio Francisco, MD, São Paulo, SP Doenças Cerebrovasculares / Cerebrovascular Disease Chefe / Head Ayrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Aroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BA Alexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SC Carla Moro, MD, PhD, Joinvile, SC Cesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SP Charles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Gabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Jamary de Oliveira Filho, MD, PhD, Salvador, BA Jefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre, RS Jorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Márcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo, SP Mauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RS Rubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SP Soraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, São Paulo, SP Viviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD, Curitiba, PR Oncologia / Oncology Chefe / Head Suzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Fernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Guilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SP João N. Stavale, MD, PhD, São Paulo, SP Doenças Neuromusculares / Neuromuscular disease Chefe / Head Acary de Souza Bulle de Oliveira, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Edimar Zanoteli, MD, PhD, São Paulo, SP Elga Cr is t ina Almeida e Si lva, MD, PhD, São Paulo, SP Leandro Cor toni Cal ia , MD, PhD, São Pau- lo, SP Luciana de Souza Moura, MD, PhD, São Paulo, SP Laboratório e Neurociência Básica / Laboratory and Basic Neuroscience Chefe / Head Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Beatriz Hitomi Kyomoto, MD, PhD, São Paulo, SP Célia Harumi Tengan, MD, PhD, São Paulo, SP Maria José S. Fernandes, PhD, São Paulo, SP Mariz Vainzof, PhD, São Paulo, SP Iscia Lopes Cendes, PhD, Campinas, SP Débora Amado Scerni, PhD, São Paulo, SP João Pereira Leite, MD, PhD, Ribeirão Preto, SP Luiz Eugênio A. M. Mello, MD, PhD, São Paulo, SP Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal Fluid Chefe / Head João Baptista dos Reis Filho, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Leopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora, MG Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São Paulo, SP José Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RS Ana Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SP Neurologia do Comportamento / Behavioral Neurology Chefe / Head Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Ivan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SP Thais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SP Rodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SP Sônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SP Neurocirurgia / Neurosurgery Chefe / Head Fernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Mirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SP Antonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD, São Paulo, SP Sérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SP Oswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD, São Paulo, SP Orestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SP Ítalo Capraro Suriano, MD, São Paulo, SP Samuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SP Neuroimunologia / Neuroimmunology Chefe / Head Enedina Maria Lobato, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Nilton Amorin de Souza, MD, São Paulo, SP Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain, Headache and Autonomic Function Chefe / Head Deusvenir de Souza Carvalho, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Angelo de Paola, MD, PhD, São Paulo, SP Fátima Dumas Cintra, MD, São Paulo, SP Paulo Hélio Monzillo, MD, São Paulo, SP José Cláudio Marino, MD, São Paulo, SP Marcelo Ken-It Hisatugo, MD, São Paulo, SP Interdisciplinaridade e história da Neurociência / Interdisciplinarity and History of Neuroscience Chefe / Head Afonso Carlos Neves, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members João Eduardo Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP Flávio Rocha Brito Marques, MD, São Paulo, SP Vinícius Fontanesi Blum, MD, São Paulo, SP Rubens Baptista Júnior, MD, São Paulo, SP Márcia Regina Barros da Silva, PhD, São Paulo, SP Eleida Pereira de Camargo, São Paulo, SP Dante Marcello Claramonte Gallian, PhD, São Paulo, SP Neuropediatria / Neuropediatrics Chefe / Head Luiz Celso Pereira Vilanova, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Marcelo Gomes, São Paulo, SP Coordenação editorial, criação, diagramação e produção gráfica: Atha Comunicação & Editora Rua Machado Bittencourt, 190 - 4º andar - conj. 410 CEP: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 5087-9502 - Fax: (11) 5579-5308 - email: 1atha@uol.com.br Os pontos de vista, as visões e as opiniões políticas aqui emitidas, tanto pelos autores, quanto pelos anunciantes, são de responsabilidade única e exclusiva de seus proponentes. Tiragem: 3.000 exemplares 117Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP Profile of the stroke patients treated in the clinical school of physical therapy of the UMESP RESUMO O objetivo deste estudo foi traçar o perfil clínico e funcional dos pacientes com diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico (AVE) atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP. Foi feito um estudo retrospectivo em pacientes acometidos por AVE, realizado através de uma coleta de dados em prontuários de 109 pacientes no período de fevereiro de 2001 a junho de 2003. A coleta de dados foi realizada por meio de um protocolo previamente desenvolvido, abrangendo questões sócio-demográficas, clínicas, físicas e funcionais. O AVE é uma doença comum em todo mundo, por ser a principal causa de incapacidade neurológica em adultos, podendo acometer a função dos membros, controle motor, equilíbrio, força e mobilidade. Apesar de ocorrer uma maior recuperação motora e funcional nos primeiros três meses após o AVE, há evidência de que o exercício terapêutico é efetivo mesmo em casos crônicos. O estudo demonstrou que a população atendida na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP é em sua maioria composta de pacientes crônicos. Este fato acarreta uma permanência maior em terapia e dificulta ganhos funcionais. Contudo pôde-se constatar melhora do quadro motor durante o tratamento, o que reforça a idéia de que mesmo pacientes em fase crônica de AVE podem ter uma boa evolução em termos funcionais. Unitermos: Hemiplegia, Acidente Vascular Cerebral, Fisioterapia, Resultados. SUMMARY The purpose of this study was to plot a clinical and functional profile of stroke patients fulfilledat Clinical School of Physical Therapy of the UMESP. This retrospective study was done by a collection of data in fiches of 109 patients, from February 2001 to July 2003. The collection of data was done with a questionnaire beforehand developed with social-demographic, clinical, physic and functional questions. The stroke is an ordinary sickness all over the world and it is the main cause of neurological incapacity in adults, it can causes problems in the function of the limbs, motor control, balance, strength and mobility. In spite of to occur a great recovery an functional in the first three months after the stoke there is evidence that the therapeutic exercise is effective even in chronic cases. This study showed that the population treated at Clinical School of Physical Therapy of the UMESP is the great part formed by chronic patients. This fact cause a greater permanence in therapy and worse functional gains. However, it could see improvement during the treatment. This fact reinforces the idea that even patients in chronic stroke can have functional improvement. Keywords: Hemiplegia, Stroke, Physical Therapy, Outcome. Artigo Original Rodrigues, José Erickson1; Sá,Márcia da Silva1; Alouche, Sandra Regina2. Trabalho realizado: UMESP/UNIBAN 1 - Pós-Graduando do Curso de Fisioterapia em Neurologia da UMESP. 2 - Professora Doutora em Neurociências e Comportamento, Coordenadora da Pós-Graduação de Fisioterapia em Neurologia da UMESP, Docente do Mestrado em Reabilitação Neuromotora da UNIBAN. Endereço para correspondência: Márcia da Silva e Sá Rua Otávio Mangabeira 48 Jardim Ana Maria - cep 09260-570 - Santo André - SP e-mail: marcia_s_sa@yahoo.com.br Trabalho recebido em 06/07/2004. Aprovado em 01/09/2004. 118Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 INTRODUÇÃO O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma doença comum e de grande impacto na saúde pública em todo o mundo1,2,3 por ser a principal causa de incapacidades neurológicas em adultos4,5, acometendo a função das extremidades de membros, controle motor, equilíbrio, força e mobilidade 6, e devido aos altos custos despendidos com o seu tratamento agudo e a longo prazo 1. A incidência do AVE vem crescendo devido ao aumento da expectativa de vida e pelas mudanças no estilo de vida2,4. Estima-se que na América do Sul isto seja mais evidente nas próximas décadas pelos mesmos motivos.2 Saposnik, em estudo epidemiológico realizado na América do Sul, constatou em sua comunidade-base uma prevalência de AVE que variava de 1.74 a 6.51 por 1000 habitantes e taxas anuais da incidência de 0.35 a 1.83 por 1000 habitantes2. Apesar de ocorrer uma maior recuperação motora e funcional nos primeiros três meses após o AVE1,6,7 há evidências de que o exercício terapêutico é efetivo mesmo em casos crônicos6. Petrilli evidenciou em pacientes sub- agudos que 87,1% dos pacientes tinham recuperado a habilidade de marcha após 64 dias de reabilitação 1. Dean constatou em pacientes com AVE crônico (1,3 anos em média) que o grupo experimental obteve um desempenho significativamente melhor, que o grupo controle nos testes de caminhada de 6- minutos, a velocidade na marcha, o step e no teste de “levantar e andar”. Neste estudo os exercícios foram realizados por 4 semanas, supervisionado por fisioterapeutas, e essa melhora foi mantida por dois meses após cessado o treinamento5. Muitos estudos têm sido realizados sobre o AVE com base no tratamento, avaliação, prevenção, conseqüências a curto, médio e longo prazo, fatores predisponentes e que tem influência sobre estas conseqüências e no tratamento global do paciente1-7. Porém, a maioria dos dados clínicos atuais, sobre o AVE, são conhecidos por meio de estudos norte- americanos e europeus. Pouco tem sido publicado nos países em desenvolvimento2. O objetivo desse estudo é traçar o perfil clínico e funcional dos pacientes com diagnóstico de AVE atendidos na clínica escola de fisioterapia da UMESP, bem como a evolução apresentada nestes aspectos durante o período de atendimento fisioterapêutico nesta clínica. MATERIAL E MÉTODO Este é um estudo retrospectivo que envolve coleta de dados em prontuários de 109 pacientes acometidos por AVE, atendidos na Clínica Escola da UMESP no período de fevereiro de 2001 a junho de 2003. Todos os pacientes envolvidos já haviam sido desligados do serviço. A coleta de dados foi feita com base em um protocolo previamente desenvolvido, o qual abrangia questões sócio- demográficas, clínicas, físicas e funcionais. Dentre as questões sócio-demográficas foram coletados os dados referentes a gênero, idade e motivo do desligamento do serviço. Nas questões clínicas, verificou-se o tipo de AVE, fatores de risco, tempo e freqüência de tratamento, período icto-triagem, cognição (mini-exame do estado mental)8 e alterações de fala. Quanto aos aspectos físicos, verificou- se o trofismo, tônus e sensibilidade do hemicorpo acometido, paralisia facial, hemicorpo acometido, predomínio e deformidades. Os aspectos funcionais englobaram a locomoção e transferências no início da terapia, funções adquiridas e realização de AVD´s no início e fim da terapia por meio do índice de Barthel9. A análise estatística dos dados foi realizada de forma descritiva simples, onde as variáveis qualitativas foram apresentadas por meio de freqüências relativas (percentuais) e de freqüências absolutas (N) e as variáveis quantitativas/numéricas por meio de médias, desvios-padrão, mínimo e máximo. 119Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Os dados quantitativos obtidos no início e no final do tratamento foram analisados utilizando o Test-T de Student. Os cálculos e gráficos foram executados com o auxílio do software Statistica® 5.0 for Windows® e foi adotado um nível de significância de 5%. RESULTADOS Dos 109 prontuários analisados, 38 deles não foram incluídos na pesquisa por abandono da terapia logo após a avaliação inicial, ou antes de completar um mês de tratamento. Os 71 pacientes incluídos na pesquisa foram descritos em quatro aspectos que envolvem: Questões sócio-demográficas; Questões clínicas; Aspectos físicos e Aspectos funcionais. Em relação aos aspectos sócio- demográficos, a população estudada englobou 43 (60,56%) homens e 28 (39,44%) mulheres (Tabela1); cuja faixa etária foi de 64 ±13,1 anos. O motivo de desligamento apresentado ao final do atendimento envolveu: 28 (40%) indivíduos abandonaram o tratamento, 9 (14%) atingiram os objetivos estipulados, 5 (7%) pacientes que foram considerados de manutenção, 4 (6%) mudaram de cidade, 4 (6%) foram à Óbito, 3 (4%) apresentavam Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) sem controle, 2 (3%) apresentavam alteração de comportamento, 2 (3%) por problemas familiares, 2 (3%) por internação hospitalar, 2 (3%) por problemas com transporte,1 (1%) foi admitido em um emprego, 1 (1%) por dificuldade financeira, 1 (1%) por fratura de úmero, e 1 (1%) para realização de exames, 6 (8%) casos não foram relatados. Em relação às questões clínicas foram avaliados os tipos de AVE, os fatores de risco e aspectos relacionados ao tratamento. Quanto ao tipo de AVE, 49 (70%) AVE Isquêmico, 10 (14%) tiveram diagnóstico de AVE Hemorrágico (Tabela.1), 1 (1%) AVE Isquêmico para Hemorrágico e 11 (15%) não relatados. Quanto aos fatores de risco 45 (63,38%) tinham hipertensão arterial sistêmica (HAS), 38 (54%) pacientes eram tabagistas, 22 (30,99%) tinham diabetes, 12 (17%) eram etilistas, 9 (12,68%) doenças cardíacas, 6 (8,45%) Hipercolesterolemia , 3 (4,22%) à Doença Ateromatosa, 1 (1,41%) à Aneurisma, 1 (1,41%) à Hipotiroidismo, 9 (12,68%) negam e 8 (11,27%) não relatados. A média de tempo de tratamento foi de 4 meses, e 56 (79%) pacientes faziam tratamento 2 vezes por semanae 15 (21%) pacientes 3 vezes por semana. O período icto-triagem médio foi de 21,25 meses, porém não haviam relatos sobre este período nos prontuários de 6 pacientes. Quanto a Cognição (mini exame do estado mental) o escore possível no exame é de 30 pontos. Considera-se que de 28 a 30 pontos não há alteração da cognição, e abaixo de 24 pontos há comprometimento cognitivo (8). Na população estudada, 25 (35,5%) pacientes tiveram o índice <24 pontos, 8 (11%) pacientes 25-27 pontos, e 13 (18%) pacientes >28 pontos. Os 25 (35,5%) pacientes restantes não foram submetidos a essa avaliação. Quanto às alterações de fala, 5 (7%) pacientes tinham afasia de expressão, 1 (1%) afasia mista, 3 (4%) apresentavam afasia não discriminada, 9 (13%) disartria, 15 (21%) sem alteração e 38 (54%) não relatados. Nos aspectos físicos verificou-se que 39 (56%) pacientes apresentavam hipotrofismo hemicorpo acometido, 20 (28%) pacientes apresentavam-se o normotróficos, e 1 (1%) hipertrófico e 11 (15%) não relatados. O tônus do hemicorpo acometido apresentava-se reduzido em 22 (31%) pacientes, 9 (13%) eram normotônicos, 35 (49%) hipertônicos e 5 (7%) não relatados. A sensibilidade do hemicorpo estava ausente em 4 (6%) pacientes, em 20 (28%) encontrava-se alterado, em 39 (53%) sem alteração e em 9 (13%) não relatados. 8 (11%) pacientes apresentaram paralisia facial, 43 (61%) não e 20 (28%) não relatados. 38 (54%)pacientes apresentaram o hemicorpo direito acometido (Tabela1), 30 (42%) o hemicorpo esquerdo (Tabela1), 1 (1%) paciente apresentava dupla hemiparesia e 2 (3%) não 120Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 relatados; quanto ao predomínio 26 (37%) braquial, 10 (14%) crural e 35 (49%) não relatados. As deformidades foram detectadas em 12 (17%) pacientes, 40 (56%) não apresentavam e 19 (27%) pacientes não relatados. Quanto aos aspectos funcionais foram incluídos: a locomoção, sendo que no início da terapia 20 (28%) apresentavam deambulação independente, 12 (17%) deambulavam com auxílio de bengala ou muleta, 14 (20%) com ajuda de acompanhante, 22 (31%) eram cadeirantes dependentes e 3 (4%) cadeirantes independentes. Quanto às transferências posturais no início da terapia 43 (31%) pacientes rolavam, 39 (29%) passavam de decúbito dorsal para sentado, 28 (21%) passavam de sentado para em pé, 15 (11%) não realizavam transferências e 11 (8%) não relatados. As funções adquiridas durante o tratamento, e a realização de atividades de vida diária (AVD´s) foram avaliados através do Índice de Barthel, no início e fim de terapia. Foi constatado que no início do tratamento 56 (78,87%) pacientes foram submetidos á avaliação pelo Índice de Barthel, destes, apenas 17 (23,94%) pacientes foram submetidos a uma segunda avaliação do Índice de Barthel no final do tratamento. Contudo estes indivíduos que foram submetidos a uma avaliação inicial e outra final, foi observada uma melhora significativa (p<0,001) da avaliação inicial (12,4±4,8) para a avaliação final (16,9±2,9) como demonstra a (Figura 1). Em relação aos ganhos funcionais, 1 (1%) paciente relatou melhora da dor que sentia em membro inferior direito, 1 (1%) melhorou a mobilidade de ombro, 1 (1%) paciente atingiu os objetivos do tratamento, 2 (2%) melhoraram a força, 2 (2%) conseguiram o movimento de hemiface, 3 (3%) adquiriram habilidades manuais, 3 (3%) conseguiram independência nas AVDs, 1 (1%) passou a vestir-se independentemente, 16 (18%) obtiveram melhora no Índice de Barthel, 2 (2%) conseguiram rolar, 3 (3%) conseguiram passar de decúbito dorsal para sentado, 2 (2%) pacientes conseguiram passar de sentado para em pé, 1 (1%) passou a fazer transferência da cadeira de rodas para o tablado, 3 (3%) adquiriram o controle de tronco, 2 (2%) conseguiram realizar a transferência de peso, 1 (1%) adquiriu equilíbrio estático, 2 (2%) adquiriram o equilíbrio na marcha, 4 (5%) conseguiram a melhora da marcha, 3 (3%) andar com auxílio, 8 (9%) atingiram a marcha independente, 1 (1%) passou a subir escadas. Em 26 (30%) não foi detectado algum ganho funcional. DISCUSSÃO A população com AVE tem sido caracterizada na literatura como sendo mais freqüente no gênero masculino6, 10-14 e na faixa etária de 60 a 74 anos em média1- 4, 6, 7, 11-15. A população utilizada neste estudo apresenta características semelhantes à apresentada na literatura, sendo maior a proporção de homens que de mulheres e com uma média de idade de 64 anos. Figura 1 – Comparação dos escores do Índice de Barthel obtidos no início e no final do tratamento dos pacientes (n:17). Tabela 1 – Características da população estudada (n=71) 121Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Em relação ao tipo de AVE encontrado nesta população a predominância foi de AVE isquêmico atingindo 70% dos indivíduos concordando com a literatura que aponta uma maior freqüência de AVE isquêmico em relação ao hemorrágico1, 2, 6, 11, 16. Dentre os fatores de risco encontramos uma grande incidência, em ordem decrescente, de HAS, tabagismo, diabetes, etilismo, doenças cardíacas, hipercolesterolemia, doença ateromatosa, aneurisma e hipotireoidismo. Estes fatores de risco têm sido apontados na literatura como facilitadores da ocorrência de AVE1, 3, 4, 6, 7, 11, 13, 16. A média de tempo de tratamento na população estudada, de 4 meses, encontrada foi baixa em relação a outro estudo realizado em São Paulo, que encontrou um período médio de 10,8 meses de tratamento10. Outros realizados fora do Brasil relatam que o período de tratamento estava em torno de 2 a 3 meses1, 7, 15. Analisando o período icto-triagem foi verificado que a nossa população é composta de pacientes bastante crônicos comparados com aqueles encontrados em alguns estudos1, 7, 15, porém, esse longo período entre a lesão e admissão em um serviço de reabilitação parece ser comum em nossa realidade como mostra o estudo realizado por Bruno em São Paulo10. Isto pode ser explicado pela dificuldade em encontrar vagas nos serviços de fisioterapia que atendem a população carente devido as grandes filas de espera. Dentre os indivíduos avaliados através do Mini- Exame do Estado Mental 8 (64,5%), a grande maioria teve índice abaixo de 24 pontos, mas isto pode ter sido agravado pelos baixos níveis de educação em nossos pacientes. No estudo realizado por Özdemir, comparando o estado cognitivo com os ganhos funcionais em pacientes pós AVE, foi visto que as desordens cognitivas representavam um fator de grande influência nos resultados funcionais na reabilitação15. Em nosso estudo não foi possível fazer a relação entre essas questões. Quanto às alterações da fala foi visto que um quarto dos pacientes estudados apresentavam algum distúrbio, não sendo raro neste tipo de paciente1, 4, 7, 17. A disartria foi o mais freqüente e dentre as afasias, a de expressão foi a mais relatada, porém percebemos que essas questões não estavam claras nos prontuários, pois havia relatos de afasia sem especificação do tipo e pacientes com paralisia facial sem relatos de disartria, o que é bastante incomum devido ao acometimento de músculos fonatórios, diante disso podemos afirmar que esses dados podem ser errôneos. O hemicorpo mais freqüentemente acometido em nossa população foi o direito, contudo isso não parece ser relevante como fator prognóstico, pois a literatura mostra variações nesta frequência1, 4, 6, 7, 15. Com relação ao tônus e o trofismo vimos que a maioria seguiu um padrão de AVE crônico apresentado na literatura, que relata uma evolução com hipertonia e hipotrofia do hemicorpo acometido18,19. A maioria dos pacientes não apresentava nenhuma alteração de sensibilidade do hemicorpo acometido, porém 30% deles apresentavam, mas os relatos em prontuários deixavam muitas dúvidas sobre quais os tipos de alteração e se realmenteestava relacionada à sensibilidade ou a presença de heminegligência. Os relatos sobre o predomínio do acometimento segmentar corporal mostraram que a maioria foi braquial, entretanto esta era uma questão subjetiva na ficha de avaliação do paciente, e por isso a maioria dos prontuários não apresentava este dado. Grande parte dos pacientes (76% dentre os relatados) não apresentava deformidades de membros e isto é um dado positivo diante da cronicidade da nossa população e do grande espaço de tempo entre a lesão e o início da terapia. Através do Índice de Barthel 9 foram avaliados os ganhos funcionais nas AVDs e foi observada uma melhora significativa entre a avaliação inicial e a final. No entanto apenas 23,94% dos prontuários dos pacientes continham essa informação. Outros ganhos funcionais foram detectados através da observação das evoluções em prontuários, tais como: aquisição/melhora da marcha, aquisição de transferências posturais, independência nas AVDs e habilidades manuais. Entretanto esses ganhos não puderam ser quantificados estatisticamente por não ter sido utilizado um índice de avaliação, sendo realizada apenas a porcentagem na população. Analisando os motivos do desligamento, foi encontrada uma grande incidência de abandono sem justificativa, isso pode ser justificado por se tratar de uma clínica escola que tem uma rotatividade grande de alunos e o paciente só fica um mês com cada um, tornando difícil o vínculo com a terapia. Outros indivíduos foram desligados por serem considerados pacientes de manutenção, ou seja, pacientes que não apresentavam melhora funcional. Por se tratar de uma clínica escola onde há necessidade de rotatividade devido à grande fila de espera, este 122Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 desligamento torna-se justificável. A HAS sem controle foi um problema bastante freqüente no nosso serviço, já que a maioria dos pacientes apresenta HAS e muitos dependem do serviço público para fazerem um acompanhamento eficaz e conseguirem o medicamento. Os outros motivos para o desligamento do serviço foram mudança de cidade, óbito, alterações de comportamento, problemas familiares, internação hospitalar, problemas com transporte, dificuldades financeiras, fratura de úmero, realização de exames, e um último que arrumou um emprego, o que merece destaque, visto representar a reinserção do indivíduo no mercado de trabalho. Um dado importante a ser considerado é a alta incidência de ausência de informação constatada neste levantamento de prontuário. Neste caso podemos salientar dois pontos. Este estudo foi desenvolvido com base no preenchimento de prontuários de uma clínica-escola. A pouca experiência dos terapeutas que realizam as avaliações pode ser um fator determinante para a escassez de dados. Outro ponto, é a utilização de questões dissertativas e subjetivas integrantes do protocolo de avaliação, adotadas por questões didáticas, mas que dificultam uma coleta objetiva de dados para pesquisas similares à presente. CONCLUSÃO Este estudo demonstra que a população atendida na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP é em sua maioria composta de pacientes crônicos. Este fato acarreta uma permanência maior em terapia e dificulta os ganhos funcionais. Questões sociais influenciam o prognóstico e o resultado da terapia e levam ao abandono freqüente do tratamento, fato não discutido na literatura internacional. Contudo pôde-se constatar melhoras durante o tratamento, o que reforça a idéia de que mesmo os pacientes em fase crônica de AVE podem vir a ter melhorias na função.5, 20, 21 Protocolos de avaliação com questões objetivas que avaliem e quantifiquem melhor as características clínicas e os ganhos funcionais dos pacientes são necessários a fim de que a continuidade do tratamento seja garantida e para que pesquisas específicas para determinados procedimentos terapêuticos possam ser elaborados e a otimização do atendimento ao paciente conquistada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 . PETRILLI, Sabine; DURUFLE, Aurélie; NICOLAS, Benoit; et al. Prognos- tic Factors in the Ability to Walk After Stroke. Journal of Stroke and Cere- brovascular Diseases, 2002; 11(6): 330-5. 2 . SAPOSNIK, Gustavo; DEL BRUTTO, Oscar H. Stroke in South America: A Systematic Review of Incidence, Prevalence and Stroke Subtypes. Stroke, 2003; 34:2103-8. 3 . SCHAU, Brigitte; BOYSEN, Gudrun; TRUELSEN, Thomas; et al. 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Reability of Lower Extremity Strenght Measures in Persons With Chronic Sroke.Archive of Physical Medicine and Rehabilitation, 83: 322-8; 2002. 123Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Alcidézio Luís Sales de Barros1, Erideise Gurgel da Costa Silveira2, Roberta Cristiny Medeiros de Souza3, Lorena Canto de Freitas4, Artigo Original Uma análise do comprometimento da fala em portadores de doença de Parkinson Analisys of speech problems in Parkinson´s disease patients Trabalho desenvolvido no Departamento de Psicologia e Fonoaudiologia da UNICAP - Fonte de auxílio: PIBIC / UNICAP - Área de trabalho: Fonoaudiologia 1 - Médico Neurologista. Mestre em Fonoaudiologia pela PUC de São Paulo. Profº Adjunto da Graduação em Fonoaudiologia da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). 2-Médica Doutora em Otorrinolaringologia pela USP. Profª. Adjunta da Graduação em Fonoaudiologia e do Mestrado em Ciências da Linguagem da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). 3 - Estudante de Fonoaudiologia da UNICAP e Coord. De Ações Políticas de Saúde da DENEFONO (Diretoria Executiva Nacional de Estudantes de Fonoaudiologia). 4 - Estudante de Fonoaudiologia da UNICAP. RESUMO 1. Contexto. Os distúrbios clínicos primários encontrados na D.P são: tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural. A rigidez é caracterizada por aumento no tônus muscular em todo corpo, e a bradicinesia por pobreza na movimentação, o que leva a uma hipomimia facial. Estes são os dois principais sinais que ocasionam alterações nos órgãos responsáveis pela articulação da fala, causando alterações na emissão dos fonemas /s/ e /l/ e incoordenação nos movimentos da cavidade oral. 2. Objetivos. A presente pesquisa objetiva analisar a fala, enquanto processo articulatório em sujeitos com Doença de Parkinson (D.P). 3. Material e Método. Foram realizadas entrevistas, avaliações e terapia fonoaudiológica em seis pacientes que se encontravam em estágio inicial da doença. 4. Resultados/Conclusões. Com os dados obtidos, foi possível analisar e concluir que o tratamento precoce em sujeitos em estágio inicial possibilita a atenuação das alterações da articulação da fala, que compromete a inteligibilidade da mesma, proporcionando uma melhor qualidade de vida. UNITERMOS Doença de Parkinson, Articulação da fala, Tratamento precoce, Qualidade de vida. SUMMARY 1. Background. The primary clinical disturbances found in P.D. are: tremor, rigidity, bradykinesia and postural instability. The rigidity is characterized by increase in the muscular tonus in entire body, and bradykinesia for motion deficiency. These are two main signs that cause alterations in the emission of the phonemes /s / and /l / and incoordination in the movements of the oral cavity. 2. Objectives. This research purpose to analyze the speech, concern to articulation process in people with Parkinson’s Disease (P.D.). 3. Material and Methods. Interviews, evaluations and phonological therapy were accomplished in six people that were in initial stage of the disease. 4. Results and Conclusions. According to obtained data, it was possible to analyze and to conclude that the precocious treatment in people in initial stage makes possible to reduce alterations of the articulation of the speech, providing speech’s intelligibility, resulting a better life quality. KEYWORDS Parkinson’s disease, Articulation of speech, Early intervention, Quality of life. Endereço para correspondência: Roberta Cristiny Medeiros de Souza - Rua Estrada do Arraial, 2405 / 1401 - Tamarineira, Recife-PE Cep: 52051380 - E-mail: betamedeiros@yahoo.com.br - E-mail: alcidezo@hotlink.com.br Trabalho recebido em 06/07/2004. Aprovado em 01/09/2004. 124Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem por objetivo analisar a articulação da fala, enquanto processo articulatório, em pacientes portadores de Doença de Parkinson. Para este fim, faz-se necessário proceder a uma revisão histórica sobre a patologia em questão. A Doença de Parkinson (D.P), foi descrita originalmente por James Parkinson, em 1817, em seu trabalho clássico “An say on the shaking palsy”.¹ Em homenagem à descrição inicial, esta recebeu a denominação de Doença de Parkinson. Geralmente o diagnóstico é realizado a partir dos 60 anos, em ambos os sexos e de diferentes classes sociais². A etiologia da D.P permanece obscura, é considerada uma doença degenerativa do Sistema Nervoso. Autores relatam que existe uma lesão na substância negra do mesencéfalo o que leva a uma diminuição da dopamina, a qual exerce função inibidora importante no controle central dos movimentos3,4. Dentre os distúrbios clínicos encontrados nos portadores de Doença de Parkinson, encontram- se: tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural5. A rigidez é caracterizada por aumento no tônus muscular desencadeado durante o movimento passivo6. E a bradicinesia se exterioriza por uma pobreza na movimentação, acarretando uma expressão facial em “máscara”. A disartria pode ser definida como uma alteração da expressão oral causado por um acometimento no controle muscular dos mecanismos da fala7. Na presente pesquisa, observo as alterações da fala, do ponto de vista articulatório, englobando os aspectos oromiofuncionais responsáveis pela adequada articulação dos sons da mesma. Desordem de fala é freqüente na doença de Parkinson e tem um impacto significativo na qualidade de vida destes sujeitos8. “Anormalidades na articulação foram atribuídas ao decréscimo nos limites da variação, na velocidade, na força do movimento, o que é atribuído à rigidez e á bradicinesia associadas com o distúrbio”9. A característica predominante na hipocinesia refere-se a marca limitação do âmbito de movimentos da musculatura dos mecanismos da fala5. Isso se explica à danificação das células da substância negra que produzem a dopamina acarretando insuficiência dos movimentos, que por sua vez ficam incoordenados e lentos5. As características mais citadas na literatura fonoaudiológica a respeito da fala, enquanto processo articulatório (movimentos dos órgãos como: língua, lábios, dentes, bochechas, mandíbula, palato duro, palato mole e úvula), diz respeito à limitação no âmbito dos movimentos da musculatura dos mecanismos da articulação da fala, diminuição ou aumento da velocidade da mesma, redução da inteligibil idade de conversação, da habilidade de elevar e realizar movimentos coordenados com a língua durante a fala5. O tremor ao atingir a face altera a mobilidade e a motricidade dos lábios, mento e língua10,11. Há autores que relatam que há repetição, omissão, substituição ou distorção das sílabas, fricativas, sendo substituídas por explosivas, distorções de vogais e de consoantes manifestadas pela substituição de classes diferentes de fonemas9. É relatado que os portadores de Doença de Parkinson apresentam prejuízos na articulação, como: consoantes imprecisas, divergência de qualidade vocal e que, através da análise eletromiografica, estes sujeitos apresentam movimentos articulatórios reduzidos e coordenação imprópria dos músculo agonistas e antagonistas¹². O portador de Doença de Parkinson apresenta uma língua rígida e preguiçosa, apresentando grandes dificuldades de deslocamento ativo, e que, quando realiza, o faz com lentidão. O que reflete numa fala lenta, fraca, parcimoniosa e sobretudo monótona14. Várias pesquisas vêm sendo realizadas em portadores de Doença de Parkinson com objetivo de conhecer melhor as dificuldades articulatórias, entretanto, não se leva em consideração o estágio de comprometimento que o portador se encontra, e que estas dificuldades são devido às perturbações articulatórias. Vale salientar que, na literatura, estas características não possuem demarcações quanto às alterações existentes em cada estágio de comprometimento, por esta razão, foram observados e analisados qualitativamente os comprometimentos dafala, no estágio inicial da patologia. Devido ao acometimento na articulação da fala nos portadores de D.P, busca-se analisar as queixas mais freqüentes relacionadas à fala, identificar quais os distúrbios fonéticos mais freqüentes, avaliar os distúrbios da articulação de fonemas, apresentar uma proposta de avaliação 125Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 e tratamento das disartrofonias, baseadas em propostas anteriores e esclarecer a importância do diagnóstico precoce dos distúrbios da fala, a fim de que o médico encaminhe estes pacientes ao fonoaudiólogo, com objetivo de tratá–los e, com isso, obter um melhor prognóstico das funções perturbadas que serão traduzidas de forma positiva na sociabilidade e na qualidade de vida. METODOLOGIA Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética do Real Hospital Português localizado na cidade do Recife, na reunião ordinária do dia 02 de outubro de 2002, quando todos os membros presentes foram unânimes em dizer que este trabalho não oferece nenhuma ofensa a quaisquer dos artigos do Código de Ética, particularmente, os de nº 122 a 130, Capítulo XII, que trata especificamente da pesquisa em Medicina, devendo apenas obter o termo de consentimento dos pacientes que participam da pesquisa. PACIENTES Participaram desta pesquisa seis pacientes portadores de Doença de Parkinson, que se encontravam em estágio inicial da patologia, de ambos os sexos, sendo 4 homens e 2 mulheres, com idades entre 51 e 60, na Clínica do orientador da pesquisa em Recife, no estado de Pernambuco. MATERIAIS Foram utilizados na presente pesquisa: carta de informação; termo de compromisso; roteiro de entrevista inicial semi-estruturado; roteiro de avaliação semi-estruturado; roteiro de terapia miofuncional oral; espátula; luva cirúrgica latex; fonte luminosa; gravador; fita cassete; filmadora; fita VHS; álbum articulatório; livros; revistas e jornais. MÉTODOS A presente pesquisa foi realizada e embasada sob os princípios do método indutivo, pois parte do particular para a generalização como produto dos dados coletados. A indução realiza – se em três etapas: Primeiro observa-se o fenômeno e os analisa, com a finalidade de descobrir as causas de sua manifestação, depois, descobre-se à relação entre elas, e, por último, chega-se a uma classificação, produto da generalização da relação observada. Em relação aos métodos de procedimentos, estes englobam etapas mais concretas da investigação, com finalidade mais restrita em termo de explicação geral dos fenômenos e menos abstratos. Para a análise da presente pesquisa, os fatos foram observados, através de um procedimento experimental e monográfico, de forma longitudinal por seis meses, na qual consistiu em investigar, avaliar e analisar seis pacientes em estágio inicial de Doença de Parkinson, com objetivo de obter generalizações sobra sua natureza, partindo do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes. PROCEDIMENTOS Participaram desta pesquisa seis pacientes portadores de Doença de Parkinson, que se encontravam em estágio inicial da patologia, de ambos os sexos. Inicialmente, na presente pesquisa, foram entrevistados 30 sujeitos com Doença de Parkinson, de ambos os sexos, na clínica do orientador da pesquisa, neurologista Alcidezio Luiz Sales de Barros. Foi usado como critério de inclusão, pacientes que não relatassem queixas subjetivas relacionadas à fala, uma vez que queríamos investigar as alterações existentes no início da patologia. Esta foi verificada após aplicação de um roteiro de entrevista semi- estruturada. A articulação da fala foi avaliada e analisada através de diálogos espontâneos, observações da musculatura, palpações e exercícios isométricos (avalia a tonicidade da musculatura), isocinéticos (avalia a forca da musculatura) e isotônicos(avalia mobilidade muscular) sistemáticos, no intuito de verificar o estado da musculatura dos órgãos envolvidos na produção da fala. Para este procedimento, foram util izados materiais descartáveis como luva cirúrgica e espátula. A avaliação tinha duração de 1 hora ocorrendo 3 vezes por semana, gravada em fita k-7 e filmados em fita VHS, após assinatura da carta de informação e termo de consentimento. Com o objetivo de observar as alterações fonéticas 126Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 existentes, foram realizadas conversas espontâneas, leituras de livros, revistas e jornais e álbum articulatório, com todos os fonemas da língua portuguesa brasileira, além de nomeação de palavras. Com este procedimento, foi possível realizar, de forma efetiva, a transcrição fonética dos dados obtidos, no intuito de realizar a análise fonética da fala e identificar as alterações fonéticas existentes no início da patologia. As terapias miofuncionais orais eram realizadas 3 vezes por semana com duração, aproxi- madamente de 2:00 horas, na residência dos participantes da pesquisa, na qual eram utilizados os mesmos exercícios isométricos, isotônicos e isocinéticos, aplicados para verificar a tonicidade da musculatura facial e intra – oral. Também foram aplicados estímulos térmicos e massagens manuais relaxantes em pontos motores da face no intuito de observar e analisar se os comprometimentos existentes poderiam ser atenuados, de acordo com o resultado das terapias miofuncionais orais. RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com as observações empíricas realizadas, foi possível submeter os sujeitos participantes da pesquisa à avaliação e terapia fonoterápica, foi possível verificar as queixas mais freqüentes se referem à velocidade, que é mais lenta, mais pausada; rigidez muscular da língua e bochechas, articulação travada e fala trêmula. Estas queixas foram relatadas empiricamente por todos os entrevistados. A lentidão ao falar reflete a própria dificuldade em movimentar os órgãos periféricos da fala, devido à presença da rigidez e de bradicinesia associado com o distúrbio9, com hipocinesia dos órgãos periféricos da fala traduzida pela marcada limitação do âmbito de movimentos da musculatura dos movimentos da fala10. Esta rigidez associada a bradicinesia acarreta um padrão postural muscular alterado, mais retraído onde há deterioração do ajustamento dos músculos antagonistas10. Este fato é uma conseqüência do dano das células da substancia negra que produzem o neurotransmissor denominado de dopamina4, 5, 7,1³, 14, 15. Como existe uma pobre atuação no corpo estriado, responsável pelos movimentos involuntários, há uma alteração na tonicidade dos músculos fazendo com que fiquem mais rígidos e de difícil controle, com lentidão dos movimentos, sobressaindo a atuação dos movimentos involuntários4, por isso a queixa da rigidez, fala partida, articulação travada e velocidade lenta. De acordo com estas alterações, podemos observar que, no início da instalação da doença, os músculos extra e intra - orais responsáveis pela articulação dos fonemas se encontram acometidos nos âmbitos da postura, tonicidade e mobilidade. Para manifestar este achado, foi possível verificar que todos os músculos da face responsável pela articulação da fala, em estado estático, se encontrava rígidos com exceção do músculo mentual, responsável pela elevação do lábio inferior e auxilio na protrusão e eversão dos mesmos¹5 em três dos seis casos não se apresentava tão rígido quanto os demais, assim como o masseter, responsável pela elevação da mandíbula, em quatro dos dois casos em estado estático. Estes dados mais detalhados quanto às alterações de cada músculo que compõe a mímica facial responsável pela articulação da fala, não foram encontrados na literatura revisada, sabe-se que apenas que há uma rigidez global desencadeado durante o movimento passivo, através daamplitude dos movimentos6. Esta rigidez observada nos sujeitos da pesquisa é uma conseqüência de uma resistência do estiramento que se apresenta em todas as direções dos movimentos do corpo e dos articuladores, realizados pelos músculos agonistas e antagonistas 8 . Os músculos extra - orais, em estado dinâmico ou em movimento, apresentaram – se, em todos os casos, rígidos, principalmente o músculo orbicular da boca, sendo mais evidente a região superior. Os outros músculos da face como: temporal, palpebral, prócero, nasal e triangular apresentavam um estado considerado normal para a idade cronológica e para a instalação da patologia. Como as bochechas são estruturas móveis e contribuem para a expressão facial, abertura e oclusão de boca alterando a ressonância da voz. Alterações nesta influencia diretamente nos lábios, pois os músculos da bochecha são intrinse- camente relacionadas com os lábios. 127Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Como mencionado anteriormente, as bochechas apresentavam – se rígidas, porém com expressões ainda visíveis ao demonstrar emoções no momento das interações dialógicas, assimétricas, onde a tonicidade era maior no lado direito em 4 dos 6 casos. Neste aspecto, ao considerar que a mastigação lateral direita exerce grande influência na tonicidade da musculatura, foi necessário observar o tipo mastigatório, que em todos os casos era considerado normal, apesar de haver ausência de alguns elementos dentários que não influenciaram na movimentação adequada do bolo alimentar, por isso, foi descartada a hipótese de que esta simetria teria ligação com a função da mastigação. Entretanto, como a própria rigidez muscular, que afeta os músculos dos sujeitos, influência na postura corporal e nos órgãos fono-articulatórios, o que significa um déficit na colocação, pressão e integração dos movimentos da articulação da fala. No que diz respeito à cavidade intra-oral, os órgãos responsáveis pela articulação dos fonemas encontraram-se com a tonicidade, postura e mobilidade alteradas, devido á rigidez dos mesmos, tanto em estado estático como dinâmico, refletindo as próprias condições musculares globais, porém de forma mais sutil, menos incapacitante e evidente. A língua, em todos os sujeitos da pesquisa, encontrava-se bastante comprometida, no sentido de apresentar-se mais rígida em todos os casos, mais retraída, com hipocinesia e incoordenação nos movimentos apresentando resistência ao movimento passivo em toda extensão 1,5. O músculo longitudinal inferior (encurta a língua ou empurra o ápice para baixo), transversos (acarreta o esteritamento e alongamento da mesma), estiloglosso (sua contração direciona a língua para cima e para trás e é considerado antagonista do músculo genioglosso) e genioglosso (é o mais forte dos músculos e possui a faculdade de retrair, abaixa e elevar a língua para a porção anterior) se encontravam mais comprometidos, pois os movimentos mais alterados eram o de encurtar a língua, elevar o ápice ou ponta da mesma ao palato, além de estreitar e alongar a língua, o que ocasionava sutis substituições de fonemas /l/ e / s/, as quais posteriormente, serão abordadas. Esta análise não foi confrontada com a literatura fonoaudiológica, mas faz-se necessário referir, pois as alterações fonéticas encontradas no estágio inicial da patologia estudada. A redução na amplitude dos movimentos pode ser atribuída a falha no mecanismo de contração e relaxamento recíproco entre os músculos anta- gonistas e agonistas7, extensão15,16. Com relação aos lábios, estes se encontravam rígidos e ocluídos encurtados superiormente. Tam- bém foram observados redução na amplitude dos movimentos5, 16. O superior é o mais rígido, porém o inferior é o mais hipocinético, mais móvel, rápi- do e depende dos movimentos mandibulares, os quais se encontram acometidos17. Como mencionado anteriormente, os múscu- los faciais que revestem as bochechas e inserem- se nos lábios são formados por músculos trans- versos, angulares e verticais, cada grupo de ,mús- culos desempenham uma função diferente e ao observar, avaliar e analisar a movimentação dos lábios, constatamos que estes se encontravam su- tilmente comprometidos, no sentido de se apre- sentarem mais rígidos dificultando na movimen- tação, acarretando pouca força na emissão dos fonemas bilabiais havendo a presença de bradicinesia. Os músculos sutilmente comprometidos são: mentual em três dos seis casos, que origina-se na base do lábio inferior. Este levanta o lábio infe- rior e auxilia na protrusão e eversão; o depressor do ângulo da boca em todos os casos se origina na linha oblíqua da mandíbula e insere-se no mús- culo orbicular da boca, no ângulo da boca e lábio inferior15. O músculo orbicular da boca dirige o lá- bio superior para baixo contra o inferior; o zigomático maior que realiza o movimento de ele- var o ângulo da boca, como ocorre ao sorrir; depressor do lábio inferior que leva o lábio inferior para baixo e para a lateral, importantes nos exer- cícios de vibração e lateralização de lábios; o músculo levantador do ângulo da boca, no qual sua contração leva o ângulo da boca para cima e auxilia no fechamento da boca direcionado o lá- bio superior para cima e, por fim, o músculo risório que retrai o canto da boca. Todos os exercícios solicitados e trabalhados na terapia fonoaudiológica exigem um bom funci- onamento e um adequado equilíbrio muscular, com força e intensidade suficiente para a realiza- ção dos mesmos. Como esta musculatura se en- contra hipofuncionante, devido á rigidez e a 128Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 bradicinesia, os exercícios que exigem mais mo- vimentação não são realizados com facilidade. A lateralização, apesar de não exigir tanta mobilida- de, exige que exista um tônus equilibrado, onde nos casos observados, verificou-se uma rigidez intensa na musculatura peri-oral com presença de sincinesias (realização de um movimento involuntário associado ao voluntário), devido ao esforço exagerado para a realização do exercício solicitado. É de suma importância evidenciar que em to- dos os momentos, os portadores de (D.P), apre- sentaram tensão exacerbada da região cervical e cintura escapular, principalmente ao realizar os exercícios isotônicos (verifica a mobilidade), isométricos (verifica a tonicidade) e isocinéticos (verifica a força). Com a inclusão da terapia fonoaudiológia de forma sistemática, foi evidente após 1 mês que a musculatura já apresentava uma tonicidade menos rígida, com melhora da mobili- dade e da força da musculatura. As terapias fonoaudiológicas possibilitaram, além de um estado menos comprometido da musculatura, uma melhora na auto-estima com ausência de excitação e estresse emocional pela presença do quadro sintomatológico. Um outro órgão participante da articulação da fala a qual se encontrava alterado, é o palato duro, mais conhecido como “céu da boca”. Este se encontrou profundo, atrésico e ogival em todos os casos. Profundo pela dificuldade em elevar a língua, apesar do fato de que em repouso a mesma se encontra em papila, ou seja, seu ápice, corpo e dorso paralelo ao palato. Atrésico e ogival pela pressão exercida pela musculatura da bochecha devido à rigidez encontrada. Não se pode afirmar que este achado é uma característica das alterações miofuncionais orais em fase inicial da doença de Parkinson, mas estas características são evidentes e refletem a rigidez muscular. Pois as partes ósseas e duras da cavidade oral crescem e se desenvolvem por tração e contração. Já o palato mole e a úvula apresentavam-se adequados quanto à mobilidade, pois os exercícios foram realizados com sucesso, afirmação esta verificada através de observação, inspeção e realização dos exercícios de sopro e sonorização do /a/ e /ã/, da emissão desons vocálicos, os quais ocorrem elevação do palato mole e úvula, ao contrário da emissão de sons nasais, em que ocorre o abaixamento dos mesmos. Após analisar as queixas mais freqüentes relacionados à fala, dos pacientes com Doença de Parkinson, em estágio inicial da patologia e avaliar e analisar os órgãos fono-articulatórios, há a necessidade de relatar as alterações ou distúrbios da articulação de fonemas. De acordo com alguns autores os fonemas mais prejudicados no momento da articulação dos pacientes portadores de Doença de Parkinson, são a substituição dos fricativos (/f/, /v/, /s/, /z/, /š/, /ž/) , pelos plosivos (/p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/, /m/, /n/, /ñ/) e entretanto, não se sabe em que estágio de doença os pacientes se encontram para existir estes acometimentos9. Na presente pesquisa realizada com pacientes no estágio inicial da Doença de Parkinson, foi observado que os fonemas ///, /? /, /s/ e /š/ apresentaram distorções assistemáticas. A distorção ocorre quando a produção do som é alterado, de modo que a sua resultante seja apenas aproximado do som desejado. Os fonemas que mais soaram de forma alterada foram as palavras que continham o fonema /? / (linguodental ou líquida lateral), onde era distorcido pelo /? / (linguopalatal ou líquida lateral) em 5 dos 6 pacientes analisados. Estas emissões ocorreram de forma assistemática nos inícios de sílabas início de palavra (ISIP) e finais de sílabas final de palavra (FSDP), numa interação dialógica, no entanto, quando era solicitado que emitissem palavras isoladas que continham estes fonemas, os mesmos eram produzidos corretamente em sua grande maioria, onde das 86 palavras isoladas emitidas 5 eram distorcidas; diferentemente da consistência das palavras contextualizadas. Da mesma forma ocorreram com os fonemas /s/ e / š/, em apenas 3 dos 6 pacientes avaliados. É relatado na literatura fonoaudiológica que os últimos fonemas a serem adquiridos são os líquidos laterais e vibrantes. Pensamos que, quando há uma alteração no Sistema Nervoso central, os primeiros fonemas a serem acometidos são os últimos adquiridos, ou seja o /? /, /l/ e /r/. 129Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Pudemos constatar que ocorre uma posteriorização dos fonemas /l/ e /? /, pensamos que este fato se deve ao posicionamento do ápice da língua ao ter que tocar a região alveolar, é retraído e toca na região alveolar mais próxima ao palato duro. Pensamos que este fato ocorra devido à rigidez muscular da língua, que ao atuar nos músculos antagonistas, faz com que esta se posteriorize tocando no tipo de articulação sutilmente5. Durante as avaliações, a qual puderam ser observadas as alterações mencionas a cima, não foi observado pausas durante as leituras ou nas falas espontâneas dos sujeitos, com duração de fala mais curta, causando inteligibilidade da mesma17. CONCLUSÃO De acordo com os dados obtidos na literatura, observações analisadas, e instituição precoce da terapia fonoaudiológica nos portadores de Doença de Parkinson, foi verificado que, de fato, o encaminhamento precoce à terapia fonoaudiológica e fundamental, uma vez fornecerá mais qualidade de vida com condições mais satisfatórias de comunicação. Estes pacientes possuem uma rigidez muscular global, acarretando alterações da articulação dos fonemas e inteligibilidade de fala. Estas não podem ser evitadas, mas atenuadas com o encaminhamento precoce ao Fonoaudiólogo pelo Neurologista, uma vez que a alteração é uma conseqüência de uma patologia que se encontra no Sistema Nervoso Central. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Souza, LBR. Fonoaudiologia Fundamental. Rio de Janeiro: Revinter, 2000, p.5 -11, 25-33. 2- Teive HAG. et al. Doença de Parkinson – Estratégias Atuais de Tratamen to, São Paulo : Lemos, 1999, p. 11-19. 3- Cambier J, Masson M; Dehenh. Manual de Neurologia. Rio de Janeiro 1999, p. 311 – 312. 4- Machado A. Neuroanatomia Funcional. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte: Atheneu, 2000, p. 253. 5- Murdoch BE. Desenvolvimento da Fala e Distúrbios da Linguagem, Rio de Janeiro: Revinter, 1997, p. 207, 209, 210. 6- Jain SS., Francisco GE. Tratado de Medicina de Reabilitação. Tamboré Manole, Vol. 2, 2002, p. 1089 - 1097, 1106 – 1108. 7- Sangorrín J, Bagunyá J. Disartrias. In: Casanova JP e cols. Manual de Fonoaudiologia. Rio de Janeiro: Artes Médicas. 2ª Edição, 1997 p. 221. 8- Kerschan K, Pankl W. Auff E Speech disorders in Parkinson patients. Wien Klin Wochenschr 1998; 110 (8):280. 9- Jefrey E, Metter MD. Distúrbios da Fala: Avaliação Clínica e Diagnóstico. Rio de Janeiro: Enelivros, 1991, p. 152. 10- Sanvito WL. Doença de Parkinson e Síndromes Parkinsonianas. In: Síndromes Neurológicas. São Paulo: Atheneu, 1997, p. 382. 11- Adams DR, Victor M, Ropper AH. O Cerebelo. In: Neurologia. 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J Commun Disord 1996; 29(6): 444-5. 130Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico Functional capacity assessment in elderly on physiotherapy RESUMO Com o avançar da idade as perdas funcionais tornam-se evidentes e o idoso deixa de realizar atividades básicas da vida diária, diminuindo assim sua capacidade funcional. A capacidade funcional é dimensionada em termos de habilidade e independência para realizar determinadas atividades, sendo esta um dos grandes componentes da saúde do idoso. Objetivo: identificar a capacidade funcional dos idosos em tratamento fisioterápico. Métodos: Foram avaliados 40 idosos que encontravam-se em tratamento fisioterápico na clínica escola do UNILAVRAS, nos setores de neurologia e ortopedia. Foi utilizado o Índice de Katz para avaliar a Capacidade Funcional. Resultados: Os resultados obtidos demonstram que houve diferença estatisticamente significativa entre os pacientes ortopédicos e neurológicos, sendo que os primeiros apresentaram um maior nível de independência (p=0,003) e nenhum deles apresentou-se totalmente dependente (p=0,007) na realização de suas atividades diárias. Conclusão: os idosos em tratamento fisioterápico por patologias neurológicas apresentam menor capacidade funcional e, conseqüentemente, uma maior dependência daqueles que apresentam patologias ortopédicas. Unitermos: Idosos; Capacidade funcional; Fisioterapia. SUMMARY Moving forward with the age the functional losses become evident and the elderly stops accomplishing basic activities of daily life, reducing the functional capacity. The functional capacity is measured in ability terms and independence to accomplish certain activities, being this one of the great components of the elderly’s health. Objective: to identify the elderly’s functional capacity in physiotherapic treatment. Methods: There were analysed 40 elderly that were in physioterapic treatment in the clinic school of UNILAVRAS, in the neurology sections and orthopedics. The Index of Katz was used to evaluate the Functional Capacity. Results: The obtained results demonstrate that there was an significant statistic differentiation among the orthopedicaland neurological patients, and the first ones presented a larger independence level (p=0,003) and none of them came totally dependent (p=0,007) in the accomplishment of the daily activities. Conclusion: the elderly in physioterapic treatment for neurological pathologies present smaller functional capacity and, consequently, a larger dependence of those than they present orthopedical pathologies. Keywords: Elderly; Functional capacity; Physiotherapy. Artigo Original Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães1, Débora C. A. Galdino2, Fábio Luiz Mendonça Martins2, Simone R. Abreu2, Mary Lima2, Débora Fernandes de Melo Vitorino3. Trabalho realizado no Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS - Lavras - MG 1 - Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS. 2 - Aluno do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS. 3 - Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS. Endereço para correspondência: Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS R. Hebert Vilela 1700/301 – Bairro Presidente Kennedy – Lavras – MG - CEP 37.200-000 laizunilavras@hotmail.com Trabalho recebido em 22/03/2004. Aprovado em 07/08/2004. 131Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 INTRODUÇÃO O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas que vão alterando progressivamente o organismo, tornando-o mais susceptível a agressões1. Percebe-se que nas alterações relacionadas com a idade estão a presença de fatores de risco e a ocorrência de doenças crônico-degenerativas, que determinam para o idoso um certo grau de dependência, relacionado diretamente com a perda de autonomia e dificuldade de realizar as atividades básicas de vida diária, interferindo na sua qualidade de vida2. A capacidade funcional surge, como um novo paradigma de saúde, particularmente um valor ideal para que o idoso possa viver independente, sendo esta a capacidade do indivíduo realizar suas atividades físicas e mentais necessárias para manutenção de suas atividades básicas e instrumentais, ou seja: tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, controle financeiro, tomar remédios, arrumar a casa, fazer compras, usar transporte coletivo, usar telefone e caminhar uma certa distância3,4. A capacidade funcional, especialmente a dimensão motora, é um dos importantes marcadores de um envelhecimento bem sucedido e da qualidade de vida dos idosos. A perda dessa capacidade, está associada a predição de fragilidade, dependência, institucionalização, risco aumentado de quedas, morte e problemas de mobilidade, trazendo complicações ao longo do tempo, e gerando cuidados de longa permanência e alto custo5. Tem-se constatado que é muito mais fácil evitar mortes do que evitar o desenvolvimento de incapacidades associadas ao envelhecimento. A cada ano, cerca de 10% da população adulta, a partir dos 75 anos perde a independência em uma ou mais atividades básicas da vida diária, tais como: banhar-se, vestir-se, alimentar-se e higiene pessoal6,7. A grande maioria dos idosos é portadora de doenças crônicas, deficiências ou apresentam problemas médicos, sendo estes fortemente associados com s perda da capacidade funcional. Entretanto, observa-se que a capacidade funcional é influenciada também por fatores demográficos, sócio-econômicos, culturais e psicossociais6,8. A manutenção e a preservação da capacidade para desempenhar as atividades básicas de vida diária são pontos básicos para prolongar o maior tempo possível a independência, com isso o idoso mantém a sua capacidade funcional1. A Reabilitação Gerontológica visa a preservação da função, adiamento da instalação de incapacidades, através de medidas preventivas tendo ainda como objetivo diminuir o comprometimento imposto por incapacidades, promovendo um modo de vida mais saudável e adaptando o indivíduo de forma a propiciar uma melhor qualidade de vida9. O objetivo deste estudo foi avaliar qual o nível da capacidade funcional dos idosos em tratamento fisioterapêutico. MÉTODOS Foram selecionados 40 idosos (acima de 60 anos) de ambos os sexos que se encontravam em tratamento fisioterapêutico na clínica escola do UNILAVRAS, nas áreas de neurologia (21 idosos) e de ortopedia (19 idosos). Todos os sujeitos incluídos foram informados quanto aos objetivos e procedimentos do estudo e assinaram o termo de consentimento de forma livre e esclarecida. Utilizou-se o Índice de Katz para avaliar a capacidade funcional em relação à realização das atividades básicas de vida diária, composta por 6 atividades: banhar-se, vestir-se, usar o banheiro, transferir-se, ter continência e alimentar-se. Cada item do Índice de Katz seguiu um escore de 0 a 3, representando o nível de dependência e independência do indivíduo da seguinte forma: 0) independência completa, 1) necessidade de ajuda não humana, 2) assistência humana, 3) completa dependência. Os dados foram analisados através do Teste t de student, utilizando nível de significância de 5%. 132Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 RESULTADOS A Tabela 1 apresenta os valores obtidos no Índice de Katz pelos 19 pacientes avaliados na área de ortopedia em suas atividades diárias. A Tabela 2 apresenta os valores obtidos no Índice de Katz pelos 21 pacientes avaliados na área de neurologia em suas atividades diárias. Na comparação estatística entre os grupos utilizando o Teste t de student, observa-se que há diferença significativa entre os dois grupos quando analiza-se os itens independência completa (p=0,003) e dependência completa (p=0,007). Nos itens ajuda não humana e assistência humana, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (respectivamente p=0,839 e p=0,070) A Figura 1 apresenta a correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à independência completa em suas atividades diárias. A Figura 2 apresenta a correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à dependência completa em suas atividades diárias. DISCUSSÃO A promoção do envelhecimento saudável e a manutenção da máxima capacidade funcional do indivíduo que envelhece, significa uma maior valorização da autonomia e da autodeterminação Tabela 2 - Indice de Katz de pacientes neurológicos Tabela 1 - Indice de Katz de pacientes ortopédicos Figura 2 – Correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à dependência completa em suas atividades diárias. Figura 1 – Correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à independência completa em suas atividades diárias. 133Neurociências REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 e a preservação da independência física do idoso. De acordo com FEDRIGO (1999), para obter um envelhecimento saudável é melhor acrescentar vida aos anos a serem vividos do que anos a uma vida precariamente vivida. LIMA-COSTA; BARRETO e GIATTI (2002) esclareceram que a capacidade funcional é um dos grandes componentes da saúde do idoso e vem emergindo como um componente-chave para a avaliação da saúde dessa população. Ela geralmente é dimensionada em termos de habilidade e independência para realizar determinadas atividades. A maioria dos idosos do estudo apresentou-se independente na realização das suas atividades diárias. Entretanto, somente idosos do setor da neurologia apresentaram nível de dependência completa. Isto se explica pelo fato do maior déficit para a realização de atividades nos pacientes neurológicos, devido às seqüelas deixadas pelas alterações neurológicas que, na grande maioria, são extremamente incapacitantes, podendo levar a alteração na mobilidade, na coordenação, na consciência corporal, na localização do corpo no espaço, entre outras. LUCENA et al. (2002),
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