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assis marselha silverio de direito e estado sob a optica de karl marx

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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
 DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
 
 
Law and State on Karl Marx´optics
 
 
Marselha Silvério de Assis - Pós-graduada em Direito do Trabalho pelo Instituto Praetorium
em parceria com a Universidade Cândido Mendes. Bacharel em Direito pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente exerce o cargo de
Analista Processual do Ministério Público da União.
 
E-mail: marselhasilverio@gmail.com
 
RESUMO: O artigo proposto sugere um estudo acerca da contribuição do filósofo alemão Karl
Marx para a compreensão da sociedade, do Estado e do Direito. Sua teoria social
consubstancia-se numa resposta aos problemas da sociedade burguesa e uma proposta de
intervenção que tem como centro a classe operária. Ademais, abordar-se a concepção do
Estado do autor, e conseqüentemente do Direito, cujo aparato reflete a dominação econômica
de uns poucos sobre tantos outros, legitimada por intermédio de um Estado de Direito, cujo
princípio capital é a lei. Conclui-se que de seus ensinamentos não se pode abstrair uma teoria
sistêmica sobre o Direito. Apesar disso, através de seus escritos, evidencia-se um direito de
papel decisivo na fixação das contradições do Sistema Social Ocidental.
 
SUMÁRIO: 1.Introdução 2. O modelo teórico 3. O Estado na visão de Marx 4. O direito em
Marx 5. Conclusão 6.Referências
 
PALAVRAS-CHAVE: Jusfilosofia, Direito, Marxismo, Estado, Sociedade
 
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
ABSTRACT: The proposed article suggests a study about the contribution of the German
philosopher Karl Marx to the understanding of society, state and law. His social theory
represents a response to the problems placed by the bourgeois society and a proposal for
intervention that has the working class as centre. The article discusses as well the Marxist
conception of state, and consequently of law, and whose system/apparatus reflects the
economic domination of many by only a few, legitimized by the rule of law/constitutional state,
whose core principle is the law. Concluding you can say that from his teachings you cannot
abstract a systemic theory about law. Despite that a right with a decisive role for the fixation of
the contradictions of the western social system is manifested in his writings. 
 
KEYWORDS: PHILOSOPHY OF LAW, LAW, MARXISM, STATE, SOCIETY
 
1. INTRODUÇÃO
 
 
A obra de Karl Marx não surge, na cultura e na história ocidentais, por acaso. Ela é resultante
de contexto sócio-político determinado. É uma resposta aos problemas da sociedade burguesa
e uma proposta de intervenção que tem como centro a classe operária. Com efeito, o autor
pretende através da fusão de todo patrimônio cultural existente até ele com a intervenção
política do proletariado, um modo novo de ver a sociedade burguesa: compreendê-la para
suprimi-la! 
 
Isso porque a revolução industrial engendrou uma crise social que atingiu níveis gigantescos. A
permuta do homem pela máquina, na mesma medida em que majorava a produção, gerava
uma grande quantidade de desempregados. Concorrendo com as fábricas, os artesãos faliam
prontamente. Por ser o trabalho operário um exercício mecânico de alguma atividade, que não
exige técnica, nem raciocínio, logo se constatou que a utilização de mulheres e crianças seria
extremamente vantajosa, já que mais barata. As horrendas condições em que trabalhavam só
poderiam ter como conseqüência a enorme mortalidade infantil e sua desnutrição. Além disso,
ao se processar a divisão social do trabalho, separam-se aqueles que pensam, daqueles que
agem. Daí que “a segmentarização do trabalho acabou por dividir também o saber do
trabalhador”. [1]
 
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
Nesse contexto, a partir do modelo teórico proposto pelo autor quanto à compreensão da
sociedade, apresenta-se o seguinte problema: embora não se possa estabelecer uma teoria
geral do Direito em Marx [2] , é possível se chegar a um conceito do que o autor entende ser o
fenômeno jurídico. E, assim, propõe-se no presente estudo o encaixe do Direito e do Estado
em sua teoria epistemológica, apresentando uma proposta de superação da dogmática
normativista, da lógica formal e de todo um universo rígido de normas.
 
 
2. MODELO TEÓRICO
 
 
Marx, junto à colaboração essencial de Engels, produziu um julgamento do capitalismo jamais
visto. Com o Manifesto do Partido Comunista (1848), conclamou todos os trabalhadores,
independente de suas nacionalidades, à união contra o Capitalismo (sendo que o processo de
sindicalização tomou grande impulso a partir daí) [3] . Na elaboração de sua doutrina social, o
autor recebeu influência de três “teorias” em voga na Europa:
 
a) A Economia Política, destacando-se os nomes de Adam Smith e David Ricardo. Dela, Marx
recupera a noção de trabalho-valor, observando, porém, que a realização do capital não é
produzida pelo trabalho em qualquer de suas formas, mas pelo trabalho não-pago;
 
b) O Socialismo Utópico, que denunciou a miséria da vida sob o capitalismo, a exploração do
homem pelo homem. Deste, o autor retoma a exploração, mas não sob uma óptica pretensora
de conciliação, numa sociedade ideal, dos princípios liberais com as necessidades emergentes
do operariado, mas sob uma perspectiva de constatação de que, em verdade, os desacordos
entre os interesses da burguesia e os do proletariado constituem uma mola que move o
sistema capitalista e que é essencial à sua existência [4] . Para o autor, as tentativas de união
de idéias paradoxais são meramente ilusórias, restando à prole, portanto, a alternativa
revolucionária de modo a interromper as contradições brutais do capitalismo;
 
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
c) A Filosofia Clássica Alemã, representada principalmente por Feurbach e Hegel. Daquele,
Marx incorpora o materialismo. Entretanto, não em sentido filosófico, mas sob uma perspectiva
histórica, porque “a sociedade, o Estado e o Direito não surgem de decretos divinos, mas
dependem da ação concreta dos homens na História” [5] . Já com relação a Hegel, o autor
recupera a sua dialética, que diz ser o mundo movido por contradições (natureza/homem,
capital/trabalho, campo/cidade), sendo que em vez da natureza circular da dialética de Hegel,
formada por tese, antítese e síntese, Marx propõe uma espiral, na qual a “síntese” seria
também uma “tese” para uma nova “antítese”. Além disso, ao contrário de Hegel, que era um
filósofo idealista ou especulativo, o autor era materialista. Este dizia ser a ação anterior ao
pensamento e que o trabalho seria material, transformador da realidade, da natureza, em
oposição ao trabalho espiritual de Hegel.
 
Marx propõe, por meio do Materialismo Histórico, que os homens não são meros seres
contemplativos do mundo, não são apenas produto do meio (refutando, portanto, as teses
deterministas), mas são também produtores da História. Além disso, como já foi dito, o modo
de produção capitalista é sustentado por inúmeras contradições, essencialmente verificadas no
plano das classes sociais. Estas são a burguesia, como classe detentora dos meios de
produção e, portanto, dominante; e o proletariado, que tem como única riqueza o seu trabalho,
tendo que o vender para sobreviver. 
 
É compreensão do autor a existência de uma relação de determinação entre os aspectos
econômicos e os demais campos da sociedade, ou no modo de produção global. O autor
propõe um modelo teórico social dividindo o esqueleto social em duas partes: a infra-estrutura
e a superestrutura, utilizando-se de metáfora advinda da construção civil e que revela estar a
infra-estrutura afastada das percepções sensoriais do homem e, de outro lado, ilustra que os
componentes da superestrutura, isto é, a política, aideologia e o Direito, são captáveis pelos
sentidos humanos. 
 
Na infra-estrutura, ou base material, desenvolver-se-iam todas as relações sociais de produção
através das forças produtivas, isto é, as ferramentas por intermédio das quais poder-se-ia obter
produtividade: força de trabalho + tecnologia + terras + conhecimento [6] . As relações sociais
de produção, por sua vez, significam as interações entre os indivíduos, ou destes com a
natureza, ocorridas na infra-estrutura. 
 
Sobre essa infra-estrutura material levantar-se-ia a superestrutura. Esta reproduziria a
dominação estabelecida naquela e seria composta por duas instâncias: uma delas é a jurídico-
política ,
que tem por função mediar às relações materiais e tem como expressões máximas: o Direito
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
(demonstração da luta de classes, sendo a lei vista como a consagração da ideologia
burguesa) e a Burocracia, definida como um corpo de funcionários orientados a perpetuar as
condições vividas na infra-estrutura. A outra instância é a 
ideológica
, na qual seriam construídos valores, idéias e representações que afirmariam as discrepâncias
entre as classes sociais.
 
As classes sociais constituem a base de todo o pensamento do autor. Elas são determinadas
pela posição que um grupo de indivíduos possui nas relações sociais de produção. Essa
posição seria determinada pela propriedade ou não de bens. O grupo que os possuísse seria a
classe dominante e o que não os detivesse, a classe dominada. As relações entre essas
classes nascem na infra-estrutura, sendo afirmadas, mantidas e reproduzidas pela esfera
superestrutural (que também tem o papel de reprimir ataques ao status quo). Em última
instância, Marx considera que as relações econômicas (infra-estrutura) determinam o corpo
superestrutural [7] .
 
No entanto, a relação entre as estruturas do modo de produção não é a simples reflexão,
expressão ou determinação, no sentido de baixo para cima. Se assim o fosse, explica o
doutrinador Oscar Correa [8] ter-se-ia uma legislação trabalhista legitimadora da exploração do
mais-trabalho, em referência à mais-valia. E não é bem assim que sempre ocorre, em que pese
se possa afirmar também que o Direito do Trabalho não nasce para unir o capital e o trabalho
num mesmo objetivo, porque isso seria impossível. O que se quer dizer é que o Direito do
Trabalho promove como “justo” o intercâmbio da compra e venda da força de trabalho, mas ao
mesmo tempo promove institutos, como o salário, o jus postulandi
, e toda a redoma protetiva do trabalhador, a fim de garantir um mínimo ético nas relações
trabalhistas.
 
 
3. O ESTADO NA VISÃO DE MARX
 
 
O autor concebe o Estado não como curador social que tem por função obter o bem comum da
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
sociedade e proteger os interesses universais, como pensou Durkheim, nem também como o
Estado ético-racional, perene, sem história, superior a sociedade civil, como propunha Hegel.
Ele analisa-o relacionado à realidade política, como reflexo da sociedade civil e, portanto, como
decorrente de uma luta de classes.
 
O Estado, para o autor, compõe a esfera superestrutural, sendo seu surgimento necessário
para ordenar essa luta de classes, amenizando-a. Fazendo isso, ele atende aos interesses dos
proprietários 4 , já que a intensificação dos conflitos pode gerar uma superação da realidade e
à classe dominante interessa a permanência da situação vigente.
 
Assim, o Estado é a expressão legal – jurídica e policial – dos interesses de uma classe social
particular, a classe dos proprietários privados dos meios de produção ou classe dominante. Ele
“não é uma imposição divina aos homens nem é o resultado de um pacto ou contrato social,
mas é a maneira pela qual a classe dominante de uma época e de uma sociedade
determinadas garante seus interesses e sua dominação sobre o todo social” [9] .
 
Para ele, o Estado é o braço repressivo da burguesia. Ele utiliza-se da coerção para garantir a
ordem infra-estrutural. As forças produtivas do modo de produção capitalista deveriam ser
desenvolvidas ao máximo até as contradições entre as classes tornarem-se insuportáveis.
Nesse momento, o povo chegaria ao poder e as decisões seriam tomadas pela própria massa
popular. Dentre essas decisões, estaria a socialização das propriedades, enquanto que o
Estado e, conseqüentemente, o Direito (já que este é produto daquele) iriam perdendo as suas
funções até se extinguirem completamente. Isso porque tais institutos não seriam mais
necessários numa sociedade na qual todas as pessoas estariam numa mesma situação diante
da base material (não existiriam mais classes sociais, então não haveria mais necessidade de
algo que regulasse as contradições entre elas).
 
 
4. O DIREITO EM MARX
 
 
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
Já o Direito é a seara que se estabelece dentro do modelo epistemológico de Marx como
fenômeno social, ocupante da posição superestrutural, determinada dialeticamente pela
economia, que compreende a base material. Seu estudo, desse modo, há de ser feito
relacionado a outras ciências (especialmente a Economia), porquanto incorpora valores
sociais. Essa tese é veementemente contraposta por Hans Kelsen, eminente jurista austríaco,
de formação positivista, que defendeu a teoria pura do Direito, sob o fundamento de que para a
construção de um conhecimento consistentemente científico o Direito deve abstrair-se dos
aspectos políticos, morais, econômicos e históricos [10] . No entanto, um pensamento coerente
e estruturado não admite um estudo do Direito isolado das demais ciências, de maneira que a
teoria pura do Direito de Kelsen sucumbiu, ante a clareza com que a palavra Direito designa
um acontecimento que tem conexão com outro conjunto de fenômenos sociais que se
inscrevem no contexto do exercício do poder em uma sociedade.
 
Karl Marx organizou uma tese em que o Direito, como regra de conduta coercitiva, nasce da
ideologia da classe dominante, que é precisamente a classe burguesa. Assim, qualquer que
seja a forma que o direito assuma (lei, jurisprudência, costume), a essência do direito está
sempre referida à vontade da classe dominante, que nunca é a vontade do conjunto do corpo
social. O Direito é percebido como síntese de um processo dialético de conflito de interesses
entre as classes sociais, que Marx denominou de luta de classes. 
 
Tanto as relações jurídicas quanto as formas de Estado não podem ser compreendidas nem
por si mesmas, nem pela chamada revolução geral do espírito humano, mas antes têm suas
raízes nas condições materiais de existência. Ademais, o Direito não nasce espontaneamente
dessas relações, mas é posto pela vontade. O problema que se verifica é que tal vontade é
somente aquela dos que possuem o poder estatal, ou seja, a vontade da classe dominante,
sendo o Direito expresso de um lado pela lei e, de outro, como o conteúdo determinado dessa
lei. Assim, a dominação econômica de uns poucos sobre tantos outros se legitima por
intermédio de um Estado de Direito, cujo princípio capital é a lei.
 
Nessa linha, na obra de Marx, verifica-se uma inquietação sobre a injustiça econômica estar
representada nas formas jurídicas e, assim, a insurgência contra o modelo liberal do Direito de
propriedade, uma vez que a liberdade no capitalismo clássico é meramente formal, e sem um
amparo da igualdade material, torna-se pó, isto é, oprime.
 
Sobre o núcleo do sistema jurídico, isto é, o judiciário, parafraseando o sociólogo Niklas
Luhmann, sinaliza a obra de Marx pelo menos duas críticas. Primeiro, o velho adágio de que “a
justiça é cega”, no sentido de imparcial, imune, é um contra-senso, porque se os juízes são
apartidários, quando a lei é partidária, a propaganda de neutralidadedos magistrados cai por
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
terra, principalmente tendo em conta que o corpo de magistrado tem origem normalmente na
classe dominante. De outro lado, o autor critica a despersonalização ou desumanização dos
atos judiciais, operada pela burocracia, e que conduzem a uma identificação da redenção do
condenado por ele mesmo, e não pela aplicação do Direito.
 
Nesse sentido, oportuna a lição do doutrinador Ricardo Nery Filho [11] , para quem “Marx ‘hum
aniza
’
o direito ao afirmar que ele é um fenômeno derivado das condições econômicas de produção
capitalista que estão na sua base e ao fazer com que ele apareça como ideologia e
superestrutura burguesas.
”
 
Assim, o Direito e seus institutos constituem fenômenos ideológicos, parte da realidade social
capitalista, seja no processo de elaboração das leis, seja no de sua aplicação pelos
magistrados. No entanto, de proposta, os ensinamentos de Marx sobre o Direito devem ser
acoplados à sua concepção de homem enquanto produto e produtor da realidade social em
que vive e, assim, promover a superação da dogmática normativista, da lógica formal e de todo
um universo rígido de normas. Desse modo, e com a possibilidade de transformação histórica
da sociedade pela mudança no Direito, o projeto de aproximação da justiça social pode ser
efetivado.
 
 
5. CONCLUSÃO
 
 
A obra de Marx é inegavelmente de suma importância para a Idade Contemporânea, seja na
Filosofia, Economia Política, na Sociologia ou no Direito. Ela não constituiu apenas um grito de
dor do proletariado, já que sua dialética econômica da história denunciou “uma guerra
ininterrupta entre homens livres e escravos, patrícios e plebeus, burgueses e operários, enfim,
entre dominantes e dominados” [12] , mas não se restringiu a isso. Propôs uma mudança
através da revolução proletária. É então, impossível desconsiderar o pensamento de Marx em
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
seu profundo papel modificador e crítico da sociedade, do Estado e do Direito.
 
De seus ensinamentos não se pode abstrair uma teoria sistêmica sobre o Direito. Apesar disso,
através de seus escritos, evidencia-se um direito de papel decisivo na fixação das contradições
do Sistema Social Ocidental. O Direito coloca-se muito mais que um instrumento pacificador
dos conflitos sociais. Isso porque sob sua perspectiva ideológica verifica-se que o Direito
representa um discurso do Poder.
 
De fato, o Direito, assim como a Justiça, não é um fenômeno universal, conforme a classe
dominante insiste em afirmar. Como bem ressalta o professor Roberto Aguiar, in verbis:
 
 
“as normas jurídicas e os ordenamentos jurídicos, como todos os atos normativos editados pelo
poder de um dado Estado, traduzem de forma explícita, seja em seu conteúdo, seja pelas
práticas que o sustentam, as características, interesses, e ideologia dos grupos que legislam.”
[13]
 
 
Assim, o Direito não pode ser entendido como um acontecimento neutro e desinteressado nas
lutas de classes. Ele não é idealista, mas vinculado à práxis. Prova disso é que quando ocorre
uma revolução, a primeira mudança ocorre na esfera jurídica. Esta irá traduzir outros
interesses. Afinal: “ninguém legisla contra si mesmo”. [14]
 
Ora, as leis beneficiam muito mais os proprietários. Isso se verifica, por exemplo, quando o
Ordenamento Jurídico reprime mais os crimes contra as coisas, que aqueles contra as
pessoas, demonstrando que aquelas são mais importantes que os seres humanos. De outro
lado, o judiciário, sob o falso manto da imparcialidade, perpetua a ideologia dominante.
 
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
É preciso recolocar o homem no centro das relações sociais; conceber o Direito como
fenômeno parcial e comprometido sim, mas não com as minorias. Isto significa perceber uma
ordem jurídica respaldada nos interesses das maiorias. Tal sistema transformador há de ter
uma chance muito grande de ser justo, haja vista que configuraria uma antítese para a tese do
sistema opressor em que vivemos. Até a sua concepção, a postura do conformismo é que não
deve ser adotada. Isso porque a imagem do direito justo pode aparecer na aplicação das leis
burguesas, desde que se utilize uma idéia renovadora, envolta ao viés do uso alternativo do
Direito. 
 
 
 1. REFERÊNCIAS 
 
 
AGUIAR, Roberto A. R. O que é Justiça: uma Abordagem dialética. 5 ed. São Paulo:
Alfa-ômega, 1999.
 
 
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1980.
 
 
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CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 2 ed. Rio de Janeiro:
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CHAUÌ, Marilena. O que é ideologia? 14 ed. São Paulo: Braziliense, 1984.
 
 
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CUEVA, Augustin. A concepção marxista das classes sociais. In Debate e Crítica, n°03. São
Paulo: Hucites, 1974, p. 83-106.
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DELLA CUNHA, Djason B. A perspectiva sociológica no estudo do Direito. Revista do Curso de
Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vol.2. nº2. Natal: EDUFRN, 1996.
p.101 a 130. Janeiro/junho 1997.
 
 
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Paulo: Martins Fontes, 1998.
 
 
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MACHADO NETO, A. L. Sociologia Jurídica. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 1987.
 
 
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Coleção a obra-prima de
cada autor.Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2000.
 
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____________________________. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
 
 
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http//:www.jusnavigandi.com.br, acesso em 23 de Maio de 2003.
 
 
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VICENTINO, Cláudio. História Geral. 8 ed. São Paulo: Spione, 1997.
 
 
WOLKMER, Antônio Carlos. Introdução ao pensamento jurídico crítico. São Paulo: Saraiva,
2001.
 
 
 
[1] COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. 1 ed. Vol único. São Paulo: Saraiva,
1999, p. 233-234.
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[2] WOLKMER, Antônio Carlos. Introdução ao pensamento jurídico crítico. São Paulo: Saraiva,
2001, p. 151-153.
 
[3] MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Coleção a obra-prima
de cada autor.Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2000.
 
[4] COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. 1 ed. Vol único. São Paulo: Saraiva,
1999.
 
[5] CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12 ed. 4ª impressão. São Paulo: Ática, 2001, p.409.
 
[6] CUEVA, Augustin. A concepção marxista das classes sociais. In Debate e Crítica, n°03.
São Paulo: Hucites, 1974, p. 83-106.
 
[7] CUEVA, Augustin. A concepçãomarxista das classes sociais. In Debate e Crítica, n°03.
São Paulo: Hucites, 1974, p. 83-106.
 
[8] CORREA. Oscar. A concepção juridicista do estado no pensamento Marxista. In
PLASTINO, Carlos Alberto (org.). Crítica do Direito e do Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1984, p.
147.
 
4 Sobre o mesmo assunto: “O poder político sempre foi a maneira legal e jurídica pela qual a
classe economicamente dominante de uma sociedade manteve seu domínio. O aparato legal e
jurídico apenas dissimula o essencial: que o poder político existe como poderio dos
economicamente poderosos, para servir seus interesses e privilégios e garantir-lhes a
dominação social.” Chauí (2001, P. 411).
 
[9] CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12 ed. 4ª impressão. São Paulo: Ática, 2001, p.411.
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ASSIS, Marselha Silvério de. DIREITO E ESTADO SOB A ÓPTICA DE KARL MARX
 
[10] KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 6 ed. Tradução de João Baptista de Machado. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
 
[11] FALBO, Ricardo Nery. Direito, Discurso e Marxismo. In Direito e Marxismo. Rio de Janeiro,
Lumen Juris, 2010, p.415.
 
[12] MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Coleção a obra-prima
de cada autor.Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2000, p. 45.
 
[13] AGUIAR, Roberto A. R. O que é Justiça: uma Abordagem dialética. 5 ed. São Paulo:
Alfa-ômega, 1999, p. 115.
 
[14] AGUIAR, Roberto A. R. O que é Justiça: uma Abordagem dialética. 5 ed. São Paulo:
Alfa-ômega, 1999, p.116.
 
 
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