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Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. Aula 2 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DE PROCESSO. EMENTA: Compreender os princípios processuais previstos na Constituição Federal: devido processo legal, acesso a justiça, contraditório, duração razoável do processo, isonomia, imparcialidade do juiz, duplo grau de jurisdição, publicidade dos atos processuais, motivação das decisões. Examinar os princípios constitucionais a partir de exemplos. 1. Introdução1. O constitucionalismo moderno é o ponto de partida para várias reflexões no âmbito do direito. A correta concepção do estado constitucional e da constituição consubstancia num fator essencial para a investigação de todo e qualquer fenômeno jurídico. O Direito Processual, por sua vez, tem suas linhas fundamentais traçadas pelo Direito Constitucional. A Constituição Federal determina os institutos característicos do desenvolvimento do processo, fixa a estrutura dos órgãos jurisdicionais, garantindo a distribuição da justiça, estabelece regras como os princípios constitucionais processuais e assegura a todos o acesso à Justiça. Não foi por acaso que as Constituições sempre inseriram em seus contextos regras processuais. Antônio Carlos Araújo Cintra2 coloca que ao reconhecer no processo o instrumento público de realização de justiça, a Constituição abre a possibilidade de vê-lo transformado em garantia de liberdade pelo exercício da tutela jurisdicional através dos procedimentos legais. 1 Mais informações, bem como evolução histórica do processo ao longo das Constituições pode ser verificado aqui: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-constitucionalizacao-do-processo-civil,48242.html 2 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo, GRINOVER, Ada Pelegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo, SP: Malheiros, 1999, p. 78. http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-constitucionalizacao-do-processo-civil,48242.html Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 É exatamente através da Constituição que o processualista terá um entendimento completo do fenômeno processo e de seus princípios. Hoje, acentua-se a ligação entre processo e Constituição no estudo concreto dos institutos processuais, não mais colhidos na esfera fechada do processo, mas no sistema unitário do ordenamento jurídico: é esse o caminho, foi dito com muita autoridade, que transformará o processo de simples instrumento de justiça, em garantia de liberdade. Nesse cenário, é preciso expor qual é o modelo de direito processual imposto pela Constituição (devido processo legal e seus corolários), bem como apresentar as regras sobre competência legislativa em matéria de direito processual e a organização judiciária constitucionalmente imposta. O Direito Processual Constitucional é geral; aplica-se a qualquer espécie de processo e, nessa condição, convém seja de logo apresentado em uma disciplina com finalidade propedêutica3. A propósito, como ponto de partida, pode-se ressaltar a relação indissociável de Constituição e processo no artigo 1º, do CPC: Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. 2. Princípios constitucionais do processo em espécie. a) Igualdade/isonomia (artigo 5º, inciso I, da CF). Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. Previsão no CPC: “Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”. O princípio da isonomia, também conhecido como princípio da igualdade, representa o símbolo da democracia, pois indica um tratamento justo para os cidadãos. A igualdade, de 3 Disponível em: http://www.frediedidier.com.br/wp-content/uploads/2012/06/O-ensino-da-Teoria-Geral-do- Processo.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.frediedidier.com.br/wp-content/uploads/2012/06/O-ensino-da-Teoria-Geral-do-Processo.pdf http://www.frediedidier.com.br/wp-content/uploads/2012/06/O-ensino-da-Teoria-Geral-do-Processo.pdf Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 acordo com a Constituição Federal, possui duas vertentes: Igualdade Material: tipo de igualdade, em que todos os seres humanos recebem um tratamento igual ou desigual, de acordo com a situação. Quando as situações são iguais, deve ser dado um tratamento igual, mas quando as situações são diferentes é importante que haja um tratamento diferenciado. Igualdade Formal: é aquela presente na Constituição Federal e que trata da igualdade perante a lei. De acordo com o artigo 5º, isso quer dizer que homens, mulheres e todos os cidadãos brasileiros são iguais conforme a legislação. Esse princípio pode ser usado para limitar o legislador (não será possível criar outras leis que violem o princípio da igualdade), limitar o intérprete da lei (consiste na aplicação da lei de acordo com o princípio), limitar o indivíduo (que não poderá apresentar condutas contrárias a igualdade, ou seja, realizar atos preconceituosos, racistas ou discriminatórios). b) Inafastabilidade da jurisdição (artigo 5º, inciso XXXV, da CF). (...) XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Previsão no CPC: “Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. Primariamente, trata-se, em poucas palavras, da possibilidade de provocar a prestação jurisdicional para garantir a tutela de direitos; “é um direito fundamental formal que carece de densificação através de outros direitos fundamentais materiais” (CANOTILHO, 2003, p. 496). Ou seja, consiste em um veículo para concretização dos direitos materiais. Contudo, atualmente, o direito à inafastabilidade do Poder Judiciário não mais se resume a provocar o aparato jurisdicional. Além disso, passou a ser entendido também como o direito à tutela jurisdicional efetiva - complexo de direitos, deveres e ônus que estende durante todo o processo, concebido como instrumento para proteção do direito material, como afirma Marinoni4. 4 MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo. 5. ed, rev. e atual. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2011. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processoformada pelos candidatos mais votados em eleição com participação de toda a carreira. Seu principal órgão para tomada de decisões internas é o Conselho Superior da 22 Mais informações em: http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm http://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm#art5lxxiv http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/ Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 17 Defensoria Pública, formado por 5 membros natos e 8 membros eleitos diretamente pelos Defensores. Para ser Defensor Público do Estado é necessário ser bacharel em Direito e aprovado em concurso público específico para atuar em todas as áreas de atribuição da Defensoria. Legislação pertinente: artigos 13423 e 135, da CF, Lei Complementar 80/9424; b) Histórico25: Em nosso País, as origens mais remotas da Defensoria Pública estão nas Ordenações Filipinas, que vigoram, no Brasil, até finais de 1916, por força da Lei de 2º de outubro de 1823. De fato, no Livro III, Título 84, § 10, aquelas ordenações prescreviam, aos dizeres da época, o que, hoje, denominamos afirmação de pobreza: "§ 10 – Em sendo o agravante tão pobre que jure não ter bens móveis, nem de rais, nem por onde pague o agravo, e dizendo na audiência uma vez o Pater Noster pela alma Del Rey Don Diniz, ser-lhe-á havido, como se pagasse os novecentos réis, contanto que tire de tudo certidão dentro do tempo, em que havia de pagar o agravo". Um salto no tempo vai nos fazer passar por variadas e assistemáticas iniciativas legais que tinham por objetivo garantir aos pobres o acesso à Justiça, e nos levar ao Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, no ano de 1870, ocasião em que Nabuco de Araújo, então Presidente do Instituto, deu decisivo impulso à causa da Justiça para os Pobres. Criou-se, então, a praxe de alguns membros do Instituto dar consultas jurídicas às pessoas pobres e defendê-las em Juízo. Nesse particular, o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros parece haver-se inspirado na experiência da antiga Atenas, onde, anualmente, 10 advogados eram nomeados para defender os pobres diante dos tribunais cíveis e criminais. Esta iniciativa não se mostrou suficiente. Nabuco de Araújo verberava e, de seu veemente discurso, extraímos este pequeno trecho: "Se não se pode tudo, faz-se o que é possível. No estado atual da nossa legislação, e atendendo às despesas que uma demanda custa, pode-se dizer, sem medo de errar, que a igualdade perante a lei não é não uma palavra vã. Que importa ter direito, se não é possível mantê-lo? Se um outro pode vir privar-nos dele? Que importa ter uma reclamação justa, se não podemos apresentá-la e segui-la por falta de dinheiro? A lei é, pois, para quem tem dinheiro, para quem pode suportar as despesas das demandas". A CF/88 dispôs acerca da Defensoria, como função essencial à Justiça. Em tempos atuais, até o ano de 2007 a Defensoria Pública não detinha legitimidade para propor 23 Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014) 24 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp80.htm 25 Mais informações em: https://jus.com.br/artigos/14699/defensoria-publica-uma-breve-historia http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm#art5lxxiv http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm#art5lxxiv http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc80.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp80.htm https://jus.com.br/artigos/14699/defensoria-publica-uma-breve-historia Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 18 ação coletiva, quadro que mudou com a edição da lei 11.448/2007, que inseriu a defensoria no rol dos legitimados extraordinários do artigo 5º da Lei da Ação Civil Pública26. • Complemento: 1) Sites das instituições mencionados no corpo do roteiro – há histórico e informações relevantes; 2) http://mazzilli.com.br/ - artigos, informações e textos do autor; 3) Manual de atuação funcional MPSP: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/banco_imagens/flash/ManualAtu acao/ManualAtuacao.html 26 Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007). http://mazzilli.com.br/ http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/banco_imagens/flash/ManualAtuacao/ManualAtuacao.html http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/banco_imagens/flash/ManualAtuacao/ManualAtuacao.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11448.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11448.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11448.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11448.htm#art2 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. Aulas 6 e 7 – TEORIA DA AÇÃO. EMENTA: Teoria da ação 1: Dominar os conceitos de jurisdição, ação e processo. Desenvolver raciocínio jurídico-processual da base do processo civil contemporâneo. Apreender o conceito de ação e sua classificação. Teoria da ação 2: Apreender o conceito de ação e dos seus elementos identificadores. Compreender os institutos da litispendência e da coisa julgada. Compreender a regra da congruência e a sentença extra, ultra e citra petita. Introdução e antecedentes históricos1. Uma vez estudada a jurisdição (aulas 4 e 5), passa-se à continuidade do estudo do tripé da teoria geral do processo (jurisdição, AÇÃO e processo). O direito de ação, consagrado no ordenamento jurídico pátrio, como direito de acesso à justiça para a defesa de direitos individuais violados, foi ampliado, pela CF/88, à via preventiva, para englobar até mesmo a ameaça, conforme se vislumbra no artigo 5º, inciso XXXV. Para Eduardo Couture, por exemplo, a ação seria uma espécie do gênero “direito de petição”. Defende tal posição com base na própria origem, eminentemente, privada 1 Mais informações em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6467 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6467 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6467 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 do direito de petição, que nada mais seria do que o direito de comparecer perante aautoridade. Cioso de que até meados do século XVIII não existia clara distinção entre os poderes do Estado, o direito de petição (“Right of petition”) era exercido tanto perante o rei, como diante da Câmara dos Lordes, que também funcionava como um tribunal real. Expressão de tal assertiva era o “Bill of Rights”, de 1689. 1. Conceito. A ação é doutrinariamente concebida como um “direito público abstrato de requerer a tutela jurisdicional do Estado”. Assim, ação “é o direito de pedir ao Estado a prestação de sua atividade jurisdicional num caso concreto” (Moacyr Amaral Santos. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. v1. 1999, p. 159). • ATENÇÃO: ação não tem nome2. O direito de ação é definido pela doutrina como sendo “autônomo” e “abstrato”, ressaltando ser “conquista definitiva da ciência processual o reconhecimento da autonomia do direito de ação, a qual se desprende por completo do direito subjetivo material” (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do Processo. 26ª Edição. Malheiros. São Paulo: 2010, p. 271- 278). Exemplo: “AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E LUCROS CESSANTES”. Muito embora no cotidiano forense seja comum a designação e nomenclatura de ações, não é tecnicamente correto nomeá-las. Atualmente, a prática faz o mais complexo (inventando nomes para as ações), enquanto a processualística busca a simplificação para a garantia da eficiência na oferta da tutela jurisdicional. Inadmissível imaginar que magistrados determinam o aditamento de uma inicial para constar o nome da ação correto, simplesmente para distinguir cobrança de indenização, ou obrigação de entrega de coisa e obrigação de dar, ou coisas semelhantes. 2 Mais informações em: http://www.darlanbarroso.com.br/site/nomes-das-acoes-no-processo-civil/ http://www.darlanbarroso.com.br/site/nomes-das-acoes-no-processo-civil/ Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 2. Teorias do direito de ação. Existem diversas teorias explicativas sobre o conceito de “ação”, estando entre as mais importantes: a) Teoria civilista da ação (ou imanentista): hoje já superada, exerceu grande influência sobre o direito processual até meados do século XIX. Por esta teoria, a ação se congeminava no próprio direito material depois de violado. A ação era o mesmo direito em atitude de defesa (época em que o processo civil era tomado como mero “apêndice” do Direito Civil). Entretanto, acabou-se por assentar na doutrina a existência de uma distinção entre direito material e o direito de ação, passando este a dizer respeito à noção de direito à prestação jurisdicional. • Principais difusores: Clóvis Beviláqua e Friedrich Karl Von Savigny. b) Teoria da ação como emanação dos direitos da personalidade, do jurista alemão Köhler: a ação não é uma emanação da pretensão procedente, pois, se esta é ou não fundada, há de resolver-se na sentença. Também não se trata de um direito público de acionar, mas sim uma emanação dos direitos de personalidade, porém apenas na medida em que o são os demais atos jurídicos. O direito de acionar é um direito individual, assim como o ato de comerciar ou de andar. Tal teoria foi severamente rebatida, por conceber a ação processual como uma mera faculdade ou manifestação psicológica do particular, enquanto atividade anímica. c) Teoria concreta da ação: teve o mérito de ter sido a primeira a advogar a tese da autonomia do direito de ação, como elemento dissociado do direito material. Enquanto que, num direito material de crédito, o sujeito passivo de tal relação jurídica é o devedor, o Estado o será, de relação à ação, já que este é quem tem o dever de prestar a tutela jurisdicional. Neste mesmo exemplo, quanto ao direito material, a prestação devida é outra e se consubstancia numa obrigação de dar, fazer ou não fazer. Contudo, tal teoria pecou por condicionar a existência do direito de ação à existência do direito material, pelo qual a ação apenas existiria caso o resultado final do processo fosse favorável ao autor, algo que enfraqueceu tal concepção, que restou por ser abandonada. d) Teoria abstrata da ação (1877 a 1880): a teoria abstrata da ação (ou teoria do direito abstrato de agir), devida ao alemão Heinrich Degenkolb e ao húngaro Alexander Plósz, pela qual o direito de ação seria, pura e simplesmente, o direito de provocar a atuação Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 4 do Estado-juiz. Seria a ação o direito de se obter um provimento jurisdicional, qualquer que seja seu teor, enquanto direito inerente à personalidade, sendo certo que todos têm o direito de provocar o Poder Judiciário, a fim de que este exerça seu munus constitucionalmente previsto. É, logo, direito público subjetivo, sendo, ainda, abstrato e autônomo. e) Teoria eclética da ação: teoria atualmente predominante no Brasil, gestada pelo italiano Enrico Tullio Liebman, que viveu durante anos no Brasil, na década de 1940. Por tal teoria, também de natureza abstrata, existiria uma categoria estranha ao mérito da causa - as condições da ação - que serviriam como requisitos de existência do direito de ação. De acordo com Liebman, o direito de ação só existirá, se o autor preencher tais "condições", pena de ocorrer o fenômeno da "carência de ação", com o processo sendo julgado extinto, sem julgamento de mérito. Com o passar dos anos, tal teoria sofreu algumas alterações, aonde as condições da ação deixaram de ser requisitos de existência para se tornar requisitos do legítimo exercício do direito de ação. Alexandre Freitas Câmara construiu uma formulação ecletista própria sobre a "ação", que, ao invés de ser um direito subjetivo, seria um poder jurídico, já que entre seu titular e o Estado inexiste conflito de interesses, marca registrada dos direitos subjetivos. Adotando-se a posição majoritária da doutrina brasileira, é de se crer a ação como um direito, e não como um poder, até em respeito à nomenclatura adotada em nossa Constituição Federal, em seu art. 5°, XXXV. 3. Direito de ação e CPC/15 e as condições da ação3. O novo sistema processual brasileiro implementado pela Lei 13.105/15 trouxe consigo importantes mudanças na antiga discussão doutrinária sobre a utilidade das "condições da ação". Partindo da premissa que na vigência do CPC de 1973 havia acirrada discussão sobre a existência e utilidade das "condições da ação", importa-nos definir citado instituto, que nas palavras de Cassio Scarpinella Bueno são "as condições mínimas para que alguém possa provocar a função jurisdicional." Na concepção do CPC de 1973 as "condições da ação" são requisitos processuais, quais sejam: a) legitimidade (a pertinência subjetiva da ação, ou seja, qualidade expressa em lei que autoriza o sujeito-autor a invocar a tutela jurisdicional. 3 Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI240249,91041- O+Novo+CPC+e+as+Inovacoes+no+Instituto+das+Condicoes+das+Acoes e também em: https://www.conjur.com.br/2015-nov-30/otavio-fonseca-cpc-quebra-paradigma-condicoes-acao http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI240249,91041-O+Novo+CPC+e+as+Inovacoes+no+Instituto+das+Condicoes+das+Acoes http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI240249,91041-O+Novo+CPC+e+as+Inovacoes+no+Instituto+das+Condicoes+das+Acoes https://www.conjur.com.br/2015-nov-30/otavio-fonseca-cpc-quebra-paradigma-condicoes-acao Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 Nessa lógica, será réu aquele contra qual o autor pretender algo); b) interesse de agir (representado no trinômio: necessidade: traduz-se na ideiade que somente o processo é o meio hábil à obtenção do bem da vida almejado pela parte; utilidade: significa que o processo deve propiciar, ao menos em tese, algum proveito ao demandante; adequação: por ele, entende-se que a parte deve escolher a via processual adequada aos fins que almeja) e; c) possibilidade jurídica do pedido, imprescindíveis para o regular trâmite processual e eventual julgamento do mérito. Insta dizer que constatado pelo juiz a ausência de qualquer uma das condições da ação, teremos a carência da ação, nos termos do art. 267, VI, CPC/73. Do contexto acima exposto, questionou-se por muitos anos se ao analisar as "condições da ação" o Estado-Juiz rompia o plano da validade para analisar propriamente a existência, ou seja, o direito material lesionado ou o próprio mérito da ação. Ocorre que diante de tamanha polêmica apresentada, o Código de Processo Civil de 2015 extinguiu, como categoria, as condições da ação. Portanto, o instituto foi extinto, mas seus requisitos permaneceram intactos. Levando-se em conta que o magistrado, ainda, realiza dois juízos (de admissibilidade e mérito), o novo CPC separou os requisitos das condições da ação alocando-os em pressupostos processuais (relativos ao juízo de admissibilidade da ação) e como questão de mérito. Verifica-se, portanto, que o interesse de agir e a legitimidade passaram a ser tratados como pressupostos processuais, nos termos do artigo 17, do CPC/154, de tal forma que constatando o juiz, ao receber a inicial, a ausência do interesse de agir ou legitimidade, indeferirá a petição inicial, consoante artigo 330, incisos II e III, do CPC/155. No que tange a possibilidade jurídica do pedido, esse requisito passou a integrar a questão de mérito. Isto porquê quando o juiz analisa o interesse de alguém em romper a inércia do judiciário, por certo esse verdadeiramente avalia a pertinência e legalidade do pedido, ou seja, o direito material e o mérito, nos termos do artigo 487 do CPC/156. 3. Classificação do direito de ação. 4 Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade. 5 Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: (...) II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual (...). 6 Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; III - homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 Sob o prisma da jurisdição civil, segundo Humberto Theodoro Junior, se a ação consiste na aspiração a determinado provimento jurisdicional, a classificação de real relevância para a sistemática cientifica do direito processual civil deve ser a que leva em conta a espécie e natureza de tutela que se pretende do órgão jurisdicional. Nessa ordem de ideias, temos: a) ação de cognição; b) ação de execução; c) ação cautelar. Veja-se cada uma delas: a) ação de conhecimento (ou cognição): se provoca a tutela jurisdicional para que o Estado-juiz declare qual das partes tem ou não tem razão. Pede-se que ele profira uma sentença, na qual dirá se a razão está com o autor ou não, e se ele tem o não o direito ao provimento jurisdicional postulado. Ação de conhecimento pode ser desdobrada em: a) Constitutiva: essa espécie de ação, além de declarar direitos das partes, “cria, modifica ou extingue um estado de direito ou relação jurídica material. Relaciona-se aos chamados direitos potestativos. A ação constitutiva é a demanda que tem o objetivo de certificar e efetivar direitos potestativos. Direito potestativo é o poder jurídico conferido a alguém de alterar, criar ou extinguir situações jurídicas. Exemplo: dissolução de casamento; b) Condenatória: é aquela que não busca apenas a declaração do direito subjetivo, como também impor uma sentença que obrigue o réu a fazer ou deixar de fazer algo em favor do autor da ação. c) Declaratória ou meramente declaratória: esta deseja averiguar a certeza da existência ou inexistência da relação jurídica. A ação meramente declaratória é aquela que tem o objetivo de certificar a existência ou inexistência de uma situação jurídica. A doutrina e a jurisprudência também admitem a ação meramente declaratória de modo de ser da relação jurídica. É demanda de mera certificação. As ações de prestação e as ações constitutivas são também ações de certificação, mas as meramente declaratórias têm apenas esse objetivo. Exemplo: Tício convive há dez anos com Mévia. Não pretende obter a condenação de Mévia, constituir nova relação jurídica nem desconstituir a relação jurídica existente. Ele quer apenas declarar judicialmente a união estável. A ação declaratória é a indicada. b) ação de execução: visa nesse tipo de ação, forçar o cumprimento de uma pretensão, gerando um processo de execução forçada. É a ação de provimento jurisdicional eminentemente satisfativo do direito do credor, decorrente da inevitabilidade da jurisdição. Visa, através de atos coativos incidentes sobre o patrimônio ou, por vezes, sobre a própria pessoa do devedor, um resultado equivalente ao do adimplemento da obrigação que se deveria ter realizado. Tem cabimento sempre que o credor esteja munido de um título executivo, o qual pode ser uma sentença de cunho condenatório (judicial) ou documentos que tragam consigo presunção legal de liquidez e certeza da Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 obrigação inadimplida (extrajudicial). Ressalte-se que somente a parte munida de título executivo pode apresentar-se em juízo como credor da outra e fazer uso da execução. c) Cautelares/tutelas provisórias (artigo 300 e seguintes do CPC): justificam-se quando, em razão do tempo necessário para se realizarem todos os trâmites processuais, há risco do provimento jurisdicional ser ineficaz, ou quando não há necessidade de esperar o fim do processo, diante das evidências. Podem ser: Tutelas de urgência: são concedidas sempre que um direito é altamente provável e corre risco de não ser devidamente provido ao final do processo. Tutela antecipada: aplica-se quando a intenção é satisfazer antecipadamente o direito pretendido pelo autor. Tutela cautelar: aplica-se quando se objetiva assegurar a integridade do direito pretendido pelo autor. Tutela de evidência: independente de risco de ineficácia material do resultado do processo, pode ser requerida quando o réu abusar do direito de defesa ou usar de métodos para protelar o fim do processo. As classificações da ação penal no direito processual penal levam em consideração o critério objetivo, ou seja, considera-se o sujeito que a promove. Desse modo as ações penais classificam se em pública e de iniciativa privada. Logo, a ação será pública quando acionada pelo Ministério Público e de iniciativa privada quando acionada pela parte prejudicada (estas questões serão aprofundadas na disciplina processo penal). Assim, sob o prisma da jurisdição penal, tem-se: a) ação penal de inciativa pública: na ação penal pública, embora a titularidade da ação seja sempre do Ministério Público, haverá casos que o parquet promoverá a ação independente da manifestação da vontade das partes (incondicionada), e haverá situações em que os próprios dispositivos legais condicionaram o exercício da ação penal “à representação do ofendido” ou “à requisição do Ministério da Justiça” (condicionada). A regra é ser incondicionada a ação pública. A condicionada representa exceção: a) da ação penal de iniciativapública condicionada: quando o Ministério Público depender da representação do ofendido ou de quem o represente legalmente, ou ainda do Ministério da Justiça para propor a ação, estaremos diante de uma ação penal de iniciativa pública condicionada. Exemplo: o ofendido foi agredido com um soco e teve lesões leves, somente ele poderá levar adiante um termo circunstanciado, e terá que representar criminalmente contra o autor da agressão (condicionado à vontade da vítima); b) da ação penal de iniciativa pública incondicionada: ocorre quando a ação é promovida pelo Ministério público sem que haja necessidade da manifestação do ofendido ou de quem o represente legalmente, ou ainda do Ministério da Justiça. “No silêncio da lei, a ação penal pública será incondicionada”. Exemplo: Súmula 608 STF: Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 8 “No crime de estupro, praticado mediante violência real, ação penal é pública e incondicionada”. b) ação pública de iniciativa privada: nessas ações a própria lei resguarda a iniciativa da propositura da ação a um particular. A ação penal é pública, porém iniciada pelo particular. O Estado entrega ao particular o direito de perseguir em juízo aquilo que lhe é devido (jus accusationis), porém o direito de punir (jus puniendi) pertence-lhe exclusivamente. Subdividem-se em três espécies: ações privadas exclusivas, personalíssima e subsidiária da pública, logo: a) Ação privada exclusiva: esta deve ser pleiteada pelo ofendido ou por quem legalmente o represente para a persecução de determinados crimes, cuja apuração e julgamento ficam sujeitos, por expressa determinação legal, à exclusiva iniciativa do ofendido; b) ação privada personalíssima: é aquela que somente poderá ser promovida pelo ofendido, neste caso, se a parte ofendida vier a falecer, ocorrerá à extinção da punibilidade da parte ofensora. Exemplo: o crime de adultério; c) ação privada subsidiária da pública: quando o Ministério Público deixar de propor uma ação no prazo da lei, o ofendido ou o seu representante poderão ajuíza-la subsidiariamente. Logo este tipo de ação só ocorrerá se o Ministério Público não cumprir sua função, não oferecendo a denúncia no prazo legal. Sob o prisma da jurisdição do trabalho, tem-se (o aprofundamento destas questões é das disciplinas direito do trabalho e processo do trabalho): a) ações individuais ou reclamação trabalhista: nas ações individuais é analisada apenas a relação entre empregado e empregador, portanto a sentença terá validade apenas entre ambos. Trata-se, portanto de pretensões não-penais, englobadas pelo denominado processo civil em sentido amplo, podendo o sujeito da pretensão ser tanto o empregado como o empregador. No direito processual trabalhista as ações individuais, do mesmo modo, são distribuídas segundo o tipo de provimento jurisdicional solicitado pelo autor. Logo, são divididas em: ações individuais de conhecimento (condenatórias, cominatórias, constitutivas e declaratórias), de execução (a titulo judicial e extrajudicial) e finalmente em cautelares. b) ações coletivas ou dissídios coletivos: ocorrem quando busca a tutela dos interesses gerais e abstratos dos trabalhadores. Não existem ações coletivas de natureza condenatória. Os dissídios coletivos são, portanto, ações destinadas a defesa de interesses gerais e abstratos da categoria, profissional ou econômica, que tem por objeto, via de regra, a criação de novas normas ou condições de trabalho mais benéficas que as previstas em lei. A possibilidade de a Justiça do Trabalho criar normas coletivas de trabalho e chamada de “Poder Normativo. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 9 4. Elementos da ação. Os elementos da ação podem ser objetivos ou subjetivos. Eles serão responsáveis para a individualização de cada ação. Esses elementos têm como finalidade, além da individualização da ação, evitar decisões contraditórias sobre a mesma lide. São três: a) Partes: as partes de um processo é autor e réu. São eles que participam na relação jurídica processual. A relação processual é triangular. Nessa relação as partes levam ao juiz as petições e esse toma as decisões. As partes, em cada processo, podem ser somente um sujeito, ou podem ser vários. Quando é mais de um ocorre o litisconsórcio, ou seja, pluralidade de partes. b) Causa de pedir: a causa de pedir é constituída dos fatos que deram origem a lide, juntamente com os fundamentos jurídicos que demostram a violação do direito, justificando a pretensão do autor perante o juiz. Nesse tema é aplicado a Teoria da Substanciação, que divide a causa de pedir em duas, que são: Causa de Pedir Remota ou Fática: essa será a descrição do fato que deu origem a lide; Causa de Pedir Próxima ou Jurídica: é o próprio direito. Após a descrição fática e feita aplicação do direito, a retirada da norma do abstrato para o concreto, substanciando o pedido do autor. Nesse caso, teoricamente, é necessário somente a discrição das consequências jurídicas que a causa de pedir remota provocou, não sendo necessário os dispositivos legais que fundamentam o direito, tendo vista o princípio do iura novit curia (O Juiz conhece o direito). OBS: a teoria da substanciação da causa de pedir foi adotada pelo direito processual brasileiro, ela exige que os fatos e os fundamentos jurídicos como elementos da causa de pedir. Essa teoria, pressupõem que magistrado conhece o direito e o que é importante é uma discrição fática correta, tendo em vista, que o juiz irá decidir sobre o direito posto. Assim sendo, a fundamentação legal apresentada pelo autor não vincula o juiz, que poderá tomar a decisão através de sua livre convicção jurídica sobre o caso apresentado pelo autor. c) Pedido: o pedido é o objeto da ação, consiste na pretensão do autor, que é levada ao Estado-Juiz e esse presta uma tutela jurisdicional sobre essa pretensão. Doutrinariamente o pedido é divido em dois: Pedido Imediato: é o desejo do autor de ter Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 10 uma tutela jurisdicional. Pretensão dirigida para o próprio Estado-Juiz, retirando-o da inércia e forçando uma providência jurisdicional. Pedido Mediato: É o objeto da ação propriamente dito, o desejo do autor contra o réu, o desejo de submissão do réu a pretensão jurídico levada ao judiciário, ou seja, o desejo sobre o bem jurídico pretendido. 5. Litispendência e coisa julgada (parágrafos do artigo 337, do CPC). Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: (...) § 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada. §2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. §3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso. §4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado. Tanto no Processo Penal quanto no Processo Civil a definição de litispendência é a mesma. Ocorre quando há um litígio pendente de julgamento por um juiz. A exceção de litispendência impede a duplicação da ação, ou seja, não poderá ser intentada ação com as mesmas partes e sobre o mesmo fato. Assim, por meio da exceção de litispendência evita-se o "bis in idem". Também leciona Humberto Theodoro Júnior: “Não se tolera, em direito processual, que uma mesma lide seja objeto de mais de um processo simultaneamente (…) Demonstrada, pois, a ocorrência de litispendência ou de coisa julgada (isto é, verificada a identidade de partes; de objeto e de causa petendi) entre dois processos, o segundo deverá ser extinto, sem apreciaçãodo mérito”. (Curso de Direito Processual Civil, Rio de Janeiro: Forense, vol. I, 38 ed., 2002, p. 281). A coisa julgada está relacionada com a sentença judicial, sendo a mesma irrecorrível, ou seja, não admite mais a interposição de qualquer recurso, tornado esta, assim, imutável. A imutabilidade apenas se refere à possibilidade do juízo competente, a pedido da parte interessada, dar novo provimento judicial. Tem como objetivo dar segurança jurídica às decisões judiciais e evitar que os conflitos se perpetuem no tempo. A origem da coisa julgada é atribuída ao direito romano, a chamada "res judicata". A justificativa de tal instituto à época é muito semelhante à justificativa atual: pacificação social e segurança jurídica. Uma das finalidades da coisa julgada é imprimir segurança aos julgados, evitando que litígios idênticos sejam novamente ajuizados, o que geraria desordem e Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 11 discussões infindáveis. A coisa julgada é uma garantia constitucional e encontra amparo no artigo 5º inciso XXXVI da Constituição da República Federativa do Brasil, conhecida também como Carta Magna, a saber: “A Lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. A coisa julgada pode ser material ou formal: a) Coisa julgada material: denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário. A coisa julgada material é aquela que advém de uma sentença de mérito, como nas hipóteses estabelecidas pelo diploma processual civil nos casos em que juiz decide com resolução do mérito, quando acolhe ou rejeita o pedido do autor, o réu reconhece a procedência do pedido; quando as partes transigirem, quando o juiz pronuncia a decadência ou a prescrição, e quando o autor renuncia ao direito sobre que se funda a ação. O principal efeito de uma decisão de mérito é a “impossibilidade” da reforma do provimento judicial, seja no mesmo processo ou em outro. Verifica-se assim que não se pode submeter à mesma demanda ao judiciário, diferentemente da coisa julgada formal. Se o autor promove uma ação de reparação de danos, ou outra de qualquer natureza, em face do réu, e o juiz julga improcedente o pedido do autor, que não recorre, tal decisão é um exemplo de ocorrência da coisa julgada material. b) Coisa julgada formal - é a impossibilidade de modificação da sentença no mesmo processo, como consequência da preclusão dos recursos. Depois de formada a coisa julgada, o juiz não pode mais modificar sua decisão, ainda que se convença de posição contrária a que tinha anteriormente adotado. Só tem eficácia dentro do processo em que surgiu e, por isso, não impede que o tema volte a ser agitado em nova relação processual. É o que se denomina Princípio da inalterabilidade do julgamento. Todas as sentenças fazem coisa julgada formal, mesmo que não tenham decidido à disputa existente entre as partes. A coisa julgada formal é aquela que advém de uma sentença terminativa, como nas hipóteses em que o processo será extinto pelo juiz, quando indeferir a petição inicial, quando o processo ficar parado por negligência das partes, quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa, quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada, quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual, pela convenção de arbitragem, quando o autor desistir da ação, quando a http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/prescricao-e-decadencia.htm Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 12 ação for considerada intransmissível por disposição legal, quando ocorrer confusão entre autor e réu. 6. Regra da congruência e a sentença extra, ultra e citra petita. A regra da congruência ou adstrição refere-se à necessidade de o magistrado decidir a lide dentro dos limites objetivados pelas partes, não podendo proferir sentença de forma extra, ultra ou infra petita. Esse princípio está previsto no art. 492 do CPC, nos seguintes termos: Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. Conforme classificado pela doutrina, tem-se: a) decisão extra petita: é aquela proferida fora dos pedidos ou autor, ou seja, que concede algo além do rol postulado; b) decisão ultra petita: é aquela que aprecia o pedido e lhe atribui uma extensão maior do que a pretendida pela parte; c) decisão infra petita, também conhecida como citra petita: deixa de apreciar pedido formulado pelo autor. Complemento: Artigo: https://jus.com.br/artigos/11192/historia-da-formacao-da-ciencia-do-direito- processual-civil-no-mundo-e-no-brasil https://jus.com.br/artigos/11192/historia-da-formacao-da-ciencia-do-direito-processual-civil-no-mundo-e-no-brasil https://jus.com.br/artigos/11192/historia-da-formacao-da-ciencia-do-direito-processual-civil-no-mundo-e-no-brasil Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. Aulas 8 e 9 – PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS. EMENTA: Compreender o conceito de processo. Compreender a evolução do conceito de processo. Relacionar o atual conceito de processo com os conceitos de ação e jurisdição. Compreender as espécies de pressupostos de desenvolvimento válido e regular do processo, tanto na teoria como a partir de casos práticos. Introdução. Os pressupostos processuais são requisitos necessários para que o processo atinja seu intento, compondo condições imprescindíveis para que o processo exista e desenvolva-se de forma válida e regular. Evitam, assim, o acometimento de vícios graves, constituindo um filtro capaz de reter postulações formalmente inviáveis1. A concepção dos pressupostos processuais tem origem na obra de Oskar Von Bülow, que lhes deu autonomia. Sua obra serviu para elevar o direito processual a uma posição de destaque, afastando-o dos domínios do direito material. Esta autonomia do processo em relação ao direito material, que foi abordada em aulas passadas, pode assim ser sintetizada, na doutrina de Araújo Cintra: 1 Mais informações em: http://www.agu.gov.br/page/download/index/id/523907 http://www.agu.gov.br/page/download/index/id/523907 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 Direito material Direito processual O corpo de normas que disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades da vida. Exemplos: direito civil, penal, administrativo, comercial, tributário, trabalhista etc. Complexo de normas e princípios que regem tal método de trabalho, ou seja, o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado-juiz, da ação pelo demandante e da defesapelo demandado. Exemplos: direito processual civil, direito processual penal, direito processual do trabalho, direito processual penal militar etc. Inicia-se aqui, portanto, o estudo do último pilar do tripé processual – ação, jurisdição e processo. E nesse momento, a título de introdução, é necessário novamente verificar a figura (colocada na aula 1), que nos dá a dimensão deste tripé processual: a jurisdição representa o poder estatal de solucionar conflitos; a ação é o veículo que aciona a jurisdição e possibilita a solução do conflito e o processo é o instrumento pelo qual se concederá a efetiva tutela do direito material invocado. 1. Conceito de processo e distinções. Antes de se estudar os pressupostos processuais em espécie, necessário tratar do conceito de processo. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 Processo significa, etimologicamente, “marcha avante”, “caminhada” (do latim procedere, que significa seguir adiante), razão pela qual foi ele confundido durante muito tempo com a simples sucessão de atos processuais (procedimento). ATENÇÃO: é muito comum a confusão entre processo, feito, procedimento, autos e ação. Tendo em vista que “processo”, “feito”, “procedimento”, “autos”, “ação”, aparecem muitas vezes desviados de sua precisa acepção, é importante conhecer o significado preciso de cada termo. Veja abaixo a distinção. Para importantes doutrinadores, processo é: “a atuação da vontade da lei às lides ocorrentes, por meio dos órgãos jurisdicionais. Dito de outra forma, a finalidade do processo é obter a composição da lide, ou litígio. Compor a lide é resolvê-la conforme o direito objetivo fazendo atuar a vontade da lei” – Moacyr Amaral Santos; ou ainda “é o instrumento com o qual a jurisdição atua. É necessário o cumprimento de uma série de atos preparatórios, que se sucedem ordenadamente, a fim de proporcionar ao julgador o necessário conhecimento da situação de direito material sobre a qual incidirá o provimento. Essa série de atos constitui o processo, que se concebe como uma unidade em vista de uma finalidade, que dirige todo o seu desenvolvimento e cujo alcance é sua normal conclusão” – José Roberto Santos Bedaque. Como se pode verificar, processo não é sinônimo de procedimento. O procedimento é o meio extrínseco pelo qual se instaura, desenvolve e termina o processo. É a manifestação extrínseca deste, a sua realidade fenomenológica perceptível. A noção de procedimento é puramente formal, não passando da coordenação de atos que se sucedem. Conclui-se, portanto, que o procedimento é o meio pelo qual a lei estampa os atos e fórmulas da ordem legal do processo E também, processo não é sinônimo de “autos”. Os autos são a materialidade dos documentos em que se corporificam os atos do procedimento. Assim, o correto é dizer autos do processo que a ação faz surgir. 2. Natureza jurídica do processo – teoria do processo como relação jurídica. A teoria do processo como relação jurídica é a que conta com o maior número de adeptos. A relação processual é absolutamente distinta da relação jurídica substancial; uma coisa é a relação substancial, a res in iudicium deducta, entre as partes, e que constitui o objeto de ação, na qual o juiz não tem interesse; outra coisa é a relação processual, Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 4 estabelecida para servir àquela, e em cujo desenvolvimento e validade o juiz é tanto ou mais interessado do que as partes. A relação processual é complexa, uma vez que não compreende um único direito ou uma única obrigação, mas um conjunto de direitos e deveres, poderes e ônus, coordenados para um mesmo fim. Além disso, a relação processual é dinâmica, no sentido que se realiza em atos sucessivos. A relação processual é una, pois permanece a mesma do princípio ao fim, ainda que possam ocorrer modificações subjetivas (quanto às partes e ao juiz) e até mesmo modificações objetivas (quanto ao pedido). A doutrina confere à relação processual o caráter de relação de direito público, levando em consideração que os direitos e deveres processuais que se realizam no processo visam ao exercício da função jurisdicional, que é função do Estado. Assim, a figura do Estado, por ser órgão jurisdicional, aparece sobranceira na relação processual, certo que esta não se estabelece como as relações de direito privado, fora da intervenção do juiz, mas diante do juiz e com a sua necessária cooperação. 3. Pressupostos processuais em espécie. “Pressuposto” deriva de “pre” (o que vem adiante, do latim prae, diante) e “suposto” (particípio de “supor”, de supponere, pôr debaixo, aproximar, dar por verdadeiro), ou seja, o que já se reputa existente. Segundo Fredie Didier Jr., pressupostos processuais são: todos os elementos de existência; requisitos de validade e; condições de eficácia do procedimento. Para Teresa Arruda Alvim Wambier são elementos cuja presença é imprescindível para a existência e para a validade da relação processual e, de outra parte, cuja inexistência é imperativa para que a relação processual exista validamente, nos casos dos pressupostos processuais negativos. Confira-se cada um deles. A) Pressupostos processuais de existência (autor, jurisdição e réu). Os pressupostos processuais de existência são aqueles essenciais à formação da relação jurídica processual, cuja ausência importa na inexistência desta, e, consequentemente, o processo jamais chega a existir. Daí podem ser arguidos a qualquer tempo. Podemos enumerar como pressupostos processuais de existência a Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 demanda, a jurisdição e a citação. A demanda apresenta-se como pressuposto processual de existência do processo, pois, como o juiz não age de ofício, é imprescindível o ato de alguém, que a ele se dirige, pedindo a tutela jurisdicional. Em tempos passados não se procedia desta forma, sobretudo no processo penal, quando os denominados processos inquisitórios podiam ser iniciados de ofício pelo juiz, sem provocação de quem quer que fosse. A palavra demanda está tomada aqui “no sentido de pedido, de pretensão sempre em uma forma escrita, que é a petição inicial”. • OBS: para questão de nomenclatura (que pode variar dependendo do autor adotado): os pressupostos de existência subdividem-se em subjetivos e em objetivos. Os subjetivos representam um órgão jurisdicional e a capacidade de ser parte (aptidão de ser sujeito processual). O pressuposto processual de existência objetivo é a própria demanda (ato que instaura um processo, ato de provocação). B) Pressupostos processuais de validade POSITIVOS (petição inicial apta, competência do juízo, imparcialidade do juiz e legitimidade). Uma vez iniciado o processo, para que se desenvolva regularmente, é necessário que estejam presentes outros elementos, denominados pressupostos processuais de validade. Tais pressupostos referem-se às partes, ao juiz e à demanda. O desenvolvimento regular do processo, até o provimento final do juiz, depende do atendimento a determinadas regras procedimentais, cuja não observância poderá até pôr fim à relação. Os pressupostos processuais de validade da relação jurídica processual podem ser positivos ou negativos. Os pressupostos positivos (ou intrínsecos) devem estar presentes na relação jurídica processual, são eles: capacidade de ser parte, capacidade para estar em juízo, capacidade postulatória, petição inicial regular, citação válida, competência do juízo, e imparcialidade do juízo. B1) Pressupostos processuais de validade NEGATIVOS (litispendência e coisa julgada).Já os pressupostos negativos (ou extrínsecos) constituem aquelas circunstâncias que não podem estar presentes em uma dada relação processual. Assim, para que a relação jurídica processual seja válida, os pressupostos negativos devem estar ausentes, e consistem eles em litispendência, coisa julgada, perempção e compromisso Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 arbitral. Vistos especificamente nas aulas 6 e 7. Litispendência e coisa julgada não podem estar configurados no processo sob pena de levar a segunda demanda à extinção sem resolução de mérito. • OBS: para questão de nomenclatura: os pressupostos processuais de validade subjetivos dizem respeito ao juiz (sua competência e imparcialidade) e às partes (que devem ter capacidade processual e capacidade postulatória). Já os pressupostos processuais de validade objetivos podem ser intrínsecos ou extrínsecos. Os intrínsecos são os pressupostos que devem ser vistos dentro do processo, como o adequado desenrolar dos atos processuais. Os extrínsecos, também chamados de negativos, são pressupostos que não devem estar presentes. Em outras palavras, para que o processo seja válido, não podem ocorrer, como a coisa julgada, por exemplo. Complemento: lembrando novamente! Links para questões (enviado por e-mail): 1) Uma série de questões de concursos e exame de ordem pode ser localizada em diversos sites, como por exemplo: https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de- concurso/disciplina/direito-processual-civil. 2) Exames anteriores da OAB - http://oab.fgv.br/, escolher a seccional e consultar; 3) Provas anteriores do Ministério Público - http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/interna/concursos, escolher o concurso e consultar as provas. 4) Provas anteriores para Juiz do Trabalho: http://www.trtsp.jus.br/legislacao/21- institucional/concursos/magistrados/148-provas-da-magistratura 5) Diversas provas podem ser encontradas em sites específicos - exemplo: Juiz TJ/RJ: https://www.qconcursos.com/questoes-de- concursos/provas/vunesp-2016-tj-rj-juiz-substituto https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/disciplina/direito-processual-civil https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/disciplina/direito-processual-civil http://oab.fgv.br/ http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/interna/concursos http://www.trtsp.jus.br/legislacao/21-institucional/concursos/magistrados/148-provas-da-magistratura http://www.trtsp.jus.br/legislacao/21-institucional/concursos/magistrados/148-provas-da-magistratura https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2016-tj-rj-juiz-substituto https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2016-tj-rj-juiz-substituto Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. Aula 10 – COMPETÊNCIA. EMENTA: Conhecer as regras de definição da competência do juízo. Compreender as regras referentes à competência absoluta e relativa e as formas de modificação da competência relativa. Conhecer as regras de definição da competência do juízo. Compreender as regras referentes à competência absoluta e relativa e as formas de modificação da competência relativa. Introdução. A competência é estabelecida em lei e determina os limites do poder de julgar. Consiste na limitação do exercício da jurisdição atribuída a cada órgão ou grupo de órgãos jurisdicional – é a medida da jurisdição. Nesse sentido, confira-se a disposição do CPC, no artigo 42: “As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei”. É “incompetente” o juiz que não tem o poder de julgar atribuído por lei e, em caso de julgamento, seus atos poderão ser declarados nulos, assim, se um juiz assume uma vara criminal, não poderá julgar ações de divórcio, pois a competência a ele atribuída não abrange as ações de família, por exemplo. A competência, no processo civil, é trazida nos artigos 42 a 66, do Código de Processo Civil e no processo penal, nos artigos 69 a 91, do Código de Processo Penal. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 1. Regras (ou critérios) para definição de competência. Os critérios que o legislador levou em conta para a distribuição de competência são: a) o da soberania nacional; b) o da hierarquia e atribuições dos órgãos jurisdicionais (critério funcional); c) o da natureza ou valor da causa e o das pessoas envolvidas no litígio (critério objetivo), e; d) os dos limites territoriais que cada órgão judicial exerce a atividade jurisdicional (critério territorial). A regra geral para definição da competência está no artigo 43, do CPC, que dispõe: “Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta” – trata-se da chamada competência por distribuição (critério territorial). A competência, na forma do artigo 44, do CPC, obedecerá aos limites estabelecidos na Constituição Federal (foro por prerrogativa de função, por exemplo – determinadas autoridades somente podem ser julgadas por determinados órgãos do Poder Judiciário, como é o caso do julgamento dos deputados federais pelo STF em caso de crimes comuns – artigo 53, §1º, da CF1) e será determinada pelas regras previstas no CPC/lei especial, pelas normas de organização judiciária (lei estadual2) e pelas constituições dos Estados3. Contudo, para se determinar o juízo competente, uma análise pormenorizada deve ser desenvolvida além da regra geral. Vejamos cada um deles. 1.1. Competência internacional (critério da soberania nacional). Como é sabido, a jurisdição é fruto da soberania do Estado e, por consequência natural, deve ser exercida dentro do seu território. Entretanto, a necessidade de 1 Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) (...) 2 Em São Paulo, a organização judiciária é disciplinada pelo Decreto Lei 158/69 – disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-158-28.10.1969.html 3 A constituição do Estado de São Paulo pode ser consultada aqui: http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e2576658b1c52903256d63004f305a?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-158-28.10.1969.html http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e2576658b1c52903256d63004f305a?OpenDocument http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e2576658b1c52903256d63004f305a?OpenDocument Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 convivência entre os Estados, independentes e soberanos, fez nascer regras que levam um Estado a acatar, dentro de certos limites estabelecidos em tratados internacionais, as decisões proferidas por juízes de outros Estados. Diante dessa realidade, o legislador nacional definiu casos em que a competência é exclusiva do Poder Judiciário brasileiro, e casos em que a competência é concorrente/cumulativa, sendo que a decisão proferida no estrangeiro pode vir a gerar efeitos dentro do nosso território, após ser homologada pelo STJ. A competência será exclusiva, na forma do artigo 23, do CPC: “Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional”. A competência será concorrente/cumulativa, na forma dos artigos 21 e 22, do CPC: “Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I - de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional”. • Atenção: a ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil (artigo 24, do CPC). Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 4 • Atente-se também: não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação, salvo as causas de competência exclusiva da jurisdição nacional. 1.2. Competência funcional (critério funcional). Divide-se a atividade jurisdicional entre órgãos que devam atuar dentro do mesmo processo. Como o procedimento se desenvolve em diversas fases, pode haver necessidade de determinados atos se realizarem perante órgãos diversos; é o caso da carta precatória para citação ou intimação e oitiva de testemunha que esteja domiciliada em comarca diversa daquela em que tramita o processo, para a realização de penhora de bem situado em comarca diversa. Essa competência é alterada também de acordo com o grau de jurisdição. Normalmente se desloca a competência para um órgão de segundo grau, um tribunal, para reapreciar processo decidido em primeira instancia por meio de recurso. 1.3. Critério objetivo. O critério objetivo engloba: a) Competência em razão da pessoa (partes): a fixação da competência tendo em conta as partes envolvidas (ratione personae) pode ensejar a determinação da competência originaria dos tribunais, para ações em que a Fazenda Pública for parte etc.; b) Competência em razão da matéria (ratione materiae): causa de pedir; considera- se, ao fixar a competência, a natureza da relação jurídica controvertida, definida pelo fato jurídico que lhe dá ensejo, por exemplo: para conhecer de uma ação de separação, será competente um dos juízes das Varas da Família e Sucessões, quando os houver na Comarca; c) Competência em razão do valor da causa (pedido): serve para delimitar, entre outras hipóteses, competência de varas distritais, ou, quando houver organizado, dos Tribunais de Alçada. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 1.4. Competência territorial (critério territorial). É o critério que se apega à circunscrição geográfica. É o critério de foro que se encontra no CPC, nos artigos 46 a 53, confira-se: OBS: foro é a comarca onde a demanda deve ser proposta, isto é, a competência territorial para o ajuizamento da ação. A comarca corresponde ao território em que o juiz de primeiro grau irá exercer sua jurisdição e pode abranger um ou mais municípios, dependendo do número de habitantes e de eleitores, do movimento forense e da extensão territorial dos municípios do estado, entre outros aspectos. Cada comarca, portanto, pode contar com vários juízes ou apenas um, que terá, no caso, todas as competências destinadas ao órgão de primeiro grau4. Caso Local/foro Artigo do CPC e regras específicas Direito pessoal ou real sobre bens móveis Foro do domicílio do réu Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. § 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado. Direito real sobre imóveis Foro de situação da coisa Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 4 Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82385-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comarca-vara- entrancia-e-instancia http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82385-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comarca-vara-entrancia-e-instancia http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82385-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comarca-vara-entrancia-e-instanciaCentro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Inventário, partilha, arrecadação, cumprimento de disposições de última vontade, impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu Foro de domicílio do autor da herança Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. Réu ausente Foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. Réu incapaz Foro de domicílio de seu representante ou assistente Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente. Quando a União ou Estado forem autores Foro de domicílio do réu Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 de situação da coisa ou no Distrito Federal. Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado. Para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável Foros: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal. Art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; Ação em que se pedem alimentos Foro do domicílio ou residência do alimentando Art. 53 (...) II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; Ré pessoa jurídica Foro do local da sede; onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu; onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica. Art. 53, inciso III, alíneas “a”, “b” e “c”. Ação que visa o cumprimento de obrigações Onde a obrigação deve ser satisfeita Art. 53, inciso III, alínea “d”. Direitos previstos no Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/20035. Foro do local da residência do idoso Art. 53, inciso III, alínea “e”. Ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício notarial Foro da sede da serventia Art. 53, inciso III, alínea “f”. Ação para reparação de danos Foro do local do ato ou fato Art. 53, inciso IV. Ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves Foro do domicílio do autor ou local do fato Art. 53, inciso V. 5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 8 • Conclusão para fixação de competência (etapas): Do ponto de vista didático, a fixação da competência observará o seguinte passo a passo, sintetizando as colocações acima: 1º) A competência é internacional ou interna? 2º) Se interna, a competência é exclusiva ou concorrente? 3º) Se interna, a competência é da Justiça comum ou especial? 4º) Se da Justiça comum, a competência é federal ou estadual? 5º) Verificação da competência territorial e; 6º) Verificação da Vara6. 2. Classificação de competência. Vide tabela: COMPETÊNCIA DE FORO (TERRITORIAL). Foro é a unidade territorial sobre a qual se exerce o poder jurisdicional. Primeiro, verifica-se qual é o foro competente, de acordo com as regras do CPC. COMPETÊNCIA DO JUÍZO. Após a verificação do foro competente, o próximo passo é verificar qual é o juízo competente, segundo as leis de organização judiciária. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA. Pode ser atribuída ao juízo singular (é a regra) ou ao tribunal (excepcional, como nos casos de ação rescisória, mandado de segurança contra ato judicial etc.). COMPETÊNCIA DERIVADA OU RECURSAL. Normalmente é atribuída a um tribunal. Caso de juízo singular com competência recursal: os embargos infringentes de alçada são julgados pelo mesmo juízo 6 As varas representam a área de atuação definida de cada juiz. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 9 prolator da sentença (art. 34 da Lei 6.830/80). COMPETÊNCIA RELATIVA. 1) É fixada para atender preponderantemente ao interesse particular. 2) Deve ser arguida pelo réu na contestação, sob pena de preclusão e prorrogação do juízo (art. 657). Pode ser alegada pelo MP nas causas de sua atuação (art. 65, parágrafo único). O assistente simples não pode alegar incompetência relativa em favor do assistido (aplicação do art. 122). 3) Súmula 33 do STJ: a incompetência relativa não pode ser conhecida de ofício. 4) Pode ser modificada pelo foro de eleição (art. 63) ou pela simples não alegação. Pode ser alterada por conexão ou continência. 5) Mudança superveniente é irrelevante (aplicação da perpetuatio jurisdicionis). Exemplos: territorial (regra geral) e em razão do valor da causa (quando ficar aquém do limite estabelecido por lei). COMPETÊNCIA ABSOLUTA. 1) É fixada para atender preponderantemente ao interesse público. 2) Pode ser alegada a qualquer tempo, por qualquer das partes. Se a decisão transitar em julgado, cabe ação rescisória para desconstituí-la (art. 966, II). 3) Deve ser declarada de ofício (art. 64, §1º). Não pode ser alterada por vontade das partes8. 4) Não pode ser alterada por conexão ou continência. 5) Mudança superveniente impõe o deslocamento da causa para outro juízo (excepciona a perpetuatio jurisdicionis). Exemplos: em razão da matéria; em razão da pessoa; funcional; territorial (em alguns casos – vide no caso de ação civil pública – artigo 2º, da Lei nº 7.347/859); em razão do valor da causa (quando extrapolar os limitesestabelecidos pelo legislador). 7 Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação. Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar. 8 Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação. § 1o A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício. § 2o Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência. § 3o Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente. § 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. 9 Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 10 3. Competência absoluta (conforme distinção feita na tabela acima). A competência absoluta jamais pode ser modificada, pois é determinada de acordo com o interesse público, assim não é plausível de mudança pelas circunstâncias processuais ou vontade das partes. A competência absoluta é assim considerada quando fixada em razão da matéria (ratione materiae, em razão da natureza da ação, exemplo: ação civil, ação penal etc.), da pessoa (ratione personae, em razão das partes do processo) ou por critério funcional (em razão da atividade ou função do órgão julgador, por exemplo: competência para julgamento de recurso), em alguns casos o valor da causa bem como a territorialidade podem ser consideradas competência absoluta, mas a isso se trata como exceção. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício, e a qualquer momento do processo ela pode ser alegada, tanto pelas partes quanto pelo próprio juiz. Se houver vício no processo referente à competência absoluta, isso acarreta em uma nulidade absoluta do processo. Mesmo depois de trânsito em julgado, se no prazo de dois anos for identificada a incompetência absoluta é possível desconstituí-la em ação rescisória. Reconhecida a incompetência absoluta os atos já praticados tornam-se nulos, e o processo é enviado ao juiz deveras competente. A regra de competência absoluta não é passível de alteração por continência ou conexão. 4. Competência relativa (conforme distinção feita na tabela acima). A competência relativa, diz respeito ao interesse privado, ela é fixada de acordo com critérios em razão do valor da causa (Juizados Especiais Estaduais, Federais e da Fazenda Pública, que tem um teto previsto para o valor das ações) em razão da territorialidade (de acordo com a circunscrição territorial judiciária, foro comum: domicilio do acusado) Diferente da incompetência absoluta, a relativa só pode ser requerida pelo réu, no prazo da resposta sobre a penalidade de preclusão. Assim, o juiz não pode reconhecê- la de oficio, mas o Ministério Público pode alegá-la em benefício de réu incapaz. A arguição de incompetência relativa deve ser feita por exceção instrumental, que deve ser ajuizada em peça apartada da contestação. Porém o Superior Tribunal de Justiça, tem entendido que essa pode acontecer também na contestação. Depois de reconhecida a incompetência relativa, remete-se os autos aos juízes competentes, porém não há anulação dos atos já praticados, ou seja opera efeitos ex- Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 11 nunc. A regra de competência relativa pode ser modificada também por conexão e continência. 5. Modificação da competência10 (artigos 54 a 63, do CPC). Segundo a regra do artigo 54, do CPC, a modificação da competência se dará por conexão ou continência: “Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta Seção”. • Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir (artigo 55, do CPC). • Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais (artigo 56, do CPC). OBS: prevenção (artigos 58 e 59, do CPC): significa a fixação da competência, num dado juízo, através de ato concreto: “Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo”. É, portanto, um critério de confirmação e manutenção da competência do juiz que conheceu a causa em primeiro lugar, perpetuando a sua jurisdição e excluindo possíveis competências concorrentes de outros juízos. 5.1. Foro de eleição: nas ações que envolvem direitos subjetivos de caráter patrimonial e disponível, onde impera a liberdade contratual privada, as partes contratantes podem fixar diversas regras jurídicas para reger a relação contratual, inclusive alterando as disposições ordinárias da legislação. O contrato, nesse âmbito, faz lei entre as partes e permite a modificação de alguns critérios processuais, dentre eles, a competência relativa, concernente à territorialidade. Trata-se da regra do artigo 63, do CPC: Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. § 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. § 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. § 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. 10 Mais informações em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4854 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4854 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4854 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 12 §4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. 6. Conflito de competência (artigo 66, do CPC). Não se faz incomum, na prática, que dois ou mais juízes se deem por competentes para um mesmo processo, ou, ao contrário, se entendam incompetentes para apreciar a causa. O conflito de competência, portanto, pode ser positivo ou negativo. Será positivo quando ambos os juízes assinalarem sua competência para o feito e, negativo, quando a controvérsia versar sobre a afirmação de incompetência por parte de ambos. O conflito de competência será encaminhado ao Presidente do Tribunal hierarquicamente superior aos magistrados conflitantes, que julgará o conflito, decidindo qual o juiz competente para a causa e pronunciar-se-á, igualmente, sobre a validade dos atos até então praticados pelo juiz incompetente (artigos 951 e seguintes do CPC). Art. 66. Há conflito de competência quando: I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes; II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência; III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada deveráProfessor Gustavo Belucci 4 Há também, nesta temática, quem diferencie os conceitos de acesso ao Judiciário, acesso à Jurisdição, e acesso à Justiça, nos seguintes termos: Cláusula do acesso à justiça: insere o indivíduo em uma sociedade em que ele pode ter acesso a proteger os seus direitos. Proteção dos direitos subjetivos e, caso precise, mediante a atuação/intervenção do Estado. Trata-se do conceito mais amplo. Acesso à jurisdição (direito fundamental à tutela jurídica efetiva) – direito ao devido processo, a que a tutela jurisdicional seja efetiva, que o processo seja equânime, em prazo razoável, com o cumprimento da decisão. Conceito ligado ao processo justo e às garantias processuais, fenômeno endoprocessual. Acesso ao judiciário – acesso ao Poder Judiciário; criação de órgãos jurisdicionais, aproximar a população, justiça itinerante. c) Juiz natural (promotor natural) “ (...) XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; (...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. O princípio do juiz natural preleciona a utilização de regras objetivas de competência jurisdicional para garantir independência e a imparcialidade do órgão julgador. Trata-se, portanto, de um juiz previamente encarregado, na forma da lei, como competente para o julgamento de determinada lide, o que impede, entre outras coisas, o abuso de poder. Como consequência, não se admite a escolha específica nem a exclusão de um magistrado de determinado caso. Com base nesse entendimento, uma vara de família – que, entre outros assuntos, cuida de divórcios e guarda de filhos - não pode analisar uma ação criminal (latrocínio, por exemplo). No caso de haver mais de uma vara ou turma especializadas no mesmo tema, os processos são distribuídos aos magistrados por meio de sorteio, novamente para garantir a imparcialidade das decisões.5 d) Devido processo legal – “due process of law” (artigo 5º, inciso LIV, da CF)6. (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 5 Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/85865-cnj-servico-principio-do-juiz-natural 6 Mais informações em: https://jus.com.br/artigos/22857/principio-do-devido-processo-legal http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/85865-cnj-servico-principio-do-juiz-natural https://jus.com.br/artigos/22857/principio-do-devido-processo-legal Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 É o princípio que assegura a todos o direito a um processo com todas as etapas previstas em lei e todas as garantias constitucionais. Se no processo não forem observadas as regras básicas, ele se tornará nulo. Segundo José Afonso da Silva, o princípio do devido processo legal combinado com o direito de acesso à justiça (artigo 5º, XXXV), o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV), fecha o ciclo das garantias processuais. Assim, garante-se o processo, com as formas instrumentais adequadas, de forma que a prestação jurisdicional, quando entregue pelo Estado, dê a cada um, o que é seu. Inegavelmente, o contraditório, a ampla defesa e o direito de acesso à justiça (princípio da inafastabilidade da jurisdição) são inerentes ao devido processo legal. De fato, representam corolários da aplicação deste princípio. Contudo, a materialização do devido processo legal vai mais além, isto é, se dá de forma ainda mais abrangente, como se pode notar com alguns exemplos: o tratamento paritário conferido às partes envolvidas no processo (art. 5º, I, CPC); a publicidade do processo (art. 5º, LX, CF); a proibição da produção de provas ilícitas (art. 5º, LVI); a imparcialidade do julgador, bem como a garantia do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII); a motivação das decisões (art. 93, IX); a duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII), etc. Todos esses princípios e garantias solidificam o devido processo legal, ou seja, formam um processo legalmente estabelecido. e) Contraditório e ampla defesa (artigo 5º, inciso LV) e do duplo grau de jurisdição (“meios e recursos a ela inerentes”)7. (...) LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Previsão no CPC: “Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I à tutela provisória de urgência; II às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III; III à decisão prevista no art. 701. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”. Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro, o princípio do contraditório, que é inerente ao direito de defesa, é decorrente da bilateralidade do processo: quando uma das partes alega alguma coisa, há de ser ouvida também a outra, dando-se-lhe oportunidade de resposta. Ele 7 Mais informações em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10512&revista_caderno=26 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art311ii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art701 http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10512&revista_caderno=26 http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10512&revista_caderno=26 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 supõe o conhecimento dos atos processuais pelo acusado e o seu direito de resposta ou de reação. Exige: 1- notificação dos atos processuais à parte interessada; 2- possibilidade de exame das provas constantes do processo; 3- direito de assistir à inquirição de testemunhas; 4- direito de apresentar defesa escrita. A ampla defesa consubstancia-se no direito das partes de oferecer argumentos em seu favor e de demonstrá-los, nos limites legais em que isso for possível. Existe, portanto, uma conexão do princípio da ampla defesa com os princípios da igualdade e do contraditório. O princípio da ampla defesa não supõe uma infinidade de atos no que concerne à produção da defesa a bel prazer, sem limites determinados ou mesmo a qualquer tempo ou a qualquer hora, mas, ao contrário, que a defesa necessária se produza pelos meios e elementos totais de alegações e de provas no tempo processual que será devidamente oportunizado pela lei. Sob enfoque penal, o princípio da ampla defesa figura como uma garantia com destinatário certo, qual seja, o acusado. E a defesa pode ser subdividida em: defesa técnica (defesa processual ou específica), exercida por profissional habilitado; e autodefesa (defesa material ou genérica) exercida pelo próprio imputado. • Atenção com o duplo grau de jurisdição: o princípio do duplo grau de jurisdição nos revela a possibilidade de revisão, mediante o recurso cabível, das causas já julgadas pelo juiz de primeiro grau (ou primeira instância). Dessa forma, esse princípio nos garante a possibilidade de revisão por uma instância superior. A raiz desse princípio encontra-se na própria história do homem que insatisfeito com o resultado busca sempre rever uma decisão ou seja, pede uma segunda opinião. De forma geral, os princípios ficam a critério das partes, para serem examinados por uma instância superior, ad quem, em razão de não concordar com a decisão da instância inferior. Não é expresso na CF. • Quadro esquemático de organização judiciária no Brasil (vide artigos 92 a 126, da CF): Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoriasuscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo. OBSERVAÇÃO. 1) Competência federal (artigo 109, da CF): toda vez que se configurarem as situações descritas no artigo 109, da CF, a competência será da Justiça federal: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 13 III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas”. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. Aulas 11 e 12 – SUJEITOS DO PROCESSO. EMENTA: Identificar os sujeitos do processo e os direitos e deveres das partes, dos procuradores e do juiz. Conceituar parte. Diferenciar capacidade de ser parte e capacidade processual. Entender a diferença entre representação e assistência. Definir as modalidades de curador. Entender sucessão das partes e dos procuradores. Analisar a pluralidade de partes: litisconsórcio. Analisar intervenção de terceiros. 1. Sujeitos do processo. Cintra, Grinover e Dinamarco, lecionam que sendo um instrumento para a resolução imparcial dos conflitos que se verificam na vida social, o processo apresenta, necessariamente, pelo menos três sujeitos: o autor e o réu, nos polos contrastantes da relação processual, como sujeitos parciais; e, como sujeito imparcial, o juiz, representando o interesse coletivo orientado para a justa resolução do litígio. Vejamos cada uma destas partes. 2. Direitos e deveres das partes, dos procuradores e do juiz. Conceito de parte1: o conceito de parte é em verdade conceito eminentemente processual, além de ser técnico. Não é nada fácil, porém, a determinação do conceito de parte, mesmo que no campo processual. Parte revela-se como conceito ambíguo e 1 Mais informações em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7153 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7153 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7153 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 por vezes polissêmico, uma vez que pode significar ao mesmo tempo, a porção ou quinhão integrante de um todo maior, e também pode indicar aquele que participa, tomando parte de relação jurídica processual. A ideia matriz é a de litígio como conflito de interesses tal como vem descrito na petição inicial, que sendo tal conflito uma unidade processual, algo inteiro e completo, onde os sujeitos em conflito serão uma porção deste, na medida em que, pelo antagonismo em que os mesmos se encontram em relação à controvérsia, sua própria posição de contraste afinal define o conflito. Parte será, portanto, toda a pessoa física ou jurídica com envolvimento numa demanda, diante do juiz fazendo um elo trilateral juiz-autor-réu. Como supracitado, o conceito de parte é ligado intimamente ao conceito de jurisdição, uma vez que o conceito de parte é eminentemente processual devendo cada parte colaborar com a justiça. As partes, formadas por demandante (autor) e demandado (réu), podem ser chamadas de exequente e executado nas ações de execução, de promovente e promovido nas ações de demarcação de terras, de reivindicante e reivindicado nas ações reivindicatórias, de querelante e querelado nas ações penais privadas, de reclamante e reclamado nas ações trabalhistas, enfim, dependendo da natureza da ação há um nome técnico usado para determinar as partes. Além disso, deve estar em claro que uma das partes – o autor – ao acionar a máquina estatal para intervir num determinado conflito, não quer de maneira alguma dizer que o Estado fará a vontade do demandante, uma vez que o Estado-juiz foi apenas acionado e, a partir disso, torna-se um ser imparcial e cego para as diferenças entre as partes, podendo inclusive a decisão judiciária ser contra o esperado do próprio autor da demanda, uma vez que o que está em jogo é a justiça e não o desejo de quem demanda. 2.1. Deveres das partes (artigos 77 a 79, do CPC). São deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo: I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento; III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito; Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva; VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso. • Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatórioà dignidade da justiça. • A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta. • Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa prevista no § 2o será inscrita como dívida ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado da decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da execução fiscal. • Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa prevista poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. • Advogados públicos ou privados e membros da Defensoria Pública e do Ministério Público terão eventual responsabilidade disciplinar a ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual o juiz oficiará. • Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda, proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da multa • O representante judicial da parte não pode ser compelido a cumprir decisão em seu lugar. Também é vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos membros do Ministério Público e da Defensoria Pública e a qualquer pessoa que participe do processo empregar expressões ofensivas nos escritos apresentados. Quando expressões ou condutas ofensivas forem manifestadas oral ou presencialmente, o juiz advertirá o ofensor de que não as deve usar ou repetir, sob pena de lhe ser cassada a Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 4 palavra. De ofício ou a requerimento do ofendido, o juiz determinará que as expressões ofensivas sejam riscadas e, a requerimento do ofendido, determinará a expedição de certidão com inteiro teor das expressões ofensivas e a colocará à disposição da parte interessada. OBS: segundo o Novo CPC, também não se deve esquecer: Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar- se de acordo com a boa-fé. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. 2.2. Consequências da violação dos deveres das partes e a litigância de má-fé (artigos 80 e 81, do CPC). Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como autor, réu ou interveniente (artigo 79, do CPC). Considera-se litigante de má-fé aquele que (artigo 80, do CPC): I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; VI - provocar incidente manifestamente infundado; VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. • Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. • Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. • O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá- lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos. 2.3. Deveres, direitos, sucessão e responsabilidade dos procuradores (artigos 103 a 111, do CPC). A parte será representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. É lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação legal. • Necessidade de procuração para o advogado (artigos 104 e 105, do CPC): O advogado não será admitido a postular em juízo SEM PROCURAÇÃO, salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente. O advogado deverá, independentemente de caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz. O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos. • A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. • A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. Se o outorgado integrar sociedade de Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença. O advogado tem direito a (artigo 107, do CPC) - ver também o artigo 7º, do Estatuto da OAB2: I - examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independentemente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos; II - requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo, pelo prazo de 5 (cinco) dias; III - retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo legal, sempre que neles lhe couber falar por determinação do juiz, nos casos previstos em lei. • Ao receber os autos, o advogado assinará carga em livro ou documento próprio. • Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão retirar os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição nos autos. É lícito ao procurador retirar os autos para obtenção de cópias, pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas, independentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo. • O procurador perderá no mesmo processo o direito de retirar os autos se não devolver os autos tempestivamente, salvo se o prazo for prorrogado pelo juiz. 2.3.1. Sucessão das partes e dos procuradores (artigos 108 a 112, do CPC). Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1o e 2o. 2 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 A parte que revogar o mandato outorgado a seu advogado constituirá, no mesmo ato, outro que assuma o patrocínio da causa. Não sendo constituído novo procurador no prazo de 15 (quinze) dias, observar-se-á o disposto no art. 763. O advogado poderá renunciar ao mandato a qualquer tempo, provando, na forma prevista neste Código, que comunicou a renúncia ao mandante, a fim de que este nomeie sucessor. Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para lhe evitar prejuízo. Dispensa-se a comunicação quando a procuração tiver sido outorgada a vários advogados e a parte continuar representada por outro, apesar da renúncia. 2.4. Deveres, poderes e responsabilidade do juiz (artigos 139 a 143, do CPC). No primeiro grau de jurisdição, os órgãos judiciários civis são monocráticos ou singulares, isto é, formados apenas por um juiz. Nos graus superiores (instâncias recursais), os juízos são coletivos ou colegiados, formando tribunais, compostos de vários juízes, que, às vezes, recebem denominações especiais como as de desembargador ou ministro. A Constituição de 1988 criou, outrossim, a figura do Juiz de Paz, que deve ser eleito pelo voto popular, com competência definida por lei ordinária, para o procedimento de habilitação e celebração do casamento, e para exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; II - velar pela duração razoável do processo; III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias; IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; 3 Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. § 1o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor; II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber; II - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre. § 2o Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o relator: I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente; II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 8 V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais; VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito (somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular); VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais; VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais; X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva. • O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico e só decidirá por equidade nos casos previstos em lei (artigo 140). • O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte (artigo 141). • Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé (artigo 142). • O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando: I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude; II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte (somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 dias) – artigo 143. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7347orig.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7347orig.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm#art82 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 9 3. Capacidade para ser parte x capacidade processual x capacidade postulatória. A capacidade de ser parte é a aptidão para figurar como parte em um dos polos da relação processual. Pode ser parte todo aquele que tiver capacidade de direito (artigos 1º e 2º do Código Civil4). Já a capacidade processual é a aptidão para agir em juízo. Toda pessoa que se acha no exercício dos seus direitos tem capacidade para estar em juízo, conforme reza o artigo 70 do Código de Processo Civil5. A capacidade postulatória, por sua vez, é a capacidade (capacidade técnica- formal - inscrição na OAB) conferida pela lei aos advogados para praticar atos processuais em juízo, sob pena de nulidade do processo, de acordo com os artigos 1º e 3º da Lei 8.906/94. As pessoas não advogadas precisam, portanto, integrar a sua incapacidade postulatória, nomeando um representante judicial: o advogado. Nos termos do artigo 133 da CF, o advogado é indispensável à administração da justiça. Assim, para postular em juízo é imprescindível que a parte tenha a habilitação de advogado, ou seja, que ostente o título de bacharel em Direito e encontre-se inscrito na OAB. OBS1: Curador especial – artigo 72, do CPC: o juiz nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei. OBS 2: Necessidade de consentimento do cônjuge – artigo 73, do CPC: o cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a 4 Art. 1o Todapessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 5 Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo. Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 10 constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. Aplica- se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos. O consentimento pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo. A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo. OBS3: Demais representações – artigo 75, do CPC: serão representados em juízo, ativa e passivamente: I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado; II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores; III - o Município, por seu prefeito ou procurador; IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar; V - a massa falida, pelo administrador judicial; VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador; VII - o espólio, pelo inventariante; VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores; IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens; X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil; XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico. 5. Litisconsórcio (artigos 113 a 118, do CPC) – breve noção. A doutrina é pacífica em conceituar o litisconsórcio como pluralidade de sujeitos em um ou nos dois polos da relação jurídica processual que se reúnem para litigar em conjunto. Segundo o artigo 113, do CPC, “duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito”. É irrelevante a postura no processo dos sujeitos que litigam no mesmo polo, sendo admissível até que sejam adversários entre si na demanda judicial. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 11 5.1. Classificação do litisconsórcio. 1) Quanto à posição das partes: o litisconsórcio pode ser ativo, passivo ou misto. Ativo quando a pluralidade for de autores; passivo quando a pluralidade for de réus; e misto quando a pluralidade for de autores e réus. 2) Quanto ao momento de sua formação: o litisconsórcio pode ser inicial ou incidental (ulterior). Inicial quando sua formação é pleiteada na petição inicial. Várias pessoas envolvidas em acidente de veículos, em conjunto, ingressam com ação de reparação de danos contra o ofensor (litisconsórcio ativo inicial). 3) Quanto à sua formação: o litisconsórcio pode ser necessário ou facultativo. O litisconsórcio necessário decorre de imposição legal (como na ação de usucapião) ou da natureza da relação jurídica (como em uma ação de anulação de casamento). Nesta hipótese, impõe-se a presença de todos os litisconsortes. A ausência de algum deles resulta na falta de legitimidade dos que estiverem presentes e na extinção do processo sem resolução de mérito. O Litisconsórcio facultativo é aquele que se forma em função da vontade de quem propõe a demanda. Neste caso, a formação do litisconsórcio não é obrigatória. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. 4) Quanto ao regime de tratamento dos litisconsortes: pode se falar em litisconsórcio unitário e litisconsórcio simples. No litisconsórcio unitário a situação jurídica litigiosa deverá receber disciplina uniforme, ou seja, a decisão da lide não poderá uma para uma para uma parte e outra para a outra. No litisconsórcio simples, os litisconsortes serão tratados como partes distintas, o destino de cada um é independente do destino dos demais. Regras gerais do CPC: • Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. • Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes. • Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 12 caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar. • Art. 118. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, e todos devem ser intimados dos respectivos atos. 6. Intervenção de terceiros (breve noção). É um instituto que permite o ingresso de um terceiro na relação jurídica existente entre o autor e o réu. O terceiro, estranho à relação jurídica, ao ingressar em um dos polos estabelece uma nova relação jurídica, independente e autônoma da relação jurídica original. 6.1. Classificação. A intervenção de terceiros pode ser classificada como adesiva ou principal e espontânea ou provocada. a) Intervenção adesiva (ad coadjuvandan): o terceiro ingressa na relação jurídica e assume a posição de auxiliar da parte. b) Intervenção principal: o terceiro ingressa na relação jurídica e exerce o direito de ação. c) Intervenção espontânea: o ingresso do terceiro na relação jurídica entre o autor e réu ocorre de forma voluntária. É forma voluntária a modalidade de assistência. d) Intervenção provocada: o ingresso do terceiro na relação jurídica entre o autor e réu ocorre de forma não espontânea, ou seja, imposta, provocada pelo autor ou pelo réu. São formas provocadas as modalidades denunciação da lide e chamamento ao processo. 6.2. Modalidades de intervenção. São 5 as modalidades: assistência, chamamento ao processo, denunciação da lide, intervenção do “amicus curiae” e incidente de desconsideração da personalidade jurídica. a) Assistência (art. 119 a 124, CPC): é uma modalidade de intervenção de terceiros que se apresenta de forma voluntária (espontânea) que permite ao terceiro formular Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 13 pedido de ingresso na relação jurídica processual que inicialmente era composta por autor e réu. A assistência poder ser simples ou litisconsorcial. Na assistência simples o assistente intervém no auxílio da parte contra a outra em função do interesse jurídico que tem na vitória ou na derrota da outra parte. O papel do assistente é o de auxiliar a parte assistida em defesa do direito da mesma. O assistente simples, também chamado de adesivo, atua coadjuvandoa atividade processual do assistido em conformidade com os interesses deste e isto se dá porque ele não pode ser parte e, portanto, ingressa no processo como assistente. A atuação do assistente é vinculada a atuação da parte. Assistência litisconsorcial: o assistente atua como se ele fosse um verdadeiro litisconsorte do assistido. Diferente do assistente simples que não pode ser parte, o assistente litisconsorcial poderia sê-lo, porém entra na relação jurídica processual como assistente litisconsorcial. Deve haver uma relação jurídica entre o interveniente e o adversário do assistido. Toda vez que a sentença influir na relação jurídica existente entre o assistido e o adversário do assistido tem o litisconsorte da parte principal. b) Chamamento ao processo (art. 130, CPC): é uma das modalidades de intervenção de terceiro qualificada como forma coacta, cuja provocação é exclusiva do réu. A finalidade desta modalidade é ampliar o objeto do processo trazendo para a causa os demais obrigados solidariamente responsáveis com o réu e atribuir ao réu-chamante título executivo judicial contra os réu-chamados. É um mecanismo que introduz na relação jurídica processual original a figura do devedor ou do fiador para que cada um responda total ou parcialmente a prestação exigida no processo. O chamamento ao processo é admissível em três situações: para trazer ao processo o devedor principal quando o fiador for réu; para trazer ao processo os outros fiadores quando na ação tenha sido citado apenas um dos fiadores; para trazer ao processo os demais devedores solidários, quando a ação foi proposta apenas em face de um ou alguns dos devedores principais da dívida comum. c) Denunciação da lide (art. 125 a 129, CPC): é uma das modalidades de intervenção de terceiros qualificada como forma provocada e cuja provocação se dá pelas partes, ou seja, ou pelo autor ou pelo réu. A denunciação da lide visa garantir a recomposição das perdas, caso sobrevenha a derrota, portanto nessa modalidade tem-se previsto o direito de regresso. Sendo feita a denunciação da lide duas ações tramitarão simultaneamente. Uma será a principal movida pelo autor em face do réu e a outra eventual movida pelo litisdenunciante em face do litisdenunciado e só será apreciada a segunda ação se o julgamento da principal for desfavorável ao denunciante. A denunciação da lide é admissível em três situações: pode ocorrer nas ações relativas a Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 14 coisas alienadas para que o adquirente possa exercer o direito de evicção; para trazer ao processo aquele que estiver obrigado, por lei ou contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo estabelecido na demanda. d) Amicus curiae (art. 138): o amicus curiae é terceiro desinteressado na vitória de uma das partes. Sua intervenção serve para trazer subsídios aos julgados para que possa julgar adequadamente. Tem lugar, sobretudo nas causas que tenham relevância social (ADIN/ADC/ADPF, por exemplo). Requisitos: Matéria relevante ou específica, com repercussão social. Decisão de admissão é irrecorrível e pode ser tomada de ofício. O Amicus curiae pode ser pessoa natural ou pessoa jurídica. Quanto aos poderes que podem ser exercidos pelo amicus curiae, tem-se que cabe ao magistrado que admitir sua intervenção delimitar tais poderes. e) Incidente de desconsideração de personalidade jurídica (arts. 133 a 137): a desconsideração da personalidade jurídica imputa aos sócios ou administradores a responsabilidade pelo ato ilícito praticado pela empresa – art. 50, C.C. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica não poderá ser instaurado de ofício, como já previa o art. 50 do CC – O CPC/15 elimina risco trazido pela interpretação do art. 28 do CDC (possibilidade da desconsideração ex officio). O pedido pode ser realizado pela parte ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo – art. 133, caput. Há 2 oportunidades para se requerer: a) juntamente à petição inicial; b) como incidente processual, por petição autônoma, sendo esta protocolada no curso da ação. Complemento: 1) Artigos: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI271931,41046- Os+sujeitos+do+processo+no+novo+CPC http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI271931,41046-Os+sujeitos+do+processo+no+novo+CPC http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI271931,41046-Os+sujeitos+do+processo+no+novo+CPC Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. Aulas 13, 14 e 15 – ATOS PROCESSUAIS, PRONUNCIAMENTOS JUDICIAIS E PRAZOS. EMENTA: Compreender as espécies de atos processuais e suas classificações. Compreender o tempo e o lugar dos atos processuais. Identificar as formas de comunicação dos atos processuais. Reconhecer os atos processuais do juiz. Identificar os casos de suspeição e impedimento dos Magistrados. Contar adequadamente os prazos processuais. Compreender o regime de preclusão temporal, consumativa e lógica. 1. Ato processual. É uma espécie do gênero ato jurídico realizado pelos sujeitos do processo e auxiliares da justiça, em série (conexidade), de forma a manter a conexão e interdependência entre si. É dotado de solenidade e realizado com o intuito de pôr fim à relação jurídico-processual inicialmente estabelecida (obtenção de uma sentença). Pode ser classificado como: a) atos das partes: basicamente realizam três tipos de atos processuais: os postulatórios, os dispositivos e os instrutórios – artigo 200, do CPC1; 1 Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a constituição, modificação ou extinção de direitos processuais. Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeitos após homologação judicial. Art. 201. As partes poderão exigir recibo de petições, arrazoados, papéis e documentos que entregarem em cartório. Art. 202. É vedado lançar nos autos cotas marginais ou interlineares, as quais o juiz mandará riscar, impondo a quem as escrever multa correspondente à metade do salário-mínimo. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 b) atos do juiz ou pronunciamentos judiciais: sentenças, decisões interlocutórias e despachos – artigos 203 a 205 do CPC2; c) atos dos auxiliares da justiça: realizam atos no processo que não podem ser olvidados, como, por exemplo, o termo de vista, o termo de conclusão, certidões e laudos, como o pericial – artigos 206 a 211, do CPC3. 2. Formas de comunicação dos atos processuais4. Os atos processuais serão cumpridos ou comunicados por ordem judicial e, além de outros meios, como diligência de oficial de justiça, correio ou meio eletrônico, poderão ser praticados por carta, conforme hajam de realizar-se dentro ou fora dos limites territoriais do tribunal, da comarca, da seção ou da subseção judiciária (art. 236 e §1º, CPC). As cartas podem ser de quatro espécies: de ordem, rogatória, precatória e arbitral (art. 237, CPC). 2 Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais,sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. § 2o Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1o. § 3o São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte. § 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário. Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais. Art. 205. Os despachos, as decisões, as sentenças e os acórdãos serão redigidos, datados e assinados pelos juízes. § 1o Quando os pronunciamentos previstos no caput forem proferidos oralmente, o servidor os documentará, submetendo-os aos juízes para revisão e assinatura. § 2o A assinatura dos juízes, em todos os graus de jurisdição, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei. § 3o Os despachos, as decisões interlocutórias, o dispositivo das sentenças e a ementa dos acórdãos serão publicados no Diário de Justiça Eletrônico. 3 Art. 206. Ao receber a petição inicial de processo, o escrivão ou o chefe de secretaria a autuará, mencionando o juízo, a natureza do processo, o número de seu registro, os nomes das partes e a data de seu início, e procederá do mesmo modo em relação aos volumes em formação. Art. 207. O escrivão ou o chefe de secretaria numerará e rubricará todas as folhas dos autos. Parágrafo único. À parte, ao procurador, ao membro do Ministério Público, ao defensor público e aos auxiliares da justiça é facultado rubricar as folhas correspondentes aos atos em que intervierem. Art. 208. Os termos de juntada, vista, conclusão e outros semelhantes constarão de notas datadas e rubricadas pelo escrivão ou pelo chefe de secretaria. Art. 209. Os atos e os termos do processo serão assinados pelas pessoas que neles intervierem, todavia, quando essas não puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão ou o chefe de secretaria certificará a ocorrência. § 1o Quando se tratar de processo total ou parcialmente documentado em autos eletrônicos, os atos processuais praticados na presença do juiz poderão ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, na forma da lei, mediante registro em termo, que será assinado digitalmente pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos advogados das partes. § 2o Na hipótese do § 1o, eventuais contradições na transcrição deverão ser suscitadas oralmente no momento de realização do ato, sob pena de preclusão, devendo o juiz decidir de plano e ordenar o registro, no termo, da alegação e da decisão. Art. 210. É lícito o uso da taquigrafia, da estenotipia ou de outro método idôneo em qualquer juízo ou tribunal. Art. 211. Não se admitem nos atos e termos processuais espaços em branco, salvo os que forem inutilizados, assim como entrelinhas, emendas ou rasuras, exceto quando expressamente ressalvadas. 4 Mais informações em: http://genjuridico.com.br/2016/10/26/comunicacao-dos-atos-processuais/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art485 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art487 http://genjuridico.com.br/2016/10/26/comunicacao-dos-atos-processuais/ Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 Carta de ordem é aquela expedida por um tribunal para ser cumprida por juiz a ele vinculado, caso o ato tenha que ser praticado fora dos limites territoriais da sede do tribunal ou, se, por conveniência, o tribunal julgar por bem ordenar que o ato seja praticado em juízo de primeiro grau. Carta rogatória é aquela dirigida a autoridade judiciária estrangeira para fins de cooperação jurídica internacional. Carta precatória, por sua vez, é aquela em que a diligência nela requisitada tem de ser cumprida por órgão jurisdicional de competência territorial diversa. A comunicação dos atos, no processo, se dá através da citação e da intimação. A) CITAÇÃO (artigo 238, do CPC5): é o ato pelo qual se convoca a juízo o réu, o executado ou o interessado, para integrar a relação processual (art. 238, CPC). Como se pode ver, não se trata mais do ato pelo qual se chama o réu a juízo para se defender, querendo, como se passava no CPC/73. Em razão de o novo CPC instituir um sistema multiportas de solução de litígios, no qual se privilegia a autocomposiçao dos litígios, o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação e mediação. A citação é ato indispensável à validade do processo (art. 239, CPC6), até porque, sem ela, não se completa a relação processual. Somente nas hipóteses de indeferimento da petição inicial, com ou sem resolução do mérito, é que a citação não influirá na validade do processo. O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta de citação ou convalida a citação irregular (art. 239, § 1º, CPC). Se o réu ou o executado comparecem e se defendem, o processo prossegue normalmente, uma vez que o comparecimento pressupõe ausência de prejuízo. Se eles comparecem e arguem a nulidade da citação, sendo esta decretada, considerar-se-á feita a citação na data do comparecimento, fluindo, a partir daí o prazo para a prática do ato processual subsequente, seja o comparecimento à audiência de conciliação ou mediação ou a apresentação da contestação ou dos embargos à execução. • Modalidades de citação: as citações podem ser classificadas em reais ou fictas. A) Citação real: é a citação recebida pessoalmente pelo réu ou por seu 5 Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual. 6 Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. § 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à execução. § 2o Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo de: I - conhecimento, o réu será considerado revel; II - execução, o feito terá seguimento. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 4 representante legal ou por procurador autorizado. A citação real pode ocorrer pelo correio, por oficial de justiça e por meio eletrônico. a) Pelo correio (art. 247 e 248, CPC7 - regra geral): é faculdade legal concedida ao autor, pois ele pode requerer de outra forma, podendo ser feita para qualquer comarca do País, salvo em cinco situações: nas ações de estado; quando o réu for incapaz; quando o réu for pessoa de direito público; nos processos de execução; quando o local em que reside o réu não tenha entrega domiciliar de correspondência. Observar as pequenas modificações realizadas pelo CPC 2015, principalmente que o autor deverá justificar outra modalidade de citação. b) Por oficial de justiça (art. 249 a 251 CPC8): a citação por oficial de justiça será feita quando a citação pelo correio for frustrada e nas hipóteses ressalvadas no art. 247, CPC. A citação será feita por mandado, contendo requisitos específicos, conforme disposto no art. 249, CPC. O oficial de justiça deverá procurar o réu e ao encontrá-lo lerá o mandado, entregando- lhe a contrafé e obtendo a assinatura do citando. Em caso de recusa da assinatura ou do próprio recebimento do mandado incumbe ao oficial de justiça certificar o ocorrido. 7 Art. 247. A citação será feita pelo correio para qualquer comarca do país, exceto: I - nas ações de estado, observado o disposto no art. 695,§ 3o; I - quando o citando for incapaz; III - quando o citando for pessoa de direito público; IV - quando o citando residir em local não atendido pela entrega domiciliar de correspondência; V - quando o autor, justificadamente, a requerer de outra forma. Art. 248. Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe de secretaria remeterá ao citando cópias da petição inicial e do despacho do juiz e comunicará o prazo para resposta, o endereço do juízo e o respectivo cartório. § 1o A carta será registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega, que assine o recibo. § 2o Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado a pessoa com poderes de gerência geral ou de administração ou, ainda, a funcionário responsável pelo recebimento de correspondências. § 3o Da carta de citação no processo de conhecimento constarão os requisitos do art. 250. § 4o Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a entrega do mandado a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que, entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente. 8 Art. 249. A citação será feita por meio de oficial de justiça nas hipóteses previstas neste Código ou em lei, ou quando frustrada a citação pelo correio. Art. 250. O mandado que o oficial de justiça tiver de cumprir conterá: I - os nomes do autor e do citando e seus respectivos domicílios ou residências; II - a finalidade da citação, com todas as especificações constantes da petição nicial, bem como a menção do prazo para contestar, sob pena de revelia, ou para embargar a execução; III - a aplicação de sanção para o caso de descumprimento da ordem, se houver; IV - se for o caso, a intimação do citando para comparecer, acompanhado de advogado ou de defensor público, à audiência de conciliação ou de mediação, com a menção do dia, da hora e do lugar do comparecimento; V - a cópia da petição inicial, do despacho ou da decisão que deferir tutela provisória; VI - a assinatura do escrivão ou do chefe de secretaria e a declaração de que o subscreve por ordem do juiz. Art. 251. Incumbe ao oficial de justiça procurar o citando e, onde o encontrar, citá-lo: I - lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a contrafé; II - portando por fé se recebeu ou recusou a contrafé; III - obtendo a nota de ciente ou certificando que o citando não a apôs no mandado. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art695%C2%A73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art250 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art250 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 Observar as pequenas modificações realizadas pelo CPC 2015, principalmente que quando for o caso, haverá a intimação para o comparecimento na audiência de conciliação ou de mediação. c) Por meio eletrônico: essa forma de citação consta na Lei 11.419/06 que prevê a possibilidade de citação por meio eletrônico. Para sua validade o citando deve ter acesso total aos autos e deve encontrar-se cadastrado perante o órgão em que a ação tramita. Observar que o CPC 2015, possibilitada no inciso V, do artigo 246, a citação por meio eletrônico. B) Citação ficta: a citação ficta ou presumida é assim denominada, por não haver certeza de que o réu tenha tido conhecimento dela. Estabelece-se a presunção do conhecimento da existência da ação. A lei admite esta forma de citação para que, diante da impossibilidade da citação real, não haja perecimento do direito que o autor pretende. A citação ficta pode ocorrer por edital e por hora certa: a) Por hora certa (art. 252 a 254, do CPC9): ocorrerá quando o oficial de justiça tiver sua citação (por mandado) frustrada. Se por duas vezes (no CPC/73 eram três vezes) o oficial de justiça houver procurado o réu e não o encontrar e suspeitar da ocultação deverá intimar qualquer pessoa da família ou na ausência, um vizinho, informando o dia e hora em que voltará para efetuar a citação. Se no dia designado o citando estiver ausente o oficial de justiça certificará a ocorrência, dando por feita a citação, deixando a contrafé com os vizinhos ou familiares. Finda a citação por hora certa o 9 Art. 252. Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar. Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a intimação a que se refere o caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência. Art. 253. No dia e na hora designados, o oficial de justiça, independentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à residência do citando a fim de realizar a diligência. § 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça procurará informar-se das razões da ausência, dando por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca, seção ou subseção judiciárias. § 2o A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa da família ou o vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se recusar a receber o mandado. § 3o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará contrafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme o caso, declarando-lhe o nome. § 4o O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência de que será nomeado curador especial se houver revelia. Art. 254. Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de 10 (dez) dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 réu receberá carta ou telegrama enviado pelo escrivão, para conhecimento das ocorrências; b) Por edital (art. 256 a 259, CPC10): a citação será por edital quando o réu for desconhecido ou incerto, ou quando o local em que se encontra o réu é ignorado, inacessível ou incerto. Será também por edital se a lei assim definir, como ocorre, por exemplo, em ações de usucapião. O país que se recusar a cumprir carta rogatória será considerado inacessível para efeito de citação por edital. Os requisitos para citação por edital estão dispostos no art. 257, CPC e um exemplar da publicação do edital e seu anúncio deverão constar dos autos. Observar as pequenas modificações realizadas pelo CPC 2015, bem como a introdução do artigo 259, sem correspondente no CPC 73, que aumenta a possibilidade de citação por edital. • Hipóteses para não realização da citação (artigos 244 e 245, do CPC): o artigo 244, do CPC traz as hipóteses em que não será feita a citação, salvo para evitar perecimento do direito: a) se o citando estiver assistindo ato religioso; b) ao cônjuge, companheiro ou parente do morto, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral em segundo grau, no dia do falecimento e nos sete dias seguintes; c) aos noivos nos três primeiros dias do casamento e; d) aos doentes enquanto estiverem em estado grave. Já o art. 245 do CPC trata da impossibilidade de realizar a citação quando o oficial de justiça verificar que o réu é demente ou encontra-se impossibilitado de recebê-la. Nessa situação deverá o oficial de 10 Art. 256. A citação por edital será feita: I - quando desconhecido ou incerto o citando; II - quando ignorado, incertoou inacessível o lugar em que se encontrar o citando; III - nos casos expressos em lei. § 1o Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital, o país que recusar o cumprimento de carta rogatória. § 2o No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o réu, a notícia de sua citação será divulgada também pelo rádio, se na comarca houver emissora de radiodifusão. § 3o O réu será considerado em local ignorado ou incerto se infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços públicos. Art. 257. São requisitos da citação por edital: I - a afirmação do autor ou a certidão do oficial informando a presença das circunstâncias autorizadoras; II - a publicação do edital na rede mundial de computadores, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, que deve ser certificada nos autos; III - a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre 20 (vinte) e 60 (sessenta) dias, fluindo da data da publicação única ou, havendo mais de uma, da primeira; IV - a advertência de que será nomeado curador especial em caso de revelia. Parágrafo único. O juiz poderá determinar que a publicação do edital seja feita também em jornal local de ampla circulação ou por outros meios, considerando as peculiaridades da comarca, da seção ou da subseção judiciárias. Art. 258. A parte que requerer a citação por edital, alegando dolosamente a ocorrência das circunstâncias autorizadoras para sua realização, incorrerá em multa de 5 (cinco) vezes o salário-mínimo. Parágrafo único. A multa reverterá em benefício do citando. Art. 259. Serão publicados editais: I - na ação de usucapião de imóvel; II - na ação de recuperação ou substituição de título ao portador; III - em qualquer ação em que seja necessária, por determinação legal, a provocação, para participação no processo, de interessados incertos ou desconhecidos. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 justiça certificar a ocorrência e o juiz nomeará um médico para examinar o citando. Reconhecida pelo médico a impossibilidade do citando receber a citação, o juiz nomeará um curador. A nomeação do curador restringe-se a causa. A citação será então feita na pessoa do curador. • Efeitos da citação (art. 240, CPC): a citação válida gera efeitos processuais e materiais, sendo que os efeitos materiais se efetivam mesmo que a citação tenha sido ordenada por juiz incompetente. Os efeitos processuais da citação válida são: tornar prevento o juízo, induzir a litispendência e tornar litigiosa a coisa (objeto que está sendo discutido): a) Tornar prevento o juízo: significa fixar a competência de um juiz dentre todos os juízes que seriam competentes nas ações distribuídas em separado; b) Litispendência: existindo uma ação em andamento tem-se o impedimento de existir outra ação idêntica. Caso haja mais de uma ação idêntica em andamento há litispendência, de modo que a segunda demanda deverá ser extinta sem resolução do mérito; c) Tornar litigiosa a coisa: significa que o bem, o objeto da demanda vincula- se ao processo até sua decisão final. Os efeitos materiais são: constituição do devedor em mora, ressalvado os artigos 397 e 398 do Código Civil que tratam, respectivamente, do inadimplemento da obrigação e das obrigações provenientes de ato ilícito e a interrupção da prescrição: a) Constituir o devedor em mora: significa que o devedor se encontra em situação de descumprimento de uma obrigação. b) Interrupção da prescrição: o juiz, ao receber a petição inicial, ordena a citação do réu e cabe ao autor tomar tal providência em prazo de 10 dias. Ocorre que o prazo podia ser prorrogado por até 90 dias, no CPC de 73, mas se o autor não conseguir realizar a citação dentro desse prazo não será interrompida a prescrição. A interrupção da prescrição somente ocorrerá quando a citação válida ocorrer. ATENÇÃO: SÚMULA 106, do STJ: Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 8 INTIMAÇÃO (artigo 269, do CPC): é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo (art. 269, CPC). Ela será realizada preferencialmente por meio eletrônico, observada as prescrições da Lei nº 11.419/2006. As intimações do Ministério Público e da Defensoria Pública serão realizadas também por meio eletrônico. Para tanto, essas entidades devem manter cadastro atualizado junto aos sistemas de processo em autos eletrônicos. A mesma regra se aplica às intimações da União, do Estado, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de direito público. Quanto a estes, tanto as intimações como as citações serão realizadas perante o órgão de Advocacia Pública responsável pela representação judicial. Como o juiz é responsável por dirigir o processo, poderá determinar, de ofício, as intimações em processos pendentes, salvo disposição legal em sentido contrário (art. 271, CPC). Consideram-se feitas a intimações pela publicação dos atos no órgão oficial (art. 272, CPC/2015), mas onde não houver órgão (jornal) oficial ou conveniado, incumbidos de publicar os atos do Judiciário, as intimações serão feitas aos advogados das partes, pessoalmente (se domiciliados na sede do juízo) ou por carta registrada (se domiciliados fora do juízo). 3. Tempo dos atos processuais (artigos 212 a 216, do CPC). A regra geral que rege o tempo dos atos processuais vem disposta nos artigos 212 a 216, do CPC – “os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas”. Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano. Independentemente de autorização judicial, as citações, intimações e penhoras poderão realizar-se no período de férias forenses, onde as houver, e nos feriados ou dias úteis fora do horário estabelecido neste artigo, observado o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em autos não eletrônicos, essa deverá ser protocolada no horário de funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei de organização judiciária local. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 9 A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia do prazo. O horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento do prazo. Durante as férias forenses e nos feriados (são feriados, para efeito forense, os sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente forense) não se praticarão atos processuais, excetuando-se: I - os atos previstos no art. 212, § 2o; II - a tutela de urgência. Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não se suspendem pela superveniência delas: “I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo adiamento; II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e curador; III - os processos que a lei determinar”. 4. Lugardos atos processuais (artigo 217, do CPC). Os atos processuais realizar-se-ão ordinariamente na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de deferência, de interesse da justiça, da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz. 5. Pronunciamentos judiciais – atos processuais do juiz (artigos 203 a 205, do CPC). Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. OBS: Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais. • Conceitos trazidos no CPC (parágrafos do artigo 203): a) sentença: é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos artigos 485 e 487 (com ou sem julgamento de mérito11), põe fim à fase cognitiva do 11 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código (...) Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 10 procedimento comum, bem como extingue a execução; b) decisão interlocutória: é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no conceito de sentença; c) despachos: todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte e; d) atos meramente ordinatórios: como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário. Segundo o Conselho Nacional de Justiça12: Sentença – de acordo com o CPC, a sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz “põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução”. Isso significa que, por meio da sentença, o juiz decide a questão trazida ao seu conhecimento, pondo fim ao processo na primeira instância. A sentença pode ser dada com ou sem julgamento do mérito, ou seja, acolhendo ou não a causa levantada pela parte. Caso exista recurso ao tribunal, os desembargadores podem proferir um acórdão. Tanto a sentença quanto o acórdão marcam o fim do processo, ao menos na instância em que se encontra. Decisões interlocutórias – as decisões são atos pelos quais o juiz resolve questões que surgem durante o processo, mas não são o julgamento dele por meio de sentença. Essas questões que precisam ser decididas no curso do processo são denominadas de questões incidentes ou questões incidentais. São exemplos de decisões interlocutórias a nomeação de determinado profissional como perito, aceitação ou não de um parecer e intimação ou não de certa testemunha indicada pelas partes no curso do processo. Despachos – o CPC define como despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte. Isso quer dizer que, nos despachos, o objetivo não é solucionar o processo, mas determinar medidas necessárias para o julgamento da ação em curso. Tratam-se, portanto, de meras movimentações administrativas – por exemplo, a citação de um réu, designação de decadência ou prescrição; III - homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1o do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se. 12 Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84528-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-sentenca- decisao-e-despacho http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art332%C2%A71 http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84528-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-sentenca-decisao-e-despacho http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84528-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-sentenca-decisao-e-despacho Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 11 audiência, determinação de intimação as partes e determinação de juntada de documentos, entre outros. Os despachos, as decisões, as sentenças e os acórdãos serão redigidos, datados e assinados pelos juízes. Quando os pronunciamentos forem proferidos oralmente, o servidor os documentará, submetendo-os aos juízes para revisão e assinatura. A assinatura dos juízes, em todos os graus de jurisdição, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei. Os despachos, as decisões interlocutórias, o dispositivo das sentenças e a ementa dos acórdãos serão publicados no Diário de Justiça Eletrônico. 5.1. Causas de suspeição e impedimentos do juiz (artigos 144 a 148, do CPC). O impedimento é trazido no artigo 144 e impedimento tem caráter objetivo, enquanto que a suspeição tem relação com o subjetivismo do juiz. A imparcialidade do juiz é um dos pressupostos processuais subjetivos do processo. No impedimento há presunção absoluta (juris et de jure) de parcialidade do juiz em determinado processo por ele analisado, enquanto na suspeição há apenas presunção relativa (juris tantum)13. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive (o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz; também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus 13 Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=103393 http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=103393 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 12 quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo); IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linhareta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. ATENÇÃO: É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz. A suspeição é trazida no artigo 145, do CPC e o juiz será considerado suspeito por sua parcialidade quando for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes, receber presente antes ou depois de iniciado o processo, aconselhar alguma das partes sobre a causa, entre outros. I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 13 • Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões. • Será ilegítima a alegação de suspeição quando: I - houver sido provocada por quem a alega; II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido. • As causas de suspeição e impedimento também se aplicam a membros do Ministério Público. 5.2. Processamento das exceções de impedimento e suspeição (artigo 146 e seguintes, do CPC). 1º passo: no prazo de 15 dias, a contar do conhecimento do fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a alegação e com rol de testemunhas. A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. 2º passo: se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a petição, o juiz ordenará imediatamente a remessa dos autos a seu substituto legal, caso contrário, determinará a autuação em apartado da petição e, no prazo de 15 dias, apresentará suas razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se houver, ordenando a remessa do incidente ao tribunal. O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária. 3º passo: distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos, sendo que, se o incidente for recebido: I - sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr; II - com efeito suspensivo, o processo permanecerá suspenso até o julgamento do incidente. Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o incidente ou quando este for recebido com efeito suspensivo, a tutela de urgência será requerida ao substituto legal. 4º passo: 1) no caso de improcedência: Verificando que a alegação de impedimento ou de suspeição é improcedente, o tribunal rejeitá-la-á. 2) no caso de procedência: acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta suspeição, o tribunal condenará o juiz nas custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz recorrer da decisão. Reconhecido o impedimento ou a suspeição, Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 14 o tribunal fixará o momento a partir do qual o juiz não poderia ter atuado. O tribunal decretará a nulidade dos atos do juiz, se praticados quando já presente o motivo de impedimento ou de suspeição. OBS: aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça; III - aos demais sujeitos imparciais do processo. 6. Prazos processuais (artigos 218 a 232, do CPC). As regras gerais sobre os prazos são apontadas no artigo 218, do CPC: Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei. Quando a lei for omissa, o juiz determinará os prazos em consideração à complexidade do ato. Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações somente obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (quarenta e oito) horas. Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte. Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo. 6.1. Contagem dos prazos processuais (artigos 219, 224 e 225, do CPC). Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais. ATENÇÃO: Uma importante peculiaridade do Novo CPC é a previsão de que a contagem de prazos em dias úteis aplica-se apenas aos “prazos processuais” (Novo CPC, art. 219, § único), excluindo, assim, os prazos de natureza material, que continuam a ser contabilizados em dias corridos. O que deve ser destacado é que nem sempre é uma tarefa fácil caracterizar um prazo como processual ou material, surgindo assim uma margem de discussão sobre a http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28894816/artigo-219-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28894812/par%C3%A1grafo-1-artigo-219-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 15 qualificação de determinados prazos. Como exemplo, é possível apontar que já existe divergência a respeito do prazo para interposição de mandado de segurança repressivo. Para alguns juristas, trata-se de um prazo processual, mas outra corrente, o prazo é material. Na contagem de prazos em minutos, horas, meses ou anos14 – exemplo: suspensão do processo na execução – artigo 921, §2º15, os prazos serão contados de forma corrida (e não em dias úteis). Os prazos serão contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento. Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica. Considera se como data de publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico. A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que seguir ao da publicação. A parte poderá renunciar ao prazo estabelecido exclusivamente em seu favor, desde que o faça de maneira expressa. ATENÇÃO 2: A respeito da nova forma de se contar os prazos, a doutrina já debate sobre o alcance da nova previsão. Apenas os dias úteis seriam contados também nos âmbitos da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho, dos Juizados Especiais, ou esse entendimento seria afastado em nome da celeridade desses ramos especializados do Judiciário? E como ficariam os prazos do processo penal e dos processos administrativos? O art. 15 do Novo CPC dispõe que, na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as suas disposições serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. Não há, entretanto, certezas sobre a 14 Os prazos legais têm previsão em minutos (como o de 20 minutos, prorrogável por mais 10 minutos, para alegações orais – art. 364 do novo CPC), em horas (porConstitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 f) Inadmissibilidade da prova ilícita (artigo 5º, inciso LVI). (...) LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; Os dois clássicos sistemas sobre a prova ilícita (ou seja: obtida por meio ilícito) são: (a) o da admissibilidade (male captum, bene retentum) e (b) o da inadmissibilidade. Até meados da década de 70 vigorava o primeiro no Brasil; a partir daí passou a prosperar na jurisprudência do STF sobretudo o segundo, que acabou sendo acolhido pela CF de 1988 (art. 5º, inc. LVI). Inadmissibilidade significa que a prova ilícita não pode ser juntada aos autos. E se juntada? É ineficaz e deve ser desentranhada. E se a sentença nela se baseou? É nula. As provas ilícitas, bem como todas aquelas delas derivadas, são constitucionalmente inadmissíveis, devendo, pois, serem desentranhadas do processo, não tendo, porém, o condão de anulá-lo, permanecendo válidas as demais provas lícitas e autônomas delas não decorrentes (teoria dos frutos da árvore envenenada). Corroborando este entendimento, Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 8 Ada Pellegrini Grinover aduz que: a posição mais sensível às garantias da pessoa humana e, consequentemente, mais intransigentes com os princípios e normas constitucionais, é a que professa a transmissão da ilicitude da obtenção da prova às provas derivadas, que são, assim, igualmente banidas do processo. g) Publicidade e fundamentação das decisões judiciais (artigo 5º, inciso LX e artigo 93, IX, da CF). (...) LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes. Previsão no CPC: Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. (...) Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. h) Princípio da Celeridade ou Princípio da Brevidade: (artigo 5º, inciso LXXVIII, da CF). (...) LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Previsão no CPC: Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar se de acordo com a boa-fé. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Esse princípio já se encontrava assegurado nas normas infraconstitucionais, sendo previsto inclusive punições processuais no caso de apresentarem recursos meramente Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 9 protelatórios, dentre outras possibilidades. Com a Emenda Constitucional nº 45, o art. 5º., LXXVIII passou também a referir-se a essa garantia. OBS: para se ter ideia do tempo de duração de um processo, bem como número atual de processos em curso no país, produtividade do Poder Judiciário, verifique-se o relatório “Justiça em Números”, elaborado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros. 3. Outros princípios relacionados na Constituição. Além disso, também se pode relacionar no artigo 8º, do CPC: Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Pela redação do dispositivo, tem-se: a) dignidade da pessoa humana: fundamento do Estado Democrático de Direito – artigo 1º, inciso III, da CF8; b) proporcionalidade (sem previsão expressa, mas contida na intepretação do artigo 37, caput, combinado com o artigo 5º, inciso II, todos da CF); c) razoabilidade (também sem previsão expressa, mas contida na intepretação do artigo 37, caput, combinado com o artigo 5º, inciso II, todos da CF); d) legalidade (artigo 5º, inciso II, da CF9); e) publicidade (verificado acima) e; f) eficiência: que se abstrai da redação do artigo 37, da Constituição Federal, onde se relacionam os princípios que regem a Administração Pública10 (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, cujas iniciais formam a palavra “limpe”) – critérios que o juiz atenderá ao aplicar o ordenamento jurídico. • Material complementar: 8 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana (...). 9 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. 10 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...). http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/pj-justica-em-numeros Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 10 1) Constituição interpretada pelo STF: neste link é possível consultar a Constituição interpretada pelo STF gratuitamente – servirá para todo o curso de direito: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/constituicao.asp 2) Leitura do Livro: Princípios de Processo na Constituição Federal – Nelson Nery Jr.: JÚNIOR, Nelson Nery. Princípios de Processo na Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 12ª Edição, 2016. 3) Artigo sobre princípios constitucionais do processo no site do STF: http://www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/Discursos/0001114/Princ%EDpios%20e%20Gar antias%20Constitucionais%20do%20Processo.doc. A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. AULA 3 – PRINCÍPIOS DE PROCESSO NO CPC/15. EMENTA: Compreender os princípios previstos no Código de Processo Civil: dispositivo, oralidade, persuasão racional, boa- fé, cooperação etc. Introdução. Além do estudo dos princípios processuais contidos na Constituição Federal,exemplo, no mínimo de 48 horas de antecedência para as intimações – art. 218, § 2º, CPC), em dias (ex: 15 dias para a emenda da petição inicial – art. 321), em meses (como o prazo de 2 meses para promover a citação em chamamento ao processo de pessoa residente em outro lugar ou em local incerto – parágrafo único do art. 131) e em anos (ex: 2 anos para propor a ação rescisória – art. 975). 15 Art. 921. Suspende-se a execução: (...) § 2o Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado ou que sejam encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/28896429/artigo-15-da-lei-n-13105-de-16-de-marco-de-2015 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 16 abrangência da nova forma de contagem de prazos. O assunto é tratado com extrema cautela pela comunidade jurídica, que aguarda os primeiros posicionamentos da jurisprudência. Alguns Juizados especiais, por exemplo, refutam a aplicação do prazo em dias úteis. 6.1.1. Termo inicial dos prazos processuais. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo: I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo correio; II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça; III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria; IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, quando a citação ou a intimação for por edital; V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica; VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de carta; VII - a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico; VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da retirada dos autos, em carga, do cartório ou da secretaria. Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo para contestar corresponderá à última das datas a que se referem os incisos I a VI. Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é contado individualmente. Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a intermediação de representante judicial, o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art232 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 17 dia do começo do prazo para cumprimento da determinação judicial corresponderá à data em que se der a comunicação. 6.2. Suspensão dos atos processuais. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro. Ressalvadas as férias individuais e os feriados instituídos por lei, os juízes, os membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública e os auxiliares da Justiça exercerão suas atribuições durante o período previsto acima. Durante a suspensão do prazo, não se realizarão audiências nem sessões de julgamento. Também suspende-se o curso do prazo por obstáculo criado em detrimento da parte ou ocorrendo qualquer das hipóteses do artigo 313, do CPC16, devendo o prazo ser restituído por tempo igual ao que faltava para sua complementação. Na comarca, seção ou subseção judiciária onde for difícil o transporte, o juiz poderá prorrogar os prazos por até 2 (dois) meses. Havendo calamidade pública, o limite previsto no caput para prorrogação de prazos poderá ser excedido. Ao juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência das partes. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato processual, independentemente de declaração judicial, ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa causa. Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário. Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato no prazo que lhe assinar. 6.3. Prazos previstos no CPC (artigos 226 e 228, do CPC). 16 Art. 313. Suspende-se o processo: I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; II - pela convenção das partes; III - pela arguição de impedimento ou de suspeição; IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas; V - quando a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente; b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo; I - por motivo de força maior; VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo; VIII - nos demais casos que este Código regula. IX - pelo parto ou pela concessão de adoção, quando advogada responsável pelo processo constituir a única patrona da causa; X - quando o advogado responsável pelo processo constituir o único patrono da causa e tornar-se pai. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art313 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 18 O juiz proferirá: I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias; II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias; III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias. Em qualquer grau de jurisdição, havendo motivo justificado, pode o juiz exceder, por igual tempo, os prazos a que está submetido. Incumbirá ao serventuário remeter os autos conclusos no prazo de 1 (um) dia e executar os atos processuais no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data em que: I - houver concluído o ato processual anterior, se lhe foi imposto pela lei; II - tiver ciência da ordem, quando determinada pelo juiz. Nos processos em autos eletrônicos, a juntada de petições ou de manifestações em geral ocorrerá de forma automática, independentemente de ato de serventuário da justiça. 6.4. Prazo em dobro (artigos 229 do CPC). Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. NÃO SE APLICA O PRAZO EM DOBRO EM AUTOS ELETRÔNICOS. Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles. Também terão prazo em dobro: a) o Ministério Público: “Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação pessoal”; b) a Defensoria Pública: “Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais”; e c) a Advocacia Pública: “Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal”. 6.5. Classificação dos prazos processuais. Os prazos são classificados quanto à fonte em legais, judiciais ou convencionais. Há ainda a classificação em próprios e impróprios e dilatóriose peremptórios. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 19 a) Prazos legais: são os prazos especificados em lei; b) Prazos judiciais: são os prazos fixados pelo juiz. O juiz poderá fixar prazos sempre que a lei for omissa (art. 218, CPC); c) Prazos convencionais: são os prazos definidos entre as partes, em comum acordo. d) Prazos próprios: são os prazos estabelecidos para as partes. O não cumprimento do ato no lapso temporal estabelecido acarreta a perda do direito de praticá-lo (preclusão), independente de declaração judicial (art. 223, CPC); e) Prazos impróprios: são os prazos estabelecidos para os auxiliares de justiça e para o juiz. O não cumprimento dos atos não afeta a relação jurídica, mas pode gerar sanções administrativas; f) Prazos dilatórios: são os prazos que permitem prorrogação ou redução por vontade das partes, mas para isso as partes devem requerer antes do vencimento do prazo, apresentando razões legítimas para a alteração (art. 181, CPC); g) Prazos peremptórios: são os prazos que não admitem alterações. 7. Preclusão. Segundo Talamini e Wambier, "a preclusão é fenômeno exclusivamente processual, vinculado a ideia de que, passo a passo, os atos processuais vão acontecendo subsequentemente no processo, realizando o modelo procedimental que se tenha adotado em cada caso". A doutrina define a preclusão através de três modalidades, cuja distinção se faz útil nos processos diariamente. Se trata da preclusão lógica, consumativa e temporal. A preclusão lógica se dá pela prática de outro ato, incompatível com aquele que se poderia praticar. É o caso que, muitos advogados equivocadamente, comentem ao fazer levantamento de alvarás de condenações judiciais sem qualquer ressalva ou impugnação quanto ao valor levantado, se presumindo que há preclusão quanto à discussão dos valores depositados em juízo, sem a prática simultânea do ato impugnatório. A preclusão consumativa se dá pela própria noção de prosseguimento dos autos, na definição clássica dos motivos da preclusão processual, ou seja, quando há a prática de um ato. Ou seja, não se pode repetir atos processuais. Por exemplo, não se Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 20 pode interpor recursos de agravo de instrumento com igual mérito (um no começo e outro mais a frente do prazo). Haveria aqui uma discussão quanto a possibilidade de interpor recurso de apelação cível e posteriormente apresentar recurso adesivo no prazo de contrarrazões. Entretanto, deve-se notar que os recursos devem ter mérito diverso (e complementar), além de possuírem trato legal diferenciado. Por fim, a preclusão mais corriqueira: a temporal. Pelo transcurso do prazo sem a prática do ato, e está ligada a necessidade do andamento do processo. É a que mais tem sido relativizada no código de processo civil, em casos de litigância com entes públicos, por exemplo, em que eventual declaração da preclusão pode prejudicar a própria celeridade, havendo interesse em "renovar" o prazo processual à fazenda pública ou autarquia federal (que hoje, lembrando, possui apenas prazo dobrado para todos os atos processuais). Para o juiz, costumeiramente se refere na doutrina pela existência da preclusão pro judicato, e que por vezes passa sem percepção aos olhos do advogado. O fato é que o juiz, uma vez que tenha praticado um ato decisório, não pode ficar modificando ou novamente decidindo nos autos, sem que exista qualquer erro material, por decisão do legislador e bom andamento dos autos. Era o que previa o antigo CPC no artigo 471 e no artigo 505 do Novo Código de Processo Civil: “Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei”.é indispensável que se bem conheçam os princípios previstos no Código de Processo Civil. É fato que os princípios processuais são inferiores, qualitativamente, do que os princípios constitucionais mas, na medida em que auxiliam na própria interpretação e aplicação das normas de processo civil, seu estudo merece atenção11. 11 Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI187837,61044- Os+principios+processuais+no+Codigo+de+Processo+Civil+projetado http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/constituicao.asp http://www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/Discursos/0001114/Princ%EDpios%20e%20Garantias%20Constitucionais%20do%20Processo.doc http://www.stj.jus.br/internet_docs/ministros/Discursos/0001114/Princ%EDpios%20e%20Garantias%20Constitucionais%20do%20Processo.doc http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI187837,61044-Os+principios+processuais+no+Codigo+de+Processo+Civil+projetado http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI187837,61044-Os+principios+processuais+no+Codigo+de+Processo+Civil+projetado Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 11 Enfatizando a necessidade do estudo destes princípios, o professor Eduardo Couture, leciona que "o sistema legal é, pois, um sistema de princípios que constituem uma espécie de esqueleto, a estrutura rígida e interna da obra, seu arcabouço lógico, sobre o qual se ordenam os detalhes da composição. A lei processual é a lei que determina as minúcias por meio das quais se realiza a justiça. Toda lei processual, todo texto particular que regula um tramite do processo é, em primeiro lugar, o desenvolvimento de um princípio processual; esse princípio é em si mesmo, um partido adotado, uma escolha entre vários postulados análogos feito pelo legislador para assegurar a realização da justiça, enunciada pela Constituição". 1. Princípios processuais em espécie. Confiram-se os princípios em espécie: a) Dispositivo: O princípio dispositivo informa a condução do processo pelo juiz, bem como a própria atuação das partes. Também conhecido como princípio da inércia da jurisdição, preconiza que o juiz não pode conhecer de matéria a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte. Nesse sentido, o artigo 2º, do CPC, coloca que: “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”. Nas lições de Fredie Didier, a inércia se restringe apenas à iniciativa do processo, pois uma vez provocada a Jurisdição, ou seja, uma vez ajuizada a demanda, haverá o impulso oficial para o andamento do processo. b) Oralidade: A oralidade corresponde um direito fundamental determinado pelo diálogo processual, ou seja, pela comunicação entre as partes. A oralidade abrange outros subprincípios, listados por Chiovenda: a) o predomínio (e não a exclusividade) da palavra como meio de expressão, admitindo-se o uso da escritura na preparação e na documentação; não basta a oitiva das partes e testemunhas, seguida por debates orais em audiência, para caracterizar um processo como oral, mas sim quando forem orais todos os atos que demandam a valoração de uma declaração; de outra parte, a prática de atos escritos não é incompatível com a oralidade, pois a escrita é usada para perpetuar o pensamento e possui dupla função. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 12 c) Cooperação (artigo 6º, do CPC12): A doutrina brasileira importou do Direito europeu o princípio da cooperação (ou da colaboração), segundo o qual o processo seria o produto da atividade cooperativa triangular (entre o juiz e as partes). A moderna concepção processual (no sentido de que o processo é um meio de interesse público na busca da justa aplicação do ordenamento jurídico no caso concreto) exige um juiz ativo no centro da controvérsia e a participação ativa das partes, por meio da efetivação do caráter isonômico entre os sujeitos do processo. Trata-se, como já dito, de uma evolução do princípio do contraditório. O dever de cooperação estaria voltado eminentemente para o magistrado, de modo a orientar sua atuação como agente colaborador do processo, inclusive como participante ativo do contraditório, não mais se limitando a mero fiscal de regras. Não pode existir mais o juiz apático, que aguarda manifestações das partes para atuar (“ignorante institucionalizado”). Entretanto, não somente o juiz deve colaborar para a tutela efetiva, célere e adequada. O novo direito processual defende a necessidade de uma “democracia participativa” no processo, com o consequente exercício mais ativo da cidadania, inclusive de natureza processual13. d) Persuasão racional: O juiz deve formar livremente seu convencimento na análise de provas, ressalte-se que em razão do devido processo legal, as decisões têm que ser norteada toda e qualquer conduta, onde o Juiz tem que se ater as provas nos autos, podendo em alguns casos ter a possibilidade, de provas emprestadas e provas supervenientes. O sistema Brasileiro adotou o Sistema da Persuasão Racional do juiz, sendo claro que o convencimento do magistrado é livre, porém, não é ilimitado, tem que se respaldar nas provas descritas nos autos processuais. Exemplos no CPC: Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento. 12 Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. 13 Mais informações em: https://elpidiodonizetti.jusbrasil.com.br/artigos/121940196/principio-da-cooperacao-ou- da-colaboracao-arts-5-e-10-do-projeto-do-novo-cpc https://elpidiodonizetti.jusbrasil.com.br/artigos/121940196/principio-da-cooperacao-ou-da-colaboracao-arts-5-e-10-do-projeto-do-novo-cpc https://elpidiodonizetti.jusbrasil.com.br/artigos/121940196/principio-da-cooperacao-ou-da-colaboracao-arts-5-e-10-do-projeto-do-novo-cpc Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 13 Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito. e) Princípio da boa-fé e lealdade processual (artigo 5º, do CPC14): As partes têm o dever de se conduzir com ética e lealdade, cabendo ao juiz reprimir qualquer ato atentatório à dignidade da justiça. O desrespeito ao dever de lealdade processual se traduz em ilícito processual (compreendendo o dolo e a fraude processual), ao qual correspondem sanções processuais. ATENÇÃO: Outros princípios também podem ser relacionados, de acordo com a doutrina adotada pelo aluno. • Leitura complementar: FREIRE. Rodrigo da Cunha Lima. CUNHA. Maurício Ferreira. Novo Código de Processo Civil para concursos. Salvador. JusPodium. 7ª Ed - Páginas 37 a 66. 14 Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art371 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidadede divulgação ou cópia das respectivas obras. Aulas 4 e 5 - JURISDIÇÃO EMENTA: Jurisdição 1: Entender a função jurisdicional, bem como a divisão do Poder Judiciário. Dominar o conceito de jurisdição. Compreender os equivalentes jurisdicionais. Compreender a classificação da jurisdição em relação ao objeto, especialização e à matéria. Jurisdição 2: Entender a função jurisdicional, bem como a divisão do Poder Judiciário, com seus diferentes órgãos jurisdicionais. Dominar o conceito de jurisdição. Compreender as diferentes funções essenciais à justiça. Introdução1. O direito está intimamente ligado ao conceito de sociedade, bem como essa ao conceito de direito. Essa correlação se manifesta justamente na função exercida pelo direito na sociedade, qual seja, a função ordenadora, agindo a ordem jurídica como vetor de organização social, materializando-se na coordenação dos interesses antagônicos manifestados pelos seus membros, harmonizando as relações sociais intersubjetivas, de modo que essa ordem atue como forma de controle social. Entretanto, a superação dos conflitos sociais intersubjetivos nem sempre se deu pela imposição da ordem jurídica, mediante uma atuação estatal soberana justa, 1 Mais informações em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,jurisdicao-consideracoes-acerca-do-seu- conceito-caracteristicas-principios-inerentes-e-especies,49465.html http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,jurisdicao-consideracoes-acerca-do-seu-conceito-caracteristicas-principios-inerentes-e-especies,49465.html http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,jurisdicao-consideracoes-acerca-do-seu-conceito-caracteristicas-principios-inerentes-e-especies,49465.html Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 provocada pela parte insatisfeita, seja pela resistência de outrem, seja pelo veto jurídico à resolução voluntária da insatisfação. É nesse trilhar que surge o processo, que posteriormente nos veio dar o sentido de jurisdição. 1. Conceito. Segundo Chiovenda, jurisdição é a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva. A teoria de Chiovenda sobre a jurisdição parte da premissa de que a lei, norma abstrata e genérica, regula todas as situações que eventualmente ocorram em concreto, devendo o Estado, no exercício da jurisdição, limitar-se à atuação da vontade concreta, declarando direitos preexistentes e atuando na prática os comandos da lei, caracterizando-se, assim, pelo seu caráter substitutivo. OBS: Lembrando as características da jurisdição (aula 1): a) substitutividade: o juiz, ao decidir, substitui a vontade dos conflitantes pela dele (Chiovenda). Não é exclusividade da jurisdição. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), por exemplo, julga conflitos de concorrência entre as empresas, tendo função substitutiva, mas não é jurisdição porque não tem a característica de substitutividade da jurisdição; b) exclusividade: aptidão para a coisa julgada material. Somente a atividade jurisdicional tem a capacidade de tornar-se indiscutível. Única função do Estado que pode ser definitiva; c) imparcialidade: terceiro que é estranho ao conflito. Não pode ser interessado no resultado do processo; d) monopólio do Estado: só o Estado pode exercer a jurisdição. Estado é que julga e que diz quem pode julgar. Não precisa ser um órgão estatal julgando. Por esse motivo, a arbitragem é jurisdição, porque foi o Estado que disse quem julga; e) inércia: a jurisdição age por provocação, sem a qual não ocorre o seu exercício. Está praticamente restrita à instauração do processo, porque, depois de instaurado, o processo deve seguir por impulso oficial e; Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 f) unidade: a jurisdição é una, mas o poder pode ser dividido em pedaços, que recebem o nome de competência. 1.1. Princípios da jurisdição. Em síntese, como princípios relacionados à jurisdição, tem-se: a) princípio da investidura: a jurisdição somente é exercida por quem tenha sido regularmente e legitimamente investido na autoridade de juiz, em regra por concurso público – conforme artigo 93, inciso I, da CF2; OBS: a) o artigo 95, caput, da CF, indica as garantias de que gozam os juízes: vitaliciedade, inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público e irredutibilidade de subsídio; b) O artigo 95, parágrafo único, da CF, indica as vedações aos juízes: exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; dedicar-se à atividade político-partidária, receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. OBS2: para mais informações sobre as garantias e vedações dos juízes, bem como organização do Poder Judiciário consultar a Lei Orgânica da Magistratura Nacional – Lei Complementar 35/793 e sobre o Ministério Público, a Lei nº 8.625/934 – Lei Orgânica Nacional do MP. b) princípio da aderência ao território: os magistrados somente têm autoridade nos limites territoriais do Estado; OBS: exceção – artigo 255, do CPC: “nas comarcas contíguas de fácil comunicação e nas que se situem na mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar, em qualquer delas, citações, intimações, notificações, penhoras e quaisquer outros atos executivos”. 2 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação. 3 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp35.htm 4 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8625.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp35.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8625.htm Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 4 c) princípio da indelegabilidade: é vedado ao juiz, que exerce atividade pública, delegar as suas funções a outra pessoa ou mesmo a outro Poder estatal; d) princípio da inevitabilidade: significa que a autoridade dos órgãos jurisdicionais, sendo emanação do próprio poder estatal soberano, impõe-se por si mesma, independentemente da vontade das partes ou de eventual pacto para aceitarem os resultados do processo (posição de sujeição/submissão); e) princípio da inafastabilidade ou indeclinabilidade: conforme visto na aula 2; f) princípio do juiz natural: conforme visto na aula 2; g) princípio da inércia: conforme visto na aula 2. 2. Equivalentes jurisdicionais. São técnicas de solução de conflito que não são jurisdicionais. Equivalem à jurisdição porque servem para resolver conflitos. São eles: a) AUTOTUTELA: em regra, é proibida, porque nos remete ao tempo da barbárie, já que um dos conflitantes impõe a solução do conflito ao outro. Excepcionalmente, é permitida como, por exemplo, na legítima defesa, no desforço incontinenti nas açõespossessórias, etc. b) AUTOCOMPOSIÇÃO: as partes conflitantes chegam à solução do conflito, sem imposição de uma vontade sobre a outra, podendo ocorrer extrajudicialmente ou em juízo. É chamada pelos americanos de alternative dispute resolution. Há três espécies de autocomposição: b.1) transação: forma mais tradicional, na qual a solução é dada pelas partes, sendo que cada uma delas faz concessões recíprocas; b.2) renúncia: não há concessões recíprocas, mas apenas unilateral, por parte do autor que abdica de sua pretensão. Exemplo: artigo 999, do CPC: “A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”. b.3) reconhecimento da procedência do pedido: também não se vislumbram concessões recíprocas, mas apenas unilateral, por parte do réu que reconhece a razão do autor. Exemplo: artigo 487, inciso III, alínea “a”, do CPC: “haverá resolução de mérito quando o juiz homologar: o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção”; Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 c) MEDIAÇÃO5: há intervenção de um terceiro que se põe no conflito para auxiliar as partes a chegarem à autocomposição. Ressalte-se que o mediador não decide, apenas estimula a autocomposição. OBS: para mais informações sobre a mediação, consultar a Lei nº 13.140/20156. Em suma: a mediação será orientada pelos seguintes princípios: I - imparcialidade do mediador; II - isonomia entre as partes; III - oralidade; IV - informalidade; V - autonomia da vontade das partes; VI - busca do consenso; VII - confidencialidade; VIII - boa-fé. O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas partes. DIFERENÇAS entre conciliador e mediador: na mediação, visa-se recuperar o diálogo entre as partes. Por isso mesmo, são elas que decidem. As técnicas de abordagem do mediador tentam primeiramente restaurar o diálogo para que posteriormente o conflito em si possa ser tratado. Só depois pode se chegar à solução. Na mediação não é necessária interferência, ambas partes chegam a um acordo sozinhas, se mantém autoras de suas próprias soluções. Conflitos familiares e de vizinhança, por exemplo, muitas vezes são resolvidos apenas com o estabelecimento da comunicação respeitosa entre os envolvidos. A conciliação pode ser mais indicada quando há uma identificação evidente do problema, quando este problema é verdadeiramente a razão do conflito - não é a falta de comunicação que impede o resultado positivo. Diferentemente do mediador, o conciliador tem a prerrogativa de sugerir uma solução. Essa polarização pede uma intervenção do conciliador no sentido de um acordo justo para ambas as partes e no estabelecimento de como esse acordo será cumprido. Causas trabalhistas costumam ser um objeto onde a conciliação atua com eficiência. d) ARBITRAGEM: é o equivalente jurisdicional mais polêmico no que tange à sua natureza. Fredie Didier Jr., por exemplo, entende que a arbitragem é jurisdição privada e não equivalente jurisdicional. Já, Luiz Guilherme Marinoni entende que a arbitragem não é jurisdição porque não é estatal. Nela tem-se um terceiro que decide e impõe sua decisão. No Direito Brasileiro, a decisão arbitral, em regra, não pode ser discutida no Poder Judiciário, nem precisa de homologação para ser exigida. 5 Mais informações em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da- conciliacao/perguntas-frequentes/conciliador-e-mediador 6 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13140.htm http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/perguntas-frequentes/conciliador-e-mediador http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/perguntas-frequentes/conciliador-e-mediador http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13140.htm Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 OBS: para mais informações sobre a arbitragem, consultar a Lei nº 9.307/967. Em suma: a) as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis (artigo 1º); b) pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes (artigo 13); c) antes de instituída a arbitragem, as partes poderão recorrer ao Poder Judiciário para a concessão de medida cautelar ou de urgência (artigo 22-A); d) a sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro (artigo 23); e) a decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa em documento escrito (artigo 24) etc. 2.1. Justiça multiportas e CPC/15. Segundo Fredie Didier Jr.8: o Direito Processual passa por uma transformação paradigmática. A Justiça Multiportas é a expressão de uma nova arquitetura para a tutela dos direitos. Em vez de uma só porta que permite o acesso de todos e a qualquer tempo, sem distinções subjetivas, objetivas ou teleológicas, a Justiça passa a apresentar muitas alternativas de acesso, diversas portas, diversas justiças, para uma só finalidade. A segurança de que os meios alternativos somente serão válidos enquanto forem também, ao mesmo tempo, constitucionalmente adequados. A Justiça adequada do modelo multiportas atende as situações jurídicas disponíveis e indisponíveis, individuais e coletivas, entre partes públicas e privadas, sendo um marco diferencial na história do acesso à justiça. Há, contudo, uma grande diferença em relação ao modelo anterior, claramente interventivo e autocentrado. Não se trata de esperar do Poder Judiciário uma segurança que intervenha a cada momento e a tudo corrija, de uma segurança centralizadora, da qual claramente este modelo abre mão. Trata-se de uma segurança que garante o devido processo legal, mesmo para além de suas portas, que assegura que direitos fundamentais serão preservados em sua fundamentalidade e que não se pode falar de justiça consensual ou heterocomposição onde o equilíbrio das partes não seja adequadamente dimensionado, onde os direitos não tenham tutela constitucionalmente adequada. O novo Código de Processo Civil tem como pilar o princípio e o dever de estímulo a solução consensual dos litígios. A Justiça Multiportas, aparece no CPC através de seus institutos mais conhecidos, a conciliação, a mediação e a arbitragem, mencionados em diversas 7 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9307.htm 8 Disponível em: https://www.conjur.com.br/loja/item/colecao-grandes-temas-cpc-v9-justica-multiportas http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9307.htm https://www.conjur.com.br/loja/item/colecao-grandes-temas-cpc-v9-justica-multiportas Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 passagens, deixando clara a sua intenção de incentivar uma nova postura de todos aqueles envolvidos com a tutela dos direitos, inclusive os próprios consumidores da justiça, dos quais é exigida a cooperação, como na audiência obrigatória de conciliação e mediação, prevista no Art. 334. A potencialidade de se resolver um conflito por outras formas que não à judicial estatal traz muito mais benefícios do que problemas. E o mais importante deles consiste na adequação que os mecanismos não adversariais e extraestatais podem proporcionar à solução da controvérsia, resultando, acima de tudo, na satisfação do jurisdicionado e na restauração da convivência social entre os envolvidos no conflito, tendo ainda como efeitos reflexos, entre outros, a diminuição dos recursos, a facilitação da execução,muitas vezes com adimplemento espontâneo, e execução imediata das medidas adotadas, e a possibilidade de diminuição de demandas judiciais com o advento de uma cultura de pacificação a ser fomentada na sociedade, atingindo empresas, o Estado e o cidadão. Assim, os operadores do direito devem se desarmar e abraçar essa nova realidade jurídica. • Exemplos no CPC: Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. 3. Classificação da jurisdição. A jurisdição possui duas grandes espécies: a contenciosa e a voluntária. A jurisdição voluntária é atividade resultante de negócio jurídico que se exige um ato do Estado, para que o negócio se realize ou complete. Acrescenta que, como função, ela tem natureza administrativa, do ponto de vista material, e é ato judiciário, do ponto de vista subjetivo ou orgânico; em relação às suas finalidades, é função preventiva e também constitutiva. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 8 Na jurisdição voluntária não há lide, mas somente administração pública de interesses privados. É uma das funções do Estado, confiada ao Poder Judiciário, em virtude da idoneidade, responsabilidade e independência dos juízes perante a sociedade, visando evitar litígios futuros, ou irregularidades e deficiências na formação do ato ou negócio jurídico. A propósito, Marinoni leciona que jurisdição voluntária não é jurisdição, posto que exerce atividade administrativa, ou seja, a administração pública dos interesses privados. Ensina ainda que esta não objetiva uma lide, o Estado-Juiz não substitui as partes, mas insere-se com estas e que a jurisdição voluntária não visa a constituição de uma situação jurídica nova ou a atuação da vontade concreta do direito. • Exemplos de jurisdição voluntária: separação consensual, testamentos, herança, coisa vaga etc. A doutrina tem apresentado a jurisdição contenciosa segundo uma classificação ou divisão assim delimitada: jurisdição comum e jurisdição especial. A jurisdição comum divide-se em civil e penal: Jurisdição Penal: atribuída aos juízos responsáveis pela dicção do direito material pena. Exemplo: Ao determinar a aplicação de uma pena para delito de homicídio, o juiz atuou com jurisdição penal (artigo 1º, do Código de Processo Penal9) e; Jurisdição Civil (artigo 13, do CPC10): esta seria atribuída aos juízos responsáveis pela dicção do direito material civil. Exemplo: Ação de alimentos, o juiz terá 9 Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); V - os processos por crimes de imprensa. Parágrafo único. Aplicar- se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. 10 Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 9 atuado com jurisdição civil. Inclui-se na civil as demandas de natureza comercial, previdenciária e administrativa. A jurisdição especial trata-se daquela atribuída aos juízes do trabalho, eleitorais e militares, que tratam de legislação especial. Destas, a jurisdição trabalhista é exclusivamente federal, pertencente à Justiça Federal. A jurisdição comum possui âmbito de atuação nas esferas federal, estadual e distrital. 3.1. Organização judiciária – órgãos jurisdicionais – artigos 92 e seguintes da CF e Lei Complementar 35/79 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional11. Segundo o artigo 16, do CPC, “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional”. OBS: para o Estado de São Paulo, também verificar a lei de organização judiciária – Decreto Lei 158/196912. Vejamos como se dá a organização judiciária no Estado brasileiro, de acordo com as regras e classificação da jurisdição: 1) Divisão entre justiça estadual e federal: 11 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp35.htm 12 Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-158- 28.10.1969.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp35.htm https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-158-28.10.1969.html https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-158-28.10.1969.html Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 10 2) Quadro geral do Poder Judiciário – as diferentes funções essenciais à Justiça: 4. Limites da jurisdição – artigos 21 a 24, do CPC. 4.1) Competência da autoridade judiciária brasileira em matéria civil: segue-se a regra dos artigos 21 e 22, do CPC, sendo que compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil (considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal); II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. IV - de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 11 V - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; VI - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. E também compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra (artigo 23): I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Em matéria penal, as questões referentes à jurisdição e competência são previstas no Código de Processo Penal – vide artigo 1º (que serão estudadasoportunamente na disciplina Processo Penal). OBS: para questões referentes à cooperação internacional em matéria processual - ver os artigos 26 a 41, do CPC (que serão estudadas oportunamente na disciplina Processo Civil). 5. Funções essenciais à Justiça. Segundo o disposto nos artigos 127 e seguintes da Constituição Federal, são relacionadas as seguintes funções essenciais à Justiça: a) Ministério Público13 – artigos 127 a 130-A, da CF: é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Embora não seja um Poder de Estado, o MP alcançou na CF/88, as mesmas garantias de Poder. Seu posicionamento constitucional, suas autonomias, funções, atribuições e vedações, 13 Para mais informações: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/home_interna http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/home/home_interna Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 12 a independência funcional de seus membros, todos estes fatores colocam-no como instituição essencial ao Estado. Legislação pertinente: artigos 127 a 130, da CF – situado no capítulo referente às funções essenciais da justiça; Lei orgânica do MP (8.625/9314); Lei complementar Estadual 734/9315 (para São Paulo). Princípios: a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, incluindo-se aqui a autonomia funcional e administrativa (artigo 127, caput e §1º, da CF16 e artigo 1º, Parágrafo único, da Lei nº 8.625/93). • Autonomia funcional, administrativa e financeira (artigos 3º e 4º, da Lei nº 8.625/9317). Funções institucionais (artigo 129, da CF): “I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e 14 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8625.htm 15 Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=14474 16 Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. § 1º São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. § 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento. 17 Art. 3º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional, administrativa e financeira, cabendo-lhe, especialmente: I - praticar atos próprios de gestão; II - praticar atos e decidir sobre a situação funcional e administrativa do pessoal, ativo e inativo, da carreira e dos serviços auxiliares, organizados em quadros próprios; III - elaborar suas folhas de pagamento e expedir os competentes demonstrativos; IV - adquirir bens e contratar serviços, efetuando a respectiva contabilização; V - propor ao Poder Legislativo a criação e a extinção de cargos, bem como a fixação e o reajuste dos vencimentos de seus membros; VI - propor ao Poder Legislativo a criação e a extinção dos cargos de seus serviços auxiliares, bem como a fixação e o reajuste dos vencimentos de seus servidores; VII - prover os cargos iniciais da carreira e dos serviços auxiliares, bem como nos casos de remoção, promoção e demais formas de provimento derivado; VIII - editar atos de aposentadoria, exoneração e outros que importem em vacância de cargos e carreira e dos serviços auxiliares, bem como os de disponibilidade de membros do Ministério Público e de seus servidores; IX - organizar suas secretarias e os serviços auxiliares das Procuradorias e Promotorias de Justiça; X - compor os seus órgãos de administração; XI - elaborar seus regimentos internos; XII - exercer outras competências dela decorrentes. Parágrafo único As decisões do Ministério Público fundadas em sua autonomia funcional, administrativa e financeira, obedecidas as formalidades legais, têm eficácia plena e executoriedade imediata, ressalvada a competência constitucional do Poder Judiciário e do Tribunal de Contas. Art. 4º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, encaminhando-a diretamente ao Governador do Estado, que a submeterá ao Poder Legislativo. § 1º Os recursos correspondentes às suas dotações orçamentárias próprias e globais, compreendidos os créditos suplementares e especiais, ser-lhe-ão entregues até o dia vinte de cada mês, sem vinculação a qualquer tipo de despesa. § 2º A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Ministério Público, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação de dotações e recursos próprios e renúncia de receitas, será exercida pelo Poder Legislativo, mediante controle externo e pelo sistema de controle interno estabelecido na Lei Orgânica. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8625.htm http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=14474 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 13 de outros interesses difusos e coletivos; IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição (intentada pelo Procurador Geral da República em âmbito federal e pelo Procurador Geral de Justiça em âmbito estadual); V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas”. História e origem do MP18: controverte-se a doutrina sobre as origens do MP. Para alguns essas origens estariam na antiguidade, ou seja, há 4 mil anos, no magiaí, antigo funcionário real no Egito antigo; para outros, na Grécia antiga; há entendimento, ainda, de que houve figuras precursoras do MP na Roma Clássica (advocatus fisci, censores etc.). O mais comum é indicar-se que o MP moderno ter origem nos procuradores do Rei da França, ou mais especificamente, na Ordenança de 1302, de Felipe IV. O termo Parquet, de origem francesa significa o assoalho das salas de audiência, sobre o qual os membros tinham assento. No Brasil: origem do direito lusitano. A CF de 1824 aludia ao Procurador da Coroa e Soberania Nacional, incumbindo-o da acusação dos crimes. Foi somente com Campos Salles, Ministro da Justiça no Governo Provisório da República, que o MP começou a ser tratado como instituição (1890), motivo pelo qual este é tido como patrono do MP. Com a CF de 1934, institucionalizou-se definitivamente o MP e a CF de 1946 inseriu o MP em capítulo próprio. A CF de 1967 colocou o MP no capítulo do Poder Judiciário, situação eu durou pouco, e com a CF de 1969, o MPfoi inserido no Poder Executivo. O CPC de 1973 apresentou alguns aprimoramentos na competência, mas ainda assim não representou tratamento condigno. Na década de 80 algumas soluções viera: LC 40/81 – Lei Orgânica Nacional do MP; LACP, que criou o inquérito civil e por fim a CF/88 que iniciou novo ciclo de independência ao MP. Organização do MP: Ministério Público da União (que abrange o MP Federal, o MP do Trabalho, o MP Militar e o MP do DF – artigo 128, inciso I, da CF) e Ministério Público 18 Para uma história completa do MP, conferir: MAZZILI, Hugo Nigro. Ministério Público. 4ª Edição. São Paulo: Malheiros, 2015 e também: http://www.mpu.mp.br/navegacao/institucional/historico http://www.mpu.mp.br/navegacao/institucional/historico Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 14 dos Estados (artigo 128, inciso II, da CF). Além disso, na forma do artigo 130, também há membro do MP atuando junto aos Tribunais de Contas. O Procurador Geral de Justiça é o chefe do MP Estadual (artigos 9 a 11 e 29, da Lei nº 8.625/93), cujos membros são os Promotores de Justiça em 1º grau e os Procuradores de Justiça em 2º grau. O Procurador Geral da República19 é o chefe do Ministério Público Federal e exerce as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), no Superior Tribunal de Justiça (STJ), sendo também o Procurador-Geral Eleitoral. O PGR deve sempre ser ouvido em todos os processos. No STF, o PGR é legitimado a propor ações diretas de inconstitucionalidade, representação para intervenção federal nos estados e no DF, além de propor ações penais públicas e cíveis. No STJ, o PGR pode propor representação pela federalização de casos de crimes contra os direitos humanos e ação penal. O PGR é quem designa os subprocuradores-gerais da República para exercer, por delegação, funções junto aos diferentes órgãos jurisdicionais do STF e do STJ (artigo 128, §1º, da CF), cujos membros são os Procuradores da República. Garantias do MP: artigo 128, parágrafo 5º, inciso I, da CF: a) vitaliciedade: após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado; b) inamovibilidade: salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa e; c) irredutibilidade de subsídio: fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I. 19 Mais informações em: http://www.mpf.mp.br/ http://www.mpf.mp.br/ Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 15 Vedações do MP: artigo 128, parágrafo 5º, inciso II, da CF: a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais; b) exercer a advocacia; c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; e) exercer atividade político-partidária; f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. § 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no art. 95, parágrafo único, V. • MP e EC 45/200420: atribuiu algumas garantias aos membros do MP similares à Magistratura. b) Advocacia Pública – artigos 131 e 132, da CF21. Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada. § 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos. § 3º Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei. Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os 20 Mais informações em: https://jus.com.br/artigos/7441/a-emenda-constitucional-n-45-e-as-implicacoes- no-ambito-do-ministerio-publico 21 Mais informações em: https://www.conjur.com.br/2016-ago-18/interesse-publico-advocacia-publica- funcao-essencial-justica https://jus.com.br/artigos/7441/a-emenda-constitucional-n-45-e-as-implicacoes-no-ambito-do-ministerio-publico https://jus.com.br/artigos/7441/a-emenda-constitucional-n-45-e-as-implicacoes-no-ambito-do-ministerio-publico https://www.conjur.com.br/2016-ago-18/interesse-publico-advocacia-publica-funcao-essencial-justica https://www.conjur.com.br/2016-ago-18/interesse-publico-advocacia-publica-funcao-essencial-justica Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 16 órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). c) Advocacia – artigo 133, da CF. Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. Sobre a advocacia, ver também o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil – Lei nº 8.909/84 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm e o Regulamento Geral do Estatuto da OAB: http://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf – ambos são objeto do Exame de Ordem. É indispensável o conhecimento do seu respectivo conteúdo. d) Defensoria Pública22 – artigos 134 e 135, da CF: é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal (“o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”). A Defensoria Pública, apesar de ser instituição estadual, não é vinculada ao governo. Sua autonomia é prevista pela Constituição Federal e é uma garantia para que os Defensores Públicos possam representar os direitos da população sem qualquer tipo de constrangimento. Internamente, cada Defensor possui independência funcional para seguir livremente sua convicção em cada caso em que atua. Atualmente, há 719 Defensores Públicos no Estado de São Paulo, que trabalham em 65 unidades espalhadas por 43 cidades. Processos de parte dos municípios que integram as mesmas comarcas também são atendidos, nas áreas de execução penal e de medidas socioeducativas. A administração superior da instituição é conduzida pelo Defensor Público-Geral do Estado – nomeado pelo Governador a partir de uma lista tríplice