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Motivações Pragmáticas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
MOTIVAÇÕES PRAGMÁTICAS
IANA CORDEIRO, MANOELA COUTO, SABRINA PEREIRA
THAYNARA BATISTA, TELMA SANTOS
VITÓRIA
2013
INTRODUÇÃO
A pragmática, parte do estudo da linguística vinculado aos processos interacionais entre os interlocutores, leva em consideração e analisa as atividades reais de conversação, sendo esse o objeto de estudo. 
Este trabalho abordará campos de estudo dentro da pragmática, área da linguística que analisa não apenas a língua, mas o seu uso aplicado, considerando os falantes, o contexto, as intenções explícitas e implícitas. A pragmática estuda o uso da língua pelos falantes a nível interacional, a forma como os processos comunicativos ocorrem e os recursos linguísticos que os falantes utilizam para que essa socialização seja efetiva e aconteça sem conflitos ou mal entendidos entre os indivíduos.
PRAGMÁTICA
A linguística pode ser debatida sob diferentes visões, que serão determinadas pelas escolas linguísticas que as fundamentam. Dois fatores essenciais separam uma escola da outra: a concepção de língua e a perspectiva adotada diante do objeto de estudo. É a partir da concepção de língua escolhida que se cria uma teoria e se estabelece uma explicação sobre os elementos intrínsecos à mesma, como regras de funcionamento, organização, estrutura e as possíveis interações entre a língua e elementos tanto internos quanto externos ao sistema.
Sob uma visão geral, há dois grandes polos de pesquisa linguística: o polo formalista e o polo funcionalista.
O formalismo não vincula a língua a situações comunicativas ou intenções de uso, ela é concebida como autônoma, sistemática e estrutural. O Estruturalismo, escola formalista fundada a partir das propostas de Ferdinand de Saussure e Leonard Bloomfield, entende a língua como um sistema estruturado a partir de leis naturais internas. Nesta escola, a língua é estudada em si mesma e por si mesma e analisada a partir de dicotomias propostas por Saussure, como língua e fala; sintagma e paradigma; significante e significado; sincronia e diacronia. Na lógica estruturalista, a língua é um produto social exterior ao indivíduo depositado no cérebro dos falantes por meio do behaviorismo, processo de estímulo > resposta > reforço, sem o qual a aquisição da linguagem não seria possível.
O Gerativismo, uma outra escola formalista, nascida a partir das ideias de Noam Chomsky publicadas em seu livro Estruturas sintáticas, vai de encontro à proposta behaviorista defendida pelos estruturalistas. Ele aborda a criatividade linguística, ou seja, a capacidade dos seres humanos de criar enunciados jamais vistos antes, e a classifica como um importante aspecto caracterizador do comportamento linguístico humano, bem como o principal fator distintivo da linguagem humana em relação à linguagem animal. A teoria gerativa trabalha com os conceitos de competência linguística e desempenho linguístico. A competência é a capacidade inata dos seres humanos de falar e entender uma língua e o desempenho é a performance, a realização da fala. Mais tarde Chomsky considera também a competência pragmática, ou seja, obtêm o comhecimento das condições do uso da língua, assim, a noção de comportamento ou desempenho linguístico é desvinculada das relações entre língua e sociedade.
O funcionalismo, o outro pólo de pesquisa linguística, toma como enfoque a língua numa perspectiva sociointeracionista e funcional. Assim, as situações reais de comunicação, quando a competência pragmática é evidenciada, são observadas e tornam-se o objeto de estudo. Considera-se a partir daí as relações entre forma e função, entre o fatores gramaticais e os sociais.
 	Mas o que seria então a pragmática? A pragmática linguística está afiliada à filosofia, nasce com a ideia de signo, ou ainda, das relações que os signos estabelecem em vários âmbitos, assim, dessas relações originam-se três vertentes: a semântica, a sintática e a pragmática. A última estuda as relações dos signos com os intérpretes, então, o contexto extralinguístico, os fatores socioeconômicos e o modo como os participantes do contexto estabelecem uma interação constituirão os elementos para possibilitar a abordagem pragmática.
Yule (1996) apresenta várias definições de pragmática, dentre elas: "pragmática é o estudo do significado contextual ( isto é, leva em conta o modo como ps falantes organizam seus enunciados, aquilo que eles querem dizer, de acordo com os seguintes fatores: a quem vão dizer, como vão dizer, onde e quando vão dizer e sob que circunstâncias)". Assim, é possível afirmar que a pragmática pode ser entendida como a teoria do uso linguístico, diferenciando do polo formalista da língua.
Portanto, a pragmática não estabelece a dicotomia entre o que é interno e externo à língua, pois reconhece o uso da língua e o modo que é utilizado na comunicação.
IMPLICATURAS CONVERSACIONAIS
H. P. Grice, um filósofo americano, faz estudos em 1957 sobre as implicaturas conversacionais e distingue dois tipos de implicaturas. As convencionais são as implicaturas geradas internamente, ou seja, denteo do sistema linguístico, observemos na frase: "Apesar de convencido, ele é inteligente", aqui, a locução adjetiva "apesar de" produz as relações de sentido entre as orações. Já as implicaturas conversacionais estão ligadas ao contexto extralinguístico. Para Grice, nem sempre o que se diz é exatamente o que se quis dizer, o significado real é obtido por meio de uma implicatura, ou seja, do resultado da adesão ao princípio de cooperação que guiaria a interação linguística entre os falantes.
Podemos observar essa implicatura num diálogo como:
A: Você vai ao cinema com a gente?
B: Estou com dor de cabeça.
A resposta que parece inadequada a pergunta, é interpretada através de uma implicatura conversacional. O falante B optou por ser indireto, porém mantendo o mesmo efeito negativo de um "não" que poderia soar mal educado.
O princípio da cooperação é formulado a partir de uma fórmula geral: comunique-se, atendendo ao que é solicitado, no momento exigido, visando os propósitos comuns e imetiatos por consequência dos compromissos conversacionais estabelecidos. Do princípio posto, originam quatro máximas: 
1) Máxima da quantidade (seja intormativo):
- Informe o que está sendo requerido em função dos propósitos comunicativos, porém não seja mais informativo que o exigido na situação, ou seja, seja objetivo e informativo.
2) Máxima da qualidade (seja verdadeiro):
- Não diga o que você considera falso nem nada que você não possa comprovar, não fornecer evidências.
3) Máxima da relação (seja relevante)
4) Máxima do modo (seja claro):
- Evite ser ambíguo e evite usar expressões que possam obscurecer o significado.
- Seja breve e proceda de modo ordenado.
As máximas serão exemplificadas na carta de reclamação abaixo:
"Prezados Senhores:
Eu, (XX), proprietário do apto. 1004, situado à (endereço do apto.), venho através da presente solicitar a V. Sas. que vistorie e conserte a pia da cozinha.
O serviço de vedação ao redor da cuba já foi feito há algum tempo atrás, mas já está saindo tudo.
Certos de vossas atenções, subscrevo-me.
Minha área está provocando uma infiltração do apto. 904 há mais de dois meses.
Eles já fizeram a reclamação por escrito.
 Atenciosamente"
O proprietário do apartamento foi direto, objetivo e informativo, obedecendo a máxima da quantidade, pois fez uma breve solicitação "Eu, (...) venho através da presente solocitar a V. Sas. que vistorie e conserte a pia da cozinha."
Também respeitou a máxima da qualidade, sendo verdadeiro e não aumentando o problema, evitou ambiguidades e digressões, enquadrando-se aí na máxima do modo "O serviçoda vedação ao redor da cuba já foi feito há algum tempo atrás, mas já estásaindo tudo."
Uma das críticas feitas ao princípio da cooperação é a idealização das interações sociais, não prevendo desarmonias e conflitos nas relações.
ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO
Desenvolveu-se com pesquisas de Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jefferson a partir de 1960.
A análise da conversação tem como objeto de análise as manifestações reais de conversação e tem como objetivo tornar a análise mais realista, para que seja possível distinguir os recursos usados pelos falantes em determinadas situações de fala e ainda investigar a interação em sua manifestação espontânea. 
A metodologia empregada pata as análises é a gravação que são posteriormente transcritas de modo fiel às ocorrências verificadas nas atividades de fala.
É possível observar uma manifestação regular de estruturas linguísticas e comunicativas nos atos de fala, como se pudesse fazer uma gramática da conversação. A análise conversacional vai procurar estabelecer esses traços estáveis na conversação, que estruturam-se a partir de interrupções, hesitações, pausas e sobreposições. Além disso temos que levar em conta outros fatores:
a) O contexto (o grau de formalidade que empregaremos de acordo com os 
participantes- amigos, chefe- e o tipo de interação- entrevista, interação jurídica, entre outros);
b) as relações interpessoais construídas na interação;
c) o tipo de interlocutores (levar em conta grau de intimidade, aspectos de poder, distanciamento)
d) o tipo de conversação (face a face, por telefone, entrevistas, das informais às mais formais)
e) os elementos da conversação, como o assunto da conversa, os turnos conversacionais, isto é, as sequências de fala, as hesitações, pausas e truncamentos.
Maruschi (1991) destaca cinco elementos básicos que caracterizam uma conversação: 
a) interação entre pelo menos dois falantes;
b) ocorrência de pelo menos uma troca de falantes;
c) presença de uma sequência de ações coordenadas;
d) a conversação deve ocorrer num mesmo tempo, mesmo que em lugares distintos (como no telefone);
e) é preciso que os interlocutores tenham algo sobre o que conversar.
A análise da conversação criou um modelo teórico próprio relativos à estrutura e organização das atividades conversacionais, empregando uma terminologia como sequências e turnos. Turno é toda intervenção dos interlocutores que atendem a natureza sintático-semântico-pragmático e critérios entonacionais, incluindo até o silêncio.
Como as pessoas fazem a tomada de turno? Quando se passa de um turno a outro? Como um falante consegue manter o turno praticamente até o fim? Parece haver um princípio de cooperação entre as partes (ver Implicaturas Conversacionais). Porém também existe um sistema básico de regras responsável pela transição de um turno a outro, e o assalto a um turno constituiria o princípio de violação "fala um de cada vez".
Observe o exemplo abaixo da conversação com 14 turnos presentes (diálogo extraído do Inquérito Nurc-RJ, pag. 147, entre dois informantes do sexo feminino, de formação universitária, do ano 1973, com temática sobre vida social, diversão, cidade e comércio. Observe a presença que marcam: superposição de vozes -[-, dúvidas -()-, e inserções de informações de quem transcreveu o texto - ((risos)). Podemos notar também a alternância dos turnos entre os falantes).
L1 eh... Você é carioca né?...quantos anos já... Há quantos anos você mora no Rio?
L2 a vida inteira...
L1 nasceu aqui?
L2 nasci aqui...
L1 está ok... Bom... E você eh... Mora em Copacabana mesmo?
L2 não moro em Ipanema... Mas queria te perguntar uma coisa... Qual é a tua imagem você mora em Copacabana né? Qual... Qual a imagem você faz de ipanema?
L2 olha... Eu...
L1 não é sobre o bairro não... Eu quero saber como vivem as pessoas que moram lá...
L2 [das pessoas... Da vida ()
L1 é... Qual a imagem que você faz?
L2 olha... Eu acho
L1 pode ser franca... Hein...
L2 está ok ((risos)) eu não vou malhar não... Olha eu acho...
L1 não... Mesmo se malhar...
Há controvérsias quanto ao momento em que há a troca de turno, na identificação, pois nem sempre a troca de falantes significa a conclusão de uma unidade construtiva de turno. Por exemplo, os trechos em itálico do falante L1 constituem um único turno, pois mantêm a mesma unidade tópica.
Turno e topicalidade estão interligados e representam o princípio organizador e regulador da conversa, desempenhando funções pragmáticas. Estratégias de polidez e marcadores conversacionais- olha, bem, bom, né?, sabe?- também contribuem para a manutenção de um mesmo tópico conversacional. Para essas temáticas denominamos macrotópico ou unidade tópica da conversação, de onde podem emergir subtópicos relativos ao tema.
TEORIA DOS ATOS DE FALA
	Esta teoria é de significativa importância para a pragmática, e ela considera as frases da língua como ações. Por exemplo, nós não apenas enunciamos, mas ordenamos, pedimos, perguntamos, reclamamos, etc. Seu precursor, o filósofo inglês John Austin, rompe com a visão tradicional da semântica baseada nos valores de verdade e falsidade das sentenças quando introduz o conceito de performativo.
	O enunciado é performativo quando ele realiza o ato que enuncia. Ao se considerar “eu ajoelho para rezar”, este pode ser verdadeiro ou falso, em “ajoelhou, tem que rezar” o locutor explicitamente se compromete com a ação, e não com a verdade ou falsidade.
	Segundo Austin, o ato de dizer alguma coisa envolve a execução de três atos simultâneos. O ato locutório, que corresponde ao conteúdo linguístico usado para dizer algo, centra-se no nivel fonético, sintático e de referência. O ato ilocutório, associado ao modo de dizer algo e ao modo como esse dizer é recebido, é o ato central para Austin, uma vez que tem a força performativa. É o ato efetuado quando se diz alguma coisa. O ato perlocutório diz respeito à indicação dos efeitos causados sobre o outro, como causar constrangimento, persuadi-lo, etc. Tomemos como exemplo uma carta de reclamação para uma empresa de construção civil:
	“Viemos por meio desta solicitar reparos na forração de gesso do teto da varanda.”
	Ao fazer uso do conteúdo linguístico, há a presença do ato locutório. O ato ilocutório é representado pela medida em que o conteúdo linguístico tem o objetivo de uma receber uma resposta do destinatário. E o ato é perlocutório na medida em que o cliente solicita, além de uma resposta, uma ação reparadora diante do acontecido (o dano no teto da varanda).
	Os peformativos, além de explícitos (representados por verbos que realmente indiquem o desejado, como dizer “pedir” ao se fazer um pedido), podem ser implícitos. (na frase “promessa é dívida” a ação de prometer e seu efeito estão implícitos). Na carta, há um performativo implícito pois, ao solicitar o reparo no teto, o cliente também faz uma reclamação.
	John Searle, filósofo americano, classificou os atos ilocucionários em categorias ou tipos básicos. Em seu livro Speech Acts, ele aborda as tendências contemporâneas da filosofia da linguagem com o objetivo de construir um ponto de vista linguístico para a teoria dos atos de fala. Ele adota o conceito de “finalidade ilocutória” para classificar os usos linguísticos, ressaltando que existe um número limitado de usos da linguagem e podem ser simultâneos. Para Searle, “falar uma língua é adaptar unma forma de comportamento regido por regras” (Searle, 1981:33). Tais usos e atos serão explicados a partir de excertos de propaganda e carta do Jornal do Brasil:
1) Atos assertivos: o falante compromete-se com a “verdade” da proposição. Trata-se de dizer as coisas como elas são. Exemplo:
“É mais divertido ir e voltar.”
2) Atos diretivos: tentativa de persuadir as pessoas a fazer coisas. Por exemplo: convidar, aconselhar, sugerir, ordenar.
“Se beber, não dirija. Volte de táxi ou com o amigo da vez.”
3) Atos expressivos: expressam sentimentos e atitudes. Exemplo: agradecer, lamentar, etc.
“Um absurdo o que vem acontecendo em relação a projetos para empreendimentos imobiliários.”(trecho de carta)
4) Atos comissivos: tentativa de produzir uma mudança por meio do que é dito, como em um convite ou uma promessa.
“A cultura toma o poder. Neste domingo, o caderno B estará nas mãos de um novo editor.”
5) Atos declarativos: promovem uma mudança na realidade. Exemplo: o ato de batizar, ou de fazer uma sentença judicial.
“Eu vos declaro marido e mulher.”
	Searle diferencia ato ilocutório de força ilocutória. Ato ilocutório se refere às ações que podem ser realizadas, enquanto força ilocutória é o componente que determina a diferença entre um ato e outro. Para ele, existe um marcador de força ilocucional, que pode ser expresso, em português, nos processos: ordem de palavras, acento tônico, entoação, pontuação, modo do verbo e uso dos verbos performativos. Entretanto, ressalta que frequentemente, o contexto é que permitirá fixar a força ilocucional da enunciação, mesmo que não haja um marcador explícito apropriado. Para que um ato de fala seja eficaz, ele deve ser proferido de acordo com as circunstâncias que deram origem às condições de felicidade (sucesso) ou infelicidade (fracasso) dos atos de fala. Os atos ilocucionais apresentam variados graus de força e desempenha funções diferentes, bem como agrega vários fatos e conduz a múltiplas interpretações. Para que o sentido de um enunciado seja entendido, é necessário atentar a elementos extralinguísticos, como quem diz, quando diz, como diz, para quem diz
	É possível, também, realizar atos de fala indiretos, ou seja, dizer uma coisa com a intenção de outra seja entendida, como quando se expressa um pedido por meio de um desejo. A utilização desses atos corresponde ao grau de força ilocucional marcado e ao tipo de interação que existe com o interlocutor. Derivada dessa inderitividade, surge a teoria interacionista. Marcondes (1992:123) propõe que cada ato de fala passe a ser considerado como parte de uma troca linguística, um ato de conhecimento mútuo. Ele concebe cada ato de fala como lance de um jogo, sendo que cada falante supõe uma resposta do seu interlocutor. É necessa interação que a identidade do falante se constitui como sujeito linguístico, por meio de um jogo em que cada participante torna seus atos de fala possíveis e eficazes.
TEORIA DA POLIDEZ
A teoria da polidez nasceu a partir dos estudos de Brown e Levinson (1987). Apropriando-se de conceitos de outros estudos, como a definição de “face” de E. Goffman (1967) e o princípio da cooperação de Grice (1975), a teoria da polidez ocupa-se em desvendar como se dá a interação entre as pessoas. Como esse processo funciona, se há cooperação entre as pessoas, quais regras regulam a interação humana, como as pessoas mantêm a solidariedade recíproca, dentre outras questões semelhantes.
A polidez é um fenômeno universal, a forma como ela é conduzida é que varia de acordo com as diferentes culturas. Há povos que preferem uma interação mais distante, pouco íntima, enquanto outros gostam de agir de forma acolhedora e efusiva. É de acordo com a visão de polidez que temos dos diferentes lugares que surgem as “famas” típicas de diferentes povos, como dizer que os britânicos são frios e os brasileiros, calorosos. Entretanto, por mais que seja possível ter uma ideia da forma como a polidez é conduzida em cada lugar, a interação com com o diferente é sempre um risco, já que esta também pode se diferenciar em uma esfera menor ainda, a individual. Atos proferidos com a melhor das intenções podem se configurar em ameaças graves para algumas pessoas, e o que determina isso é uma série de fatores dentre os quais pode-se citar o contexto comunicativo, a intenção do locutor, o entendimento do interlocutor, etc. Logo, a polidez é um aspecto essencial na comunicação humana, entretanto, é, ao mesmo tempo, muito delicada, devido à maleabilidade de concepção que permite.
	As regras e estratégias de polidez giram em torno da manutenção da face dos indivíduos envolvidos no processo comunicativo. O que seria exatamente o conceito de face? Segundo Goffman, é “o valor social positivo que uma pessoa reclama para si mesma através daquilo que os outros presumem ser a linha por ela tomada durante um contato específico”. Logo, a face é autoimagem que cada um tem de acordo com o contexto em questão, e, apesar de ser individual, ela é um atributo social, já que ela está associada às regras e convenções sociais. É como o “papel” interpretado por cada um em um diálogo: as pessoas têm consciência do que é esperado delas naquela conversa, bem como criam uma certa expectativa em relação à postura tomada pela outra pessoa. Para que a socialização ocorra de forma civilizada, é necessário que haja a preservação das faces envolvidas, ou seja, que os papéis sejam cumpridos, já que danos à face alheia colocam a própria face em risco, e as pessoas, mesmo que inconscientemente, estão o tempo inteiro protegendo suas faces. A preservação da face é a condição da interação, assim sendo, os indivíduos tentam evitar ou amenizar o máximo possível ameaças direcionadas à face alheia de modo a evitar conflitos e atingir seus objetivos. Para Goffman, orgulho, honra e dignidade são elementos mantenedores da face, enquanto gafes, insultos e ofensas a ameaçam.
	Essa cooperação mútua entre os falantes para que suas faces não sejam postas em risco são explicadas pelo princípio da cooperação proposto por Grice, que acredita que as pessoas sigam a certas regras de conduta na conversação, e propõe quatro máximas necessárias para uma comunicação efetiva:
	A face apresenta dois pólos: face negativa e face positiva. A face negativa se refere ao território pessoal de cada um. Ela constitui-se do desejo do indivíduo de ter seu espaço respeitado e não ter suas ações impedidas. A face negativa é a nossa face introvertida, ela é uma defesa da nossa intimidade e da nossa liberdade. Já a face positiva é a face social, ela é pública e visa a aprovação das outras pessoas. O nosso desejo de ser aceito e benquisto deriva da nossa face positiva.
	Baseando-se no fato de que em qualquer contexto interacional os falantes sempre têm a sua face e as faces de seus interlocutores para proteger, então os enunciados constituem atos de ameaça à face (AAF ou FTA - face threatening acts). As ameaças se diferem de acordo com os pólos da face que atingem (positivo ou negativo) e com o indivíduo atingido (locutor ou interlocutor). O locutor é ameaçado em sua face positiva quando realiza autocrítica, confissão ou pedido de desculpa; o mesmo ocorre em sua face negativa quando ele aceita oferecimento ou agradecimento. O interlocutor, por sua vez, tem sua face positiva ameaçada ao receber críticas, insultos ou desaprovação, e constituem dano à sua face negativa ameaças, conselhos, ordens, pedidos ou até mesmo elogios. Os AAFs acontecem constantemente, assim, ocorrem também os atos de reparação, que procuram atenuar essas ameaças. Esses atos podem se dar por meio de atos de fala indiretos, construções impessoais ou estruturas passivas, ou se valer de figuras de linguagem como ironias, eufemismos, e outras estratégias linguísticas.
Segundo Brown e Levinson, a polidez depende de três fatores:
- O poder relativo do ouvinte sobre o falante (P): Esse fator exerce influência sobre o risco de ameaça do ato porque geralmente somos mais polidos com aqueles que ocupam um nível maior na escala social em relação a nós. Geralmente dependemos deles para algo, ou temos interesse em algum favor que eles possam nos fazer.
- A distância social ou grau de familiaridade existente entre eles (D): Similar ao que acontece com o fator de poder relativo, a distância social entre os falantes é determinante pois tendemos a ser mais polidos com pessoas que não conhecemos muito, ao passo que nos sentimos à vontade para ser mais espontâneos, e até mesmo abruptos, quando nos dirigimos a algum familiar ou amigo.
- O grau de imposição de um ato comunicativo (G): Quanto menor o custo que um ato representa para um interlocutor, menor a ofensa expressa por ele. Por exemplo, se perguntamosas horas a alguém, esse ato é considerado de baixo custo, já que leva segundos para a pessoa ou dizer o horário, ou dizer que não sabe. Além do fato de esse pedido não alterar nada na ordem social, a distância e o poder relativo permanecem intactos, sendo, portanto, socialmente admissível que se pergunte as horas a qualquer desconhecido. O mesmo não se aplicaria se o pedido em questão fosse dinheiro emprestado, por exemplo.
A combinação desses três fatores - que são interdependentes - vão determinar o risco de ameaça à face que um ato irá constituir.
Um ato pode ser proferido baseando-se em princípios distintos:
	1. Diretividade: O AAF é realizado de forma direta, sem ação reparadora: ficam claras para os participantes as intenções comunicativas do interlocutor e não há preocupação em relação à preservação das faces. Utilizado para fazer pressões contra o ouvinte em favor próprio, como, por exemplo, ganhar crédito por honestidade, sinceridade, franqueza, mostrar que acredita no ouvinte e evitar mal-entendidos.
2. Indiretividade: Realiza-se o AAF de forma indireta. O falante ganha créditos por não ser coercivo, evitando a responsabilidade potencial de danificar a interpretação da face.
3. Polidez positiva: Realiza-se o AAF, com reparação à face positiva. A imposição do ato é minimizada e os integrantes demonstram pertencimento ao mesmo grupo e reciprocidade.
4. Polidez negativa: Faz-se o AAF, com reparação à face negativa. O falante demonstra respeito e consideração, mantendo a distância social entre os interlocutores e o não-pertencimento ao mesmo grupo, além de suavizar o AAF.
5) O AAF não é realizado. O falante não faz o ato e evita ofender o ouvinte.
Pela constância com que os AAFs ocorrem, existem os atos de reparação, pertencentes ao princípio de Indiretividade, que procuram atenuar a ameaça. Eles são realizados por meio de atos de fala indiretos, construções impessoais ou estruturas passivas, procedimentos retóricos, figuras de linguagem como ironias e metáforas, dentre outros. Estes atos de reparação constituem a polidez mitigadora ou hedging, e esta pode ser uma estratégia tanto positiva quanto negativa, dependendo do contexto de uso. Em uma situação em que se procura não intimidar muito o ouvinte, é comum que se prefixe a sentença com expressões como “Eu acho que…” ou “Me parece que…”, entretanto esta é uma estratégia vista como negativa pelos autores. O mais adequado seria que se dissesse “É uma espécie de…” ou “É algo do tipo de…”, pois assim nossas opiniões são suavizadas e, logo, tornamo-nos menos ofensivos ao emiti-las.
Outra estratégia que se baseia no distanciamento do locutor em relação ao interlocutor é o ocultamento do agente. Por exemplo, ao invés de dizer “Eu preciso que você faça isso”, o locutor pode optar por dizer “É preciso que você faça isso”. Esse tipo de construção favorece uma certa ambiguidade à frase, pois a referência direta locutor/interlocutor é apagada, logo a ameaça é expressivamente atenuada.
	Brown e Levinson postulam 15 estratégias indiretas, dentre as quais estão inclusas figuras de linguagem como ironia e eufemismo. Conecebê-las como elementos mitigadores é uma prova de como os fatos linguísticos podem ser explicados pelas pressões sociais sobre a face e a necessidade de sua preservação.
	A estratégia de polidez negativa consiste em enunciados que evitam ofensa por meio de demonstração de consideração. Analisemos uma frase como exemplo:
	“Com licença, Dr. Michaels, me perdoe mas eu poderia interrompê-lo por apenas um minuto?”
	Os elementos do ato proferido que nos permitem identificá-lo como de polidez negativa são: 1) vocativo diferencial (Dr. Michaels); 2) retratação (“com licença”; “me perdoe”); 3) uma tentativa de minimizar o pedido (“apenas um minuto”). Essas estratégias atendem ao desejo da face negativa, que é ser livre para prosseguir com suas ações e interesses sem ser impedida.
Já a estratégia de polidez positiva evita a ofensa reforçando a simpatia. Um exemplo:
	
	“Mouse! Não te vejo há anos. Você está ótimo! O que tem feito?”
	Os elementos presentes atendem aos desejos da face positiva. São eles: 1) uso de um código de intimidade (aqui, o apelido Mouse); 2) demonstra atenção aos interesses do interlocutor (“o que tem feito?”); 3) exagero do interesse ou aprovação do locutor (“você está ótimo!”).
	A estratégia de polidez utilizada vai variar de acordo com o falante, o ouvinte, a situação e os objetivos do emissor do ato de ameaça, e, ainda assim, não é possível estabelecer algum tipo de garantia sobre a efetividade do entendimento de ambas as partes, já que o jogo de preservação de faces é extremamente delicado e imprevisível.
CONCLUSÃO
Apresentamos os estudos acerca das questões mais gerais das atividades conversacionais e concluímos que utilizamos de estratégias para haver cooperação dentro de um diálogo, a fim de proteger a face dos interlocutores, na maioria dos casos. Observamos também que há uma organização da atividade conversacional, estabelecida através de traços estáveis presentes nos turnos e manifestados com regularidade. Podemos dizer que o polo funcionalista, caracterizado pelo enfoque sobre a língua em suas situações reais de uso, procura entender as ocorrências dessas estratégias que utilizamos de forma a prevalecer a harmonia sociointeracional.
BIBLIOGRAFIA
MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
GODOI, Elena. O que as ciências da linguagem podem dizer para os estudos em comunicação organizacional?. Ano 5, número 9. 2º semestre de 2008.
MEYERHOFF, Miriam. Introducing Sociolinguistics. Taylor & Francis e-Library, 2006.

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