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04/08/2015 ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais Por que o sangue do leão Cecil mancha a todos nós
http://www.anda.jor.br/03/08/2015/sangue­leao­cecil­mancha/print/ 1/2
­ ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais ­ http://www.anda.jor.br ­
Por que o sangue do leão Cecil mancha a todos nós
Posted By Bruna Araujo On 3 de agosto de 2015 @ 8:00 In Notícias | No Comments
[1]
Criança protesta contra morte do leão Cecil em Minnesota, EUA, em frente à clínica do dentista
Walter Palmer. / ERIC MILLER (REUTERS)
O leão africano Cecil, morto a flechadas por um dentista e caçador norte­americano no parque
Hwange, do Zimbábue, transformou­se no emblema da crueldade humana com os animais. Seu
sangue mancha a todos nós.
O mundo, sobretudo as crianças, está chorando a morte do leão Cecil e, para consolar os
pequenos, os pais os fazem dormir abraçados a um leão de brinquedo.
É possível que essa história que tomou as redes sociais tenha doído em cada um de nós por
motivos diferentes. Sem dúvida, nela se misturam vários elementos que tornam mais
repugnante e simbólica essa tragédia animal, como o truque para tirar a fera do parque, sua
morte cruel ao deixá­lo dois dias agonizando, sua posterior decapitação e os 50.000 dólares
(165.000 reais) que teriam sido pagos para corromper guias do parque.
Sim, já sei. Alguém já escreveu: por que tanto barulho pelo sacrifício, ainda que doloroso, de
um leão, quando a cada dia são assassinados milhares de humanos inocentes? O que a morte
cruel de um animal acrescenta à barbárie que nos brinda a cada dia nossa suposta
humanidade? Por que as pessoas não choram, protestam e se revoltam mais com as injustiças
sociais que espalham vítimas por nosso planeta?
E, no entanto, a crueldade perpetrada contra o leão está aí. O mundo se levantou contra o
caçador norte­americano. Talvez por vê­lo como um espelho que nos mostra o mais baixo de
nossos instintos de violência e desprezo pela vida. E quando falamos de vida, os soberbos
humanos não podemos nem devemos esquecer que a vida animal está estreitamente ligada à
nossa. Formamos, pessoas e animais, uma única família indissolúvel.
Talvez essa indignação generalizada contra o caçador do leão reflita uma conscientização
coletiva e positiva de que, neste nosso mundo, ou nos salvamos e respeitamos juntos ou juntos
nos perderemos.
Se o sacrifício inútil e bárbaro de Cecil doeu em cada pessoa por um motivo diferente, há algo
04/08/2015 ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais Por que o sangue do leão Cecil mancha a todos nós
http://www.anda.jor.br/03/08/2015/sangue­leao­cecil­mancha/print/ 2/2
que ficou silenciado ou inadvertido. Palmer, o dentista caçador, se diz arrependido. Não de sua
crueldade com o animal, mas sim porque, com diz, “não fazia ideia de que o leão fosse tão
famoso e conhecido”.
Isso não lembra o que pensamos do tratamento que recebem em nossa sociedade humana os
famosos e importantes, ao contrário dos anônimos e sem glória? Não costumam ser tratados de
forma diferenciada, inclusive nos tribunais de justiça, os famosos e importantes, os que
ostentam poder e riqueza, e os párias dos três p: pobres, putas e “pretos”?
A surpresa do caçador que matou o leão porque não sabia de sua fama não nos lembra o que se
faz com as pessoas de nossas comunidades carentes? Ali as vítimas da violência institucional
são sacrificadas sem excessiva preocupação, já que não são famosas, nem têm nome e poder.
A África, terra do leão Cecil, é outro emblema dessa injustiça e indignidade internacional
perpetrada contra os que não são famosos. É um continente abandonado a sua sorte. A morte
de seus filhos não nos tira o sono.
Causaria o mesmo clamor mundial, o mesmo eco nos meios de comunicação, o naufrágio de
um navio com milhares de emigrantes africanos anônimos que se os náufragos fossem grandes
industriais, políticos ou artistas de fama dos Estados Unidos?
A surpresa do caçador pelo clamor de protesto contra quem matou o animal deveria nos fazer
refletir. E os 50.000 dólares pagos para martirizar o leão são um escárnio para todos aqueles
que, no mundo, passam fome ou morrem por falta de dinheiro para o tratamento médico.
Quando o Rei da Espanha, Juan Carlos I, pagou 75.000 euros (quase 280.000 reais) para
matar por esporte um elefante também na África, uma mulher que não conheço, Esther Marin,
escreveu em meu blog algo de que nunca me esqueço: “Com o que o rei pagou para se dar o
gosto de matar um elefante inocente eu teria salvado minha filha de cinco anos. Perdi­a porque
não tinha recursos para conseguir remédios muito caros que só podiam ser comprados nos
Estados Unidos”.
Aquela menina e aquela mãe faziam parte desses milhões de humanos que podem morrer, sem
que nos escandalizemos, porque afinal de contas não eram famosos.
Obrigado, leão Cecil, por estar despertando com seu sacrifício inútil e cruel nossa consciência
burguesa e adormecida!
Fonte: El País [2]
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[2] El País:
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/30/opinion/1438288774_820321.html
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