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Como lidar com a agressividade dos alunos no ambiente escolar? Saiba como a escola e a família podem lidar com a agressividade dos alunos Um dos primeiros contatos com a educação e o desenvolvimento social que uma pessoa tem é em casa com a família e depois quando ela passa a frequentar a escola. No entanto, a escola é um ambiente mais complexo e muitas vezes um tanto quanto complicado, visto que cada aluno vem de uma família diferente, com histórias e comportamentos diferentes. Ademais, algo que tem preocupado a sociedade é a crescente violência nas escolas. Desse modo, é fundamental que todos os envolvidos no processo educacional saibam lidar com o problema, enquanto estabelecem uma cultura de respeito e de não violência. Mas então como lidar com a agressividade dos alunos? Diariamente vemos notícias, ou sabemos de algum caso de agressividade no ambiente escolar. Seja no trato com professores ou entre colegas, a falta de controle emocional se tornou uma característica recorrente. Mas, o que é aceitável ou não no que diz respeito ao comportamento agressivo? De acordo com especialistas, a raiva e a agressividade aparecem naturalmente na infância, como manifestações próprias do desenvolvimento socioemocional. É uma emoção associada ao comportamento agressivo diante de um conflito, uma provocação ou uma frustração. Mas, como perceber, já na primeira infância, que a agressividade da criança extrapolou os limites? Segunda a psicóloga Andressa Sperancetta, a frequência, intensidade e persistência desses comportamentos é que indicam se há uma dificuldade que ultrapassa o esperado para a idade da criança. “O comportamento agressivo mais frequente ou intenso pode se manifestar por um período curto e estar relacionado a uma preocupação relevante, ao cansaço ou ao estresse experimentados pela criança. A família pode buscar investigar se o filho está passando por alguma situação difícil na escola ou com amigos”, avalia Andressa. Se a questão persistir e os pais não conseguirem lidar com as situações por conta própria, vale consultar o pediatra ou um especialista em comportamento infantil. Os sinais de alerta mais comuns para procurar ajuda são: lesões físicas em si mesmo ou para outros (marcas de dentes, hematomas, lesões na cabeça), ataques de agressividade aos pais ou a outros adultos, ser enviado para casa ou ser impedido pelos vizinhos ou pela escola de jogar ou de brincar. No caso da criança mais velha exibir comportamentos antissociais ainda mais sérios – participa ou é responsável por atos de vandalismo, crueldade com animais, agressão a outras pessoas (física ou emocionalmente), mentiras e oposição a figuras de autoridade – isso pode indicar riscos para desenvolver um transtorno de conduta. Parceria família e escola Família e escola precisam desenvolver uma relação de confiança mútua e de colaboração, entendendo que ambas são importantes para a educação e no controle da agressividade dos alunos. Nesse sentido, o diálogo e a sintonia nas ações são fundamentais. Se uma criança é incentivada a ser agressiva, ao ouvir os pais dizendo “defenda-se”, “bata nele também”, vai encontrar dificuldade para assimilar as regras de convivência da escola, que estipula claramente o que pode ou não pode ser feito. “E, com o passar dos anos escolares, a agressividade é vista como uma conduta inaceitável e necessita de intervenções disciplinares”, avalia Andressa. Tanto os pais quanto os professores devem assumir o controle na interação com a criança, quando a agressividade for utilizada como meio de expressar sentimentos. Cabe aos adultos ajudar a criança a desenvolver o discernimento, o autocontrole e a capacidade de expressar seus sentimentos de uma forma mais aceitável. Atitudes importantes dos adultos no ambiente familiar e escolar: ➔Mostrar que entendeu que a criança está com raiva é importante, mas também deve deixar claro quais os limites para comportamentos aceitáveis e inaceitáveis. Ela precisa entender para assumir responsabilidade por suas atitudes e estar disposta a aceitar consequências. ➔Diante de um conflito, a criança precisa ser ensinada a dizer não em um tom de voz firme, ignorar ou encontrar outras ocupações em vez de lutar com o corpo. Utilizar exemplos reais para ensinar a resolver problemas com palavras e a perceber que conversar é mais eficaz e mais civilizado que agredir. ➔Fazer combinados pode ser útil quando, por exemplo, a criança é agressiva com outra. Os pais ou o educador podem solicitar que a criança, no lugar de bater, venha falar sempre que sentir raiva. ➔Com as crianças mais velhas, é válida a supervisão cuidadosa quando estão envolvidas em disputas com seus companheiros. Se a discordância é mínima, os adultos podem deixá-los resolverem por conta própria ou mediarem a situação. Mas o adulto deve intervir em caso de luta corporal que continua mesmo depois de pedir que pare, ou quando a criança parece estar com uma raiva incontrolável e agride a outra. ➔Elogiar a criança pelo comportamento adequado garante que esse comportamento se mantenha ou que seja adquirido gradativamente. O papel da escola em lidar com a agressividade dos alunos A escola tem um papel fundamental na manutenção de um ambiente harmonioso e seguro. Avaliar como a escola do seu filho trabalha com esse assunto é muito importante. Verifique se há projetos e atividades que abordam virtudes, valores e habilidades socialmente adequadas. Avalie também as medidas disciplinares, com função educativa e proporcionais a cada ato inadequado, e o regimento no atendimento a qualquer criança e adolescente, seja ela mais ou menos agressiva. O que deve ser trabalhado dentro da escola: · Resolução de problemas e mediação de conflitos · Expressão de sentimentos e autocontrole · Empatia · Estratégia para um pedido de desculpas eficaz · Comunicação assertiva · Definição de metas para mudança de comportamento · Análise de consequências · O papel do educador diante da agressividade, violência e comportamento anti-social · O papel do educador vem passando por um intenso processo de modificação nas últimas décadas, reflexo de constantes mudanças na sociedade, gerando novos desafios, demandas, instrumentos facilitadores e também inúmeros obstáculos. Um dos principais desafios encontrados pelo educador está no comportamento do aluno. De atitudes inadequadas a conflitos diretos com colegas de classe e professores, surgem algumas das maiores preocupações vivenciadas pela escola atualmente. · Problemas no estabelecimento e na manutenção da disciplina, aumento de atitudes agressivas, atos violentos, transgressão de regras, violação dos direitos alheios, entre outras manifestações anti-sociais no ambiente escolar, evidenciam importantes desajustes na relação educador/aluno. O educador diante de tal situação necessita conhecer as causas e conseqüências destes problemas para, então, buscar soluções e evitar o agravamento e a disseminação deste padrão de comportamento, passando do âmbito individual para o coletivo. Diversas são as causas destes problemas, entre elas: frágeis referências morais, distorção de valores, questões familiares (dificuldades no estabelecimento de limites, regras, dinâmica familiar comprometida, violência doméstica etc.), problemas culturais, barreiras sócio-econômicas, conflitos emocionais do próprio educando, problemas de saúde mental do educando e/ou de familiares, comprometimento cognitivo ou dificuldades de aprendizagem. Os problemas de saúde mental, cognitivos e de aprendizagem pouco são considerados como causas efetivas de comportamentos agressivos, mas sua interferência no padrão de comportamento de crianças e adolescentes vem sendo cada vez mais evidenciada por profissionais de saúde mental. As dificuldades do aluno não são o único fator gerador de tais problemas. As condições emocionais e profissionais do educador também interferem no agravamento ou possibilitam a diluição dos problemas citados. Outro fator relevante é a ausência ou insuficiência de infra-estrutura e de recursos materiais, sociais e educacionais necessáriospara o pleno desenvolvimento do processo educativo. Recursos estes que deveriam ser garantidos pelo sistema educacional. As conseqüências geradas são incalculáveis. O enfraquecimento da relação aluno/ educador, falhas no processo educativo, perda do referencial de autoridade no ambiente escolar e o inquestionável agravamento das barreiras encontradas por todos os envolvidos neste processo são apenas as mais evidentes. Tal é a gravidade destes problemas que estas conseqüências não se limitam ao ambiente escolar, mas se traduzem em sérios reflexos sociais. Diante da multiplicidade de causas e conseqüências, seria insensato falar em soluções “mágicas”, especialmente a curto ou médio prazos. O que deve ser buscado gradualmente é a identificação dos fatores causais, o fortalecimento dos agentes implicados em todo o processo, a ampliação dos espaços e possibilidades de reflexão e discussão, buscando a melhoria das condições de ensino. As “armas” do professor Na prática, o educador dispõe de alguns recursos importantes. O fortalecimento emocional e profissional garantem melhores possibilidades em sua atuação diária. Seu auto-conhecimento promoverá um melhor controle de situações de conflito. Neste processo, uma importante estratégia é a de potencializar sua capacidade em motivar seu aluno e despertar seu interesse pela busca do saber, oferecendo novas possibilidades de adquirir conhecimento e superar barreiras. Evitar o confronto direto com o aluno é fundamental para preservar qualquer possibilidade de reestruturação de um relacionamento já comprometido. Para isto, é importante que o educador perceba que a manifestação agressiva, em geral, não tem como causa o próprio educador ou qualquer divergência pessoal por parte do aluno, mas é um reflexo das barreiras encontradas por este em seu desenvolvimento emocional, cognitivo e social. Ajudar o aluno a potencializar seus recursos internos, valorizar qualquer possibilidade de esforço ou conquista, promover o diálogo e buscar ajuda externa, quando a situação demonstra sinais de agravamento, são algumas das ferramentas que o educador dispõe. Além disso, o professor pode gerar uma reflexão entre os alunos sobre as questões que envolvem comportamentos, conflitos e atitudes inadequadas, possibilitando o envolvimento dos jovens na construção de soluções. Faz parte da missão do educador e da instituição de ensino garantir às possíveis vítimas de atitudes agressivas o suporte necessário para a solução de problemas. Outra importante solução é a adoção de políticas públicas que fortaleçam e desenvolvam a atuação do educador e ofereçam melhores condições de ensino e de vivência no ambiente escolar, visando a diminuição do descompasso existente entre a vivência contemporânea e a realidade vivenciada em sala de aula. Muito há que se pensar sobre soluções e caminhos para que o ambiente escolar possa realmente oferecer a alunos e profissionais as condições adequadas para o pleno desenvolvimento do processo educativo. Um ponto deve ser fortemente valorizado e explorado: a importância do papel do educador, não apenas diante de comportamentos inadequados, como também diante da possibilidade de tornar-se um agente transformador no desenvolvimento de seu aluno. Tal importância foi claramente evidenciada pelo professor e psicopedagogo Celso Antunes no texto “O sagrado e o profano na missão do professor”, que diz: ”a certeza de que possui uma profissão imprescindível, de que de sua ação no cotidiano se constrói o mundo em que se viverá. A imensa fé e crença de que sem professores uma sociedade não inventa médicos ou engenheiros, não faz surgir arquitetos ou mecânicos… O verdadeiro professor não pode ser guiado pela frieza de uma visãosomente profana, mas também não pelo idealismo ingênuo de ser manipulado por sua crença autêntica…”. A afirmação nos leva a refletir sobre a grandeza e a complexidade do papel do educador, sobre os desafios a que é submetido diariamente, sobre a necessidade de sua capacitação e atualização constantes, sobre a influência de suas ações e sobre a cautela necessária em sua atuação.