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PSICOTERAPIA PSICODRAMATICA COM GRUPO DE MAES ENLUTADAS POR VIOLENCIA

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Vanessa Ferreira Franco1 
 
PSICOTERAPIA PSICODRAMÁTICA COM GRUPO DE MÃES ENLUTADAS 
POR VIOLÊNCIA. 
SINOPSE 
A autora baseia o atendimento em psicoterapia de grupo com pacientes enlutadas, a maioria 
por violência, nas idéias de Moreno. Considera que os efeitos sociátricos do atendimento se 
interligam ao tratamento da transferência no papel de enlutado, ao resgate da espontaneidade e à 
conseqüente reorganização sociométrica necessária ao trabalho de elaboração do luto. 
PALAVRAS-CHAVES 
Psicoterapia de grupo – Psicodrama – Luto por Violência – Sociatria – Sociometria – 
Espontaneidade – Papel. 
ABSTRACT 
The author bases the minister in group psycotherapy with bereaved pacients, the majority 
by violence, in the ideas of Moreno. Considers that the sociatrics effects of the minister links with 
the treatment of the transference in the bereaved role, with the ransom of the espontanity and with 
the consequent necessary sociometric reorganization in the mourning elaboration. 
INDEX TERMS 
Group Psycotherapy – Psycodrama – Violence Mourning – Sociatry –Sociometry – 
Espontanity – Role. 
 
 
1
 Vanessa Ferreira Franco é psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2004, 
faz formação em Psicodrama pelo convênio da Sociedade de Psicodrama de São Paulo e Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo, e especialização em Cinesiologia Psicológica pelo Instituto Sedes 
Sapientiae. Fez Aprimoramento Clínico-Institucional na Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” da 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2005, do qual resultou este trabalho. Atualmente atua em 
consultório particular e faz acompanhamento terapêutico. 
 2
INTRODUÇÃO 
No ano de 2005 ingressei no aprimoramento Clínico-Institucional da Clínica Psicológica 
“Ana Maria Poppovic” – PUC-SP. Como modalidade de atendimento, optei em aprimorar-me no 
“Atendimento Psicoterápico em Grupos e Grupos Profiláticos” e prestar serviço no “Laboratório de 
Estudos e Intervenções sobre o Luto”, o Lelu. 
Criada em agosto de 1959, a Clínica Psicológica da PUC-SP tem três finalidades 
fundamentais: ensino, pesquisa e prestação de serviços. Oferecendo atendimento interdisciplinar por 
Psicólogos, Psiquiatras, Neurologistas, Psicopedagogos, Fonoaudiólogos e Assistentes Sociais, a 
Clínica recebe clientes de toda grande São Paulo. 
O aprimoramento em “Atendimento Psicoterápico em Grupos e Grupos Profiláticos” visa 
dar aos aprimorandos a possibilidade de atender e refletir sobre a atuação com grupos de diferentes 
propostas e configurações, bem como diferentes faixas etárias, a partir de uma visão 
psicodramática. 
O Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto (Lelu) surgiu em 1996 com apoio 
financeiro da FAPESP a partir de atividades de pesquisa (Iniciação Científica, Mestrado e 
Doutorado), ensino (disciplinas da Graduação, Pós-Graduação e Aprimoramento Clínico), serviços 
prestados à comunidade e atendimento psicológico da Clínica da PUC-SP. 
Até 2005, o Lelu atendeu aproximadamente 900 pacientes (crianças, adolescentes e adultos) 
e treinou em média 80 psicólogos no Aprimoramento Clínico. 
Nos últimos quatro anos, o Lelu apresentou uma mudança notável no perfil das pessoas que 
o procuram, contando hoje com uma maioria de casos de pessoas enlutadas por violência, retrato da 
sociedade contemporânea. 
Os atendimentos baseiam-se em técnicas de psicoterapia breve, com foco na perda. É feita 
uma entrevista inicial, de maneira que se identifique a queixa, o que determina o diagnóstico. 
Como psicóloga, optei em atender em co-direção um grupo de mães enlutadas. 
Como parte obrigatória do Aprimoramento, realizei, ao término do atendimento, uma 
monografia onde tenho este grupo como objeto de estudo. 
 3
Sendo uma vertente dessa monografia realizada para o aprimoramento da Clínica 
Psicológica da PUC-SP, esse escrito visa apresentar uma reflexão teórica acerca da prática clínica 
com grupos terapêuticos psicodramáticos com foco no luto e casos de luto por violência. 
Pretendo situar os leitores no que diz respeito a Sociatria, Sociometria, Transferência e 
Espontaneidade na teoria de papéis, trazendo alguma contribuição para o conhecimento desses 
conceitos na peculiaridade que reside no atendimento com foco no luto. 
 
DESENVOLVIMENTO DO TEMA 
O legado de Jacob Levy Moreno como terceira revolução psiquiátrica simbolizada pelo 
desenvolvimento da psicoterapia de grupo, do psicodrama, da sociometria e da sociatria (a primeira 
seria a liberação dos enfermos mentais de suas cadeias (PINEL); a segunda seria o desenvolvimento 
da psicanálise (FREUD) e a criação da psicoterapia como uma parte integral da medicina) , trouxe 
uma compreensão nova e coerente aos atendimentos de grupo e serviu como reflexão acerca do 
atendimento realizado com o grupo atendido por mim. 
Surgindo no Brasil em época de maior repressão - devido ao regime de ditadura dominante 
e ao desenvolvimento de uma cultura individualizada e egocêntrica voltada aos próprios impulsos e 
desejos, como aponta Cesarino (1999) - o Psicodrama veio resgatar a importância do convívio em 
grupos. 
Consoante a isso, como salienta Perazzo (1995), o século XX baniu a morte da convivência 
com o homem, tendo o luto sido reprimido e a morte isolada. Por conta disso, é cada vez mais 
freqüente que as pessoas enlutadas busquem ajuda nas psicoterapias. 
De acordo com o princípio psicodramático e com a necessidade de apoio a pacientes 
enlutados, optei por atender um grupo de mães que perderam filhos em qualquer contexto de morte 
e que viviam qualquer período do luto, sendo esse o critério para participar do grupo. 
Durante as entrevistas individuais, que visavam chamar as pacientes para o atendimento do 
grupo, dos cinco casos que recebemos, quatro deles tratavam de luto por violência. Esse dado vem 
de encontro à percepção do Lelu de que o perfil da maioria das pessoas que o procuram tem sido 
por violência, como reflexo dos acontecimentos atuais da nossa sociedade. 
 4
Um dos casos se tratava de morte da filha por doença, e como a mãe estava bastante 
deprimida, optamos por encaminhá-la ao grupo para que não perdesse a oportunidade do 
atendimento, pois havia uma grande lista de espera para atendimento individual. O que ocorreu com 
essa mãe foi que durante os atendimentos ela teve que sair de férias com o marido e acabou 
participando de apenas duas sessões (segunda e quinta sessões) em que foi ego-auxiliar. Descrevo 
esse dado para considerar que, como a sua participação foi bem pequena e sempre como ego-
auxiliar das outras mães que eram enlutadas por violência, o grupo acabou se constituindo com 
questões referentes ao luto por violência. 
Participaram das sessões cinco mães enlutadas2: Rosa, cujos dois filhos foram assassinados 
pelo marido da irmã, sendo a irmã cúmplice do marido; Camila, cujo filho foi assassinado em um 
assalto; Joana, cujo filho foi assassinado há cinco anos na porta de casa na sua presença; Alice, cujo 
filho sofreu um acidente de moto suspeito de assassinato; e Cleusa, cuja filha de onze anos faleceu 
por motivo de doença. 
Bromberg (2000) relata que os casos de Síndrome da perda inesperada, que incluem morte 
repentina ou prematura e assassinato; e os casos de perdas na vida adulta, devido à morte de filho; 
devem ser acompanhados em psicoterapia, uma vez que podem se tornar luto patológico, pois se 
trata de um processo de luto complicado. 
O grupo se constituiu no que se convencionou chamar de grupo fechado, pois devido a sua 
curta duração, apenas seis sessões, não entraria nenhum novo membro. Cada sessão teria duração de 
uma hora e meia. 
Todas as mães, ao final do grupo, foram informadas a respeito da realização da monografia 
e aceitaram assinar o termo de consentimento. 
Tentareirealizar um breve esboço teórico acerca das minhas reflexões sobre esse 
atendimento, dividindo-o em quatro partes: quanto à estrutura do grupo; quanto à transferência e 
espontaneidade na teoria de papéis; quanto à sociometria; e quanto à sociatria. 
 
 
 
2
 Serão utilizados nomes fictícios para preservar a identidade das pacientes. 
 5
a.) Quanto à estrutura do grupo 
O grupo de mães insere-se na categoria denominada por Moreno de grupo fechado. 
“Grupos fechados são aqueles em que não se incluem novos membros durante o 
tratamento; são especialmente apropriados para terapia intensiva” (Moreno, 1974:94). 
Outra categoria em que se insere o grupo de mães enlutadas é o de grupo sintético. Para 
Moreno (1974), o grupo sintético é tido como o grupo de pacientes de uma clínica, por exemplo, e 
se distingue dos grupos naturais como também como exemplo é a família. 
“As sessões de grupos sintéticos (...) se realizam em uma clínica ou em um 
consultório médico. Os membros do grupo são estranhos uns aos outros e seu 
relacionamento mútuo é novo (in status nascendi)” (Moreno, 1959:30). 
O critério em comum para participar do grupo se enquadra no que Moreno (1974) chamou 
de grupos homogêneos. Para ele (1974), “Grupos homogêneos geralmente facilitam o 
procedimento terapêutico. Neles têm todos os membros determinadas características em comum” 
(p.93). 
O grupo foi formado por cinco mães enlutadas e duas psicólogas que trabalharam em co-
direção. 
De acordo com as premissas ressaltadas por Moreno (1974) acerca do funcionamento da 
Psicoterapia de Grupo, a sala da clínica foi um veículo de tratamento do grupo. Para ele, a maneira 
como as pessoas se sentam deve ser feita de modo que todos possam se ver e falar uns aos outros, 
além da estrutura de círculo, no qual se sentam sem ordem formal, tendo um significado estético e 
terapêutico - o que foi realizado em todas as sessões. 
Para Moreno (1974), a Psicoterapia de Grupo se embasa em uma metodologia clínica 
consciente e desenvolvida sistematicamente a partir de pesquisas empíricas. Ele entende que a 
estrutura teórica é centrada no grupo baseada na interação e no relacionamento interpessoal. Dessa 
forma, a Psicoterapia de Grupo trata problemas psíquicos e sociais dos membros do grupo tendo 
como meta única e imediata: a saúde do grupo e de seus membros através de efeitos terapêuticos. 
 6
Foi essa a metodologia adotada nas sessões, o que favoreceu o cumprimento da meta da 
Psicoterapia de Grupo definida por Moreno, que será explicitada logo adiante. 
Na primeira sessão, foi realizado o contrato com o grupo que incluiu sigilo, horário, faltas e 
pagamento, e a apresentação de cada mãe e das terapeutas. A partir dessa apresentação, começou a 
surgir um clima protagônico, com o grupo voltando-se para uma emergente grupal, Rosa, por conta 
da gravidade da sua história e do estado de paralisação em que se encontrava. 
Na segunda sessão, a emergente grupal tornou-se protagonista. Ela viveu a sua história em 
uma cena de Tribunal. Como em um role-play, ela “treinou” o momento em que colocaria a irmã e 
o cunhado no tribunal, porém, ninguém quis entrar no papel dos réus. Na etapa de 
compartilhamento, o grupo trocou experiências pessoais sobre como proceder em Tribunais; sobre a 
importância da testemunha para o devido julgamento dos réus; sobre como todas sofriam pela 
violência cometida aos filhos, clamando Justiça – que foi o tema co-consciente do grupo e o drama 
grupal; sobre quererem ou não ver o criminoso; e sobre a dificuldade de colocar-se no papel de 
culpado – que foi o tema co-inconsciente do grupo. 
O que quero ressaltar com a descrição dessas sessões - para me aproximar do tema que 
proponho com esses escritos - é sobre a emergência do clima protagônico e sua ligação com a 
formação do grupo. Com relação a isso, entende-se que “somente após a dramatização é que nasce 
verdadeiramente o grupo, na medida que partilha pensamentos, sentimentos e ação, iniciando uma 
história comum, recente, a partir da sessão terapêutica” (Eva,1978:27). 
Com essa afirmação, pode-se compreender que, após a dramatização de Rosa, “o grupo 
tornou-se grupo”. A partir desse dia, em todas as sessões as pacientes tomaram a função de 
terapeutas auxiliares, atuando o que Moreno (1974) chamou de princípio da interação terapêutica, 
tornando-se agentes terapêuticos das outras. 
Nessa influência mútua, pode-se considerar que, ao final das seis sessões, minimamente foi 
realizada uma verdadeira psicoterapia de grupo, já que esta “... consiste em sessões terapêuticas, 
nas quais três ou mais pessoas que tomam parte esforçam-se para resolver problemas comuns” 
(Moreno, 1974:30). 
Ilustrando a afirmação anterior, vale lembrar os momentos vividos nas sessões que dizem 
respeito a essa interação. 
 7
Na primeira sessão, Rosa e Camila foram acolhidas pelo grupo, Camila por conta da sua 
depressão e Rosa pela paralisação com que se encontrava sendo estimulada pelo grupo a se 
mobilizar; na segunda, Rosa, como protagonista, foi cuidada pelas outras que tentaram resolver seu 
problema com o tema Justiça; na terceira, Camila se tornou terapeuta do grupo, não como 
protagonista, mas como emergente grupal, dando opiniões às outras e empatizando com o papel que 
as terapeutas ocupavam na sua vida; na quarta, Joana tornou-se protagonista do grupo revelando em 
um nível mais consciente a culpa e a auto-acusação que ela e as outras carregavam em si diante da 
perda dos filhos; na quinta Cleusa ajudou Rosa a penetrar na sua difícil história com acolhimento, 
encontrando formas de superar a sua dor; e na sexta, três das cinco mães3 estavam integradas e 
dispostas a prosseguir o caminho terapêutico do grupo e a se verem fora do contexto grupal. 
Para Moreno (1974), 
“Os pacientes mostram uma especial necessidade de cultivar e estruturar os 
relacionamentos interpessoais e as vivências sociais que surgem e se desenvolvem durante 
as sessões. Mostram, freqüentemente, o desejo de continuar os contatos e relações fora das 
sessões do grupo” (p.86). 
E é nesse ponto que pretendo chegar ao final do trabalho: no efeito terapêutico da 
ampliação da rede sociométrica dessas mães. 
Antes disso, trarei contribuições de outros momentos do grupo para sustentar melhor essa 
reflexão. 
 
b.) Quanto à transferência e espontaneidade na teoria de papéis 
Desde que seus filhos nasceram, essas mulheres começaram a desempenhar o papel de 
mães, elas se tornaram egos-auxiliares desses protagonistas desde a cena do parto, como bem 
lembrou Mezher (1996). 
 
3
 Cleusa, a mãe que perdeu a filha por doença, não esteve presente na última sessão, só participou de duas 
sessões, pois teve que viajar com o marido, como dito anteriormente. Seu encaminhamento diante disso foi 
para psicoterapia individual. Alice também não esteve presente na última sessão, pois encontrava-se 
deprimida em casa. Também esteve presente em somente duas sessões. 
 8
Para Perazzo (1995), nesse momento, “a mobilização da espontaneidade do ser humano é a 
arma de que ele dispõe para a vida (...) para a luta permanente contra a morte, anterior à própria 
consciência de ser e à capacidade de simbolizar” (pp.109-110). 
O mesmo acontece na experiência do desmame. Sendo perda primária (como considerava 
Freud) ou não (considerando o nascimento como a primeira experiência de perda), o desmame 
também exige desses protagonistas espontaneidade para lutarem contra a ausência de alimento, 
calor, afeto e cuidado. Mas elas, as mães, sempre estarão lá, sendo suas egos-auxiliares, e nunca 
deixarão de exercer esse papel enquanto estiverem vivas. 
De acordo com Mezher (1996), em seus papéis, cada mãe fundiu seus elementos privados - 
na forma própria de cuidar desse filhoem especial - com elementos sociais e culturais - sobre o que 
uma mãe deve fazer na sociedade em que vivemos. Criou-se um projeto específico, cuidar do filho, 
e esse projeto tornou-se uma ação cristalizada. 
A complementaridade de seus papéis sempre fôra conhecida desde então, o papel dos filhos. 
Nesses contra-papéis havia interação com influências recíprocas. Mãe e filho co-existindo nesse 
vínculo, ora sendo possível enxergar o outro, ora não sendo possível separar-se dele, devido às 
transferências sempre existentes em qualquer relação. 
Em um determinado momento, essa complementaridade foi “arrancada”. Criou-se um vazio 
nesse contra-papel. É difícil ter que deixar de exercer esse papel e passar a exercer outro sem 
nenhum aquecimento, sem nenhum aviso prévio. Lembramos aqui do que Moreno tanto falou a 
respeito da identidade sendo constituída pelos papéis que exercemos. 
Depois que esses filhos morreram, todas as mães acabaram passando por uma interferência 
decisiva no desempenho de seus papéis. Não têm mais protagonistas para auxiliar, não têm mais 
contra-papéis para se relacionar, “não haverá mais a interação “in vivo” nos papéis componentes 
dos vínculos anteriores com o morto” (Mezher, 1996:5). 
“A morte do outro, sem nossa ação direta, é uma imposição, é algo que acontece 
sem nos consultar, na maior parte das vezes sem mandar aviso. É chocante, frustrante, pois 
escancara nossa impotência e limitação. 
 9
Estamos de novo diante de um teste de espontaneidade, metidos no torvelinho de 
pensamentos, sentimentos e outras conseqüências, que desorganizam nossa rotina 
existencial. 
Não haverá mais a interação “in vivo” nos papéis componentes dos vínculos 
anteriores com o morto. 
Como cada um lida consigo nessa peripécia revela mais do que sua atitude diante 
da morte, é a postura diante da vida. É, pois, uma oportunidade de transformação 
pessoal.” (Mezher, 1996:5). 
Elas não têm mais a possibilidade de jogar o papel de mães daqueles filhos que se foram e, 
por isso, estão desorganizadas em suas rotinas existenciais. 
É difícil sair desse papel - não ter mais a quem cuidar. Alguns sintomas característicos do 
luto, e que são relatados pelas mães do grupo, deixam claro essa dificuldade: depressão, tristeza, 
sofrimento subjetivo, lamentação, impotência, culpa, auto-acusações, perda do prazer em geral, 
choro, saudades e perda de peso. 
Para Bromberg (2000), a intensidade da dor face a perda de um filho se configura 
narcisicamente como uma perda (morte) de si mesmo. Vai-se o produto de uma vida, o 
assentamento da própria identidade, o confronto com a própria morte. 
Essa indiferenciação é evidenciada na seguinte afirmação: 
“... uma reação comum da pessoa que está de luto é seguir o destino do objeto, 
morrer para desse modo não se separar” (Aberastury, 1978 apud Bromberg, 2000:26). 
E os sintomas estão aí para transmitir tamanha intensidade do vínculo difícil de perder e 
separar. 
Essas dificuldades dizem respeito a um dos sinais patológicos do luto: “conexão entre o 
processo de luto e transformação na personalidade daquele que ficou” (Bromberg, 2000). Esse 
sinal está intimamente relacionado à concepção de transferência, uma vez que ela atua na 
dificuldade de separação desse vínculo e, conseqüentemente, na dificuldade de elaboração do luto. 
Com relação a isso, afirma Perazzo (1995): 
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“Nossos mortos insepultos ora nos mantêm atrelados à sua sombra, ora nos 
acusam ou nos impõem pesados encargos que não podemos cumprir” (p.114). 
É preciso espontaneidade e criatividade para transformar e reorganizar essa rotina 
existencial. Mas“morte e espontaneidade estão sempre em oposição” (Perazzo, 1995:110). 
Suas espontaneidades foram perdidas, levadas junto com a morte. “Quando perdi meu filho 
também perdi o rebolado”, dizia Joana queixando-se de que não sorria e nem dançava mais depois 
que o filho morreu. Podemos entender que o que ela estava querendo dizer era: “Quando perdi meu 
filho, também perdi minha espontaneidade”. 
Freud (Bromberg, 2000) diz que para concluir o trabalho de luto a libido deve ser retirada 
do objeto perdido e transferida para um novo objeto. 
Talvez essa tenha sido a tentativa de Alice quando relatou que estava querendo cuidar do 
mendigo da sua rua, ou quando Joana e Camila disseram que estavam empenhadas no cuidado com 
os netos. 
Por outro lado, esse processo não é tão simples assim. A afirmação de Mezher (1996) 
destaca uma peculiaridade nessa transferência de libido para outro objeto que deve ser atentada pelo 
psicoterapeuta em seu trabalho. 
 “Considero não haver possibilidade e substituição de pessoas em papéis, isto é, de 
vínculos. Numa perspectiva dialética, penso que nada se repete na existência humana. 
Admitir “repetição” invalida o caráter dinâmico, da permanente transformação do homem 
e a singularidade dos momentos existenciais por ele vividos (...) um homem em falta, busca 
a vivência, a experiência subjetiva e interativa de um determinado papel e daí a 
necessidade de outra pessoa em papel complementar a essa demanda. A aceitação 
consciente de um outro no papel desejado, reconhecido como diferente do anterior, é uma 
abertura para a experiência de uma cena original. Isso somente pode acontecer após a 
destruição da ilusão de substituição, que está a serviço da negação da morte, da perda ou 
da ausência de alguém” (p.6). 
Por isso, é importante destacar para cada paciente a necessidade de distinguir substituição - 
como negação da perda -, de aceitação consciente de um outro no papel desejado. Era necessário ter 
observado se o cuidado que Alice queria ter com o mendigo não seria uma substituição, 
 11
contribuindo para a manutenção da transferência que ela tinha pelo filho; ou se o cuidado de Joana e 
Camila para com os netos seria a aceitação consciente de um outro diferente no papel desejado, 
abrindo espaço para a realização de uma cena original. Não sabemos! Não pudemos fazer isso nas 
sessões. Talvez porque não tivemos tempo suficiente para aprofundar tais relatos. Também por 
desconhecermos questões tão peculiares ao processo de luto. Mas fica um ponto a ser cuidado nos 
próximos trabalhos e àqueles que se interessam pelo atendimento de pacientes enlutados. 
De qualquer modo, enquanto esses mortos estiverem insepultos, ou seja, enquanto uma 
carga transferencial estiver embasando essa relação, haverá sofrimento e não elaboração do luto. 
Perazzo (1995) afirma que isso vai depender do papel que aquela morte não elaborada 
representa para o indivíduo como nó transferencial. E isso tem a ver com o conceito de sociometria, 
uma vez que um filho ocupa um lugar relevante na rede sociométrica das mães. Mas esse tema será 
tratado no próximo item. 
Perazzo (1995) também descreve que o conceito de morte implica na possibilidade do 
reconhecimento do eu e do outro e a sensação do desaparecimento deste outro do campo visual. 
Enquanto essas mães estiverem calcadas no nó transferencial existente na relação com esses 
filhos - nesses filhos como único produto de suas vidas, como única referência de suas identidades, 
nessa morte de si mesmas - não haverá possibilidade de reconhecimento do outro, do filho que se 
foi, da separação desse vínculo. Elas ficarão imersas na indiferenciação desta relação e não será 
possível a cicatrização da ferida. 
O que essas mães nos ensinam com isso, é que, enquanto houver transferência, haverá perda 
de espontaneidade! 
 
c.) Quanto à Sociometria 
Alguns dos sintomas característicos do luto, e que são encontrados nessas mães, são: 
solidão, dificuldade de manter relacionamentos interpessoais e afastamento social (Bromberg, 
2000). 
 12
Considerando que esses filhos ocupavam uma posição central - protagonistas como sempre 
foram - no átomo social dessas mães, suas redes sociométricas terão de sofrer grandes ajustesdepois que eles se foram. 
Em conseqüência disso, essas mães passam por um processo de perda nos seus átomos 
sociais, modificando inclusive a posição sociométrica que ocupavam. A pobreza no átomo social 
reflete que acabam desempenhando socialmente um único papel – o de mãe enlutada. 
Para justificar essa reflexão, a seguinte afirmação de Perazzo (1995) torna-se 
imprescindível: 
“... Podemos então facilmente constatar que qualquer morte é capaz de modificar a 
rede sociométrica de várias pessoas, de todos com quem o morto se relacionava. A 
qualidade desta modificação dependerá da importância daquele que morreu como 
comportamento de amarração das relações desta rede. Sendo sua posição mais periférica, 
se exigirá menos esforço em sua reestrutura, o que não acontecerá quanto mais central ela 
se situava. Não tem o mesmo peso a morte de um simples conhecido, mais facilmente 
absorvível, e a morte de um pai ou de um filho, por exemplo. A ausência definitiva obriga a 
uma acomodação da rede daquele indivíduo e da rede particular de cada um que 
pertencesse à primeira, assim como a um tremor de terra localizado se seguem movimentos 
geológicos circundantes de intensidade cada vez mais decrescente” (p.135). 
Os relatos de que não têm mais relações com os amigos dos filhos, parentes das noivas dos 
filhos, de que não conseguem mais trabalhar e conviver socialmente, de que não sentem mais prazer 
em desempenhar determinadas atividades e papéis, são revelações dessa perda no átomo social e de 
sintomas típicos de pessoas que passam por luto em perdas significativas. 
Quanto ao que a Psicoterapia de Grupo pode fazer a esse respeito, é o que o item 
relacionado a Sociatria vai considerar. 
 
d.) Quanto à Sociatria 
O que o trabalho com o grupo revelou foi que, apesar de ainda apresentarem instabilidade 
nos relacionamentos interpessoais, as mães se empenharam na busca de novas relações - seja no 
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próprio grupo ou em novos círculos de amizades - enquanto se afastavam das lembranças dos filhos 
mortos. 
O nascimento dessa nova rede social como suporte disponível, e sua conseqüente absorção 
pelas mães como aceitável e útil, marcou o surgimento de uma nova atitude, em status nascendi. 
“Status nascendi é o processo de desenvolvimento de algo que tem um ponto de 
partida” (Bustus, 1992, apud Silva Filho, 2001:105). 
Pode-se dizer que o processo de psicoterapia desse grupo com características de luto 
complicado, nas seis sessões, auxiliou com que as mães pudessem sair de um quadro conservado de 
luto4 - somente reagindo à perda dos filhos - para a entrada no processo de enlutamento5 -
apresentando adaptação. 
Nesse processo de enlutamento, foi possível identificar que os sintomas puderam sair de um 
quadro basicamente patológico e passar para o que Bromberg (2000)6 considera como fase 
intermediária, com a crescente consciência das mães da perda dos filhos, facilitando a aceitação. 
Foi possível criar espaço para que pudessem manifestar e expressar os sentimentos 
relacionados à fase de entorpecimento7 - ao desejarem viver como era antes - e à fase de 
 
4
 Bromberg (2000) considera que o luto é o“conjunto de reações a uma perda significativa” (p.15). 
5
 Para Bromberg (2000), o enlutamento é o ”processo de adaptação a essa perda” (p.15). 
6
 Bromberg (2000) descreve que os casos de luto normal em perdas significativas passam por três fases: 
-fase inicial – choque, descrença, negação, isolamento; 
-fase intermediária – crescente consciência da perda, choro, distúrbio de alimentação e sono, sintomas 
somáticos, perda de interesse das companhias e atividades e da qualidade das atividades profissionais; 
-fase final – recuperação, elaboração, superação e restabelecimento do estado de saúde. 
7
 Bromberg (2000) aponta que as fases do enlutamento sem complicação são: 
1-Entorpecimento – choque, desespero, raiva, desamparo, perdido, imóvel. Respiração suspirante, rigidez no 
pescoço, sensação de vazio no estômago. Negação da perda como defesa. Tentativa de automaticamente viver 
como antes; 
2-Anseio e protesto – fortes emoções, sofrimento psíquico, agitação física. Consciência da perda. Anseio por 
encontrar o morto, dor, choro, desejo de recuperar a pessoa, o que não tiver relação com o morto não tem 
importância, introversão, culpa por pequenas omissões de cuidado, agitação, obsessão por lembranças do 
morto; 
3-Desespero – reconhecimento da perda, dúvida que qualquer coisa que vale a pena possa ser preservada, 
apatia, depressão, afastamento, falta de interesse, inabilidade em se concentrar em tarefas rotineiras, 
psicossomas; 
4-Recuperação e restituição – sentimentos positivos e menos devastadores, aceitação a mudanças, nova 
identidade, desistir da idéia de recuperar o morto, independência e iniciativa, ainda instabilidade nos 
relacionamentos interpessoais, mas busca novas relações enquanto se afasta das lembranças do morto, 
recorrência de sintomas anteriores em datas especiais, “reação de aniversário”. 
 
 14
recuperação e restituição - com a recorrência de sintomas como tristeza e depressão em datas 
especiais - dia do aniversário de morte, Finados, Natal, Ano Novo. 
A partir da seguinte descrição de Moreno (1974), de que: 
“... A terceira base (a primeira base da psicoterapia de grupo foi a interação 
espontânea entre os membros do grupo, apoiada pelo terapeuta. A segunda base foi 
introduzida mais tarde, quando se ligou sistematicamente a sociometria com a psicoterapia 
de grupo: o estudo da composição do grupo no curso do tratamento) foi colocada quando 
se uniu o psicodrama à psicoterapia de grupo: o princípio da ação, o “atuar terapêutico” 
num ambiente controlado, como medida profilática contra o “atuar irracional” na própria 
vida” (p.86), 
pode-se dizer que o atuar terapêutico nas sessões de psicoterapia serviu como medida 
profilática contra a atitude conservada que essas mães vinham desempenhando desde a morte de 
seus filhos. O atuar em grupo deu abertura para o status nascendi de uma nova atitude diante do 
luto: entrar em enlutamento, reagir, adaptar, criar uma nova identidade, independência e iniciativa. 
Assim, esse processo de psicoterapia de grupo buscou permitir maior aceitação da perda e o 
estabelecimento de outras relações objetais a partir de algumas questões que surgiram, como: o 
desempenho de outros papéis em seus átomos sociais e a ampliação da rede sociométrica 
(lembrando da afirmação que consta no item sobre a estrutura do grupo de que, ao final das sessões, 
as mães buscaram se encontrar fora dali, além de quererem continuar a psicoterapia de grupo). 
Tal com é definido por Moreno (1974), o Psicodrama - como método que investiga a fundo 
a verdade da alma mediante a ação - resgatou a partir da ação - em um Jogo de Tribunal, em uma 
cena de dança, em uma troca de experiências e em atitudes de apoio - a lembrança dessas mães de 
que em suas almas ainda existe espontaneidade, ou, nos termos que elas próprias empregaram às 
suas espontaneidades: relaxamento, dança, sorriso, atitude, alegria, desentalar de conteúdos 
reprimidos e troca. 
“... a morte o psicodramatista desenterra, que se tenha lugar próprio para onde 
destiná-la sem que se a negue, mas também sem que ocupe o trono obscuro ou do luto 
permanente” (Perazzo, 1995:120). 
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Num período em que se perdeu a associação da vida em coletivo, principalmente no que 
tange às vivências de luto, as premissas Morenianas deram suporte para que o compromisso pessoal 
do terapeuta com o cliente em um clima de interpenetração e proximidade humana “sem medo de 
“contaminação” do vínculo” (Cesarino, 1999:44) fosse a estrutura desse trabalho, centrada no 
grupo e baseada na interação e no relacionamento interpessoal. 
 O intuito do trabalho psicoterápico com essas mães, a partir da fala de Perazzo(1995), foi o 
de favorecer o processo de elaboração do luto buscando que as sensações de abandono, solidão e 
isolamento pudessem sair das assombrações mais íntimas e ocultas de cada mãe a partir das suas 
transferências, para que: 
“... conquanto possam também apenas continuar existindo na lembrança, sem 
transferência, até uma segunda e definitiva morte, a da total extinção pelo esquecimento a 
que o relegam as gerações que os sucedem, e que aos poucos vão apagando todos os seus 
vestígios sociométricos” (Perazzo, 1995:114). 
Dessa forma, para Perazzo (1995), apenas uma segunda morte pode contribuir na extinção 
dos vestígios sociométricos. E, 
“... Se o meio em que vivemos facilita o contato com a morte e contribui para a 
elaboração do luto, as marcas, que sempre existirão, é claro, terão o curso natural de uma 
cicatriz que se adelgaça e esmaece. Caso contrário, sem esta facilitação e absorção social, 
tais acidentes permanecerão transferencialmente aprofundados em nossas inter-relações 
com o outro no mundo dos vivos” (Perazzo, 1995:142-143). 
Deste modo, a interação no grupo atuou interligando os conceitos-eixo desse escrito: 
Uma vez que essas mães tinham os filhos ocupando uma posição central em seus átomos 
sociais (Sociometria), diante da morte dos mesmos, a solidão - como sintoma característico do luto - 
passou a ser um dos motivos principais da manutenção do luto patológico e da conserva em que se 
encontravam no desempenho de um único papel - o de mães enlutadas (Teoria de Papéis). A 
dificuldade em separar-se desse vínculo (Transferência) - que também é característico do luto - traz 
à tona sintomas como culpa e auto-acusação como sinais de dificuldade de elaboração. Através do 
atuar terapêutico no grupo (Sociatria), foi possível expressar a necessidade de “desentalar 
conteúdos”, sorrir, dançar e se mobilizar (Espontaneidade) para facilitar o desempenho do papel de 
mães enlutadas, criar novos papéis e, com isso, expandir a rede de apoio (Sociometria) como 
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suporte necessário na elaboração do luto. Deste modo, a psicoterapia de grupo atuou como 
psicoprofilaxia de um luto patológico (Sociatria). 
 “Só mesmo a elaboração do luto, o enterro interno desses mortos, torna possível 
sua transformação em apenas memória, de modo que o afeto dela decorrente não se torne 
um impedimento para o desempenho dos diversos papéis que a vida a todo instante nos 
oferece” (Perazzo, 1995:126). 
 
*** 
 
Se hoje eu ainda estivesse atendendo essas mães, não hesitaria em transmitir em palavras o 
que o tempo todo estivemos expressando em atos: “Sejam espontâneas!”, “Criem novos papéis, 
novos modos de cuidar e serem cuidadas!”. 
Nesse processo de enlutamento, independente de quanto tempo levarão para 
desempenharem isso em suas vidas, sobreviverá aquela que puder criar outros modos de ser, 
tornando o seu modo de ser mãe enlutada adaptado ao processo natural e não-transferencial do qual 
faz parte a vida: a morte. 
Finalizo esse escrito com uma parábola budista descrita por Sérgio Perazzo no seu livro 
“Descansem em paz os nossos mortos dentro de mim”, ressaltando qual seria o objetivo de todo 
esse processo. 
“A ”Parábola do Grão de Mostarda” da doutrina budista conta que uma mulher, 
tendo aos braços o filho morto, acorre a Buda e suplica que o faça reviver. Buda lhe diz 
que consiga em qualquer casa alguns grãos de mostarda que devolverão a vida à criança. 
No entanto esses grãos terão que ser obtidos numa casa onde nunca morreu ninguém. Esta 
casa não é encontrada pela mãe e ela compreende uma das lições fundamentais do 
budismo: a de ter que contar sempre com a morte” (Perazzo, 1995:58). 
 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Retomando as bases históricas do surgimento do Psicodrama no Brasil e acolhendo a 
demanda de luto isolada pela nossa sociedade, esse escrito ressalta a importância do resgate do 
convívio em grupos para a população com luto complicado por violência e considera que o 
atendimento psicoterápico em grupos favorece a elaboração do luto uma vez que a interação dos 
membros em um campo clínico protegido propicia o surgimento de questões reprimidas. 
O grupo fechado, sintético e homogêneo apresentou sua estrutura peculiar de coesão e 
profundidade. A partir do surgimento de um clima protagônico, o grupo pôde tornar-se grupo, 
considerando a existência da implicação de cada membro como agente terapêutico dos outros. 
Dessa forma, temas co-conscientes e co-inconscientes puderam vir à tona sob a continência grupal, 
abrindo espaço para um status nascendi. 
O atuar terapêutico nas sessões revelou a existência de uma carga transferencial embasada 
na relação com os filhos mortos que impediam as mães de agirem com espontaneidade. Nesse 
sentido, a psicoterapia buscou atuar na mobilização dessas forças conservadas, operando como 
medida profilática contra o atuar irracional na própria vida. Assim, elas puderam se dar conta da 
importância da troca de experiências, formando uma nova rede social de suporte. 
Dessa forma, a psicoterapia de grupo pode auxiliar no surgimento do status nascendi de 
uma nova atitude diante do luto, de as pacientes poderem entrar em processo de elaboração do luto, 
reagindo, se adaptando, criando uma nova identidade, desempenhando outros papéis e ampliando 
suas redes sociométricas, a partir do relacionamento no grupo, o que favorece uma maior aceitação 
da perda. 
Enfim, esse escrito buscou relacionar que os sintomas de solidão e perda ou diminuição da 
rede de apoio, característicos do luto, refletem a existência de atitudes conservadas embasadas num 
vínculo transferencial das mães para com os filhos que morreram. A partir desse nó transferencial, 
elas perderam a possibilidade de agir com espontaneidade. Através da estrutura grupal, essas mães 
puderam resgatar e aceitar uma rede de apoio, organizando suas redes sociométricas. 
Finalizo assim, amarrando os conceitos que quis considerar com esse escrito: Sociometria, 
relacionada à desorganização sociométrica devido ao luto; Sociatria como tratamento da 
transferência nos papéis para o resgate da espontaneidade, e como tratamento do grupo que, em sua 
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continência, pode gerar uma rede nova, tratando da sociometria individual de cada membro do 
grupo. Os cinco conceitos inter-relacionados, visando unicamente, transformar... 
 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
BROMBERG, Maria Helena Pereira Franco. A Psicoterapia em situações de Perdas e Luto. 
Campinas: Ed. Livro Pleno, 2000. 
CESARINO, Antonio Carlos. Brasil 70, psicodrama antes e depois. In ALMEIDA, Wilson 
Castello de (org). Grupos: A proposta do psicodrama. São Paulo: Ágora,1999. 
EVA, Antonio Carlos. Grupos Terapêuticos Psicodramáticos, uma tentativa de 
sistematização. Psicodrama, ano II, n.2, p.27-38, dez. 1977 a jun. 1978. 
MEZHER, Aníbal. O Átomo Social e a Morte. AVE CREATOR. Ato Criador, Ciência e a 
Construção do Homem. 10o Congresso Brasileiro de Psicodrama, 1996. 
MORENO, Jacob Levy. Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Introdução à teoria e à 
práxis. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1974. 
PERAZZO, Sérgio. Descansem em paz os nossos mortos dentro de mim. São Paulo: Agora, 
1995. 
SILVA FILHO, Luis de Moraes Altenfelder Silva. Psicoterapia de Grupo com Psicóticos: 
O Psicodrama no Hospital Psiquiátrico. São Paulo: Ed. Lemos Editorial, 2001.

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