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Homicídio análise completa

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DIREITO PENAL Nº 2
TEMA: HOMICÍDIO ( ART. 121 CP )
a) HOMICÍDIO SIMPLES:
a.1 - Definição:
1- Celso Delmanto : "Homicídio é a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra".
2- Damásio E. de Jesus : "Homicídio é a destruição da vida de um homem praticada por outro."
3- Magalhães Noronha: "Homicídio é a extinção da vida de um homem por outro."
4- Cuello Calón : "Homicídio é a morte de um homem voluntariamente causada por outro homem." ( Derecho Penal, Tomo II, p. 382, Barcelona ).
5- Quintano Ripolles: "Homicídio é a morte voluntária, antijurídica e culpável de um homem por outro homem que não se ache especificamente prevista em outra modalidade criminal." ( Tratado de la parte especial del Derecho Penal, vol. I, p. 32, Madrid ).
Obs.1 - A violência não faz parte, necessariamente, do crime de homicídio, pois há formas insidiosas de cometê-lo, com por exemplo, o venefício.
Obs.2- Euclides Custódio da Silveira observa a importância da distinção entre o homicídio, o aborto e o suicídio, dizendo que: 
					"Como a eliminação da vida humana endo - uterina caracteriza o crime de aborto, poder-se-ia definir o homicídio mais precisamente como a eliminação da vida humana extra - uterina praticada por outrem." ( Apud, Julio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito Penal, p. 42 ).
a.2 - Bem Jurídico Tutelado:
					Trata-se da vida humana, sendo este o bem jurídico mais importante, sem o qual não podem existir os demais. O ser humano morto deixa de ser "pessoa" ( "persona" ) e passa a ser "coisa" ( "res" ) e por isso a proteção ao cadáver se encontra no Título V do CP ( Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos ) e não no Título I ( Dos crimes contra a pessoa ).
a.3 - Quem pode praticar o homicídio?
					Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo de homicídio, tratando-se de "crime comum".
Obs.1 - Como já se disse o homicídio é a eliminação da vida de outrem. No suicídio, trata-se da eliminação da própria vida e seu autor, logicamente no caso de tentativa, não é punido por questões de política criminal.
Obs.2 - Existe no art. 122 CP o crime de "Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio", mas neste caso o sujeito ativo apenas leva a vítima a tirar a própria vida, não praticando ato lesivo pessoalmente.
					Pode ocorrer homicídio pela chamada "autoria mediata" se a pessoa induzida é totalmente incapaz de resistir ao induzimento, porque nesse caso a vítima surge como mero "instrumento" para a eliminação da própria vida.
					Por exemplo:
- Um alienado mental que não tem qualquer noção das conseqüências e é induzido a saltar de um prédio por outra pessoa.
- Pode também ocorrer caso de "coação", onde a vítima é forçada a matar-se ou mesmo levada a erro, por exemplo, enganada quanto ao desmuniciamento de uma arma, ou à natureza de uma substância a ser ingerida ( ex. veneno por remédio ).
Obs.3- A mãe que mata o filho sob a influência do estado puerperal durante o parto ou logo após, pratica infanticídio ( art. 123 CP ) e não homicídio ( art. 121 CP ).
a.4 - Qualificação Doutrinária:
1) Crime Comum - pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo especial qualidade do sujeito ativo.
2) Crime material - exige a concretização de um resultado ( morte ) para sua consumação.
3) Crime Simples - só atinge uma objetividade jurídica ( direito à vida ). Não é crime complexo como, por exemplo, o latrocínio, no qual são atingidos dois objetos ( direito à vida e o patrimônio ).
4) Crime de Dano - exige efetiva lesão ao bem jurídico.
5) Crime Instantâneo - consuma-se num único momento com a morte da vítima. Não é permanente, pois a consumação não se protrai no tempo. Mas é "instantâneo de efeitos permanentes".
6) Crime de Forma Livre - admite qualquer forma de execução.
a.5 - Sujeito Passivo:
					Qualquer pessoa viva.
Obs.1 - Não importa o grau de vitalidade da pessoa. Tanto o ser humano saudável, como o moribundo podem ser vítimas de homicídio.
ATENÇÃO:
					Hoje a chamada "eutanásia" poderia configurar o "homicídio privilegiado" ( art. 121, § 1º CP ) com redução de pena.
					Já no Projeto de Código Penal tramitando no Congresso Nacional, são previstas as figuras da "eutanásia" e da "ortotanásia" ( arts. 121, §§ 3º e 4º do Projeto ).
Obs.2 - O início da existência da pessoa humana, a partir do qual pode ser vítima de homicídio é marcado pela doutrina e jurisprudência como o "início do parto".
					Porém, é variável a idéia que se tem sobre esse "início", havendo decisões que estabelecem:
1- rompimento do saco amniótico;
2- dores da dilatação;
3- dilatação do colo do útero;
4- desprendimento do feto.
					Como já se disse, a morte antes do parto constitui aborto e a morte logo após ou durante pela própria mãe sob influência do estado puerperal constitui infanticídio.
Obs.3- Também não é necessário que haja vida viável, bastando que se prove que nasceu com vida.
					Por exemplo: Criança com hidrocefalia ( prognóstico de sobrevida reduzida ). Mesmo assim pode ser vítima de homicídio.
Obs. 4- A prova do nascimento com vida é feita com a comprovação da respiração pelas chamadas "docimasias " ( pulmão, auricular, gastrointestinal, etc.). Também menciona Nelson Hungria outras formas, como a comprovação de ocorrência de circulação sangüínea , batimentos cardíacos, etc.
Obs. 5- Se a ação tendente a matar atinge um cadáver, sequer pode-se falar em tentativa, mas sim em crime impossível ( art. 17 CP ).
Obs.6- Não importa também se trata-se de "ser teratológico", sendo "pessoa humana todo ser nascido de mulher".
Obs.7- Também não importa o consentimento da vítima por tratar-se de bem indisponível ( vida ).
Obs.8- Se o sujeito passivo é o Presidente da República, o Presidente do Senado, Presidente da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal, o crime é contra a Segurança nacional ( art. 29 da Lei 7170/83 - Lei de Segurança Nacional - pena: Reclusão de 15 a 30 anos.)
HOMICÍDIO - CONTINUAÇÃO
a.6 - TIPO SUBJETIVO: 
					Tratando-se do homicídio doloso, logicamente o elemento subjetivo será o dolo ( "animus necandi" ou "occidendi" ).
					Não somente o dolo direto, mas também o dolo eventual.
					Cabe uma breve digressão para relembrar que o dolo divide-se em:
a) Dolo direto ou determinado - Quando o agente tem uma intenção direta, no caso, alcançar a morte da vítima.
b) Dolo indireto ou indeterminado - Quando a vontade do agente não é precisa, no caso, não visa especifica e determinadamente a morte. Subdivide-se em:
- Alternativo - Quando a vontade do agente se dirige à morte da vítima ou outro resultado. Ex. Desfere facadas querendo matar ou ferir.
- Eventual - O agente assume o risco de produzir a morte. Ele não quer diretamente o resultado e sim praticar a conduta ciente do risco, mas desprezando o fato de que possa com isso advir a morte de alguém.
					Exemplo: O agente quer atirar numa pessoa que conversa ao lado de outra. Quer matar a primeira e prevê a possibilidade de matar também a segunda com o disparo. No entanto, lhe é indiferente a morte da segunda. Atirando e alvejando ambas, responde por dois homicídios, uma a título de dolo direto e outro de dolo eventual.
Obs.1- O dolo alternativo, embora doutrinariamente classificado como "dolo indireto", encontra previsão no CP, no art. 18, I, na expressão "quis o resultado", pois se o agente "queria" um ou outro resultado, qualquer deles estava no seu móvel intencional.
Obs.2 - DOLO GERAL:
					"Ocorre o dolo geral quando o sujeito, com a intenção de matar a vítima, realiza certa conduta capaz de produzir o resultado e, logo depois, na crença de que aquele já se produziu, empreende nova ação, sendo que esta causa oresultado." ( Damásio E. de Jesus )
Exemplo clássico: Indivíduo que apunhala a vítima, julgando matá-la com esse ato e depois joga o corpo num rio para ocultar o cadáver. Ocorre que a vítima ainda estava viva e, na verdade, morre por asfixia em meio líqüido ( afogamento ).
					A solução do caso encontra alguma controvérsia doutrinária.
					Há quem defenda a tese de que no caso o agente deveria responder por dois crimes ( tentativa de homicídio e homicídio culposo ). Neste sentido, ver Bandeira de MELLO, Da capitulação dos crimes e da fixação das penas, p. 213 e seguintes, Belo Horizonte, 1963 .
					Porém, esta posição hoje parece ultrapassada, dominando a tese de que responderá por homicídio doloso, sendo que o dolo inicial transmite-se a todo o agir ( dolo geral ). Neste sentido: João Mestieri, Nelson Hungria, entre outros ).
Obs.3- DISTINÇÃO IMPORTANTE ( CULPA CONSCIENTE E DOLO EVENTUAL ):
					É importante a distinção entre a culpa consciente ( mais alto grau de culpa ) e o dolo eventual, uma vez que apresentam grande similitude e atualmente figuram como ponto central na discussão do tema do homicídio praticado na direção de veículos automotores que, em determinadas circunstâncias, tem sido considerado doloso ( dolo eventual ) e não culposo, como usualmente seria. ( Vide artigos anexos ).
					Nos casos concretos a distinção é tormentosa , mas teoricamente não apresenta grandes dificuldades: 
					Na culpa consciente ( ao contrário da culpa ordinária, onde o agente não prevê o resultado previsível ) o agente prevê o resultado, mas confia plenamente poder evitá-lo, em geral, crendo em sua habilidade. Jamais na culpa consciente o sujeito "aceita" o resultado.
					Exemplo: Um indivíduo vê seu companheiro de caçada bem próximo de uma caça. Confiando em sua pontaria, atira visando a caça, mas acerta seu amigo. Em nenhum momento quis ou assumiu o risco de errar o tiro, confiava plenamente em sua pontaria.
					Já no dolo eventual, como já visto, o agente ao prever o resultado de sua conduta o aceita. Age como se dissesse: "se morrer, morreu" ( sic ).
					No mesmo exemplo, o caçador não teria tanta confiança em sua pontaria, mas atiraria, sendo-lhe indiferente alvejar a caça ou matar o outro. 
					Verifica-se, portanto, a dificuldade de distinção não tanto doutrinário - teórica, mas especialmente na prática, como sempre ocorre ao tratar-se de investigar elementos subjetivos.
					Na atualidade têm sido correntes os debates acerca da ocorrência de dolo eventual em homicídios acontecidos no trânsito, especialmente em casos de "racha", embriaguez e outras situações de maior gravidade.
					
					A doutrina apresenta argumentos em ambos os sentidos, tendendo ao reconhecimento da culpa consciente em geral.
					Na verdade, cada caso concreto merecerá uma profunda análise com base na ocorrência de culpa consciente ou dolo eventual, sempre tendo em mente o Princípio do "Favor Rei" ( "in dubio pro reo" ).
					Neste sentido lapidar a lição de Aníbal Bruno:
					"O dolo consiste em uma posição interior do agente, em certas condições de consciência e vontade em relação ao fato ilícito, que não podem ser apreciadas diretamente, mas só através das circunstâncias exteriores em que se manifestam. A maneira pela qual o sujeito atua, os meios que emprega, certas particularidades que acompanham o fato é que nos poderão levar a concluir por uma ação dolosa em referência ao resultado punível. As dificuldades desse juízo crescem e podem tornar-se insuperáveis em relação ao dolo eventual, quando se tem de apurar se o autor assumiu o risco de produzir o resultado ou esperou sinceramente que ele não ocorresse. Então, se não se pode alcançar uma conclusão segura no sentido do dolo, o agente beneficia-se da dúvida e o fato tem de ser julgado como de culpa consciente, que o Código , aliás, não distingue da culpa simples."
Obs.4- ROLETA - RUSSA:
					No caso da chamada Roleta - Russa já houve reconhecimento de dolo eventual de homicídio ( RT 409/395).
					No entanto, nem sempre será este o caso, devendo ser analisado concretamente cada situação.
					Vejamos os seguintes exemplos:
1- Um indivíduo gira o tambor do revólver e atira contra a vítima, ocorrendo o disparo. Neste caso parece induvidoso o dolo eventual do crime de homicídio.
2- A prática comum na Roleta - Russa em que a arma passa de mão em mão num grupo de pessoas que, elas próprias, jogam com a sorte, apontando a arma para suas próprias cabeças e acionando o gatilho. Caso ocorra o evento morte de alguma delas, parece mais adequada a figura típica do art. 122 CP.
Obs. 5- AIDS :
					Mirabete apresenta também como dolo eventual de homicídio "a conduta do agente que pratica o coito ou doa sangue quando sabe ou suspeita ser portador do vírus da Aids ( Síndrome da Deficiência Imunológica Adquirida ) . Afirma o autor que quando ocorre a morte, responde por homicídio e enquanto esta não acontece, estaria sujeito a responder por lesão corporal grave ( art. 129, § 2º, II, CP ). ( Ver ainda artigo em anexo ).
Obs. É importante atentar para que a Aids não é catalogada como doença venérea, não tendo aplicação o art. 130 CP.
					Também a Aids quando transmitida configura efetivo dano à saúde, não se enquadrando no art. 131 que é "crime de perigo".
					 Eventualmente poderá surgir o art. 131 CP de forma subsidiária quando não ocorrer a contaminação ( posição defendida por Roberto Delmanto e Roberto Delmanto Jr. ). No entanto a questão é nova e pode suscitar a alegação de que no caso da Aids mais correto seria optar pela tentativa de homicídio ou de lesão corporal grave. Tudo dependerá da difícil aferição do "animus" do agente, se de perigo ou de dano em cada caso.
Obs. Não é só com o ato sexual que se pode transmitir a Aids, mas qualquer outro meio idôneo ( exs. sangue contaminado, agulhas contaminadas , etc. ).
					Por fim, cabe ressaltar que não há discussão acerca da conduta dolosa do agente em transmitir a Aids, procurando-se enquadrá-la nos tipos penais existentes. 
					No cenário mundial, porém, acontece uma ampla discussão envolvendo a conveniência da criminalização da conduta daquele que transmite o vírus sem dolo, apenas agindo sem as cautelas devidas, inclusive defendendo-se a criação de um tipo penal específico.
					Na verdade não se discute a necessidade de penalizar aquele que age com dolo direto na transmissão ou mesmo aqueles que agem culposamente no âmbito médico - sanitário.
					A controvérsia quanto à criminalização e eventual criação de um tipo penal específico se limita aos casos de uso compartilhado de seringas e transmissão pela via sexual, tirante os casos de dolo direto ou responsabilidade médica.
					Especialmente na Espanha, Alemanha e Áustria essa matéria tem sido aventada, sendo que na última, em 1986 editou-se a chamada "Lei Especial da Aids".
					A doutrina nesses países se divide basicamente no que a doutrina espanhola convencionou denominar "línea dura" e "línea blanda" . A primeira defende a criminalização e a segunda considera que outras medidas de caráter sanitário, social, educacional, etc., seriam mais adequadas e eficientes. ( Para aprofundamento ver Jesús - Maria Silva SÁNCHEZ, Política Criminal Y SIDA, Revista Brasileira de Ciências Criminais, 18/33 ).
					No Brasil, como se verifica, na maioria dos casos, o dolo eventual resolveria a punição a título de homicídio ou ao menos lesões corporais graves.
					Na realidade prática, porém, tais casos serão de difícil comprovação, seja pelas dificuldades para prova da autoria, seja pela reação da vítima em preferir ocultar o meio de transmissão, sequer chegando ao conhecimento das autoridades ocorrências desse tipo, as quais integram as chamadas "cifras cinzas" ou "cifras negras" do Direito Penal. Nem se diga que, na atualidade, AIDS, desde que medicada, é doença crônica, sem a letalidade do início.HOMICÍDIO - CONTINUAÇÃO
a.7 - CONSUMAÇÃO E TENTATIVA:
					A consumação do crime de homicídio se dá com a morte da vítima.
					No entanto, é questão difícil e controvertida, seja em termos jurídicos ou mesmo médicos, a determinação do que venha a ser ou configurar a morte.
					A doutrina apresenta algumas situações que podem ser tomadas como o "momento da morte". Vejamos:
1- Morte Clínica - paralisação das funções cardíaca e respiratória.
2- Morte Cerebral - ausência de impulsos elétricos cerebrais ( linha reta no eletroencefalograma ) . Observe-se que a doutrina médica diferencia "morte cerebral" de "morte encefálica", sendo a segunda mais ampla, abrangendo destarte o cérebro, o tronco cerebral e o cerebelo.
3- Morte Biológica - deterioração celular.
					Os autores dividem-se no que se refere a identificar alguma dessas "mortes" como aquela que deva ser tida como o verdadeiro momento da morte.
					Encontrar-se-ão posições tanto na doutrina jurídica, como na de Medicina Legal, defendendo o momento da morte como sendo ora a "morte clínica", ora a "morte cerebral" ou até mesmo exigindo sua coincidência.
					Logicamente a morte biológica aparece como um "processo" de deterioração, sendo que serve como uma definição estritamente médica do que seja morte, inclusive verificando-se nas obras especializadas de Medicina Legal que os autores sempre fazem referência à morte como um "processo". Não obstante para o campo jurídico o conceito de morte como deterioração celular seria muito amplo e de constatação conturbada. ( Ver a respeito do tema enfocado: Odon Ramos MARANHÃO, Curso básico de medicina legal, Ed. Malheiros, p. 231/240. E ainda, Flamínio FÁVERO, Medicina Legal, Ed. Villa Rica, p. 544/580 ).
					Quanto aos autores encontram-se os seguintes posicionamentos:
- Mirabete, Almeida Jr., Costa Jr., Odon Ramos Maranhão, e Flamínio Fávero - aceitam como "momento da morte" aquele em que ocorre a "parada irreversível da circulação e da respiração" ( morte clínica ).
- Celso Delmanto - "A morte ocorre com a cessação do funcionamento cerebral, circulatório e respiratório." ( morte clínica + morte cerebral )
- José Adriano Marrey Neto - considera como mais adequado como "momento da morte" a morte cerebral, afirmando: "Em outros termos, não é o coração o centro da vida, tratando-se, antes, de ponto antigamente adotado de forma apenas convencional, não de maneira científica." ( Vide artigo anexo ).
Obs. IMPORTANTE: 
					A atual Lei de Transplantes ( Lei 9434/97 - cópia anexa ), adota o critério da morte cerebral para o diagnóstico ( art. 3º, "caput" ), podendo passar a servir de baliza para as decisões.
					Também a doutrina espanhola reconhece a morte cerebral como a definidora do momento da morte ( Ver Arroyo Urieta "et al. ", XI Jornadas Médico - Forenses Espanholas, "apud" Odon R. Maranhão, Curso básico de Medicina Legal, p. 232.).
Obs. IMPORTANTE:
					Não obstante toda a problemática na definição do que constitua morte, pensamos que a questão pode ser facilmente dirimida por um critério pragmático, qual seja, verificar em qualquer caso, a ocorrência da IRREVERSIBILIDADE, seja da morte cerebral, seja da morte clínica ou de ambas. Sendo a situação irreversível em qualquer caso, devidamente constatado por profissional médico, pode-se concluir pela efetiva ocorrência da morte.
SINAIS DA MORTE
					Uma das áreas da Medicina Legal que estuda os "fenômenos cadavéricos" pode também fornecer subsídios para aferição da realidade da morte. É a "Tanatologia".
					A morte para seu diagnóstico não tem sinais "patognomônicos", ou seja, que , isoladamente, indiquem com segurança sua ocorrência. Isso logicamente antes da fase de deterioração.
					Os sinais que devem ser analisados em conjunto se dividem em:
1) Abióticos ou avitais imediatos:
- Perda da consciência;
- Insensibilidade;
- Imobilidade;
- Parada da respiração;
- Parada da circulação.
2) Sinais comuns consecutivos:
- Resfriamento;
- Rigidez cadavérica;
- Hipóstases ou Livores de hipóstases ( acúmulo de sangue em regiões de maior declive devido à parada circulatória );
- Mancha verde abdominal ( marco do início do processo putrefativo ).
3) Sinais especiais:
					São testes utilizados para constatação de existência de sinais vitais. Por exemplo:
- Fluoresceína - É uma substância que se injetada na pessoa, havendo circulação, deixará amarela a superfície cutânea.
- Acetato de Chumbo - Substância branca que colocada nas narinas e havendo respiração, ainda que muito leve, colora-se de preto.
- Eletrocardiograma;
- Eletroencefalograma.
4) Fenômenos destrutivos:
- Putrefação, a qual é dividida em quatro fases ( cromática, gasosa, coliquativa, esquelética ).
- Maceração - É a putrefação em meio líquido.
5) Fenômenos conservadores:
- Mumificação - Ocorre em locais extremamente secos em que o cadáver tem uma rápida evaporação de seu componente líquido.
- Saponificação - Ocorre em terrenos úmidos, onde o cadáver adquire realmente aspecto de uma massa adiposa.
					A existência desses sinais constituirá forte indicador ao perito sobre a ocorrência da morte.
PROVA DO HOMICÍDIO
					A prova material é o laudo de exame necroscópico.
					A doutrina ( Magalhães Noronha e Mirabete ) menciona a possibilidade de ser eventualmente suprido por prova testemunhal ( Ver art. 167 CPP ).
					No entanto, não será em qualquer caso que se poderá substituir o laudo pelas testemunhas. Apenas em casos extremos em que se comprove a ação específica do autor do crime em destruir o cadáver e a impossibilidade absoluta de exame, é que poderá ser admitida a aplicação do art. 167 CPP. Isso sob pena de cometimento de injustiças tais quais o famoso "Caso dos Irmãos Naves" que inclusive foi objeto de retratação pelo cinema nacional.
					Sobre o tema é interessante lembrar a lição de Malatesta sobre o "limite probatório do corpo de delito", segundo o qual para determinadas provas é indispensável o exame de corpo de delito, somente podendo ser contornado em situações excepcionalíssimas. ( Ver Nicola Framarino Dei MALATESTA, A lógica das provas em matéria criminal, Ed. Bookseller, p. 514 ).
TENTATIVA
1- Logicamente, tratando-se de crime material, comporta a tentativa ( CP, art. 14, II ).
2- O que distingue a tentativa de homicídio da lesão corporal?
					Simplesmente o elemento subjetivo. O dolo dirigido a matar ( "animus necandi" ou "occidendi" ) ou a ferir ( "animus laedendi" ou "nocendi" ).
					Observe-se que no caso concreto, sendo difícil a apuração do móvel subjetivo do agente, a conclusão vai basear-se num conjunto de elementos. ( Por exemplo: tipo de agressão, uso ou não de arma letal, sede das lesões, etc. ).
3- Caso mencionado com freqüência na doutrina é o do indivíduo que, tendo a arma carregada completamente faz apenas um disparo e a vítima não morre.
					A doutrina ( Celso Delmanto, Aníbal Bruno, Damásio E. de Jesus e Mirabete ) e a jurisprudência tendem a reconhecer no caso a ocorrência de desistência voluntária, alegando que o agente deve responder somente por lesões corporais.
					Sublinhe-se uma vez mais o perigo das generalizações. Vejamos os exemplos a seguir:
1º Caso - Um indivíduo efetua um único disparo, estando de posse de arma municiada totalmente, contra um desafeto em meio a discussão. Vendo-o ferido, não segue com a conduta. Certamente poderia ocorrer a solução preconizada pela doutrina.
2º Caso - Um matador de aluguel, embora tendo a arma municiada totalmente, efetua um único e certeiro disparo na cabeça da vítima. Seria possível falar em desistência voluntária e mera apenação por lesões corporais num caso destes ou similar? Pensamos que não.
3º Caso - Um sujeito só tem um cartucho no revólver e o dispara contra a vítima que, embora alvejada, não morre.Neste caso somente a vontade do agente é que poderá solucionar o caso. Apurando-se que queria matar ( tentativa de homicídio ), apurando-se que queria apenas causar lesão ( lesões corporais ), na dúvida, a solução mais benéfica para o réu ( lesões corporais ). Veja-se que neste caso não houve desistência, pois o agente esgotou seu potencial lesivo que era reduzido.
4º Caso- O agente, tendo arma totalmente municiada efetua um disparo contra a vítima que não chega a causar a morte. Nisso, quando ia prosseguir, é detido por terceiros e desarmado. O tiro único foi alheio à sua vontade, configurando-se a chamada tentativa imperfeita, em que o agente não esgota o potencial lesivo por motivos alheios à sua vontade. Neste caso houve realmente tentativa de homicídio.
Obs. Vale lembrar a existência na doutrina da chamada "Tentativa Perfeita ou crime falho" em que o agente esgota seu potencial , mas não consuma o crime por motivos alheios à sua vontade. Ex. descarrega o revólver, mas a vítima não morre. Também é prevista a chamada "tentativa branca", tratando-se do caso em que na tentativa não ocorre qualquer lesão. Ex. caso em que o agente erra os tiros.
HOMICÍDIO - CONTINUAÇÃO
a.8 - HOMICÍDIO PRIVILEGIADO ( ART. 121,§ 1º, CP )
					O homicídio privilegiado é uma causa de diminuição de pena. São previstos casos em que a reprovabilidade da conduta é minorada.
					O art. 121, § 1º descreve três motivações do homicídio que merecem a redução legal da pena: 
1- Cometer o homicídio por relevante valor moral;
2- Cometer o homicídio por relevante valor social;
3- Cometer o homicídio sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima.
RELEVANTE VALOR MORAL OU SOCIAL
Obs.1- Qual a diferença entre relevante valor moral e social?
					A diferença é que o valor moral se refere a interesses particulares, enquanto que o valor social é atinente a interesse coletivo.
					Exemplos:
1- Relevante valor moral: O pai que mata o estuprador da sua filha.
2- Relevante valor social: O indivíduo que mata o traidor da pátria ou um criminoso temido numa comunidade.
Obs.2- CONCURSO APARENTE DE NORMAS:
					
					No art. 65, III, "a", CP, há a previsão do relevante valor moral ou social como atenuante genérica, porém prevalece a previsão do art. 121, § 1º nos casos de homicídio pelo Princípio da Especialidade.
VIOLENTA EMOÇÃO
					A violenta emoção exige requisitos:
a) Que seja realmente avassaladora do psiquismo, de modo a levar a pessoa a um agir impensado. Não se fala, porém, como no Código Penal anterior ( 1890 ) de "perturbação dos sentidos ou da inteligência" que se denominou de "privação dos sentidos".
b) Injusta provocação - A vítima deve agir de modo a com sua conduta dar causa à ação violenta do homicida. Logicamente a provocação deve ser "injusta", não cabendo privilégio se o agente fica irado com o exercício de um direito da vítima.
					Cabem aqui algumas distinções:
Ex1.- A lei fala em "injusta provocação". Se o que motiva a morte da vítima é a defesa a uma agressão, ocorre legítima defesa ( art. 23,II c/c 25 CP ).
Ex2 - João Mestieri dá os exemplos em que a violenta emoção não se caracteriza e sim, pelo contrário, fica patente a qualificadora do motivo fútil:
					"Não será de se reconhecer o privilégio ao fanfarrão que não recebeu intimamente a injusta provocação, e calculadamente comete o crime para não levar desaforos para casa.
					Na mesma linha está a provocação insuficiente para trazer o estado de emoção violenta, e. g., a simples troca de insultos entre os sujeitos o que, em geral, além de impedir o reconhecimento do privilégio, permite, muita vez, a incidência do tipo agravado." ( art. 121, § 2º, II, CP ).
Obs.1- CONCURSO APARENTE DE NORMAS
					No art. 65, III, "c", a violenta emoção aparece como atenuante genérica. Neste caso não se trata de prevalência do art. 121, § 1º, por força de especialidade. Na realidade são casos totalmente distintos.
					Em primeiro lugar, no art. 65, III, "c" menciona-se "influência" e não "domínio" de violenta emoção. Além disso, existe a provocação injusta da vítima, mas não há o requisito temporal ( "logo em seguida").
					Exemplificando: 
Ex.1- Art. 121, § 1º, CP - Um indivíduo que é altamente humilhado em público por outro, não suportando a situação e perdendo o controle, vem a cometer homicídio naquele mesmo momento.
Ex.2- Art. 65, III, "c", CP - O mesmo indivíduo humilhado em público, mas que naquele momento se contém. Posteriormente, remoendo as ofensas, decide pelo homicídio, retornando e matando a vítima provocadora.
Obs.2 - REQUISITO TEMPORAL
					A expressão "logo em seguida" impõe que a reação seja próxima no tempo em relação à provocação.
					Não existe um critério rígido, sendo necessário porém que a reação se dê enquanto durar a irritação do autor.
					Logicamente, se passadas muitas horas do fato ou o autor passar a outras ocupações para depois vir a cometer o crime, ocorrem fortes indicações ao não reconhecimento do privilégio. Caberá sempre ao juiz avaliar cada caso com suas peculiaridades.
					Note-se que o que importa no tempo é a ciência do agente sobre o fato provocador. Pode ocorrer que o fato se distancie longamente no tempo, mas o agente tomou ciência dele agora e ficou sob o domínio de violenta emoção.
Ex. - Suponha-se que um indivíduo tenha sido injustamente condenado por um crime, passando longos anos cumprindo a pena. Já livre, mas marcado pelos percalços do cárcere, vem a saber que determinado sujeito foi quem o incriminou dolosamente. Dominado por uma fúria incontida, comete o homicídio.
Obs.3- QUESTÃO IMPORTANTE: O HOMICÍDIO CHAMADO PASSIONAL É SEMPRE PRIVILEGIADO?
					Nem sempre aquilo que se entende por homicídio passional caracteriza o privilégio. Cada caso deve ser examinado separadamente, devendo-se tomar a cautela para que elementos de índole "machista" não venham a influenciar em decisões, a exemplo da já ultrapassada e vetusta teoria da "legítima defesa da honra". 
					Vale a lição de Magalhães Noronha: 
					"Em regra, os Tribunais têm aceitado a violenta emoção do marido que colhe a mulher em flagrante adultério. Compreende-se o ímpeto emocional, diante da surpresa ou inesperado da cena, pois é de sua essência ser brusco, repentino e violento. Mais que discutível, entretanto, será o choque emotivo, se o marido, sabendo da infidelidade da mulher, tudo preparar e fizer para colhê-la em flagrante. Incompreensível é essa 'emoção a prazo'.
					O assunto traz à baila a paixão amorosa. A Escola Positiva exaltou o delinqüente por amor e foi bastante para que por passional fosse tido todo matador de mulher, esquecendo-se dos característicos que aquela apontava. A verdade é que, via de regra, esses assassinos são péssimos indivíduos: maus esposos e piores pais. Vivem sua vida sem a menor preocupação para com aqueles por quem deviam zelar, descuram de tudo, e um dia, quando descobrem que a companheira cedeu a outrem, arvoram-se em juízes e executores.
					A verdade é que não os impele qualquer sentimento elevado ou nobre. É o medo do ridículo - eis a verdadeira mola do crime.
					Esse pseudo - amor não é nada mais que sensualidade baixa e grossa,..."
Obs. 4 - OUTROS EXEMPLOS DE PRIVILÉGIO DA DOUTRINA:
a) João Mestieri : "Figure-se o caso de um marido que presenciasse sua mulher sendo alvo de pesadas e injustas recriminações por parte de um desclassificado, e que reagisse arrebatado pela ira, matando-o. Não há falar-se em legítima defesa, pois o agente não obrou com 'animus defendendi' ( ... ). O móvel do comportamento foi, sem dúvida, injusta provocação da vítima."
b) Magalhães Noronha cita exemplo de Enrico Ferri : O filho que mata o pai ( Parricídio ) em defesa da mãe, vítima de contínuos tormentose maus tratos do esposo.
c) A Eutanásia como homicídio privilegiado:
					A eutanásia surge sempre entre os doutrinadores como exemplo típico de homicídio privilegiado, inclusive sendo objeto, como já foi visto, da reforma penal ( art. 121, § 3º do Anteprojeto de Código Penal ).
					Existem países nos quais a eutanásia é até mesmo considerada impunível ( Exs. Uruguai e Colômbia ).
					No Anteprojeto brasileiro apenas seria excludente de ilicitude a chamada "ortotanásia" ( art. 121, § 4º, do Anteprojeto ).
					Há casos porém em que, na verdade, não pode ser reconhecido o privilégio:
Ex.1- Imagine-se o caso do filho que pratica a morte do pai moribundo, não por piedade com relação ao seu sofrimento, mas pensando friamente em poupar-se de trabalho e gastos no trato do doente.
Ex.2- Eutanásia Eugênica ou Imprópria : "Compreende o ato de destruir vidas inúteis ou indesejáveis, segundo os padrões de algum bárbaro detentor do poder, por considerá-las privadas de valor vital." ( João Mestieri ). Por exemplo clássico aponta-se o "Nacional - Socialismo de Adolf Hitler.
Obs.5 - ERRO DE TIPO ( ART. 20 CP ):
					Se o agente supõe por erro justificável algum elemento do privilégio ( valor moral, social ou injusta provocação ), este pode ser reconhecido.
Obs.6- QUESTÃO IMPORTANTE: SÃO COMPATÍVEIS O PRIVILÉGIO ( ART. 121, § 1º ) E AS QUALIFICADORAS ( ART. 121, § 2º, I A IV ) ? 
					A doutrina dominante aponta a seguinte solução: serão compatíveis o privilégio com as qualificadoras objetivas, mas não com as qualificadoras subjetivas, pois estas são opostas às circunstâncias privilegiadas. ( Neste sentido: Mirabete, Damásio, Aníbal Bruno, Mestieri, Delmanto, etc. ).
					Magalhães Noronha afirma serem absolutamente incompatíveis as qualificadoras com o privilégio, inclusive pela posição do parágrafo que trata do homicídio privilegiado antes do que trata do qualificado.
					São exemplos da doutrina que admite o privilégio com as qualificadoras objetivas:
Ex.1- Pode ocorrer homicídio por relevante valor social por meio de emboscada, asfixia, venefício, etc.
Ex.2- Não pode ocorrer homicídio que seja praticado por relevante valor moral e concomitantemente por motivo fútil ou mediante paga ou ainda para ocultar outro crime.
Obs.7- REDUÇÃO DE PENA
					O reconhecimento do privilégio tem como conseqüência uma redução de pena de "um sexto a um terço".
					Como o art. 121, § 1º "in fine" diz que o juiz "pode reduzir a pena", discute-se na doutrina se esta redução é um "direito subjetivo do réu", estando o juiz obrigado a aplicá-la uma vez reconhecido o privilégio, ou, se trata-se de uma "faculdade" julgador.
					A maioria dos autores manifesta-se pela faculdade da redução ( Nelson Hungria, João Mestieri, Mirabete, Magalhães Noronha, Frederico Marques, Heleno Fragoso, etc. ).
					Outros manifestam-se pela obrigatoriedade da redução, aduzindo que a faculdade se refere apenas à determinação do "quantum" da redução ( Damásio E. de Jesus e Celso Delmanto ).
					A Jurisprudência atual, porém, vem tendendo a reconhecer a obrigatoriedade da redução, concluindo ser direito subjetivo do réu.
					Na verdade, reconhecido o privilégio, não terá o juiz como fundamentar a não redução da pena, sendo-lhe vedado agir por mero capricho. 
HOMICÍDIO - CONTINUAÇÃO
b) HOMICÍDIO QUALIFICADO:
b.1 - CRIME HEDIONDO: 
					O homicídio qualificado, tratado no artigo 121, § 2º, I a V, CP, apresenta casos em que o legislador considera a conduta do agente mais reprovável, seja por aspectos objetivos, seja por aspectos subjetivos, determinando como conseqüência um considerável aumento de pena ( de 12 a 30 anos de reclusão ).
					Além disso, conforme art. 1º, I da Lei 8072/90, alterada pela Lei 8930/94, o homicídio qualificado e aquele praticado em atividade típica de grupo de extermínio, é considerado "Crime Hediondo" com todas as conseqüências dessa classificação ( Vide art. 2º e parágrafos da Lei 8072/90 ).
Obs. - No Anteprojeto de Código Penal ( Art. 121, § 1º, III e VII ) é mantida a redação, sendo apenas incluídos dois incisos:
- Um trata do homicídio cometido por preconceito de raça, cor , etnia, sexo, condição física ou social, religião ou origem ( inciso III );
- Outro trata do homicídio cometido por grupos de extermínio, compatibilizando o Código Penal com a Lei dos Crimes Hediondos.
b.2 - ESTUDO DOS INCISOS:
I) "Mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe"
					São três as modalidades previstas neste inciso: 
a) Mediante paga;
b) Mediante promessa de recompensa;
c) Outro motivo torpe.
					Os itens "a" e "b" são semelhantes, apenas diferindo no sentido de que no primeiro ( mediante paga ) o agente recebe a compensação para o crime e no segundo ( promessa de recompensa ), basta que haja a "promessa" e o autor aja movido por ela, não havendo necessidade que a promessa seja cumprida.
Obs.- Não precisa haver fixação de valores e nem que a paga seja realizada integralmente.
					Ambos casos são denominados na doutrina como "Homicídio Mercenário".
					Existe divergência, porém, no que se refere à natureza da recompensa, havendo autores que defendem a tese de haver de ser a mesma patrimonial ( Mirabete, Nelson Hungria, Heleno Fragoso, Frederico Marques, Magalhães Noronha, Aníbal Bruno e Celso Delmanto ) e outros que afirmam poder constituir-se em qualquer vantagem, ainda que não economicamente apreciável, como por exemplo, uma promessa de casamento, favores sexuais, promoção profissional, etc. ( Damásio E. de Jesus, João Mestieri e Costa e Silva ).
					A predominância da doutrina, conforme se vê, é no sentido da necessidade de significado patrimonial para a "paga" ou "promessa de recompensa". Isso parece ser correto, uma vez que o legislador constou nesse inciso, na verdade, duas espécies do gênero "motivo torpe", pretendendo destacá-las com vistas à reprovação daquele que age contra a vida em troca de vantagem monetária.
					Os exemplos dos doutrinadores que defendem a possibilidade de enquadramento de outras vantagens não patrimoniais como "paga" ou "recompensa" podem ter cabimento tranqüilamente como homicídio qualificado na figura prevista do "outro motivo torpe" ( Ex. Indivíduo que mata em troca de favores sexuais da mulher da vítima ).
Obs.- "CRIMEN INTER SICARIOS" - Responde pela qualificadora tanto o mandante como o autor direto do homicídio ( Ver art. 30 CP ) (Entendimento Majoritário, inclusive de Nelson Hungria).
Obs. – Note-se que Fernando Capez apresenta entendimento diferente, considerando que o mandante não deve responder pela qualificadora por tratar-se de circunstância subjetiva e pessoal não pertencente ao tipo penal, a qual não deveria comunicar-se.
MOTIVO TORPE
					Torpe, é aquilo que é "desonesto, repugnante, infame, nojento, ignóbil, manchado".
					Assim sendo, este será qualquer motivo capaz de gerar o repúdio das pessoas, abrangendo inclusive o homicídio mercenário como uma de suas espécies, conforme já mencionado.
					São exemplos correntes:
1) Cupidez ( matar para receber herança ou para diminuir o número de herdeiros ).
2) Satisfação de desejos sexuais:
					Neste caso cabe uma distinção interessante:
2.1 - O sujeito pratica estupro e durante esse ato causa a morte da vítima de forma preterdolosa. Não se trata de homicídio qualificado, mas sim de crime de estupro qualificado ( art. 213 c/c 223, Parágrafo Único CP ).
2.2 - O sujeito que mata alguém devido à promessa de favores sexuais do (a) mandante. ( Homicídio Qualificado pelo motivo torpe ).
2.3 - O sujeito que mata a vítima por não ser correspondido em seus desejos sexuais em relação a ela. ( Homicídio Qualificado pelo motivo torpe ).
3) Vingança:
					A vingança configurará motivo torpe sempre que aquilo que a motivou forconsiderado algo inaceitável eticamente. No entanto, nem sempre a vingança determinará a qualificadora, podendo, eventualmente, dirigir-se ao oposto, ou seja, configurar um privilégio.
					Vejamos alguns exemplos:
3.1- Um mau empregado é despedido porque um inspetor de pessoal o flagra dormindo em serviço. Por vingança, ele mata o inspetor. Configura-se o motivo torpe.
3.2 - Um filho vê o pai ser morto e logo em seguida, movido por violenta emoção, executa o matador. Certamente poderia ser reconhecido o privilégio ( Art. 121, § 1º, CP ).
4) Vaidade:
					Um exemplo jurisprudencial citado por Mirabete do indivíduo que mata outro porque a vítima teria "fama de valente", visando glorificar sua coragem e ousadia.
5) Os motivos previstos no art. 121, § 1º do Anteprojeto ( preconceito de raça, cor, etnia, sexo, condição física ou social, religião ou origem ), são exemplos claros de motivos torpes.
6) Matar por prazer.
7) Ciúme:
					O ciúme é outro caso em que nem sempre ocorrerá o motivo torpe, podendo, eventualmente, configurar outra qualificadora ou mesmo algum privilégio.
					Vejamos alguns exemplos:
7.1 - O namorado mata a namora porque ela trajou uma roupa considerada por ele inadequada. Parece melhor enquadrado o caso no art. 121, § 2º, II - Motivo Fútil.
7.2 - O indivíduo que mata ex-amante por um sentimento possessivo em relação a ela quando sabe de seu envolvimento com outro. Seria um exemplo de motivo torpe.
7.3 - O cônjuge que flagra o outro em adultério. Pode configurar o privilégio ( art. 121, § 1º, CP ).
II ) "Por motivo fútil"
					Fútil é aquilo que é frívolo, insignificante, vão, leviano. Característica é a desproporção entre o motivo e a reação extrema de praticar o homicídio.
Exemplos: discussão acerca de futebol, rompimento de namoro, desentendimentos banais, etc.
1ª QUESTÃO: A futilidade deve ser analisada por um critério objetivo ou subjetivo?
					A doutrina indica que a futilidade do motivo deve ser analisada por critérios objetivos e não de acordo com o ponto de vista do réu.
2ª QUESTÃO: O motivo fútil eqüivale à ausência de motivo?
					Existem decisões jurisprudenciais no sentido de equiparar a ausência de motivo ao motivo fútil, sob o argumento de que a falta de motivo configuraria o extremo da futilidade ( Ver Mirabete, op. cit., p. 51 ).
					No entanto, na doutrina há autores que defendem a tese de que a ausência de motivo não pode equiparar-se ao motivo fútil ( Damásio E. de Jesus e Celso Delmanto ).
					Pensamos que a posição mais ponderada é a das decisões que vêem na ausência de motivo para o crime o cúmulo da futilidade. No entanto, tem prevalecido o entendimento jurisprudencial de que a ausência de motivo não qualifica o homicídio (vide Mirabete).
CONFLITO APARENTE DE NORMAS:
					O art. 61, II, "a", CP, prevê os motivos fútil e torpe como agravantes genéricas. Mais uma vez deve prevalecer no caso do homicídio a aplicação do art. 121, § 2º, I e II, CP, pelo Princípio da Especialidade.
III) "Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum"
					São todos casos em que o meio empregado pelo agente merece uma reprovação especial do legislador, seja pela crueldade ou maneira insidiosa ( traiçoeira, dissimulada ), seja pelo fato de poder resultar perigo a outras pessoas que poderão ser atingidas por via oblíqua. 
					Analisemos caso a caso:
1- Veneno:
					O que seria veneno?
- Mirabete traz o seguinte conceito: "Veneno, segundo a doutrina, é toda substância mineral, vegetal ou animal que, introduzida no organismo, é capaz de, mediante ação química, bioquímica ou mecânica, lesar a saúde ou destruir a vida."
- Damásio : "Trata-se de toda substância que, introduzida no organismo, por intermédio de ação biológica ou química, pode lesar ou causar a morte."
- Souza Lima: "Veneno é toda substância estranha à categoria dos agentes vulnerantes e patogênicos que, introduzida ou aplicada de qualquer modo no corpo humano em certa quantidade, relativamente grande, produz mais ou menos rapidamente, acidentes graves na economia, que podem terminar pela morte, ou deixar defeitos permanentes e irremediáveis."
QUESTÃO 1 - Mas e se tratar-se de uma substância em geral inócua, a qual para determinada pessoa, por sua condição específica , pode ser letal, como por exemplo o açúcar para o diabético?
					Existem respeitáveis doutrinadores ( Nelson Hungria e Magalhães Noronha ) que apontam a equiparação nestes casos com o veneno.
					No entanto, a melhor opção está em considerar que a tipicidade exige o uso de veneno propriamente dito, uma vez que esta é a palavra utilizada pela lei. Nada impede, porém, que nesses casos seja reconhecida a qualificadora sob o aspecto de "outro meio insidioso".
QUESTÃO 2: O pó de vidro seria veneno?
					Aníbal Bruno apresenta este exemplo e conclui que tecnicamente não se trataria de veneno, mas como no exemplo antecedente, não deixaria de qualificar-se o homicídio pelo "outro meio insidioso ou cruel".
QUESTÃO 3: O venefício é um meio insidioso. E se o veneno é ministrado à vítima não dissimuladamente, mas com sua ciência e à força? 
					A doutrina à unanimidade afirma que para caracterização do venefício é imprescindível que o veneno seja ministrado insidiosamente.
					No entanto, no caso enfocado, também permaneceria qualificado o homicídio, não pelo emprego de veneno, mas sim pelo "meio cruel".
Obs. IMPORTANTE: A prova do envenenamento se faz por meio do exame necroscópico ( sinais externos e internos ), mas, principalmente, pelo exame toxicológico ( sangue, vísceras e secreções ).
2- Fogo:
					O uso do fogo qualifica o homicídio, pois pode configurar um meio cruel e até mesmo perigo comum quando gera possibilidade de incêndio.
Obs.1 - Não confundir uso de fogo no homicídio com uso de "arma de fogo".
Obs.2 - Para a qualificadora em estudo é necessário que o fogo seja ateado à vítima ainda viva. Se ateado à vítima já morta, pode configurar outro crime em concurso ou independente, conforme o elemento subjetivo do agente ( Vilipêndio de cadáver ou Ocultação de Cadáver - arts. 211 e 212 CP ). A verificação sobre se o fogo foi ateado antes ou "post mortem" se faz por meio da perícia médico legal de acordo com características de lesões em vivo e em mortos.
3- Explosivo:
					Pode ser meio cruel e de perigo comum.
Conceitos:
a) Mirabete: "Qualquer corpo capaz de se transformar rapidamente em gás à temperatura elevada".
b) Magalhães Noronha: "Explosivo é a substância que atua com detonação e estrondo; é a matéria capaz de causar rebentação."
Obs. - Preferível a segunda definição, pois não necessariamente há que existir a temperatura elevada para detonação ( Ex. Nitroglicerina ).
QUESTÃO : Se o autor usa do fogo ou explosivo, haveria concurso formal com os crimes de perigo comum do art. 250 e seguintes do CP ?
					Damásio entende que sim.
					No entanto, a melhor doutrina ensina que os crimes de perigo são subsidiários, somente prevalecendo se inexistente outra infração mais grave. Assim sendo, o agente somente responderia pelo homicídio qualificado, inclusive para evitar um possível "bis in idem", pois seria apenado pelo homicídio qualificado e responderia ainda por outro crime em concurso, considerando um mesmo fato.
QUESTÃO: Mas e se com a conduta ele atinge efetivamente outras pessoas, além daquela visada. Por exemplo, numa explosão ou incêndio mata outras pessoas?
					Dependendo do caso concreto, poderá responder a título de dolo eventual por outros tantos homicídios qualificados ou por homicídios culposos, tudo variando conforme o elemento subjetivo do agente.
Obs. - Também o explosivo deve ser usado contra a vítima ainda viva. Se for usado em cadáver podeconfigurar destruição ou ocultação ou mesmo vilipêndio, dependendo do elemento subjetivo do autor ( Ver arts. 211 e 212 CP ), seja em concurso com o homicídio ou autonomamente.
4) Asfixia:
					Também considerado um meio cruel, sendo exemplos:
a) Esganadura - constrição do pescoço com as mãos.
b) Enforcamento - constrição do pescoço pelo próprio peso da vítima.
c) Estrangulamento - constrição do pescoço por força muscular e utilizando algum instrumento como um fio, corda, arame, etc.
d) Sufocação - Tamponamento das vias aéreas.
e) Soterramento - Submersão em meio sólido.
f) Afogamento - Submersão em meio líqüido.
g) Confinamento - colocação de pessoa em local abafado, onde não entra ar.
Obs. Podem também ser utilizados processos tóxicos, mas em geral consistirão na qualificadora do emprego de veneno.
					Um exemplo de gás tóxico que configuraria a asfixia e não envenenamento seria o monóxido de carbono. Ex. Confinar a pessoa num local onde haja concentração desse gás, como uma garagem fechada com um carro em funcionamento.
5- Tortura: 
Definições:
- Magalhães Noronha: "Consiste em infligir-se um mal ou sofrimento desnecessário e fora do comum."
- Celso Delmanto : "É o suplício que causa atroz e desnecessário sofrimento."
- Mirabete : "A tortura é a inflição de mal desnecessário para causar à vítima dor, angústia, sofrimento."
- Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura ( 1985 ), ratificada pelo Brasil ( Decreto 98.386 de 09.11.89 ), art. 2º: 
					"Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação como castigo pessoal, como medida preventiva ou com qualquer outro fim.
					Entender-se-á também por tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou psíquica."
Obs.1 - Note-se que a tortura pode ser física ou moral.
Exemplos:
a) Tortura física: Queimaduras de ponta de cigarro.
b) Tortura moral: Criação de clima de terror ou angústia na vítima.
Obs.2 - Magalhães Noronha faz interessante menção quanto ao dolo no caso do homicídio qualificado pela tortura:
					"No emprego da tortura a vontade se biparte: a morte como fim, causado, porém, por determinado modo."
Obs.3 - A falta de definição legal do que seria "tortura" chegou a criar na doutrina correntes que apregoavam a inaplicabilidade da qualificadora e mesmo do art. 233 ECA ( Lei 8069/90 ), em face do Princípio da Legalidade, considerando serem inadmissíveis no Direito Penal a existência de "tipos abertos".
					A polêmica somente encontra pacificação com a recente edição da Lei 9455 de 07.04.97 ( Lei de Tortura ) que finalmente define esse crime.
Obs.4- CONFLITO APARENTE DE NORMAS: Art. 121, § 2º, III e Lei 9455/97, art. 1º, § 3º, "in fine":
					O evento morte na tortura pode ocorrer de formas diversas, apresentando soluções também diferentes: ( Ver também artigos anexos ).
Caso 1- O indivíduo quer matar e quer que a morte se dê por meio de tortura. Configura-se o art. 121, § 2º, III, CP e é afastada a Lei 9455/97.
Caso 2- O indivíduo quer praticar a tortura e durante a mesma resulta a morte. Trata-se de figura preterdolosa. Responde pelo art. 1º, § 3º , "in fine" da Lei 9455/97.
Caso 3- O indivíduo quer praticar a tortura. Inicia sua conduta e durante a mesma sente a vontade de matar a vítima, desferindo-lhe ao final dos atos cruéis tiros que a matam. Neste caso há concurso material de dois crimes: homicídio qualificado ( eventual motivo torpe ou recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima - art. 121, § 2º, I e IV CP ) e Crime de Tortura ( Lei 9455/97, art. 1º ).
Obs. É importante notar que o crime de tortura exige para sua configuração um fim especial do agente. Assim sendo, a prática de atos de tortura gratuitamente não configura o crime do art. 1º da Lei 9455/97.
Por exemplo:
- Decide-se queimar uma pessoa com pontas de cigarro gratuitamente, sem outro fim especial senão o deleite com seu sofrimento. Responderá o agente somente por lesões corporais.
					O efeito disso nos casos 2 e 3 supra também é interessante de ser notado:
a) No caso 2, se o agente tortura fora dos objetivos preconizados pela lei, não incide no art. 1º da Lei 9455/97. Se resulta a morte culposamente, só lhe resta responder por lesões corporais seguidas de morte ( art. 129, § 3º CP ) ou se comprovado dolo eventual de sua parte, por homicídio que poderá ser qualificado pelo motivo torpe.
b) No caso 3, também se a tortura não se refere aos objetivos definidos na Lei 9455/97, não se configura o Crime de Tortura, somente respondendo o agente pelo homicídio qualificado ( motivo torpe ou recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima).
HOMICÍDIO QUALIFICADO - CONTINUAÇÃO
IV) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.
					Tratam-se de meios para a prática do homicídio que revelam a covardia do autor, o qual se utiliza de expedientes que possibilitam a prática do crime com maior segurança, por intermédio da boa fé ou desprevenção da vítima.
					Mais uma vez o legislador apresenta exemplos casuisticamente ( traição, emboscada e dissimulação ) para depois descrever uma fórmula geral.
					Analisemos caso a caso:
a) À traição:
					A característica será a existência de uma relação de confiança entre vítima e autor, a qual será quebrada pelo segundo.
					Alguns exemplos: 
a.1 - Marido que mata a esposa durante relação sexual.
a.2 - Tiros pelas costas.
Obs.- Notar que "tiro pelas costas" não é o mesmo que "tiro nas costas".
a.3 - Indivíduo que atrai o amigo para local onde existe um poço e pedindo que olhe o que há ali dentro, o empurra.
b) Emboscada:
					Configura-se com a tocaia, onde o agente permanece escondido à espera da vítima.
					Etmologicamente significa "esperar no bosque".
c) Dissimulação:
					Significa "encobrimento dos próprios desígnios, disfarce, refolho, fingimento".
					São exemplos:
c.1 - Disfarce.
c.2 - Damásio afirma que a dissimulação pode ser material ou moral
- Material - Quando se disfarça para matar a vítima.
- Moral- Quando finge amizade ou carinho pela vítima para matá-la.
d) A fórmula genérica: "qualquer outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido"
São exemplos:
- Armadilhas escondidas;
- O ataque de surpresa sempre que se verifique que ele comprometeu a possibilidade de defesa da vítima.
Obs.1- A superioridade de armas, por si só, não constitui a qualificadora, bem como não a constitui a diferença física entre autor e vítima.
Obs.2- Também deve-se notar que a impossibilidade de defesa deve derivar do meio de execução do homicídio e não das condições pessoais da vítima. Eventualmente poderá configurar causa de aumento de pena ou agravante genérica.
Exemplos:
1- Matar um velho ou enfermo - art. 61, II, "h", CP.
2- Matar uma criança - Ver art. 121, § 4º, "in fine", CP.
V) Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
					Ocorre sempre em conexão do homicídio com outro crime, havendo uma ligação de motivação entre eles. A princípio, seriam casos de motivos torpes que são previstos de maneira específica pelo legislador.
					São previstas três figuras:
a) Assegurar a execução de outro crime - Ocorre quando o agente, para praticar o crime que tem em mente, vem a matar alguém que lhe era obstáculo.
Ex. O seqüestrador que mata os seguranças da vítima deextorsão mediante seqüestro para poder consumar seu intento.
b) Ocultação ou impunidade de outro crime
					Aqui cabe uma análise conjunta para melhor didática na abordagem da diferenciação entre ambas condutas:
					Na ocultação se tem por objeto o crime, o fato criminoso. O crime não é conhecido e o agente procura esconder sua ocorrência.
Ex. O indivíduo que matou alguém e está transportando o corpo para desaparecer com ele. Se é interceptado por um Policial Rodoviário que descobre o cadáver e o mata, configura-se a qualificadora em apreço.
Ex. O indivíduo que está incendiando um prédio e é visto por uma testemunha, a qual mata na intenção de que a informação nunca chegue a ninguém, permanecendo a impressão de um incêndio acidental.
					Já na impunidade, a ocorrência do crime é conhecida, pretendendo o agente esconder a autoria.
Ex1.- O autor de um roubo que mata uma testemunha que irá reconhecê-lo nas investigações policiais.
Ex2.- Indivíduo que mata um policial para fugir à prisão em flagrante por tráfico.
c) Assegurar a vantagem de outro crime
					A vantagem será o proveito a ser obtido pelo agente com o crime. Neste tópico a doutrina entende poder ser alguma vantagem patrimonial ou de qualquer outra natureza.
Ex1.- Vantagem patrimonial: Homicídio contra o co - autor de estelionato para ficar com o proveito do crime.
Ex2.- Vantagens outras: O falsário que mata pessoa que descobre sua verdadeira identidade para continuar passando-se por terceiro a qualquer título.
Obs.1 - QUESTÃO: Como ficaria o caso do indivíduo que mata para roubar?
					Neste caso configura-se o chamado "latrocínio" ( art. 157, § 3º CP ) e não homicídio qualificado. Magalhães Noronha relembra que esse tema chegou a ser controverso há muito tempo, mas hoje trata-se de ponto pacífico, já decidido pelo Supremo Tribunal Federal.
Obs.2- Nelson Hungria e João Mestieri observam que mesmo que extinta a punibilidade do outro crime por qualquer motivo, persiste a qualificadora.
					Pode-se observar ainda que para a configuração da qualificadora não se exige decisão final ( trânsito em julgado ) ou mesmo condenação com relação ao outro crime.
Obs.3- QUESTÃO: E se o sujeito executa o homicídio a fim de assegurar a prática de uma contravenção?
					Não se configura a qualificadora do inc. V do art. 121, § 2º, CP, pois a norma menciona "crime" ( Princípio da Legalidade ).
					Não obstante, o homicídio continua qualificado nos termos do art. 121, § 2º, I ( motivo torpe ).
Obs.4- Não é necessário para configurar a qualificadora sob comento que o agente consiga ocultar, assegurar a vantagem, impunidade ou execução do outro crime.
Ex. O indivíduo que mata alguém para praticar um seqüestro e não consegue consumar tal crime, responderá normalmente pela qualificadora do homicídio.
Obs.5- Também não é imprescindível que o outro crime venha a ser cometido pelo mesmo agente, podendo sê-lo por terceiro.
Ex. O sujeito que mata alguém para evitar que reconheça um amigo seu como autor de um furto.
Obs.6- E se o outro crime é impossível ou putativo? 
					Damásio apresenta duas soluções:
- Crime impossível : Indivíduo que é visto apunhalando um morto e mata a testemunha. Segundo o autor, responderia pela qualificadora do art. 121, § 2o, V, CP, por referir-se a mesma à motivação subjetiva do homicídio.
- Crime Putativo : O indivíduo que pratica incesto e pensa tratar-se de figura criminosa, matando a testemunha que o flagrou. O autor diz que nesse caso, tratando-se o primeiro suposto crime de fato atípico na verdade, deveria responder por homicídio qualificado, mas como motivo torpe ( art. 121, § 2º, I , CP ).
					Na realidade a melhor solução para ambos os casos seria a qualificadora do motivo torpe ( art. 121, § 2º, I, CP ), pois em nenhum deles configura-se perfeitamente o "outro crime" de que fala o inciso V.
Obs.7- E se o autor está , por exemplo, furtando a casa da vítima e, sendo seu inimigo, resolve também matá-la por vingança?
					Não é caso de latrocínio ( art. 157, § 3º, CP ). Existe um concurso material entre furto ( art. l55, CP ) e homicídio possivelmente qualificado pelo motivo torpe ( vingança - art. 121, § 2º, I , CP ).
					Também não é o caso do inciso V, porque a morte não teve por móvel a execução, ocultação, impunidade ou garantia de vantagem de outro crime, no caso, o furto, mas sim a vingança pura e simples contra a vítima.
					Esse é o caso identificado na doutrina como "conexão ocasional". Mencionam-se três tipos de conexão:
1- Conexão Teleológica - Quando o homicídio é praticado para possibilitar a execução de outro crime.
2- Conexão Conseqüencial - Quando o homicídio é perpetrado para ocultar ou garantir a impunidade ou vantagem de outro crime.
3- Conexão Ocasional - Quando o homicídio ocorre por ocasião da prática de outro crime, mas sem ter ligação de motivação entre ambos, como no exemplo supra. Nesse caso, não se configura a qualificadora do art. 121,§2º, V, CP. 
b.3 - ALGUMAS OBSERVAÇÕES FINAIS SOBRE O HOMICÍDIO DOLOSO
1- A QUESTÃO DA PREMEDITAÇÃO:
					A premeditação não é prevista como circunstância qualificadora no homicídio, podendo apenas ser levada em conta na determinação do "quantum" da pena pelo Juiz, nos termos do art. 59 CP.
					Interessante a passagem de Damásio E. de Jesus a respeito do tema:
					"A premeditação não constitui circunstância qualificadora do homicídio. Nem sempre a preordenação criminosa constitui circunstância capaz de exasperar a pena do sujeito diante do maior grau de censurabilidade de seu comportamento . Muitas vezes, significa resistência à prática delituosa."
2- PARRICÍDIO:
					No Direito Antigo era tido como crime capital a ser punido com rigor exemplar.
					A título de ilustração observe-se como era a punição para esse tipo de delito em narrativa de Michel Foucault, em sua obra intitulada "Vigiar e Punir", Ed. Vozes, p. 11/12 ( cópia em anexo ).
					Hoje, não é ele próprio considerado como homicídio qualificado. É apenas um homicídio com agravante genérica ( art. 61, II, "e", CP ).
3- GENOCÍDIO:
					Se o crime é perpetrado com a intenção de destruir no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, ocorre o crime de genocídio previsto no art. 1º da Lei 2889/56.
					O genocídio também é Crime Hediondo ( Lei 8072/90 ).
					A diferença básica é que no Crime de Genocídio a ação é voltada para uma coletividade e não para um indivíduo somente.
Ex.1- Fazendeiros que, pretendendo ocupar terras indígenas, resolvem eliminar uma aldeia ali existente, matando os índios. ( Genocídio ).
Ex.2- O mesmo fazendeiro que, por preconceito racial, mata um índio. ( Homicídio qualificado pelo motivo torpe ).
Obs.- Mesmo quando a Lei 2889/56 fala em "destruir em parte" algum grupo, o sentido da ação deve ser contra uma coletividade.
4- EXISTÊNCIA DE DUAS OU MAIS QUALIFICADORAS:
					Suponhamos que num caso concreto o indivíduo incida em duas ou mais qualificadoras. Por exemplo, mata por um motivo fútil e com emprego de fogo ( art. 121, §2º, II e III, CP ).
					Apenas uma das qualificadoras já basta para a aplicação da pena majorada ( Reclusão de 12 a 30 anos ). Havendo mais de uma qualificadora, entrará no cálculo da pena entre as balizas mínima e máxima pelo julgador nos termos do art. 59 CP.
					Há posição no sentido de que uma das qualificadoras seria aplicada como agravante , mas isso não é possível, inclusive havendo decisão recente do Superior Tribunal de Justiça a respeito: 
JURISPRUDÊNCIA: Concurso de duas qualificadoras. Motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima. Aplicação de pena. 1- No caso de incidência de duas qualificadoras, integrantes do tipo homicídio qualificado, não pode uma delas ser tomada como circunstância agravante, ainda que coincidentecom uma das hipóteses descritas no art. 61 do Código Penal. A qualificadora deve ser considerada como circunstância judicial ( art. 59 do Código Penal ) na fixação da pena-base, porque o "caput" do art. 61 deste diploma é excludente da incidência da agravante genérica, quando diz: "são circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime." 2- RHC provido para excluir o acréscimo de pena resultante da aplicação da qualificadora ( surpresa ) como agravante. ( RHC no. 7176/MS, 6ª Turma, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 19.03.98, DJU 06.04.98 , p. 163 ).
5- VÍTIMA MULHER GRÁVIDA:
					Duas situações:
a) O agente sabe que a mulher está grávida. Responde por homicídio em concurso com aborto ( art. 121 c/c art. 125 CP ).
					Existe discussão jurisprudencial apenas sobre tratar-se de concurso formal próprio ou impróprio ( art. 70 CP ).
b) O agente não sabe que a mulher está grávida. Responde apenas pelo homicídio, pois o aborto está fora de sua consciência. Inclusive afasta-se a agravante do art. 61, II, "h",CP.
6- HOMICÍDIO CONTRA MENORES E IDOSOS:
					O art. 263 do ECA ( Lei 8069/90 ), acrescentou ao § 4º do art. 121 uma causa de aumento de pena da ordem de um terço quando o homicídio é praticado contra pessoa menor de 14 anos. E o Estatuto do Idoso acrescentou também aumento de pena para os casos de vítimas maiores de 60 anos.
					Em primeiro lugar, a topografia da norma é, no mínimo, censurável, pois que trata de causa de aumento de pena do homicídio doloso em local onde se tratava dos aumentos de pena do homicídio culposo. Melhor seria um parágrafo autônomo.
					O aumento, no entanto, justifica-se, especialmente em face da realidade cotidiana que revela altos índices de violência contra as crianças e idosos ( Ver nosso artigo em anexo ).
Obs. - Com relação a esse aumento de pena pode ocorrer um conflito aparente de normas com o art. 61, II, "h", CP, quando se refere a "criança".
					Suponhamos alguns casos práticos:
1- O homicídio é praticado contra menor de 14 anos, mas maior de 12 anos. Não resta dúvida que deve prevalecer o art. 121, § 4º, CP.
2- O homicídio é praticado contra "criança" no sentido legal do termo ( menor de 12 anos - art. 2º do ECA ).
					Podem haver três posições:
2.1- Prevaleceria o art. 121, § 4º e se afastaria a agravante do art. 61, II, "h", CP pelo Princípio da Especialidade.
2.2- O art. 121, § 4º e o art. 61, II, "h", CP, tratam de casos diversos pois "criança" legalmente falando ( art. 2º do ECA ), não é o mesmo que "menor de 14 anos", de modo que poderiam ser aplicados conjuntamente a agravante e o aumento de pena ( art. 121, § 4º c/c art. 61, II, "h", CP ).
2.3 - Uma posição não muito sensata seria considerar que no caso da criança ( menor de 12 anos ) prevaleceria apenas a agravante ( art. 6l, II, "h", CP ), afastando-se o aumento de pena. Desse modo se estaria punindo menos rigorosamente a pessoa que tirasse a vida de menor de mais tenra idade.
					Em nossa opinião a aplicação deve ser da segunda posição, seja pela sua lógica, não configurando "bis in idem" por tratar-se de casos diversos, seja pela necessidade do máximo rigor em casos que tais. No entanto, trata-se de matéria nova e pouco discutida na doutrina e jurisprudência.
					Já quanto aos maiores de 60 é claro que só se aplica o aumento de pena, pois senão tratar-se-ia de “bis in idem”. Ambos dispositivos tratam do mesmo caso.
7- AINDA SOBRE AGRAVANTES GENÉRICAS:
					Por final, vale observar que as agravantes genéricas do art. 61, II, "b", "c" e "d ", CP, são idênticas aos casos enfocados nos homicídios qualificados previstos no art. 121,§2º, III, IV e V CP.
					Como já visto em outros casos, deverá prevalecer a norma qualificadora do art. 121, afastando-se as agravantes, tendo em vista a redação do art. 61, "caput", CP e ainda o Princípio da Especialidade.
8- HOMICÍDIO QUALIFICADO - PRIVILEGIADO NÃO É CRIME HEDIONDO:
					Vimos que homicídio, dentro de determinadas circunstâncias , pode ser ao mesmo tempo qualificado e privilegiado. O homicídio qualificado é previsto como Crime Hediondo ( art. 1º, I, da Lei 8072/90 ).
					No entanto, o homicídio concomitantemente qualificado e privilegiado não pode ser considerado hediondo, conforme recente jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo:
JURISPRUDÊNCIA: O homicídio qualificado - privilegiado não é crime hediondo. 1- Eis o lúcido parecer do sempre acatado Procurador de Justiça doutor Nicanor Tavares Júnior: "Realmente, inexistira previsão na Lei dos Crimes Hediondos para a figura do denominado homicídio qualificado - privilegiado." No art. 1º da retrocitada Lei no. 8072/90, com a nova redação dada pela Lei 8930/94, nenhuma alusão o legislador fizera à conjugação das formas qualificadas de homicídio, ali explicitadas no parêntese, com a privilegiada. Dessa forma, sendo obrigatória a interpretação restritiva do texto legal, não integra efetivamente o caso presente o elenco dos crimes hediondos. De qualquer sorte, haveria de prevalecer, em critério para classificação da natureza hedionda ou não do delito, a circunstância subjetiva à objetiva, à vista do preceituado no art. 67 do Código Penal. Destarte, do decisório deve ser, com a devida vênia, excluída a classificação dos fatos como hediondos, concedendo-se, por conseguinte, à apelante, o regime prisional inicial próprio pleiteado ( semi - aberto ) e o direito à progressão. ( TJSP, Ap. Crim. no. 232.324-3/7-00, Taquaritinga, 3ª C.Crim., rel. des. Segurado Braz, j. 14.0l.98 ).
c) HOMICÍDIO CULPOSO ( ART. 121, § 3º, CP )
					É previsto também o homicídio culposo, ou seja, quando a morte causada pelo agente advém de conduta informa por imprudência, negligência ou imperícia ( Pena: detenção, de 1 a 3 anos ).
Obs.1- Com o advento do Código de Trânsito Brasileiro ( Lei 9503, de 23.09.97 ), quando o homicídio culposo se dá na direção de veículo automotor ( o que a doutrina convencionou chamar de "Delitos de Automóvel" ), configura-se não mais infração ao art. 121, § 3º CP, mas ao art. 302 CTB ( Pena: detenção, de 2 a 4 anos ).
- Quanto ao homicídio doloso, mesmo que seja realizado utilizando um carro ( ex. indivíduo que atropela dolosamente e mata alguém ), continuam valendo as disposições do Código Penal ( art. 121 ).
					É importante ter em mente a definição de veículo automotor que consta do Anexo I do CTB - Dos conceitos e definições:
"VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo de motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos ( ônibus elétrico )."
					São exemplos: carros de passeio, ônibus, ônibus elétrico, caminhões, cavalos de carretas, motocicletas, ciclomotores, etc.
					Não são automotores: trens, metrô, bicicletas, carroças, etc.
					A importância dessa definição está em saber quando se trata de aplicação do CP ou do CTB no homicídio culposo.
					Vejamos alguns exemplos:
Ex1.- Indivíduo que dispara acidentalmente uma arma de fogo, matando alguém. ( art. 121, § 3º, CP ).
Ex2. - Indivíduo que na direção de um carro de passeio atropela e mata alguém. ( Art. 302, CTB ).
Ex3. - Indivíduo que atropela alguém dirigindo uma bicicleta, vindo a ocorrer a morte. Embora seja um "acidente de trânsito", a infração é ao art. 121, § 3º CP, pois não se trata de veículo automotor.
HOMICÍDIO CULPOSO QUALIFICADO
					Haverão hoje dois tratamentos, um no art. 121, § 4º CP e outro no art. 302, Parágrafo Único CTB:
a) Art. 121,§ 4º, CP - Aplicável aos homicídios culposos que não ocorrem na direção de veículos automotores.
					Existem 3 causas de aumento de pena da ordem deum terço:
a.1- Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.
Ex. Médico que não esteriliza seus instrumentos, realizando cirurgia que resulta em infecção e morte do paciente.
Obs. - À primeira vista pode parecer que esta figura seria o mesmo que a imperícia em geral como configuradora da culpa. No entanto diferencia-se no seguinte detalhe: enquanto na imperícia o agente ignora a regra técnica e por isso age erroneamente, no caso do art. 121, § 4º o agente tem conhecimento da regra, mas, mesmo assim, não a observa.
OBS- O autor Guilherme de Souza Nucci (na sua obra Código Penal Comentado) critica a distinção acima e afirma ser problemática, aconselhando que essa causa de aumento de pena seja extinta do Código Penal.
a.2- Deixar de prestar imediato socorro à vítima ou não procurar diminuir as conseqüências de seus atos.
Obs.1- O agente não responde por crime de omissão de socorro em concurso ( art. 135 CP ), porque isso constituiria um "bis in idem".
Obs. 2- Se a vítima foi socorrida por terceiros e não abandonada pelo agente, este não incide na figura.
a.3- Fugir para evitar a prisão em flagrante
					Visa o dispositivo desestimular a fuga do agente que pode dificultar a posterior apuração da autoria.
b) Art. 302, Parágrafo Único CTB - Aplicável aos homicídios culposos na direção de veículos automotores.
					Existem cinco figuras, prevendo aumento de pena entre um terço e a metade:
b.1 - não possuir permissão para dirigir ou Carteira de Habilitação;
b.2 - praticar o crime em faixa de pedestres ou na calçada;
b.3- deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;
Obs1- Mais uma vez o legislador tenta evitar a fuga do local e o abandono da vítima pelo autor do crime. Inclusive existe como medida de Política Criminal a previsão no art. 30l CTB da impossibilidade de prisão em flagrante quando o autor socorre a vítima.
Obs2- O indivíduo que agiu com culpa, provocando o homicídio e deixa de prestar socorro, incide apenas no art. 302, Parágrafo Único, III CTB e não em concurso com o art.304 do mesmo diploma que prevê um tipo de omissão de socorro.
b.4- no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
b.5 –estiver sob influência de álcool ou substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos (Não há mais esta causa de aumento de pena. Ela foi revogada pela Lei 11.705/08).
PERDÃO JUDICIAL
					O § 5º do art. 121, CP, prevê hipóteses de perdão judicial.
					As conseqüências do crime têm que atingir realmente de forma muito grave o próprio agente para possibilitar o perdão e a não aplicação da pena. Ocorrerá tal caso sempre que a pena pareça diminuta em face da punição que o próprio fato, em suas conseqüências, impôs ao sujeito.
					São exemplos:
- Perder o próprio filho no acidente:
JURISPRUDÊNCIA: Perdão Judicial: Concessão. "De rigor a concessão de perdão judicial ao agente que cause morte do filho, por um comportamento negligente, posto que diante do sofrimento moral a que fica submetido, torna-se prescindível a sanção estatal. Irrelevante que o acusado não empregasse todos os cuidados exigidos a uma criança de tenra idade, mormente se não tinha condições financeiras para tanto, não restando configurado o descaso com a vida do filho, e tampouco a ausência de vínculo afetivo." ( TACrimSP, Ap. no. 1.042.815/0, Auriflama, 11ª CCrim, rel. Juiz Wilson Barreira, j. 05.05.97 ).
- Agente que fica paralítico, etc.
QUESTÃO: O perdão judicial do art. 121, § 5º, CP, pode ser aplicado em casos de infração ao art. 302 CTB? 
					Existe controvérsia neste tema que é bastante atual, havendo posicionamentos doutrinários pró e contra ( Ver artigos anexos de Luiz Flávio Gomes, Damásio E. de Jesus e Rui Stoco, os dois primeiros pró e o último contra ).
					Os contrários argumentam que o art. 300 CTB que previa o perdão judicial foi vetado e que o art. 29l CTB manda aplicarem-se subsidiariamente somente as normas gerais ( Parte Geral ) do Cód. Penal. Estando o perdão judicial tratado na parte especial, seria inaplicável.
					Aqueles que defendem a possibilidade da aplicação firmam-se nas razões do veto do art. 300 CTB que efetivamente fazem menção ao perdão judicial do Código Penal e dizem que o mesmo seria aplicável, somente não mantendo o art. 300 para evitar redundância legal. Quanto às normas gerais ditas no art. 291 CTB, entende-se que não são estritamente as da Parte Geral do Cód. Penal, mas todas normas de aplicação geral, dentre as quais o Perdão Judicial do art. 121,§ 5º, CP.
					A questão é recente e ainda pouco aventada na jurisprudência, porém, deve prevalecer o entendimento da aplicabilidade do perdão judicial aos crimes de trânsito.

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