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INFLUÊNCIA DA CULTURA BRASILEIRA NAS ORGANIZAÇÕES: RAIZES E TRAÇOS PREDOMINANTES Angela Maria Bissoli da Silva1 RESUMO Cultura, palavra derivada do cultivo de arroz, do processo de lavrar e desenvolver a terra. Trabalho mútuo e corporativo que visa o melhor resultado. Seu estudo é recente com maior freqüência e intensidade na década de 80 e caracteriza-se pela sua evolução e não estagnação, considerando os ambientes mutáveis que a globalização permite ocorrer. A cultura brasileira não possui uma definição mais generalizada por ter suas raízes baseadas na povoação do Brasil, na mistura das raças, estilo e traços próprios de cada povo que aqui veio habitar. PALAVRAS-CHAVE: Cultura; Organização. ABSTRACT Culture, word stemmed from the cultivation of rice, from the process of plowing and developing the soil. It’s a cooperative work that has as goal to reach the best result. It’s a recent study and with great intensity in the 80th age and it’s characterized by the evolution, considering the changes during the globalization. The Brazilian culture doesn’t have widespread concept because it has origins based on the Brazilian population, in a mixture of races, styles and characteristics of each people that lives here. KEY-WORDS: Culture; Organization. 1 INTRODUÇÃO A cultura e a forma de vida em geral dos indivíduos, possuem papel central na transformação e no sucesso das organizações. Vivemos em uma sociedade 1 Graduada em Administração de Empresas pela UNIVEN, especialista em Gestão Empresarial e Didática no ensino superior pela UNIVEN, professora da Faculdade Capixaba de Nova Venécia e do Instituto Superior de Nova Venécia. Coordenadora da pós-graduação da UNIVEN. organizacional capaz de influenciar o dia-a-dia das pessoas com suas crenças peculiares, rotinas e rituais que se identificam com a organização. Portanto, ao analisar a cultura de qualquer organização é necessário descobrir suas crenças, valores, mitos, tabus, histórias, gestos e artefatos que os levam ao objetivo global da organização. O estudo e análise da cultura é relevante considerando que ela representa as normas geralmente informais que orientam o comportamento dos membros da organização. Muitos aspectos da cultura organizacional são percebidos com facilidade e são denominados formais e abertos, enquanto outros são de difícil percepção e são denominados aspectos informais e ocultos. Tal como um iceberg, os aspectos formais ficam na parte visível e envolvem as políticas e diretrizes, métodos e procedimentos, objetivos, estrutura e tecnologia adotada. Os aspectos informais envolvem as percepções, sentimentos, atitudes, valores e interações grupais. Surge então, a necessidade de se conhecer as raízes da cultura brasileira a fim de se buscar entender os traços que predominam nessa cultura e como eles influenciam nas organizações até os dias atuais. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL A teoria das organizações vem dando ênfase crescente ao tema cultura, e esse surge como uma solução atraente, enfatizando idéias comuns, valores e padrões que levam as organizações ao sucesso ou pelo menos a saberem os caminhos a serem percorridos. A cultura organizacional é um mecanismo poderoso que controla condutas e homogeniza maneiras de pensar e de viver das organizações. Conforme Morgan (1996), Grandes organizações são capazes de influenciar a maior parte do dia-a-dia das pessoas de maneira completamente estranha àquela encontrada numa remota tribo nas selvas da América do Sul. Presente nos estudos realizados na década de 80, o tema cultura continua em evidência considerando os fenômenos: globalização e mudança. Para melhor entendimento do tema cita-se alguns conceitos descritos por diversos autores: Schein define cultura organizacional como um conjunto de pressupostos básicos que um grupo inventou, descobriu e desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionam bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas. Fleury (1996) considera que no nível mais profundo, a cultura é pensada como um conjunto complexo de valores, crenças e pressupostos que definem os modos pelos quais uma empresa conduz seus negócios. Mintzberg (2001) descreve que a cultura concentra-se no interesse coletivo e na formação de uma organização unificada através de sistemas compartilhados, crenças, hábitos e tradições. Derivada metaforicamente da idéia de cultivo, do processo de lavrar e de desenvolver a terra, a cultura refere-se ao padrão de desenvolvimento social e do conhecimento de determinada organização, sua história, ideologias, valores e costumes rotineiros. Na sociedade primitiva, cultura tinha o significado de que diferentes grupos de pessoas possuem diferentes estilos de vida. Atualmente, considera-se que a cultura na organização varia de acordo com o estágio de desenvolvimento da sociedade, suas condições externas e internas, não sendo algo estático e permanente imposto sobre as situações, mas que sofre alterações e desenvolve-se durante o curso das interações sociais. Isso ajuda a compreender as variações racionais em diferentes países. Certas organizações conseguem renovar constantemente sua cultura mantendo sua integridade e personalidade advindas de suas raízes. Muitos teóricos em administração vêem a cultura organizacional como uma entidade com atributos definidos e variáveis distintas como as crenças, histórias, normas e rituais, que formam uma cultura com a visão mecanicista dando a idéia de que a cultura pode ser manipulada como um instrumento. 2.2 ANÁLISE DA CULTURA ORGANIZACIONAL E A RELEVÂNCIA DOS SEUS ESTUDOS Para analisar a cultura de uma organização, vários são os aspectos que devem ser identificados e estudados, dentre eles deve-se relevar os valores, os ritos, os mitos, tabus, histórias, gestos e artefatos evidenciados ao longo do tempo da organização, e que assim contribuíram para a constituição de sua cultura. Também é preciso relevar os valores compartilhados e a postura empresarial adotada em tal organização, afinal é preciso saber quais são os interesses da organização e quais são os interesses das pessoas que a constituem, no intuito de criar uma ligação entre esses interesses e definir como os processos culturais devem decorrer. Devem também ser considerados os traços característicos de cada organização ou indivíduo. O estudo da cultura de uma organização torna-se relevante porque permite conhecer, analisar e acompanhar a evolução da cultura, tendo em vista a grande variedade de visões da cultura e as constantes mudanças que os cenários que a guardam e cercam lhe impõem. A proposta de estudar a cultura de uma organização traz para seus pesquisadores o desafio de encontrar métodos inovadores e interessantes. Fleury (1996) apresenta três tipos de postura que um pesquisador deve possuir para investigar os fenômenos culturais de uma organização, sendo os seguintes: 2.3 POSTURA EMPIRICISTA Implica considerar a sociedade como a somatória de indivíduo e a cultura como a somatória e comportamentos individuais. Ocorre quando o pesquisador investiga a realidade sem nenhum referencial teórico e sem proceder à críticas epistemológicas. 2.4 POSTURA DO ANTROPÓLOGO O pesquisador mergulha na vida organizacional agindo como observador participante dasdiversas atividades da organização para aproximar-se ao máximo da sua realidade social. 2.5 POSTURA DO CLÍNICO OU TERAPEUTA A organização pesquisada coloca à disposição do pesquisador todos os dados e informações inclusive as que estão inacessíveis a qualquer outra pessoa. Seu objetivo principal é prever insights de como a organização pode ser ajudada. 2.6 TRAÇOS BRASILEIROS PARA UMA ANÁLISE ORGANIZACIONAL A fim de que se possa comparar a cultura brasileira com a cultura de alguns países, destacam-se três, dentre eles: o Japão, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Cultura Japonesa - Possui uma cultura tipicamente coletivista caracterizando-se pelo determinismo. O que prevalece é o desejo do grupo. Atuam num sistema corporativista e têm a organização como uma extensão da família. Cultura da Grã-Bretanha - É embutida na mente das pessoas desde o berço. São submissas ao rei e aos senhores feudais. As pessoas são preparadas para servir. Cultura dos Estados Unidos - É individualista, pois acreditam que cada pessoa deve determinar suas crenças e seus próprios comportamentos. É extrema a valorização do indivíduo em sua projeção. A determinação é: “vencer ou vencer”. Cultura Brasileira – É também coletivista, porém caracterizado por uma distância de poder muito grande, pois tem como base cultural o Senhor do engenho, dono absoluto em seus domínios. O Brasil é uma sociedade coletivista, não se colocando, entretanto entre as mais coletivistas. O Brasil é, para Hofstede, mais coletivista que o Japão, país geralmente tido como coletividade por excelência; da mesma forma, nosso país é caracterizado por uma distância de poder muito grande, embora perca para as demais sociedades da América Latina, com exceção da Argentina. (MOTTA, 1997, p. 86). Considera ainda que: As organizações brasileiras geralmente apresentam uma distância grande que parecem lembrar a distribuição de renda nacional e o passado, pela forma como trabalhadores e executivos são tratados parece, de um lado com controles do tipo masculino, o uso da autoridade, e, de outro, em controle feminino, o uso da sedução. (MOTTA, 1997, p. 89). Os traços, portanto, referem-se às características gerais comuns e freqüentes na maioria dos brasileiros. São os pressupostos básicos que cada um utiliza. A sociedade brasileira é híbrida e incorpora a cultura portuguesa. Isso se deve ao fato de que quando os colonizadores chegaram ao Brasil havia uma escassez de mulheres brancas. Nossos colonizadores se misturaram às índias formando as primeiras famílias, depois, às negras na época da escravidão, formando assim, um triângulo racial. Dos negros prevaleceu a influência dos planos ideológicos nas crenças religiosas, nas práticas mágicas e na culinária. Dos índios a influência sexual e da família, na magia e na mítica. Mas foi do colonizador português a maior influência. Motta (1997), afirma: Podemos dizer que de lá (Portugal) nos veio a forma atual de nossa cultura, o resto foi matéria que sujeitou bem ou mal essa forma. Por ser híbrida a formação do Brasil são grandes as diferenças de cultura regionais entre o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste do País. O povo brasileiro possui uma pluralidade de cultura que muitas vezes se confunde com o caos da cultura. Vem de uma mistura que se revela na capacidade de trabalhar o ambíguo com o positivo, transformando problemas em oportunidades, criando soluções para novas situações. Sendo assim, a cultura brasileira segue alguns traços que são características gerais, comuns ou freqüentes que possuem a maioria dos brasileiros. São os pressupostos básicos que cada indivíduo usa para enxergar a si mesmo como brasileiro. Segundo Motta (1997) os traços brasileiros mais nítidos e influentes no âmbito das organizações brasileiras são: Traço Características-chaves 1. Hierarquia - Tendência e centralização do poder - Distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais. - Passividade aceitação dos grupos inferiores. 2. Personalismo - Sociedade baseada em relações pessoais. - Busca de proximidade e afeto das relações. - Paternalismo: domínio moral e econômico. 3. Malandragem - Flexibilidade e adaptabilidade como meio de navegação social. - Jeitinho. 4. Sensualismo - Gosto pelo sensual e pelo exótico nas relações sociais. 5. Aventureiro - Mais sonhador do que disciplinado. - Tendência a aversão ao trabalho manual ou metódico. Quadro 1: Traços brasileiros e caracterísitcas-chave. Fonte: Motta, 1997, p. 44 1. Hierarquia: As primeiras relações sociais surgiram com base na força do trabalho do escravo, ordenado e reprimido, separado e calado, gerando uma estratificação social e rígida hierarquização, estabelecendo uma distância entre senhor e escravos. Também o colonizador estabeleceu um poder aristocrático, centralizando poder na figura dos patriarcas. 2. Personalismo: O Brasil vive numa sociedade baseada em relações e desenvolve a necessidade de relacionar-se proximamente e afetuosamente. O brasileiro possui muito calor humano, influenciado pelo africano, em sua terna bondade. Trata-se de um povo acolhedor, hospitaleiro, afetuoso e generoso devido a mistura de raças existentes. Possui necessidades de aproximação e valorização da família. Por isso, é também paternalista, pois, ao mesmo tempo que controla, ordena e protege os seus. 3. Malandragem: A malandragem é muito típica em nossa sociedade e nas organizações. O indivíduo é freqüentemente reconhecido e valorizado em função de sua rede de relações interpessoais. Quando as situações conspiram contra o indivíduo, apela-se para as relações de intimidade a fim de encontrar uma saída. Vale tudo para conseguir o que precisa ou o que deseja. É o famoso “jeitinho brasileiro” que tem como forma a sobrevivência, relacionando o impessoal com o pessoal. O malandro possui um alto grau de criatividade, de dinamismo, de atives e de flexibilidade para as diversas situações. Inconscientemente cada indivíduo adquire um pouco desse caráter e em diferentes níveis. Sabe-se pois, que a relação é um dos caminhos para o sucesso, seja ela pessoal ou profissional. 4. Sensualismo: O colonizador Português iniciou sua vida no Brasil afeiçoado à poligamia pelo contato com os mouros. Descobriu nas índias o campo fértil para expandir sua ferocidade carnal. A falta da mulher branca contribuiu para que os interesses de procriação abafassem os preconceitos morais e religiosos. Nesse contexto, o apego à carne torna-se intenso. O brasileiro gosta do contato com a pele, da fala carinhosa e do olhar malicioso. Espera-se, pois, que as relações pessoais dos brasileiros sejam afetivas e próximas. Depositam em suas relações sociais um sensualismo capaz de obter com maior facilidade aquilo que necessita ou deseja. 5. Aventureiro: Dado pela aversão à agricultura e o desprezo pelo trabalho manual, o brasileiro busca seu foco em algo que lhe traga retorno a curto prazo. Não gosta de seguir métodos e é capaz de encontrar soluções em grandes obstáculos. Isso é uma herança trazida dos colonizadores que usavam os escravos para as tarefas pesadas e que até os dias atuais, o trabalho manual está associado ao baixo prestígio social. 2.6 ADMINISTRAÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL Devido a essas raízes culturais Fleury (1996), afirma que é possível gerenciar a cultura organizacional, porém com grandes dificuldades, já que a palavra gerenciar inclui vários significados como: planejar, organizar, dirigire controlar. O gerenciamento torna-se complexo, pois deve considerar as situações baseadas no ambiente interno e externo das organizações. Assim sendo, a cultura terá que sofrer adaptações, baseada no quadro de mudanças, à qual, não existe uma receita pronta. Fleury (1996) destaca que os fatores que tornam difícil a administração e a mudança da cultura organizacional referem-se: • Aos diferentes níveis hierárquicos; • As infiltrações por não ser apenas profunda mas extensas; • Ao que está implícito no pensamento e no comportamento das pessoas; • Ao que está impresso nas raízes históricas da organização; • As questões políticas referindo-se a distribuição de poder na organização • A pluralidade por apresentarem várias subculturas dentro da organização; • A interdependência devido ao fato de que a cultura está interconectada com a política da empresa, com a estrutura, o sistema as pessoas e os objetivos da organização. 3 CONCLUSÃO Entende-se porque no Brasil a cultura é tão diversificada, pois considera-se na sua descoberta a mistura das raças: branca, negra e indígena, o que faz o brasileiro um tanto quanto diferente em sua forma de se comportar e agir. É certo que cada organização delimita uma cultura organizacional única gerada e sustentada pelos seus diversos elementos e formas, influenciadas pelos seus fundadores, líderes, processo histórico e mercado. Mas, é possível delinear traços da cultura brasileira encontrados em todas ou em grande parte das organizações, advindos da descoberta do Brasil. Se não todos, alguns desses traços estarão presentes ainda que inconscientemente em maior ou menor grau no dia-a-dia das organizações, integrando sua cultura. O estudo e análise da cultura não se esgota, já que há uma necessidade de transformações e evoluções considerando as mudanças que o mundo propõe. 4 REFERÊNCIAS 1. BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual que os outros. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1996. 2. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 2. ed. São Paulo: Maegraw Hill, 1983. 3. FLEURY, Maria Teresa leme. Cultura e poder nas organizações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1996. 4. 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