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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA CAMPUS PAULO FREIRE André Monteiro José Antônio Souza Vital Leonardo Fernandes Pábula Oliveira dos Santos Tatiana Fraga Fonseca Bases psicossocioculturais da saúde: Transtorno depressivo Teixeira de Freitas – BA 2015 2 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 3 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA ............................................................................................................ 4 BASES BIOLÓGICAS ........................................................................................................................... 6 BASES PSÍQUICAS ............................................................................................................................... 8 BASES SOCIOCULTURAIS ............................................................................................................... 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................ 13 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 14 ANEXOS............................................................................................................................................... 16 3 APRESENTAÇÃO Este trabalho irá discutir sobre os determinantes psicossocioculturais do transtorno depressivo, desenvolvido através de revisão bibliográfica, utilizando artigos, dissertações, teses, sites governamentais, bancos de artigos em saúde, entre outras fontes que nos deram suporte para que a atividade fosse realizada. JUSTIFICATIVA Este trabalho foi realizado para cumprir pré-requisito parcial no componente de Bases Psicossocioculturais da Saúde, com o tema escolhido pelos componentes do grupo e supervisionado pelo professor Dr. Marcelo Andrade. INTRODUÇÃO Definir saúde implica-se numa tarefa multifacetada que engloba vários fatores e setores da atividade humana. A OMS/WHO (Organização Mundial da Saúde/ World Health Organization) a define como “um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doenças”. A Constituição Federal de 1988, vigente até hoje, diz no artigo 196 que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação”. A depressão ou transtorno depressivo está envolvido tanto na esfera biológica quanto na esfera da psique humana, intervindo negativamente no contexto da saúde. Diferente da chamada tristeza passageira, sentimento normal em algumas épocas da vida, a depressão não é como uma dor que dá e passa, ela afeta a relação da pessoa com si própria e com a sociedade em geral. Esse transtorno pode durar meses e até anos sem um tratamento adequado (ABP, 2012). 4 Depressão é uma síndrome clínica comum de causa multifatorial. Pode ser desencadeada por problemas psicológicos ou emocionais de origem variada, alterações do funcionamento cerebral ou de algumas partes do cérebro e, ainda, ser secundária a enfermidades clínicas (Duailibi et al., 2013 apud. Neira, 2013). Dentre as combinações possíveis de transtornos depressivos, associados ou não a outros tipos de transtornos, podemos indicar três principais que acometem a população mundial, que são: a depressão maior, a distimia ou depressão leve e o transtorno bipolar, também chamado de maníaco-depressiva (ABP, 2012). A depressão grave ou maior pode ser considerada na atualidade, a principal causa de incapacitação no mundo todo, ocupando a quarta posição no ranking das dez principais causas de patologia. Segundo projeções, a depressão será nos próximos 20 anos, a segunda principal causa de doenças no mundo (WHO, 2002). “A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que hoje, no mundo, 350 milhões de pessoas vivam com depressão. As mulheres são mais afetadas, e 1 a 2 em cada 10 mulheres têm depressão pós-parto” (WHO, 2015). PROCESSO SAÚDE-DOENÇA O entendimento de realidade hoje tem como base as primeiras relações objetais, sendo que essas funcionam como exemplo, ou modelo para todas as relações futuras. Vista como a doença da sociedade moderna, a depressão se caracteriza por traduzir uma patologia grave ou apenas mais um sintoma do indivíduo frente a uma situação real de vida, ou seja, suas características podem determinar uma melancolia em si ou ser um sintoma de outra patologia (Esteves & Galvan, 2006). Atualmente a classificação do DSM-IV e o CID-10 apoiam o estabelecimento de um diagnóstico a partir de critérios que levam em consideração as manifestações sintomáticas dos quadros. Contudo, a ideia dos Manuais Diagnósticos coloca ao profissional duas dificuldades. A primeira seria que a psicologia e a psicanálise não restringem o diagnóstico apenas às manifestações biológicas. A segunda, que não se pode avaliar o sujeito sem levar em consideração a subjetividade. Cada ser humano possui seu próprio campo subjetivo que é dado graças as suas vivências, experiências e dos determinantes sociais e biológicos. Sendo assim, os sintomas dependem da subjetividade de cada um, que é constituída a partir da realidade existencial, das conveniências psíquicas, relações objetais, formando a percepção da 5 realidade fazendo ou não pessoas tristes, felizes, melancólicos ou maníacos (Esteves & Galvan, 2006). É visível que o ser humano quanto mais tem, mais ele quer. Por isso, com o passar dos anos o sofrimento dos indivíduos vem aumentando mais. A tecnologia, o capitalismo, a forma como as coisas são divulgadas na mídia, ajuda a manipular a ideia do ter. Pessoas quando não alcançam seus objetivos, acabam se frustrando. Percebe-se que o ser humano não tem resistência a frustrações quando um indivíduo, independente de sua personalidade ser normal ou patológica, fazendo com que essas perturbações sejam curadas com medicamentos, na maior parte dos casos. As formas de experiências vividas, juntamente com o desespero é uma condição humana para não deixar essas perturbações afetarem seu comportamento (Lopes, 2005). Os estados afetivos angustiados e deprimidos, por exemplo, podem desencadear uma cascata de mudanças adversas no funcionamento endócrino e do sistema imune e cria uma maior susceptibilidade a uma série de doenças físicas. O comportamento de uma pessoa em matéria de saúde depende muito da sua saúde mental. Por exemplo, indícios recentes vieram mostrar que os jovens com problemas psiquiátricos, como a depressão e o abuso de substâncias, têm mais probabilidades de se tornarem fumadores e ter um comportamento sexual de alto risco (WHO, 2002). A depressão apresenta-se de múltiplas formas, com queixas psíquicas, como: humor depressivo, anedonia, ideias de autodesvalorização e culpa, ideias de morte e suicídio, fadiga, sensação de perda de energia, diminuiçãoda concentração, memória e capacidade de decidir, além de queixas somáticas, como: aumento ou diminuição de sono, apetite e peso, diminuição da libido, dores sem substrato orgânico. Podem ocorrer também alterações no comportamento tais como retraimento social, crises de choro, abandono de atividades habituais e do cuidado próprio, comportamento suicida, retardo ou agitação psicomotora (DEL PORTO, 2000). “Em adolescentes pode ocorrer mau humor, irritabilidade, falta de motivação, sentimentos de tédio e prejuízo no rendimento escolar. Em idosos, múltiplas queixas somáticas podem “mascarar” o afeto depressivo” (Figueiredo, 2000). A doença de caráter físico comumente apresenta maior sociabilidade do que uma doença de caráter emocional ou psicológico, como se caracteriza a depressão. A doença física 6 é mais aceita, pois sua causa apresenta-se de maneira concreta e visualmente diagnosticada. Já a depressão é um mal silencioso e incompreendido pela maioria da população (Peron et al, 2004 apud. Mckenzie, 2003). O afastamento social é um dos principais comportamentos depressivos, juntamente com a diminuição dos movimentos e da prática de exercícios, em que o indivíduo passa a maior parte do seu tempo diário deitado e isolado. Entretanto, o oposto deste comportamento também ocorrer, como demasiada agitação e inquietação. Em relação ao aspecto físico, o indivíduo pode adquirir distúrbios na regulação básica do corpo, como problemas com o sono e a alimentação (Peron et al, 2004 apud. Ballone, 2000). BASES BIOLÓGICAS O avanço nas pesquisas tem possibilitado um melhor entendimento de como os mecanismos biológicos afetam a apresentação clínica da depressão. Tem sido abordados com profundidade os temas relacionados a genética, neuroquímica, neuroimagem e teorias psicológicas. Apesar de a depressão ter causas desconhecidas, atores genéticos, psicológicos, ambientais, anatomopatológicos e bioquímicos estão envolvidos na sua gênese e evolução, estando presentes em graus variáveis em cada indivíduo com depressão (Nardi, 2000). Nardi (2000) continua em sua discussão, dizendo que o fator genético hereditário certamente está presente em muitos casos de forma clara, já em outros não é tão evidente. O que parece ser herdado é uma tendência para um funcionamento bioquímico anormal em algumas regiões cerebrais. Esse funcionamento anormal facilitaria que essas pessoas tivessem depressão. A grande maioria dos casos de depressão parece ser geneticamente transmitida e quimicamente produzida. Estamos certos de que existem fatores biológicos e psicológicos em todas as doenças humanas. Em algumas, o fator biológico é determinante e os psicológicos, consequência. Muitas pesquisas vêm confirmando isso, através da utilização de modelos genéticos, neuroanatômicos, neuroquímicos e de neuroimagem no transtorno do espectro do humor bipolar (THB), que é um transtorno depressivo. A utilização de modelos animais também tem trazido novos conhecimentos sobre a neurobiologia do THB (Machado-Vieira et al., 2004). 7 Estudos têm descrito alterações neuroquímicas no transtorno do e THB, por meio da avaliação de diversos hormônios, neurotransmissores e seus metabólitos, segundos- mensageiros, fatores neurotróficos e gênicos, tanto em plasma, líquor, plaquetas e fatias de cérebro. Com exceção da tireóide e do eixo adrenal, existem dados muito limitados relacionados à neuroendocrinologia do THB, especialmente no que se refere à mania aguda (Machado-Vieira et al., 2005). Estes estudos têm demonstrado alterações na regulação dos sistemas noradrenérgico, serotonérgico, dopaminérgico e colinérgico. Essas aminas biogênicas são amplamente distribuídas no sistema límbico, as quais estão envolvidas na modulação do sono–vigília, do apetite, de funções endócrinas e de estados comportamentais, como irritabilidade e medo. Também tem sido sugerido que as alterações relacionadas a esses neurotransmissores monoaminérgicos possam ocorrer em virtude de alterações na sensibilidade de seus receptores (Machado-Vieira et al., 2005). Por mais de três décadas, as bases biológicas dos transtornos depressivos têm sido explicadas por meio da hipótese monoaminérgica da depressão. Essa teoria propõe que a depressão seja consequência de uma menor disponibilidade de aminas biogênicas cerebrais, em particular de serotonina, noradrenalina e/ou dopamina. Tal proposição é reforçada pelo conhecimento do mecanismo de ação dos antidepressivos, que se baseia, principalmente, no aumento da disponibilidade desses neurotransmissores na fenda sináptica, seja pela inibição de suas recaptações, seja pela inibição da enzima responsável por suas degradações (Stahl,1997; Nishida et al, 2002). Na neurotransmissão serotoninérgica, os doentes com depressão têm concentrações elevadas de cortisol no plasma, urina e líquido céfalorraquidiano (CSF), e hipófises e supra-renais com um tamanho superior ao normal. Isto traduz um hiperfuncionamento do eixo HPA. Por outro lado, sabe- -se que a depressão está associada a baixos níveis cerebrais de serotonina: a grande maioria dos antidepressivos utilizados inibe a recaptação neuronal de serotonina, aumentando assim a sua concentração a nível sináptico (Pariante etal, 2001; Stokes, 1995; Sapolsky, 2001). Segundo Vismari et al (2008), citocinas são proteínas hidrofílicas de baixo peso molecular ou glicoproteínas que participam da comunicação não apenas entre células do sistema imunológico, como se pensava inicialmente, mas também de outras localizadas nos 8 sistemas nervoso e endócrino. Muitas evidências amparam o papel das citocinas na depressão, elas têm demonstrado afetar muitos comportamentos, são exemplos efeitos no sono, apetite, comportamento sexual, memória e atividade motora. De fato, as citocinas são responsáveis por comportamentos exibidos durante doenças infecciosas, referidos coletivamente como comportamento doentio. Sintomas desse comportamento são: letargia, sonolência, fadiga, falta de interesse, falta de apetite e menor concentração que é similar a muitos sintomas descritos na síndrome depressiva (Dantzer et al, 2007). BASES PSÍQUICAS Segundo Cruz & Fernandes (2013), considerando-se o homem como ser biopsicossocial, há que se considerar outros fatores que estão envolvidos nas causas, manifestações, curso e evolução da saúde e das doenças. É necessário que se atente tanto para o desempenho clínico quanto para as habilidades de comunicação. Os autores citam De Marco (2003), que diz que o modelo biomédico trouxe grandes contribuições, mas trouxe também outro grande problema: o que fazer com a psique e a alma. Dito isso dentro do transtorno depressivo temos condições psíquicas que influencia o indivíduo a terem mais probabilidades e vulnerabilidades para se atribuir do transtorno. De acordo com Cazajeiras (2009), existem fortes indícios de que a estrutura de personalidade seja de grande relevância na maioria dos casos de depressão, determinando padrões de comportamento que compõem a maneira como cada pessoa irá reagir diante de fatores externos como situações estressantes, perdas e outros. Trata-se de um conjunto de características individuais que envolvem a forma de compreender o mundo, de estabelecer relações interpessoais, de lidar com as emoções e de se comportar, resultante de uma complexa interação entre as vivências emocionais, o conjunto de crenças desenvolvidas e fatores biológicos. A ciência não tem, atualmente, uma categoria de personalidade vinculada à depressão. Apesar disso, observa-se que muitos deprimidos apresentam traços de características descritas em alguns transtornos de personalidade. Ostranstornos que apresentam relação mais estreita com a depressão são os de: personalidade dependente, personalidade borderline, personalidade ansiosa e personalidade anancástica. Características de pessoas com transtorno de personalidade dependente: 9 • Necessidade de ser cuidada por alguém. • Dificuldade de discordar de outras pessoas. • Dificuldade para dizer “não” aos pedidos dos outros. • Necessidade constante de estímulo e aprovação. • Sentimento frequente de desamparo. • Sente-se incapaz de se cuidar sozinha. • Construção de relacionamentos de dependência. • Indecisão para fazer escolhas. • Dificuldade para tomar atitudes. • Autodesvalorização. • Esforço incondicional para agradar outras pessoas. • Sentimento de derrota ou fracasso. • Ansiedade pelo receio de não ser aceita como é. • Autocrítica destrutiva. Características de pessoas com transtorno de personalidade borderline: • Relacionamentos interpessoais intensos e instáveis. • Humor instável (raiva e depressão). • Pensamento mágico (mais brandos que na esquizofrenia). • Autoagressão (cortes, queimaduras, etc.). • Pensamentos paranoides (frequentemente sobre traição e abandono). • Problemas de identidade. Características de pessoas com transtorno de personalidade ansiosa: • Sentimentos persistentes e invasivos de tensão e apreensão. 10 • Crença de que é inferior aos outros. • Preocupação excessiva em ser criticado. • Medo da rejeição e da desaprovação. • Excessiva necessidade de sentir-se seguro. • Dificuldade de relacionamento interpessoal. Características de pessoas com transtorno de personalidade anancástica: • Cautela excessiva. • Preocupação com detalhes, regras e organização. • Perfeccionismo. • Preocupação com convenções sociais. • Rigidez e teimosia. • Intransigência. • Desejo de que os outros façam tudo do seu jeito. • Comportamento obssessivo-compulsivo. BASES SOCIOCULTURAIS Podemos perceber que hoje se tem dado muito mais atenção à depressão e a seus principais determinantes do que no passado. Infelizmente, por muito tempo a depressão foi tratada como fator isolado, ou seja, como algo que tivesse origem apenas dentro de cada indivíduo. Pensando assim, podemos perceber atualmente que esses fatores isoladamente não possuem a capacidade de desenvolver um quadro de transtorno depressivo em alguém, precisando estar correlacionados para poder determinar um quadro depressivo. Passou-se então a analisar mais de perto o transtorno e notou-se que fatores externos afetam diretamente a relação dos sujeitos consigo mesmo e com o seu ciclo de convivência humana. 11 O fator de desequilíbrio social é um dos principais determinantes para o desenvolvimento do transtorno, ora que o mesmo influi diretamente nas ações e no modo de vida de cada sujeito. O campo das ciências sociais e a sociologia nos dias atuais se empenham em estudar os fatores inerentes à causa direta da depressão, coisa que em tempos de outrora esses estudos ficavam restritos apenas à psicologia, deixando de certa maneira em aberto questões de extrema relevância que deveriam ser levadas em consideração ao se estudar a determinação da depressão. Há alguns anos, a depressão era muito menos frequente do que é hoje e era estudada somente por um enfoque da psicologia, uma vez que estudava o indivíduo acometido individualmente, sem levar em conta os fatores sociais. Ninguém adquire depressão só e somente por fatores internos, isto é, somente de si. Os fatores sociais, como mudanças econômicas bruscas, falências, desemprego, crime, divórcio, traição, etc, são os que mais influenciam as pessoas a terem depressão. A depressão se constitui atualmente como uma doença de alta ocorrência, do ponto de vista da psicologia e uma questão social normal do ponto de vista da sociologia. Trata-se de um conjunto de fatores que, se sozinhos, por vezes, não são capazes de acarretar depressão, mas ao se juntar com outros, facilmente derruba o indivíduo. Os principais sintomas são: desânimo, fobia social, tristeza, incapacidade laborativa, medo, baixa estima, isolamento e alienação, etc (Fraga, 2011). O amparo social e a construção do sujeito tanto objetivo quanto subjetivo em suas demandas são fatores que agem de maneira incisiva na modelagem humana como um todo podendo determinar como se dará as relações interpessoais ao longo de sua trajetória. O território onde está inserido cada sujeito exerce a função de ampará-lo ou pode até mesmo não exercer de forma significativa influência em sua vida, são basicamente nesses dois pontos que podemos analisar como os referenciais sociais determinam a forma de se entender e de interpretar o meio a sua volta que cada sujeito desenvolve. Esses dois pontos podem exercer função negativa ou positiva a depender do indivíduo e de como ele percebe o meio social onde está inserido. O suporte social pode ser considerado um construto multifacetado e complexo, podendo ser mensurado por intermédio de conceitualizações objetivas e subjetivas, carecendo mesmo de uma precisão em sua definição, pois os instrumentos que mensuram tal construto podem variar em consequência de definições adotadas para sua construção, bem como a nomeação das dimensões. De forma geral o suporte social pode ser avaliado pela integração social de um indivíduo em seu meio, além 12 da rede de serviços e pessoas que estão acessíveis e sendo utilizados, observando medidas mais diretas como, por exemplo, os serviços de saúde presentes na localidade ou as medidas mais subjetivas, como a percepção que o indivíduo tem das pessoas e serviços na comunidade. Geralmente o suporte social é relatado em termos de aspectos estruturais (tamanho do grupo, freqüência de contato, participações em atividades e instituições sociais) e funcionais (percepção do apoio afetivo e satisfação das necessidades), no entanto há diversas outras formas de divisão do suporte social que diferem das aqui apresentadas (Baptista et al., 2006 apud Keeling, Price, Jones & Harding, 1996; McNally & Newman, 1999; Nath, Borkowski, Whitman & Schellenbach, 1991). As bases sociais para cada sujeito se dá de maneira relevante, pois é nela que o sujeito desenvolverá sua estabilidade e competências de percepção de si mesmo como fator integrante e sujeito ativo de determinado meio. Um sujeito ativo em um meio se dá de maneira que possa se estabelecer comportamentalmente, psicologicamente e que possa se sentir amparado de modo a encontrar estabilidade. O suporte social também vem sendo associado à diversas outras medidas, tais como competência pessoal, comportamentos de adesão a tratamentos de saúde, estratégias de enfrentamento, percepção de controle, senso de estabilidade e bem estar psicológico, dentre outros. Além dos construtos citados anteriormente, há evidências de que o suporte social seja considerado como um fator de redução de impacto de eventos estressantes e diversos transtornos psiquiátricos/psicológicos, tais como a depressão, transtornos ansiosos e esquizofrenia e, podem também estarem associados ao desenvolvimento e tratamento e prognóstico desses problemas (Baptista et al., 2006 apud Langford, Bowsher, Maloney & Lillis, 1997; Lovisi, Milanil, Caetano, Abelha & Morgado, 1996). Podemos comprovar a relação direta no que tange os fatores sociais e as relações de estabilidade humana no que versa, quando vemos que mesmo na infância podemos notar os efeitos da falta de relações sociais concretas no seio familiar e demais relações interpessoais que cada criança tem, a mesma apresenta reações atípicas para o comportamento infantil quandopercebe instabilidade nas relações sociais que a cercam. Da mesma maneira não apenas na infância, mas também na fase adulta podemos notar a relação desses mesmos fatores com sujeitos altamente desenvolvidos, porém, com reações diferentes (Baptista et al., 2006 apud Kashani, Canfield, Borduin, Soltys & Reid, 1994). 13 As crianças que normalmente possuem baixo suporte familiar e social, pouca atenção vinda dos pais e parentes, tendem a ser mais agressivas e pouco cooperativas, além do fato de serem desesperançosas (Baptista et al., 2006 apud Kashani, Canfield, Borduin, Soltys & Reid, 1994). Homens que percebem baixo suporte social também possuem a tendência de serem menos sociáveis, praticarem menos atividades físicas e apresentarem maiores sintomatologias de depressão (Baptista et al., 2006 apud Undén & Orth-Gomér, 1989). CONSIDERAÇÕES FINAIS Este presente trabalho apresentou-se o transtorno depressivo e sua relação com as bases psicossocioculturais da saúde. Tendo este contexto em vista, apresentamos vários olhares em torno desse transtorno, que é instigante e causador de grande polêmica acerca de suas causas e tratamentos. A clareza das informações que compõem este trabalho facilitou a compreensão e interpretação dos três aspectos propostos para o desenvolvimento, analisando a depressão sob o olhar bio, psíquico, social e cultural. Enfatizando as várias nuances do transtorno, ora discorre sobre a importância das questões orgânicas no estabelecimento desse transtorno e por último, chamamos a atenção para os aspectos espirituais que colaboram para o desencadeamento do quadro depressivo e não apenas os aspectos biológicos que ocorre com os que sofrem com esse transtorno. Vai muito mais além. Como foi dito, existem muitos fatores que influenciam ao desencadeamento do transtorno depressivo, tais como: fatores psíquicos, que se trata de um conjunto de características individuais que envolvem a forma de compreender o mundo, de estabelecer relações interpessoais, de lidar com as emoções e de se comportar, resultante de uma complexa interação entre as vivências emocionais, o conjunto de crenças desenvolvidas e fatores biológicos. Os fatores socioculturais que representam um dos principais determinantes para o desenvolvimento do transtorno, ora que o mesmo influi diretamente nas ações e no modo de vida de cada sujeito. Ninguém adquire depressão somente por fatores endógenos, isto é, somente de si. Os fatores sociais, como mudanças econômicas bruscas, falências, desemprego, crime, divórcio, traição, etc, são os que mais influenciam as pessoas a desenvolverem o transtorno. 14 Finalizando então, afirmamos novamente que o transtorno depressivo exige cautela, no que se diz respeito ao seu quadro de determinantes, pois existem muito mais coisas que englobam este processo de saúde-doença do que se imagina e posicionar as investigações das causas integradas no modelo biopsicossocial, nos ajuda a saber lidar com os indivíduos que são suscetíveis ao transtorno. REFERÊNCIAS ABP Comunidade. Associação Brasileira de Psiquiatria. Depressão. 2012. Disponível em: http://www.abpcomunidade.org.br/site/?p=257 Baptista, MN; Baptista, ASD; Torres, ECR. Associação entre suporte social, depressão e ansiedade em gestantes. PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 7, nº 1, p. 39-48, Jan./Jun. 2006. Cajazeiras, F. Depressão: doença da alma - as causas espirituais da depressão. Capivari: Ed. 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Disponível em: http://www.who.int/whr/2001/en/whr01_djmessage_po.pdf ANEXOS Dentro da CID10 (2015), os transtornos depressivos se encontram classificados dentro do grande grupo dos Transtornos do Humor, sendo eles classificados de acordo a tabela a seguir: CID 10 – Transtornos depressivosF41. 2 Transtorno misto de ansiedade e depressão F43.20 Reação depressiva breve F43.21 Reação depressiva prolongada F43.22 Reação mista de ansiedade e depressão F32 Episódios depressivos F32.0 Episódio depressivo leve F32.1 Episódio depressivo moderado F32.1 Episódio depressivo moderado F32.2 Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos F32.3 Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos F32.8 Outros episódios depressivos F32.9 Episódio depressivo não especificado F33 Transtorno depressivo recorrente F33.0 Transtorno depressivo recorrente, episódio atual leve F33.1 Transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado F33.2 Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave sem sintomas psicóticos F33.3 Transtorno depressivo recorrente, episódio atual grave com sintomas psicóticos F33.4 Transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão F33.8 Outros transtornos depressivos recorrentes F33.9 Transtorno depressivo recorrente sem especificação F34 Transtornos de humor [afetivos] persistentes F34.1 Distimia F38.1 Outros transtornos do humor [afetivos] recorrentes 17 Figura 1 – Diagrama sobre os determinantes que comumente compõem o transtorno depressivo.
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