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ROTEIRO LAVAGEM DAS M+âOS


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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
COLEGIADO DE MEDICINA 
MÓDULO DE HABILIDADES CLÍNICAS E ATITUDES 
 
 
TÉCNICAS ASSÉPTICAS 
LAVAGEM DAS MÃOS 
 
Profa: Flávia Azevedo de Mattos Moura Costa 
 
INTRODUÇÃO 
 
A lavagem das mãos teve, historicamente, sua importância comprovada por 
Semmelweiss, e as publicações clássicas mais importantes sobre infecções 
hospitalares lhe dão o merecido destaque. Semmelweiss, um dos pioneiros em 
controle de infecção hospitalar, reduziu as taxas de infecções puerperais ao 
exigir, em 1847, a lavagem das mãos com solução germicida, após as 
necrópsias e antes do atendimento a partos. 
A lavagem das mãos com água e sabão é um dos procedimentos mais 
simples e dos mais eficazes na prevenção e controle das infecções 
hospitalares (IH) e demais infecções. Visa à remoção da maioria dos 
microrganismos da flora residente e da flora transitória das mãos (ver 
fluxograma), além de células descamativas, pêlos, suor, sujidades e 
oleosidades. Atualmente alguns autores usam o termo higienização quando se 
substitui a lavagem das mãos pela aplicação de álcool a 70 % e glicerina 2%. 
O objetivo principal do processo de lavagem/higienização das mãos é 
reduzir a transmissão de microrganismos pelas mãos, prevenindo as infecções. 
As mãos são o instrumento mais usado no cuidado do paciente. 
 
MICRORGANISMOS E FREQÜÊNCIA DA LAVAGEM DE MÃOS 
 Elaine Larson, em 1981, demonstrou que 21% dos profissionais da área de 
saúde pesquisados apresentavam colonização das mãos com bactérias gram-
negativas, quando comparados com 80% do grupo controle, constituído de 
pessoas que não trabalhavam em hospitais. Dentre as 22 espécies de 
bactérias gram-negativas encontradas, 45% eram Acinetobacter e 39% 
Klebsiella-Enterobacter. Pessoas que lavavam as mãos mais de oito vezes por 
dia eram menos colonizadas do que as que lavavam menos de oito vezes. 
Alguns estudos microbiológicos, segundo a mesma autora, demonstram que o 
aumento da freqüência da limpeza diminui a microbiota das mãos. Essa flora 
 2 
pode aumentar quando o número desse procedimento ultrapassar 25 vezes por 
dia, devido ao ressecamento excessivo das mãos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FLORA MICROBIANA DA 
PELE 
Flora normal ou residente 
ou colonizadora Flora transitória ou 
contaminante 
Multiplicam-se na pele, 
ficando estáveis e viáveis 
por longos períodos de 
tempo 
Não se multiplicam na 
pele e são viáveis por 
curto período de tempo 
Baixa virulência (pode 
causar IH em pacientes 
imunodeprimidos, após 
procedimentos invasivos e 
na presença de soluções 
de continuidade da pele) 
Alta virulência (principais 
causadores de IH) 
Não são facilmente 
removíveis por escovação; 
são inativados por anti-
sépticos 
São facilmente removidos 
pela limpeza com água e 
sabão; são destruídos pela 
aplicação de anti-sépticos 
Bactérias mais 
comumente encontradas: 
gram-positivas 
Composta pelos 
microrganismos mais 
freqüentemente 
responsáveis pelas IH gram-
negativos e estafilococos 
Localizam-se em maior 
quantidade nas mãos, em 
torno e sob as unhas 
Encontradas na superfície 
da pele e junto a gorduras 
e sujidades 
Fluxograma: Flora microbiana da pele 
 3 
INDICAÇÕES PARA LAVAGEM DAS MÃOS 
As mãos devem ser lavadas: 
1. Sempre que apresentarem sujidade. 
2. Antes de: 
* Iniciar o trabalho. 
* Manusear medicamentos e alimentos. 
* Calçar as luvas. 
3. Antes e após: 
* Contato direto com o paciente. 
* Efetuar procedimentos terapêuticos e diagnósticos (sondagens, punções 
venosas, coleta de material para exames propedêuticos, curativos e 
outros), mesmo quando houver indicação da utilização de luvas. 
* Realizar trabalhos hospitalares, atos e funções fisiológicas ou pessoais, 
como alimentar, assoar o nariz, usar o banheiro, pentear os cabelos, 
fumar ou tocar qualquer parte do corpo. 
* Preparar materiais e equipamentos (respiradores, nebulizadores, outros) 
e durante seu reprocessamento. 
* Manipular materiais e equipamentos (p. ex., catéteres intravasculares, 
sistema fechado de drenagem urinária e equipamentos respiratórios). 
* Manusear cada paciente e, às vezes entre as diversas atividades 
realizadas em um mesmo paciente (p. ex., higiene e aspiração 
endotraqueal). 
4. Após: 
* Contato direto acidental com secreções e material orgânico em geral. 
* Contato indireto através de material e superfícies contaminadas. 
* Terminar o trabalho. 
* Retirar as luvas 
 
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LAVAGEM X ANTI-SEPSIA DE MÃOS 
Lavagem comum: É a fricção manual vigorosa de toda superfície das mãos e 
punhos, utilizando-se sabão/detergente, seguida de enxágüe abundante em 
água corrente para a remoção de sujidade e flora transitória. 
Anti-sepsia com álcool glicerinado: Remoção e destruição de flora transitória. 
Anti-sepsia – preparo cirúrgico: É a fricção manual vigorosa de toda superfície 
das mãos, punhos e antebraços, utilizando-se anti-séptico, com escovação das 
unhas e espaços interdigitais, seguida de enxágüe abundante em água 
corrente, para destruição da flora transitória e redução da flora permanente. 
 
Lavagem ou anti-sepsia das mãos? 
Depende: 
* Da intensidade do contato com o paciente ou fômites; 
* Do grau de contaminação; 
* Da suscetibilidade do paciente; 
* Do tipo de procedimento que será realizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÁLCOOL GLICERINADO E SIMILARES 
O uso de produtos como álcool glicerinado tem sido recomendado por 
alguns autores que consideram a fricção das mãos com germicida capaz de 
eliminar a maioria dos microrganismos transitórios e evitar a sua disseminação. 
Entretanto o uso desse tipo de produto sem a lavagem das mãos ainda é 
bastante discutido, embora indicado no Manual de Lavagem de Mãos do 
Ministério da Saúde no Brasil. Um dos motivos de tal discussão é exemplificado 
em estudos como o realizado na Noruega em que ficou demonstrado ainda 
haver, com a utilização apenas de álcool, crescimento de microrganismos em 
mãos contaminadas com 104 microrganismos. Com esse trabalho e outros que 
demonstram a inefetividade de alguns germicidas a microrganismos 
RECOMENDA-SE: 
A lavagem básica ou simples das mãos: antes do turno de trabalho, antes e depois das 
refeições, sempre que as mãos estiverem obviamente sujas, antes e depois de ir ao 
banheiro, antes e depois do contato com o paciente. 
A lavagem das mãos com anti-sépticos: No inicio e no final de um turno de trabalho, 
antes e depois dos procedimentos assépticos, depois de lidar com comadres e urinóis, 
entrando e saindo de áreas de alto risco. 
A lavagem cirúrgica das mãos: Antes de todo procedimento cirúrgico. 
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resistentes, a questão continua em discussão. Embora alguns autores ainda 
recomendem álcool glicerinado ou a utilização de lenços com anti-séptico1, é 
difícil aceitar tal procedimento como substituto da lavagem das mãos. Em 
alguns locais, pela dificuldade de acesso a uma pia e/ou necessidade de uma 
higiene rápida das mãos, a alternativa pode ser prática. No entanto, tão logo 
possível, se sugere que as mãos sejam lavadas com água e tensoativo (sabão) 
o que ajuda a eliminar a sujidade. A ação do anti-séptico dependerá do grau de 
sujidade, já que os germicidas em geral são inativados, em maior ou menor 
grau, por matéria orgânica. 
 
PRODUTOS A SEREM UTILIZADOS 
Os produtos a serem utilizados podem ser: 
* Sabão comum - não degermante: barra, líquido, pó. 
A ação é mecânica pela remoção da sujidade e de microrganismos. 
* Sabão degermante –antimicrobiano: líquido 
A ação destrói ou inibe a reprodução de microrganismos. 
 
O tipo de produto utilizadoé muito importante para a lavagem das mãos. 
Desde os primeiros estudos do Centers for Disease Control and Prevention 
(CDC), publicados em 1985, enfatiza-se a importância do recipiente que 
contém o produto. Sendo o sabão líquido, o dispensador deve ser descartável 
ou higienizado regularmente antes de reenchido. Sendo em barra, é importante 
que sejam pequenos para uma troca constante e colocados em saboneteiras 
vazadas, para maior facilidade de higienização e escoamento da água. As 
recomendações iniciais definiam a necessidade do uso de sabão líquido em 
detrimento do sabão em barra. Hoje a recomendação não é restrita ao sabão 
líquido tendo em vista a descrição de contaminação também com o seu uso; no 
entanto, recipientes com sabão líquido descartáveis podem ser mais seguros 
justamente pela possibilidade de contaminação dos outros tipos de recipiente. 
 
 
1
 Denominam-se anti-sépticos as formulações hipoalergênicas, de baixa causticidade, com 
função de matar ou inibir o crescimento de microrganismos quando aplicados sobre tecidos 
vivos, em geral, à pele ou mucosas. 
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TECNICA DE LAVAGEM BÁSICA DAS MÃOS 
A eficácia da lavagem das mãos depende da técnica usada de forma 
adequada. Ao lavar as mãos, durante 2 a 4 minutos, os seguintes 
procedimentos devem ser adotados: 
* Retirar anéis, alianças e lascas de esmalte (sob tais objetos, acumulam-se 
bactérias que não são removidas mesmo com a lavagem das mãos), mover 
relógios e pulseiras para uma posição mais alta no pulso. 
* Abrir a torneira com a mão dominante sem encostar-se à pia, para não 
contaminar a roupa, quando da ausência de dispensador de pedal. 
* Molhar as mãos, do pulso até a ponta dos dedos. 
* Colocar em torno de 3 a 5 ml de sabão líquido nas mãos, ou pegar um 
pedaço do sabão em barra e enxaguá-lo antes do uso. 
* Ensaboar a torneira e fechá-la. 
* Ensaboar as mãos (proporcionar espuma), friccionando-as vigorosamente 
por aproximadamente 30 segundos, em todas as faces (palma e dorso das 
mãos), espaços interdigitais, articulações, pulso, unhas e extremidades dos 
dedos. A formação de espuma extrai e facilita a eliminação de partículas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
* Enxaguar a torneira logo após abri-la. 
* Com as mãos em nível mais baixo, enxaguá-las dos dedos para o pulso em 
água corrente, sem encostar-se a pia, retirando totalmente a espuma e os 
resíduos de sabão. 
 
 7 
* Enxugar as mãos com papel toalha (duas folhas) descartável; em caso de 
torneira com acionamento manual, fechá-la com o mesmo papel-toalha. 
* Desprezar o papel-toalha na lixeira. 
 
OBSERVAÇÕES ADICIONAIS 
* As unhas devem ser mantidas bem aparadas, e de preferência, sem pintura 
excessiva, para melhor visualização de sujidades. 
* Na secagem das mãos utilizar papel-toalha que possibilite o uso individual, 
folha a folha; o uso coletivo de toalhas de tecido ou de rolo é contra-
indicado, pois elas permanecem úmidas quando não substituídas. Não é 
indicado o uso de secador elétrico, pois raramente é obedecido o tempo 
para secagem. 
* A lavagem constante das mãos pode levar ao ressecamento, eczema e 
rachaduras da pele. Tais efeitos podem resultar, também, dos produtos 
utilizados e do uso prolongado de luvas, principalmente talcadas. Dermatites 
nas mãos aumentam o risco de infecção para o paciente (e para o 
profissional), pois as lesões contêm grande número de microrganismos que 
dificilmente serão reduzidos com a lavagem das mãos. 
* Cremes hidratantes e loções podem ser usados entre as lavagens das 
mãos, desde que acondicionados em recipientes individuais e de uso único, 
evitando-se o risco de contaminação, o que os tornaria importantes 
reservatórios em situação de surto. 
 
 
REFERÊNCIAS 
Brasil. Bahia. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Superintendência de 
Regulação, Atenção e Promoção de Saúde/Diretoria de Assistência a 
Saúde/Coordenação de Gestão da Qualidade e Avaliação tecnológica. 
Qualidade e Controle da Infeção Hospitalar. 1ª ed. Bahia, 2001. 
 
DUGAS, B. W. Enfermagem Prática. 4ª ed. Rio de janeiro: Guanabara, 1983. 
 
MARTINS, A. M. Manual de infecção hospitalar: epidemiologia, prevenção e 
controle. 2ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2001. 
 
Organizado pela Comissão de Planejamento do Módulo de Habilidades Clínicas e Atitudes 
Profa. Aline Schmitt’ Profa. Aparecida do Carmo Zerbo Tremacoldi Profa. Mércia Margotto 
Profa. Mônica Raiol Profa. Viviane Rocha 
2005