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PO LÍTICAS PÚ BLICAS D E ALIM EN TAÇÃO E N U TR IÇÃO Autores: Carlos Gustavo Lopes da Silva Micheline Veras de Moura Organizador: Jean Moller POLÍTICAS PÚBLICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição © by Ser Educacional Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Imagens e Ícones: ©Shutterstock, ©Freepik, ©Unsplash, ©Wikimedia Commons. Diretor de EAD: Enzo Moreira. Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato. Coordenadora de projetos EAD: Jennifer dos Santos Sousa. Núcleo de Educação a Distância: NEAD Silva, Carlos Gustavo Lopes da; Moura, Micheline Veras de. Organizador (a): Moller, Jean. Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição: Recife: Editora Cengage & Grupo Ser Educacional - 2023. 125 p.: pdf ISBN: 978-65-55580-33-4 1. Políticas públicas. 2. Nutrição. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com Iconografia Estes ícones irão aparecer ao longo de sua leitura: ACESSE Links que complementam o contéudo. OBJETIVO Descrição do conteúdo abordado. IMPORTANTE Informações importantes que merecem atenção. OBSERVAÇÃO Nota sobre uma informação. PALAVRAS DO PROFESSOR/AUTOR Nota pessoal e particular do autor. PODCAST Recomendação de podcasts. REFLITA Convite a reflexão sobre um determinado texto. RESUMINDO Um resumo sobre o que foi visto no conteúdo. SAIBA MAIS Informações extras sobre o conteúdo. SINTETIZANDO Uma síntese sobre o conteúdo estudado. VOCÊ SABIA? Informações complementares. ASSISTA Recomendação de vídeos e videoaulas. ATENÇÃO Informações importantes que merecem maior atenção. CURIOSIDADES Informações interessantes e relevantes. CONTEXTUALIZANDO Contextualização sobre o tema abordado. DEFINIÇÃO Definição sobre o tema abordado. DICA Dicas interessantes sobre o tema abordado. EXEMPLIFICANDO Exemplos e explicações para melhor absorção do tema. EXEMPLO Exemplos sobre o tema abordado. FIQUE DE OLHO Informações que merecem relevância. SUMÁRIO UNIDADE 1 Contexto histórico e político da saúde pública no Brasil � � � � � � � � � � 13 Políticas sociais e de saúde: uma visão ampliada sobre os condicionantes e determinantes nas políticas públicas � � � � � � � � � � 17 As Leis Federais 8�080 de 1990 e 8�142 de 1990 � � � � � � � � � � � � � � � � � 19 Os princípios do SUS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 27 A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �29 UNIDADE 2 Modelo Assistenciais de Saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 33 Modelos de Saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �33 Estratégia de Saúde da Família (ESF) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 35 Vigilância em Saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 39 O pacto pela Saúde e a Política Nacional de Atenção Básica: estratégias para o atendimento integral � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 44 Pacto pela saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 44 Política Nacional de Atenção Básica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 48 UNIDADE 3 Política nacional de promoção à saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 57 Valores, Princípios e Objetivos da PNPS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �61 Objetivo Geral e Objetivos específicos da PNPS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 62 Diretrizes da PNPS e os temas transversais � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 63 Eixos operacionais, competências, gestão e financiamento da PNPS 64 Temas Prioritários da PNPS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 65 Política nacional de saúde da criança � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 66 Princípios da PNAISC � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 68 Diretrizes da PNAISC � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 69 Eixos estratégicos da PNAISC � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �71 Gestão da PNAISC � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 73 Organização da atenção à saúde da criança (PNAISC) � � � � � � � � � � � �74 Programa Nacional de Imunização (PNI) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 74 Programa Saúde na Escola (PSE) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 75 Atenção à Saúde Bucal � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 76 Rede Cegonha (RC) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 77 Saúde da Criança na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) � � � � � � � � � � 77 Política Nacional de atenção ao adolescente � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �78 Temas estruturantes para atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 80 Diretrizes legais para proteção aos direitos de adolescentes e jovens 81 Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 82 Promoção da Saúde para adolescentes e jovens � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 82 Organização dos Serviços de Saúde para atenção integral à saúde de adolescentes e jovens � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 83 UNIDADE 4 Política nacional de atenção integral à saúde da mulher � � � � � � � � � 87 Princípios para política nacional de atenção integral a saúde da mulher � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 90 Diretrizes da política nacional de atenção integral a saúde da mulher 91 Objetivos gerais da política nacional de atenção integral à saúde da mulher � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 93 Objetivos específicos e estratégias da política nacional de atenção integral à saúde da mulher � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 93 Transição Demográfica e Epidemiológica: envelhecimento da população � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 94 Transição Demográfica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 95 Transição Epidemiológica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 96 Política nacional de saúde do idoso � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 96 Envelhecimento da população � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 97 Avaliação multidimensional para o envelhecimento saudável � � � � � � 99 Caderneta de saúde da pessoa idosa � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �101 Implementação da saúde integral ao idoso na rede de atenção à saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 104 Ações para implementaçãode objetivos que consolidam como método de assu- mir a “[...] estratégia de Saúde da Família como estratégia prioritária para o fortalecimento da atenção básica, devendo seu desenvolvi- mento considerar as diferenças loco-regionais; Desenvolver ações de qualificação dos profissionais da atenção básica por meio de estratégias de educação permanente e de oferta de cursos de espe- cialização e residência multiprofissional e em medicina da família; Consolidar e qualificar a estratégia de Saúde da Família nos peque- nos e médios municípios; Ampliar e qualificar a estratégia de Saúde da Família nos grandes centros urbanos; Garantir a infraestrutura necessária ao funcionamento das Unidades Básicas de Saúde, do- tando-as de recursos materiais, equipamentos e insumos suficien- tes para o conjunto de ações propostas para estes serviços; Garantir o financiamento da Atenção Básica como responsabilidade das três esferas de gestão do SUS; Aprimorar a inserção dos profissionais da Atenção Básica nas redes locais de saúde, por meio de vínculos de trabalho que favoreçam o provimento e fixação dos profissionais; Implantar o processo de monitoramento e avaliação da Atenção Bá- sica nas três esferas de governo, com vistas à qualificação da gestão descentralizada; Apoiar diferentes modos de organização e fortale- cimento da Atenção Básica que considere os princípios da estratégia de Saúde da Família, respeitando as especificidades loco-regionais (BRASIL, 2006, p. 13-14). Na Constituição Federal de 1988 e na Lei Orgânica de 1990, deve-se priorizar a articulação entre os gestores, nos diferentes níveis do sistema, para que os princípios do SUS possam fluir com benefícios à população para a saúde e seu aspecto social. Prefe- rencialmente, em dois colegiados de negociação: a Comissão In- tergestores Tripartite — CIT e a Comissão Intergestores Bipartite — CIB, que pactuarão sobre a organização, direção e gestão da saú- de (BRASIL, 2006). Política Nacional de Atenção Básica A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é considerada uma po- lítica recente, promulgada pela Portaria Nº 2436, de 21 de setembro 49 de 2017, que estabelece a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2017). A PNAB traz uma atualização da normatização de diretrizes operacionais funcionantes no SUS, priorizando as orientações da atenção básica em saúde. De acordo com a Portaria Ministerial (2017), a Política Na- cional de Atenção Básica acredita que as diretrizes dos termos e conteúdos da Atenção Primária à Saúde — APS, nos recentes pontos de vista, são semelhantes, de modo que devem andar em conjunto. Conceitua ainda a Atenção Básica como uma reunião, que se esta- belece para discussões dos problemas de saúde e sociais, bem como para a resolução desses. Busca uma atenção destinada aos indiví- duos, às famílias ou à coletividade, considerando a promoção, pre- venção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, desenvolvi- da por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido. (BRASIL, 2017). O Ministério da Saúde deixa claro que a Atenção Básica deve ser a referência principal para a entrada e para os centros de comu- nicação da Rede de Atenção à Saúde (RAS), fazendo a gestão, pre- parando e organizando as ações e serviços disponibilizados na rede (BRASIL, 2017). O Ministério da Saúde elencou, na Portaria nº. 2.436/2007, da Política Nacional da Atenção Básica, os princípios e diretrizes do SUS e da RAS a serem instrumentalizados na Atenção Básica. Os princípios, são os que estão na Constituição Federal (1988) e na Lei Orgânica da Saúde (nº. 8.080/90), que são a Universalidade, Equidade; e Integralidade e as Diretrizes: Regionalização e Hierar- quização: Territorialização; População Adstrita; Cuidado centrado na pessoa; Resolutividade; Longitudinalidade do cuidado; Coorde- nação do cuidado; Ordenação da rede; e Participação da comunidade (BRASIL, 2017). Ressaltando que a PNAB tem na Saúde da Família suas arti- culações, ações e tomadas de decisões, e estratégia prioritária para 50 expansão e consolidação da Atenção Básica (BRASIL, 2017). Tam- bém serão declaradas outras estratégias de Atenção Básica, desde que observados os princípios e diretrizes previstos nesta portaria e tenham caráter transitório, sendo que devem ser modificadas para Estratégia Saúde da Família. As prioridades e necessidades da po- pulação dependem do cumprimento da junção da Vigilância em Saúde e Atenção Básica, só assim os objetivos e metas serão al- cançados para avanço e desenvolvimento da saúde da população, na ótica da integralidade da atenção à saúde e visando estabelecer processos de trabalho que considerem os determinantes, os riscos e danos à saúde, na perspectiva da Intra e Intersetorialidade (BRASIL, 2017). De acordo com a Portaria Nº 2.436/2007, as Unidades Bási- cas de Saúde são locais que devem incentivar e praticar formação de recursos humanos, pesquisa, ensino em serviço, inovação e ava- liação tecnológica para a RAS. Todos os estabelecimentos de saúde que prestem ações e serviços de Atenção Básica, no âmbito do SUS, de acordo com esta portaria, serão denominados Unidade Básica de Saúde — UBS. O Ministério da Saúde descreve, na portaria, as responsabi- lidades que são de atributos de todos os níveis de governo, sendo elas: apoiar, cooperar e participar para a reorientação do mode- lo de atenção e de gestão, com base nos princípios e nas diretrizes contidas nesta portaria; fomentar a adoção da Estratégia de Saúde da Família — ESF como estratégia prioritária de expansão, conso- lidação e qualificação da Atenção Básica; garantir a infraestrutura adequada e com boas condições para o funcionamento das UBS. Cabe destacar, que a já citada portaria, estabelece como responsabilidade do governo, o espaço, mobiliário e equipamentos, além de acessi- bilidade de pessoas com deficiência, de acordo com as normas vi- gentes; também colaborar, auxiliar e participar no financiamento tripartite para fortalecimento da Atenção Básica; por fim, garantir e assegurar ao usuário o acesso universal, equânime e ordenado às ações e serviços de saúde do SUS, além disto, outras atribuições que venham a ser pactuadas pelas Comissões Intergestoras. A portaria ainda determina que deve-se estabelecer, nos respectivos planos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde, 51 prioridades, objetivos, metas, atribuições e estratégias para a organização da Atenção Básica; com isso, desenvolver mecanis- mos técnicos e estratégias organizacionais de qualificação da força de trabalho para gestão e atenção à saúde; estimular e viabilizar a formação, educação permanente e continuada dos profissionais; garantir direitos trabalhistas e previdenciários; qualificar os víncu- los de trabalho e implantar carreiras que associem desenvolvimento do trabalhador com qualificação dos serviços ofertados às pessoas; fortalecer a rede, garantindo o abastecimento e estratégias de fi- xação de profissionais de saúde para a Atenção Básica, com vistas a promover ofertas de cuidado e o vínculo; ampliar, possibilitar e implantar os Sistemas de Informação da Atenção Básica vigentes, propiciando mecanismos que assegurem o uso qualificado dessas ferramentas nas UBS, de acordo com suas responsabilidades; cer- tificar os dispositivos para transporte em saúde, permitindo que as equipes estejam operacionais, garantindo o cuidado integral (holís- tico) na RAS (BRASIL, 2017). O Ministério da Saúde enfatiza a necessidade de planejamen- to dos gestores em saúde e o monitoramento aliado às avaliações das ações executadas na atenção básica em saúde. Devendo, ainda, organizar ferramentas para autoavaliação, controle, regulação e acompanhamento total e sistemático dos resultados alcançados pelas ações da Atenção Básica,como parte do processo de plane- jamento e programação. É importante destacar a necessidade de di- vulgar as informações e os resultados alcançados pelas equipes que atuam na Atenção Básica, estimulando a utilização dos dados para o planejamento das ações; fomentando o intercâmbio de experiên- cias entre gestores e entre trabalhadores, por meio de cooperação horizontal, e estimular o desenvolvimento de estudos e pesquisas que busquem o aperfeiçoamento e a disseminação de tecnologias e conhecimentos voltados à Atenção Básica. Essa mesma normativa determina que se deve estimular a participação popular e o controle social; recomenda que se garanta espaços físicos e ambientes adequados para a formação de estudan- tes e profissionais de saúde, para a formação em serviço e para a educação permanente e continuada nas Unidades Básicas de Saúde; estimular e fomentar o desenvolvimento das ações de assistência 52 farmacêutica e do uso racional de medicamentos, garantindo a disponibilidade e acesso a medicamentos e insumos em conformi- dade com a RENAME, os protocolos clínicos e diretrizes terapêuti- cas, e com a relação específica complementar estadual, municipal, da união, ou do Distrito Federal de medicamentos nos pontos de atenção, visando a integralidade do cuidado; que sejam adotadas estratégias para garantir um amplo escopo de ações e serviços a se- rem ofertados na Atenção Básica, compatíveis com as necessidades de saúde de cada localidade; estabelecer mecanismos regulares de autoavaliação para as equipes que atuam na Atenção Básica, a fim de fomentar as práticas de monitoramento, avaliação e planejamento em saúde; e articulação com o subsistema indígena nas ações de educação permanente e gestão da rede assistencial (BRASIL, 2017). O Ministério da Saúde, na Portaria sobre a Política Nacional de Atenção Básica, descreve que a política é vivência acumulada por um conjunto de atores envolvidos historicamente com o desenvol- vimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde, com os movi- mentos sociais, população, trabalhadores e gestores das três esferas de governo (BRASIL, 2017). Lembrando que, como determina a portaria da Atenção Básica, a Unidade Básica de Saúde deve ser escolhida como o primeiro e principal acesso à entrada no sistema, onde a regulação deve acon- tecer de forma a organizar os fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde. Preconiza ainda priorizar a ESF como instrumento, ações e estra- tégia principal para executar as atividades em saúde na Atenção Básica, ressaltando que os territórios devem se fundamentar nos princípios e diretrizes do SUS. Salientando a necessidade do territó- rio e a existência de populações específicas, itinerantes e dispersas, que são responsáveis por essas equipes, enquanto estiverem pre- sentes no território, em consonância com a política de promoção da equidade em saúde (BRASIL, 2017). As Políticas Públicas e os Modelos de Atenção à Saúde, bem como a própria Gestão à Saúde, são estruturas e ações em conjunto de programas e políticas que resultam em tomadas de decisão para melhoria da saúde do indivíduo, família e coletividade. 53 Pudemos apreender que, no que se refere à saúde, o SUS pos- sui princípios e diretrizes que os sistemas de saúde devem seguir para se a evolução da garantia do acesso à saúde, uma rede de ações e serviços regionalizada e hierarquizada no território nacional. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • Entender as Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição; • Conhecer os Modelos Assistenciais de Saúde; • Conhecer os conceitos de Vigilância em Saúde, Pacto pela Saúde e Política Nacional de Atenção Básica; • Compreender um pouco sobre a Estratégia Saúde da Família e o Pacto pela Vida. SINTETIZANDO 54 UN ID AD E 3 Políticas Nacionais de Promoção à Saúde, à Criança e ao Adolescente 56 Introdução Olá! Você está na unidade Políticas nacionais de promoção à saúde, à criança e ao adolescente. Conheça aqui, o conceito de pro- moção da saúde, adotado a nível mundial; entenda também como o Brasil, por meio do Ministério da Saúde, tem atuado para promover uma atenção básica de qualidade. Entenda ainda os fundamentos que permeiam a promoção da saúde, bem como as bases da aten- ção primária no Brasil. Aprenda sobre a criação da política pública de atenção à saúde materno-infantil e os programas que embasam essas políticas, nos quais a gestante e a criança passam a ter uma atenção especial. Conheça também as políticas nacionais para a atenção à criança e ao adolescente, vendo os fundamentos dessas ações e conhecendo os inúmeros programas voltados aos cuidados com a juventude no Brasil e seu impacto social, educacional, político e cultural em nossa sociedade. Bons estudos! 57 Política nacional de promoção à saúde Desde a metade do século XX, o mundo tem passado por trans- formações significativas e impactantes seja na esfera econômica, política, social ou cultural, modelando novas formas de convívio e relações na sociedade. O advento das tecnologias passa a impactar as relações e ati- vidades humanas, descortinando um novo mundo com grandes de- safios para a vida em sociedade. A esfera da saúde, com toda sua diversidade e singularidade, também foi impactada por todas essas mudanças sociais que ocor- reram, pois, as transformações na sociedade também envolveram modificações na saúde e nos problemas sanitários (BRASIL, 2010). Na década de 1960, houve um grande debate entre vários paí- ses sobre os rumos econômicos e sociais da saúde que, até então, era centrada na doença e sua cura. Um dos movimentos marcantes que impactaram a forma de ver e abordar as questões de saúde foi o Movimento de Promoção à Saúde no Canadá, que levou ao surgimento do documento Informe Lalonde, lançado em 1974, configurando as bases para uma nova forma de pensar na saúde da população, ratificando que o padrão tradicional adotado até aquele momento tinha menos efeito em promover a saúde. Esse movimento abriu espaço para diversas iniciativas em outros países, para rever sua forma de cuidar da saúde, fazendo surgir inúmeras conferências internacionais de promoção da saú- de, e originando vários documentos que passaram a nortear a nova visão sobre prevenção e promoção da saúde no mundo (DIAS et al, 2018). A partir desse momento, estava estabelecida uma nova forma de abordar a saúde em âmbito mundial, na qual, em relação à análi- se do processo de saúde e adoecimento, ficou evidente que a saúde é um resultado dos modelos de organização da produção, do trabalho e da sociedade, conforme o contexto histórico, que seguiu um mo- delo biomédico de centralidade nos sintomas e na cura. 58 No Brasil, essa nova visão surgiu em meados da década de 1980, por meio de acontecimentos que levaram à incorporação da promoção de saúde com uma nova filosofia na prática das políticas de saúde (BRASIL, 2010b). Em 1986, a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), cujo tema foi “Democracia é Saúde”, foi determinante na mudança dos rumos da atenção à saúde no Brasil, constituindo um fórum de luta pela descentralização do sistema de saúde e para implementação de políticas sociais para defesa e cuidado da vida. A 8ª CNS foi o marco na Reforma Sanitária brasileira, como também da afirmação da indissociabilidade entre a garantia da saú- de como direito social irrevogável e a garantia dos demais direitos humanos e da cidadania (BRASIL, 2010b). Um fato importante sobre a 8ª CNS é que seu relatório final lançou os fundamentos para a pro- posta de criação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Na Constituição Federal de 1988, o Estado brasileiro assumiu a responsabilidade de reduzir as desigualdades sociais e regionais, sendo que a reforma constitucional que criou o SUS repassou do nível federal aos munícipios a responsabilidade de programar, atribuir os recursos, gerenciar, coordenar e avaliar os serviços de saúde ofertados(BRASIL, 2010b). Nas bases de criação do SUS, encontra-se o conceito am- pliado de saúde, a necessidade de criação de políticas públicas para sua promoção e a prioridade da participação social na construção do sistema e das políticas de saúde, além de um ponto importante: o setor sanitário não pode responder sozinho pela promoção e prevenção da saúde da população. O SUS, como uma política de estado que luta pela melhoria da qualidade de vida da população, dialoga diretamente com as ações de promoção da saúde. A promoção da saúde é uma estratégia de promoção da saúde e no SUS é retomada com a possibilidade de focar ações para redução dos determinantes do processo de saúde-adoecimento no Brasil, tendo como exemplos: violência, falta de saneamento básico, ha- bitação inadequada e/ou ausente, fome, desemprego, dificuldade de 59 acesso à educação, urbanização mal planejada, qualidade do ar e da água, lixo e as demais formas amplas de intervir na saúde. Por meio da portaria MS/GM nº 687/2006, no ano de 2006, acontece a institucionalização da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), constituindo uma política transversal para favo- recer o diálogo entre os setores do governo, setores privados e sociedade, estabelecendo redes de compromisso e corresponsabili- dade com a qualidade de vida da população (BRASIL, 2010b). A PNPS deixa claro, na sua proposta, que as intervenções em saúde ampliem sua atuação, envolvendo como objeto, os problemas e as necessidades de saúde, seus determinantes e condicionantes, chegando à população que está além dos muros das unidades de saúde e do sistema de saúde, levando a compor ações de melhoria na qualidade de vida dessas populações. A promoção da saúde estreita sua relação com a vigilância em saúde, por meio de uma integração na organização de consensos e sinergias, seguindo as premissas do governo para políticas públicas favoráveis à saúde e a vida, ratificando a importância da participa- ção social nas decisões do Estado. A saúde passa a ser compreendida como uma produção so- cial de determinação múltipla e complexa, exigindo a participação ativa de todos os sujeitos envolvidos, sejam usuários, movimentos sociais, profissionais de saúde, gestores do setor sanitário e de ou- tros setores, para análise e planejamento de ações que tenham por objetivo a melhoria na qualidade de vida da população em geral (BRASIL, 2010b). O Ministério da Saúde (MS), em 2014, propôs uma revisão da PNPS, para garantir a capilaridade da participação nas cinco ma- crorregiões brasileiras, e favorecer a escuta dos diferentes segmen- tos responsáveis pelo desenvolvimento e avaliação das ações de promoção da saúde no Brasil, firmando a parceria da PNPS com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e com o Grupo Te- mático de Promoção da Saúde da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) (BRASIL, 2015). 60 Segundo Dias et al. (2018), a descentralização da PNPS visa fortalecer, nas regiões de saúde, a corresponsabilização dos muni- cípios na implantação e implementação da PNPS, no sistema local e regional de saúde, com objetivo de melhoria na qualidade de vida da população. A promoção da saúde deve considerar a autonomia e a sin- gularidade dos sujeitos, das coletividades e dos territórios, pois, as formas como eles escolhem e organizam seu modo de viver, bem como criam possibilidades de satisfazer suas necessidades, depen- dem não apenas de sua vontade ou de uma liberdade individual e comunitária, mas sim estão condicionadas e determinadas pelo contexto social, econômico, político e cultural no local em que vi- vem (BRASIL, 2015). A PNPS, por meio do seu processo de implementação no país, nas esferas de gestão do SUS, na interação com Vigilância Sanitá- ria e demais setores das políticas públicas e da sociedade, promove mudanças nas maneiras de organizar, planejar, realizar, analisar e avaliar o trabalho em saúde. A revisão e reelaboração da PNPS foi muito importante, pois estabeleceu um diálogo com os novos marcos nacionais e interna- cionais, garantindo os princípios e as diretrizes do SUS, reconhe- cendo a necessidade de uma constante qualificação e atualização das ações e serviços prestados pelos gestores e pelos profissionais de saúde do SUS (BRASIL, 2015). 61 Figura 1 - Profissionais de saúde em trabalho de equipe interdisciplinar Fonte: Drazen Zigic / Freepik / Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-gratis/ grupo-de-profissionais-de-saude-com-mascaras-protetoras-falando-no- corredor-do-hospital_26607464.htm. Valores, Princípios e Objetivos da PNPS Os valores e princípios são a base de todas as práticas e ações no campo de atuação da promoção de saúde (BRASIL, 2015). Como va- lores da PNPS temos: • Reconhece a subjetividade das pessoas e dos coletivos nos processos de atenção e cuidados com a saúde; considera a so- lidariedade, felicidade, ética, espeito às diversidades, huma- nização, corresponsabilidade, justiça e a inclusão social como os valores fundamentais para sua concretização; E como os princípios temos: • Equidade, participação social, autonomia, empoderamento, intersetorialidade, intrassetorialidade, sustentabilidade, in- tegralidade e territorialidade. 62 Objetivo Geral e Objetivos específicos da PNPS Como objetivo geral da PNPS está a promoção da equidade e a me- lhoria das condições e modos de viver, ampliando a potencialidade da saúde individual e coletiva, procurando reduzir a vulnerabilidade e riscos à saúde, decorrentes dos determinantes sociais, econômi- cos, políticos, culturais e ambientais. Os objetivos específicos são: • Estimular a promoção da saúde como parte da integralidade do cuidado nas Redes de Atenção à Saúde (RAS); • Contribuir para a adoção de práticas sociais e de saúde centra- das na equidade, participação e no controle social, visando a redução das desigualdades, respeitando as diferenças de clas- se social, gênero, orientação sexual e identidade de gênero, entre gerações étnico-raciais, culturais, territoriais e relacio- nadas às pessoas com deficiências e necessidades especiais; • Favorecer a mobilidade humana e a acessibilidade; • Promover a cultura da paz em comunidades, territórios e municípios; • Apoiar o desenvolvimento de espaços de produção social e ambientes saudáveis; • Valorizar os saberes populares e tradicionais e as práticas in- tegrativas e complementares; • Promover o empoderamento e a capacidade para tomada de decisão, bem como a autonomia de sujeitos e coletividades, por meio do desenvolvimento de habilidades pessoais e de competências; • Promover educação, formação profissional e capacitações es- pecíficas em promoção da saúde para trabalhadores, gestores e cidadãos; 63 • Estabelecer estratégias de comunicação social e mídia, dire- cionadas ao fortalecimento dos princípios e ações em promo- ção da saúde; • Estimular pesquisa, produção, difusão de conhecimentos e estratégias inovadoras na promoção da saúde; • Promover meios para inclusão e qualificação do registro de atividades de promoção da saúde e da equidade nos sistemas de informação e inquéritos, permitindo análise, monitora- mento, avaliação e financiamento das ações; • Fomentar discussões sobre modos de consumo e produção que estejam em conflito de interesses, como os princípios e valores da promoção da saúde, que aumentem os riscos à saúde; • Contribuir para a articulação de políticas públicas e intrasse- toriais com as agendas nacionais e internacionais. Diretrizes da PNPS e os temas transversais As diretrizes da PNPS, que fundamentam as ações são: • Estímulo à cooperação e à articulação intrassetorial e intersetorial; • Fomento ao planejamento de ações territorializadas de pro- moção da saúde; • Incentivo à gestão democrática, participativa e transparente; • Ampliação da governança no desenvolvimento de ações de promoção da saúde; • Estímulo à pesquisa, à produção e à difusão de experiências, conhecimentose evidências; • Apoio à formação e à educação permanente em promoção da saúde; 64 • Incorporação das intervenções de promoção da saúde no mo- delo de atenção à saúde; • Organização dos processos de gestão e de planejamento das variadas ações intersetoriais. Os temas transversais são referências para formular plane- jamentos e agendas na promoção da saúde, por meio da adoção de estratégias e temas prioritários (BRASIL, 2015). Como temas trans- versais temos: determinantes sociais da saúde; equidade e respeito à diversidade; desenvolvimento sustentável; produção de saúde e cuidado; ambientes e territórios saudáveis; ida no trabalho, cultura da paz e direitos humanos. Eixos operacionais, competências, gestão e financiamento da PNPS Como eixos operacionais deve-se compreender que são estratégias para concretizar as ações de promoção da saúde, as quais são: • Territorialização; • Articulação e cooperação intrassetorial/intersetorial; • Rede de atenção à saúde; • Participação e controle social; • Gestão; • Educação e formação; • Vigilância, monitoramento e avaliação; • Produção e disseminação de conhecimentos e saberes; • Comunicação social e mídia. No âmbito das competências de gestão federal, estadual e municipal, a PNPS (BRASIL, 2015) articula diferenças em cada es- fera sobre como serão gerenciados os serviços da seguinte maneira: 65 Comuns em todas as esferas de gestão do setor da saúde: Divulgar a PNPS; estabelecer parcerias; contribuir para reorientação do modelo de atenção à saúde; fortalecer a participação e controle social; e promover a alocação de recursos orçamentários e financei- ros para implementação da PNPS. Ministério da Saúde: Promover a articulação com estados e municípios para implemen- tação da PNPS; pactuar os temas prioritários e financiamento da PNPS; apoiar a implementação da PNPS no perfil epidemiológico; e institucionalizar e manter em funcionamento o comitê de PNPS. Secretarias Estaduais de Saúde: Promover articulação com municípios; pactuar estratégias, me- tas, temas prioritários e financiamento de ações; e realizar moni- toramento e avaliação de programas, projetos e ações estadual e distrital. Secretarias Municipais de Saúde: Promover articulação intrassetorial e intersetorial; implementar a PNPS; apresentar no Conselho Municipal de Saúde as estratégias, programas, planos e projetos; bem como incorporar ações de pro- moção da saúde aos planos Plurianual e Municipal de Saúde. Com relação ao financiamento das políticas, programas e ações da promoção da saúde, esses serão financiados por meio de blocos de financiamento do SUS, e os temas prioritários da PNPS e seus planos operativos serão objeto de pactuação prévia na Comis- são Intergestores Tripartite (CIT) (BRASIL, 2015). Temas Prioritários da PNPS Com um permanente diálogo com outros setores governamentais e não governamentais, envolvendo o setor privado e a sociedade civil, 66 a PNPS define temas prioritários para ações de promoção em saúde (BRASIL, 2015). Os temas prioritários são: • Formação e educação permanente; • Alimentação adequada e saudável; • Práticas corporais e atividades físicas; • Enfrentamento ao uso do tabaco e de seus derivados; • Enfrentamento ao uso abusivo de álcool e de outras drogas; • Promoção da mobilidade segura; • Promoção da cultura da paz e dos direitos humanos; • Promoção do desenvolvimento sustentável. Competirá aos gestores do SUS, nas esferas federais, esta- duais e municipais, promover os meios e modos de viabilizar o al- cance dos propósitos da PNPS (BRASIL, 2015). Política nacional de saúde da criança Os cuidados com a saúde da criança no Brasil surgem a partir das ba- ses da Constituição Federal de 1988, e logo em seguida com a criação do SUS, se fortalecendo com o Estatuto da Criança de do Adolescente (ECA), bem como com apoio e tratados internacionais sobre os di- reitos humanos da criança (BRASIL, 2018). A partir dessas iniciativas, o Brasil cumpriu sua meta número quatro no Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), com 3 anos de antecedência, por meio da diminuição das taxas de mortali- dade infantil (menores de 1 ano) e mortalidade na infância (menores de 5 anos). Embora o Brasil venha tendo sucesso na redução da morbi- mortalidade por doenças imunopreveníveis, pela diarreia, na dimi- nuição da desnutrição e melhora no aleitamento materno, muitos outros problemas têm surgido, como novas doenças, envelheci- mento populacional e violência urbana (BRASIL, 2018). 67 A complexidade sociocultural, e demais fenômenos da so- ciedade atual, afetam diretamente as crianças, como as altas taxas de parto cesáreo, prematuridade, obesidade infantil, violência, aci- dentes etc. Mesmo com os grandes avanços na atenção à saúde da crian- ça, com a criação da Rede de Atenção à Saúde Materna, Neonatal e Infantil (Rede Cegonha), Programa Intersetorial Brasil Carinhoso e o Programa Criança Feliz, ainda existem muitos desafios pela frente, principalmente com as crianças que pertencem a grupos de vulnerabilidade como as que se encontram em restrição de di- reito, as indígenas, quilombolas, ribeirinhas, com deficiências e as com doenças raras. A sobrevivência precisa ser garantida, mas somente isso não basta, é necessário o desenvolvimento integral da criança visando à cidadania e o desenvolvimento nacional, além do Brasil atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no pe- ríodo de 2015 a 2030. Diante de tantos desafios nessa meta de melhorar a qualidade de atenção à saúde da criança nas três esferas do Estado (Federal, Estadual e Municipal), que é elaborada a Política Nacional de Aten- ção à Saúde da Criança (PNAISC). A PNAISC envolve a sociedade cível, militantes da causa dos direitos da criança e do adolescente, como também a Rede Nacio- nal da Primeira Infância (RNPI), a Pastoral da Criança, o Conse- lho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e os organismos internacionais, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Após um longo trabalho coletivo, o PNAISC passou pela dis- cussão e aprovação do Conanda e do Conselho Nacional de Saúde (CNS), bem como por pactuação na CIT, sendo que, em 5 de agosto de 2015, foi publicada a Portaria GM/MS n.º 1.130, de 5 de agosto de 2015, instituindo a PNAISC. Os objetivos da PNAISC envolvem promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, por meio de atenção e 68 cuidados integrais e integrados, do momento da gestação até os nove anos de idade, tendo uma atenção especial à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, para reduzir a morbimor- talidade e a construção de um ambiente de qualidade de vida com condições de pleno desenvolvimento (BRASIL, 2018). Vale lembrar que os direitos da criança já foram consagrados a partir da Constituição Federal de 1988 e reafirmados com o ECA, que considera a criança como a pessoa de até 12 anos incompletos. O Ministério da Saúde, para efeitos do PNAISC, segue o con- ceito da OMS, que considera como criança um indivíduo na faixa etária de zero a 9 anos, ou seja, de zero até completar 10 anos ou 120 meses, e a primeira Infância como uma pessoa de zero a 5 anos, ou seja, até completar 6 anos ou 72 meses (BRASIL, 2018). Figura 2 - Cuidados com a saúde da criança Fonte: Imagem de Freepik (2023). Princípios da PNAISC A PNAISC é orientada por 8 princípios que regem sua ação: 1. Direito à vida e à saúde: efetivação de políticas públicas que garantam o nascimento, crescimento e desenvolvimento sa- dios e harmoniosos, com condições dignas de existência, li- vres de qualquer tipo de violência; 69 2. Prioridade absoluta da criança: princípio constitucional que compreende a prioridade da criança em receber proteção e cuidados em qualquer situação; 3. Acesso universal à saúde: direito de toda criança, bem como dever da política de saúde, de receberatenção e cuidado necessários; 4. Integralidade do cuidado: princípio do SUS que envolve a atenção global à criança, contemplando todas as ações de promoção, de prevenção, de tratamento, de reabilitação e de cuidado; 5. Equidade em saúde: igualdade na atenção à saúde, sem privi- légios ou preconceitos, definindo prioridades de ações e servi- ços, conforme a demanda de cada um, alocando recursos onde e para aqueles com maior necessidade; 6. Ambiente facilitador à vida: estabelecimento e qualidade no vínculo entre a criança e sua mãe, família e cuidadores, bem como com os demais profissionais que atuam nos diferentes espaços onde a criança convive diariamente; 7. Humanização da atenção: qualificar as práticas do cuidado, buscando soluções concretas para os problemas reais vividos nos processos de produção da saúde; 8. Gestão participativa e controle social: preceito constitucio- nal e princípio do SUS, a fim de fomentar a democracia re- presentativa e criar as condições para o desenvolvimento da cidadania ativa. Diretrizes da PNAISC As diretrizes da PNAISC devem ser seguidas no momento da elabo- ração dos planos, programas, projetos e ações voltadas para a saúde da criança, sendo as seguintes: • Gestão interfederativa das ações de saúde da criança: par- cerias e articulação interfederativas aliadas aos instrumentos 70 que permitam a gestão; e orientar os planos de saúde e planos intersetoriais no âmbito dos cuidados com a criança. • Organização das ações e dos serviços em Redes de Atenção à Saúde: fomento e apoio à organização de ações aos serviços da Rede da Atenção à Saúde, envolvendo a articulação de pro- fissionais e serviços de saúde para integralidade da atenção e proteção à criança. • Promoção da Saúde: conjunto de estratégias e formas de pro- dução da saúde, em prol da equidade, melhoria na qualidade de vida e saúde com foco na criança. • Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família: estímulo e apoio do poder público, fornecendo informações de qualidade para resolução dos problemas de saúde e orientação na educação dos filhos, estabelecendo limites educacionais sem violência. • Qualificação da força de trabalho: qualificar os profissionais de saúde visando aos cuidados com trabalho em equipe, for- necendo uma orientação qualificada às necessidades da saúde em família. • Planejamento no desenvolvimento de ações: aperfeiçoa- mento das estratégias de planejamento na execução das ações da PNAISC, a partir de evidências epidemiológicas. • Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento: desen- volvimento do conhecimento com apoio à pesquisa, inovação e tecnologia no campo da Atenção Integral à Saúde da Criança. • Monitoramento e avaliação: monitorar e avaliar as ações e estratégias da PNAISC, por meio do aprimoramento perma- nente dos sistemas de informação e instrumentos de ges- tão, visando à efetividade e satisfação nas ações propostas de atenção e cuidados com a criança. • Intersetorialidade: ações intersetoriais, a fim de superar a fragmentação das políticas sociais no território, buscando efeitos positivos na produção de saúde e cidadania. 71 Eixos estratégicos da PNAISC Mesmo com toda a evolução na área da saúde, no âmbito do Brasil, ainda existem muitos desafios a serem superados, como a mortali- dade infantil, que permanece acima dos níveis aceitáveis em algu- mas regiões do país. Outros problemas de impacto mais geral são as mudanças sociais, econômicas e demográficas (envelhecimento da população), transição epidemiológica (mudança no padrão das doenças infecciosas para doenças crônicas degenerativas), situa- ções de vulnerabilidade social, envolvendo acidentes, violências, desastres, calamidades e acesso ao álcool e drogas pelas crianças. Ainda dentro desse contexto, temos a questão da afirmação e reconhecimento dos direitos relacionados às diversidades culturais e específicas, relacionadas às crianças: com deficiências, indígenas, negras, quilombolas, ciganas, população rural e das águas, crianças em situação de rua, em serviços de acolhimento, crianças filhas de mulheres no sistema prisional, e crianças de famílias onde existe consumo abusivo de álcool e drogas (BRASIL, 2018). Os problemas de dificuldades escolares, terceirização do cuidado com a criança e do bullying no ambiente escolar vêm somar uma gama imensa de desafios nos cuidados com a saúde da criança. Segundo Cassiano et al. (2014), qualquer política de atenção à saúde da criança precisa se basear em estratégias que acompa- nhem a qualidade dos serviços prestados, a fim de garantir que as políticas elaboradas estão realmente sendo implantadas de forma eficiente. Diante do exposto e para superação de tantos desafios no que concerne a atenção integral à criança, a PNAISC se estrutura em sete eixos estratégicos, demonstrados na sequência: 1. Atenção humanizada e qualificada à gestação, ao parto, ao nascimento e ao recém-nascido: prevenção à transmissão do HIV e da sífilis; atenção humanizada e qualificada ao par- to e ao recém-nascido; atenção ao recém-nascido de baixo peso, por meio do “Método Canguru”; qualificação da atenção 72 neonatal; alta qualificada do recém-nascido da maternidade; acompanhamento do recém-nascido de risco após a alta da maternidade e triagens neonatais universais. • Aleitamento materno e alimentação complementar sau- dável: Iniciativa do Hospital Amigo da Criança (IHAC); Es- tratégia nacional para promoção do aleitamento materno e alimentação complementar saudável no SUS; apoio à mulher trabalhadora que amamenta; Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (RBLH); implementação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, para crian- ças de primeira infância, bicos chupetas e mamadeiras (NB- CAL); e mobilização social em aleitamento materno. • Promoção e acompanhamento do crescimento e do desen- volvimento integral: disponibilização da Caderneta de Saúde da Criança; qualificação do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da primeira infância; Comitê de especia- listas e de mobilização social para o desenvolvimento integral da primeira infância no SUS e apoio à implementação do Plano Nacional pela Primeira Infância. • Atenção integral a crianças com agravos prevalentes na in- fância e com doenças crônicas: Atenção Integrada às Doen- ças Prevalentes na Infância (AIDPI); construção de diretrizes de atenção e linhas de cuidado e fomento à atenção e interna- ção domiciliar. • Atenção integral à criança em situação de violências, pre- venção de acidentes e promoção da cultura de paz: serviços especializados de atenção integral às crianças e suas famílias em situação de violência sexual; linha de cuidado para a aten- ção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências; prevenção de acidentes, violências e promoção da cultura de paz e enfretamento às violações dos direitos da criança, pactuados com instituições governamen- tais e não governamentais. 73 • Atenção à saúde de crianças com deficiência ou em situa- ções específicas e de vulnerabilidade: ações para inclusão de crianças com deficiências, indígenas, negras, quilombolas, do campo, das águas e da floresta, situação de rua, entre outras, nas redes temáticas; implementação do protocolo nacional para a proteção integral de crianças e adolescentes em situa- ção de risco e desastres; bem como apoio à implementação das diretrizes para atenção integral à saúde de crianças e adoles- centes em situação de trabalho infantil. • Vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno: identificação, levantamento dos dados da atenção ambulato- rial, urgência e hospitalar, entrevista domiciliar e análise dos óbitos de mulheres em idade fértil e óbitos maternos, fetais e infantis, bem como análise da evitabilidade dos óbitos mater- no fetais e infantis. Os eixos estratégicos envolvem as principais questões que afetam a saúde da criança, abrangendo açõese estratégias de pro- moção da saúde, prevenção de doenças e agravos à saúde, garan- tindo cuidados com a criança, da gestação ao nascimento, e no seu desenvolvimento, baseando-se nos indicadores de saúde, morta- lidade e morbidade infantil, nas diversas fases de vida da criança (BRASIL, 2018). Gestão da PNAISC Os gestores nas esferas federal, estadual, distrital e municipal de- vem promover a implementação da PNAISC, por meio de articulação interfederativa do planejamento, monitoramento e avaliação, como também da viabilização de parcerias entre os três entes da Fede- ração, o Ministério da Saúde, Secretárias da Saúde dos Estados e do Distrito Federal e Secretarias de Saúde dos Municípios (BRASIL, 2018). 74 Organização da atenção à saúde da criança (PNAISC) As atividades e serviços de Atenção Integral à Saúde da Criança são organizados e coordenados pela Atenção Básica, por meio de avalia- ção do risco individual e coletivo, desde que observadas as especi- ficidades previstas para as crianças que necessitam de uma proteção especial (BRASIL, 2018). Os cuidados com a criança necessitam de uma visão inte- gral em todos os aspectos, primando pela acolhida, uma escuta qualificada, um olhar zeloso e estabelecimento de vínculos e responsabilidade. Organizar a atenção na saúde da criança, focando em linhas de cuidado, baseadas na Atenção Básica, é uma estratégia que be- neficia a atenção integral, por meio da promoção da saúde, pre- venção de doenças e agravos, medidas de tratamento, cuidado e reabilitação, com um fluxo dinâmico para nível de atenção, com o foco no resultado efetivo dessas ações (BRASIL, 2018). A criança precisa ser compreendida como um sujeito de direitos e em condição única de desenvolvimento, sendo priorida- de nos atendimentos, por equipe multiprofissional, com um Projeto Terapêutico Singular (PTS) para casos complexos. O modelo de Atenção Básica, principalmente a Estratégia de Saúde na Família, é de suma importância para a atenção à criança nos dias de hoje. Muitos problemas enfrentados pelas crianças, na Atenção Básica, são complexos e multifatoriais, como a obesidade, doenças crônicas, violência familiar, dificuldades escolares, drogas etc., exigindo o enfrentamento com uma abordagem multiprofis- sional e em rede intersetorial de saúde. Programa Nacional de Imunização (PNI) O Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem o objetivo de er- radicar, eliminar e controlar as doenças imunopreveníveis no Brasil. A vacinação ainda é o meio mais efetivo para evitar inúmeras 75 doenças como a varíola (erradicada em 1980), a poliomielite (elimi- nada das Américas em 1994), sarampo, tuberculose, rubéola, gripe, hepatite A e B, febre amarela, e outras. Os registros das vacinações das crianças devem ser feitos na Caderneta de Saúde da Criança, seguindo o Calendário Nacional de Vacinação e sendo constantemente observado pelos profissio- nais da Atenção Básica. Investimentos específicos devem ser dispo- nibilizados pelos gestores municipais e estaduais, com o objetivo de aumentar a cobertura vacinal em todo território. Programa Saúde na Escola (PSE) Em 1997, uma nova concepção em saúde na escola foi inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), oficializando o tema da saúde como transversal às disciplinas e ações no contexto escolar, no campo da promoção da saúde e prevenção de doenças e agravos, além de atenção e cuidados à saúde de crianças e adolescentes. O PSE foi instituído pelo Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, tendo como objetivos o uso de estratégias pedagógicas alinhadas com produção de educação e saúde integral, com a premissa de estimular o autocuidado, autonomia e participa- ção dos estudantes. Os educandos devem ser autores na produção de sua pró- pria saúde e melhoria na qualidade de vida, sendo instruídos por meio de atividades pedagógicas e didáticas, com foco na alimenta- ção saudável, segurança alimentar e nutricional, práticas corporais com atividade física e lazer, saúde mental, prevenção da gravidez não planejada, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), AIDS, direito a saúde sexual e reprodutiva, prevenção ao uso do álcool, tabaco e outras drogas, prevenção de violências e acidentes, pro- moção da cultura da paz e direitos humanos, saúde ambiental e de- senvolvimento sustentável e demais ações da promoção da saúde (BRASIL, 2018). 76 Atenção à Saúde Bucal A Política Nacional de Saúde Bucal, denominada Brasil Sorridente, segue os princípios e diretrizes do SUS. O acesso à saúde bucal deve ter início no pré-natal e será incorporado ao acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança. O processo de atenção à saúde bucal inicia no pré-natal, quando a gestante deve passar pelo menos em uma consulta odon- tológica. No que concerne às crianças, se faz necessário que os pro- fissionais da equipe de saúde incorporem na sua rotina os exames da cavidade bucal e orientações aos pais e responsáveis sobre a pre- venção de doenças e agravos, bem como a promoção da saúde bucal. A faixa etária de 2 a 9 anos de idade é o período ideal para estimular o desenvolvimento de hábitos saudáveis e programas educativos e preventivos de saúde bucal. A escola é um ambiente eficiente para o desenvolvimento de atividades que envolvam a saúde bucal, ligados ao PSE. Figura 3 - Saúde bucal Fonte: ArthurHidden / Freepik / Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-gratis/ menina-linda-no-dentista-sorrindo_18892629.htm. 77 Rede Cegonha (RC) No ano de 2011, o Ministério da Saúde criou a Rede de Atenção Ma- terna, Neonatal e Infantil, a RC (Rede Cegonha), com o objetivo de garantir um novo modelo de atenção à gestação, ao parto e ao nascimento, bem como a criança, visando à promoção de saúde nessa fase e redução da morbimortalidade materna, fetal e infantil. A Rede Cegonha preconiza a implementação de práticas e tecnolo- gias direcionadas a atenção pré-natal e ao parto. Além disso, se in- centiva a qualificação da atenção pré-natal, destacando a melhoria na Atenção Hospitalar ao parto e nascimento, preconizando a redu- ção de cesarianas desnecessárias, que pode prejudicar tanto a mãe como o recém-nascido, pela falta do trabalho de parto. O trabalho de parto exerce uma influência positiva no bebê, pois a liberação da ocitocina endógena e cortisol da mãe promove a maturação final da criança, do sistema nervoso e respiratório; a liberação de líquidos pulmonares pela passagem no canal de par- to e a colonização bacteriana, estimulando o sistema imunológico e apontando uma redução no risco de obesidade, diabete, hiperten- são, asma e autismo, além de maior interação entre mãe e filho. No âmbito da criança, a RC tem como objetivo a promoção da gravidez saudável e do respeito à fisiologia dos processos de transição da vida intrauterina para vida extrauterina, respei- tando o tempo de maturação e sua capacidade de desenvolvimento pleno. Saúde da Criança na Rede de Atenção Psicossocial (Raps) A Raps tem como finalidade a promoção de cuidados da saúde de pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo os de- pendentes de álcool e outras drogas, com a criação de pontos de atenção no âmbito do SUS. Os cuidados com a saúde mental da criança devem ocorrer desde o desenvolvimento intrauterino até o nascimento saudável. 78 A estimulação precoce nos primeiros anos de vida é muito impor- tante no desenvolvimento emocional, cognitivo e social da criança. Na Atenção Integral à Saúde da Criança deve ser estimula- do o vínculo com a família e com os serviços de saúde, promovendo oportunidades de abordagem para a promoção da saúde, amamen- tação e alimentação saudável, vacinação, prevenção de doenças e agravos (BRASIL, 2018). Política Nacional de atenção ao adolescente Entre os grupos populacionais no Brasil, que necessitam de um olhar da Atenção Básica de Saúde estão os adolescentes e jovens, com foco na prevenção aos agravos e enfermidades resultantes douso abusivo de álcool e de outras drogas, e dos problemas ad- vindos da violência, como também na prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e Aids, e ainda nas orientações para saúde sexual e reprodutiva, focando na gravidez na adolescência, planejamento sexual e reprodutivo (BRASIL, 2010a). Diante de um grupo com muita diversidade, existe a necessi- dade do acesso a serviços de saúde direcionados a essa faixa etária, para que suas necessidades e demandas específicas sejam acolhi- das na atenção à saúde e na promoção da saúde. Adolescentes e jovens, por serem considerados pessoas sau- dáveis, muitas vezes não têm a atenção à saúde necessária, a não ser nas questões de saúde reprodutiva. Nos últimos anos, passa a chamar a atenção nessa faixa etá- ria, os problemas de sua vulnerabilidade com as diferentes formas de violência e a crescente incidência de mortalidade, evidenciadas por causas externas (agressões, homicídios, acidentes de transporte terrestre e suicídios). O Ministério da Saúde segue a convenção da OMS, delimitando o período de adolescência entre 10 e 19 anos, 11 meses e 29 dias e entre 15 e 24 anos como juventude. Ainda adota o termo de “pes- soas jovens” para o conjunto de adolescentes e jovens na faixa compreendida entre 10 e 24 anos (BRASIL, 2010a). 79 Os fatores de vulnerabilidade dos adolescentes e jovens são fortemente influenciados por questões econômicas e sociais, ge- rando desigualdades que afetam diretamente na saúde, principal- mente na saúde sexual; saúde reprodutiva; no uso abusivo de álcool e outras drogas; violências e demais agravos à saúde. Sendo assim, é muito importante dedicar investimento na saúde da população adolescente e de jovens, não vendo como um problema, mas sim garantir a qualidade de vida e com isso a ener- gia, o espírito criativo, inovador e construtivo dessa parcela da po- pulação, que possui um grande potencial para influenciar de forma positiva o desenvolvimento do país (BRASIL, 2010a; SCHAEFER et al., 2018). Dentro dessa proposta, que são estabelecidas as Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jo- vens na promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2010a), que têm como objetivo sensibilizar e mobilizar os gestores e profissionais do SUS para integrar ações, programas e políticas do SUS e, nas outras políticas do governo, estratégias interfederativas e intersetoriais, que se unifiquem na atenção integral aos adoles- centes e jovens. Figura 4 - Adolescente com problemas Fonte: Imagem de Freepik (2023). 80 Temas estruturantes para atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens Os temas estruturantes que visam à atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens complementam um conjunto de oportuni- dades e facilidades, com o objetivo de propiciar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, preconizado pelo Estatuto da Criança e Adolescente (BRASIL, 2010a). Os sete temas estruturantes são: 1. Participação Juvenil: ajudar os adolescentes e jovens a cons- truírem sua autonomia, por meio de espaços e situações que facilitem sua participação criativa, construtiva e solidária na solução de problemas reais seja na escola, na comunidade ou na vida social em geral. 2. Equidade de Gêneros: já houve muitos avanços no tocante à relação de igualdade de gênero, porém, ainda nos dias atuais, os homens acabam mais expostos aos riscos cotidianos do que as mulheres, seja por questões de trabalho, lazer, locomoção, cultura da “honra masculina”, dentre outros, contribuindo para formação de comportamentos estressantes e agressivos. Em contrapartida, a mulher é vista como fraca e dependente, perpetuando essa injustiça na sociedade. 3. Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos: direito de controle e decisão, com responsabilidade sobre as questões relaciona- das à sexualidade, envolvendo a saúde sexual e reprodutiva, livre de discriminação e violência. 4. Projeto de Vida: projeto de vida nasce das interações entre o fortalecimento da identidade pessoal e da autoestima, cons- ciência da responsabilidade pessoal para com a conquista de melhorias e a visão das possibilidades de oportunidades e perspectivas de futuro. 5. Cultura da Paz: quando o jovem tem a oportunidade de de- senvolver seu potencial individual e habilidades sociais, 81 torna-se capaz de desempenhar um papel de protagonista na promoção da cultura de paz. 6. Ética e Cidadania: condução da vida por princípios éticos tor- na o ser humano mais livre, autônomo e digno, contribuindo para ser uma pessoa com alto grau de cidadania. 7. Igualdade Racial e Étnica: a busca pela conscientização e eli- minação de todas as formas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerâncias correlatas. Diretrizes legais para proteção aos direitos de adolescentes e jovens Dentro do contexto das leis que embasam as Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promo- ção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2018), pode-se citar: • O Estatuto da Criança e Adolescente (Lei nº8.069, de 13 de julho de 1990): fundamenta-se na doutrina de proteção inte- gral, reconhecendo todas as crianças e adolescentes de 12 a 18 anos de idade como sujeitos de direitos nas diversas condições sociais e individuais. Direito à inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a identidade, autonomia, valores e ideias, direito a opinião, expressão e de buscar refú- gio, auxílio e orientação. • Leis Orgânicas de Saúde (Lei Nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 e Lei Nº 8.142, de 28 de dezembro de 19 90): institui o modelo descentralizado e universal de atenção à saúde, reco- nhecendo-o como um direito de todos. • Lei Orgânica da Assistência Social (Lei Nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993): tem como objetivo o amparo às crianças, adolescentes e jovens carentes, garantindo um salário míni- mo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência que comprove não possuir meios para prover a própria manuten- ção ou de tê-la provida por sua família. 82 Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens Os dados para análise da situação de saúde de adolescentes e jovens evidenciam as dificuldades de acesso à educação, o desemprego, as profundas desigualdades sociais, o meio ambiente degradado, a morbimortalidade por violências, dentre outras, apontando para o impacto causado na saúde de pessoas jovens (BRASIL, 2010a). Os adolescentes e jovens podem ficar vulneráveis aos agra- vos resultantes do uso abusivo de álcool e de outras drogas; agravos resultantes das violências; de doenças sexualmente transmissíveis e Aids; à mortalidade materna; na saúde sexual e na saúde reprodu- tiva, o que interfere no crescimento e desenvolvimento saudáveis. Promoção da Saúde para adolescentes e jovens Estabelecida a importância da promoção da saúde dos adolescentes e jovens, fica ratificada a importância de intervenções intersetoriais e interdisciplinares para ampliação de diversificação das práticas sanitárias, mudança na gestão e nos trabalhos em equipe de saúde, seguindo as seguintes proposições: • Planejamento de ações de promoção da saúde, dentro de um território sanitário ou região de saúde com a presença de ato- res sociais jovens; • Desenvolvimento da cultura de paz com parcerias das escolas, comunidades e famílias; • Serviços de saúde devem apoiar e valorizar atividades que fo- mentem a participação juvenil por meio de atividades cultu- rais e esportivas; • Favorecer o exercício de cidadania de adolescentes e jovens integrantes de grupos comunitários; • Abordar ética e cidadania na promoção da saúde; 83 • Reflexão sobre desigualdades e iniquidades relacionadas à raça, etnia, gênero e orientação sexual, bem como outras for- mas de exclusão e discriminação. Organização dos Serviços de Saúde para atenção integral à saúde de adolescentes e jovens A garantia da atenção integral aos jovens é condiçãoprimordial para a assistência desse grupo populacional, compreendendo os aspectos biológicos, psicológicos e sociais da saúde do sujeito, inserido em contextos sociais, culturais e familiares em um território (BRASIL, 2018). Sendo assim, é necessário reorganizar os serviços de saú- de quando o foco é a atenção aos jovens, tomando as seguintes iniciativas: • Acolhimento em espaços humanizados; • Melhoria no acesso aos serviços de saúde; • Sensibilidade para com as demandas e necessidades dos jo- vens, respeitando as diversidades individuais, sociais, étnicas e territoriais; • Ver a pessoa jovem de forma integral do seu ser e vida, procu- rando identificar suas necessidades de bem-estar; • Levar em conta a vulnerabilidade dos adolescentes e jovens. Na implementação das Diretrizes, três eixos devem ser a base para propiciar a atenção integral à saúde dos adolescentes e jovens: 1. Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; 2. Atenção integral à saúde sexual e saúde reprodutiva; 3. Atenção integral no uso abusivo de álcool e outras drogas por pessoas jovens. 84 Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • Conhecer a política nacional de promoção da saúde e seus be- nefícios para sociedade brasileira; • Compreender como se organizam as estratégias de promoção de saúde no Brasil; • Estudar sobre a política nacional de atenção à criança e seus benefícios para a sociedade brasileira; • Conhecer como se organizam as políticas de atenção à saúde do adolescente e jovem; • Compreender como estão estruturadas as redes de atenção aos adolescentes e jovens diante dos inúmeros problemas que afetam essa faixa etária. SINTETIZANDO UN ID AD E 4 Políticas Nacionais de Saúde da Mulher e do Idoso: Alimentação e Nutrição 86 Introdução Olá! Você está na unidade Políticas nacionais de saúde da mu- lher e do idoso: alimentação e nutrição. Conheça aqui as políticas nacionais direcionadas aos cuidados com a mulher, desde ques- tões como saúde materno-infantil até a atenção à saúde da mulher em todas as fases de sua vida. Entenda ainda os fundamentos que embasam a política nacional de cuidados com os idosos, diante da transição demográfica no Brasil. Aprenda sobre as iniciativas que existem para cuidar e zelar pela saúde dos idosos a nível nacional. Conheça, também, as políticas públicas direcionadas à alimentação e nutrição da população brasileira, conhecendo as iniciativas e leis que embasam esses cuidados. Bons estudos! 87 Política nacional de atenção integral à saúde da mulher Nas primeiras décadas do século XX, a saúde da mulher começou a fazer parte das políticas nacionais de saúde, limitada às demandas da gravidez e do parto, pois, os programas materno-infantis das décadas de 30, 50 e 70 mantinham uma visão restrita da mulher, com foco no âmbito biológico e o papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, educação e pelo cuidado da saúde do filho e demais familiares (BRASIL, 2011). Esses programas não possuíam integração com os demais programas e ações em saúde propostos pelo governo federal, pois a metas eram definidas de forma centralizada sem levar em conta as problemáticas locais em toda extensão territorial do Brasil. Por consequência, esses programas de atenção à saúde da mulher tinham baixo impacto nos indicadores de saúde. O movimento feminista brasileiro lutava para mudanças nes- ses programas, pois a mulher, após o nascimento da criança, não tinha mais nenhuma assistência exclusiva ao longo da vida. As mu- lheres lutavam para demonstrar as desigualdades nas condições de vida, nas relações entre homem e mulher, problemas relacionados à sexualidade, anticoncepção e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, além disso o problema de sobrecarga de trabalho das mulheres. A batalha pelo direito à saúde da mulher continuou com a forte ação do movimento feminista até que, em 1984, o Ministério da Saúde criou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mu- lher (PAISM), que incorporou, em suas diretrizes, as propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, englobando a integralidade e equidade na atenção à saúde da mulher, em um momento que se estava formulando as bases para o Sistema único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2011). Esse novo programa envolvia ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação; ainda englobando a assis- tência à mulher em clínica ginecológica, pré-natal, parto e puerpério, 88 no climatério, planejamento familiar, DST (atualmente denomina- da IST), câncer do colo do útero e de mama. Em 2001, o Ministério da Saúde cria a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) 2001, ampliando as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica, promovendo regionalização da assistência e mecanismos para o fortalecimento da gestão do SUS. No âmbito da atenção à saúde das mulheres, a NOAS determina que os municípios garantam ações básicas mínimas de pré-natal e puerpério, planejamento familiar e prevenção do câncer de colo uterino. O PAISM é estimulado com mais integridade pelo governo federal somente a partir de 1998, quando a saúde da mulher passa a ser considerada prioridade de governo (BRASIL, 2011). No ano de 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher orienta para um olhar e atenção a outros problemas específicos da orga- nização social das mulheres, identificando a necessidade de uma atenção às mulheres que vivem e zona rural, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias e homossexuais, bem como a inclusão de atividades e debates sobre a saúde da mulher e meio ambiente. Diante desses desafios, existe um indicador de saúde de grande relevância para avaliar as condições de saúde das mulheres, que é o indicador de Mortalidade Materna, tornando possível de- terminar o grau de desenvolvimento de uma sociedade. Quando as Razões de Mortalidade Materna (RMM) são elevadas, indicam as precárias condições socioeconômicas, baixo grau de informação e escolaridade, dinâmicas familiares com violência, e principalmente dificuldade de acesso a serviços de saúde com qualidade (BRASIL, 2011). O acesso da população rural aos serviços de saúde é um gran- de desafio do SUS, ainda existindo dificuldades de acesso às ações de saúde pelas mulheres rurais, relacionadas a fatores como: desi- gualdades das relações de gênero e de trabalho, grandes distâncias para chegar aos serviços de saúde, e pouca capacitação dos gesto- res e profissionais de saúde para atuar com as especificidades dessa parcela da população do campo. 89 Outro problema que desafia os cuidados com a mulher são os abortos, pois, quando realizados em condições inseguras, tonam- -se uma das principais causas de morte materna e constituem uma causa de discriminação e violência social contra as mulhe- res dentro dos próprios serviços de saúde. O NOAS-SUS 2001 definiu que as ações de planejamento fa- miliar fazem parte da atenção básica e que estão entre as respon- sabilidades mínimas da gestão municipal em relação à saúde da mulher, fornecendo métodos anticoncepcionais para toda a popu- lação, introduzindo um enfoque educativo, visando a escolha livre e informada, bem como garantindo o acompanhamento das usuárias. Entre as iniciativas de cuidados e atenção à mulher, as Doen- ças Sexualmente transmissíveis – DST (atualmente denominadas Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST), em especial, ao HIV e o HPV, passaram a receber especial atenção. Além disso, um olhar sobre a Violência Doméstica e Sexual, passa a receber igual atenção e verifica-se ser um importante problema de saúde pública no país. Outro ponto importante nas ações com a saúde da mulher é que se passa a orientar a atenção à mulher adolescente, que está exposta a inúmeros problemas, entre eles a contaminação e dis- seminação de doenças pela atividade sexual e a gravidez na adolescência. Ainda ampliando a atenção à saúde da mulher, abre-se um olhar para a atenção no períodode climatério/menopausa, que constitui a fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher, chegando até os 65 anos de idade. Como constitui uma fase da vida da mulher, e não uma doença, em que certas mulheres podem atravessar esse período sem sintomas ou sintomas de transição variável, nem sempre há necessidade de acompanhamento médico ou medicação. As mudanças de estilo de vida, em conjunto com o estresse, levaram ao surgimento das doenças crônico-degenerativas, que têm nas mulheres, os maiores índices de causas de morte. A hiper- tensão e a diabete constituem os principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares. 90 Complementando a atenção à saúde das mulheres, passou-se a englobar a saúde das mulheres lésbicas, das mulheres negras, mulheres indígenas e mulheres em privação de liberdade, com as particularidades específicas de cada grupo populacional (BRASIL, 2011). Figura 1 - Profissionais de Saúde em trabalho de equipe interdisciplinar Fonte: Imagem de Freepik (2023). Princípios para política nacional de atenção integral a saúde da mulher Analisando historicamente a luta das mulheres por serviços de saúde, observa-se discriminação, frustrações e violações dos direitos, por isso, a humanização e a qualidade na atenção devem envolver promoção, reconhecimento e respeito a seus direitos hu- manos, dentro da ética que garanta a saúde integral e o bem-estar (BRASIL, 2011). A humanização e a qualidade na atenção são indispensáveis, pois exigem mais do que resolução de problemas ou disponibilidade de recursos tecnológicos, bem como muito mais do que tratar bem, com delicadeza e amigavelmente (BRASIL, 2011). 91 Com o objetivo de atingir os princípios de humanização e qualidade na atenção da saúde das mulheres (BRASIL, 2011), é necessário considerar os seguintes elementos: • Acesso da população às ações e aos serviços de saúde nos três níveis de assistência; • Captação precoce e busca ativa de usuárias; • Disponibilidade de recursos tecnológicos; • Capacitação técnica dos profissionais de saúde e funcionários envolvidos nas ações de saúde, para uso das tecnologias ade- quadas, humanização e práticas educativas direcionadas às usuárias; • Acolhimento amigável em todos os níveis de assistência; • Disponibilidade de informações e orientação da clientela, familiares e da comunidade sobre promoção da saúde; • Estabelecimento de mecanismos de avaliação continuada dos serviços e desempenho dos profissionais de saúde com a par- ticipação das usuárias; • Análise de indicadores que permitam aos gestores monitorar o andamento das ações e impacto sobre os tratamentos, rede- finindo estratégias e ações quando necessário. Diretrizes da política nacional de atenção integral a saúde da mulher O Sistema Único de Saúde precisa estar orientado e capacitado para a atenção integral à saúde da mulher, envolvendo a promoção da saúde, as necessidades de saúde da população feminina e o controle de patologias prevalentes e garantia do direito à saúde (BRASIL, 2011). Sendo as diretrizes para atingir essa missão as seguintes: 92 • A política de atenção à saúde da mulher deverá atingir as mu- lheres em todos os ciclos da vida e distintos grupos popula- cionais que são: mulheres negras, indígenas, residentes em áreas urbanas e rurais, residentes em local de difícil acesso, em situações de risco, presidiárias, de orientação homosse- xual, com deficiência, e outras; • A elaboração, execução e avaliação das políticas de saúde da mulher deverão ser norteadas pela perspectiva de gênero, de raça e de etnia; • A gestão política de atenção à saúde da mulher deve ter uma dinâmica inclusiva; • A atenção integral à saúde da mulher envolve o conjunto de ações de promoção, proteção, assistência e recuperação da saúde, de básica à alta complexidade; • O atendimento deve ser norteado pelo respeito às diferenças, sem discriminação de qualquer espécie e sem imposição de valores e crenças pessoais; • No processo de elaboração, execução e avaliação das políticas de atenção à saúde da mulher deve ser estimulada e apoiada na participação da sociedade civil organizada, como o movi- mento de mulheres; • No âmbito do setor saúde, a execução de ações será definida entre todos os níveis hierárquicos, propiciando uma atuação mais abrangente e horizontal, assim como a adaptação às rea- lidades regionais; • As ações voltadas para a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres deverão ser executadas de forma articu- lada com os setores governamentais e não-governamentais (BRASIL, 2011). 93 Objetivos gerais da política nacional de atenção integral à saúde da mulher Como objetivos gerais (BRASIL, 2011), que são a base para a política nacional de atenção integral à saúde da mulher, temos: • Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mu- lheres brasileiras, por meio da garantia de direitos legalmen- te constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo o país; • Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade femi- nina no Brasil, em todos os ciclos da vida, e nos diversos gru- pos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie; • Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no SUS. Objetivos específicos e estratégias da política nacional de atenção integral à saúde da mulher Como objetivos específicos da política nacional de atenção integral à saúde da mulher temos: • Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive para as portadoras da infecção pelo HIV e outras DSTs (ISTs); • Estimular a implantação e implementação da assistência em planejamento familiar, para homens e mulheres, adultos e adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde; • Promover a atenção obstétrica e neonatal, qualificada e hu- manizada, incluindo a assistência ao abortamento em condi- ções inseguras para mulheres e adolescentes; • Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual; 94 • Promover a prevenção e o controle das doenças sexualmen- te transmissíveis (DSTs/ISTs) e da infecção pelo HIV/AIDS na população feminina; • Reduzir a morbimortalidade por câncer na população feminina; • Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulhe- res sob o enfoque de gênero; • Implantar e implementar a atenção à saúde da mulher no climatério; • Promover a atenção à saúde da mulher na terceira idade; • Promover a atenção à saúde da mulher negra; • Promover a atenção à saúde das trabalhadoras do campo e da cidade; • Promover a atenção à saúde da mulher indígena; • Promover a atenção à saúde das mulheres em situação de pri- são, incluindo a promoção das ações de prevenção e contro- le de doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/AIDS nessa população; • Fortalecer a participação e o controle social na definição e implementação das políticas de atenção integral à saúde das mulheres (BRASIL, 2011). Transição Demográfica e Epidemiológica: envelhecimento da população O Brasil passa por um intenso processo de envelhecimento da po- pulação, caracterizando que a transição demográfica caminha de forma dinâmica, levando o Brasil a assumir características de paí- ses desenvolvidos, onde já houve a transição demográfica de forma acentuada e a população idosa cresce vertiginosamente. 95 De acordo com os dados do IBGE (2015), a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros aumenta progressivamente e, em 2016, atingiu uma média de 72-75 anos, caracterizando que em torno de 29 milhões de brasileiros tem 60 anos ou mais, equivalente a 14,3% da população total; e as projeções apontam que, em 2030, o número de idosos vai superar o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos em torno de 2,28 milhões. Ampliando esses dados e análises temos que, em 2050, a população idosa vai ser cercade 30% da população brasileira, e as crianças serão 14% (BRASIL, 2017). Transição Demográfica A ideia da transição demográfica e sua transformação em uma teoria coerente, englobando as mudanças no perfil da mortalidade e da fecundidade, datam da primeira metade do século XX. As popula- ções antigas, ou primitivas, no sentido usado em demografia, con- viviam com altos índices de mortalidade e natalidade. A história recente mostra que a situação sofreu mudanças consideravelmente (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003). Algumas características dessa evolução podem ser assim pontuadas, pois possuem uma aplicação mais geral: taxas de mor- talidade tendem a declinar bem antes das de natalidade; população crescerá, enquanto houver diferenças entre os níveis das taxas de natalidade e mortalidade; natalidade declina: fim do período de crescimento demográfico, pode ser previsto; taxa de natalidade e mortalidade em níveis muito próximos = nível de estabilidade de- mográfica (quantitativa). A redução da mortalidade e fecundidade faz com que a es- perança de vida aumente, a população envelheça e amplie-se a proporção de mulheres na população. A tendência demográfica no Brasil em breve é a seguinte na população: menor proporção de crianças, maior proporção de adultos, proporção crescente de idosos e aumento da proporção de mulheres na fase idosa. Assim que acontece a transição demográfica em uma região e/ou país, acontece em um segundo momento, a transição epi- demiológica, isto é, a mudança no perfil das doenças, já que, com 96 o envelhecimento de uma população, o padrão das doenças so- fre alteração, aumentando a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, como a diabete, doença arterial coronariana, doen- ça pulmonar obstrutiva e outras, o que infere que os cuidados irão demandar um período mais longo (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003). Transição Epidemiológica Na etapa inicial de vida de um povo, predominam as doenças infec- ciosas e parasitárias, sendo que progressivamente elas cedem lugar às condições crônico-degenerativas, que passam a ser prevalentes, especialmente nos idosos, estabelecendo a Transição Epidemioló- gica (PEREIRA, 2006). • Em sociedades primitivas, temos doenças infecciosas e morbidade por causas externas; má-nutrição e anemia ferropriva; elevados níveis de mortalidade em crianças; es- perança de vida ao nascer baixa; pobreza e analfabetismo. • Nas sociedades contemporâneas, temos baixas taxas de mortalidade e natalidade; obesidade em crianças e adultos; doenças crônico-degenerativas; esperança de vida elevada e ações de prevenção em saúde com foco nos fatores de risco. Política nacional de saúde do idoso A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) (BRASIL, 2017) tem como objetivo a atenção integral à saúde da pessoa idosa e con- sidera a condição de funcionalidade (nível da autonomia e inde- pendência para a realização das atividades da vida diária) como um importante indicador de saúde dessa parcela da população. A PNSPI tem como meta principal promover, manter e re- cuperar a autonomia e a independência das pessoas idosas, di- recionando medidas individuais e coletivas de saúde, alinhadas com os princípios e as diretrizes do SUS (BRASIL, 2017). 97 A organização e a implantação da linha de cuidado de atenção integral à saúde da pessoa idosa vão ao encontro da Agenda ONU 2030, que tem como compromisso internacional a realização de ações para o Desenvolvimento Sustentável, focando e contemplan- do o objetivo três (ODS#3): assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. Agenda ONU 2030 – Desenvolvimento Sustentável A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. São objetivos e metas claras, para que todos os países adotem de acordo com suas próprias prioridades e atuem no espírito de uma parceria global, que orienta as escolhas necessá- rias para melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro. Envelhecimento da população O envelhecimento da população não acontece de forma homogênea, pois existem pessoas idosas com capacidade de realizar as ativi- dades cotidianas com autonomia, mesmo tendo doenças crônicas; por outro lado, há idosos que precisam de apoio e adaptações para que possam realizar suas atividades com certa autonomia, e alguns acabam se tornando totalmente dependentes de cuidados contínuos e ajuda de familiares ou terceiros (BRASIL, 2018). Um ponto importante a se considerar, é o fato de que a pessoa ser idosa e estar em tratamento para doenças crônicas não signifi- ca que precise de cuidados constantes, pois muitos ainda têm au- tonomia para viver com tranquilidade, sem dependência funcional. Portanto, muitas vezes, uma visão estereotipada da velhice pode FIQUE DE OLHO 98 levar ao preconceito e discriminação contra grupos ou pessoas, de- vido à idade; e à discriminação etária, considerando o idoso um far- do para família, para a sociedade e para o Estado. A diversidade existente entre pessoas de idade avançada deve-se a inúmeros fatores, como os genéticos, os ambientes fí- sicos e sociais, questões econômicas e culturais, família, gênero e identidade étnico-racial, os quais influenciam no processo de envelhecimento individual, não existindo idoso típico, e nem pro- cesso de envelhecimento igual para todos (BRASIL, 2018). Devido a essa diversidade de fatores, a abordagem à pessoa idosa não se restringe a uma ação relacionada a uma doença ou gru- po de doenças e agravos, mas precisa considerar a limitação fun- cional e o nível de dependência de familiares ou cuidadores, a fim de executar as atividades da sua vida (BRASIL, 2018). Uma maior prevalência das doenças crônicas não trans- missíveis, as multimorbidades e a dinâmica das condições de independência e autonomia (limitações funcionais) levam a uma perspectiva de cuidados com longa duração, implicando aos siste- mas de saúde demandas crescentes por procedimentos de média e alta complexidade, como também serviços de reabilitação e de in- ternação (BRASIL, 2018). Diante do envelhecimento da população, as políticas públicas e os serviços de saúde precisam encontrar formas de organização, que atendam à demanda crescente com qualidade e resolutividade, por isso, os gestores e profissionais dos sistemas de saúde devem compreender esse fenômeno, a fim de planejar, organizar, implan- tar e desenvolver ações e serviços na Rede de Atenção à Saúde (RAS), além de articular com as demais redes intersetoriais para coordenação do cuidado, redução de custos e otimização de recursos de forma integral na amplitude do sistema (BRASIL, 2018). 99 Figura 2 - Cuidados com a pessoa idosa Fonte: gpointstudio / Freepik / Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-gratis/ visitas-ao-meu-medico-nao-sao-desagradaveis_10978627.htm. Avaliação multidimensional para o envelhecimento saudável A concepção ampliada de saúde e envelhecimento e/ou envelheci- mento saudável, que engloba a capacidade funcional como medida de bem-estar físico, mental e social, constitui a meta a ser atingida não somente pelo setor da saúde, mas também pelo grupo de políti- cas públicas. Todas essas ações precisam garantir o prolongamento da independência e autonomia, o máximo possível, para permitir que a pessoa idosa cuide de si mesma e realize as atividades para sua sobrevivência (BRASIL, 2018). Para pessoas idosas que apresentam capacidade funcional alta e estável (BRASIL, 2018), é necessário trabalhar as ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, tais como: • Promoção de hábitos de alimentação saudáveis; incentivo à realização de atividades físicas; 100 • Controle do tabagismo e do consumo de bebidas alcoólicas, medicamentos e outras drogas; • Promoção de atividadesda linha de cuidado do idoso na RAS � � � 106 Política Nacional de Alimentaçãoe Nutrição � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 107 Propósito e princípios da PNAN � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �110 Diretrizes da PNAN � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 112 Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) � � � � � � � � � � � � 113 SISVAN e acesso informatizado � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �114 Missão do SISVAN � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 115 Apresentação Este livro, Políticas públicas de alimentação e nutrição, leva ao leitor, além de conceitos triviais da área, conteúdo característico sobre o histórico das políticas de saúde no Brasil; modelos assis- tenciais de saúde; políticas nacionais de promoção à saúde, criança e adolescente; políticas nacionais de saúde da mulher, idoso e ali- mentação e nutrição. Entre muitos assuntos, a primeira unidade, Histórico das po- líticas de Saúde no Brasil, aborda a Lei Federal nº 8080, de 1990, a Lei Federal nº 8.142, de 1990. As políticas de saúde no Brasil também são tratadas. A segunda, Modelo assistenciais de saúde, explica modelos assistenciais de saúde, vigilância em saúde, pacto pela saúde, polí- tica nacional de atenção básica. A terceira unidade, Políticas nacionais de promoção à saúde, criança e adolescente. Aqui será explicado o conceito de promoção da saúde adotado a nível mundial e como o Brasil tem atuado para promover uma atenção básica de qualidade. Agora, para finalizar o conteúdo da obra, a quarta unidade, Políticas nacionais de saúde da mulher, idoso e alimentação e nu- trição aborda as políticas nacionais para a mulher, desde saúde ma- terno-infantil a atenção à saúde da mulher em todas as fases de sua vida, e os fundamentos que embasam a política nacional de cuida- dos com os idosos. Esta é apenas uma pequena amostra do que o leitor aprenderá após a leitura do livro. Desejamos que os leitores tenham uma carreira de sucesso, com muito prestígio. A eles, sorte em seus estudos! Autoria Carlos Gustavo Lopes da Silva. Farmacêutico Bioquímico, Pedagogo, Especialista em Saúde Públi- ca e Mestre em Tecnologias Educacionais. Pós-graduando em De- senvolvimento de Jogos Digitais. Professor Formador N TE/UFSM. Professor Conteudista e Tutor MUST University. Ministra Palestras, Cursos e Oficinas sobre o uso das Tecnologias na Educação. Pesquisa atualmente sobre uso dos Games e Gamificação na Educação. CEO Imagu Lab. Micheline Veras de Moura. Graduada em Enfermagem. Doutoranda em Estudos Contempo- râneos pela Universidade de Coimbra-pt. Mestre em Enfermagem pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em UTI Neonatal e Pediátrica. Atualmente enfermeira no Hospital Universitário Ono- fre Lopes em Natal - RN e professora da pós-graduação em Terapia Intensiva e Urgência e Emergência na Uninassau. Conteudista na plataforma AVASUS. UN ID AD E 1 Histórico das Políticas de Saúde no Brasil 12 Introdução Olá! Você está na Unidade que discorre sobre o Histórico das po- líticas de Saúde no Brasil, conheça aqui alguns aspectos impor- tantes desse tema, tais como a Lei federal 8080 de 1990 e a lei federal 8.142 de 1990, bem como as políticas de saúde no Brasil. Conheça também seus determinantes, diretrizes, políticas sociais, programas; suas particularidades, histórico e atualidades. Você vai aprender sobre conceitos-chave como estado social e movimento sanitarista. Bons estudos! 13 Contexto histórico e político da saúde pública no Brasil Fazendo uma análise geral e inicial sobre o Brasil, há mais de uma década atrás, percebemos que, em alguns aspectos, houve pouca ou nenhuma evolução, sob a perspectiva da saúde, antes do resgate histórico. É importante lembrar que estamos falando de um país com desigualdade acentuada, uma nação extremamente populosa, com uma economia social totalmente desproporcional (FURTADO, 1999). O histórico político mostra que a política de saúde abarca, inclui e compreende as indagações inerentes à saúde, incluindo suas diretrizes, normas e protocolos (SOUZA, 2007; VIANA; BAPTISTA, 2008). O colonizador não demonstrava interesse em ter um novo modelo de atenção à saúde para os que ali estavam. Porém, com a chegada da família real, advinda de Portugal, a história começou a tomar novas rumos, com a necessidade do controle das epidemias de doenças, pois até então toda prática e conhecimento sobre doen- ças era realizada por curandeiros. A família real iria se instalar na cidade do Rio de Janeiro, tornando necessário o controle de doen- ças e a prevenção propriamente dita (CARVALHO, 2013). Ainda segundo Carvalho (2013), a revolução industrial foi um dos grandes marcos dessa história, muito relevante para as políti- cas públicas em saúde no Brasil. A mão de obra era pouca e, com isso, a imigração aumentou significativamente, acarretando o apa- recimento das doenças e epidemias. Antes da primeira Constituição Federal, o modelo de saúde no Brasil era do tipo supressivo, o qual era centrado no governo, a prioridade era a recuperação da saúde (PIOLA; VIANA, 2009). No ano de 1948, a OMS já tornava relevante a política de saú- de como prioridade, trazendo à tona a discussão sobre a saúde não só como ausência de doença, mas incluindo todos os aspectos da saúde do ser humano, como o bem-estar físico e social, com uma concepção bem mais holística sobre saúde (SEGRE; FERRAZ, 1997). 14 Para tentar resolver a assistência à saúde no Brasil, proble- ma que se estende desde o período do Império, foi criado o Institu- to Nacional de Previdência Social (INPS), em 1966. Foram várias as tentativas de novas elaborações para se pensar em saúde. Nesse modelo, o recurso social era altamente concentrado na previdência social, o poder estava centralizado e o atendimento médico pon- tuado na individualidade. A classe de trabalhadores era assegurada, até certo ponto. A responsabilidade era do Ministério da Previdência e Assistência Social, ao mesmo tempo em que o Ministério da Saúde era o respon- sável pela parte normativa e de execuções (ESCOREL, 2008). De acordo com Fleury (2009), na década de 70, um movi- mento social denominado de Movimento Sanitário, julgava que a reestruturação da saúde deveria ser pautada pela modificação da abordagem biológica, para toda uma modificação na parte históri- ca e estrutural do indivíduo. Na luta contra a ditadura, e pela po- pularização da saúde, as políticas tinham como propósito erradicar e controlar as doenças e epidemias, como a varíola, febre amarela, entre outras doenças; e dentro desse interesse a elite também não poderia ser prejudicada. Depois da tentativa da Reforma Sanitária, aconteceu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, com propostas inovadoras, oficializadas pela Constituição Federal (CF) em 1988, com o lema de que a saúde é um direito de todo cidadão, sendo este o principal lema do SUS. Literalmente, ficou registrado na Constituição Federal conforme o seu art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Es- tado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recu- peração” (BRASIL, 1988). Mudanças e transformações ocorreram para promover uma guinada na saúde da população. Nesse sentido, equipes de médicos e demais profissionais da saúde contribuíram com o desenvolvimen- to de artigos científicos, para ajudar na construção e melhoria da saúde coletiva. Tudo ficou muito marcado pela 8ª Conferência Na- cional de Saúde, realizada na década de 80. Com isso, cumpriu-se o 15 objetivo da Reforma Sanitária, depois da qual, passou-se a incluir na legislação a universalidade do direito à saúde, oficializado com a Constituição Federal de 1988.coletivas de socialização; prevenção de doenças transmissíveis (como as infecções sexualmente transmissíveis – ISTs e as doenças pneumocócicas); • Prevenção e controle de doenças não transmissíveis (como diabetes e hipertensão). Ainda se sugere, práticas integrativas e complementares, como a yoga, meditação e acupuntura, entre outras, que oferecem diferentes recursos terapêuticos da medicina tradicional e comple- mentar/alternativa, ajudam no bem-estar físico, emocional e social das pessoas idosas, estimulando o autoconhecimento, a autonomia e a relação saudável com a sua fase de vida (BRASIL, 2018). Todas essas ações têm como objetivo preservar a funciona- lidade, evitando a ocorrência de agravos ou a prevalência de con- dições crônicas, que possam levar ao declínio ou comprometer a autonomia e independência das pessoas. Quanto às pessoas idosas que apresentam perdas significati- vas de capacidades, tornando-se dependentes, existe a necessidade de gerenciar as condições crônicas já agravadas, garantindo uma vida digna, com cuidados de longa duração, e se preciso acompa- nhamento domiciliar, reabilitação, cuidados paliativos, suporte a familiares e a outros cuidadores (BRASIL, 2018). Nos casos em que ocorre o declínio ou perda de capacidades, é necessário o desenvolvimento de políticas públicas, que busquem eliminar as barreiras em relação a participação das pessoas ido- sas e compensar a perda da capacidade, com adaptações e super- visões necessárias, seja por meio de tecnologias assistivas ou apoio de terceiros (BRASIL, 2018). A fim de organizar as abordagens adequadas a cada grupo da população idosa, é necessário ter uma compreensão multidimen- sional para avaliar e identificar as necessidades e especificidades de cada pessoa idosa, tanto do ponto de vista clínico, como psicossocial e funcional. Essa avaliação das múltiplas dimensões é a avaliação 101 multidimensional, que estrutura e organiza o cuidado com as pes- soas idosas (BRASIL, 2018). Na dimensão clínica, se analisa o histórico de saúde-doença, por meio de uma investigação ampliada e centrada na pessoa ido- sa; além do exame físico tradicional, na busca por agravos como quedas, hematomas, fraturas e outros, também as doenças crônicas e agudas, hábitos, antecedentes familiares e as medicações utiliza- das (BRASIL, 2018) Na dimensão psicossocial, se analisa os aspectos relaciona- dos à cognição, à memória, ao humor, aos comportamentos e à saúde mental de forma geral, focando atenção tanto em situações de sofrimento psíquico quanto transtorno mental estabelecido; bem como a compreensão da dinâmica familiar e questões econômicas, culturais, ambientais, gênero e até mesmo o grau de instrução, já que a baixa escolaridade impacta de forma negativa nos prognós- ticos de saúde. Ainda no campo do desempenho físico e social do idoso, existe uma dependência da integridade das funções cognitivas e do humor, a fim de preservar e manter a autonomia do idoso, indis- pensável para realizar as atividades diárias. No campo da dimensão funcional é considerado, de forma objetiva, se uma pessoa é capaz ou não de realizar atividades da vida diária, utilizando diferentes habilidades, de modo a avaliar se consegue desempenhar as atividades necessárias para cuidar de si (como tomar banho, alimentar-se, vestir-se etc.), interagir com sua família, com seu ambiente físico, com as pessoas de sua comu- nidade e transitar por seu território. Esta dimensão busca averiguar o grau de dificuldade e a necessidade de auxílio de outras pes- soas para a realização das atividades da vida diária, detectando se são parciais ou totais (BRASIL, 2018). Caderneta de saúde da pessoa idosa O Ministério da Saúde disponibilizou, para a pessoa idosa, a Cader- neta de saúde da Pessoa Idosa, como uma ferramenta de apoio para a avaliação multidimensional a ser realizada no nível primário 102 da atenção, possibilitando o rastreio de eventos e contextos impor- tantes, a fim de identificar as reais necessidades de saúde, potencial de risco e os graus de comprometimento da autonomia e indepen- dência da pessoa idosa, facilitando as intervenções adequadas a cada caso (BRASIL, 2018). O uso dessa ferramenta ajuda na avaliação histórica de cada pessoa, analisando sua condição e hábitos de vida, bem como os contextos familiares, sociais e econômicos, que contribuem para melhora ou piora de determinado prognóstico. Além disso, a cader- neta permite um acompanhamento longitudinal e controle das doenças crônicas, como a hipertensão e diabetes mellitus, bem como os fatores de risco. A caderneta também auxilia no autocuidado pelos idosos, pois os mesmos podem visualizar e registrar a sua própria trajetória de saúde, podendo decidir em manter ou alterar da melhor forma possível, e ainda possibilitar aos familiares e cuidadores a qualifica- ção do cuidado diário com prevenção de quedas, vacinação, alimen- tação saudável, saúde sexual e bucal. Como a caderneta é um documento que permanece com a pessoa idosa, favorece a comunicação entre as diferentes equipes dos pontos de atenção da RAS, já que possui todas as informações importantes do indivíduo e sua trajetória clínica, psicossocial e funcional. Essa contribuição dos dados contidos na caderneta é de grande valia na comunicação em municípios que ainda não possuem prontuários eletrônicos compartilhados entre os diferentes níveis de atenção (BRASIL, 2018). Na gestão do cuidado da pessoa idosa, as equipes de saúde podem realizar a avaliação multidimensional com o apoio da Cader- neta de Saúde da Pessoa Idosa e sua Ficha Espelho, formulando as- sim o Projeto Terapêutico Singular (PTS), coordenado e integrado, sendo a curto, médio e longo prazo. 103 Níveis de Prevenção Os níveis de prevenção têm o objetivo de evitar, postergar, diagnos- ticar, curar, reabilitar e melhorar a qualidade nos serviços de saúde, visando a manter o equilíbrio na saúde da população, e se divide em 4 dimensões: • Prevenção primária: ações que envolvem evitar, prevenir ou postergar o aparecimento de doenças e agravos à saúde como ações de educação em saúde, alimentação saudável, vacinação e outras ações; • Prevenção secundária: caso não se consiga evitar o surgi- mento das doenças, se inicia ações que envolvem diagnósticos precoces, tratamentos médicos, medicamentos e demais pro- cedimentos em busca da cura; • Prevenção terciária: caso a doença deixe sequelas e limita- ções, é necessário reabilitar esse indivíduo para viver em so- ciedade por meio de fisioterapia, terapia ocupacional e demais tratamentos de reabilitação; • Prevenção quaternária: se refere ao profissional de saúde, que precisa de atenção e cuidado nos procedimentos de saúde para não cometer e/ou reduzir os erros, pois a saúde e vida de seu paciente está em jogo. A utilização do PTS como um dispositivo de intervenção e de cuidado desafia a organização tradicional dos trabalhos em saúde, porque indica e mostra claramente a necessidade de uma maior articulação entre os profissionais (interdisciplinaridade) e o uso de reuniões de equipe como um espaço coletivo e sistemático para reflexão, discussão, compartilhamento e responsabilidade colaborativa das ações envolvendo as políticas públicas e conheci- mentos direcionados à população idosa (BRASIL, 2018). FIQUE DE OLHO 104 O PTS tem por premissa objetivar intervenções no campo clínico, psicossocial e funcional, para permitir preservar ou recupe- rar a autonomia e a independência, bem como identificar eventos que possam levar a risco de piora nas condições gerais da pessoa idosa. O acompanhamento por meio da Caderneta de Saúde da Pes- soa Idosa e o Projeto Terapêutico Singular (PTS) permitem o acesso ao cuidado integral, obtendo respostas a partir de suas necessida- des específicas, evitando a fragmentação da atenção, que pro- voca demanda desnecessária por procedimentos e medicamentos (BRASIL, 2018). Um dos problemas na atençãoà saúde do idoso é a falta de equipes e profissionais de saúde de referência, que tenham um vín- culo significativo com a pessoa idosa, levando o mesmo à busca desorientada por serviços, profissionais e intervenções das mais diferentes ordens, o que cria um estresse para a pessoa idosa, bem como para seus familiares e cuidadores, seja pela jornada em vários locais sem resolução do problema ou sobrecarga de procedimentos e medicamentos, na maioria das vezes desnecessários e iatrogêni- cos (estado de doença, efeitos adversos ou complicações causadas pelo tratamento médico ou como resultados dele). Com o objetivo de que as pessoas idosas possam de fato ser atendidas de acordo com suas necessidades e com integralidade no SUS, é necessário a organização e a coordenação do cuidado na RAS, e que se definam as competências e se articulem os diferentes pontos de atenção, numa linha de cuidado desde a Atenção Básica à Especializada (BRASIL, 2018). Implementação da saúde integral ao idoso na rede de atenção à saúde Os objetivos das Redes de Atenção à Saúde (RAS) são a promoção e integração sistêmica de ações e serviços de saúde, com planos de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e humaniza- da; além da melhora no desempenho do sistema de saúde, no que 105 diz respeito ao acesso, equidade, eficácia clínica e sanitária, bem como eficiência econômica (BRASIL, 2018) Na organização e no planejamento da atenção à saúde da pessoa idosa (BRASIL, 2018), é necessária a realização da avaliação multidimensional, que permite identificar as necessidades de saúde e dividir a população idosa em três grandes perfis, de acordo com os níveis de funcionalidade apresentados, para facilitar a organização dos cuidados na RAS a partir da atenção primária: 1. Pessoas idosas independentes e autônomas: realizam suas atividades de forma independente e autônoma, sem neces- sidade de ajuda de terceiros, nenhum tipo de adaptação ou modificação. Os cuidados devem prever ações de promoção e proteção da saúde, bem como ações de prevenção de agravos e de doenças transmissíveis e não transmissíveis, além de in- tervenções terapêuticas se necessário. 2. Pessoas idosas com alguma limitação funcional (com ne- cessidade de adaptação ou supervisão de terceiros): rea- lizam atividades de forma adaptada com algum tipo de modificação. Necessitam de alguma adaptação do ambiente ou do mobiliário, como por exemplo, realizar atividades sen- tadas, que antes eram feitas em pé, ou ainda o uso de lupas, lentes, aparelho auditivo ou outro tipo de órteses ou próteses, nas quais a pessoa idosa não depende de terceiros para realizar as atividades básicas, tendo uma independência modificada, sendo que em algumas situações precisa de uma supervisão de terceiros (por exemplo, colocar pasta na escova de dente etc.). 3. Pessoas idosas dependentes de terceiros para realizar suas atividades cotidianas: não realizam as atividades diárias bá- sicas sozinhas e encontram-se totalmente dependentes de terceiros para realizá-las, é necessário dar banho, vestir, ali- mentar, mudar de espaço, fazer a transferência da cama para a cadeira ou vice-versa e outras formas de ajuda, portanto, o foco de cuidado deve estar na prevenção terciária e quater- nária, gerenciando as condições crônicas e ofertando serviços prolongados. 106 A divisão da população idosa é útil tanto para a organização das ações de saúde dirigidas ao coletivo, ficando nas necessidades gerais dos diferentes perfis da população, bem como para identifi- car e planejar intervenções específicas, voltadas a cada sujeito na sua singularidade e especificidade (BRASIL, 2018). Ações para implementação da linha de cuidado do idoso na RAS Na implementação da linha de cuidado com o idoso, é necessário: • Criar e garantir espaços colegiados de decisão, a exemplo de comitês gestores locais (regionais, estaduais e municipais), com a representação das principais instâncias decisórias, en- volvendo os gestores das diferentes políticas públicas com in- terface com a promoção do envelhecimento saudável; • Promover a integração da RAS, da atenção primária à especia- lizada, bem como a integração das equipes; • Ofertar e promover mecanismos para a educação permanente das equipes de saúde; • Promover a articulação com a sociedade civil organizada para o envolvimento e participação cidadã das pessoas idosas na promoção e proteção de seus direitos; • Registrar e sistematizar informações sobre as condições de saúde da pessoa idosa para tomada de decisões; • Estabelecer instrumentos de gestão e definir indicadores para o monitoramento e a avaliação da implementação e resulta- dos da linha de cuidado. (BRASIL, 2018) Segundo a política nacional de cuidados integrais aos idosos, é recomendado adotar os seguintes indicadores mínimos: • Proporção de pessoas idosas com avaliação multidimensio- nal realizada, em relação ao número de idosos cadastrados na Atenção Básica; • Proporção de PTS elaborados, em relação ao número de idosos acompanhados pelas Equipes da Atenção Básica; 107 • Proporção de eAB/eSF capacitadas em envelhecimento e saú- de da pessoa idosa, em relação ao número de equipes existen- tes na Atenção Básica; • Proporção de pessoas idosas com dependência para AVD (bá- sicas e instrumentais), acompanhadas em seu domicílio pelas equipes da Atenção Básica (AD1 ou eSF ou eAB); • Proporção de pessoas idosas em reabilitação funcional so- bre o total de idosos com dependência para as AVD (básicas e instrumentais); • Proporção de idosos que participam de atividades coletivas/ grupais de promoção da saúde e prevenção de agravos reali- zadas pelas equipes da Atenção Básica; • Proporção de idosos que utilizam cinco ou mais medicamen- tos (polifarmácia) acompanhados pelas equipes da Atenção Básica; • Taxa de internações por condições sensíveis à atenção básica. (BRASIL, 2018) Após esse estudo sobre a atenção integral ao idoso fica cla- ro que é relevante a ampla discussão junto aos gestores municipais, estaduais e do Distrito Federal, sobre a operacionalização do cui- dado qualificado às pessoas idosas nos territórios, por meio de Grupos e/ou Comitês Gestores, com vistas a pactuações necessárias para a inclusão do tema nas agendas estratégicas do SUS (BRASIL, 2018). Política Nacional de Alimentação e Nutrição A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) foi aprovada em 1999, integrando os esforços do Estado brasileiro que, por meio de um conjunto de políticas públicas, propõe respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos à saúde e à alimentação (BRASIL, 2013). 108 A população brasileira, nas últimas décadas, experimentou grandes transformações sociais, advindas das transições demográ- ficas, epidemiológica e nutricional, que resultaram em mudanças nos padrões de saúde e consumo alimentar. A transição nutricional se manifesta após as mudanças que causaram impacto na diminuição da pobreza e exclusão social e, consequentemente, da fome e desnutrição, acontecendo um au- mento vertiginoso do excesso de peso em todas as camadas da população, apontando para um novo cenário de problemas relacio- nados à alimentação e nutrição. A principal conquista, na última década, foi a incorporação da alimentação como um direito social. A Emenda Constitucional n° 64, aprovada em 2010, introduziu, no artigo 6° da Constituição Federal, a alimentação como direito; além disso, iniciou uma nova abordagem para atuar no combate à fome, à pobreza e na pro- moção da alimentação adequada e saudável, publicou a Lei 11.346/2006 – Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional e o Decreto 7.272/2010 – Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, as quais apresentam, entre as suas bases, o fortale- cimento das ações de alimentação e nutrição no sistema de saúde (BRASIL, 2013). Entre as primeiras orientações da PNAN está o aleitamento materno como a primeira prática alimentar dos indivíduos,sendo necessário para a garantia da saúde e do desenvolvimento adequa- do das crianças, por isso o Brasil adota as recomendações inter- nacionais, recomendando o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, e continuado até o segundo ano de vida (BRASIL, 2013). A transição do aleitamento materno para os alimentos con- sumidos pela família é o período denominado como alimentação complementar, que deve ser iniciada aos seis meses de idade e con- cluída aos 24 meses. A introdução de alimentos deve ser feita aos poucos, em quantidade e qualidade adequadas a cada fase do desen- volvimento infantil, sendo o momento em que os primeiros hábitos são adquiridos e formados, e a correta inserção dos alimentos tem o papel de promoção à saúde e hábitos saudáveis, além de proteger 109 a criança de deficiências de micronutrientes e doenças crônicas na idade adulta (BRASIL, 2013). A dieta habitual dos brasileiros é fortemente caracterizada por uma combinação de uma dieta dita tradicional (arroz com feijão) com alimentos classificados como ultraprocessados, com altos teores de gorduras, sódio e açúcar, e com baixo teor de mi- cronutrientes e alto conteúdo calórico. O consumo médio de frutas e hortaliças ainda é metade do valor recomendado pelo Guia Ali- mentar para a população brasileira, ao mesmo tempo que alimen- tos ultraprocessados, como doces e refrigerantes, têm aumentado o consumo a cada ano (BRASIL, 2013). A dieta dos brasileiros de baixa renda apresenta melhor qualidade, com predominância do arroz, feijão em concomitância com alimentos básicos como peixes e milho, enquanto que a fre- quência de alimentos de baixa qualidade nutricional, como doces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados, tende a crescer com o aumento da renda das famílias (BRASIL, 2013). Existem diferenças consideráveis na alimentação de po- pulações da zona rural e zona urbana, sendo que a zona rural apresenta maior consumo de alimentos básicos, como arroz, fei- jão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, frutas e peixes; enquanto, na zona urbana, há um maior consumo de alimentos ultraprocessados. A transição nutricional acontece com um aumento da dispo- nibilidade média de calorias para consumo, sendo que, em 2009, o consumo energético diário médio da população foi superior ao re- comendado de 2000 kcal, contribuindo para o excesso de peso, se assemelhando às encontradas em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, com as maiores médias entre os adolescentes do sexo masculino e as menores entre os idosos (BRASIL, 2013). A diminuição da atividade física, alimentação pouco saudá- vel, com um padrão de dieta rica em alimentos de alta densidade energética e baixa concentração de nutrientes, aliado ao aumento de consumo de alimentos industrializados, consumo excessivo de sódio, gorduras e açúcar acaba por levar ao aumento da obesidade e outras doenças crônicas como a diabetes e hipertensão. 110 A transição nutricional no Brasil fica evidente quando se compara as altas taxas de desnutrição, na década de 1970, com um país que tem metade da população adulta com excesso de peso no ano de 2008. Diante dessas desigualdades no padrão de alimentação dos brasileiros, a PNAN torna-se uma resposta oportuna e específica do SUS para reorganizar, qualificar e aperfeiçoar suas ações para o enfrentamento da complexidade da situação alimentar e nutricional da população brasileira, ao mesmo tempo que promove a alimenta- ção adequada e saudável, bem como a atenção nutricional para to- das as fases do curso da vida (BRASIL, 2013). Figura 3 - Aleitamento Materno Fonte: Imagem de Freepik (2023). Propósito e princípios da PNAN A PNAN tem como propósito a melhoria das condições de alimenta- ção, nutrição e saúde da população brasileira, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis; a vigilância ali- mentar e nutricional; a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2013). 111 Como princípios da PNAN (BRASIL, 2013) temos: Alimentação como elemento de humanização das práticas de saúde: A alimentação traduz as relações sociais, valores e história da pes- soa e dos grupos populacionais, implicando direto na saúde e qua- lidade de vida; Respeito à diversidade e à cultura alimentar: A alimentação brasileira, com suas particularidades regionais, é a síntese do processo histórico e cultural, entre as matrizes indígena, portuguesa e africana que se somam, por meio dos fluxos migra- tórios, das influências de práticas e saberes alimentares de outros povos que compõem a diversidade sociocultural brasileira; Fortalecimento da autonomia dos indivíduos: O fortalecimento ou ampliação dos graus de autonomia para as es- colhas e práticas alimentares envolve um aumento da capacidade de interpretação e análise do sujeito sobre si e sobre o mundo, e a capacidade de fazer escolhas, governar e produzir a própria vida; Determinação social e a natureza interdisciplinar e intersetorial da alimentação e nutrição: O conhecimento das determinações socioeconômicas e culturais da alimentação e nutrição dos indivíduos e grupos contribui para o acesso a uma alimentação adequada e saudável, colaborando com a mudança do modelo de produção e consumo de alimentos, que de- terminam o atual perfil epidemiológico; Segurança alimentar e nutricional com soberania: A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é estabelecida no Bra- sil como a realização do direito de todos ao acesso regular e per- manente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem 112 comprometer o acesso às outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Diretrizes da PNAN As diretrizes da PNAN (BRASIL, 2013) orientam as linhas de ações para atingir os objetivos, capazes de provocar uma mudança nos determinantes de saúde da população brasileira: 1. Organização da Atenção Nutricional: promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento de agravos, devendo estar associados às demais ações de atenção à saúde do SUS. 2. Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS): conjunto de estratégias que proporcionem aos indivíduos e coletividades a realização de práticas alimentares apropria- das aos seus aspectos biológicos e socioculturais, bem como ao uso sustentável do meio ambiente. 3. Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN): monitorar o padrão alimentar e o estado nutricional dos indivíduos aten- didos pelo SUS, em todas as fases do curso da vida. 4. Gestão das Ações de Alimentação e Nutrição: Cabe aos ges- tores do SUS, nas esferas federal, estadual, distrital e mu- nicipal, promover a implementação da PNAN, por meio da viabilização de parcerias e da articulação interinstitucional necessária para fortalecer a convergência dela com os Planos de Saúde e de Segurança Alimentar e Nutricional. 5. Participação e Controle Social: reconhecer e apoiar o prota- gonismo da população na luta pelos seus direitos à saúde e à alimentação, por meio da criação e fortalecimento de espaços de escuta da sociedade. 113 6. Qualificação da Força de Trabalho: ordenação da formação dos trabalhadores do setor da saúde que atuam na agenda da alimentação e nutrição no SUS. 7. Controle e Regulação dos Alimentos: planejamento das ações que garantam a inocuidade e a qualidade nutricional dos alimentos, controlando e prevenindo riscos à saúde. 8. Pesquisa, Inovação e Conhecimento em Alimentação e Nu- trição: desenvolvimento do conhecimento e o apoio à pes- quisa, à inovação e à tecnologia, no campo da alimentação e nutrição em saúde coletiva para possibilitar a geração de evi- dências e instrumentos para implementação do PNAN. 9. Cooperação e articulação para a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN): direito de todos ao acesso regular e per- manente a alimentos de qualidade, em quantidadesuficiente, sem comprometer o acesso às outras necessidades essenciais, tendo como base as práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. Seguindo os princípios do SUS, os gestores nas três esferas – federal, estadual e municipal – de forma articulada e cumprindo suas atribuições comuns e específicas, irão atuar para viabilização do alcance das diretrizes da PNAN (BRASIL, 2013). Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) A implementação do SISVAN aconteceu em 1977 tendo como pro- posta a organização de um sistema de informação para vigilância do estado nutricional e da situação alimentar da população brasileira. Sua regulamentação veio, posteriormente, em 1990, pela Portaria do Ministério da Saúde nº 080, de 16 de outubro de 1990, sendo sua existência a nível municipal considerada pré-requisito para o re- passe de recursos federais para as ações de combate à desnu- trição (BRASIL, 2004). 114 As três áreas temáticas propostas inicialmente pelo SISVAN, no Brasil, foram as seguintes: a. Estado nutricional / Carências específicas. b. Consumo alimentar. c. Desempenho e qualidade do serviço. Estas áreas temáticas têm como objetivos básicos a dispo- nibilização de informações para o planejamento de ações, para prevenção e controle dos distúrbios nutricionais da população. A primeira versão do SISVAN, com abrangência nacional e in- formatizada, foi disponibilizada pelo Ministério da Saúde em 2004, pautada pela Portaria nº 2.246, de 18 de outubro de 2004 (BRASIL, 2004). Posteriormente, na tentativa de aperfeiçoar o sistema, foram identificadas as potencialidades, limitações e avanços no estabele- cimento de um novo sistema informatizado do SISVAN, culminando no lançamento, em 2008, de uma versão do sistema totalmente dis- ponível para acesso pela internet. SISVAN e acesso informatizado O SISVAN está disponível para o registro e a disseminação de infor- mações acerca da avaliação antropométrica e de consumo alimentar da população atendida na Atenção Básica, seja esta criança, adoles- cente, adulta, idosa ou gestante, independente do sexo, raça/cor, escolaridade ou pertencente a algum povo ou comunidade tradicio- nal (BRASIL, 2017). Com relação ao acompanhamento da situação das doenças crônicas não-transmissíveis, relacionadas com a alimentação e es- tilos de vida considerados inadequados, o trabalho deve ser compa- tibilizado com os sistemas em funcionamento, em termos da coleta, da geração, do fluxo, do processamento e da análise dos dados, são exemplos: o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), o Siste- ma de Informação de Nascidos Vivos (SINASC), o Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (SINAN), e o Sistema de Informação Am- bulatorial (SIAB), estando a estratégia para tal interface a cargo do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI) (BRASIL, 2017). 115 Missão do SISVAN A missão do SISVAN é produzir um elenco básico de indicadores capazes de sinalizar os eventos de maior interesse, tais como: disponibilidade de alimentos, aspectos qualitativos e quantitativos da dieta consumida, práticas de amamentação e perfil da dieta com- plementar pós-desmame, distribuição do peso ao nascer, prevalên- cia da desnutrição energético-proteica, de anemias, do sobrepeso, das deficiências de iodo e de vitamina A, e das demais carências de micronutrientes relacionadas às enfermidades crônicas não-trans- missíveis (BRASIL, 2017). No monitoramento da situação alimentar e nutricional, o SISVAN deve se concentrar na atenção à gestante e no crescimento e desenvolvimento das crianças, servindo de eixo para todo traba- lho empreendido na rede de serviços, de forma especial na atenção básica de saúde, inclusive considerando o compromisso de sua uni- versalização (BRASIL, 2004). Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • Conhecer a política nacional de atenção à saúde da mulher; • Compreender como se organiza a atenção à saúde da mulher nas diversas esferas do SUS; • Estudar sobre a política nacional de atenção integral à saúde do idoso; • Conhecer como se organiza a política nacional de alimentação e nutrição; • Compreender como está estruturado o sistema de vigilância alimentar e nutricional. SINTETIZANDO 116 Referências UNIDADE 1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasí- lia, 1988. Disponível em: . Acesso em: 19 maio. 2023. BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Brasília, 1990. 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Em 1994, o Brasil começou a estruturar modelos de saúde e investiu na Estratégia Saúde da Família (ESF), criada em 1994, com o objetivo de um olhar holístico e integral, buscando reorientar o modelo de saúde e político da população Brasileira, tendo maior foco no aten- dimento universal, equânime e igualitário, tanto para o indivíduo e família, como para a coletividade (MALTA, 2013). Isso foi inserido na Constituição Brasileira Federal (1988), que declarou em seu ar- tigo Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econô- micas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igua- litário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988). O SUS foi inserido na Constituição de 1988. O artigo 6º, em especial, destaca a saúde como um direito social. Essa foi uma gran- de vitória para a nação brasileira. Algumas políticas de saúde foram instituídas após a promulgação do SUS na Constituição Federal. Com o SUS, a universalidade, equidade e integralidade ficaram instituídas para a população Brasileira. Políticas de gratuidade de medicamentos, como também os tratamentos para as doenças 16 crônicas não transmissíveis, são até hoje uma prioridade para o sistema (MALTA, 2016). Outra prioridade do Ministério da Saúde são os tratamentos com antirretrovirais, direcionado às pessoas que vivem com HIV/ AIDS. Existe também o investimento na prevenção da saúde dessa população (GALVÃO, 2002). A Constituição Brasileira declara que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Direito conquistado na luta pela re- democratização do país, após muitas discussões e conquistas, e da contribuição do movimento da Reforma Sanitária Brasileira (PAIM, 2011). A cada quatro anos, ocorrem as conferências de Saúde, com o intuito de propor melhorias para a saúde da população e seu bem-estar físico e social, com uma visão ampliada sobre saúde que advém das novas perspectivas de saúde única (BRASIL, 1990). As diretrizes que advêm das Conferências de saúde se iniciam, a nível municipal, evoluindo para estadual, até o momento em que se ampliam em uma discussão muito maior, a nível nacional, sen- do assim deliberadas propostas e diretrizes, como as políticas de saúde para toda a nação (BRASIL, 1990). Existem planejamentos a serem seguidos no âmbito do SUS, que elegem prioridades. O SUS utiliza como ferramentas de gestão o PNS (Plano Nacional de Saúde), a Programação Anual de Saúde e o Relatório Anual de Ges- tão. Além disso, para além do setor de saúde, o governo elabora o PPA (Plano Plurianal), a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e a LOA (Lei Orçamentária Anual). Uma Conferência que também merece destaque é a que ocor- reu em 2003, com o tema forte, discutível e real, “A Saúde que Te- mos, o SUS que Queremos”. A XII Conferência Nacional de Saúde FIQUE DE OLHO 17 teve muita relevância e levou a avanços nas políticas de saúde, pois induziu os gestores à reflexão proposta por seu tema, desde as esfe- ras municipais até a nacional. O evento reuniu mais de 4.000 pessoas na etapa nacional e mais de 100 mil pessoas nas etapas municipais. A Carta Magna, nossa Constituição Federal Brasileira (BRA- SIL,1988), beneficia toda a população quando descreve, em seu artigo 5º, que: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. A partir disso, e de outras garantias previstas na legislação, aconteceram outras intervenções nas políticas de saúde e social, assim como os condicionantes e determinantes de saúde que foram inclusos na Lei Orgânica. Políticas sociais e de saúde: uma visão ampliada sobre os condicionantes e determinantes nas políticas públicas O SUS trouxe uma visão social e biológica da saúde pública, não mais centrada somente no atendimento médico. Desde sua promul- gação na Constituição Federal, as melhorias para a população foram visíveis em saúde. O Sistema Único de Saúde tem uma complexidade exorbitante, se comparado a outros sistemas no mundo, isso acon- tece mesmo nos atendimentos mais comuns e simples, realizados em uma unidade de saúde ou outro ambiente social. Essa simpli- cidade pode estar por trás da troca de um curativo ou da simples verificação de pressão arterial na atenção primária em saúde, até um hospital terciário¹ onde se pode fazer um transplante renal ou de qualquer outro órgão, e assim garantir a universalidade, integra- lidade, acessibilidade e o atendimento gratuito da saúde (BRASIL, [s.d.]). 1 Hospital terciário – hospital especializado ou com especialidades, des- tinado a prestar assistência a clientes em outras especialidades médicas além das básicas� (Brasil, 1987) 18 Com isso, tivemos muitos avanços, previstos na Constitui- ção Federal Brasileira que deixa decretado que a “saúde é direito de todos e dever do estado” (BRASIL, 1988). Anterior a isso, a saúde era seletiva, pois, somente trabalhadores que possuíam um vínculo a Previdência Social possuíam o direito ao acesso à saúde pública (BRASIL, [s.d.]). A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da Federação: a União, os estados e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto em ações, quanto os serviços de saúde e engloba: 1. A atenção primária, de média e alta complexidades; 2. Os serviços de urgência e emergência; 3. A atenção hospitalar; 4. As ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental; 5. E a assistência farmacêutica. Na década de 90, o SUS iniciou seu percurso regido por nor- mas que tinham o objetivo de reordenar o sistema nacional de saúde, pensando na melhoria de qualidade de vida da população. Com isso, tanto a regionalização, quanto a descentralização contribuíram para as novas políticas, tanto de saúde, quanto sociais (OUVERNEY, 2014). O SUS é regido pela LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 (BRASIL, 1990a), que dispõe sobre as condições para a promo- ção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcio- namento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Lembrando que, de acordo com autor Viana et al. (2017), a Organização Mundial de Saúde, quando discorre sobre saúde, am- plia a visão a respeito dela, colocando-a como relacionada aos as- pectos sociais e psicológicos, um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de doença, e ressalta que é um direito fundamental do indivíduo. Descreve ainda que não há somente princípios biológicos da patologia, mas 19 especialmente causas sociais, como alguns exemplos que citaremos no decorrer do texto. Figura 1 - Direito à saúde Fonte: Imagem de Freepik (2023). Segundo a OMS (1986), ocorreram várias discussões sobre promoção da saúde e foi realizada a primeira Conferência Inter- nacional sobre Promoção da Saúde, na qual a promoção da saúde foi conceituada como o processo que busca permitir que as pessoas aumentem o controle e a melhoria da saúde. Em 1990, a atenção se voltou para os determinantes sociais, o que resultou na criação da Comissão Nacional de Determinantes Sociais de Saúde (CNDSS), em 2005. As Leis Federais 8�080 de 1990e 8�142 de 1990 A Lei 8.080/90, conhecida como Lei Orgânica da Saúde, e a Lei 8.142/90 foram votadas na década de 90, por meio da luta na Refor- ma Sanitária e dos próprios profissionais de saúde, com o objetivo de melhorar o atendimento, centrado não só na origem da doença biológica, mas também na inclusão dos determinantes sociais. Por meio desta lei, as ações de saúde passaram a ser regulamentadas em 20 todo o território nacional. Vamos entender alguns tópicos relevan- tes para esse assunto: 1. A regulamentação da Lei orgânica da saúde; 2. A Constituição Federal; 3. Os objetivos do SUS; 4. As Comissões Permanentes Bipartite e Tripartite. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados con- tratados ou conveniados, que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal (BRASIL, 1988). De acordo com a Lei Orgânica (BRASIL, 1990), o SUS foi re- gulamentado de forma que tem ação em todo o território nacional, e nas atividades e serviços de saúde. O SUS presta atendimento uni- versal, com equidade, integral e hierarquizado. Os serviços são rea- lizados condicionalmente ou em grupos, incluindo juridicamente instituições sejam elas públicas ou privadas. Segundo a lei, o esta- do passou a ser responsável legalmente pela saúde da população, garantindo que a saúde é um direito essencial do ser humano, devendo o estado provê-la com execuções políticas e sociais, que enxerguem uma contenção na redução dos riscos à saúde da popula- ção. Garantindo que o indivíduo tenha acesso universal e igualitário, com promoção e proteção da saúde (BRASIL, 1990). O cidadão não pode esquecer que o dever do Estado não ex- clui as obrigações dele como indivíduo perante a lei. Nas políticas de saúde estão incluídos os determinantes e condicionantes de saúde para um bem-estar físico e social, lembrando que saúde não é so- mente ausência de doença. A saúde está determinada e condiciona- da de acordo com alguns aspectos, como a alimentação, a moradia, FIQUE DE OLHO 21 o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 1990). O Sistema Único de Saúde conceitua, segundo a lei Orgânica 8.080 (BRASIL, 1990a), o que são os Serviços de Saúde, descreven- do que são ações integradas realizadas por instituições públicas e privadas, sejam elas municipais, estaduais ou federais, tanto da ad- ministração direta quanto indireta, financiadas pelo Sistema único de saúde, ressaltando que as instituições privadas fazem parte do sistema por meio complementar. O SUS tem objetivos elencados na Lei Orgânica, sendo eles: o reconhecimento dos condicionantes e determinantes da saúde, para melhoria da qualidade de vida em saúde da população, bem como a divulgação desses determinante. Tem o objetivo da elabo- ração de política de saúde destinada a proporcionar melhorias na saúde e nos aspectos sociais. E, por fim, investir na promoção de ações de prevenção à saúde, proteção e recuperação da população. Há atribuições que cabem aos sistemas de saúde, como execu- tar ações no campo da vigilância sanitária e epidemiológica; investir na saúde do trabalhador e na assistência na sua integralidade, até mesmo farmacêutica; não esquecendo de incluir nas políticas as ações de atividades no saneamento básico; bem como distribuir, organizar e formar recursos humanos na área da saúde; promover a vigilância no âmbito nutricional e a direção no sentido de orientar sobre alimentação. Cabe, também, trabalhar para as melhorias na proteção do meio; atentar e direcionar ações de fiscalização sobre a alimentação; e não menos importante, o investimento e participa- ção na ciência e na área da tecnologia (BRASIL, 1990). A lei Orgânica determina alguns princípios para o desenvol- vimento das ações que devem ser baseadas na universalidade, in- tegralidade de assistência, preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; di- reito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; divul- gação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; utilização da epidemiologia para o 22 estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orien- tação programática; participação da comunidade; descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de go- verno: ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; in- tegração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; conjugação dos recursos financeiros, tecnoló- gicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; capacidade de resolução dos serviços em todos os ní- veis de assistência; e organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. De acordo com a Lei Orgânica da Saúde, o SUS, também com- porta as Comissões Permanentes pensadas e criadas para manter e dar continuidade à integração entre os serviços de saúde e as insti- tuições de ensino profissional e superior. As Comissões têm por objetivos organizar e articular méto- dos e estratégias para a formação e educação continuada dos pro- fissionais que compõe o quadro do SUS, na esfera correspondente, assim como em relação à pesquisa e à cooperação técnica entre essas instituições. São essas instituições que articulam as negociações e pac- tuações que acontecem quanto à parte técnica e operacional do SUS. Intergestores Bipartite e Tripartite, são reconhecidas por realiza- rem a negociação e pactuação entre gestores, quanto aos aspectos operacionais do Sistema Único de Saúde, como incluído pela Lei nº 12.466 (BRASIL, 2011). 23 Figura 2 - Legislação em saúde Fonte: Imagem de Freepik (2023). Em 1988, a Constituição Federal deixou seu grande marco, incluindo a participação social na discussão e elaboração de políti- cas de saúde e social. O cidadão pode participar, opinar e ter acesso a instrumentos, por meio dos quais pode interferir e contribuir nas melhorias de saúde da coletividade e do indivíduo, o que é de todo interesse para o poder público. Com isso, houve a criação de leis e normas que pudessem assim oficializar a participação democrática no país (SANTOS, 2000). O Sistema Único de Saúde, além da Lei Orgânica de Saúde, é regido também pela Lei Nº 8.142, de 28 de dezembro 1990 (BRASIL, 1990). Essa Lei propõe a participação da comunidade na gestão do SUS. A respeito da Conferência de Saúde, a Lei 8.142 (BRASIL,1990) descreve que a mesma deve se reunir a cada quatro anos, convocada pelo poder executivo, e seus participantes devem realizar discus- sões e propor as diretrizes para as políticas de saúde e sociais, que abordem as melhorias na saúde da população e do indivíduo. 24 As políticas de saúde e sociais foram contempladas com o Conselho de Saúde. O conselho possui os representantes do governo, representantes da saúde e da sociedade civil. Os usuários também participam das reuniões, trazendo problemas inerentes à comuni- dade. O conselho é um órgão de caráter permanente e deliberativo (BRASIL, 1990). Segundo a mesma lei, os Conselhos, tanto o Conselho Nacio- nal de Secretários de Saúde (CONASS) quanto o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS) devem ter parti- cipação no Conselho Nacional de Saúde. Porém, quando se trata dos usuários, a lei esclarece que a representação dos usuários nos Con- selhos de Saúde e Conferências será paritária em relação ao conjun- to dos demais segmentos (BRASIL, 1990). Segundo Brasil (2003), para um fluxo organizado e um avan- ço próspero da atenção básica,deve-se seguir os princípios e deve- res do SUS, com implementação de ações, intervenções e políticas com estratégias que reorientem o modelo de atenção à saúde, trazi- das para a realidade local da população, para assim obter um maior resultado. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem sido um marco na construção e na elaboração de um modelo de saúde diferenciado, com resolubilidade e centrado no indivíduo, com humanização, enxergando o ser holisticamente, ou seja, de forma integral, em sua totalidade. A ESF é responsável por uma localidade e uma determinada quantidade de indivíduos, realiza acompanhamento permanente desses e cria vínculos e afetividades com a população, estando mais próxima do processo saúde-doença. Ainda consegue respon- sabilizar mais os profissionais de saúde. Com a organização da atenção básica, a rede mais complexa do sistema consegue se tornar o fluxo mais organizado, de forma hierarquizada. Levando assim a mais acesso aos outros níveis de complexidade na saúde para a população (BRASIL, 2003). Diante disso, nas Conferências de Saúde, essas estratégias podem ser ampliadas e, mais ainda, priorizadas pelo Ministério da 25 Saúde, pois a participação popular tem sido reconhecida como uma inovação no setor saúde, ou seja, o indivíduo participando das discussões das políticas direcionadas à saúde, e sua ampliação para caráter social da saúde. A relação do Estado e sociedade nessa par- ticipação tem gerado novas propostas com a mudança na visão da sociedade. De acordo com Rocher (2001), essa transformação da posição do Estado em relação à saúde pública, tem contribuído com novas políticas em todo o percurso da elaboração das políticas de saúde e social. Assim podemos dizer que há um caminho direcionado para visões que construam políticas voltadas para as reais necessidades da população. O SUS tem em seus objetivos cumprir a descentralização e a regionalização, isso tudo, fruto das reformas sofridas e modelos de saúde criados (ROCHER, 2001). Figura 3 - Sistema Único de Saúde Fonte: editorial Grupo Ser Educacional (2023). Segundo a Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988), na orientação sobre o financiamento, o Sistema Único de Saúde será fi- nanciado com recurso da seguridade social, e das esferas do governo da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Conforme Reis et al. (2017), o SUS conseguiu chamar a aten- ção do mundo, como um dos planos de maior transformação na saúde, tanto pela ideia da regionalização, como a descentralização, 26 sendo incontestável a necessidade de desenvolvimento no acesso aos serviços de saúde e ao aparato social. É um grande desafio para o governo. Em relação à descentralização, tem-se a Norma Operacional Básica do SUS, da década de 90. Essa norma conseguiu que os re- cursos fossem direcionados para os municípios, diretamente para áreas que dizem respeito à saúde. Além disso, após a norma, os pró- prios municípios ampliaram a quantidade de recursos próprios des- tinados à área da saúde (PIOLA et al., 2013). O Ministério da Saúde é responsável por toda a parte de es- trutura do SUS. O Sistema Único de Saúde é todo interligado por instituições, como Ministério da Saúde, todas as esferas dos muni- cípios, estados e Distrito Federal, sendo que cada um tem atribui- ções, ações e execuções próprias. O Ministério da Saúde é o gestor nacional do SUS, ele é quem desenvolve, observa e monitora as ações, ele é quem averígua as ações em conjunto com o Conselho Nacional de Saúde. A atuação do Ministério é juntamente com a Comissão Inter- gestora Tripartite (CIT) para assim definir e estabelecer medidas do Plano Nacional de Saúde. Além disso, para fortalecer as políticas de saúde e sociais. Também fazem parte da estrutura do SUS, institui- ções renomadas em atendimento, pesquisa, extensão e qualidade de saúde como FioCruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into, entre outras. Além dessas, podemos ressaltar também a participação da Secretaria Estadual de Saúde, que é a base e dá o suporte para os municípios, sendo responsável também por elaborar e formular as políticas e as intervenções de saúde. Essas atribuições acontecem em conjunto com a Comissão Intergestora Bipartite (CIB), para ra- tificar e concretizar o Plano Estadual de Saúde (BRASIL, [s.d.]). A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) possui atribuições, ações e pactuações voltadas para o SUS e para a qualidade do serviço prestado à comunidade e aos indivíduos. Tem por responsabilida- de o planejamento das ações voltadas à saúde do cidadão, organi- zar de forma regionalizada, descentralizada e hierarquizada a saúde 27 pública, ampliando o atendimento do acesso aos serviços; controlar e averiguar todas as ações e intervenções e a Intersetorialidade com outros serviços de saúde, ainda articulada com as esferas estadual e Federal, para aprovar e implantar o plano municipal de saúde. O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (nacional, esta- dual ou municipal), tem caráter permanente e deliberativo. Órgão colegiado — composto por representantes do governo, prestado- res de serviço, profissionais de saúde e usuários — atua na formu- lação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros, que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movi- mentos representativos de usuários; 25% de entidades represen- tativas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos. Existe, também, o Conselho Nacional de Secretarias Mu- nicipais de Saúde (CONASEMS), entidade representativa dos en- tes municipais na CIT para tratar de matérias referentes à saúde. Similarmente, existe a constituição dos Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS), caracterizado como o órgão que representa os indivíduos municipais, na esfera estadual para dis- cutir ações, ferramentas e instrumentos para qualidade, melhoria, desenvolvimento direcionados para a população, tudo isso acontece em vínculo com o CONASEMS. Os princípios do SUS O SUS é dotado de princípios, sendo os principais norteadores: a Universalização, Equidade e Integralidade. Além deles, há tam- bém os princípios organizativos: Regionalização e Hierarquização, Descentralização, Comando Único e a participação popular (BRASIL, 1990). 28 A universalidade na saúde é um direito adquirido pela nação brasileira, e a constituição garante isso quando declara que “a saúde é um direito de todos” (BRASIL, 1988) e por ela deve ser endossado. Sendo que esse acesso deve ser conferido a todos, sem distinção de nenhuma naturezaJá a equidade, tem como meta, estabelecer a re- dução da desigualdade. A ideia é que as pessoas são iguais, porém, possuem necessidades diferenciadas. Ou seja, o pensamento do SUS em relação à equidade é que ela trata desigualmente os desiguais. Compondo os princípios do Sistema Único de Saúde, está a integralidade, este princípio vê o ser humano holisticamente, ou seja, no seu todo, não dividido, ou em partes, mas em sua integra- lidade. Com isto, alcança-se a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Ligada à integralidade vem a intersetorialidade, a conexão com outros setores. A regionalização e hierarquização abarcam os serviços de atendimento, desde a atenção primária até o nível da alta comple- xidade, assim deve ser sua organização, desde o nível mais sim- ples até o nível mais complexo, gradualmente, crescente e por complexidade. Devemos atentar para o fato de que a regionalização trabalha com a ideia de que as ações de saúde devem ser reduzidas a uma área geográfica, sendo que critérios epidemiológicos para o plane- jamento das ações e execuçõesde intervenções na população devem ser realizados conhecendo-se os critérios de saúde e doença da po- pulação atendida. Já a hierarquização age no sentido de proporcionar a separa- ção, desagregação e a divisão de níveis de atenção, e também garan- tir a melhor forma de acesso para os serviços de alta complexidade, atentando para os recursos e seus limites naquela região. Tratando de descentralização e comando único, estamos conceituando que a descentralização é a divisão do poder, das ações, e das responsabilidades para as esferas de cada governo e, como consequência disso, temos uma autonomia de ações. Quando falamos em saúde da população, referente à descen- tralização, estamos discutindo que temos que prestar atendimento 29 com qualidade, melhoria dos serviços, ampliação do atendimento, e um controle rigoroso por parte da população - o controle social em ação. A descentralização deve ocorrer até o nível do município. Ele deve ter autonomia para gerenciar, planejar e intervir, ter funções técnicas e administrativas, e financeira. Quando falamos do princípio do Sistema Único de Saúde, de- nominado Participação Popular, estamos falando de conquista da sociedade. Ela deve ser incluída diariamente nas decisões de todo o sistema, nos conselhos de saúde, onde são discutidas as estratégias para as políticas de saúde e social, a participação popular e decisões a serem tomadas. A responsabilidade das esferas dos municípios, no sistema, é a execução das ações no seu território. O município, assim como estado, tem a liberdade e autonomia para formulação de suas pró- prias políticas de saúde, sendo também um dos que contribui nas ações do estado e da união. O município tem a responsabilidade de coordenar, gerir, planejar, elaborar e organizar as ações do SUS a nível de município, com o critério estabelecido pela normatização federal. A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde A Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde foi aprovada pelo CNS, em sua 198ª Reunião Ordinária (BRASIL, 2011). Com essa carta, o cidadão tem uma ferramenta que lhe dá conhecimento sobre as ga- rantias de atendimento que pode vir a receber nas instituições do Sistema Único de Saúde. Destacamos alguns tópicos essenciais: • Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema; • Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, aco- lhedor e livre de qualquer discriminação. • Todo cidadão tem direito ao atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos; 30 • Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça de forma adequada; • Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos. Sugerimos a leitura da Portaria n. 1820, de 13 de agosto de 2009, publicada no Diário Oficial da União n. 155, de 14 de agosto de 2009, que dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • Entender a história das políticas de saúde e sociais; • Analisar o trajeto e objetivo da Reforma Sanitária; • Entender o funcionamento e objetivos dos determinantes e condicionantes de saúde; • Compreender a Lei Orgânica de Saúde; • Analisar os princípios e diretrizes do SUS. FIQUE DE OLHO SINTETIZANDO UN ID AD E 2 Modelos Assistenciais de Saúde 32 Introdução Olá! Você está na Unidade 2 de Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição. Conheça aqui alguns conceitos relacionados a Modelos Assistenciais de Saúde, como a vigilância em saúde, pacto pela saúde e política nacional de atenção básica. Conheça ainda suas di- retrizes, políticas, programas, históricos e atualizações. Bons estudos! 33 Modelo Assistenciais de Saúde O desenvolvimento social, econômico e a particularidade do indi- víduo estão diretamente relacionadas com a saúde e suas políticas. Várias discussões já foram realizadas sobre a necessidade de evolu- ção e desenvolvimento para a saúde do indivíduo, família e coletivi- dade (BUSS; FILHO, 2007). Um marco importante foi a Conferência Internacional sobre promoção da saúde, que aconteceu na década de 80, em Ottawa, tendo como objetivos principais implementar políticas públicas saudáveis, criação de ambientes favoráveis, reforço da ação comu- nitária, desenvolvimento de habilidades pessoais e reorientação do sistema de saúde, e assim contribuir com a melhoria da qualidade do atendimento. Isso remete a modelos assistenciais de saúde que promovam melhorias e mudanças (BUSS; FILHO, 2007). Nesse sen- tido, você entenderá mais sobre: • Modelos de saúde; • Estratégia de saúde da família; • Conceito de saúde. Modelos de Saúde Entre os modelos de saúde para reorientação da prática de saúde no Brasil, destacam-se os modelos suplementar e sanitarista. O termo modelo possui acepções diferenciadas, variadas, com significados diversos, e utilizadas em conjunturas e contextos diferentes por in- divíduos ou grupo de pessoas. Pode ser empregado de forma empí- rica com todo embasamento científico. Pode ser conceituado como algo padronizado, ou até como um paradigma, averiguado com atenção. Pode até ser o representante de uma figura pública ou um ídolo (SCLIAR, 2007). Com o movimento da reforma sanitária e a promulgação da Lei Orgânica da Saúde 8.080/90 (BRASIL, 1990), na Constituição Federal de 1988, muitas foram as melhorias em saúde, inclusive as 34 estratégias utilizadas pelo Ministério da Saúde, como o programa de Estratégia de Saúde da Família (ESF), um modelo em saúde que reorientou as práticas de saúde (MACINKO; HARRIS, 2015). Macinko e Harris (2015) descrevem que as ESFs desenvol- vem a prática da saúde-doença, ampliando o atendimento tradi- cional curativo-preventivo, procurando incluir a qualidade de vida na coletividade, ir além de um estado de doenças, mas de bem-es- tar físico, emocional e social, pois este modelo baseia-se na ideia de contemplar um território, fazendo-se responsável por ele. Pro- cura-se ir além do modelo biomédico hegemônico, o qual vinha limitado a implementação de ações de cura e controle dos sintomas, com gradativa fragmentação e medicalização do cuidado. No ano de 1994, com o objetivo de reorganizar a atenção pri- mária em saúde, o Ministério da Saúde implantou um modelo de atenção, denominado Programa de Saúde da Família (PSF), hoje, denominado de Estratégia de Saúde da Família (ESF), o principal intuito é a reorientação do modelo de saúde. Anterior ao modelo ESF, o Ministério da Saúde criou o PACS, que significa Programa de Agentes Comunitários em Saúde, para contribuir nessa melhoria da qualidade da assistência. Com isso, o Ministério da Saúde busca uma prática atuante nas Unidades Básica de Saúde (UBS), em compati- bilidade com os princípios do SUS, garantindo que suas estratégias contemplem a população. Uma estratégia que melhorou a qualidade de vida do indiví- duo, da família e da coletividade foi a implantação nas UBS da saúde bucal. Essa estratégia, entretanto, foi incorporada à ESF somente em 2000 na tentativa de alcançar uma atenção. O Ministério da Saú- de busca um impacto epidemiológico, resultado de novas mudanças em saúde com melhorias para a coletividade (BRASIL, 2004). A reorientação do modelo de atenção à saúde tem como prin- cípios do SUS: universalidade, equidade e integralidade; impri- mindo uma nova dinâmica de atuação nas responsabilidades entre os serviços de saúde e a população (DALPIAZ; STEDILE, 2011). De acordo com Rosa e Labate (2005), a busca por novos mo- delos de atenção para a saúde se deu pela resposta insatisfatória dos modelos hospitalocêntricos que existiam. Foi um momento 35 histórico que envolvia não só a saúde, mas o aspecto social. O novo modelo (ESF) trouxe consigo a promoção, prevenção e o cuidado in- tegral não somente para o indivíduo, mas para famílias. Estratégia de Saúde da Família (ESF) O Ministério da Saúde implementou um novo modelo de atenção à saúde, com açõesdirecionadas, territorializadas, com população definida, com diretrizes que foram determinadas em 1997, pelo próprio Ministério da Saúde. Essas diretrizes são relacionadas ao programa de saúde da família e a atribuição do ESF é a sua imple- mentação (BRASIL, 1997). As diretrizes que compõe o ESF e suas responsabilidades são: a realização do cadastramento de toda uma população, que seja per- tencente àquele território; a hierarquização; o caráter substitutivo; a complementariedade; a descrição da clientela; as instalações e es- truturas são de responsabilidade do Ministério da Saúde (1997). As suas atribuições se estendem contemplando, a atenção contínua do atendimento a nível social e estruturar uma equipe multidisciplinar para o acompanhamento do indivíduo, da família e da comunidade, incluindo a proteção, promoção e recuperação da saúde (BRASIL, 1997). Figura 1 - Atenção Básica Fonte: pressfoto / Freepik / Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-gratis/ preenchendo-registro-medico_5633838.htm 36 De acordo com Campos e Guerrero (2010), o objetivo da ESF é a averiguação contínua e permanente da conjunção da saúde e do social como complemento da coletividade. Ressalta ainda, a conformação e efetivação das práticas propostas nas políticas de saúde e nas diretrizes desde 1997. Essas práticas de saúde compõem a vigilância em saúde, promoção, prevenção e controle das doen- ças e agravos, essas devem ser totalmente embasadas em entendi- mento e técnicas vindos da epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais. As diretrizes do ESF são operacionais e são interligadas aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). De acordo com a Portaria GM/MS 1997, um ACS tem responsabilidade de acompanhar e dar assistência à, no máximo, 150 famílias. A Secretaria do Estado de Saúde é responsável por selecionar o ACS, a seleção deve ocorrer por meio de processo seletivo a cargo do município. Algumas considerações devem ser levadas em conta para essa seleção: esse ACS deve residir na área onde executar as ações com as famílias, há pelo menos dois anos, saber ler e escrever, ser maior de dezoito anos e ter disponibilidade de tempo integral para exercer suas atividades. Esse ACS deverá fortalecer e expandir as atividades e ações de prevenção das doenças e agravos em saúde; irá também realizar visitas domiciliares para alcançar esses objetivos, com orientações, ações direcionadas em educação; educação tanto individual quanto coletivas, tanto na residência do indivíduo quanto na coletividade. Todas essas atribuições do ACS serão supervisionadas pelo enfer- meiro da área. A educação continuada do Agente de Saúde deve acontecer no horário do trabalho, com participação multidisciplinar. Cada território tem seus problemas, com foco nesses proble- mas, devem ser direcionadas as estratégias e conteúdo da capacita- ção do ACS. É necessário observar, no recrutamento do ACS, que pode haver situações em que o candidato suplente poderá ser chamado para assumir a vaga. Essas situações se verificam quando o titular deixou de residir na área de sua atuação; assume outra atividade que comprometa a carga horária necessária para desempenho de suas atividades; quando o agente não cumpre com os compromissos 37 e atribuições assumidas; gerando conflitos ou rejeição junto a sua comunidade; o próprio ACS, por motivos particulares, requeira seu afastamento (BRASIL, 1997). De acordo com a mesma portaria (BRASIL, 1997), quando houver necessidade de substituição, a situação deve ser colocada em pauta na reunião do conselho local ou municipal de saúde. O acom- panhamento e averiguação das ações desenvolvidas pelo programa deverá ser realizado pelo Sistema de Informação da Atenção Básica – SIAB, ou transitoriamente pelo Sistema de Informação do Progra- ma de Agentes Comunitários de Saúde – SIPACS, ou ainda por outro sistema de informações implantado pelo município, contanto que alimente a base de dados do sistema preconizado ao programa pelo Ministério da Saúde (SIAB ou SIPACS) (BRASIL, 1997). A portaria do Ministério da Saúde esclarece que, para atuação do ESF, o município deve entender e cumprir a regra de que as equi- pes devem realizar o cadastramento das famílias, com visitas aos domicílios, segundo a definição territorial pré-estabelecida. Vamos entender um pouco como essa equipe deve funcionar, ser estruturada e estabelecida conforme regula a portaria do Minis- tério da Saúde (BRASIL, 1997): Uma equipe de profissionais de saúde da família pode ser res- ponsável, no âmbito de abrangência de uma unidade de saúde da família, por uma área onde resida, no máximo, 1000 (mil) famílias ou 4.500 (quatro mil e quinhentas) pessoas. Determina ainda, que a equipe do Estratégia de Saúde da Família seja composta de uma equipe de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e os agentes comunitários de saúde. Lembrando que cada agente só responde a no máximo 150 famílias. Atendidos os critérios, é possível receber recursos e incentivos do Ministério da Saúde (BRASIL, 1997). No Sistema Único de Saúde, a entrada primordial para os pa- cientes é a Atenção Básica em Saúde. Este é o primeiro lugar do SUS em que o paciente consegue estabelecer vínculos. Esse atendimento tem por finalidade o atendimento integral ao paciente (ANDRADE, 2012). 38 Dados revelam que, até 2016, o Brasil já possuía em seu qua- dro 40.307 equipes de Estratégia de Saúde da Família, isso é equi- parado a 63,9% da cobertura de todo o país. É necessário avançar, pois se verifica que ainda existem populações sem cobertura e sem atendimento integral. (BRASIL, 2018). Após várias discussões e elaborações de políticas, o Ministé- rio da Saúde resolveu criar os Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASF), com o intuito de apoiar o ESF. O NASF foi promulgado pela Portaria do Ministério da Saú- de (BRASIL, 2008), que estabelece que deve ser uma equipe multi- profissional, e realizar as ações, em paralelo, com os profissionais da ESF. Em 2012, o Ministério da Saúde reorganizou as políticas referente aos NASF, a Portaria Ministerial 3.124/12 (BRASIL, 2012) estabelece modalidades 1, 2 e 3, como diferenciais. Diante disso, segundo Brasil (2014), as modalidades são compostas por: • NASF 1: pode conter de 5 a 9 equipes de saúde da família e/ou equipes de Atenção Básica para populações específicas, isso inclui os consultórios de rua, equipe ribeirinha e fluvial; • NASF 2: composto por 3 a 4 equipes de saúde da família e/ou equipes de Atenção Básica para populações específicas; • NASF 3: são vinculadas de 1 a 2 equipes de saúde da família e/ ou de Atenção Básica para populações específicas. De acordo com Brasil (2014), verifica-se o crescimento das equipes. O NASF pode ter a composição de profissionais como: assistente social; profissional de educação física; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; profissional com formação em educação artística (arte educador); nutricionista; psicólogo; te- rapeuta ocupacional; médico ginecologista/obstetra; médico ho- meopata; médico pediatra; médico veterinário; médico psiquiatra; médico geriatra; médico internista (clínica médica); médico do trabalho; médico acupunturista; e profissional de saúde sani- tarista, ou seja, profissional graduado na área de saúde com pós- -graduação em saúde pública ou coletiva, ou graduado diretamente em uma dessas áreas. Com isso, a qualidade do atendimento e a 39 integralidade como um todo tem sido alcançada no indivíduo e na coletividade. O NASF tem uma proposta de estabelecer espaços de discussão, para elaboração de planos terapêuticos que são divididos entre as equipes de profissionais, para um entendimento das reais com vis- tas a alcançar a melhoria do atendimento. Com isso, é relevante a implementação e participação dos NASF no apoio ao ESF (BRASIL, 2014). Figura 2 – NASF Fonte: Imagem de Freepik (2023). Vigilância em Saúde De acordo com Scliar (2007), a saúde é um estado que representa a situaçãoatual, podendo ser tanto político, quanto econômico e mais ainda social, de uma população. Também tem influência do local, da região, dos princípios e riquezas de um povo, às vezes, de- pende do ponto de vista religioso, histórico, cultural e da classe social. O conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre saúde, foi difundido na carta de princípios, de 7 de abril de 1948, por isso, comemora-se o Dia Mundial da Saúde nessa data. Isso resultou 40 no direito que o cidadão possui: da saúde ser obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde, que veio a ser garantida na Consti- tuição Federal de 1988 (SCLIAR, 2007). A saúde passou a ser conceituada pela OMS como: “Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidade [...] e ao acesso universal e igua- litário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação” (SCLIAR, 2007, p. 37-39). A Vigilância em Saúde é outro assunto que reflete a saúde do país, iniciou-se desde a criação do SUS, com estímulo desde a ofi- cialização da Constituição Federal em 1988, ressaltando seu forta- lecimento com a Lei Orgânica da Saúde de 1990. Porém, mesmo com as conquistas garantidas na forma da Lei, a situação epidemioló- gica do país não se mostrava, à época satisfatória (BRITO, 2007). As décadas seguintes viriam demostrar que a situação epidemioló- gica do país demandaria enormes esforços, para se mostrar dentro dos padrões internacionais. A Portaria GM 1378/2013 (BRASIL, 2013) conceitua a Vigilân- cia em Saúde como uma metodologia de organização dos serviços regularizada, realiza coleta de dados, consolida e a partir daí efe- tua análise e dissemina essas intervenções, através da elaboração de políticas de saúde em prol da melhoria, proteção e promoção da saúde, controle de riscos, agravos e doenças. Um dos modelos de atenção à saúde é, justamente, a Vigi- lância em Saúde, responsável pela intervenção sobre problemas de saúde, monitoramento contínuo dos problemas em saúde e evidên- cias dos problemas relacionados às execuções de atividades em saú- de, promoção da saúde e articulação de estratégias para prevenção da doença. Também a vigilância em saúde, considera os princípios do SUS como a hierarquização e a regionalização dos serviços, com isso, tendo o objetivo de alcançar o princípio da integralidade na sua totalidade (FREITAS, 2003). De acordo com Fracolli et al. (2008), atualmente, as ações e intervenções da vigilância em saúde têm servido para reflexão de uma política de tomadas de decisões estratégicas a nível federal. 41 Na visão de Rosen (1994), no passado, a vigilância se continha na vigilância contínua de pessoas, que eram expostas a contamina- ção em viagens, ou a exposição de alguma doença. Historicamen- te, somente o isolamento era a prática para não disseminação de doenças. Na Europa, existiam práticas em vigilância que espelha- ram algumas práticas de hoje, como a polícia médica ou medicina de estado. Podemos aliar a tudo isso: a vivência, de um importante fi- gura, precursora da enfermagem, Florence Nightingale, primeira a oficializar a profissão no mundo, inserindo valores e ciência à ca- tegoria. Ela serviu na Guerra da Criméia, reduzindo a infecção em soldados de guerra, e foi a construtora da teoria ambientalista, que visava à vigilância dos ambientes, aplicou essa teoria nos ambientes de campanha na Guerra da Criméia (NULAND, 2005). A vigilância é fundamentada em processos de trabalho que envolvem os problemas de saúde, que estão ampliados em doenças, doentes, necessidades e determinantes e condicionantes sociais da saúde, lembrando ainda dos riscos, causas e danos. Com grande importância para a articulação de estratégias para a Intersetoria- lidade, possibilidade de interação e integração de diferentes seto- res responsáveis pela produção de saúde; práticas sanitárias, tudo aliado e com foco na melhoria da saúde do indivíduo, da família e da coletividade (PAIM, 2002). A vigilância tem produção e fluxo de coleta, análise e sis- tematização de dados, realiza a produção de dados para análise e intervenções de saúde pública. Os dados são gerados pelos 3 níveis de esfera de governo, seguindo o princípio da regionalização: en- tender os problemas de saúde de uma região com delimitação de território (PAIM, 2002). Superando, dessa forma, o modelo que se verificava no passado. A Vigilância em Saúde realiza processos com métodos de monitoramento e análise de informações, para assim fornecer sub- sídios para as elaborações de políticas de saúde e sociais, e ainda as intervenções em saúde por meio da epidemiologia. Também por meio da Estratégia de Saúde da Família, procura organizar os 42 processos dos serviços, interlocução com as redes e trabalha pela gestão do sistema de saúde (OLIVEIRA; CASANOVA, 2009). Como descreve Paim (1997), quando houve a reforma sani- tária e outras lutas com interesses na reorientação do modelo em saúde, que englobasse de forma universal e de qualidade, era pre- tendido também um modelo descentralizado, com protagonismo do nível local, especificamente voltado para a vigilância e controle de doenças e riscos epidemiológicos. Em meados do século XIX, as epidemias e pestes causaram grande impacto na saúde da população, com o conhecimento da época em saúde pública, as intervenções realizadas eram apenas o isolamento e a quarentena (GAZIANO, 2010). No século seguinte, passou-se a se a ampliar o conhecimen- to em saúde, houve também o desenvolvimento da tecnologia, que foi significativo para as ações em saúde. Esse desenvolvimento pôde ampliar e melhorar a qualidade das ações em prevenção e controle das doenças, principalmente com a vacina e combate ao vetor cau- sador de doenças (GAZIANO, 2010). Para oficializar a Vigilância em Saúde no Brasil, o órgão res- ponsável foi instituído em 1975, o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), assim como hoje, a notificação de doenças era compulsória, com a diferença da limitação dessa lista de doen- ças que era bem pequena. Diante disso, as ações e intervenções que deveriam ser de res- ponsabilidade da vigilância epidemiológica, era realizada por outros órgãos do governo, sendo alguns deles o Departamento Nacional de Endemias Rurais – DNERU, Campanha Contra Varíola, Campanha Contra Tuberculose, Campanha contra Lepra, entre outras, que realizavam suas atividades através de campanhas sanitárias (TEIXEIRA et al., 1998). Com a implementação do SNVE, parte das atribuições e res- ponsabilidades da vigilância e controle destas doenças foram sen- do repassadas para as Secretarias Estaduais de Saúde, estruturadas sob a forma de Programas Especiais, ao exemplo do Programa Nacional de Imunizações, que estabeleceu um modelo piramidal 43 que mantinha o nível local sem recursos e sem protagonismo no processo de resolução de seus problemas de saúde. Entretanto, as denominadas endemias (esquistossomose, doença de Chagas, ma- lária, tracoma etc.) ficaram sob a responsabilidade da Superinten- dência de Campanhas (SUCAM), órgão da administração direta do Ministério da Saúde. Deste modo, a formulação, a coordenação e a execução das atividades de prevenção e controle de doenças transmissíveis eram realizadas segundo a lógica de programas verticais (TEIXEIRA et al., 1998). Com a oficialização da Lei Orgânica em Saúde 8.080/90 (BRASIL, 1990), o governo investiu em uma fundação denominada Fundação Nacional de Saúde (Funasa), com um órgão em sua es- trutura o Centro Nacional de Epidemiologia – CENEPI, cujo obje- tivo era ser a parte pensante, ou seja, uma área de inteligência em intervenções epidemiológicas, descentralizando ações de controle e prevenção de doenças, com capacidade e habilidade para destrin- char a epidemiologia em todas as áreas do SUS e esferas do governo. Com esse departamento, a vigilância em saúde deveria articular e elaborar estratégias para prevenção de doenças e agravos (SILVA, 2004). Poucoa pouco, a vigilância em saúde vem tomando seu espaço, por meio de medidas de intervenções baseadas e fundamen- tadas na coleta e análise dos dados das doenças e agravos em saúde, e com isso só refina, consequentemente, a qualidade do trabalho. A vigilância em saúde possui bases de dados informatizadas, onde se tem acesso aos resultados desta coleta e análise, esses são intitulados como SIM, SINASC, SINAN, entre outros, que favore- ceram à produção de análises epidemiológicas sobre a situação de saúde da população, mais próximas da realidade, pois a análise é feita com base em problemas reais da população (ABRASCO, 2006). Concernente a todas as responsabilidades da vigilância em saúde, os casos de emergência como situações inusitadas, surtos e epidemia, também são de sua responsabilidade. Existe uma rede de respostas rápidas para esses atendimentos (TEIXEIRA et al., 2018). Podemos ver que o SUS é dotado de políticas de saúde para me- lhoria do atendimento, para que seja prestado mediante as diretrizes 44 e princípios do SUS, como a universalidade, integralidade, acessi- bilidade, equidade, hierarquização, descentralização e territo- rialização. Com isso, vamos estudar um pouco sobre o pacto pela saúde e a política nacional de atenção básica. O pacto pela Saúde e a Política Nacional de Atenção Básica: estratégias para o atendimento integral Os princípios da regionalização e descentralização, promulgados na Constituição Federal de 1988, estão previstos na Lei Orgânica de 1990 (BRASIL, 1990). Estes estão direcionados para organização dos processos político-territoriais do SUS (AFFONSO; SILVA, 1995). A descentralização acontece em cada esfera do governo, sen- do de responsabilidade de cada um, de modo individualizado. Ante- riormente, todo o poder era centralizado no governo federal, com a descentralização, acontece a transferência do poder de tomada de decisão para estados e municípios. Com isso, é possível perceber a democratização no sentido de fortalecimento da participação do usuário (RIBEIRO, 2009). Existem as pactuações firmadas pelas três esferas do gover- no, ou seja, municipal, estadual e federal. Aconteceram várias re- formas institucionais do SUS, e a junção delas é o Pacto pela Saúde (BRASIL, 2006). Esse pacto tem como finalidade favorecer, de- senvolver e fomentar instrumentos e inovação para as ações da gestão, com o intuito de atingir maior agilidade na qualidade dos feedbacks para o SUS. Porém, o Pacto pela Saúde direciona-se para cada gestor de cada esfera do governo, com foco nos problemas de cada região e população, com vistas à equidade (BRASIL, 2006). Pacto pela saúde De acordo com o Conselho Nacional de Saúde - CNS (2006), o pro- jeto descrito no Pacto pela Saúde traz consigo mudanças significa- tivas para as tomadas de decisões e as execuções das ações do SUS. 45 A portaria de 2006 descreve os principais diferenciais que o pacto trouxe para o SUS, sendo eles apontados como: • A substituição do atual processo de habilitação pela adesão solidária aos Termos de Compromisso de Gestão; • A regionalização solidária e cooperativa como eixo estrutu- rante do processo de descentralização; • A integração das várias formas de repasse dos recursos federais; • A unificação dos vários pactos hoje existentes. O Pacto pela Saúde é um documento oficializado pelo país, sendo resultado de lutas e esforços, associados a muitas discus- sões (em média uma discussão a cada dois anos), para se obter esse projeto em prol do SUS. As reuniões com as discussões aconteciam com a participação do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde – CONASEMS, e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS, que foram aprovados na reunião da Comissão Intergestores Tripartite, de 26 de janeiro de 2006, e na reunião de 9 de fevereiro de 2006, pelo Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2006) O CNS (2006) relata que quase 20 anos se passaram da pro- mulgação do SUS, e durante esse tempo grandes conquistas e melhorias aconteceram, principalmente a descentralização dos serviços. Com a descentralização, a interação, estratégias e a pró- pria intersetorialidade evoluíram com melhorias em diversas áreas da vida em sociedade, como a saúde, a política e o social. O Conselho de Nacional de Secretários de Saúde e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, diante das necessi- dades apresentadas pelo Ministério da Saúde em contribuir com a resolução dos problemas de saúde, pactuaram responsabilidades entre os três gestores do SUS, no campo da gestão do Sistema e da atenção à saúde. O estabelecimento do Pacto pela Saúde foi firmado nas três esferas de governo, ou seja, a nível municipal, estadual e federal, pela defesa do SUS. Com o objetivo de implementar inovações em 46 saúde e instrumentos que possibilitassem a melhoria da gestão em saúde (BRASIL, 2006). A construção dessa pactuação é condicionada por metas, que podem ser municipais, estaduais ou federais. Segundo o Conselho Nacional de Saúde (2006), existem seis prioridades na Pactuação pela Vida, sendo elas: 1. saúde do Idoso; 2. controle do câncer do colo do útero; e 3. da mama; 4. redução da mortalidade infantil e materna; 5. fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emer- gentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuber- culose, malária e influenza; 6. promoção da Saúde e fortalecimento da Atenção Básica. De acordo com o CNS (2006), a Saúde do Idoso é uma prio- ridade no Pacto e, para alinhar os critérios, foi considerado como pessoa idosa aquelas com 60 anos ou mais, para a construção do projeto. Foram elencadas diretrizes para seguir com as melhorias em saúde: [...] atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa; incentivo às ações intersetoriais, fazendo com que haja articulação de ações en- tre as políticas, instituições e órgãos, visando a integralidade da atenção; a implantação de serviços de atenção domiciliar; ainda o aco- lhimento preferencial em unidades de saúde, respeitado o critério de risco; Provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa; Fortaleci- mento da participação social; pensando em saúde não só como ausência de doença; Forma- ção e educação permanente dos profissionais 47 de saúde do SUS com educação continuada em saúde, focada na área de saúde da pessoa idosa; Divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para profis- sionais de saúde, gestores e usuários do SUS; Promoção da cooperação nacional e interna- cional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa; Apoio ao desenvolvimento de es- tudos e pesquisas (BRASIL, 2006, p. 9-10). O documento do pacto CNS (2006), descreve em relação à di- retriz de controle do Câncer do Colo do Útero e da Mama, deverá haver: [...] cobertura de 80% para o exame preventivo do câncer do colo do útero, conforme protocolo [...] Incentivo para a realização da cirurgia de alta frequência, técnica que utiliza um instru- mental especial para a retirada de lesões ou parte do colo uterino comprometido (com le- sões intra-epiteliais de alto grau), com menor perda aceitável, podendo ser a nível ambulato- rial (BRASIL, 2006, p. 11). Ainda em apoio à diretriz de Redução de Mortalidade Materna, traz os objetivos de: Redução da mortalidade infantil, limitar a mortalidade neonatal em 5%, em 2006. Dizi- mar em 50% os óbitos por doença diarréica e 20% por pneumonia. Apoiar a elaboração de propostas de intervenção para a qualificação da atenção às doenças prevalentes. Criação de comitês de vigilância do óbito em 80% dos municípios com população acima de 80.000 habitantes (BRASIL, 2006, p. 11-12). Também, descreve os objetivos para a diretriz sobre o forta- lecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza. 48 Um apoio importante foi o Fortalecimento da Atenção Básica, com a inclusão