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Avaliação da capacidade funcional de idosos

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volume 12 — nº 3— 2004 ISSN - 0104-3579
Artigos
• Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de
fisioterapia da UMESP
• Uma análise do comprometimento da fala em portadores
de doença de Parkinson
• Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico
• Trombólise endovenosa com Alteplase em AVC Isquêmico -
Experiência em 27 casos - Joinville – SC
• Tratamento inicial da doença de Parkinson
• Utilização do SF-36 em ensaios clínicos envolvendo pacientes fibromiálgicos:
determinação de critérios mínimos de melhora clínica
• Intervenções fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia
• Midazolan nasal no tratamento de crises convulsivas
115Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
revistaNeurociências
Editorial
Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP
Rodrigues, José Erickson; Sá,Márcia da Silva; Alouche, Sandra Regina. .......................................................................................... 117
Uma análise do comprometimento da fala em portadores de doença de Parkinson
Alcidézio Luís Sales de Barros, Erideise Gurgel da Costa Silveira, Roberta Cristiny Medeiros de Souza,
Lorena Canto de Freitas .......................................................................................................................................................................123
Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico
Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães, Débora C. A. Galdino, Fábio Luiz Mendonça Martins, Simone R. Abreu, Mary Lima,
Débora Fernandes de Melo Vitorino. ....................................................................................................................................................130
Trombólise endovenosa com Alteplase em AVC Isquêmico - Experiência em 27 casos - Joinville – SC
LONGO,A.L.; MORO,C.H.C.; CABRAL,N.L. ........................................................................................................................................134
Tratamento inicial da doença de Parkinson.
Antônio L. Teixeira Jr, Francisco Cardoso. ...........................................................................................................................................141
Utilização do SF-36 em ensaios clínicos envolvendo pacientes fibromiálgicos: determinação de critérios mínimos de
melhora clínica
Débora Fernandes de Melo Vitorino; Fábio Luiz Mendonça Martins; Alessandra de Castro Souza; Débora Galdino;
Gilmar Fernandes do Prado. ................................................................................................................................................................147
Índice
Variação terapêutica e ensino médico
O que é possível ensinar aos nossos alunos e residentes? O que poderia ser duradouro o suficiente para justificar o mestre? Do que
necessita o aluno para querer ao seu lado alguém experiente? A prática da neurologia, principalmente no que concerne às doenças
cérebro-vasculares, vem ganhando um corpo de evidências cada vez mais consistente, conduzindo obrigatoriamente a uma reflexão do
que ensinar. A linguagem da epidemiologia clínica necessita ser difundida, e independentemente de interesses, custos e preconceitos,
nossos futuros médicos não escaparão às exigências de uma prática científica do diagnóstico e tratamento.
Aquele mestre que fazia de uma maneira muito própria, peculiar e sua parece não ter mais lugar no mundo médico. O mestre que agia
e determinava os destinos de pacientes porque tinha convicções fundamentadas na sua vida e racionalidade particular passou a fazer
parte dos experimentos da clínica. O avanço tecnológico e a difusão da clínica como ciência permitiu uma constante avaliação das
posturas e decisões médicas. Argumentos baseados em autoridade foram progressivamente sendo desconsiderados e muito pouco
tolerados, principalmente nos países desenvolvidos. Na medicina americana, pelo menos nos centros de excelência no atendimento (que
nem sempre coincidem com os de pesquisa ou renomados pesquisadores), ocorre uma prática menos deificada da medicina. Os argu-
mentos clínicos e o que ensejam à pesquisa são a moeda de troca no mercado do pensamento e atenção ao paciente. Já não se requer
mentes excepcionais para praticar e fazer evoluir o conhecimento médico: um modo de pensar e fazer, prático e eficiente, vem dando
conta da demanda clínica e científica. O trabalho a ser realizado é enorme! As ciências básicas e associadas apontam indicadores
relevantes, mas o paradigma da reatividade idiossincrásica do corpo exige o experimento clínico. E o experimento clínico pode reacender
chamas de outrora, ou condenar ao esquecimento vultosos investimentos em uma terapêutica.
O aluno de medicina é aluno para toda a vida, e seus verdadeiros mestres deveriam ensiná-lo a aprender eternamente. O aluno levará
do mestre a postura diante da medicina e paciente, o cuidado propedêutico e o bom senso terapêutico. O mestre se justifica pela
dimensão do possível, pelo espectro do comparável e pela força de modelação tão necessárias ao psiquismo humano.
Quando o aluno se depara com a variação terapêutica não se lembrará de argumentos autoritários, mas da mão que o guiou para a
melhor opção científica de tratamento.
Felizmente estamos assistindo a uma grande transformação na maneira de pensar clinicamente no Brasil, e apesar de algo atrasados
em relação aos países desenvolvidos, muito tem sido implementado na assistência terapêutica ao paciente, motivo porque gostaria de
parabenizar todos aqueles que estão se dedicando ao enorme trabalho de prover treinamento profissional, pesquisa e atendimento aos
pacientes com “acidente vascular cerebral” em nosso país. Os excelentes trabalhos sobre trombólise no AVC publicados aqui na Revista
Neurociências tem sido de grande utilidade para reflexões e ações de saúde neste importante campo epidemiológico e clínico que muito
onera nosso país e faz sofrer nossos cidadãos.
Gilmar Fernandes do Prado
Editor
Intervenções fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia: Atualização
Débora Fernandes de Melo Vitorino, Gilmar Fernandes do Prado ......................................................................................................152
Midazolan nasal no tratamento de crises convulsivas
Sueli Rizzutti, Lucila Bizari Fernandes do Prado, Gilmar Fernandes do Prado. ....................................................................................157
ARTIGOS ORIGINAIS
ARTIGOS DE REVISÃO
116Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
REVISTA NEUROCIÊNCIAS
Editor Chefe / Editor in chief
Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP
Co-editor / Co-editor
José Osmar Cardeal, MD, PhD, São Paulo, SP.
Editores Associados / Associate Editors
Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, São Paulo, SP
Esper Abrão Cavalheiro,MD, PhD, São Paulo, SP
Fernando Menezes Braga, MD, PhD, São Paulo, SP
Corpo Editorial / Editorial Board
Desordens do Movimento / Movement
Disorders
Chefe / Head
Henrique Ballalai Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP
Membros / Members
Francisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte,
MG
Sônia Maria Cézar de Azevedo Silva, MD, PhD,
São Paulo, SP
Egberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SP
Maria Sheila Guimarães Rocha, MD, PhD, São
Paulo, SP
Vanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SP
Roberto César Pereira do Prado, MD, PhD,
Aracajú, SE
Epilepsia / Epilepsy
Chefe / Head
Elza Márcia Targas Yacubian, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Américo Seike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo,
SP
Carlos José Reis de Campos, MD, PhD, São
Paulo, SP
Luiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SP
Alexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São
Paulo, SP
Margareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SP
Henrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SP
Neurophysiology
Chefe / Head
João AntonioMaciel Nóbrega, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Nádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, São
Paulo, SP
José Fábio Leopoldino, MD, Aracajú, SE
José Maurício Golfetto Yacozzill, MD, Ribeirão
Preto, SP
Francisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo, SP
Gilberto Mastrocola Manzano, MD, PhD, São Paulo, SP
Carmelinda Correia de Campos, MD, PhD, São
Paulo, SP
Reabilitação / Rehabilitation
Chefe / Head
Sissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SP
Membros / Members
Jefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR.
Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo,
SP
Ana Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, São
Paulo, SP
Carla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SP
Fátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond,
OK, USA
Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São
Paulo, SP
Luci Fuscaldi, PhD, Belo Horizonte, MG
Fátima Goulart, PhD, Belo Horizonte, MG
Odete Fátima Salles Durigon, PhD, São Paulo, SP
Distúrbios do Sono / Sleep Disorders
Chefe / Head
Lucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD,
São Paulo, SP
Membros / Members
Flávio Aloe, MD, São Paulo, SP
Stela Tavares, MD, São Paulo, SP
Dalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SP
Ademir Baptista Si lva, MD, PhD, São
Paulo, SP
Alice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SP
Luciane B. Coin de Carvalho, PhD, São
Paulo, SP
Maria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ES
Virna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SP
Geraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RS
Rosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SP
Robert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, SK,
Canadá
Sílvio Francisco, MD, São Paulo, SP
Doenças Cerebrovasculares /
Cerebrovascular Disease
Chefe / Head
Ayrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP.
Membros / Members
Aroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BA
Alexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SC
Carla Moro, MD, PhD, Joinvile, SC
Cesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SP
Charles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ
Gabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de
Janeiro, RJ
Jamary de Oliveira Filho, MD, PhD, Salvador,
BA
Jefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre, RS
Jorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio de
Janeiro, RJ
Márcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo, SP
Mauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RS
Rubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SP
Soraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, São
Paulo, SP
Viviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD,
Curitiba, PR
Oncologia / Oncology
Chefe / Head
Suzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, São
Paulo, SP.
Membros / Members
Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SP
Fernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo,
SP
Guilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SP
João N. Stavale, MD, PhD, São Paulo, SP
Doenças Neuromusculares / Neuromuscular
disease
Chefe / Head
Acary de Souza Bulle de Oliveira, MD, PhD,
São Paulo, SP
Membros / Members
Edimar Zanoteli, MD, PhD, São Paulo, SP
Elga Cr is t ina Almeida e Si lva, MD, PhD,
São Paulo, SP
Leandro Cor toni Cal ia , MD, PhD, São Pau-
lo, SP
Luciana de Souza Moura, MD, PhD, São
Paulo, SP
Laboratório e Neurociência Básica /
Laboratory and Basic Neuroscience
Chefe / Head
Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Beatriz Hitomi Kyomoto, MD, PhD, São
Paulo, SP
Célia Harumi Tengan, MD, PhD, São Paulo, SP
Maria José S. Fernandes, PhD, São Paulo, SP
Mariz Vainzof, PhD, São Paulo, SP
Iscia Lopes Cendes, PhD, Campinas, SP
Débora Amado Scerni, PhD, São Paulo, SP
João Pereira Leite, MD, PhD, Ribeirão Preto, SP
Luiz Eugênio A. M. Mello, MD, PhD, São
Paulo, SP
Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal
Fluid
Chefe / Head
João Baptista dos Reis Filho, MD, PhD, São Paulo,
SP.
Membros / Members
Leopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora,
MG
Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São
Paulo, SP
José Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RS
Ana Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SP
Neurologia do Comportamento / Behavioral
Neurology
Chefe / Head
Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD,
São Paulo, SP.
Membros / Members
Ivan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SP
Thais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SP
Rodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SP
Sônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SP
Neurocirurgia / Neurosurgery
Chefe / Head
Fernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP
Membros / Members
Mirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SP
Antonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD, São
Paulo, SP
Sérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SP
Oswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD,
São Paulo, SP
Orestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SP
Ítalo Capraro Suriano, MD, São Paulo, SP
Samuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SP
Neuroimunologia / Neuroimmunology
Chefe / Head
Enedina Maria Lobato, MD, PhD, São
Paulo, SP.
Membros / Members
Nilton Amorin de Souza, MD, São Paulo, SP
Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain,
Headache and Autonomic Function
Chefe / Head
Deusvenir de Souza Carvalho, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Angelo de Paola, MD, PhD, São Paulo, SP
Fátima Dumas Cintra, MD, São Paulo, SP
Paulo Hélio Monzillo, MD, São Paulo, SP
José Cláudio Marino, MD, São Paulo, SP
Marcelo Ken-It Hisatugo, MD, São Paulo, SP
Interdisciplinaridade e história da
Neurociência / Interdisciplinarity and History
of Neuroscience
Chefe / Head
Afonso Carlos Neves, MD, PhD, São Paulo, SP
Membros / Members
João Eduardo Coin de Carvalho, PhD, São
Paulo, SP
Flávio Rocha Brito Marques, MD, São Paulo, SP
Vinícius Fontanesi Blum, MD, São Paulo, SP
Rubens Baptista Júnior, MD, São Paulo, SP
Márcia Regina Barros da Silva, PhD, São Paulo, SP
Eleida Pereira de Camargo, São Paulo, SP
Dante Marcello Claramonte Gallian, PhD, São
Paulo, SP
Neuropediatria / Neuropediatrics
Chefe / Head
Luiz Celso Pereira Vilanova, MD, PhD, São
Paulo, SP
Membros / Members
Marcelo Gomes, São Paulo, SP
Coordenação editorial, criação, diagramação e produção gráfica: Atha Comunicação & Editora Rua Machado Bittencourt, 190 - 4º andar - conj. 410
CEP: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 5087-9502 - Fax: (11) 5579-5308 - email: 1atha@uol.com.br
Os pontos de vista, as visões e as opiniões políticas aqui emitidas, tanto pelos autores, quanto pelos anunciantes, são de responsabilidade
única e exclusiva de seus proponentes. Tiragem: 3.000 exemplares
117Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
Perfil dos pacientes acometidos por AVE
tratados na clínica escola de fisioterapia
da UMESP
Profile of the stroke patients treated in the clinical school of physical
therapy of the UMESP
RESUMO
 O objetivo deste estudo foi traçar o perfil clínico e funcional dos pacientes com diagnóstico de Acidente
Vascular Encefálico (AVE) atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP. Foi feito um estudo retrospectivo
em pacientes acometidos por AVE, realizado através de uma coleta de dados em prontuários de 109 pacientes
no período de fevereiro de 2001 a junho de 2003. A coleta de dados foi realizada por meio de um protocolo
previamente desenvolvido, abrangendo questões sócio-demográficas, clínicas, físicas e funcionais.
 O AVE é uma doença comum em todo mundo, por ser a principal causa de incapacidade neurológica em
adultos, podendo acometer a função dos membros, controle motor, equilíbrio, força e mobilidade. Apesar de
ocorrer uma maior recuperação motora e funcional nos primeiros três meses após o AVE, há evidência de que
o exercício terapêutico é efetivo mesmo em casos crônicos.
 O estudo demonstrou que a população atendida na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP é em sua
maioria composta de pacientes crônicos. Este fato acarreta uma permanência maior em terapia e dificulta ganhos
funcionais. Contudo pôde-se constatar melhora do quadro motor durante o tratamento, o que reforça a idéia de
que mesmo pacientes em fase crônica de AVE podem ter uma boa evolução em termos funcionais.
Unitermos: Hemiplegia, Acidente Vascular Cerebral, Fisioterapia, Resultados.
SUMMARY
 The purpose of this study was to plot a clinical and functional profile of stroke patients fulfilledat Clinical
School of Physical Therapy of the UMESP. This retrospective study was done by a collection of data in fiches of
109 patients, from February 2001 to July 2003. The collection of data was done with a questionnaire beforehand
developed with social-demographic, clinical, physic and functional questions.
 The stroke is an ordinary sickness all over the world and it is the main cause of neurological incapacity in
adults, it can causes problems in the function of the limbs, motor control, balance, strength and mobility. In spite
of to occur a great recovery an functional in the first three months after the stoke there is evidence that the
therapeutic exercise is effective even in chronic cases.
 This study showed that the population treated at Clinical School of Physical Therapy of the UMESP is the great
part formed by chronic patients. This fact cause a greater permanence in therapy and worse functional gains.
However, it could see improvement during the treatment. This fact reinforces the idea that even patients in chronic
stroke can have functional improvement.
Keywords: Hemiplegia, Stroke, Physical Therapy, Outcome.
Artigo Original
Rodrigues, José Erickson1; Sá,Márcia da Silva1; Alouche, Sandra Regina2.
Trabalho realizado: UMESP/UNIBAN
1 - Pós-Graduando do Curso de Fisioterapia em Neurologia da UMESP.
2 - Professora Doutora em Neurociências e Comportamento, Coordenadora da Pós-Graduação de Fisioterapia em Neurologia da
UMESP, Docente do Mestrado em Reabilitação Neuromotora da UNIBAN.
Endereço para correspondência: Márcia da Silva e Sá
Rua Otávio Mangabeira 48 Jardim Ana Maria - cep 09260-570 - Santo André - SP e-mail: marcia_s_sa@yahoo.com.br
Trabalho recebido em 06/07/2004. Aprovado em 01/09/2004.
118Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
INTRODUÇÃO
 O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma
doença comum e de grande impacto na saúde
pública em todo o mundo1,2,3 por ser a principal
causa de incapacidades neurológicas em
adultos4,5, acometendo a função das
extremidades de membros, controle motor,
equilíbrio, força e mobilidade 6, e devido aos
altos custos despendidos com o seu
tratamento agudo e a longo prazo 1.
 A incidência do AVE vem crescendo devido
ao aumento da expectativa de vida e pelas
mudanças no estilo de vida2,4. Estima-se que
na América do Sul isto seja mais evidente nas
próximas décadas pelos mesmos motivos.2
Saposnik, em estudo epidemiológico realizado
na América do Sul, constatou em sua
comunidade-base uma prevalência de AVE
que variava de 1.74 a 6.51 por 1000 habitantes
e taxas anuais da incidência de 0.35 a 1.83
por 1000 habitantes2.
 Apesar de ocorrer uma maior recuperação
motora e funcional nos primeiros três meses
após o AVE1,6,7 há evidências de que o exercício
terapêutico é efetivo mesmo em casos
crônicos6. Petrilli evidenciou em pacientes sub-
agudos que 87,1% dos pacientes tinham
recuperado a habilidade de marcha após 64
dias de reabilitação 1. Dean constatou em
pacientes com AVE crônico (1,3 anos em
média) que o grupo experimental obteve um
desempenho significativamente melhor, que o
grupo controle nos testes de caminhada de 6-
minutos, a velocidade na marcha, o step e no
teste de “levantar e andar”. Neste estudo os
exercícios foram realizados por 4 semanas,
supervisionado por fisioterapeutas, e essa
melhora foi mantida por dois meses após
cessado o treinamento5.
 Muitos estudos têm sido realizados sobre
o AVE com base no tratamento, avaliação,
prevenção, conseqüências a curto, médio e
longo prazo, fatores predisponentes e que tem
influência sobre estas conseqüências e no
tratamento global do paciente1-7. Porém, a
maioria dos dados clínicos atuais, sobre o AVE,
são conhecidos por meio de estudos norte-
americanos e europeus. Pouco tem sido
publicado nos países em desenvolvimento2.
 O objetivo desse estudo é traçar o perfil
clínico e funcional dos pacientes com
diagnóstico de AVE atendidos na clínica escola
de fisioterapia da UMESP, bem como a
evolução apresentada nestes aspectos
durante o período de atendimento
fisioterapêutico nesta clínica.
MATERIAL E MÉTODO
 Este é um estudo retrospectivo que envolve
coleta de dados em prontuários de 109
pacientes acometidos por AVE, atendidos na
Clínica Escola da UMESP no período de
fevereiro de 2001 a junho de 2003. Todos os
pacientes envolvidos já haviam sido
desligados do serviço. A coleta de dados foi
feita com base em um protocolo previamente
desenvolvido, o qual abrangia questões sócio-
demográficas, clínicas, físicas e funcionais.
Dentre as questões sócio-demográficas foram
coletados os dados referentes a gênero, idade
e motivo do desligamento do serviço. Nas
questões clínicas, verificou-se o tipo de AVE,
fatores de risco, tempo e freqüência de
tratamento, período icto-triagem, cognição
(mini-exame do estado mental)8 e alterações
de fala. Quanto aos aspectos físicos, verificou-
se o trofismo, tônus e sensibilidade do
hemicorpo acometido, paralisia facial,
hemicorpo acometido, predomínio e
deformidades. Os aspectos funcionais
englobaram a locomoção e transferências no
início da terapia, funções adquiridas e
realização de AVD´s no início e fim da terapia
por meio do índice de Barthel9.
 A análise estatística dos dados foi realizada
de forma descritiva simples, onde as variáveis
qualitativas foram apresentadas por meio de
freqüências relativas (percentuais) e de
freqüências absolutas (N) e as variáveis
quantitativas/numéricas por meio de médias,
desvios-padrão, mínimo e máximo.
119Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
 Os dados quantitativos obtidos no início e
no final do tratamento foram analisados
utilizando o Test-T de Student.
 Os cálculos e gráficos foram executados
com o auxílio do software Statistica® 5.0 for
Windows® e foi adotado um nível de
significância de 5%.
RESULTADOS
 Dos 109 prontuários analisados, 38 deles
não foram incluídos na pesquisa por abandono
da terapia logo após a avaliação inicial, ou
antes de completar um mês de tratamento. Os
71 pacientes incluídos na pesquisa foram
descritos em quatro aspectos que envolvem:
Questões sócio-demográficas; Questões
clínicas; Aspectos físicos e Aspectos
funcionais.
 Em relação aos aspectos sócio-
demográficos, a população estudada
englobou 43 (60,56%) homens e 28 (39,44%)
mulheres (Tabela1); cuja faixa etária foi de 64
±13,1 anos. O motivo de desligamento
apresentado ao final do atendimento envolveu:
28 (40%) indivíduos abandonaram o
tratamento, 9 (14%) atingiram os objetivos
estipulados, 5 (7%) pacientes que foram
considerados de manutenção, 4 (6%)
mudaram de cidade, 4 (6%) foram à Óbito, 3
(4%) apresentavam Hipertensão Arterial
Sistêmica (HAS) sem controle, 2 (3%)
apresentavam alteração de comportamento,
2 (3%) por problemas familiares, 2 (3%) por
internação hospitalar, 2 (3%) por problemas
com transporte,1 (1%) foi admitido em um
emprego, 1 (1%) por dificuldade financeira, 1
(1%) por fratura de úmero, e 1 (1%) para
realização de exames, 6 (8%) casos não foram
relatados.
 Em relação às questões clínicas foram
avaliados os tipos de AVE, os fatores de risco
e aspectos relacionados ao tratamento.
Quanto ao tipo de AVE, 49 (70%) AVE
Isquêmico, 10 (14%) tiveram diagnóstico de
AVE Hemorrágico (Tabela.1), 1 (1%) AVE
Isquêmico para Hemorrágico e 11 (15%) não
relatados. Quanto aos fatores de risco 45
(63,38%) tinham hipertensão arterial sistêmica
(HAS), 38 (54%) pacientes eram tabagistas, 22
(30,99%) tinham diabetes, 12 (17%) eram
etilistas, 9 (12,68%) doenças cardíacas, 6
(8,45%) Hipercolesterolemia , 3 (4,22%) à
Doença Ateromatosa, 1 (1,41%) à Aneurisma,
1 (1,41%) à Hipotiroidismo, 9 (12,68%) negam
e 8 (11,27%) não relatados. A média de tempo
de tratamento foi de 4 meses, e 56 (79%)
pacientes faziam tratamento 2 vezes por
semanae 15 (21%) pacientes 3 vezes por
semana. O período icto-triagem médio foi de
21,25 meses, porém não haviam relatos sobre
este período nos prontuários de 6 pacientes.
Quanto a Cognição (mini exame do estado
mental) o escore possível no exame é de 30
pontos. Considera-se que de 28 a 30 pontos
não há alteração da cognição, e abaixo de 24
pontos há comprometimento cognitivo (8). Na
população estudada, 25 (35,5%) pacientes
tiveram o índice <24 pontos, 8 (11%) pacientes
25-27 pontos, e 13 (18%) pacientes >28
pontos. Os 25 (35,5%) pacientes restantes não
foram submetidos a essa avaliação. Quanto
às alterações de fala, 5 (7%) pacientes tinham
afasia de expressão, 1 (1%) afasia mista, 3 (4%)
apresentavam afasia não discriminada, 9
(13%) disartria, 15 (21%) sem alteração e 38
(54%) não relatados.
 Nos aspectos físicos verificou-se que 39
(56%) pacientes apresentavam hipotrofismo
hemicorpo acometido, 20 (28%) pacientes
apresentavam-se o normotróficos, e 1 (1%)
hipertrófico e 11 (15%) não relatados. O tônus
do hemicorpo acometido apresentava-se
reduzido em 22 (31%) pacientes, 9 (13%) eram
normotônicos, 35 (49%) hipertônicos e 5 (7%)
não relatados. A sensibilidade do hemicorpo
estava ausente em 4 (6%) pacientes, em 20
(28%) encontrava-se alterado, em 39 (53%)
sem alteração e em 9 (13%) não relatados. 8
(11%) pacientes apresentaram paralisia facial,
43 (61%) não e 20 (28%) não relatados. 38
(54%)pacientes apresentaram o hemicorpo
direito acometido (Tabela1), 30 (42%) o
hemicorpo esquerdo (Tabela1), 1 (1%) paciente
apresentava dupla hemiparesia e 2 (3%) não
120Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
relatados; quanto ao predomínio 26 (37%)
braquial, 10 (14%) crural e 35 (49%) não
relatados. As deformidades foram detectadas
em 12 (17%) pacientes, 40 (56%) não
apresentavam e 19 (27%) pacientes não
relatados.
 Quanto aos aspectos funcionais foram
incluídos: a locomoção, sendo que no início
da terapia 20 (28%) apresentavam
deambulação independente, 12 (17%)
deambulavam com auxílio de bengala ou
muleta, 14 (20%) com ajuda de acompanhante,
22 (31%) eram cadeirantes dependentes e 3
(4%) cadeirantes independentes. Quanto às
transferências posturais no início da terapia 43
(31%) pacientes rolavam, 39 (29%) passavam
de decúbito dorsal para sentado, 28 (21%)
passavam de sentado para em pé, 15 (11%)
não realizavam transferências e 11 (8%) não
relatados. As funções adquiridas durante o
tratamento, e a realização de atividades de vida
diária (AVD´s) foram avaliados através do
Índice de Barthel, no início e fim de terapia.
Foi constatado que no início do tratamento 56
(78,87%) pacientes foram submetidos á
avaliação pelo Índice de Barthel, destes,
apenas 17 (23,94%) pacientes foram
submetidos a uma segunda avaliação do
Índice de Barthel no final do tratamento.
Contudo estes indivíduos que foram
submetidos a uma avaliação inicial e outra final,
foi observada uma melhora significativa
(p<0,001) da avaliação inicial (12,4±4,8) para
a avaliação final (16,9±2,9) como demonstra
a (Figura 1).
 Em relação aos ganhos funcionais, 1 (1%)
paciente relatou melhora da dor que sentia em
membro inferior direito, 1 (1%) melhorou a
mobilidade de ombro, 1 (1%) paciente atingiu
os objetivos do tratamento, 2 (2%) melhoraram
a força, 2 (2%) conseguiram o movimento de
hemiface, 3 (3%) adquiriram habilidades
manuais, 3 (3%) conseguiram independência
nas AVDs, 1 (1%) passou a vestir-se
independentemente, 16 (18%) obtiveram
melhora no Índice de Barthel, 2 (2%)
conseguiram rolar, 3 (3%) conseguiram passar
de decúbito dorsal para sentado, 2 (2%)
pacientes conseguiram passar de sentado
para em pé, 1 (1%) passou a fazer transferência
da cadeira de rodas para o tablado, 3 (3%)
adquiriram o controle de tronco, 2 (2%)
conseguiram realizar a transferência de peso,
1 (1%) adquiriu equilíbrio estático, 2 (2%)
adquiriram o equilíbrio na marcha, 4 (5%)
conseguiram a melhora da marcha, 3 (3%)
andar com auxílio, 8 (9%) atingiram a marcha
independente, 1 (1%) passou a subir escadas.
Em 26 (30%) não foi detectado algum ganho
funcional.
DISCUSSÃO
 A população com AVE tem sido
caracterizada na literatura como sendo mais
freqüente no gênero masculino6, 10-14 e na faixa
etária de 60 a 74 anos em média1- 4, 6, 7, 11-15. A
população utilizada neste estudo apresenta
características semelhantes à apresentada na
literatura, sendo maior a proporção de homens
que de mulheres e com uma média de idade
de 64 anos.
Figura 1 – Comparação dos escores do Índice de
Barthel obtidos no início e no final do tratamento dos
pacientes (n:17).
Tabela 1 – Características da população estudada (n=71)
121Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
 Em relação ao tipo de AVE encontrado nesta
população a predominância foi de AVE isquêmico
atingindo 70% dos indivíduos concordando com
a literatura que aponta uma maior freqüência de
AVE isquêmico em relação ao hemorrágico1, 2, 6, 11,
16. Dentre os fatores de risco encontramos uma
grande incidência, em ordem decrescente, de
HAS, tabagismo, diabetes, etilismo, doenças
cardíacas, hipercolesterolemia, doença
ateromatosa, aneurisma e hipotireoidismo. Estes
fatores de risco têm sido apontados na literatura
como facilitadores da ocorrência de AVE1, 3, 4, 6, 7, 11, 13, 16.
A média de tempo de tratamento na população
estudada, de 4 meses, encontrada foi baixa em
relação a outro estudo realizado em São Paulo,
que encontrou um período médio de 10,8 meses
de tratamento10. Outros realizados fora do Brasil
relatam que o período de tratamento estava em
torno de 2 a 3 meses1, 7, 15. Analisando o período
icto-triagem foi verificado que a nossa população
é composta de pacientes bastante crônicos
comparados com aqueles encontrados em alguns
estudos1, 7, 15, porém, esse longo período entre a
lesão e admissão em um serviço de reabilitação
parece ser comum em nossa realidade como
mostra o estudo realizado por Bruno em São
Paulo10. Isto pode ser explicado pela dificuldade
em encontrar vagas nos serviços de fisioterapia
que atendem a população carente devido as
grandes filas de espera.
 Dentre os indivíduos avaliados através do Mini-
Exame do Estado Mental 8 (64,5%), a grande
maioria teve índice abaixo de 24 pontos, mas isto
pode ter sido agravado pelos baixos níveis de
educação em nossos pacientes. No estudo
realizado por Özdemir, comparando o estado
cognitivo com os ganhos funcionais em pacientes
pós AVE, foi visto que as desordens cognitivas
representavam um fator de grande influência nos
resultados funcionais na reabilitação15. Em nosso
estudo não foi possível fazer a relação entre essas
questões.
 Quanto às alterações da fala foi visto que um
quarto dos pacientes estudados apresentavam
algum distúrbio, não sendo raro neste tipo de
paciente1, 4, 7, 17. A disartria foi o mais freqüente e
dentre as afasias, a de expressão foi a mais
relatada, porém percebemos que essas questões
não estavam claras nos prontuários, pois havia
relatos de afasia sem especificação do tipo e
pacientes com paralisia facial sem relatos de
disartria, o que é bastante incomum devido ao
acometimento de músculos fonatórios, diante
disso podemos afirmar que esses dados podem
ser errôneos.
 O hemicorpo mais freqüentemente acometido
em nossa população foi o direito, contudo isso não
parece ser relevante como fator prognóstico, pois
a literatura mostra variações nesta frequência1, 4, 6,
7, 15. Com relação ao tônus e o trofismo vimos que
a maioria seguiu um padrão de AVE crônico
apresentado na literatura, que relata uma evolução
com hipertonia e hipotrofia do hemicorpo
acometido18,19. A maioria dos pacientes não
apresentava nenhuma alteração de sensibilidade
do hemicorpo acometido, porém 30% deles
apresentavam, mas os relatos em prontuários
deixavam muitas dúvidas sobre quais os tipos de
alteração e se realmenteestava relacionada à
sensibilidade ou a presença de heminegligência.
Os relatos sobre o predomínio do acometimento
segmentar corporal mostraram que a maioria foi
braquial, entretanto esta era uma questão subjetiva
na ficha de avaliação do paciente, e por isso a
maioria dos prontuários não apresentava este
dado. Grande parte dos pacientes (76% dentre os
relatados) não apresentava deformidades de
membros e isto é um dado positivo diante da
cronicidade da nossa população e do grande
espaço de tempo entre a lesão e o início da terapia.
 Através do Índice de Barthel 9 foram avaliados
os ganhos funcionais nas AVDs e foi observada
uma melhora significativa entre a avaliação inicial
e a final. No entanto apenas 23,94% dos
prontuários dos pacientes continham essa
informação. Outros ganhos funcionais foram
detectados através da observação das evoluções
em prontuários, tais como: aquisição/melhora da
marcha, aquisição de transferências posturais,
independência nas AVDs e habilidades manuais.
Entretanto esses ganhos não puderam ser
quantificados estatisticamente por não ter sido
utilizado um índice de avaliação, sendo realizada
apenas a porcentagem na população.
 Analisando os motivos do desligamento, foi
encontrada uma grande incidência de abandono
sem justificativa, isso pode ser justificado por se
tratar de uma clínica escola que tem uma
rotatividade grande de alunos e o paciente só fica
um mês com cada um, tornando difícil o vínculo
com a terapia. Outros indivíduos foram desligados
por serem considerados pacientes de
manutenção, ou seja, pacientes que não
apresentavam melhora funcional. Por se tratar de
uma clínica escola onde há necessidade de
rotatividade devido à grande fila de espera, este
122Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
desligamento torna-se justificável. A HAS sem
controle foi um problema bastante freqüente no
nosso serviço, já que a maioria dos pacientes
apresenta HAS e muitos dependem do serviço
público para fazerem um acompanhamento eficaz
e conseguirem o medicamento. Os outros motivos
para o desligamento do serviço foram mudança
de cidade, óbito, alterações de comportamento,
problemas familiares, internação hospitalar,
problemas com transporte, dificuldades
financeiras, fratura de úmero, realização de
exames, e um último que arrumou um emprego, o
que merece destaque, visto representar a
reinserção do indivíduo no mercado de trabalho.
 Um dado importante a ser considerado é a alta
incidência de ausência de informação constatada
neste levantamento de prontuário. Neste caso
podemos salientar dois pontos. Este estudo foi
desenvolvido com base no preenchimento de
prontuários de uma clínica-escola. A pouca
experiência dos terapeutas que realizam as
avaliações pode ser um fator determinante para a
escassez de dados. Outro ponto, é a utilização
de questões dissertativas e subjetivas integrantes
do protocolo de avaliação, adotadas por questões
didáticas, mas que dificultam uma coleta objetiva
de dados para pesquisas similares à presente.
CONCLUSÃO
 Este estudo demonstra que a população
atendida na Clínica Escola de Fisioterapia da
UMESP é em sua maioria composta de pacientes
crônicos. Este fato acarreta uma permanência
maior em terapia e dificulta os ganhos funcionais.
Questões sociais influenciam o prognóstico e o
resultado da terapia e levam ao abandono
freqüente do tratamento, fato não discutido na
literatura internacional. Contudo pôde-se constatar
melhoras durante o tratamento, o que reforça a
idéia de que mesmo os pacientes em fase crônica
de AVE podem vir a ter melhorias na função.5, 20, 21
 Protocolos de avaliação com questões
objetivas que avaliem e quantifiquem melhor as
características clínicas e os ganhos funcionais dos
pacientes são necessários a fim de que a
continuidade do tratamento seja garantida e para
que pesquisas específicas para determinados
procedimentos terapêuticos possam ser
elaborados e a otimização do atendimento ao
paciente conquistada.
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123Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
Alcidézio Luís Sales de Barros1, Erideise Gurgel da Costa Silveira2, Roberta Cristiny Medeiros
de Souza3, Lorena Canto de Freitas4,
Artigo Original
Uma análise do comprometimento da fala em
portadores de doença de Parkinson
Analisys of speech problems in Parkinson´s disease patients
Trabalho desenvolvido no Departamento de Psicologia e Fonoaudiologia da UNICAP - Fonte de auxílio: PIBIC / UNICAP - Área de trabalho: Fonoaudiologia
1 - Médico Neurologista. Mestre em Fonoaudiologia pela PUC de São Paulo. Profº Adjunto da Graduação em Fonoaudiologia da Universidade Católica de
Pernambuco (UNICAP).
2-Médica Doutora em Otorrinolaringologia pela USP. Profª. Adjunta da Graduação em Fonoaudiologia e do Mestrado em Ciências da Linguagem da
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
3 - Estudante de Fonoaudiologia da UNICAP e Coord. De Ações Políticas de Saúde da DENEFONO (Diretoria Executiva Nacional de Estudantes de
Fonoaudiologia).
4 - Estudante de Fonoaudiologia da UNICAP.
RESUMO
1. Contexto. Os distúrbios clínicos primários encontrados na D.P são: tremor, rigidez, bradicinesia
e instabilidade postural. A rigidez é caracterizada por aumento no tônus muscular em todo corpo, e a
bradicinesia por pobreza na movimentação, o que leva a uma hipomimia facial. Estes são os dois
principais sinais que ocasionam alterações nos órgãos responsáveis pela articulação da fala, causando
alterações na emissão dos fonemas /s/ e /l/ e incoordenação nos movimentos da cavidade oral. 2.
Objetivos. A presente pesquisa objetiva analisar a fala, enquanto processo articulatório em sujeitos
com Doença de Parkinson (D.P). 3. Material e Método. Foram realizadas entrevistas, avaliações e
terapia fonoaudiológica em seis pacientes que se encontravam em estágio inicial da doença. 4.
Resultados/Conclusões. Com os dados obtidos, foi possível analisar e concluir que o tratamento
precoce em sujeitos em estágio inicial possibilita a atenuação das alterações da articulação da fala,
que compromete a inteligibilidade da mesma, proporcionando uma melhor qualidade de vida.
UNITERMOS
Doença de Parkinson, Articulação da fala, Tratamento precoce, Qualidade de vida.
SUMMARY
1. Background. The primary clinical disturbances found in P.D. are: tremor, rigidity, bradykinesia and
postural instability. The rigidity is characterized by increase in the muscular tonus in entire body, and
bradykinesia for motion deficiency. These are two main signs that cause alterations in the emission of
the phonemes /s / and /l / and incoordination in the movements of the oral cavity. 2. Objectives. This
research purpose to analyze the speech, concern to articulation process in people with Parkinson’s
Disease (P.D.). 3. Material and Methods. Interviews, evaluations and phonological therapy were
accomplished in six people that were in initial stage of the disease. 4. Results and Conclusions. According
to obtained data, it was possible to analyze and to conclude that the precocious treatment in people in
initial stage makes possible to reduce alterations of the articulation of the speech, providing speech’s
intelligibility, resulting a better life quality.
KEYWORDS
Parkinson’s disease, Articulation of speech, Early intervention, Quality of life.
Endereço para correspondência: Roberta Cristiny Medeiros de Souza - Rua Estrada do Arraial, 2405 / 1401 - Tamarineira, Recife-PE Cep: 52051380 -
E-mail: betamedeiros@yahoo.com.br - E-mail: alcidezo@hotlink.com.br
Trabalho recebido em 06/07/2004. Aprovado em 01/09/2004.
124Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a
articulação da fala, enquanto processo
articulatório, em pacientes portadores de Doença
de Parkinson. Para este fim, faz-se necessário
proceder a uma revisão histórica sobre a patologia
em questão. A Doença de Parkinson (D.P), foi
descrita originalmente por James Parkinson, em
1817, em seu trabalho clássico “An say on the
shaking palsy”.¹ Em homenagem à descrição
inicial, esta recebeu a denominação de Doença
de Parkinson. Geralmente o diagnóstico é
realizado a partir dos 60 anos, em ambos os sexos
e de diferentes classes sociais². A etiologia da D.P
permanece obscura, é considerada uma doença
degenerativa do Sistema Nervoso. Autores relatam
que existe uma lesão na substância negra do
mesencéfalo o que leva a uma diminuição da
dopamina, a qual exerce função inibidora
importante no controle central dos movimentos3,4.
Dentre os distúrbios clínicos encontrados nos
portadores de Doença de Parkinson, encontram-
se: tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade
postural5. A rigidez é caracterizada por aumento
no tônus muscular desencadeado durante o
movimento passivo6. E a bradicinesia se exterioriza
por uma pobreza na movimentação, acarretando
uma expressão facial em “máscara”. A disartria
pode ser definida como uma alteração da
expressão oral causado por um acometimento no
controle muscular dos mecanismos da fala7.
Na presente pesquisa, observo as alterações
da fala, do ponto de vista articulatório, englobando
os aspectos oromiofuncionais responsáveis pela
adequada articulação dos sons da mesma.
Desordem de fala é freqüente na doença de
Parkinson e tem um impacto significativo na
qualidade de vida destes sujeitos8.
“Anormalidades na articulação foram atribuídas
ao decréscimo nos limites da variação, na
velocidade, na força do movimento, o que é
atribuído à rigidez e á bradicinesia associadas
com o distúrbio”9.
A característica predominante na hipocinesia
refere-se a marca limitação do âmbito de
movimentos da musculatura dos mecanismos da
fala5. Isso se explica à danificação das células da
substância negra que produzem a dopamina
acarretando insuficiência dos movimentos, que
por sua vez ficam incoordenados e lentos5.
As características mais citadas na literatura
fonoaudiológica a respeito da fala, enquanto
processo articulatório (movimentos dos órgãos
como: língua, lábios, dentes, bochechas,
mandíbula, palato duro, palato mole e úvula), diz
respeito à limitação no âmbito dos movimentos
da musculatura dos mecanismos da articulação
da fala, diminuição ou aumento da velocidade da
mesma, redução da inteligibil idade de
conversação, da habilidade de elevar e realizar
movimentos coordenados com a língua durante a
fala5. O tremor ao atingir a face altera a mobilidade
e a motricidade dos lábios, mento e língua10,11. Há
autores que relatam que há repetição, omissão,
substituição ou distorção das sílabas, fricativas,
sendo substituídas por explosivas, distorções de
vogais e de consoantes manifestadas pela
substituição de classes diferentes de fonemas9.
É relatado que os portadores de Doença de
Parkinson apresentam prejuízos na articulação,
como: consoantes imprecisas, divergência de
qualidade vocal e que, através da análise
eletromiografica, estes sujeitos apresentam
movimentos articulatórios reduzidos e
coordenação imprópria dos músculo agonistas e
antagonistas¹². O portador de Doença de
Parkinson apresenta uma língua rígida e
preguiçosa, apresentando grandes dificuldades
de deslocamento ativo, e que, quando realiza, o
faz com lentidão. O que reflete numa fala lenta,
fraca, parcimoniosa e sobretudo monótona14.
Várias pesquisas vêm sendo realizadas em
portadores de Doença de Parkinson com objetivo
de conhecer melhor as dificuldades articulatórias,
entretanto, não se leva em consideração o estágio
de comprometimento que o portador se encontra,
e que estas dificuldades são devido às
perturbações articulatórias.
Vale salientar que, na literatura, estas
características não possuem demarcações quanto
às alterações existentes em cada estágio de
comprometimento, por esta razão, foram
observados e analisados qualitativamente os
comprometimentos dafala, no estágio inicial da
patologia. Devido ao acometimento na articulação
da fala nos portadores de D.P, busca-se analisar
as queixas mais freqüentes relacionadas à fala,
identificar quais os distúrbios fonéticos mais
freqüentes, avaliar os distúrbios da articulação de
fonemas, apresentar uma proposta de avaliação
125Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
e tratamento das disartrofonias, baseadas em
propostas anteriores e esclarecer a importância
do diagnóstico precoce dos distúrbios da fala, a
fim de que o médico encaminhe estes pacientes
ao fonoaudiólogo, com objetivo de tratá–los e, com
isso, obter um melhor prognóstico das funções
perturbadas que serão traduzidas de forma
positiva na sociabilidade e na qualidade de vida.
METODOLOGIA
Este estudo foi aprovado pela Comissão de
Ética do Real Hospital Português localizado na
cidade do Recife, na reunião ordinária do dia 02
de outubro de 2002, quando todos os membros
presentes foram unânimes em dizer que este
trabalho não oferece nenhuma ofensa a quaisquer
dos artigos do Código de Ética, particularmente,
os de nº 122 a 130, Capítulo XII, que trata
especificamente da pesquisa em Medicina,
devendo apenas obter o termo de consentimento
dos pacientes que participam da pesquisa.
PACIENTES
Participaram desta pesquisa seis pacientes
portadores de Doença de Parkinson, que se
encontravam em estágio inicial da patologia, de
ambos os sexos, sendo 4 homens e 2 mulheres,
com idades entre 51 e 60, na Clínica do orientador
da pesquisa em Recife, no estado de Pernambuco.
MATERIAIS
Foram utilizados na presente pesquisa: carta de
informação; termo de compromisso; roteiro de
entrevista inicial semi-estruturado; roteiro de
avaliação semi-estruturado; roteiro de terapia
miofuncional oral; espátula; luva cirúrgica latex; fonte
luminosa; gravador; fita cassete; filmadora; fita VHS;
álbum articulatório; livros; revistas e jornais.
MÉTODOS
A presente pesquisa foi realizada e embasada
sob os princípios do método indutivo, pois parte
do particular para a generalização como produto
dos dados coletados. A indução realiza – se em
três etapas: Primeiro observa-se o fenômeno e os
analisa, com a finalidade de descobrir as causas
de sua manifestação, depois, descobre-se à
relação entre elas, e, por último, chega-se a uma
classificação, produto da generalização da relação
observada.
Em relação aos métodos de procedimentos,
estes englobam etapas mais concretas da
investigação, com finalidade mais restrita em termo
de explicação geral dos fenômenos e menos
abstratos. Para a análise da presente pesquisa,
os fatos foram observados, através de um
procedimento experimental e monográfico, de
forma longitudinal por seis meses, na qual
consistiu em investigar, avaliar e analisar seis
pacientes em estágio inicial de Doença de
Parkinson, com objetivo de obter generalizações
sobra sua natureza, partindo do princípio de que
qualquer caso que se estude em profundidade
pode ser considerado representativo de muitos
outros ou até de todos os casos semelhantes.
PROCEDIMENTOS
Participaram desta pesquisa seis pacientes
portadores de Doença de Parkinson, que se
encontravam em estágio inicial da patologia, de
ambos os sexos.
Inicialmente, na presente pesquisa, foram
entrevistados 30 sujeitos com Doença de
Parkinson, de ambos os sexos, na clínica do
orientador da pesquisa, neurologista Alcidezio Luiz
Sales de Barros. Foi usado como critério de
inclusão, pacientes que não relatassem queixas
subjetivas relacionadas à fala, uma vez que
queríamos investigar as alterações existentes no
início da patologia. Esta foi verificada após
aplicação de um roteiro de entrevista semi-
estruturada.
A articulação da fala foi avaliada e analisada
através de diálogos espontâneos, observações da
musculatura, palpações e exercícios isométricos
(avalia a tonicidade da musculatura), isocinéticos
(avalia a forca da musculatura) e isotônicos(avalia
mobilidade muscular) sistemáticos, no intuito de
verificar o estado da musculatura dos órgãos
envolvidos na produção da fala. Para este
procedimento, foram util izados materiais
descartáveis como luva cirúrgica e espátula. A
avaliação tinha duração de 1 hora ocorrendo 3
vezes por semana, gravada em fita k-7 e filmados
em fita VHS, após assinatura da carta de
informação e termo de consentimento. Com o
objetivo de observar as alterações fonéticas
126Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
existentes, foram realizadas conversas
espontâneas, leituras de livros, revistas e jornais
e álbum articulatório, com todos os fonemas da
língua portuguesa brasileira, além de nomeação
de palavras. Com este procedimento, foi possível
realizar, de forma efetiva, a transcrição fonética dos
dados obtidos, no intuito de realizar a análise
fonética da fala e identificar as alterações fonéticas
existentes no início da patologia.
As terapias miofuncionais orais eram realizadas
3 vezes por semana com duração, aproxi-
madamente de 2:00 horas, na residência dos
participantes da pesquisa, na qual eram utilizados
os mesmos exercícios isométricos, isotônicos e
isocinéticos, aplicados para verificar a tonicidade
da musculatura facial e intra – oral. Também foram
aplicados estímulos térmicos e massagens
manuais relaxantes em pontos motores da face
no intuito de observar e analisar se os
comprometimentos existentes poderiam ser
atenuados, de acordo com o resultado das
terapias miofuncionais orais.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com as observações empíricas
realizadas, foi possível submeter os sujeitos
participantes da pesquisa à avaliação e terapia
fonoterápica, foi possível verificar as queixas mais
freqüentes se referem à velocidade, que é mais
lenta, mais pausada; rigidez muscular da língua e
bochechas, articulação travada e fala trêmula.
Estas queixas foram relatadas empiricamente por
todos os entrevistados.
A lentidão ao falar reflete a própria dificuldade
em movimentar os órgãos periféricos da fala,
devido à presença da rigidez e de bradicinesia
associado com o distúrbio9, com hipocinesia dos
órgãos periféricos da fala traduzida pela marcada
limitação do âmbito de movimentos da
musculatura dos movimentos da fala10. Esta rigidez
associada a bradicinesia acarreta um padrão
postural muscular alterado, mais retraído onde há
deterioração do ajustamento dos músculos
antagonistas10. Este fato é uma conseqüência do
dano das células da substancia negra que
produzem o neurotransmissor denominado de
dopamina4, 5, 7,1³, 14, 15.
Como existe uma pobre atuação no corpo
estriado, responsável pelos movimentos
involuntários, há uma alteração na tonicidade dos
músculos fazendo com que fiquem mais rígidos e
de difícil controle, com lentidão dos movimentos,
sobressaindo a atuação dos movimentos
involuntários4, por isso a queixa da rigidez, fala
partida, articulação travada e velocidade lenta.
De acordo com estas alterações, podemos
observar que, no início da instalação da doença,
os músculos extra e intra - orais responsáveis pela
articulação dos fonemas se encontram
acometidos nos âmbitos da postura, tonicidade e
mobilidade.
Para manifestar este achado, foi possível
verificar que todos os músculos da face
responsável pela articulação da fala, em estado
estático, se encontrava rígidos com exceção do
músculo mentual, responsável pela elevação do
lábio inferior e auxilio na protrusão e eversão dos
mesmos¹5 em três dos seis casos não se
apresentava tão rígido quanto os demais, assim
como o masseter, responsável pela elevação da
mandíbula, em quatro dos dois casos em estado
estático.
Estes dados mais detalhados quanto às
alterações de cada músculo que compõe a mímica
facial responsável pela articulação da fala, não
foram encontrados na literatura revisada, sabe-se
que apenas que há uma rigidez global
desencadeado durante o movimento passivo,
através daamplitude dos movimentos6. Esta
rigidez observada nos sujeitos da pesquisa é uma
conseqüência de uma resistência do estiramento
que se apresenta em todas as direções dos
movimentos do corpo e dos articuladores,
realizados pelos músculos agonistas e
antagonistas 8 .
Os músculos extra - orais, em estado dinâmico
ou em movimento, apresentaram – se, em todos
os casos, rígidos, principalmente o músculo
orbicular da boca, sendo mais evidente a região
superior. Os outros músculos da face como:
temporal, palpebral, prócero, nasal e triangular
apresentavam um estado considerado normal
para a idade cronológica e para a instalação da
patologia.
Como as bochechas são estruturas móveis e
contribuem para a expressão facial, abertura e
oclusão de boca alterando a ressonância da voz.
Alterações nesta influencia diretamente nos lábios,
pois os músculos da bochecha são intrinse-
camente relacionadas com os lábios.
127Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
Como mencionado anteriormente, as
bochechas apresentavam – se rígidas, porém com
expressões ainda visíveis ao demonstrar emoções
no momento das interações dialógicas,
assimétricas, onde a tonicidade era maior no lado
direito em 4 dos 6 casos.
Neste aspecto, ao considerar que a mastigação
lateral direita exerce grande influência na
tonicidade da musculatura, foi necessário observar
o tipo mastigatório, que em todos os casos era
considerado normal, apesar de haver ausência de
alguns elementos dentários que não influenciaram
na movimentação adequada do bolo alimentar, por
isso, foi descartada a hipótese de que esta simetria
teria ligação com a função da mastigação.
Entretanto, como a própria rigidez muscular,
que afeta os músculos dos sujeitos, influência na
postura corporal e nos órgãos fono-articulatórios,
o que significa um déficit na colocação, pressão e
integração dos movimentos da articulação da fala.
No que diz respeito à cavidade intra-oral, os
órgãos responsáveis pela articulação dos fonemas
encontraram-se com a tonicidade, postura e
mobilidade alteradas, devido á rigidez dos
mesmos, tanto em estado estático como dinâmico,
refletindo as próprias condições musculares
globais, porém de forma mais sutil, menos
incapacitante e evidente.
A língua, em todos os sujeitos da pesquisa,
encontrava-se bastante comprometida, no sentido
de apresentar-se mais rígida em todos os casos,
mais retraída, com hipocinesia e incoordenação
nos movimentos apresentando resistência ao
movimento passivo em toda extensão 1,5. O
músculo longitudinal inferior (encurta a língua ou
empurra o ápice para baixo), transversos (acarreta
o esteritamento e alongamento da mesma),
estiloglosso (sua contração direciona a língua para
cima e para trás e é considerado antagonista do
músculo genioglosso) e genioglosso (é o mais
forte dos músculos e possui a faculdade de retrair,
abaixa e elevar a língua para a porção anterior) se
encontravam mais comprometidos, pois os
movimentos mais alterados eram o de encurtar a
língua, elevar o ápice ou ponta da mesma ao
palato, além de estreitar e alongar a língua, o que
ocasionava sutis substituições de fonemas /l/ e /
s/, as quais posteriormente, serão abordadas.
Esta análise não foi confrontada com a literatura
fonoaudiológica, mas faz-se necessário referir, pois
as alterações fonéticas encontradas no estágio
inicial da patologia estudada.
A redução na amplitude dos movimentos pode
ser atribuída a falha no mecanismo de contração
e relaxamento recíproco entre os músculos anta-
gonistas e agonistas7, extensão15,16.
Com relação aos lábios, estes se encontravam
rígidos e ocluídos encurtados superiormente. Tam-
bém foram observados redução na amplitude dos
movimentos5, 16. O superior é o mais rígido, porém
o inferior é o mais hipocinético, mais móvel, rápi-
do e depende dos movimentos mandibulares, os
quais se encontram acometidos17.
Como mencionado anteriormente, os múscu-
los faciais que revestem as bochechas e inserem-
se nos lábios são formados por músculos trans-
versos, angulares e verticais, cada grupo de ,mús-
culos desempenham uma função diferente e ao
observar, avaliar e analisar a movimentação dos
lábios, constatamos que estes se encontravam su-
tilmente comprometidos, no sentido de se apre-
sentarem mais rígidos dificultando na movimen-
tação, acarretando pouca força na emissão dos
fonemas bilabiais havendo a presença de
bradicinesia.
Os músculos sutilmente comprometidos são:
mentual em três dos seis casos, que origina-se
na base do lábio inferior. Este levanta o lábio infe-
rior e auxilia na protrusão e eversão; o depressor
do ângulo da boca em todos os casos se origina
na linha oblíqua da mandíbula e insere-se no mús-
culo orbicular da boca, no ângulo da boca e lábio
inferior15. O músculo orbicular da boca dirige o lá-
bio superior para baixo contra o inferior; o
zigomático maior que realiza o movimento de ele-
var o ângulo da boca, como ocorre ao sorrir;
depressor do lábio inferior que leva o lábio inferior
para baixo e para a lateral, importantes nos exer-
cícios de vibração e lateralização de lábios; o
músculo levantador do ângulo da boca, no qual
sua contração leva o ângulo da boca para cima e
auxilia no fechamento da boca direcionado o lá-
bio superior para cima e, por fim, o músculo risório
que retrai o canto da boca.
Todos os exercícios solicitados e trabalhados
na terapia fonoaudiológica exigem um bom funci-
onamento e um adequado equilíbrio muscular,
com força e intensidade suficiente para a realiza-
ção dos mesmos. Como esta musculatura se en-
contra hipofuncionante, devido á rigidez e a
128Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
bradicinesia, os exercícios que exigem mais mo-
vimentação não são realizados com facilidade. A
lateralização, apesar de não exigir tanta mobilida-
de, exige que exista um tônus equilibrado, onde
nos casos observados, verificou-se uma rigidez
intensa na musculatura peri-oral com presença de
sincinesias (realização de um movimento
involuntário associado ao voluntário), devido ao
esforço exagerado para a realização do exercício
solicitado.
É de suma importância evidenciar que em to-
dos os momentos, os portadores de (D.P), apre-
sentaram tensão exacerbada da região cervical e
cintura escapular, principalmente ao realizar os
exercícios isotônicos (verifica a mobilidade),
isométricos (verifica a tonicidade) e isocinéticos
(verifica a força). Com a inclusão da terapia
fonoaudiológia de forma sistemática, foi evidente
após 1 mês que a musculatura já apresentava uma
tonicidade menos rígida, com melhora da mobili-
dade e da força da musculatura.
As terapias fonoaudiológicas possibilitaram,
além de um estado menos comprometido da
musculatura, uma melhora na auto-estima com
ausência de excitação e estresse emocional pela
presença do quadro sintomatológico.
Um outro órgão participante da articulação da
fala a qual se encontrava alterado, é o palato duro,
mais conhecido como “céu da boca”. Este se
encontrou profundo, atrésico e ogival em todos
os casos. Profundo pela dificuldade em elevar a
língua, apesar do fato de que em repouso a
mesma se encontra em papila, ou seja, seu ápice,
corpo e dorso paralelo ao palato. Atrésico e ogival
pela pressão exercida pela musculatura da
bochecha devido à rigidez encontrada.
Não se pode afirmar que este achado é uma
característica das alterações miofuncionais orais
em fase inicial da doença de Parkinson, mas estas
características são evidentes e refletem a rigidez
muscular. Pois as partes ósseas e duras da
cavidade oral crescem e se desenvolvem por
tração e contração.
Já o palato mole e a úvula apresentavam-se
adequados quanto à mobilidade, pois os
exercícios foram realizados com sucesso,
afirmação esta verificada através de observação,
inspeção e realização dos exercícios de sopro e
sonorização do /a/ e /ã/, da emissão desons
vocálicos, os quais ocorrem elevação do palato
mole e úvula, ao contrário da emissão de sons
nasais, em que ocorre o abaixamento dos
mesmos.
Após analisar as queixas mais freqüentes
relacionados à fala, dos pacientes com Doença
de Parkinson, em estágio inicial da patologia e
avaliar e analisar os órgãos fono-articulatórios, há
a necessidade de relatar as alterações ou
distúrbios da articulação de fonemas.
De acordo com alguns autores os fonemas
mais prejudicados no momento da articulação dos
pacientes portadores de Doença de Parkinson, são
a substituição dos fricativos (/f/, /v/, /s/, /z/, /š/, /ž/) ,
pelos plosivos (/p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/, /m/, /n/, /ñ/) e
entretanto, não se sabe em que estágio de doença
os pacientes se encontram para existir estes
acometimentos9. Na presente pesquisa realizada
com pacientes no estágio inicial da Doença de
Parkinson, foi observado que os fonemas ///, /? /,
/s/ e /š/ apresentaram distorções assistemáticas.
A distorção ocorre quando a produção do som é
alterado, de modo que a sua resultante seja
apenas aproximado do som desejado.
Os fonemas que mais soaram de forma alterada
foram as palavras que continham o fonema /? /
(linguodental ou líquida lateral), onde era distorcido
pelo /? / (linguopalatal ou líquida lateral) em 5 dos
6 pacientes analisados. Estas emissões ocorreram
de forma assistemática nos inícios de sílabas início
de palavra (ISIP) e finais de sílabas final de palavra
(FSDP), numa interação dialógica, no entanto,
quando era solicitado que emitissem palavras
isoladas que continham estes fonemas, os
mesmos eram produzidos corretamente em sua
grande maioria, onde das 86 palavras isoladas
emitidas 5 eram distorcidas; diferentemente da
consistência das palavras contextualizadas. Da
mesma forma ocorreram com os fonemas /s/ e /
š/, em apenas 3 dos 6 pacientes avaliados.
É relatado na literatura fonoaudiológica que os
últimos fonemas a serem adquiridos são os
líquidos laterais e vibrantes. Pensamos que,
quando há uma alteração no Sistema Nervoso
central, os primeiros fonemas a serem acometidos
são os últimos adquiridos, ou seja o /? /, /l/ e /r/.
129Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
Pudemos constatar que ocorre uma
posteriorização dos fonemas /l/ e /? /, pensamos
que este fato se deve ao posicionamento do ápice
da língua ao ter que tocar a região alveolar, é
retraído e toca na região alveolar mais próxima ao
palato duro. Pensamos que este fato ocorra devido
à rigidez muscular da língua, que ao atuar nos
músculos antagonistas, faz com que esta se
posteriorize tocando no tipo de articulação
sutilmente5.
Durante as avaliações, a qual puderam ser
observadas as alterações mencionas a cima, não
foi observado pausas durante as leituras ou nas
falas espontâneas dos sujeitos, com duração de
fala mais curta, causando inteligibilidade da
mesma17.
CONCLUSÃO
De acordo com os dados obtidos na literatura,
observações analisadas, e instituição precoce da
terapia fonoaudiológica nos portadores de Doença
de Parkinson, foi verificado que, de fato, o
encaminhamento precoce à terapia
fonoaudiológica e fundamental, uma vez fornecerá
mais qualidade de vida com condições mais
satisfatórias de comunicação. Estes pacientes
possuem uma rigidez muscular global,
acarretando alterações da articulação dos
fonemas e inteligibilidade de fala. Estas não
podem ser evitadas, mas atenuadas com o
encaminhamento precoce ao Fonoaudiólogo pelo
Neurologista, uma vez que a alteração é uma
conseqüência de uma patologia que se encontra
no Sistema Nervoso Central.
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130Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
Avaliação da capacidade funcional de idosos
em tratamento fisioterapêutico
Functional capacity assessment in elderly on physiotherapy
RESUMO
Com o avançar da idade as perdas funcionais tornam-se evidentes e o idoso deixa de realizar
atividades básicas da vida diária, diminuindo assim sua capacidade funcional. A capacidade funcional
é dimensionada em termos de habilidade e independência para realizar determinadas atividades,
sendo esta um dos grandes componentes da saúde do idoso. Objetivo: identificar a capacidade
funcional dos idosos em tratamento fisioterápico. Métodos: Foram avaliados 40 idosos que
encontravam-se em tratamento fisioterápico na clínica escola do UNILAVRAS, nos setores de neurologia
e ortopedia. Foi utilizado o Índice de Katz para avaliar a Capacidade Funcional. Resultados: Os
resultados obtidos demonstram que houve diferença estatisticamente significativa entre os pacientes
ortopédicos e neurológicos, sendo que os primeiros apresentaram um maior nível de independência
(p=0,003) e nenhum deles apresentou-se totalmente dependente (p=0,007) na realização de suas
atividades diárias. Conclusão: os idosos em tratamento fisioterápico por patologias neurológicas
apresentam menor capacidade funcional e, conseqüentemente, uma maior dependência daqueles
que apresentam patologias ortopédicas.
Unitermos: Idosos; Capacidade funcional; Fisioterapia.
SUMMARY
Moving forward with the age the functional losses become evident and the elderly stops
accomplishing basic activities of daily life, reducing the functional capacity. The functional capacity is
measured in ability terms and independence to accomplish certain activities, being this one of the
great components of the elderly’s health. Objective: to identify the elderly’s functional capacity in
physiotherapic treatment. Methods: There were analysed 40 elderly that were in physioterapic treatment
in the clinic school of UNILAVRAS, in the neurology sections and orthopedics. The Index of Katz was
used to evaluate the Functional Capacity. Results: The obtained results demonstrate that there was an
significant statistic differentiation among the orthopedicaland neurological patients, and the first ones
presented a larger independence level (p=0,003) and none of them came totally dependent (p=0,007)
in the accomplishment of the daily activities. Conclusion: the elderly in physioterapic treatment for
neurological pathologies present smaller functional capacity and, consequently, a larger dependence
of those than they present orthopedical pathologies.
Keywords: Elderly; Functional capacity; Physiotherapy.
Artigo Original
Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães1, Débora C. A. Galdino2, Fábio Luiz Mendonça Martins2,
Simone R. Abreu2, Mary Lima2, Débora Fernandes de Melo Vitorino3.
Trabalho realizado no Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS - Lavras - MG
1 - Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS.
2 - Aluno do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS.
3 - Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS.
Endereço para correspondência: Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS
R. Hebert Vilela 1700/301 – Bairro Presidente Kennedy – Lavras – MG - CEP 37.200-000
laizunilavras@hotmail.com
Trabalho recebido em 22/03/2004. Aprovado em 07/08/2004.
131Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
INTRODUÇÃO
 O envelhecimento é um processo dinâmico e
progressivo no qual há alterações morfológicas,
funcionais e bioquímicas que vão alterando
progressivamente o organismo, tornando-o mais
susceptível a agressões1.
 Percebe-se que nas alterações relacionadas
com a idade estão a presença de fatores de risco
e a ocorrência de doenças crônico-degenerativas,
que determinam para o idoso um certo grau de
dependência, relacionado diretamente com a
perda de autonomia e dificuldade de realizar as
atividades básicas de vida diária, interferindo na
sua qualidade de vida2.
 A capacidade funcional surge, como um novo
paradigma de saúde, particularmente um valor
ideal para que o idoso possa viver independente,
sendo esta a capacidade do indivíduo realizar suas
atividades físicas e mentais necessárias para
manutenção de suas atividades básicas e
instrumentais, ou seja: tomar banho, vestir-se,
realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se,
manter a continência, preparar refeições, controle
financeiro, tomar remédios, arrumar a casa, fazer
compras, usar transporte coletivo, usar telefone e
caminhar uma certa distância3,4.
 A capacidade funcional, especialmente a
dimensão motora, é um dos importantes
marcadores de um envelhecimento bem sucedido
e da qualidade de vida dos idosos. A perda dessa
capacidade, está associada a predição de
fragilidade, dependência, institucionalização, risco
aumentado de quedas, morte e problemas de
mobilidade, trazendo complicações ao longo do
tempo, e gerando cuidados de longa permanência
e alto custo5.
 Tem-se constatado que é muito mais fácil
evitar mortes do que evitar o desenvolvimento de
incapacidades associadas ao envelhecimento. A
cada ano, cerca de 10% da população adulta, a
partir dos 75 anos perde a independência em uma
ou mais atividades básicas da vida diária, tais
como: banhar-se, vestir-se, alimentar-se e higiene
pessoal6,7.
 A grande maioria dos idosos é portadora de
doenças crônicas, deficiências ou apresentam
problemas médicos, sendo estes fortemente
associados com s perda da capacidade funcional.
Entretanto, observa-se que a capacidade funcional
é influenciada também por fatores demográficos,
sócio-econômicos, culturais e psicossociais6,8.
 A manutenção e a preservação da capacidade
para desempenhar as atividades básicas de vida
diária são pontos básicos para prolongar o maior
tempo possível a independência, com isso o idoso
mantém a sua capacidade funcional1.
A Reabilitação Gerontológica visa a
preservação da função, adiamento da instalação
de incapacidades, através de medidas preventivas
tendo ainda como objetivo diminuir o
comprometimento imposto por incapacidades,
promovendo um modo de vida mais saudável e
adaptando o indivíduo de forma a propiciar uma
melhor qualidade de vida9.
 O objetivo deste estudo foi avaliar qual o nível
da capacidade funcional dos idosos em
tratamento fisioterapêutico.
MÉTODOS
Foram selecionados 40 idosos (acima de 60
anos) de ambos os sexos que se encontravam
em tratamento fisioterapêutico na clínica escola
do UNILAVRAS, nas áreas de neurologia (21
idosos) e de ortopedia (19 idosos). Todos os
sujeitos incluídos foram informados quanto aos
objetivos e procedimentos do estudo e assinaram
o termo de consentimento de forma livre e
esclarecida.
Utilizou-se o Índice de Katz para avaliar a
capacidade funcional em relação à realização das
atividades básicas de vida diária, composta por 6
atividades: banhar-se, vestir-se, usar o banheiro,
transferir-se, ter continência e alimentar-se.
Cada item do Índice de Katz seguiu um escore
de 0 a 3, representando o nível de dependência e
independência do indivíduo da seguinte forma: 0)
independência completa, 1) necessidade de ajuda
não humana, 2) assistência humana, 3) completa
dependência.
Os dados foram analisados através do Teste t
de student, utilizando nível de significância de 5%.
132Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta os valores obtidos no
Índice de Katz pelos 19 pacientes avaliados na
área de ortopedia em suas atividades diárias.
A Tabela 2 apresenta os valores obtidos no
Índice de Katz pelos 21 pacientes avaliados na
área de neurologia em suas atividades diárias.
Na comparação estatística entre os grupos
utilizando o Teste t de student, observa-se que há
diferença significativa entre os dois grupos quando
analiza-se os itens independência completa
(p=0,003) e dependência completa (p=0,007).
Nos itens ajuda não humana e assistência
humana, não houve diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (respectivamente
p=0,839 e p=0,070)
A Figura 1 apresenta a correlação entre os
pacientes de ortopedia e neurologia quanto à
independência completa em suas atividades
diárias.
A Figura 2 apresenta a correlação entre os
pacientes de ortopedia e neurologia quanto à
dependência completa em suas atividades diárias.
DISCUSSÃO
A promoção do envelhecimento saudável e a
manutenção da máxima capacidade funcional do
indivíduo que envelhece, significa uma maior
valorização da autonomia e da autodeterminação
Tabela 2 - Indice de Katz de pacientes neurológicos
Tabela 1 - Indice de Katz de pacientes ortopédicos
Figura 2 – Correlação entre os pacientes de ortopedia e
neurologia quanto à dependência completa em suas
atividades diárias.
Figura 1 – Correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia
quanto à independência completa em suas atividades diárias.
133Neurociências
REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004
e a preservação da independência física do idoso.
De acordo com FEDRIGO (1999), para obter um
envelhecimento saudável é melhor acrescentar
vida aos anos a serem vividos do que anos a uma
vida precariamente vivida.
LIMA-COSTA; BARRETO e GIATTI (2002)
esclareceram que a capacidade funcional é um
dos grandes componentes da saúde do idoso e
vem emergindo como um componente-chave para
a avaliação da saúde dessa população. Ela
geralmente é dimensionada em termos de
habilidade e independência para realizar
determinadas atividades.
A maioria dos idosos do estudo apresentou-se
independente na realização das suas atividades
diárias. Entretanto, somente idosos do setor da
neurologia apresentaram nível de dependência
completa. Isto se explica pelo fato do maior déficit
para a realização de atividades nos pacientes
neurológicos, devido às seqüelas deixadas pelas
alterações neurológicas que, na grande maioria,
são extremamente incapacitantes, podendo levar
a alteração na mobilidade, na coordenação, na
consciência corporal, na localização do corpo no
espaço, entre outras.
LUCENA et al. (2002),

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