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Rogers do Diagnostico a Abordagem Centrada Na Pessoa

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1 , 
. \ 
. E.DIÇO~ ~~: .. 
" 
'. . . 
BAGAÇO 
Diana Belém 
> 
Carl Rogers. 
·do dia8nóstico ti 
Abordagem 
~Centrada 
615.851 B428C 
. .., 
Autor: Belem, Diana 
I THOjiij'fO dfi/OillirOOi;;oCWmoo '. 1 , 
:~ 
:; 
• " 
.J 
. .... L 
- ...... .. ' •• _._~ .... .o-.; •• ~ _ ......... , .... _. ~ 
'--. - - .... .} 
uSltadO o encontro ele Larl Kogers com 
ia Civilização do Nordeste do Brasil. 
Jmo freqüentemente o são os encontros 
·odutivos. Ele tão Norte Americano, da 
jica, pelo menos num certo sentido; nós 
inos Brasileiros, tão Europa do Sul, tão 
dio Oriente, tão Brasil. Ele um tributário 
,fiO mistico Norte Americano, expresso 
JS de Emerson, por exemplo, tributário 
ise existencialista, dos Culturalistas, da 
I e psicoterapia fenomenológico-
. Nós , tateantes nos meandros dos 
!ntos da cultura brasileira, em busca da 
ão de urna psicologia e de uma 
i que certamente não poderão calcar-se 
nte nos moldes desenvolvidos pela 
la Europa e nos Estados Unidos ... 
to, todavia, é que nos turbilhões dos anos l 
sessenta, nós fomos até Rogers; e Rogers 
s. O resultado do encontro é uma rica ' 
o para a psicologia e psicoterapia no 
no Brasil, contribuição que faz parte 
Jdutiva da psicologia e da psicoterapia 
mos e constituímos, e que certamente 
)nge de fornecer seus melhores frutos. 
la Belém descende das gerações 
a protagonização deste encontro. Das 
: Lúcio Flávio Campos, por exemplo, 
leram pioneiramente, em Recife , a 
I das sínteses Rogerianas e dispuseram-
las e transmiti-las, no universo de nossa 
ainda emergente. Carl Rogers, do 
à Abordagem Centrada na Pessoa, que 
n oferece à comunidade de inte,ressados 
na celebração deste encontro de Rogers 
ra nordestina e brasileira. É uma.busca 
para colocar em perspectiva a evolução 
nto de Rogers, desde os seus primórdios 
últimas fases, na segunda metade dos 
I. É assim um instrumento valioso para 
imento, entre nós, de urna avaliação 
lffia apropriação eristi'fs e, · prodl:iti .... o 
:nto da Abordagem Centrada na Pessoa, _ . 
·e nos tempos ·qüe estão por vir. 
[ansa Henrique Lisboa da Fonseca 
Psicólogo 
,. \ .. . - ~ -, ; " 
Diana Belém 
Carl Rogers: 
do Diagnóstico à Abordagem 
Centrada na Pessoa 
Recife - 2000 
UnhttN"sioilaiM Cat6li08 
" Pemambtft:Q 
BIBLIOTECA CENTR"'L 
AO 3-152910 
~J.09.z000 
R724b 
Carl Rogers: 
do diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
Copyright (l:) by Diana Belém 
Diana Maria de Hollanda Belém 
Rua Alberto Paiva, 192 - Graças - 52050-260 
Recife.Pernambuco. Brasil 
Telefone: (081)2285032,4276788,92724893 
E-mail: dianarnhbelem@yahoo.com 
Recife. 2000 
Belém, Diana 
Carl Rogers : do diagnóstico à abordagem centrada na 
pessoa / Diana Belém. - Recife: Bagaço, 2000. 
216p. 
1. ROGERS, CARL R. (CARL RANSOM), 1902 
- 1987 - BIOGRAFIA. 2. PSICOTERAPIA. 3. RELA-
ÇÕES HUMANAS. 1. Título. 
ISBN: '85-7409-233-9 
CDU 92CARL,R. 
PeR - BPEPCB C D D 920 
Produção Gráfica: 
EDIÇÓES BAGAÇO 
Rua dos Arcos, 150 - Poço da Panela 
R:ecife/PE CEP 52061.180 
Telefax: (081) 4410132 
bagaco@elogica.com.br 
Impresso no Brasil 
,.. .' . ~ " , .. ~ ... .., .. 
• " " ;: .'t ';t , 
... porque para todo o propósito há 
tempo e modo. (Eclesiastes, 8.6) 
Aos meus filhos 
Epitácio e Andréa 
- expressão maior de criação -
Um sentimento de gratidão por: 
Afonso H. Lisboa da Fonseca 
laraci Fernandes Advíncula 
LUlZ Carlos Cavalcantl da Silva 
Sumário 
Prefácio ........ ....... .. ...... ........ ..... ... .......... .................... 13 
Introdução ........... .. ...... .. .... .. ... ... ... ............................. 19 
CAPíTULO 1 
CARL RANSOM ROGERS: 
histórico e contextualização .................................. ..... 27 
- Vida acadêmica ... .. .... .... .... ................ ....... .... ..... ... ... 32 
- Contato com a Psicologia ........................................ 34 
- Psicólogo clínico ................... ...... .......... ....... .... ........ 38 
- Universidade de Ohio ..... ....... ... .. .............. .... ... ........ 41 
- Universidade de Chicago ......................................... 44 
- Universidade de Wisconsin .............. .. ....... ....... .. .. ... 46 
- Centro de Estudo da Pessoa - La Jolla ................... 48 
Notas Pessoais .... ...... .. ........... ... .. ................. .... ..... .... 51 
Referências Bibliograficas ................. .. ......... .... ......... 54 
CAPíTUlO ·2 
CARL ROGERS E orro RANK .. .. ............ .. ........... .. 55 
- Terapia da Relação .. ................ .................... ..... ..... .. 59 
- Afinidades de Rogers com a . 
Terapia da Relação .................................................. 62 
------=-i3ivergências de Rogers com a ' --------
Terapia da Relação ........ .. ................. .. .. ....... .... .. ... ... 65 
Referências Bibliográficas ............................. :: .... .... .. 68 
CAPíTULO 3 
TERAPIA NÃO-DIRETIVA -1940/1950 
1 Q Período da Psicoterapia 
Centrada no Cliente: ., .. ...................................... ..... 69 
- O processo terapêutico ...... .... ..... .. ... ... ... ................. . 75 
Referências Bibliográficas ....... .... .......... .... .. ..... .... ..... 80 
CAPíTULO 4 
PSICOTERAPIA REFLEXIVA - 1950/1957 
2Q Período da Psicoterapia 
Centrada no Cliente: ............................. ... .............. . 81 
- A técnica ................... .... .. ......................................... 84 
- O terapeuta ...... ...... ......... ... .... .................................. 86 
- As condições facilitadoras ... .... ....... ............. .......... .. 92 
- O processo terapêutico .. ........... .. .. ........... ..... :.; ......... 94 
- Referências bibliográficas ...................... ..... .... .. ... .... 97 
CAPíTULO 5 
CONSTRUÇÃO TEÓRICA -1950/1957 .. ... , ... .......... . 99 
- Uma teoria da personal~dade ...... .... ........ .... ........... 102 
- Conceito de vida plena ..... ........ ......... ... .. .......... .. ... . 110 
- Referências Bibliográficas ......... .. ................ ... ... ..... 115 
CAPíTULO 6 
PSICOTERAPIA EXPERIENCIAL -1957 ... 
O 3Q Período da Psicoterapia 
Centrada no Cliente: ............................ ... .... .. .... ..... 117 
- O processo terapêutico ................................. .. ...... . 129 
- O quarto período da Psicoterapia 
Centrada no Cliente ............ ..... ... ........................... 136 
- Referências bibliográficas .. .. .... ...... ................. ....... 140 
CAPíTULO 7 
ENSINO CENTRADO NO'AlUNO: 
Uma Aprendizagem Significativa ......................... 141 
- A aprendizagem significativa ............................ ..... 147 
Elementos do processo de aprendizagem ............ 149 
- A teoria da aprendizagEõ)m ...... .. .. ..... ... ...... .. ....... .. ... 151 
- O ensino centrado no aluno ....... ................ : .. .... ... ... 152 
- Referências bibliográficas .. ... .... .... ......... ......... ..... .. 154 
CAPíTULO 8 
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA: 
psicoterapia de Grupo, Gupos 
de Encontro, Grandes Grupos 
e Comunidades .. .................. ......... ........ ....... ...... .... 155 
- Grupo e psicoterapia ............. ... .... .. .... ... ........ ......... 158 
_ Grandes grupos .. .... ......... .... .. .. .... .... ... ................. .. 161 
_ Grupo vivencial ... ........ .... .. ......... ............................ 163 
- Facilitador e poder .. ...... ..... .. .......... ... ...... ....... ... .. ... 164 
- Tipos de grupos ............ ............. ...... ..................... . 166 
_ Referências bibliográficas ..... .... ...... ........ ........... .... 168 
CAPíTULO 9 
CARL ROGERS: Memorial 
Histórico e Contextualização 
por Marisa Amorim Sampaio ........ .. ........ .............. 169 
BIBLIOGRAFIA ... ...... ............................ .... .. .. ... ... .. .. . 211 
,-
PREFÁCIO 
... . i· '.: ' .. 
e cOnCiso. Cons rUIr com precisão suas aulas, comu-
nicá-Ias com vivacidade e ser um modelo de firmeza e 
dedicação, são exemplos coerentes de quem faz-do 
-lollanda Belém 
ara o desenvolvi-de ensinar um espaço P 
lano. . declinável dever, como 
3. oportunidade, pOdrtn dentro desta corrente 
I t mbém forma a, . B I ' l, a rtilhado com Diana e em 
lento, e por ter pa de ter nela uma com-
:; caminhos c?muns~~o brilho em viver, que-
m luta pe/~ Vida e P lho de prefaciar este 
ir que m~Ito .m~d or~~a sua leitura fácil, re-
;eu conteudo flUi °d oder evocativo sobre 
a imagens de gran e p ando-se a estudiosos 
I livro tr~z a lume, s~:mem que avançou no 
tes , a figura desse ele mesmo, o caminho. 
por ter se tornadof damental influência no ;:0 em Rogers .uma u: acidade de acolhe~ o 
vimento da ~\nha c P d'to ser esta a maior 
sua Singulandadeb.AC~rti~ipando das experi-
tão que dele rece . I, Pira ão nos seus princí-
3senvolvidas com \n~P I ç do na minha for-
. E ' este o maior ega 
'ICOS. ,e fessora e ser humano, 
le psicoterape.u~~ , pro últiplas, nas minhas ~J' ou criar possibilidades m . 
.J. e com os demais. ~ . 
i comigo m~smo de toda uma existencla 
.rI Rogers fOi , a~ ,?ngo , es uisas e ao favo-
a às p áticas chmcas: as p ~ autor-singular. 
- humanas u 
,to das relaçoes , 'apacidade do ser 
ntemente na c . 
J, permane . ' ossibilidades expenen-
) de expandir a~ suasd~ existência. Acreditava 
iando novos. modos esta expansão eram ne-
ra o favoreCimento d atitudinais. Foi , en-
'as e suficientes mudanças blinhavam o reco-
11 ênfase nas atitude~ ~~a~~itador para aquela 
lento do outro e no cllm t -do' o seu trabalho. 
,ão, que Rogers dPa~~~~n~a do ser humano é 
lU ele que a gran e 
\ 
! 
I 
I 
I 
.". ' \ 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
ser visto e reconhecido como digno de confiança e 
respeito. Ser reconhecido como um outro e ser confir-
mado nas suas diferenças seriam suficientes para 
possibilitar, ao sujeito humano, o desenvolvimento da 
responsabilidade de al..Jtogerir-se. Destacar esta ques-
tão foi fundamental na época em que Rogers a pôs 
em prática, rompendo com a tradição de determina-
das visões psicanalítica e behaviorista predominan-
, teso A perspectiva humanista, ao privilegiar o interre-
lacionamento, buscava resgatar o modo de ser pró-
prio do humano, visando um saber mais abrangente 
do que unicamente o saber teórico, objetivo e lógico. 
As contribuições rogerianas para o entendimen-
to e favorecimento das relações humanas somaram-
se a outras, que ao longo de décadas colaboraram 
para permear idéias e promover mudanças que, acres-
cidos a numerosos acontecimentos existenciais de-
sembocaram no cenário subjetivo contemporâneo. 
Acompanhar o percurso da vida de Rogers e das 
suas elaborações dá-nos bem a medida de alguém 
que pautou toda a sua existência na crença de que a 
mudança era a única coisa certa. A vida é um proces-
so, ensinava ele, não só dizendo, mas praticando e 
vivendo este processo, sempre aberto aos novos fa-
tos que o exercício da prática agontava à~suas cons-
truções teóricas. No entanto, como todo ser humano, 
ficou circunscrito e influenciado pelo tempo histórico 
em que viveu. Como todo pensador dos Séculos XIX 
e XX, Rogers é filho dos ideais da Modernidade que 
colocam o homem no centro do universo como senhor 
absoluto, sem limites à pretensão de tudo conhecer. 
No despontar do novo século, deparamo-nos com no-
vas configurações que denunciam a falência destas 
crenças. Na última década da sua vida, ao partir para 
17 
V1aria de Hollanda Belém 
'abalhos com grandes grupos, em experiências 
lsivas de uma ou duas semanas, Rogers come-
a descortinar um . mundo de múltiplos e comple-
fenômenos . Os seus últimos escritos são revela-
~s da gênese de novas reflexões. Fatos novos es-
tm pondo questões à teoria. Infelizmente, contu-
não houve tempo para Rogers elaborar construtos 
, dessem conta desses novos elementos. 
Autores contemp'orâneos indicam-nos que o pro-
,so da vida implica na não identidade consigo mes-
, pois a aventura existencial determina a diferença 
o outro de si mesmo, ao mesmo tempo que contém 
aconhecimento da tradição que nos garante a per-
lnência, o lado avesso, fundamental e fundante des-
mesmo processo. Ser o outro de si mesmo e con-
rvar os traços identitários, parece-nos, hoje, a leitu-
própria da subjetividade e a aprendizagem essen-
11 do ser humano. Aprender, principalmente, as lógi-
.s da inclusão e do múltiplo, onde não existem um 
J outro, mas todos e muitos. 
Das primícias do livro de Diana Belém, onde tão 
~m podemos perceber a permanente inquietação de 
arl Rogers de sempre buscar novos conhecimentos, 
Jmpre-nos faz€f."" à esse légado. No destino dos 
erdeiros não cabe, simplesmente, a repetição dos pas-
os de quem se herdou, más a coragem de se fazer 
'iferente e de fazer diferente para que a obra continue. 
Reconhecer o legado da tradição é reconhecer 
tS estruturas básicas que nos sustentam e que criam 
lS chanqes para o acolhimento de pensamentos ou-
ros que nO!twnsformam sem causar destruição. O 
iv·ro de Diana Belém contempla este objetivo 
plenamente 
iR 
Recife , abril 2QOO 
laraei Advíncula 
Psicóloga 
f · 
t 
T 
INTRODUÇÃO 
: 
Enquanto estudante de Psicologia, através das 
aulas de Aconselhamento Psicológico, ministradas 
pelo Prof. Lúcio Flávio Campos, tive meu primeiro can-
tata com o pensamento de Carl Rogers. O respeito e a 
crença na capacidade do indivíduo e a simplicidade 
com que o Prof. Campos apresentava os conceitos 
rogerianos me fizeram acreditar na possibilidade de 
me tornar psicoterapeuta. 
Neste primeiro cantata CQm as idéias de Rogers, 
um novo paradigma me foi apresentado e 
"que uma mudança construtiva da personalida-
de poderia decorrer de um encontro autêntico 
entre duas pessoas vivas, extremamente presen-
tes uma para a outra, quando uma delas - o te-
rapeuta - se dispunha, através de toda a sua 
pessoa, a facilitar um processo de autodescober-
ta da outra. " (Rosemberg, 1975, p. 163). 
21 
lna Maria de Hollanda Belém 
Desenvolvia, simultaneamente, nesse período, a 
:ividade de monitoria nas disciplinas Psicologia Ex-
::lrimental e Psicologia da Aprendizagem, nas quais 
'itérios rigorosos de medição e controle eram essen-
lais e eram reforçados por métodos rigorosos e dog-
láticos aprendidos no academicismo da Psicologia. 
Ao mesmo tempo, era difícil reconhecer e adotar 
, determinismo da Psicanálise e o caráter reducionis-
:I. do Behaviorismo. O que eu entendia e podia com-
Ireender e apreender destes paradigmas não me da-
'am conta da dimensão humana real -a que huma-
lamente me reconhecia. 
No desenvolvimento das atividades como profes-
;ora da Universidade Federal de Pernambuco, sendo 
'esponsável pelas disciplinas Aconselhamento Psico-
lógico e Supervisora de Estágio na perspectiva Exis-
tencial Fenomenológica senti falta de uma epistemo-
logia consistente que legitimasse os conceitos e con-
teúdos trabalhados. 
Comecei a buscar - através da leitura dos livros 
de Carl Rogers, de bibliografia especializada, de dis-
cussões com profissionais da área, de participação nos 
Encontros da Abordagem Centrada na Pessoa, de 
Cursos de pós-Graduação, Aperfeiçoamento e Espe-
cialização, de experiências e contato com o próprio 
Carl Rogers - uma epistemologia que pudesse ser 
reconhecida, valorizada e respeitada, que apresentas-
se credibilidade científica. 
Destas buscas surge este trabalho que, de for-
(lia sistemática, apresenta 11m estudo sobre a evolu-
ção do pensamento de Carl Rogers, do DiagnÓstico à . 
Abordagem Centrada na Pessoa. 
22 
.l-
I1. .í 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Ce~t~ada na Pessoa 
" Apresenta histó~ico e contextualização da obra 
de Carl Hoge.rs, segUido dos períodos de desenvolvi-
mento da PSI~oterapia Centrada no Cliente, o traba-
lho .desenvolvldo na Educação, em Grupos e Comuni-
dades, surgindo daí a Abordagem Centrada na Pes-
soa. .' 
A Abordagem Centrada na Pessoa surgiu como 
r~sultado da transposição da hipótese de base da teo-
na de Rogers , 
"~ ser h~mano possui a capacidade latente, se 
nao mamfesta, de se compreender a si mesmo 
e ~e resolver ~uficientemente seus problemas 
a fIm de, ~xpenmentar a satisfação e a eficácia 
necessanas ao funcionamento adequado" (J s-
to,. 1995) u 
e das co~di?ões facilitadoras consideradas no proces-
so terap~utlco para trabalhos com grupos, educação 
e comumdaqe. 
.Carl Ro~ers, no primeiro momento, desenvolveu 
a PSicoterapia AN~o-Di retiva (1940-1950), na qual o 
processo ~e~ap~utlc,o. consistia em um processo orde-
nado e sUjeito a analise científica, constituído por três 
mome_ntos: a catarse, a aquisição do insight e a ela-
boraçao. de ações positivas que levariam o cliente a 
~ma mal,or autonomia. A função do terapeuta consis-
tIa e_m cnar um clima permissivo de aceitação e clarifi-
caçao: Obj:tivava o alcance gradual do insight do self 
e, da slt~aça~. A publ icação que caracterizou este pe-
nodo fOI PSicoterapia e Consulta Psicolégiea d 
23 
:! Maria de Hollanda Belém 
o segundo período (1950-1957) - a Psicoterapia 
flexiva caracterizou-se pela crença na capacidade 
indivíduo de auto-regular-se, valorização das atitu-
) de consideração positiva incondicional, empatia e 
19ruência vividas pelo terapeuta nó momento da 
3.ção em detrimento da técnica. A clarificacão ver-
foi substituída pela reflexão dos sentime~tos e a 
:lominação de Psicoterapia Não-Diretiva é substitu-
l pela expressão Psicoterapia Centrada no Cliente, 
Inificando que o cliente seria o foco do processo. 
Neste período, considerado como o período de 
lior produção teórica, foram elaborados os concei-
; de "self" e "campo fenomenológico", e o processo 
'apêutico é reconhecido a." partir de uma 
"perspectiva quase exclusivamente fenomenoló-
gica, a partir do marco de referência interna do 
cliente" (Rogers, 1961, pág. 108). 
A publicação que caracterizou este período foi 
!rapia Centrada no Cliente de 1951. 
No terceiro período (1957-1970) - a Psicoterapia 
I(periencial, o processo ter?pêutico passou a ser con-
~ituado-GG·mG-um "contilJuum~ significando um movi-
ento que vai da rigidez à mudança, da rigidez à flui-
:lZ do self. Elaboraram-se as fases do processo, a 
:lfase era na relação interpessoal e na compreensão 
9 uma concepção existencial do processo. Esta psi-
:>terapia passou a ser utilizada com qualquer tipo de 
liente. Neste período, desenvolveram-se experiênci-
s com esquizofrênicos dentro da perspectiva existen-
ial e deu-se ênfase à subjetividade do cliente - con-
4 
. f 
[ 
Carl Ro ers ' d o' . 
, o la nostico à Ab d ~ . or a em Centrada na Pessoa 
gruencla. Hart apontou como foco 
mas de experimentação . do processo as for-
ceito de Gendlin c ' entendIdas sob a luz do con-
, omo um proce ' 
mentado interiorme t . . sso sentido, experi-
d f ~ n e, constitUIndo a ' . 
os enomenos pSI'col ' . matena básica 
, og/cos e da ' PSicoterapia caracter/o personalIdade. A ZOu-se por u 
'camente pessoal A publ' _ m encontro autenti-
, . Icaçao que . penodo foi Tornar-s p caractenzou este 
. e essoa de 1961 
.Exlstem referências a uma 
terapIa, que compreend' quarta fase da psico-
. Quando da estadae~: ~~eríodO de 1 ~70 a 1987. 
glu a necessidade de d gers em Chicago, sur-
retornados da guerra E es~nvo~ver um trabalho com 
existência de poucos t' m unçao da demanda e da 
dições facilitadoras . erap~utas, utilizaram-se as con-
. vlvenc/adas ' 
v/dual e no trabalho na PSIcoterapia indi-
bém a aplicar os prin~~n: grupos. Começou-se tam-
Cliente, na educação P/os ~a Terapia Centrada no 
des. e postenormente em comunida-
Com a teoria da tera i 
tras áreas além da . p a sendo aplicada em ou-
, PSicoterapia ' Centrada no Cliente d . ~ surgIu a Abordagem 
19 ' enommacao d R 70, era substituída or A' e ogers que, em 
Pessoa - ACP. P bordagem Centrada na 
Recife, abril de 2000 
25 
I 
I 
I 
CAPíTULO 1 
I. CARL RANSOM ROGERS: 
Histórico e Contextualização 
t 
Carl Ransom Rogers nasceu a 8 de janeiro de 
1902, em Oak Park, Chicago, EUA, sendo o quarto 
filho de uma abastada família de fazendeiros. Seu pai 
era engenheiro agrônomo e sua mãe uma pessoa com 
forte influência religiosa do protestantismo. Seu pai 
praticava a religião, assistia aos ofícios, mas com 
menos crença e fervor religioso que sua mãe. 
Quando Rogers estava com 12 anos de idade, 
seus pais compraram uma fazenda distante 30 milhas 
de Chicago. Rogers acreditava que o principal motivo 
desta compra foi o desejo de seus pais em afastar a 
família da vida urbana, tendo como conseqüência um 
grande isolamento social. Esta mudança ampliou o 
isolamento do já retraído Rogers, que dedicava a mai-
or parte do seu tempo à leitura, e foi agravado pela 
necessidade de ter de mudar de escola três vezes, 
fato que o impediu de desenvolver relações de amiza-
de mais duradouras. Seus pais amavam muito seus 
29 
Diana Maria de Hollanda Belém 
filhos e a família era muito unida. Apesar disso, Ro-
gers sentia ciúmes das atenções excessivas que seus 
pais dedicavam a um de seus irmãos, a ponto de sen-
tir-se como um filho adotado. Sentia uma grande ad-
miração por seu irmão mais velho e mantinha boas 
relações com os mais novos. 
Aprendeu a ler precocemente. A leitura lhe dava 
grande prazer. ~ostava de ler, além da História, a Bíblia, 
história de índios e dos grandes desbravadores. Carac-
terizou-se como uma criança muito distraída, absorto em 
seu mundo, o que lhe valeu na escola o apelido de "Pro-
. fessor Luna". Seus pais passaram a se preocupar com o 
seu isolamento e solicitaram da escola uma licença para 
que Rogers pudesse viajar com seu pai, por três sema-
nas, a Nova Orleans, Virgínia e Nova York. 
30 
"Fui educado por uma família extremamente uni-
da onde reinava uma atmosfera religiosa e mo-
raI estrita e inteligente, e que tinha um verdadei-
ro culto pelo valor do trabalho. Os meus pais ti-
nham-nos um grande afeto e o nosso bem-estar 
era para eles uma preocupação constante. Con-
trolavam também o nosso comportamento, de 
uma maneira ao 'mesmo tempo sutil e afetuosa. 
Eles consideravam - e eu aceitava essa idéia -
que nós éramos diferentes das outras pessoas ... 
Tive uma enorme dificuldade em convencer os 
meus filhos de que, para mim, mesmo as bebi-
das não alcoólicas tinham um aroma de pecado, 
Lembro-me de meu sentimento de culpa quando 
bebi a mín/la plímeita limonada" (Rogers, 1961 
- p. 17). 
Carl Rog~rs : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
, , Sua vida no campo despertou nele interE!.sse ci-
entifiCo, Gostava de observar as formas de vida dos 
animais, notadamente das borboletas. Rogers acredi-
tava que esta sua vivência influenciou ' seu trabalho 
futuro. 
"Fiquei fascinado pelas grandes borboletas no-
tumas. Capturava com muito trabalho as bor-
boletas, cuidava das larvas, conservava os ca-
sulos ... experimentando assim algumas das 
alegrias e das frustrações do homem da ciên-
cia quando procurava observar a natureza, 
aprendendo como se orientam as experiênci-
as, como se comparam grupos de controle com 
grupos experimentais, como se tomam cons-
tantes as condições, variando os processos} 
para se estabelecer a influência de uma deter-
minada alimentação na produção de carne ou 
na produção de leite. Aprendi como é difícil 
verifica~ uma hipótese. Adquiri, deste modo, o 
conhecImento e o respeito pelos métodos ci-
entíficos atravésdos trabalhos práticos· "'(Ro-
gers, 1961, p. 18). 
. Co~frontava suas experiências com o que apren-. 
dia nos livros de seu pai. Foi excelente aluno, mas 
sem nenhuma experiência no trato social. 
. Ao concluir o High School, seu pai o mandou tra-
b~ltiar_em uma fazenda de seu tio. Nesta época, leu 
Victor Hugo, Dickens, Ruskin, Robert Stevenson e 
llIll [Os 
31 
Diana Maria de Hollanda Belém 
VIDA ACADÊMICA 
Em 1919, ingressou na Universidade de Wiscon-
sin para desenvolver seus estudos do "college". Esta-
va decidido a estudar agronomia. 
"Uma das coisas de que me lembro melhor era a 
veemência de um professor de agronomia, quan-
do se referia ao estudo e à aplicação dos fatos. 
Ele insistia na futilidade de um conhecimento 
enciclopédico em si mesmo e concluía: 'Não se-
jam um vagão de munições, sejam uma espin-
garda!'" (Rogers, 1961 - p. 18) 
Nesse período, participou de palestras e confe-
rências organizadas por um movimento religioso que 
tinha como objetivo evangelizar o mundo - o "Student 
Volunteers". Freqüentou, como atividade extracurricu-
lar, um grupo da Associação Cristã de Jovens, deno-
minado "Ag-Triangle", constituído por estudantes de 
Agronomia e liderado pelo prof. George Humphrey. 
Esse grupo caracterizava-se pela autonomia das pes-
soas,-cu~o que, âe mlcio, Hogers nao concordava, 
mas que terminou aceitando. 
Quando cursava o' 3º ano do "college", em 1921, 
Rogers foi nomeado delegado representante para as-
sistir a "World Student Christian Federation Conferen-
ce", na China, em 1922. Nesse período, entrou em 
contato com opiniões e maneiras de perceber o mun-
do diferentes. Sobre esse período Rogers afirmou: 
32 
Carl Rogers: d,o Diagnóstico à Abordagem Centrada ·na Pessoa 
"Emancipei-me pela primeira vez da atitude r eli-
giosa dos meus pais e vi que já não os podia 
seguir. Esta independência de pensamento pro-
vocou um grande desgosto e grandes tensões 
nas nossas relaçoes, mas, vistas as coisas à dis-
tância, compreendi que foi nesse momento, mais 
do que qualquer outro, que me tornei uma pes-
sqa independente. É claro que havia muita re-
volta e rebelião na minha atitude durante todo 
este período, mas a ruptura essencial ocorreu 
durante os seis meses da minha viagem pelo 
Oriente e, a partir de então, essa atitude confir-
mou-se fora da influência familiar" (Rogers, 1961 
- p. 19). 
Influenciado por suas experiências religiosas, 
abandonou a Agronomia e passou a estudar História 
com a intenção de se fazer pastor. Decidiu entrar no 
"Union Theological Seminary", em Nova York. Entrou 
no "Alpha Kappa Lambda, apesar da oposição de seus 
pais , e conheceu historiadores como Carl Russell , 
George Sellery e Eugene Byrne, que Rogers cita como 
tendo exercido influências sobre si. 
'DVrante os meus dois primeiros anos de colé-
gio alterou-se a minha vocação profissional em 
conseqüência de algumas muito apaixonadas 
reuniões de estudantes, sobre religiões - desisti 
da agricultura científica a favor do sacerdócio -
uma pequena mudança! Transferi-me então da 
agricultura para história, julgando que esta seria 
uma melhor preparação" (Rogers, 1961 p. 18). 
33 
CONTATO COM A PSICOLOGIA 
Rogers foi acometido por uma crise de úlcera 
no duodeno, mal de que ele padecia desde os 15 
anos de idade, tendo suspendido suas atividades 
para submeter-se ao tratamento e, nesse tempo, co-
meçou a acompanhar um curso de Introdução à Psi-
cologia,. por correspondência, ministrado pela Uni-
versidade de Wisconsin. Os-textos eram de Williàm 
James, sendo este o seu primeiro contato com a Psi-
cologia. Graduou-se em História, em 1924, e em 28 
de agosto desse mesmo ano, casou-se, contra a von-
tade dos pais, com Helen, que ele conhecia desde --
criança em Oak Park. 
Transferiu-se para Nova York e decidiu seguir 
a vida religiosa. Ingressou no "Union Theological Se-
minary", que era considerado o mais liberal, recu-
sando a ajuda que seus pais ofereceram para que 
ele ingressasse no "Princeton Seminary", que era 
da preferência deles. Viveu no seminário experiên-
cias muito boas por conta do ambiente de liberdade 
~ compreensão que caracterizava aquela instituição. 
Sentia respeito pelo diretor; a religião era mais libe-
rai e moderna e ali Rogers viveu pela primeira vez a 
não-diretividade. Ele 'conseguiu autorização da di-
reção do seminário para que os próprios estudan-
tes organizassem grupos de trabalho, nos quais eles 
. -mesmos, sem professor, elaboraram seus progra-
mas de estlldo, atendeooo aos sebls int9r.es-s . 
Ividuais. o 
34 
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Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
"Decidi entrar no ''Union Theological Seminary", 
nesse tempo o colégio mais liberal do país (1924) 
com o objetivo de me preparar para uma missão 
religiosa. Nunca me arrependi dos dois anos que 
aí passei. Estive em cantata com alguns gran-
des mestres e professores que tinham uma pro-
funda crença na liberdade de investigação e na 
busca da verdade levasse ela onde levasse .. . o 
que principalmente nos interessava era explorar 
as nossas próprias questões e as nossas própri-
as dúvidas e descobrir onde isso nos levava ... 
ele me conduziu para uma filosofia da vida que 
me era muito pessoal". (Rogers, 1961. p. 19) 
Em 1925, mudou-se para Vermont, onde assu-
miu, como estagiário, a função de pastor. No seminá-
rio, começou a freqüentar cursos de Psicologia e an-
tes de ab~ndonar a carreira eclesiástica, freqüentou 
cursos ministrados por W. H. Kilpatrick, sobre Filoso-
fia da Educação, passando a conhecer as idéias de 
John Dewey. Em 1926, transferiu-se para o Teachers 
College e deixou a carreira religiosa. 
"A maior parte dos membros do referido grupo, 
prosseguindo o caminho traçado pelas ques-
tões que levantaram, puseram de lado a idéia 
de uma vocação religiosa. Eu fui um deles. ( .. .) 
não poderia trabalhar no campo marcado por 
uma çJ~utrina .religiosa específica em que de-
via acreditar. As mí"f7aS'~renças já tinnam so-
en e, 
continuariam a mudar. Tornava-se para mim 
35 
Diana Maria de Hollanda Belém 
algo de horrível ter de professar um certo nú-
mero de crenças para me poder manter na pro-
fissão. Eu queria encontrar um campo no qual 
pudesse estar seguro de que a minha liberda-
de de pensa.mento não sofreria restrições" (Ro-
gers, 1961, p. 20). 
Sob a orientação de Leta HoUingworth, uma es-
pecialista em Psicologia Clínica, começou a trabalhar 
com crianças difíceis e, a partir daí, pensando em ser 
Psicólogo Clínico, dedicou-se à Psicologia Clínica e 
Educacional. Em 1927, graduou-se em "Master of Arts". 
Em 1928, recebeu o título de PhO em Psicologia Clíni-
ca pela Universidade de Columbia, na qual foi discí-
pulo, além de Leta HoUingworth, de Thorndike e Goo-
dwin Watson. Ainda sem terminar sua tese de douto-
rado no Teachers CoUege, Rogers inscreveu-se para 
um estágio remunerado, como psicólogo, no "Institute 
for Child Guidance", de Nova York. Este instituto era 
m~ntido pelo governo e tinha como objetivo desenvol-
ver pesquisas sobre o trabalho clínico com crianças 
difíceis. Conseguiu o estágio. O estágio era supervisi-
onado e ele, além de ter desenvolvido uma aprendiza-
gem sobre psicodiagnóstico, anamnese e psicotera-
piainfanril , en rou em contato com a teoria de Freud, 
diferente do 
"ponto de vista rigoroso, científico, friamente ob-
jetivo e estático" (La Puente, 1973, p. 39), 
do Teachers CoUege. 
36 
. I 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
"oo. mergulhou-me nas perspectivas dinâmicas de 
Freud, que me pareciam em profund~ conflito 
com as perspectivas estatísticas, rigorosas, ci-
entíficas e absolutamente objetivas, perspectivas 
que prevaleciam na ~scola Normal. Olhando para 
o passado, julgo que a necessidade de resolveresse conflito em mim mesmo foi uma experiên-
. cia extremamente valiosa. Nesse tempo tinha a 
impressão de viver em dois mundos diferentes e 
nunca os dois se irão encontra' (Rogers, 1961, 
p.21). 
Nesta instituição, entrou em contato com os con-
ceitos freudianos, radicalmente opostos aos pressu-
postos behavioristas e ao paradigma do modelo posi-
tivista, até então seguidos por ele. Começa o dilema 
Filosofia x Ciência. Rogers afirmou: 
':4 mudança no novo Instituto para a orientação 
infantil põe a ênfase em um freudismo eclético , 
contrastando tanto com o enfoque do Teachers 
College, que não parecia existir nenhum ponto 
de contato. Experimentei agudamente a tensão 
entre estas duas concepçõe~" (Gondra, 1975, p. 
22). 
. -
Este dilema da polaridade Filosofia/Ciência es-
teve presente em vários momentos, tendo como pri-
meira referência sua tese de doutorado. 
37 
Diana Maria de Hollanda Belém 
PSICÓLOGO CLíNICO 
Em 1928, estabeleceu-se como psicólogo clíni-
co no "Child. Study Departament of the Society of the 
Prevention of Cruelty to Children", de Rochester, que 
era uma sociedade protetora da infância e trabalhava 
com crianças enviadas por tribunais e serviços soci-
ais. Prestava atendimento a jovens delinqüentes por 
meia de. terapia breve e realizava encaminhamentos. 
Em 1930, é nomeado diretor dessa instituição. 
"Quando me lembro que aceitei este lugar não 
posso deixar de me sentir divertido e algo es-
pantado. A razão que me alegrava era a de ter 
encontrado um trabalho que eu gostaria de fa-
zer. . Segundo um critério de bom-senso era uma 
profissão sem saída, que me isolava de todo con-
tato profissional,. o ordenado era insuficiente, 
mesmo para aquela época, mas tudo isso, se bem 
me recordo, não me afetavé} grandemente. Julgo 
que sempre pensei que, se me fosse dada uma 
oportunidade de 'fazer uma coisa em que esti-
vesse interessado, todo o resto se resolveria por 
si mesmo" (Rogers, 1961, p. 21). 
Nesse período, o pragmatismo caracterizava o 
trabalhei de Rogers. A ele interessava saber se o que 
fazia funcionava. Em· sua formação no Teachers Col-
, 
em outras formas· de avaliação. -No processo de de-
38 
1 
I 
! 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
senvolvimento de seu trabalho foi ficando insatisfeito 
pois 
"não conseguia aceitar a parcialidade das avali-
ações feitas segundo determinadas escolas de 
psicologia ou modelos sociológicos" (Cury, 1993, 
p. 15). 
Considerava os métodos utilizados tendencio-
sos. Com relação à Psicanálise, apesar de reconhe-
cer a contribuição de Freud para a Psicologia, Rogers 
discordava em função da ênfase dada ao passado do 
cliente em detrimento das vivências atuais. Ele criti -
cou o seu uso em instituições por ser um processo 
longo e oneroso e criticou os psicanalistas por 
"não se mostrarem favoráveis a investigar seu 
método de trabalho através de pesquisas e ava-
liações" (Cury, 1993, p. 15). 
"Já sabia por experiência própria que este gêne-
ro de entrevista não podia ajudar nem a mãe nem 
a criança de uma forma duradoura. Isso levou-
me a compreender que me afastava de todo o 
método coercivo ou de pressão nas relações clí-
nicas, não por razões filosóficas, mas porque 
esses métodos de aproximação só muito super-
ficialmente poderiam ser eficazes ... só mais tar-
de me apercebi completamente - de que é o pró-
prio paciente que sabe aquilo de que sofre, em 
que direção se deve ir, quais os problemas que 
mente recâlcadas. Comecei a compreender que 
39 
' •• ,.0 • . '~ 
Diana Maria de Hollanda Belém 
para fazer algo mais do que demonstrar a pró-
pria clarividência e a minha a sabedoria, o me-
lhor era deixar ao paciente a direção do movi-
mento no processo terapêutico" (Rogers, 1961, 
p. 23) . 
Em 1937, as agências sociais de Rochester cria-
ram o "Rochester Guidance Center" e Rogers foi no-
meado seu diretór, apesar da forte oposição dos psi-
quiatras. Neste Centro, recebeu a visita de Otto Rank, 
um dissidente do Círculo de Viena, que estava nos 
Estados Unidos, na "Pennsylvania School of Social 
Work", na qual era responsável pela formação de as-
sistentes sociais. Rank foi convidado para um semi-
nário . e Rogers ficou impressionado com sua prática 
terapêutica, mais que com sua teoria. A ênfase dada 
por Rank era à relação terapêutica 
"como meio para que o paciente experimentas-
se uma aceitação maior de sua própria unicida-
de" (Cury, 1993, p. 15). 
Alguns ' colaboradores de Rogers, interessados 
10 trabalho de Otto Rank, foram fazer cursos no 
:Pennsylvania 5cnool of SoCial Work", de orientação 
·ankiana. Em Rochester, Rogers desenvolveu a ativi-
jade de terapeuta e foi professor na universidade. 
Começou a apresentar sua teoria sobre a psico-
erapia, que por ser original sofreu severas críticas. A 
lireção da universidade" não ficou satisfeita com seus 
:ursos, pois, segundo seus argumentos, o que Rogers 
!stava ensinando não era Psicologia. Nesta época, 
o I 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
" 
Rogers participou de reun iões no American Psycholo-
gical Association, que organizava conferências sobre 
o processo de aprendizagem. A ênfase era na apren-
dizagem animal e isto é que era considerado Psicolo-
gia. Rogers começou a ter dúvidas e passou a questi-
onar sua profissão de psicólogo. Uma coisa lhe era 
clara: seguir seus próprios interesses. Retomou suas 
. atividades de psicólogo na Fundação da "American 
Association for Applied Psychology", reativando seus 
cursos de Psicologia no Departamento de Psicologia 
e depois no departamento de Educação. Ainda em 
Rochester, Rogers fundou o "Guidance Center", de 
natureza privada e, em 1939, come resultado de seu 
trabalho, publicou seu primeiro livro: "The Clinical Tre-
atment of the Problem Child". 
UNIVERSfDADE DE OHIO 
Em 1940, aceitou o convite para ser professor 
da Universidade de Ohio. Rogers acreditou que esse 
convite deveu-se à publicação de seu livro. 
'Tenho a certeza de que a única razão de minha 
admissão foi ter publicada a minha obra Clínica I 
Treatment of the Problem Child que elaborara a 
custo durante o período de férias ou em curtos 
feriados. Para surpresa minha, e contrariamente 
à minha expectativa, ofereceram-me um lugar de 
41 
Diana Maria de Hollanda Belém 
professor efetivo ... senti-me muitas vezes agra-
decido por não ter sofrido o processo de compe-
tição, freqüentemente humilhante, de promoção 
grau a grau nas facUldades onde as pessoas tan-
tas vezes se limitam a aprender uma única lição 
- a de não mostrarem muito o que são" (Rogers, 
1961, p. 25). 
Lamentou deixar o cargo de diretor do "Roches-
ter Guidance Center" e mudou-se para Columbus, no 
Estado de Ohio. 
Em dezembro de 1940, proferiu uma conferên-
cia na Universidade de Minessota para uma Socieda-
de de Psicologia - Psi Chi -, onde apresentou suas 
idéias e considerou esse momento como o nascimen-
to da Terapia Centrada no Cliente. Nessa ocasião 
Rogers afirmou: 
42 
"O objetivo desta nova terapia não consiste em 
solucionar qualquer problema, em particular, mÇ1S 
sim auxiliar o indivíduo a crescer, a fim de que 
possa lidar com o problema atual, bem como os 
que vierem, de forma integrada" (Cury, 1993, p. 
18). 
"Quando procurei formular algumas dessas idéi-
as e as apresentei, deparei com reações extra-
ordinariamente fortes. Foi a minha primeira ex-
periência do fato de ser possível que uma das 
minhas idéias, que a mim me parecia brilhante e 
extremamente fecunda, pum~$$e represenial 
-para outrem uma grande' ameaça. E o fato de 
l-
I 
I 
I 
f 
· '~ '." .. ... - . -" '.. 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
me encontrar no centro da críticas, dos argumen-
tos a favor e contra, desorientou-me e fez-me 
duvidar e pôr questõesa mim mesmo. Todavia, 
pensava que tinha alguma coisa a dizer e redigi 
o manuscrito de Counseling and Psychotherapy, 
descrevendo o que, de alguma maneira, me pa-
recia ser uma orientação mais eficaz da Terapia" 
(Rogers, 1961, p. 25). 
Esta conferência, mesmo que muito criticada, 
tornou-se o segundo capítulo de sua segunda publi-
cação: "Counseling and Psychoterapy" , de 1942. 
Apresentou a nova" terapêutica e a primeira transcri-
ção de uma entrevista terapêutica registrada em mag-
netofone. O êxito comercial foi enorme. Desenvolveu 
cursos de formação de terapeutas , cuja procura pe-
los estudantes foi muito grande. Passou a orientar 
teses e seminários, sendo o primeiro psicoterapeuta 
a oferecer formação prática em psicoterapia para es- " 
tudantes. " 
"Nem Freud, nem outro algum", disse Rogers 
orgulhoso, "introduziu e praticou o aconselhamen-
to e a psicoterapia; nós fomos os primeiros a dar 
uma formação prática aos estudantes de Psico-
terapia" (La Puente. 1973, p. 42). 
Em 1943, fo i eleito presidente da "American 
Psychological Association"; exerceu a função de editor 
do "Journal of Counsulting Psychology" e de editor as-
slIr:iml!l d!) "ArPlied PSyd I! IllIgy MooIIgraphs" [lã IJm 
período difíci l no campo da evolução da Psicologia. 
43 
Diana Maria de Hollanda Belém 
Havia problemas no processo de formação de terapeu-
tas, tensão entre a Psicologia e a Psiquiatria na "Ameri-
:an Board of Examiners in Professional Psychology". 
JNIVERSIDADE DE CHICAGO 
Em 1945, Rogers foi convidado pela Universida-
le de Chicago para ensinar Psicologia e formar um 
:entro de "counselling". Permaneceu em Chicago até 
957. Este período vivido em Chicago caracterizou-
e conio sendo o de maior produção científica, quanto 
. elaboração de teorias e publicações. Sugeriu novos 
létodos educacionais e realizou grande número de 
lVestigações. Foi uma época de grande criatividade. 
:olaborou e orientou cerca de 30 teses para o grau 
e PhD em Psicologia, além das de mestrado. Em 
951, publicou "Client Centered Therapy", no qual 
"desde o prefácio baseia suas hipóteses sobre a 
relação terapêutica em observações de suas pró-
pri s experiências subjetivas ao estar em intera-
ção com o cliente" (Cury. 1993, p. 19). 
Apresentou de forma sistemática suas idéias. 
aborou a Teoria da Terapia, publicada por Sigmund 
)ch, em 1959. A nível administrativo, Rogers, em suas 
~stões, acreditou e aplicou os rrinnípios çle confian-
l na capacidade do indivíduo de se auto"geri r. Como 
';", 
' • • I," , - ,- .' , 
Carl Rogers : do ~iagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
professor, foi fiel a sua hipótese de base de que não 
se pode ensinar nada diretamente; só se pode facilitar 
a aprendizagem. Começou a aplicar os princípios da 
Terapia Centrada no Cliente em sala de aula. Traba-
lhou com pequenos grupos, desenvolveu um clima de 
liberdade, o que suscitou o interesse de seus alunos. 
Publicou, com a colaboração de seu staff em 1954 o 
livro "Psychoterapy and Personality Chan'ge": Pass~u . 
a ser reconhecido no Centro de Aconselhamento da 
Universidade de Chicago, incomodando ao Departa-
mento de Psiquiatria da Escola de Medicina desta 
Universidade, passa,ndo então a ser alvo de críticas 
dos médicos que dirigiam o "Billings Hospital". 
Em sua biografia, Rogers se referiu a períodos 
de crise sobre o seu fracasso terapêutico no tratamento 
de uma paciente portadora de esquizofrenia. À medi-
da que o distúrbio se agravava, Rogers começou a 
fragilizar-se e.pediu ajuda de um psiquiatra do Centro 
de Aconselhamento, Dr. Louis Cholden. Tirou férias 
de três meses e voltou a se submeter à terapia com 
um de seus colegas. Chegou a pensar em parar de 
cl inicar pois considerava-se 
"tão perturbado quanto as pessoas a quem pres-
tava ajuda" (Cury. 1993, p. 21). 
'Hefere-se a este período como de profundo 
amadurecimento e descobre posteriormente que 
todo aquele sofrimento servira para fortalecê-lo, 
torná-lo mais sensível e humano no contato com 
clientes e cOf'sigo fJlesmo, mais. consciente de 
seus próprios limites" (Cury. 1993, p. 22). 
45 
Diana Maria de Hollanda Belém 
UNIVERSIDADE DE WISCONSIN 
Em 1957, Rogers foi convidado pela Universida-
de de Wisconsin. Estando muito bem em Chicago, 
impôs condições para ser contratado, tais como: exi -
giu cursos nas faculdades de Psicologia e Psiquiatria, 
possibil idade de formar psicólogos e psiquiatras, pra-
ticar a terapia nas' investigações com pessoas "psicó-
ticas" e "normais". Para sua surpresa, a Universidade 
aceitou suas exigências e o contratou. 
No verão de 1957, Rogers se transferiu para 
Madison. Em setembro deste mesmo ano, apresen-
tou na "American Psychological Convention", de Nova 
York, uma conferência intitulada "A Process Concepti-
on of Psychoterapy", que foi publicada no livro "On 
Becoming a Person". 
Em 1956, Rogers foi eleito presidente da "Ameri-
can Academy of Psychoterapists", tendo permaneci-
do no cargo até 1958. Passou um semestre no Depar-
tamento de Educação desta universidade. Neste perí-
odo, estava desenvolvendo mais "rigidamente" um tra-
balho centrado no aluno, o que lhe causou grandes 
dificuldades com o Departamento de Psicologia no que 
diz respeito à forma de trabalhar com os alunos. Afir-
mou: 
46 
"Gosto de viver e deixar que os outros vivam, mas 
quando não permitem que meus alimos vivam, 
esta experiência se toma pouco satisfatória" (Ro-
ge!!;, 19m p 52) 
. . 
I 
I 
• ,. 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
Sobre este episódio, Fadiman (1969) comenta que 
"a crescente indignação de Rogers é captada no 
artigo 'Pressupostos Correntes sobre a Educa-
ção Universitária: uma exposição apaixonada"', 
cuja publicação no "The American Psychologist" 
foi proibida, o que não impediu sua distribuição para 
estudantes graduados. 
Desenvolveu um trabalho de pesquisa e prática 
clínica juntamente com médicos psiquiatras. Acredita-
va em uma equipe multidisciplinar no estudo da psico-
terapia e isto teria grande repercussão no campo da 
higiene mental. 
No período de 1962/63, desenvolveu, no "Cen-
ter for Advanced Study in the Behavioral Sciences", 
em Stanford, um estudo sobre a influência que sua 
psicoterapia poderia ter no tratamento de esquizofrê-
nicos hospitalizados. Estando em viagem, recebeu um 
comunicado de Eugene Gendlin e Donald Kiesler, seus 
colaboradores , informando que Charles Truax, um 
outro colaborador, estava 
"tentando sabotar todo o projeto de pesquisa, 
escondendo dados para uma futura publicação 
individual" (Cury. 1993, p. 25). 
Isso lhe causou sérios aborrecimentos, mas não 
o impediu de, em 1967, publicar o livro sobre a pes-
quisa com esquizofrênicos, intitulado: "The Therapeu-
tie Relatiofts aftd its Impact: a study oí psychoterapy 
with schizofreriics". Esta publicação de Rogers contou 
47 
Diana Maria de Hollánda Belém 
com a colaboração de Eugene Gendlin, Donald Kies-
ler e Charles Truax e apresenta uma descrição deta-
lhada dos procedimentos científicos utilizados, trans-
crições das sessões terapêuticas e análise dos resul-
tados, incluindo as experiências vividas pelos terapeu-
tas. 
Nesse período, em Wisconsin, Rogers foi eleito 
membro da "policy and Planning Board" da "American 
Psychological Association", na qual exerceu a função 
de editor do "Journal of Consulting Psychology". 
Em 1961, foi eleito "fellow" da "American Acade-
my of Arts and Sciences". 
Em 1962, foi agraciado com o "Certificate for 
Outstanding Research" da "American Personnel and 
Guidance Association"e recebeu o prêmio de "Distin-
guished contribution to the Science and Profession of 
Clinical Psychology". 
Em 1961, seu livro "On Becoming a Person" foi 
publicado em japonês. 
CENTRO DE ESTUDO DA PESSOA -
LA JOLLAlCALlFÓRNIA 
Em 1964, Rogers voltouà La Jolla, na Califórnia, 
3.0 "Western Behavioral Sciences Institute" (WBSI) . Ele 
:;ontribuiu para a fundáção deste instituto em 1958, 
)bjetivando a criação de um centro de pesquisa de 
)rientação humanista. Depois de muita insistência de 
~8 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
um dos fundadores do instituto, Richard Farson, e acre-
ditando que a universidade não mais lhe oferecia gr~n­
des oportunidades, Rogers aposentou-se da vida aca-
dêmica e, no verão de 1963, saiu de Wisconsin e re-
solveu residir na Califórnia, onde permaneceu até sua 
morte em 1987. Voltou a contribuir com o WBSI , na 
condição de "Resident Fellow". 
'~ principal contribuição dele para este instituto 
consistiu em um trabalho iniciado em 1966 com 
a colaboração de Willian Couison com a finalida-
de de investi9,ar a filosofia subjacente às ciênci-
as de comportamento" (Cury. 1993, p. 27). 
. Este trabalho resultou na publicação, em 1968, 
do livro "Man and the Science of Man". Terminou seu 
trabalho com os clientes "esquizofrênicos" e passou a 
trabalhar com clientes "normais". 
No WBSI, desenvolveu um projeto de grupos de 
encontro e dedicou-se a experiências com grupos cha-
mados "T-Group" e "Basic encounter group". 
Promoveu seminários com pessoas de várias 
procedências e realizou encontros para discutir sobre 
educação no "California Institute of Technology". 
Em 1967, Rogers publicou "On Encounter 
Groups", ' sistematizando os conhecimentos e experi-
ências nessa área. Publicou "Person of Person". Co-
meçou a sentir-se insatisfeito com as pressões admi-
nistrativas e com o procedimento dos pesquisadores 
do WBSI e terminou por demitir-se. Juntamente com 
mais 25 profissionais, formou o "Center for Studies of 
the Person" (CSP). 
49 
• ro. -., 0. 
Oiana Maria de Hollanda Belém 
Em 1970, vários projetos foram desenvolvidos no 
cSí=>, tais como: renovação para a educação, pesquisa 
do uso de droga por adolescentes, planejamento de 
conferências, desenvolvimento de um centro de pes-
quisa, comunidades, workshops, desenvolvimento de 
consciência através de encontros inter-raciais e o la 
Jolla Program para treinamento de facilitadores de gru-
po. Sistematizou suas experiências, apresentou propos-
tas para um Ensino Centrado no Aluno e publicou · o 
livro "Freedom to learn" (1970) . Passou a ser convida-
do para realizar palestras e assessorar instituições edu-
cacionais, o que lhe rendeu grande reconhecimento a 
nível nacional, como também em outros países das 
Américas, Europa e Ásia. Começou a desenvolver gru-
. pos integrativos e grupos de relações inter-raciais. 
Em 1977, veio ao Brasil. Realizou o primeiro 
workshop brasileiro, com cerca de 200 pessoas, na 
Aldeia de Arcozelo, em Pati de Alferes, no Rio de Ja-
neiro. Esteve mais duas vezes no Brasil. 
. Em 1980, publicou "A way of Being", no qual re-
lata seu sofrimento com o falecimento de sua esposa 
Helen, sua dificuldade em decidir continuar desenvol-
vendo seus trabalhos profissionais e sobre seu pro-
cesso de envelhecimento, 
50 
"de uma forma corajosa e bem humorada derru-
bou alguns mitos ao afirmar que aos setenta e cin-
co anos continuava sexualmente interessado nas 
-mulheres e intelectualmente motivado para dar 
prosseguimento a seus projetos, a despeito das li-
mitações impostas pelo corpo" (Cury, 1993, p. 33). 
Carl Hansom Rogers f-al€ceu em 1987. 
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I 
r-
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I 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
> 
NOTAS PESSOAIS. 
Rogers, em sua auto-biografia, sublinha ensina-
mentos que considerou de grande significado, mas não 
os apresenta como "receita". 
"Algumas coisas fundamentais que aprendi: 
- Nas minhas relações com as pessoas desco-
bri que não ajuda, a longo prazo, agir como se 
eu não fosse quem sou. 
- Descobri que sou mais eficaz quando me pos-
so ouvir a mim mesmo, aceitando-me, e quando 
posso ser eu mesmo. 
- Atribuí um enorme valor ao fato de poder per-
mitir-me a mim mesmo compreender uma outra 
pessoa, Compreender, precisamente, o que sig-
nifica· para e$sa pessoa o que ela está a dizer. 
- Verifiquei que me enriquece abrir canais atra-
vés dos quais os outros possam comunicar os 
seus sentimentos, a sua particular percepção do 
mundo. Eu posso, com a minha própria atitude, 
criar uma segurança na relação, o que torna muito 
mais possível a comunicacão. 
- É sempre altamente enrlquecedor poder acei-
tar outra pessoa e que não há nada mais fácil 
para aceitar verdadeiramente uma pessoa e os 
seus sentimentos do que compreendê-Ia. 
- Quanto mais aberto estou às realidades em mim 
e nos outros, menos me veio a tentar a todo cus 
to remediar as coisas. Quanto mais eu tento ou-
51 
..-
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Diana Maria de Hollanda Belém 
52 
vir-me e estar atento ao que experimento no meu 
íntimo, quanto mais procuro ampliar esta mes-
ma atitude de escuta dos outros, maior respeito 
sinto pelos complexos da vida. 
- Posso ter confiança na minha experiência. 
Aprendi que a minha apreciação totalorganísmi-
ca de uma situação é mais digna de confiança 
do que o meu intelecto. 
- A apreciação dos outros não me serve de guia. 
Os juízos dos outros, embora devam ser ouvidos 
e tomados em consideração pelo que são, nun-
ca me poderão orientar. 
- a experiência é para mim a suprema autorida-
de. Nenhuma idéia de qualquer outra pessoa, 
nem minhas próprias idéias têm a autoridade que 
reveste a minha experiência. 
- Sinto-me satisfeito em descobrir uma ordem 
na minha experiência - parece-me inevitável pro-
curar uma significação, uma ordem e uma legiti-
midade em toda a acumulação de experiência. 
- Aprendi que os fatos são amigos, Sinto que, se 
conseguir abrir um caminho através do proble-
ma, me aproximarei muito mais plenamente da 
verdade, O mínimo esclarecimento que consiga-
mes obter, seja em-que domínio for,- aproxima- -
nos muito mais do que é a verdade. 
- Aprendi que aquilo que é mais pessoal é o que 
há de mais geral. Acabei por chegar à conclusão 
de que aquilo que há de único e mais pessoal 
em cada um dé nós é o mesmo sentimento que, 
se fosse partilhado ou expresso, falaria mais pro-
fundamente dos outros. 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
- A experiência mostrou-me que as pessoas têm 
fundamentalmente uma orientação positiva ~ Aca-
bei por me convencer de que quanto mais um 
indivíduo é compreendido e aceito, maior tendên-
cia tem para abandonar as falsas defesas que 
empregou para enfrentar a vida, e para progredir 
numa via construtiva. 
- A vida, no que tem de melhor, é um processo 
que flui, que se altera e onde nada está fixado. 
Não posso fazer mais do que tentar viver segun-
do a minha própria interpretação da presente sig-
nificação da minha experiência, e tentar dar aos 
outros a permissão e a liberdade de desenvolve-
rem a sua própria liberdade interior para que pos-
sam atingir uma interpretação da sua própria 
experiência". (Rogers, 1961) 
.~ .... _-
53 
Diana Maria de Hollanda Belém 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CURY,' Vera Engler (1993) Abordagem Centrada na 
Pessoa: um estudo sobre as implicações dos tra-
balhos com grupos intensivos para a Terapia Cen-
trada no Cliente. Tese de Doutorado. Universidade 
de Campinas. São Paulo. 
FADIMAN, James e FRAGER, Robert. (1979) Teorias 
da Personalidade. Editora Harba. São Paulo. 
GONDRA, José M. Rezola (1975) La Psicoterapia de 
Carl R. Rogers: sus origines, evolucion y relacion 
con la Psicologia Científica. Editorial Espafíola. 
Desclée de Brouwer. Bilbao. 
LA PUENTE, Miguel de (1973) Carl R. Rogers: de la 
Psicoterapia a la Ensenanza. Editorial Razon y Fé. 
Madri. 
ROG ERS, Carl R. (1961) Tornar-se Pessoa. -Martins 
Fontes. São Paulo. 
ROGERS, Carl R. (1970) Grupos de Encontro. Mar-
tins Fontes.São Paulo. 
54 
CAPíTULO 2 
CARL ROGERS E OTTO RANK 
A partir de uma prática clínica e de contatos com 
diversas escolas de pensamento, Carl Rogers desen-
volveu sua psicoterapia. Dentre essas escolas de pen-
samento, que constituíram a Psicologia Humanista, 
havia um grupo de dissidentes freudianos do Círculo 
de Viena e, entre eles, Otto Rank, cuja perspectiva 
teórica consistia na valorização da vontade existenci-
al da pessoa. 
Rogers recebeu influência de Otto Rank através 
do grup,O "Social Workers", constituído em parte por 
psicólogos do "Philadelfia Child 6uidance Clinic" e da 
"Pennsilvania School .of Social Work", que adotavam 
em seus trabalhos os pressupostos da orientação 
rankiana. Tomou conhecimento da "Relationship The-
rapy" através da leitura das publicações do "Rankian 
Group" e de contatos com psicólogos desta orienta-
ção, como Taft, Allen, Robinson e outros. La Puente, 
em 1973, considerou que Otta Ra~k está nas origens 
57 
Diana Maria de Hollanda Belém 
do pens?mento de Rogers no que diz respeito aos prin-
cípios do processo terapêutico, mais que suas teori-
as. Rogers reconheceu essa influência quando afir-
mou que 
"um dos impactos mais fortes que recebi na-
quela época foi o do pensamento de Otto 
Rank, o qual chegou a mim de um modo fun-
damentalmente indireto. ( .. .) A ênfase em res-
ponder aos sentimentos do cliente -nas'ceu . 
desta corrente de pensamentos" (La Pu ente, 
1973, p. 51). 
Em 1939, Rogers publicou seu primeiro livro-
Tratamento Clínico da Criança Problema -, apresen-
tando métodos de diagnóstico e de tratamento. Re-
feriu-se ao método proposto pela Terapia da Rela-
ção ou Terapia Passiva, de orientação rankiana. Este 
método diferia dos demais e caracterizava-se pela 
ênfase na relação terapêutica como elemento pri-
meiro no processo terapêutico e pela crença de que 
o homem é o 
"artesão do seu destino" (Gondra, 1975, p. 23), 
significando a autonomia e integridade do indivíduo, o 
que coincidiu com os princípios defendidos por Ro-
gers. 
58 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
'. 
TERAPIA DA RELAÇÃO - OTIO RANK 
A Terapia da Relação ou Terapia Passiva, de-
senvolvida por Otto Rank, era aplicada para tratar pais 
cujas atitudes criavam problemas para os filhos. Ro-
gers considerava difícil definir claramente o processo, 
podendo, apenas, mencionar algumas características. 
... "muitos que defendem esta forma de terapia 
pensam em tratar-se de um processo não-inte-
lectual, que' não pode ser bem- aprendido, mas 
precisa ser experimentado ou sentido para ser 
captado." (Rogers, 1939, p. 179). 
Os elementos constitutivos deste processo são; 
.. aplica-se somente naqueles pais que desejem ser 
ajudados, o que nem sempre é fácil o terapeuta jul-
~-OU determinar, a não ser que o indivíduo possua 
considerável desejo de se modificar, então ele esta-
rá apto para este tipo de terapia; 
.. um clima, uma "atmosfera" criada pelo terapeuta, 
na qual haja aceitação dos pais, ausência de críti-
ca, recusa em impor aos pais qualquer programa 
ou recomendação e pela total recusa em respon-
der a perguntas, exceto quando os pais realmente 
desejarem uma resposta e forem incapazes de 
encontrá-Ia sozinhos; 
.. efeito desse relacionamento sobre os pais pode ser 
aceitação de si. 
59 
Diana Maria de Hollanda Belém 
Desse modo, no ambiente livre e os pais expres-
sando sentimentos sem defesas ou racionalizações, 
chegam a esclarecer sentimentos e pensamentos e 
a se compreenderem mais claramente; 
• confiança por parte do terapeuta nos próprios pais 
para determinarem independentemente o modo de 
lidar com a criança. 
Não há no' curso de ação para os pais nenhuma 
influência em suas decisões, embora o ob.je_tivo do te-
rapeuta seja ajudá-los a esclarecer suas idéias e refle-
tir sobre o significado e importância de suas escolhas. 
O objetivo da Terapia Passiva é propiciar aos pais 
um grau mais elevado .de integração e auto-realiza-
ção em função da criança. Neste momento, Rogers 
considerou que seri~ 
"difícil em qualquer circunstância de determinar 
a efetividade desse método de tratamento das 
atitudes dos pais. Seus seguidores parecem en-
tusiasmados e, como seus critérios são medidas 
amplamente intangíveis, uma medida de suces-
so é de fato muito difícil. É improvável que qual-
quer estudo seja realizado. Seu julgamento será 
- ----tei, tu-Iemo e a sua importância está no caráter 
inovador de não interferência e confiança na pró-
pria tendência do indivíduo em direção ao cres-
cimento. ( ... ) Como o processo é lento e mudan-
ças sutis são mais significativas que qualquer 
técnica intelectual empregada, é difícil oferecer 
exemplos adequados. Só há registros." (Rogers, 
1939, p. 182). o 
60 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
A ênfase da Terapia da Relação era numa con-
cepção da pessoa como "artesã de seu próprio desti-
no", em detrimento à Psicanál ise clássica, baseada 
na interpretação. Insistia na independência e integri-
dade do indivíduo. 
Apresentava um caráter voluntário e livre signifi-
cando que só se aplica às pessoas que procuram vo-
o luntariamente a terapia e sentem necessidade de se-
rem ajudad'as. Insistia na eficácia curativa da relação 
interpessoal e acentuava o valor terapêutico da situa-
ção presente e das reações do cliente frente ao tera-
peuta. 
Acreditava na vinculação emocional sufici-
entemente controlada entre terapeuta e cliente, 
cabendo ao terapeuta se manter um tanto dis-
tante do cliente e este desenvolvia uma confian-
ça que o levaria a expressar pensamentos e sen-
timentos . 
O terapeuta criaria um clima de liberdade, possi-
bilitando ao cliente experimentar e reconhecer com li-
berdade suas próprias atitudes. 
Os efeitos da Terapia da Relação consistiam 
na clarificação dos próprios sentimentos e pensa-
mentos e em uma aceita~ão plena de si mesmo. 
Era considerado mais profundo que um simples 
insight. O terapeuta confi a no cliente, não pres-
crevendo e não impondo nenhuma conduta e a si-
tuação terapêutica por si só , constituirá uma 
aprendizagem que ens ina ao cliente viver em re-
lação. 
61 
Diana Maria de Hollanda Belém 
AFINIDADES DE ROGERS 
COM A TERAPIA DA RELAÇÃO 
o caráter voluntário e livre, a insistência na efi-
cácia curativa da relação interpessoal, a vinculação 
emocional suficientemente controlada, a criação de 
uma atmosfera de liberdade, a clarificação dos senti-
mentos e pensamentos, o fato do momento terapêuti-
co constituir-se em uma aprendizagem e a crença na 
capacidade do cliente são as características básicas 
da Terapia da Relação, com a qual Rogers passa a 
identificar-se. 
Em 1939, Rogers reconhece e afirma sobre a 
Terapia da Relação que 
"seu principal valor pode estar não no percentual 
de casos ajudados, e sim no ponto de vista sau-
dável da não interferência e confiança na ten-
dência e crescimento próprios da pessoa acen-
tuado por esta terapia. (...) a Terapia da Relação 
tem sido útil para fazermos valer a opinião mais 
realista dé que o indivíduo em dificuldade é o mais 
capacitado para determinar o grau de normali-
dade pelo qual pode andar confortavelmente." 
(Gondra, 1975). 
Em sua prática como terapeuta, ao longo dos 
anos, Carl Rogers testava, com desconfiança, a efici-
Sua experiência cl ínica possibilitou re.conhecer que 
62 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
"estava me distanciando de uma relação clínica 
deenfoque coercitivo e altamente especulaUvo, 
não por razões filosóficas e sim pela ineficácia 
de tais enfoques, que só em aparência se mos-
tram eficazes." (Gondra, .1975). 
No que diz respeito à Terapia da Relação, Ro-
. gers não só valorizou a ênfase desta terapia na auto-
nomia da pessoa, como em sua insistênciano valor 
da relação emocional. 
"Em primeiro lugar, está a ênfase saudável na re-
lação pessoai como fundamento p~imordial da edu-
cação e reeducação emocional. E indubitável que 
o psicólogo tem se mostrado sempre um pouco 
temeroso de utilizar em seu trabalho terapêutico 
as forças emocionais da mesma maneira que as 
intelectuais e tem tido medo de servir-se do vín-
culo emocional que se desenvolve entre o tera-
peuta e o cliente. Estamos frente a um novo desa-
fio a explorar as possibilidades do encontro emo-
cionaI entre os indivíduos." (Gondra, 1975) 
Rogers reconhece que 
"um dos impactos mais fortes que recebi naque-
la época foi o do pensamento de Ofto Rank, o 
qual chegou a mim de um' modo fundamental-
mente indireto. Tínhamos em Rochester uns as-
sistentes sociais da Escola da Filadélfia, de ori-
I , 
seminário frutifera e interessanté qu.e durou dois .,.'- , . 
63 
Diana Maria de Hollanda Belém 
dias. Depois de tudo, creio que a ênfase em res-
ponder aos sentimentos do cliente nasceu desta 
corrente de pensamento." (Gondra, 1975). 
Em 1969, Rogers, referindo-se às influências da 
Terapia da Relação na elaboração de sua psicotera-
pia, afirmou: 
"Entre 1937 e 1941, cheguei a contagiar-me com 
as idéias.rankianas e comecei a reconhecer a pos-
sibilidade de que o indivíduo fosse autodiretivQ. 
Realmente fiquei fascinado pelas idéias de Rank, 
porém não aceitei totalmente, tendo em vista que 
abandonei Rocl7ester. " (Gondra, 1975, p. 31). 
Gondra, em 1975, considerou que 
"as simpatias rogerianas por esta escola nos 
permitem afirmar a íntima conexão entre ambas 
as terapias" (p. 23) . 
Segundo Cury, 
"o interesse despertado em Rogers pelo traba-
---lho conduzi-do-por aqueles assistentes sociais 10----
calizou-se em dois aspectos específicos: primei-
ro, a ênfase colocada por eles na vontade positi-
". 
va do paciente como fonte de crescimento pes-
soal , e, segu'ndo, o foco do atendimento voltado 
para a relaçãó interpessoal estabelecida pelo 
profissional e não para .a -obtenção do 'insight' 
sobre os conteúdos." (1987, p. 11). .. .. - -.•. 
64 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
~ 
DIVERGÊNCIAS DE ROGERS COM A TERAPIA 
DA RELAÇÃO 
Apesar destas afinidades, Rogers discordou radi-
calmente do ca!áter extra-científico desta terapia, do mis-
ticismo (intuição) que a envolvia, da ausência de uma 
técnica que possibilitasse universalizar o processo e da 
intenção de colocar a psicoterapia no campo das artes. 
Criticou a ausência de uma técnica concreta, delimitada, 
objetiva e específica em favor de uma técnica geral que 
restringia a sua utilização àqueles terapeutas que já pos-
suíssem uma certa orientação filosófica. 
Todo método terapêutico possui sua técnica es-
pecífica e a Terapia da Relação parecia estar subordi-
nada a uma filosofia, o que era muito diferente de tudo 
que Rogers conhecia até então. Com isso, o uso da 
Terapia da Relação se restringia a poucos terapeutas. 
Em 1937, referindo-se a Otto Rank, Rogers afirmou: 
"sem tentar uma descrição mais completa, gos-
taria de deter-me na atitude do psicólogo dessa 
escola de pensamento. Em primeiro lugar, o psi-
cólogo não pode estar conformado com o fato de 
que esta relação, sejam quais forem seus resul-
tados, seja um processo que vai mais além da 
compreensão. Se é um processo, é possível ana-
lisá-Ia e descrevê-lo. Se produz resultados, como 
penso que a maioria de nós estaríamos a admi-
tir, chegará algum dia em que seja possível medi-
los." (Gondra, 1975) 
65 
Diana Maria de Hollanda Belém 
Não aceita as pretensões "místicas" da Terapia 
da Relação nem a ausência de um rigor e métodos 
científicos. Não aceita a ausência de uma técnica e a 
pouca insistência dos rankianos neste sentido já que· 
a Terapia da Relação "repousa" nas atitudes do tera-
peuta e não sobre técnicas universais e sua aplicabi-
lidade é restringida, e só é útil para aqueles terapeu-
tas que possuam uma determinada orientação filo-
sófica. 
"O uso da Terapia da Relação depende de um 
certo ponto de vista e de uma filosofia (. . .) Não 
se pode tomar-se ou desejar-se como uma fer-
ramenta mecânica de tratamento " (Rogers, 
1939) 
Rogers resiste à pretensão da Escola da Filadél-
fia que desejava colocar a psicoterapia no campo das 
artes. 
Diante do excessivo subjetivismo da Terapia da 
Relação, Rogers tem a grande esperança de elaborar 
técnicas terapêuticas capazes de ser utilizadas por 
todos os terapeuta e de descobrir uma ordem cons-
tante no processo da psicoterapia e poder medir seus 
resultados. 
Quando recebe o impacto da ideologia rankiana, 
Carl Rogers já intuía um processo universal dentro da 
psicoterapia, 
66 
'Já estava começando a sentir uma ordem den-
tro da f}xp~tt~ncia." (Gon€1ra, 7975) I· 
Carl Rogers : do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
Em 1937, 
" .. . o psicólogo clínico está tomando e tomará 
muitas coisas da Escola da Terapia Passiva". Pro-
vavelmente não adotará sua ideologia rankiana ... 
Assim, tampouco é provável que aceite o misti-
cismo nem o culto aos seus fundadores. Porém, 
se aproveitará muito da ênfase saudável na inte-
gridade individual, na capacidade de independên-
cia e eleição do indivíduo e em seu reconheci-
mento da importância na relação pessoal no tra-
tamento." (Gondra, 1975) 
Gondra considera a Terapia da Relação como 
ponto inicial de partida para a psicoterapia de Carl 
Rogers, que dela tomará a premissa f ilosófica fun-
damentai e elaborará uma teoria ci entífica da te-
rapia. 
Rogers, em sua psicoterapia, tentará, antes de 
tudo, que seja uma ciência e não uma arte como que-
ria os rankianos. Nesta ocasião, se vê diante do sub-
jetivismo da Terapia da Relação e do objetivismo de 
sua formação científica. Pretendia elaborar técnicas 
terapêuticas que pudessem ser utilizadas por qualquer 
terapeuta. 
67 
Diana Maria de Hollanda Belém 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CURY, Vera Engler (1987) Psicoterapia Centrada na 
-Pessoa: Evolução das Formulações sobre a Rela-
ção Terapeuta-Cliente. Dissertação de Mestrado. 
USP. São Paulo. 
GONDRA, Jósé M. Rezola (1975) La Psicoterapia de 
Carl R. Rogers: sus origines, evolucion y relacion 
con la Psicologia Científica. Editorial EspaFíola. 
Desclée de Brouwer. Bilbao. 
HART, Joseph e ai (1970) New Direntions in Client 
Centered Therapy. New York. Houghton Mifflin. 
ROGERS, Carl R. (1973) Psicoterapia e Consulta Psi-
cológica. Martins Fontes. São Paulo. 
ROGERS, Carl R. (1979) Tratamento Clínico da Cri-
anca Problema. Martins Fontes. São Paulo. 
68 
CAPíTULO 3 
TERAPIA NÃO-DIRETIVA - 1940/1950 
1 º Período da Psicoterapia 
Centrada no Cliente 
I 
I 
Acreditando em sua formação científica, Rogers 
começou a desenvolver uma psicoterapia científica 
dentro do paradigma "Se-Então" do modelo empirista. 
Iniciou a gravação, em magnetofone, das entrevistas, 
objetivando a criação de uma técnica mais que uma 
teoria, embora ele, nesta época, afirmasse: 
"Já estava começando a sentir uma ordem den-
tro da experiência" (Gondra, 1975, p. 27). 
Em seus escritos, neste período, ele admitia que a ela-
boração de uma teoria não o interessava. 
"Devido a pouca certeza existente em relação aos 
métodos e resultados terapêuticos, existe uma 
grande tentação de construir complicadas hipó-
teses com muito pouco fundamento prático. 'Fa-
71 
Diana Maria de Hollanda Belém 
rinto das teorias desenvolvidas pelas mais diver-
sas escolas de pensamento" (Gondra, 1975, p. 
28). 
Fazer ciência, para Rogers, nesta ocasião, era ir aos 
fatos, analisar de forma científica o processo da tera-
pia, medir seus resultados e, a partir daí, desenvolver 
técnicas acessíveis ao método científico. 
Em 1940, publicou um artigo sobre "Os proces-
sos da terapià" eisto é considerado o primeiro mo-
mento da análise científica da psicoterapia. Este arti-
go tem uma importância histórica na medida em que 
apresentou todo o esquema da Psicoterapia Não-Di-
retiva, a primeira descrição do processo terapêutico à 
luz da ciência. 
"Se a Psicologia Aplicada há de conseguir o 
status que deseja, se quer ter respostas ade-
quadas aos problemas das relações huma-
nas tão urgentemente necessárias no mun-
do em comoção, então será preciso promo-
ver muito mais estudos e esforcos nesse cam-
po dinâmico da terapia" (Rogers, 1973, p. 
164). 
Nes-t-e- momentn;-~ogers supera a Terapia da Rela-
ção, anuncia o nascimento da Terapia Não-Diretiva e 
prenuncia o desenvolvimento da Psicoterapia Centra- . 
da no Cliente. 
. A Terapia Não-Diretiva constitui-se como o pri-
meiro momento do desenvolvimento da Psicotera-
pia Centrada no Cliente. Compreendeu o período 
de 1940 a 1950, iniciando aí sua primeira et?pa 
72 
Carl Roger~: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
histórica. No momento em que Rogers desenvol-
veu uma técnica, descreveu a terapia numa pers-
pectiva científica, considerando o processo de au-
todeterminação e independência do cliente , surgiu 
a Psicoterapia Não-Diretiva. Suscitou questiona-
mentos às terapias da época, como também do 
papel do terapeuta. Apresentou a importância da 
não interferência do terapeuta no processo e o res-
peito pelo cliente, como pontos a serem conside-
rados. A direção do processo, até então, cabia ao 
terapeuta e, nesta psicoterapia isto não ocorreria. 
Era não-diretiva na medida em que o terapeuta pro-
punha-se a atuar sem dar "diretivas ao cliente". A 
técnica funcionava como instrumento. Distinguiu 
três aspectos que deveriam ser considerados no 
processo: o ambiente terapêutico, o comportamento 
do terapeuta e a técnica de clarificação, que possi-
bilitaria ao cliente expressar sentimentos e emo-
ções. 
Em 1940, na Universidade de Ohio, ele apresen-
tou seu método terapêutico, resultado de seu trabalho 
em Rochester, sendo criticado por alunos e professo-
res. Isto o ajudou a repensar seu método e em sua 
biografia afirmou: 
"Foi ao tentar ensinar a estudantes gradua-
dos na Universidade do Estado de Ohio acer-
ca do tratamento e do conselho, quando co-
mecei a reconhecer pela primeira vez que se-
quer havia elaborado um ponto de vista pró-
prio e característico" (Gondra, 1975, p. 31). 
73 
Diana Maria de Hol/anda Belém 
Psicoterapia consiste numa 
"relação muito estruturada, muito permissiva, que 
permite ao cliente uma compreensão de si mes-
mo tal que o capacite para empreender ações 
positivas à luz de uma nova orientação" (Rogers, 
1973, p. 18). 
Atendia ao modelo científico do Se-Então, ou seja: 
"Se se consegue uma relação determinada, 
então desenvolve-se um processo terapêuti-
co ordenado e consistente, um processo cha-
mado terapia que se desenvolve espontanea-
mente quando se põem condições necessári-
as e que pode ser estudado mediante a análi-
se e investigação científica" (Gondra, 1975, 
p.43). 
É uma relação emocional entre o cliente e o terapeu-
ta, que requer por parte deste, interesse, aceitação e 
acolhida para com o cliente. É um vínculo afetivo mas 
com limites definidos, o que Rogers denominou de 
"identificação controla9a". 
74 
"O terapeuta fará melhor em confrontar-se 
abertamente ao fato de que até certo ponfo 
se vê envolvido. emocionalmente, porém que 
tal compromisso deve ser estritamente limi-
tado para o bem do pacient~ " (Rogers, 1973, 
.87. 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
Esses limites são verdadeiros para o cliente e}~a~~ o 
terapeuta. O cliente tem limites nas ações, na medida 
em que estas possam causar danos ~ .outras pesso-
as, e no tempo determinado pelo horano. 
"Cometemos um grande erro em supor que os 
limites são um obstáculo para a terapia. Tanto 
para a criança como para o adulto, um do:, ~Ie­
mentos vitais que fazem da situação terapeutlca 
um microcosmo em que o cliente pode encontrar 
todos aqueles aspectos fundamentais que carac-
terizam a vida em seu conjunto, e os pode con-
frontar-se abertamente e se pode adaptar-se a 
eles" (Rogers, 1973, p. 89). 
o PROCESSO TERAPÊUTICO 
No que diz respeito ao processo, caberia ao ~e­
rapeuta procurar estabelecer ini~i~.lmente a rela?ao 
terapeutica. Ao cliente são posslb"ltad~s .determlna-
das condições que são consideradas baslcas ~o de-
senvolvimento do processo. O terapeuta seleclo~ava 
os clientes obedecendo a critér~os clínicos . O cliente 
deveria apresentar seus conflitos; ter uma certa capa-
cidade para confrontar-se consigo m~smo ; ter o dese-
jo, ao menos inconsciente, de ser, aJu~ado pela tera-
em' relação ao controle familiar; estar livre de instabili-
75 
. . .. __ . ..... u uel~111 
da~~s , especialmente · de causas 'orgânicas; possuir 
suficiente inteligência para poder confrontar-se Com 
seus problemas; atender à faixa etária de dez a ses-
sent~ anos. Atendendo a estas condiçôes, o cliente 
estana a~t~ a se submeter ao processo terapêutico, 
que consistia em três momentos fundamentais: a ca-~arse, o i~si~ht e as etapas finais. Seria utilizado para 
ISSO as tecnlcas não diretivas com o objetivo de facili-
tar a expressão dos sentimentos e romper as defesas. NesS~ . ~~?Sifio, o cliente libertar-se-ia dos sentimen-f~s e atitudes reprimidas, passaria a explorar a situa-
çao de modo mais adequado e começaria a entrar em 
contato consigo mesmo Com menos, ou sem defe-
sas. Passaria a aceitar-se. Segundo Rogers, ' 
': .. em Ivgar da angústia, preocupação e senti-
mentos de falta de valor, o cliente desenvolveria 
uma aceitação de suas forças e de suas debili-
dades como ponto de partida confortável para o 
progresso de sua natureza" (1973, p. 172). 
. Rogers considerava a c~tarse como tendo, por 
SI r:n~sma, um "alto valor terapêutico" e poderia ser 
suficiente para casos em que a terapia não pudesse 
prolongar-se por muito tempo. .' 
. c?rrida a catarse, o processo terapêutico dar-
se-Ia a n.,vel mais profundo, significando para o cliente 
uma malar percepção de si mesmo. Rogers conside-
rava como segunda etapa do processo o "insight", 
mesmo reconhec~ndo ser imposs ível separá-lo da 
catarse. 
76 
Carl Rogers: do Diagnóstico à Abordagem Centrada na Pessoa 
'> 
"Consideramos estas novas percepções que cha-' 
mamos .de 'insight' e reconhecemos, se-mo dúvi-
da, que são inseparavelmente unidas e se fun-
damentam na experiência da catarse" (Rogers, 
1973, p. 174). 
"Insight" na perspectiva rogeriana não se con-
ceituàva como um simples conhecimento intelectual. 
Deveria vir acompanhado da catarse, pois, caso con-
trário, não apresentaria nenhum valor terapêutic.~ . 
Surgia espontaneamente, embora pod~n~o ser facili-
tado por técnicas terapêuticas . Consistia em uma 
aprendizagem cOm aplicações afetivas, muitas vezes 
difícil de verbalizar. 
"Tratando do 'insight', (. . .) compreende a reorga-
nização do camp~ perceptual. Consiste er:'! v~r 
novas relações. E a integração de expenencla 
acumuiada. Significa uma reorientação de 'si 
mesmo'. Todas essas frases parecem ser verda-
des. Todas insistem no fato de que o 'insight' é 
essencialmente um modo novo de perceber" (Ro-
gers; 1973, p. 206). 
A percepção das relações ocorre entre fa~os 
conhecidos e só é possível com a catarse. Na aceita-
ção de si 'mesmo, a percepção das relações se dá entre 
os impulsos próprios e o si mesmo. Neste .m~mento 
seria necessário conhecer os impulsos repnmldos. O 
"insight", propriamente dito, inclui um ~emento de na-
tureza volitiva. 
77 
Diana Maria de Hollanda Belém 
"Há outro elemento incluído dentro do 'insight' 
que tem sido pouco reconhecido. O 'insight' au-
têntico inclui a eleição positiva de metas mais 
satisfatórias" (Rogers, 1973, p. 208). · 
"Uma compreensão

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