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SESSÃO 03 - Anemia Megaloblástica REFERÊNCIAS: Manual De Hematologia Propedêutica E Clínica - Therezinha F. Lorenzi 4ªEd Hematologia - Métodos e Interpretação - Série Análises Clínicas e Toxicológicas. Victor Hoffbrand - Fundamentos em Hematologia, 6ª Edição METABOLISMO DA VITAMINA B12: Como vamos ver a frente, a deficiência de vitamina B12 (cobalamina) ou de ácido fólico pode causar anemia megaloblástica, caracterizada por eritropoiese ineficaz. As duas vitaminas são interligadas bioquimicamente, sendo, portanto, a via final comum que leva à síntese do ácido desoxirribo-nucléico (DNA) nas células hematopoiéticas, prejudicando a mesma quando cada vitamina estiver deficiente. Logo, é importante entender o metabolismo de ambas para entendermos a anemia megaloblástica. Estrutura e onde está presente: A vitamina B12 consiste em um pequeno grupo de compostos que são as cobalaminas, todas possuem a mesma estrutura básica (um átomo de cobalto no centro de um anel corrina ligado a uma porção nucleotídica). De forma simplificada, tem uma estrutura semelhante ao heme, mas, ao contrário deste último, não consegue ser sintetizada no corpo humano, devendo fazer parte da dieta (por isso, é uma vitamina). A cobalamina não é encontrada em plantas, e as únicas fontes dietéticas são os compostos de origem animal, como carnes, ovos e laticínios. Dessa forma, vegetarianos estritos, que não ingerem nenhum tipo de carne ou outros compostos animais (como leite, ovos e queijo), podem acabar desenvolvendo deficiência de cobalamina caso não utilizem suplementos multivitamínicos. PACIENTE DO PROBLEMA EM QUESTÃO. A necessidade mínima de vitamina B12 (que corresponde às perdas) é de cerca de 2,5 μg/dia (2,5 unidades/dia), e a quantidade corpórea total dessa vitamina é de aproximadamente 2-4 mg, com metade das reservas presentes no fígado. O estoque corporal de cobalamina é bastante duradouro... Seriam precisos: 10-15 anos com dieta pobre em cobalamina para haver sinais clínicos de deficiência, caso a absorção não se encontre prejudicada; e 3-6 anos, caso a absorção da vitamina esteja prejudicada. Esse fato, somado aos requerimentos mínimos dessa vitamina, nos faz concluir que a deficiência de vitamina B12 tem como etiologia mais frequente a má absorção, em vez da pobre ingestão alimentar. Absorção: Vale ressaltar, que uma dieta normal contém um grande excesso de B12 quando a gente compara com as necessidades diárias que vimos que são mínimas. A cobalamina da dieta vem sempre ligada às proteínas alimentares, precisando sofrer a ação do ácido gástrico e da pepsina para se desprender. Durante a digestão gástrica, a vitamina B12 é liberada e imediatamente se liga a uma glicoproteína: o ligante R, secretado na saliva e na mucosa gástrica. No duodeno, o complexo vitamina B12-ligante R é dissolvido sob a ação das proteases secretadas pelo pâncreas. Dessa forma, a vitamina B12 é liberada, sendo então captada pelo Fator Intrínseco (FI). O FI é uma glicoproteína produzida pelas células parietais do fundo e corpo gástricos, secretada em paralelo com o ácido clorídrico. O complexo vitamina B12-FI é resistente à degradação proteolítica e prossegue até o íleo distal, onde receptores específicos situados na borda em escova da mucosa ligam o complexo e possibilitam finalmente a absorção da vitamina. Além de evitar a degradação, o FI também funciona como um verdadeiro "guia" para a vitamina B12 alcançar o local ideial, que é o epitélio ileal. Cerca de 99% da absorção da vitamina B12 só se dá ligada ao FI. Uma pequena parcela (1%) é absorvida sem o FI, por difusão passiva por entre as células da mucosa intestinal. No interior da célula da mucosa ileal, a cobalamina (vit. B12) se liga a uma proteína transportadora, a Transcobalamina II (TC-II), que a transporta para o plasma. Entretanto, a meia-vida da TC-II é muito curta, e a cobalamina que se desprende do carreador recém-destruído passa a ser carreada pela TC-I (quantitativamente, o maior carreador de vitamina B12 no plasma) e TC-III. Bioquímica: A vitamina B12 é uma coenzima de duas reaç̧es bioquímicas: na primeira, como metil-B12, é cofator da metionina-sintase, a enzima responsável pela metilação da homocisteína em metionina, usando metiltetra- hidrofolato (metil-THF) como doador de metila; na segunda, como desoxia-denosil B12 (ado-B12), auxilia na conversão de metilmalonil-coenzima A (CoA) em succinil-CoA. A primeira reação é extremamente ligada ao metabolismo do folato... O Metiltetra-Hidrofolato (MTHF) é a forma circulante do folato que precisa ser convertida na forma celular, o Tetra-Hidrofolato (THF), ou "folato ativo". Isso é feito pela enzima metionina sintase, utilizando a cobalamina (vitamina B12) como cofator. Perceba, portanto, que a deficiência de B12 impede a formação de THF (TETRA-HIDROFOLATO) a partir do MTHF (METILTETRA-HIDROFOLATO), logo, reduz a forma ativa, intracelular, do folato. Em outras palavras: a deficiência de B12 provoca um "estado de deficiência celular de folato"... É através deste mecanismo que a deficiência de B12 prejudica a síntese de DNA, e isso explica porque a reposição de altas doses de ácido fólico pode resolver parcialmente a anemia megaloblástica por carência de B12! Todavia, conforme veremos adiante, mesmo que altas doses de ácido fólico amenizem parcialmente as alterações hematológicas da carência de B12, as alterações neurológicas persistem se a reposição de B12 não for realizada, pois tais alterações dependem de uma reação bioquímica diferente, que não tem qualquer relação com o metabolismo do folato... Na reação da metionina sintase, o grupamento metil do MTHF é transferido para a homocisteína (um aminoácido), formando a metionina. Por isso, tanto na deficiência de folato, como na deficiência de cobalamina, esta reação fica prejudicada, aumentando os níveis celulares e plasmáticos de homocisteína. A hiper-homocisteinemia é lesiva ao endotélio, podendo aumentar o risco de aterosclerose. A segunda reação não é ligada ao folato. É a conversão do metilmalonil-CoA em succinil-CoA. Na deficiência de B12 (mas não na de ácido fólico), os níveis séricos e urinários de ácido metilmalônico aumentam significativamente e isso pode ser utilizado para fins diagnósticos. O quadro neurológico, próprio da carência de B12, deve-se provavelmente a dois mecanismos: (1) os níveis aumentados de metilmalonil-CoA promoverão a síntese de ácidos graxos não fisiológicos, que irão se incorporar aos lipídios neuronais; e (2) a metionina, quando não formada de forma adequeda, promove uma diminuição da produção de fosfolipídios contendo colina, que são elementos fundamentais na formação da bainha de mielina. METABOLISMO DO ÁCIDO FÓLICO: O ácido fólico é o composto-base de um grande grupo de compostos derivados, os folatos. Tem como principal fonte natural os vegetais verdes frescos (fonte mais importante), fígado, aveia e algumas frutas, nas quais ele se encontra sob a forma de poliglutamato (o cozimento prolongado pode destruir até 90% do folato alimentar). A necessidade mínima diária da vitamina gira em torno de 50-200 μg (micograma) entretanto, durante períodos de demanda metabólica, como gravidez, lactação ou hemólise, as necessidades podem aumentar para 200-800 μg/dia. O folato da dieta é absorvido pelo duodeno e jejuno proximal (mesmo local da absorção do ferro) que contêm enzimas em suas microvilosidades, chamadas carboxipeptidases, capazes de converter o poliglutamato em mono ou diglutamato, permitindo assim uma pronta absorção. Logo após ser absorvido, o folato circula no plasma como metiltetra-hidrofolato (MTHF) sob a forma de monoglutamato, ligado a proteínas. Ao penetrar nas células, o grupamento metil é retirado por uma enzima dependente da vitamina B12 (metionina sintase), liberando no citoplasma o tetra-hidrofolato (THF), já na forma de poliglutamato – a forma ativa da vitamina. O maior reservatório corpóreo de folato é o fígado, responsável por metade das reservas. O folato é secretado na bile, para ser reabsorvido no jejuno (ciclo êntero-hepáticodo folato), além de ser excretado na urina. O balanço negativo de folato geralmente é decorrente de uma dieta inadequada, da má absorção ou da utilização exagerada da vitamina. O estoque de folato dura pouco (como na maioria das vitaminas hidrossolúveis). Na maioria das vezes, os sinais clínicos de deficiência de folato se desenvolvem cerca de 4-5 meses após o início das perdas. A má absorção de folato pode ser consequência de um distúrbio primário da mucosa duodenojejunal (ex.: doença celíaca, espru tropical), ou do uso de determinados fármacos que interferem com o processo de absorção como a sulfassalazina e alguns anticonvulsivantes. A hemodiálise também causa perda excessiva do folato através da membrana do dialisador. Existe uma interdependência do metabolismo do ácido fólico e da cobalamina, uma vez que a vitamina B12 é necessária para a manutenção do folato no meio intracelular (conversão do monoglutamato metiltetra- hidrofolato em poliglutamato tetra-hidrofolato). Bioquímica: O folato tem como função primordial transferir "fragmentos de um carbono" (metileno) para aceptores, que darão origem a bases nitrogenadas (purinas e pirimidinas), constituintes do DNA. O folato "doador" é o Tetra-Hidrofolato – THF (na forma de poliglutamato) – não é difícil imaginar que, sem a metilação adequada do DNA, os precursores hematopoiéticos começam a ter dificuldades na maturação do núcleo. É exatamente o que ocorre na deficiência de ácido fólico! Ao doar grupamentos metileno, o THF é convertido em Di-Hidrofolato – DHF. Para regenerar novamente o THF, a partir do DHF, é necessária a ação de uma importante enzima celular, denominada di-hidrofolato redutase. DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12: 1. Anemia perniciosa: é uma causa comum de deficiência de cobalamina. A deficiência de cobalamina na anemia perniciosa resulta de um ataque autoimune no fator intrínseco gástrico, o que acarreta atrofia do estômago. Essa parede estomacal se torna mais delgada, com infiltrado de linfócitos e plasmócitos na lâmina própria. Pode acontecer metaplasia intestinal, gerando acloridria e interferindo na secreção de fator intrínseco (ausente ou quase ausente). O acometimento é maior no sexo feminino (1,6:1), com pico de ocorrência aos 60 anos, podendo haver doença autoimune associada, particularmente da tireoide. A doença é encontrada em todas as raças, mas é mais comum nos norte-europeus e tem certa incidência familiar. Também há aumento de incidência de carcinoma de estômago (aproximadamente 2-3% de todos os casos de anemia perniciosa). Anticorpos anti-FI são detectáveis no soro e em mais de 70% dos pacientes com anemia perniciosa, demonstrando ser um teste de alta especificidade. Existem dois tipos de anticorpos, um que bloqueia a ligação da cobalamina no FI, e outro que bloqueia a ligação do complexo Cbl-FI nos receptores ileais. Outra causa de anemia perniciosa é a gastrite atrófica crônica, que diminui a produção de FI. Outras causas são: gastrectomia e outras gastrites. 2. Deficiência de cobalamina: Leve e usualmente subclínica, parece ocorrer com freqüência aumentada (10 a 24%) nos idosos. Os fatores que contribuem para a má absorção de cobalamina em idosos são: �atrofia gástrica; �acloridria; �infecção por H. pylori; �supercrescimento bacteriano intestinal secundário a trata- mento antibacteriano; �antiácidos; �antagonistas de receptores H2 e inibidores das bombas de prótons;� alcoolismo crônico;�cirurgia gástrica/bariátrica;�falência pancreática exócrina;�síndrome de Sjögren. 3. Desordens intestinais: apesar de rara, principalmente no Brasil, a infestação pela tênia do peixe, Diphyllobothrium latum, foi uma causa clássica de deficiência de cobalamina. Aproximadamente 10 a 30% dos pacientes com uso de metformina apresentam deficiência de cobalamina, que pode ser revertida com suplementação oral de cálcio (absorção diminuída devido ao antagonismo com membrana ileal, dependente de Ca). Seguem abaixo alguns exemplos de desordens intestinais:�doença pancreática;�ileíte tuberculosa;� linfoma;�amiloidose;�irradiação pélvica;�ressecção ou bypass;�doença de Crohn. 4. Dieta: vegetarianos restritos, por exemplo, estão sob risco de desenvolver deficiência de cobalamina. Mulheres moderadamente vegetarianas, bem como seus bebês, podem desenvolver deficiência de cobalamina durante a gestação e a lactação. 5. Aumento da necessidade: gestação e lactação aumentam a necessidade diária de ácido fólico de 400 para 800 mcg; portanto, suplementação de ácido fólico deve ser feita profilaticamente em todas as gestantes. Outro mecanismo de deficiência de folato inclui: �aumento das necessidades na gestação; �anemias hemolíticas; � doenças de pele esfoliativas;�interferências induzidas por drogas no metabolismo do folato. 6. Infecção pelo HIV: acomete 10 a 30% dos pacientes. Já foi indicada como preditor independente de sobrevida ruim e progressão de doença. Múltiplas causas são sugeridas, como: �pobre status nutricional; �diarréia; � disfunção ileal;�enteropatia exsudativa. 7. Causas hereditárias: por exemplo, produção anormal de fator intrínseco (FI) ou diminuição da formação do complexo FI-Cbl. Uma outra condição, chamada doença Imerslund-Grasbeck ou anemia megaloblástica juvenil, ocorre devido a uma mutação no gene da cubilina, que é um receptor essencial para a cobalamina ileal e para a reabsorção renal de proteína. Outras causas raras de deficiência de cobalamina incluem: �deficiências congênitas de transcobalamina; �homocistinúria; �grave deficiência de metileno-tetraidrofolato redutase; � graves anormalidades na síntese do metionone. DEFICIÊNCIA DE FOLATO: Resulta frequentemente de dieta pobre em folato, isolada ou em combinação com uma condição em que haja aumento de utilização ou má absorção de folato. Um turn-over celular excessivo, de qualquer tipo, incluindo gravidez, é a principal causa de aumento das necessidades de folato, pois mais moléculas de folato se degradam quando há aumento da síntese de DNA e de timidilato. O mecanismo pelo qual os anticonvulsivantes e os barbitúricos causam deficiência ainda é controverso. A deficiência de ácido fólico é vista em indivíduos que não se alimentam adequadamente, alcoólatras, gestantes e portadores de síndromes disabsortivas no jejuno proximal, como a doença celíaca e o espru tropical. O alcoolismo predispõe à deficiência de folato por dois mecanismos: (1) como o álcool tem alto valor calórico, o alcoólatra geralmente consome poucos alimentos, inclusive os ricos em folato; e (2) o álcool dificulta a absorção e recirculação de folato através do ciclo êntero-hepático. O abuso de álcool produz queda no folato sérico em 2 a 4 dias. Alcoólatras com dieta pobre em folato podem desenvolver megaloblastose em 5 a 10 semanas. Transporte e metabolismo: Numerosas drogas inibem a di-hidrofolato redutase, como metotrexate (antineoplásico), pirimetamina e trimetoprim (em associação com sulfametoxazol). Doses elevadas ou prolongadas de pirimetamina e trimetoprim podem resultar em efeitos tóxicos, o que não ocorre no tratamento de infecções com as dosagens habituais. Anticonvulsivantes (fenitoína, ácido valproico, primidona) e barbitúricos prejudicam a absorção, enquanto pirimetamina, trimetoprima em altas doses e metotrexato inibem o metabolismo da vitamina. Lactentes: as reservas de folato são reduzidas ao nascimento, e podem ser rapidamente depletadas em função do crescimento acelerado nessa fase... Na criança prematura as necessidades são ainda mais elevadas, uma vez que a maior parte do armazenamento de folato ocorre ao final da gestação. A concentração de ácido fólico no leite materno depende das reservas de folato da mulher e da duração da lactação. Comparado com o colostro, o leite maduro possui uma maior concentração desta vitamina. O folato do leite humano se encontra em maior proporção como monoglutamato, que seria mais bem absorvido, o que explicaria o melhor estado nutricional de ácido fólico de crianças alimentadas com o leite materno. A suplementação de ácido fólico (50 μg/dia) e ferroé indicada em regiões onde a prevalência de anemia carencial na infância supera os 40%. Outra situação na qual a suplementação ou fortificação torna-se necessária para evitar a deficiência de folato é nos lactentes sem aleitamento materno e com intolerância ao leite de vaca, cuja única fonte alimentar passa a ser o leite de cabra, que possui quantidades muito reduzidas de ácido fólico. Gestantes: A anemia megaloblástica por deficiência de folatos da gravidez, ocorre em geral no 3º trimestre. Por ser um micronutriente crítico na neurogênese, recomenda-se que a suplementação com ácido fólico na dose de 400mcg/dia durante toda a gestação, para assim prevenir defeitos do tubo neural, que já começa a se formar entre o 25º e 27º dia de gestação. Portadores de anemias hemolíticas crônicas: Os portadores de anemia hemolítica crônica grave (talassemia, anemia falciforme, esferocitose hereditária), são propensos à depleção de folato em virtude da eritropoese estar ↑ em 10x nesses pacientes. A carência de folatos pode se superpor ao quadro de anemia hemolítica crônica, agravando o quadro. A suplementação com ácido fólico nas doses de 5 mg/dia é primordial para manutenção da eritropoese e ↓ das necessidades transfusionais. Nutricional: é a causa mais comum de deficiência de folato, devido à dieta pobre ou ao alcoolismo. Os estoques no organismo são pequenos (5 a 10 mcg); pessoas com dieta deficiente em folato podem desenvolver anemia megaloblástica em 4 a 5 meses. Má absorção de folato hereditária: causa rara, autossômica reces-siva. É caracterizada por: �diarréia; � anemia megaloblástica;�deterioração neurológica progressiva (ataxia, convulsões e re-tardo mental). Competição pela cobalamina: Na “síndrome da alça cega” ocorre proliferação de bactérias que consomem a B12 em segmentos intestinais deixados fora do trânsito após cirurgia ou quando há divertículos intestinais, fístulas ou hipomotilidade, casos em que a absorção da vitamina pode ser normalizada com o uso de antibióticos (tetraciclina). Drogas: neomicina é um exemplo de droga que pode comprometer a absorção da cobalamina. Outras: causas raras de deficiência de folato incluem deficiências congênitas de enzimas envolvidas no metabolismo do ácido fólico: �deficiência de metileno-tetraidrofolato redutase; �deficiência de glutamato formiminotransferase;�deficiência funcional de metionina sintetase. Ausência congênita ou anormalidades do FI, em geral, são notadas em torno dos 2 anos de idade, quando os estoques de B12 derivados da mãe in utero foram consumidos. ANEMIA MEGALOBLÁSTICA: Conceito: A anemia megaloblástica é um distúrbio ocasionado por um bloqueio na síntese do DNA, que se caracteriza por um estado em que a divisão celular se torna lenta, a despeito do crescimento citoplasmático. Esta anormalidade basicamente é devido uma assincronia da maturação do núcleo em relação ao citoplasma – as células se preparam para uma divisão que não ocorre e, como resultado, acabam se tornando maiores. As células mais afetadas são aquelas que possuem renovação mais rápida, como as precursoras da Medula Óssea (MO) e as células da mucosa do trato gastrointestinal. A deficiência de vitamina B12 (cobalamina) ou de ácido fólico pode causar anemia megaloblástica, caracterizada por eritropoiese ineficaz. As duas vitaminas são interligadas bioquimicamente, sendo, portanto, a via final comum que leva à síntese do ácido desoxirribo-nucléico (DNA) nas células hematopoiéticas, prejudicando a mesma quando cada vitamina estiver deficiente. A causa cinética e morfológica da anemia megaloblástica é a eritropoiese ineficaz ou hemólise intramedular, caracterizada por hiperplasia eritróide intensa na medula óssea e reticulocitopenia relativa. O megaloblasto é um produto de formação defeituosa do DNA, que ocorre devido à deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico. A medula mostra-se com intensa hiperplasia eritróide e morfologia anormal. OBS: Anemia megaloblástica é o mesmo que anemia macrocítica? Na gestação, a reposição de ácido fólico também é recomendada para a prevenção dos Defeitos do Tubo Neural (DTN). A dose recomendada para prevenção de DTN é de 400 μg/dia de folato, não se devendo ultrapassar a dosagem de 1 mg/dia, pois essa quantidade poderia mascarar uma deficiência de vitamina B12, retardando seu tratamento e podendo desencadear lesões neurológicas. Estudos têm demonstrado que a suplementação de ácido fólico, desde 3meses antes da concepção até a 12º semana da gestação, pode prevenir a DTN no feto. A razão para a administração antes da gestação se deve ao fato do tubo neural se formar entre o 25º e 27º dia após a concepção, antes que a maioria das mulheres se dê conta de que está grávida. Não, anemia macrocítica é qualquer anemia com hemácias de tamanho e volume aumentado, ou seja, com VCM (Volume Corpuscular Médio) alto. Anemia megaloblástica é apenas uma das causas de anemia macrocítica! Dividimos as anemias macrocíticas em dois grupos: (1) anemia megaloblástica; e (2) anemias macrocíticas não megaloblásticas (ex.: anemias hemolíticas com reticulocitose acentuada, síndromes mielodisplásicas, anemia do alcoolismo, do hipotireoidismo, etc.). O termo "megaloblastose" não se refere a uma alteração no tamanho das hemácias circulantes, mas sim a uma anormalidade morfológica nos núcleos dos progenitores eritroides no interior da medula óssea. Os eritroblastos que desenvolvem essa alteração nuclear são reconhecidos como megaloblastos. Os megaloblastos são reconhecidos como células defeituosas pelos macrófagos da medula óssea, sendo destruídos no interior da própria medula, um fenômeno que chamamos de eritropoiese ineficaz. Até prova em contrário, uma anemia megaloblástica deve ser atribuída à carência de vitamina B12 (cianocobalamina) e/ou ácido fólico (folato), importantes cofatores para a síntese de DNA... Outras condições que podem causar esse distúrbio são o uso de medicamentos que bloqueiam a síntese de DNA (antagonistas de purinas e pirimidinas – p. ex.: certos quimioterápicos e imunossupressores) ou que interferem no metabolismo do ácido fólico (metotrexato, anticonvulsivantes). Etiologia: Em geral, os quadros de megaloblastose são atribuídos à deficiência dos principais fatores envolvidos na biossíntese dos ácidos nucleicos: vitamina B12 (cobalamina) e/ou ácido fólico (folato). Em países como o Brasil, a carência vitamínica é um agente etiológico importante. Além dessas causas, denominadas aqui como “megaloblásticas”, outras, não diretamente relacionadas à carência vitamínica, podem ser observadas, as quais serão classificadas como “não megaloblásticas”. A carência nutricional é muito mais comum em vegetarianos do que em não vegetarianos, visto que as principais fontes dessas vitaminas são as carnes de origem animal. Contudo, tanto a deficiência de vitamina B12 como a de ácido fólico não podem ser unicamente relacionadas à carência nutricional e ao vegetarianismo. Diversos trabalhos sugerem alteraç̧es nas vias bioquímicas das vias de absorção desses nutrientes também como potencialmente causadoras do seu déficit. Macrocitoses megaloblásticas: A origem do aumento do tamanho celular (macrocitose) é exclusivamente a carência vitamínica. A deficiência de folato e de vitamina B12 resulta na síntese inadequada de DNA, prejudicando a divisão celular, tornando os precursores eritroides, observados na medula óssea, maiores que os eritrócitos maduros. Além da macrocitose, a deficiência vitamínica provoca alterações nas vias bioquímicas envolvendo esses substratos, ocasionando, por exemplo, a elevação sérica dos níveis de homocisteína e ácido metilmalônico. Epidemiologia: A proporção de casos de anemias macrocíticas tem crescido nos últimos anos, talvez reflexo de novos hábitos alimentares ou resultado da situação econômica e social das populaç̧es analisadas; porém, este último aspecto ainda controverso. No que se refere à carência vitamínica, a deficiência de vitamina B12 é mais frequente do que a de ácido fólico. Em relação à deficiência de vitaminaB12, é rara na infância e na adolescência e tende a ser mais incidente a partir da meia-idade. No recém-nascido só ocorre quando a mãe apresenta a carência vitamínica. O mesmo não acontece em relação à deficiência de ácido fólico, cuja incidência é desprezível em todas as faixas etárias. A situação mais prevalente nos laboratórios de hematologia retinge-se aos casos de macrocitose sem a presença concomitante de anemia. Recentes trabalhos mostram que em torno de 47% de adultos não anêmicos manifestam níveis de vitamina B12 e ácido fólico abaixo dos valores de referência; a deficiência de vitamina B12 é cinco vezes mais comum que a de ácido fólico. Essa diferença talvez possa ser atribuída ao nível socioeconômico da população analisada, por exemplo, reflexo da não utilização de carnes como fonte de alimentos. Nos hemogramas normalmente realizados, cerca de 10% dos pacientes em geral apresentam VCM acima de 96 fl e aproximadamente 2% acima de 100 fl (valores de referência de VCM entre 80 e 100 fl). Fisiopatologia: A deficiência de vitamina B12 (cobalamina) ou de ácido fólico pode causar anemia megaloblástica, caracterizada por eritropoiese ineficaz. As duas vitaminas são interligadas bioquimicamente, sendo, portanto, a via final comum que leva à síntese do ácido desoxirribo-nucléico (DNA) nas células hematopoiéticas. A causa cinética e morfológica da anemia megaloblástica é a eritropoiese ineficaz ou hemólise intramedular, caracterizada por hiperplasia eritróide intensa na medula óssea e reticulocitopenia relativa. O megaloblasto é um produto de formação defeituosa do DNA, que ocorre devido à deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico. A medula mostra-se com intensa hiperplasia eritróide e morfologia anormal. Característica comum na AM é a deficiência na síntese de DNA. A divisão celular é lenta, porém o desenvolvimento citoplasmático progride normalmente. As células hematopoéticas permanecem mais tempo na fase de síntese (fase S) do ciclo celular, com consequente duplicação do seu material genético e não divisão do citoplasma. As células acabam por morrer no interior da medula óssea, traduzindo hematopoese ineficaz. A anemia periférica é a consequência principal. O bloqueio na síntese de DNA afeta mais os tecidos que produzem células de maneira intensa e rápida, como a medula óssea e o trato gastrintestinal. Fisiopatologia da megaloBlastose: 1. Inadequada conversão da deoxiuridilato para timidilato, levando a uma síntese de DNA mais lenta e, assim, a um atraso na maturação nuclear. A síntese do ácido ribonucléico (RNA) e das proteínas continua normal, resultando na característica dissociação citonuclear do megaloblasto. 2. Mecanismos: �na deficiência de cobalamina, a metil-THF não pode ser demetilada; como resultado, não há THF disponível para a poliglutamação. Porém a THF-demetilada não corrige as anormalidades metabólicas observadas, levando ao questionamento sobre a validade dessa hipótese; �deficiência de metionina como problema primário. Há correção parcial de muitas das anormalidades metabólicas com metionina. - Como sabemos, a timidina é um nucleotídio essencial que compõe o DNA. Existem duas vias para gerar o nucleotídio timidilato que é resultado da ligação da base timina a um grupamento fosfato e outro grupamento açúcar, importante para a síntese de DNA. A primeira via leva em conta a fosforilação do nucleosídio timidina do DNA senil para formação de timidilato, porém essa via é insuficiente para a síntese adequada de DNA. A via alternativa, conta com a participação do folato, na forma de N5-N10-me- tilenotetra-hidrofolato, que participa desse processo por meio da cedência de um grupamento metila ao dUMP transformando-o em dTMP. Já a vitamina B12 é a coenzima da reação responsável pela conversão de homocisteína em me- tionina, com formação simultânea de THF. Na ausência de vitamina B12, há formação de 5-metiltetra-hidrofolato, inútil para síntese de timidina. Na deficiência de vitamina B12 e/ou folato, ocorre interrupção na síntese de dUMP em dTMP pela timidilato sintase, já que a uracila não faz parte do DNA, somente a timina. Embora existam vias metabólicas alternativas para a síntese de dTMP, as demandas necessárias não são atingidas pelo mau fun- cionamento da timidilato sintase. Esse processo interfere nas proteínas nu- cleares (DNA) e não nas citoplasmáticas (RNA), visto que este último não necessita de timidina para sua síntese. Dessa maneira, o núcleo celular apresentará alterações, porém o citoplasma manterá as características adequadas de desenvolvimento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A instalação, em geral, é insidiosa com sintomas e sinais gradativamente progressivos de anemia. O paciente pode ter icterícia leve (coloração amarelo-limão) pelo excesso de catabolismo de hemoglobina, resultante do aumento da eritropoese ineficaz na medula óssea. Glossite (língua com aspecto de carne bovina crua, que arde com alimentos ácidos), estomatite angular e sintomas leves de má absorção, com perda de peso, podem estar presentes, causados pelas alterações epiteliais. Púrpura decorrente de trombocitopenia e hiperpigmentação generalizada (cuja causa é incerta) são raras. Muitos pacientes assintomáticos são diagnosticados quando o hemograma, solicitado por outros motivos, mostra macrocitose. A anemia megaloblástica apresenta os seguintes sinais e sintomas: perda de apetite e astenia, dores abdominais, enjôos e diarréia, desenvolvimento de úlceras dolorosas na boca e na faringe, alterações da pele, perda de cabelo, cansaço, perda de energia e de vontade, sensação de boca e língua doloridas, durante a gravidez, parto prematuro e/ou a malformação do feto, nas crianças, o crescimento pode ser retardado e a puberdade atrasada Deficiência de B12: As manifestações clínicas da deficiência de vitamina B12 são polimórficas, variando de estados mais brandos até condições muito severas. De maneira geral, essa desordem se manifesta por um quadro clássico caracterizado por anemia megaloblástica associada a sintomas neurológicos com frequente aparecimento da tríade fraqueza, glossite e parestesias. Incluem alteraç̧es neuropsiquiátricas, neuropatia óptica, neuropatia sensitivo motora neneuropatia autonômica envolvendo os plexos mioentérico, a inervação autonômica da bexiga, determinando, neste caso, o aparecimento de bexiga neurogênica, situações todas essas que podem ser revertidas ou melhoradas com o tratamento de reposição com vitamina B12 NEUROPATIA: A deficiência grave de B12 pode causar neuropatia progressiva, que afeta os nervos sensoriais periféricos e os cordões posterior e lateral da medula espinal. A neuropatia é simétrica e afeta mais os membros inferiores do que os superiores. O paciente tem formigamento dos pés e dificuldade para deambular; em ambiente escuro, ele pode cair. Raramente, há atrofia óptica ou sintomas psiquiátricos graves. Quando há neuropatia, a anemia pode ser grave, leve e até ausente, mas o hemograma já mostra macrocitose e o aspecto da medula óssea sempre está alterado. A neuropatia periférica geralmente é reversível com o tratamento com B12, porém a recuperação da medula espinal é incompleta, principalmente se já estiver presente por mais de algumas semanas ou poucos meses. A causa da neuropatia provavelmente está relacionada com o acúmulo de S-adenosil-homocisteína e diminuição dos níveis de S-adenosil-metionina no tecido nervoso, resultando em metilação defeituosa da mielina e de outros substratos. As deficiências de B12 e folato têm sido associadas a uma redução da função cognitiva e doença de Alzheimer, mas não se demonstrou benefício pelo uso profilático dessas vitaminas. Fica claro que em todo paciente que abre um quadro demencial, a dosagem de vitamina B12 deve fazer parte da investigação laboratorial inicial. OBS: É importante termos em mente que as manifestações neuropsiquiátricas só respondem à reposição de cobalamina se esta for iniciada de maneira precoce, de preferência dentro dos primeiros seis meses após o início dos sintomas! Reposições iniciadas mais tardiamentecostumam apresentar uma resposta parcial ou ausência de resposta. No entanto, mesmo nos pacientes que não apresentam melhora clínica, a vitamina B12 deve sempre ser reposta, já que evita a progressão da doença. Defeito do tubo neural: A deficiência de folato ou de B12 na mãe predispõe a defeitos do tubo neural (DTN) no feto: anencefalia, espinha bífida ou encefalocele. Quanto mais baixos forem os níveis de folato sérico ou eritrocitário, ou de vitamina B12 sérica, maior a incidência de DTNs. No entanto, a suplementação da dieta com ácido fólico na ocasião da concepção e no início da gestação diminui em 75% a incidência de DTN. O mecanismo exato é incerto, mas supõe-se que esteja relacionado ao defeito na formação de homocisteína e de S-adenosil-homocisteína no feto, que pode diminuir a metilação de várias proteínas e lipídios. Um polimorfismo comum (677C → T) na enzima 5,10-metileno-tetra-hidrofolato-re- dutase (5,10-MTHFR), que reduz 5,10-MTHF para metil- -THF, resulta em aumento da homocisteína sérica e baixos níveis séricos e eritrocitários de folato em comparação com níveis-controle. A incidência dessa mutação é maior nos pais e nos fetos com DTN do que em controles. Outras alteraç̧es teciduais: Na deficiência grave de B12 ou de folato, a esterilidade é frequente em ambos os sexos. Há macrocitose, excesso de apoptose e outras anomalias morfológicas dos epitélios cervical, bucal, vesical e outros. Hiperpigmentação generalizada reversível também pode ocorrer. A deficiência de B12 associa- se à diminuição da atividade osteoblástica. O aumento dos níveis de homocisteína sérica e a redução no folato sérico ou eritrocitário e o polimorfismo na enzima MTHFR (ver anteriormente) têm sido associados com incidência aumentada de doenças cardiovasculares, incluindo infarto do miocárdio, doença vascular periférica, acidente vascular cerebral (AVC) e trombose venosa. A profilaxia com ácido fólico, entretanto, não reduziu a incidência de doença arterial, exceto, possivelmente, de AVC. Várias associações entre o status de folato e doenças malignas têm sido observadas, mas a metanálise de pacientes randomizados para receber ácido fólico ou placebo, por 2 anos ou mais, não mostrou diferença entre a incidência de câncer entre os dois grupos. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS: Decorrem de queixas referentes à anemia, como palpitaç̧es, fraqueza, cefaleia, irritabilidade, etc. É interessante notarmos que estes pacientes são capazes de tolerar baixíssimos níveis de hemoglobina, pois a anemia megaloblástica é uma anemia de instalação insidiosa... Eventualmente, notamos petéquias e púrpuras devido à presença de trombocitopenia. MANIFESTAÇÕES DIGESTIVAS: Podemos observar diarreia e perda ponderal, ambos decorrentes de má absorção. Os pacientes muitas vezes queixam-se de uma sensação dolorosa na língua, que se mostra avermelhada e com atrofia de papilas (glossite – A queilite angular, semelhante à observada na anemia ferropriva, também pode ser encontrada. Deficiência de Folato: Os pacientes com deficiência de folato geralmente estão mais desnutridos do que aqueles deficientes em cobalamina. As manifestaç̧es clínicas são semelhantes às da anemia por deficiência de vitamina B12, exceto por dois fatores importantes: (1) os achados do aparelho digestivo são mais exuberantes; e (2) não ocorrem manifestações neurológicas. A deficiência de folato (e a deficiência de cobalamina também) pode cursar com hiperpigmentação difusa da pele, ou somente das pregas cutâneas. A deficiência de folatos, glossite – ardência, dor e aparência vermelha da língua, “língua careca”, queilite, diarréia, perda de apetite e anemia megaloblástica indistinguível da anemia megaloblástica causada pela deficiência de vitamina B12. No entanto, ao contrário da deficiência de vitamina B12, na carência de ácido fólico, não se observa as alterações neurológicas típicas da deficiência de vitamina B12, pois o sistema nervoso do adulto não depende de ácido fólico. Outros efeitos são hiperpigmentação da pele, esterilidade, diminuição da atividade bactericida e redução das subpopulaç̧es linfocitária A diferença básica entre a deficiência de ácido fólico e vitamina B12 é o comum envolvimento do sistema nervoso no último grupo, e menos frequente no primeiro, atribuídos principalmente à neuropatia periférica e ao processo de desmielinização progressiva. As manifestações neurológicas iniciais podem acontecer já com hemograma absolutamente normal. O grau das manifestaç̧es clínicas é proporcional à citopenia do paciente. Do ponto de vista prático, as manifestações clínicas entre a deficiência de ácido fólico e vitamina B12 são pouco distinguíveis, que incluem parestesia nas extremidades, dificuldade no caminhar, fraqueza muscular e perda de memória. Outras alterações menos comuns são dificuldades visuais, distúrbios psiquiátricos, disfunções cognitivas, impotência, perda do controle do esfíncter retal e urinário, entre outras. OBS: A distinção entre a deficiência de cobalamina e de folato muito importante, pois o uso de folato pode corrigir as anormalidades hematológicas mas não as neurológicas da deficiência de cobalamina, podendo até agravá-las. TRATAMENTO: DEFICIÊNCIA DE COBALAMINA: Na grande maioria dos pacientes com deficiência de cobalamina o problema está na má absorção dessa vitamina. Assim, a via de administração tradicional é a parenteral. A vitamina B12 é prescrita sob a forma de cianocobalamina ou hidroxicobalamina. Existem vários esquemas de reposição parenteral, todos eles muito parecidos. O mais clássico consiste numa dose intramuscular de 1.000 μg (1.000 unidades), inicialmente uma vez ao dia durante sete dias, seguida da mesma dose uma vez por semana por quatro semanas, e daí em diante uma dose mensal para o resto da vida do paciente. Já foi descrito também um tratamento bem sucedido com a forma oral de cobalamina, a vitamina B12 cristalina, 2 mg (2.000 μg) por dia, baseando-se no princípio de que 1% da vitamina é absorvido mesmo na ausência do FI. Estudos recentes demonstraram respostas satisfatórias. Quando a carência de vitamina B12 e anemia megaloblástica são decorrentes de supercrescimento bacteriano, devemos indicar a antibioticoterapia. Nos pacientes com diagnóstico de anemia perniciosa, deve ser feito acompanhamento regular com endoscopia, pelo risco de desenvolvimento de CA de estômago a partir da gastrite atrófica. A resposta ao tratamento é fantástica! Logo após seu início e, mesmo alguns dias antes de uma resposta hematológica evidente, o paciente sente-se melhor disposto. DEFICIÊNCIA DE FOLATO: A deficiência de folato é tratada com terapia de reposição, na dose usual de 1-5 mg/dia por via oral. Se o problema estiver na absorção, doses de até 15 mg/dia podem ser utilizadas, sendo rara a necessidade do folato parenteral. A duração da terapia depende do grau de deficiência. A dieta deve ser corrigida, para que não haja recidiva do quadro carencial após o fim do tratamento. Os pacientes com necessidades continuamente aumentadas (anemia hemolítica ou má absorção) devem continuar recebendo ácido fólico oral indefinidamente, juntamente com uma dieta rica em folato. PROVA TERAPÊUTICA: Este assunto é muito explorado na prova de residência e também nos traz uma situação comum da prática médica: imagine um paciente com diagnóstico de anemia megaloblástica, internado num hospital público, sem os exames necessários para diferenciação entre a carência de B12 e/ou de folato... O que fazer para descobrir?! Aí está o papel da prova terapêutica... Para entender os princípios dessa prova terapêutica, é importante compreender o seguinte fato: pela inter-relação entre o metabolismo da B12 e o do folato, "a reposição de altas doses de um pode corrigir parcialmente a anemia causada pelo outro". Esse fenômeno é mais característico quando repomos doses farmacológicas de folato (1-5 mg/dia) em pacientes com deficiência de B12. Essa prática é extremamente perigosa, pois, embora a anemia seja parcialmente corrigida (inclusive com resposta reticulocitária),o quadro neurológico continua progredindo, podendo se tornar irreversível. Por isso, a prova terapêutica deve ser feita com B12 em BAIXAS DOSES (10 μg/dia intramuscular)!! As doses mais altas (terapêuticas) de B12 (100-1.000 μg/dia) podem corrigir parcialmente a anemia por carência de folato, atrapalhando o diagnóstico. Enfim: o paciente que não responder a baixas doses parenterais de B12 não deve ter carência dessa vitamina – neste caso, é provável que o problema seja a deficiência de folato. Mais uma coisa importante: os pacientes que responderam a doses baixas parenterais de B12, embora esteja confirmado o diagnóstico de carência de B12, devem também ser submetidos em seguida à prova terapêutica com baixas doses de folato (200-400 μg/dia), para averiguar se eles não possuem dupla deficiência (B12 + folato). Isso é observado em 25% de todos os pacientes com anemia megaloblástica. PROFILAXIA: Existem três situações para as quais é recomendada, de rotina, a reposição profilática de vitamina B12: Em todos os vegetarianos é recomendada a reposição de cobalamina em baixas doses (5-10 μg/dia); RN e lactentes filhos de mães deficientes em cobalamina; Pacientes com disabsorção crônica de vitamina B12 (gastrectomizados, com anemia perniciosa, acloridria ou insuficiência pancreática). Aqui, para compensar a disabsorção, as doses são maiores, cerca de 2.000 μg/dia. A reposição profilática de ácido fólico está indicada em todas as gestantes e em mulheres em idade reprodutiva que façam uso de anticonvulsivantes, na dose de 400 μg/dia. Portadores de hemólise crônica e doenças mieloproliferativas devem receber 1 mg/dia de ácido fólico. O ácido folínico deve ser usado de rotina em pacientes que usam metotrexato, pirimetamina ou trimetoprima, pois este composto não é metabolizado na via da di-hidrofolato redutase, enzima inibida por essas drogas. A dose é de 1 mg/dia. SESSÃO 03 - Anemia Megaloblástica