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Apostila COMPLETA de Técnica Cirurgica

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FESO
Medicina Veterinária
Técnica Cirúrgica e Anestesiologia
Giselle Keller El Kareh de Souza
(2004)
Índice
Introdução ao estudo da anestesia e técnica cirúrgica			pág. 03
Introdução ao estudo da técnica cirúrgica nos animais domésticos	pág. 06
Profilaxia da infecção em cirurgia						pág. 11
Pré-operatório									pág. 15
Trans e pós-operatório								pág. 18
Medicação pré-anestésica (MPA)						pág. 23
Analgesia cirúrgica (parcial ou local)						pág. 32
Anestesias espinhais								pág. 36
Anestesia geral									pág. 40
Anestesia geral inalatória								pág. 48
Ventilação e/ou respiração pulmonar artificial				pág. 55
Miorrelaxantes de ação periférica						pág. 60
Fases fundamentais da técnica cirúrgica					pág. 64
Laparotomia										pág. 74
Principais cirurgias urogenitais dos machos					pág. 80
Cirurgias do sistema reprodutor feminino					pág. 92
Principais cirurgias gastrintestinais						pág. 99
Cirurgia óssea									pág. 106
Cirurgia do sistema tegumentar							pág. 113
Introdução ao estudo da anestesia e da técnica cirúrgica
Histórico:
O histórico da anestesia veterinária se inicia em:
1728 a 1800: utilização de N2O (óxido nitroso – gás anestésico) e éter;
1813 a 1898:
Curare – droga miorrelaxante à nível periférico;
Clorofórmio e éter na clínica;
Cocaína – primeiro anestésico parcial a ser utilizado;
Analgesia por infiltração – utilização de seringa (surgimento da agulha);
Máscara facial (anestésico volátil);
Associação de O2/N2O;
Hidrato de cloral – primeiro em animais e após dois anos no homem (anestésico geral não barbitúrico);
Intubação oro-traqueal;
Ciclopropano – anestésico geral, mas mais caro;
Primeira anestesia raquidiana.
1903 a 1965:
Primeiro barbitúrico endovenoso (Veronal) – pela primeira vez o barbitúrico é usado em animais;
Respirador a pressão positiva;
Síntese do halotano (volátil) – primeiro emprego na clínica;
Síntese do metoxifluorano (volátil);
Descoberto o isofluorano (fluotane);
Síntese e emprego da ketamina (cloridrato de ketamina - Ketalar).
Etimologia – origem e significado de cada palavra:
A maioria das palavras utilizadas em medicina veterinária é de origem grega, poucas são em latim.
Anestesia: ausência de sensibilidade nervosa (no sentido de dor, dolorosa). Thesis – sensibilidade dolorosa; A – ausência: Anesthesis.
Veterinário: do grego Verere (trabalho). Veterinaerum (animal de carga); Rios (alguma coisa) – animais de carga que transportam alguma coisa.
Técnica: trabalho, desenvolvimento mecânico-físico; trabalho que envolve as mãos e os instrumentos. Teknne (grego) – técnica.
Cirurgia: trabalho feito com as mãos. Cheir – mão (grego); Ergon – trabalho; Chirurgus – que fazem trabalhos com as mãos – cirurgiões.
Conceitos:
Cirurgia é um conjunto de manobras manuais e instrumentais.
Anestesiologia corresponde a manobras ou procedimentos que evitam o aparecimento da dor.
Anestesista é o profissional que faz a anestesia através de equipamentos e drogas que inibem a dor.
Anestésico é a droga escolhida para ser administrada ao paciente com a finalidade de inibir a dor.
Anestesia parcial (ou analgesia cirúrgica) corresponde à perda da sensibilidade de ordem localizada; é a retirada da dor sem a perda da consciência.
Anestesia geral (ou narcose) corresponde à ausência da dor e da consciência; é a abolição de todos os sentidos.
Anestesia dissociativa inibe uma área do SNC enquanto estimula outra.
Hipnose é uma anestesia superficial.
Laparotomia é a abertura da cavidade abdominal (pelo flanco).
Tricotomia é a raspagem ou corte (sem arrancar) do pêlo em um determinado local.
Anestesia veterinária x humana:
Na anestesia humana o paciente é um colaborador, facilitando e até mesmo auxiliando o processo. Na veterinária, o paciente, na maioria das vezes apresenta resistência aos procedimentos anestésicos (como, por exemplo, à máscara com gás). Outra vantagem da anestesia humana é o trabalho com uma só espécie, facilitando os cálculos de dosagem da droga a ser administrada. Já em veterinária se trabalha com várias espécies e várias raças de portes diferentes.
A pré-anestesia (tranqüilizar o paciente antes de aplicar o anestésico) é muito empregada hoje em veterinária, pois facilita o trabalho fazendo com que o animal se entregue mais facilmente. Evita que o animal passe do estado normal (e até meio estressado) bruscamente para o estado de narcose. Além disso, promove um despertar sereno do animal, o que não ocorreria sem o pré-anestésico. Sem o pré-anestésico o animal teria uma volta brusca e um despertar agressivo, passado o efeito da anestesia.
	Nas anestesias em grandes animais, 90% dos procedimentos cirúrgicos a campo se resolvem com anestesia parcial (dispensando o uso da geral – estes animais possuem uma maior resistência a dor). Já em pequenos animais, tanto a parcial quanto a geral são muito utilizadas.
Vias de administração: Local, troncular, regional, venosa, intramuscular, subcutânea, retal, intraperitonial, respiratória.
Modalidades:
Analgesia parcial – local infiltrativa;
Trans-anestesia – anestesia geral.
Etapas:
Na anestesia parcial primeiramente faz-se o botão intradérmico (antes pode-se aplicar uma pomada anestésica e em seguida proceder o botão intradérmico – com uma seringa injeta-se a droga anestésica, formando um “botão circular” na pele) que fará o bloqueio anestésico.
Na anestesia geral faz-se:
1ª - indução – primeira anestesia (ex: administração do barbitúrico);
2ª - entubação traqueal;
3ª - manutenção – após a indução, manter o plano anestésico;
4ª - relaxamento mio-neural – curare (via venosa) não tira a dor, só paralisa a musculatura;
5ª - decurarização – entra-se com uma droga antagônica ao curare;
6ª - retorno – quando volta da anestesia;
7ª - despertar – interação com o meio, retorno de todos os movimentos e reflexos normais.
Pós-anestesia:
	No pós-anestesia deve-se preocupar em verificar a volta do funcionamento normal do coração, rins, fígado, respiração e reflexos. Não se deve permitir que o animal se desloque sozinho se não estiver totalmente desperto.
Conjunto para a anestesia:
Ambiente anestésico (sala de cirurgia e de preparo), CTI (se necessário), equipamentos, equipe anestésica e o paciente.
Deveres do anestesista:
Verificar o equipamento e o material antes do procedimento – se está tudo esterilizado, verificar as agulhas, as máquinas de ventilação e oxigenação, os tubos;
Observar o decúbito (prolongado é prejudicial às condições vitais do animal – provoca edema, isquemia, dificulta a respiração) e se certificar do jejum (principalmente se a cirurgia for em decúbito dorsal).
OBS: Não se deve aplicar xilazina em ruminantes se o animal não estiver em jejum, pois pode causar timpanismo. Caso não haja outra alternativa, ter a mão um trocater para perfurar o rumem, caso ocorra o timpanismo, provocando a saída do gás.
Jejum em pequenos animais – de 8 à 12h para alimentos sólidos e de 3 a 5h para alimentos líquidos.
Jejum em grandes animais – de 24 à 48h.
Emergências anestésicas:
Regurgitação e vômito;
Hipotensão arterial – verificar a pressão antes, durante e depois da anestesia;
Hipovolemia;
Síndrome de decúbito prolongado;
Plano anestésico profundo – deve ser evitado;
Extubação endotraqueal precoce – deve-se retirar o tubo somente com o animal bem recuperado das funções vitais;
Sonda endotraqueal no esôfago – falsa via;
Timpanismo;
Apnéia;
Hiperoxigenação – oxigênio em excesso é prejudicial ao SNC;
Hipoxigenação;
Bloqueio mio-neural maciço;
Excesso de secreção brônquica;
Aparelho anestésico com defeito;
Choque;
Parada cardio-respiratória.
Introdução ao estudo da técnica cirúrgica nos animais domésticos
Técnica Cirúrgica:
Sinonímia: Operações cirúrgicas, Centro de Quiriatria; Terapêutica cirúrgica, Terapêutica operatória.Histórico: as primeiras operações datam de A.C., com a cesária em uma cadela.
Avanço da técnica cirúrgica:
A técnica cirúrgica pode evoluir de acordo com os avanços da ciência:
Anatomia (sempre presente e de extrema importância);
Evolução dos conhecimentos de fisiologia, farmacologia, física e química;
Instituição do pré e pós-operatório;
Desenvolvimento dos vários tipos de anestesias;
Novos instrumentos – mais adaptados e modernos;
Aparecimento dos antibióticos, das sulfas e da cirurgia experimental (em cadáveres).
Terminologia:
Tomee – secção; Stomia – abertura e comunicação com o meio externo. Originaram o sufixo: Tomia – abertura (dos tecidos) / Enterotomia = secção do intestino, cistotomia = secção da bexiga; ruminotomia; traqueostomia;
Rrafia – sutura / gastrorrafia = sutura do abdome; nefrorrafia;
Centese – punção / ruminocentese = punção do rumem;
Pexia – fixação / enteropexia = fixação do intestino em algo; gastropexia = usada em torções gástricas;
Desis – fixação relacionada à articulação / artrodesis = fixação da articulação;
Ectomia – retirada total ou parcial / esterectomia = retirada do útero.
Classificação da cirurgia:
Leve: não oferece risco de vida ao paciente;
Grave: oferece risco de vida ao paciente;
Simples: aborda planos superficiais (pele e subcutâneo);
Complicada: aborda planos profundos (músculos, ligamentos e vísceras);
Incruenta: não há presença de sangue;
Cruenta: há presença de sangue;
Externa: mais superficial, visível;
Interna: nas cavidades, vísceras;
Risco cirúrgico: está ligado a resistência e a clínica do paciente, ao vulto da operação (o grau de agressão que ela irá causar – o próprio anestésico é uma agressão). Este risco pode ser pequeno, médio ou grande. Existem casos em que o animal entra em choque com pequeno risco cirúrgico e outros em que o risco cirúrgico era grande e não acontece nada.
Cirurgia de urgência – é sempre imediata. Se não fizer a cirurgia o paciente morre;
Cirurgia necessária – Não é urgente, mas necessária, pois pode evitar o agravamento do caso, e até mesmo evitar uma cirurgia de urgência (ex: tumor em desenvolvimento);
Cirurgia radical – com o ato cirúrgico pode curar totalmente o paciente;
Cirurgia paliativa – o ato cirúrgico pode resolver ou amenizar algum problema, mais não se sabe se irá curar completamente o paciente;
Cirurgia zootécnica – programada e executada em determinados períodos etários (de vida). Um exemplo são as cirurgias de castração, que devem ser feitas após um ou dois anos de vida (depende de cada espécie) para respeitar a ação hormonal;
Cirurgia de conveniência (normalmente conveniência do proprietário) - castração, mutilação (corte de orelhas, cauda);
Cirurgia experimental – com animais mortos. Contribui para o aprendizado.
OBS: Um só animal pode se enquadrar em vários casos dos relatados acima.
Tempo da cirurgia: Um ato cirúrgico, para ter êxito, deve seguir uma seqüência e respeitar o tempo normal da operação.
Conjunto cirúrgico:
Ambiente: área separada do restante (bloco cirúrgico), com menor irradiação solar, mas com muita claridade (iluminação). Na sala cirúrgica não deve ter ralo, o piso deve ser inclinado para que a água escoe para fora. Os cantos devem ser arredondados (para evitar acúmulo de sujeira), o piso deve ser antiderrapante e silencioso. A cor deve ser azul-claro, cinza ou verde-claro (mais indicado). A paramentação também deve seguir estas cores. Não se usa mais azulejo nas paredes porque o rejunte acumula sujeira, o ideal são placas lisas.
Iluminação: a iluminação deve ser abundante e convergindo para a mesa cirúrgica. O uso de foco cirúrgico (único – vindo do teto) é excelente porque não faz sombra e não aquece muito (vários focos fazem sombra). A iluminação com pedestal possui foco limitado. Há também o foco frontal, que fica na testa do cirurgião e é também chamado de ciclope.
Temperatura: a refrigeração deve manter a temperatura em torno de 21 a 23ºC. Não deve ser frio nem quente em excesso, pois o frio leva a vasoconstrição e diminui a alimentação tecidual, já o calor pode levar o animal a desidratação e facilitar a hemorragia. No campo deve-se procurar um local mais fresco.
Mobiliário: deve-se ter o mínimo possível de utensílios dentro da sala. As portas devem ser sempre desencontradas para evitar corrente de ar.
Sala: uma sala projetada para pequenos animais deve ter 4 x 4m (16m²) com 3 a 4m de altura, e uma projetada para grandes animais deve ter 7 x 7m (49m²) com 5m de altura.
Mesa: tipos de mesa:
Mesa em báscula – antiga e funcional. Possui uma plataforma onde o animal é contido;
Mesa para pequenos animais com duas básculas – em forma de V. Facilita o decúbito dorsal e pode ser inclinada para a posição de Trendelemburg (a mesa é colocada inclinada de maneira que a cabeça do paciente fique mais baixa que os pés). Sua finalidade é evitar falsa via, facilitar a oxigenação do cérebro e a visualização da região abdominal.
Mesa de Mayo – é uma mesa auxiliar.
Mesa para instrumentação – possui formato de meia lua, facilitando a entrega dos instrumentos cirúrgicos.
 
Equipe cirúrgica:
Uma equipe bem formada é composta por 5 a 6 pessoas. O chefe é o cirurgião, que comanda todas as outras pessoas e, sendo assim, deve ter poder de liderança para agir com tal (sem ser autoritário, mas impondo respeito). Além disso, o cirurgião deve conhecer todas as normas de profilaxia de infecção.
O 1º auxiliar assume a cirurgia caso o cirurgião tenha algum problema. Deve possuir os mesmos conhecimentos que o cirurgião, estando frente à frente com ele.
O 2º auxiliar assume se o 1º também estiver impossibilitado.
Há também o 3º auxiliar, que assume caso haja algum problema que impossibilite os demais.
O anestesista trabalha em conjunto e em total sintonia com o cirurgião.
O instrumentador não precisa ser formado. Basta conhecer os instrumentos e as regras de instrumentação e de profilaxia da infecção.
Os auxiliares para contenção (se for necessário) também estão presentes na sala de cirurgia. Não precisam ser formados, basta possuírem conhecimento técnico.
Há também os circulantes, que são os enfermeiros.
OBS: Momentos antes do ato cirúrgico, o operando (paciente) deve passar pelo pré-operatório (tricotomia e anti-sepsia).
O momento de operar é o horário ideal para executar a cirurgia, após todos os preparativos do paciente, da sala de cirurgia, equipamentos e da equipe.
Fases fundamentais do ato cirúrgico:
Diérese: envolve os cortes (tomias, secções);
Hemostasia: controle do sangramento (deve ser prevenido, corrigido);
Síntese: sutura, ou seja, unir o tecido que foi seccionado.
Estas são as três fases principais. Há mais duas fases:
Exerese: retirada de órgão ou parte dele;
Prótese: colocação de algum objeto;
Se for necessária a remoção de algum órgão: diérese, hemostasia, exerese, síntese. Se houver necessidade de colocação de prótese: diérese, hemostasia, prótese, síntese.
Em algumas situações, estas fases podem não seguir exatamente esta ordem.
Procedimento cirúrgico – paramentação e profilaxia da infecção:
Colocação das roupas – roupas sempre brancas, máscara, sapatilhas e touca;
Sabonagem e escovagem (degermação) – com o uso de uma escovinha, limpa-se os dedos e as mãos, em seguida os braços – não usar o mesmo lado da escovinha para limpar as duas mãos; usar um lado em uma e o outro lado na outra. Para limpar os braços pode usar o mesmo lado, sempre passando a escova de cima para baixo. Não fechar a torneira para não se recontaminar; outra pessoa fará isso;
Antiséptico – após a sabonagem, mergulhar as mãos e braços no antisséptico, que estará em uma bacia, cuidando para mergulhar primeiro as mãos e depois os braços, de forma que o antisséptico não escorra dos braços para as mãos. Secar as mãos e braços com toalhas estéreis que estarão dispostas em uma mesa ao lado, não usando o mesmo lado da toalha para secar as duas mãos – usar um ladoem cada uma;
Vestir o capote ou avental – não tocar na parte externa do avental para evitar contaminação do mesmo. Pega-se o capote pelas amarras, joga-se o avental no ar e veste-o, enfiando os braços. Uma segunda pessoa o irá amarrar nas costas, pelas amarras.
Colocar as luvas – abrir o pacote de luvas e colocá-la sobre a mesa. Pegar a luva que irá calçar primeiro pela face interna e calçá-la. Em seguida pegar a outra luva, com a mão calçada, pela face externa e calçá-la. Só quando estiver com as duas mãos calçadas é que deve-se ajeitar as luvas, colocando-as sobre o punho da roupa.
OBS: Caixa de cirurgia geral:
- 1 caixa metálica – 30/40cm; 
- 4 pinças de Backaus;
- 1 cabo de bisturi Pard-parker número 4;
- 2 tesouras de Mayo Reta Romba – 16cm;
- 2 tesouras de Mayo Curva Romba – 16cm;
- 2 pinças de dissecção com dente – 16cm;
- 2 pinças de dissecção sem dente – 16cm;
- 6 pinças hemostáticas de Kelly reta;
- 6 pinças hemostáticas de Kelly curva;
- 6 pinças hemostáticas de Halsted (mosquito);
- 4 pinças tratoras de Allis – 16/18cm;
- 1 afastador de Farabelf – 16/18cm;
- 1 par de agulhas traumáticas retas e curvas;
- 1 par de agulhas traumáticas retas e curvas;
- 2 porta-agulhas de Mathieu – 16/18cm;
- 1 porta-agulhas de Mato-haegar – 16/18cm;
Profilaxia da infecção em cirurgia
A profilaxia da infecção em cirurgia tem como função combater, de todas as formas possíveis, a penetração de bactérias, vírus e fungos numa ferida cirúrgica.
Louis Pasteur e Robert Kock são considerados os pais da profilaxia (1827/1830). Semmeus (1842) era um cirurgião obstetra que, com base nos estudos de Pasteur e Kock, instituiu o uso de hipoclorito de sódio a 2% nas mãos antes da cirurgia, o que diminui a incidência de infecções.
Josef Lister (1880 a 1910) substituiu o hipoclorito de sódio por ácido fênico a 2,5%, usando-o não só nas mãos, como também no campo cirúrgico e nos instrumentos. Surgiu a cirurgia anti-séptica de Lister, que com as novas descobertas e evoluções científicas originou a cirurgia asséptica.
Existem duas grandes bases: anti-sepsia e assepsia. Septes significa infecção e anti- séptico significa contra infecção. A anti-sepsia é o método que procura destruir ou inativar os microorganismos. A assepsia evita que os microorganismos estejam presentes em um local e o mantêm assim. É a ausência de microorganismos em um determinado local ou objeto. O álcool iodado é um anti-séptico muito bom.
Ex: Uma caixa esterilizada – foi feita uma anti-sepsia, mas ao abrir a caixa deve-se evitar que a mesma seja contaminada. Isto é a assepsia.
A anti-sepsia (termo usado para tecidos vivos) envolve:
Esterilização: destruição total de todos os microorganismos e seus esporos;
Desinfecção: destruição dos germes apenas patogênicos e não dos saprófitos. É mais usado para ambientes – móveis e objetos;
Tyndalização: processo de esterilização segmentado (fervura por três etapas);
Pasteurização: aquecimento e resfriamento rápido – mudança brusca de temperatura;
A esterilização pode ser feita pelo calor seco ou pelo calor úmido.
Calor seco: flambagem ou estufa. A flambagem deve ser lenta, com calma, pois se for feita rapidamente não irá matar os esporos, fazendo apenas desinfecção. A estufa geralmente possui saída para vapores (úmido), termômetro e termostato para regulagem de temperatura e tempo. Costuma trabalhar em torno de 130º a 140ºC, dependendo do que está esterilizando. Por exemplo: um grande volume de pano deve permanecer na estufa por 40 min à 140ºC; instrumentos cirúrgicos por 20 min à 130ºC; luvas por no máximo 10 min em torno de 110º à 115ºC.
Calor úmido: vapor quente, água fervente por no mínimo 10 min, autoclave. O calor úmido tem maior capacidade de penetração e modifica com maior facilidade o metabolismo das bactérias. A água fervente é mais usada para instrumental, mas deve permanecer fervente por mais de 10 min, para que mate também os esporos. O vapor quente só é usado para instrumental, sendo direcionado para a caixa cirúrgica por 30 min. A autoclave é um equipamento que mantêm a água à 100ºC e sobre pressão. É um excelente método de esterilização, mas possui o perigo de explodir se não for operada corretamente. Existem autoclaves verticais e horizontais. Para rouparia, a auto-clave é o melhor método, pois o pano tem muita dificuldade em difundir o calor.
Os dois tipos de calor para a esterilização são excelentes, desde que utilizados de maneira correta.
Características de bons anti-sépticos e desinfetantes:
Alto poder bactericida, fungicida e viricida – sua ação anti-séptica ou desinfetante irá variar de acordo com a concentração e o tempo de exposição ao produto;
Largo espectro antimicrobiano;
Solubilidade – os hidrossolúveis são os melhores;
Estabilidade química – não deve se incorporar aos tecidos para não diminuir seu poder de ação (não deve modificar a estrutura química);
Inocuidade para o homem e os animais – quanto menos agressivo melhor;
Homogeneidade – deve manter sua composição original;
Ausência de combinação com material orgânico – não alterando sua estrutura química em contato com os fluidos corporais;
Toxicidade para microorganismos em temperatura ambiente ou corporal – alguns não podem ficar expostos ao calor e luz;
Poder de penetração – quanto maior, mais rápido irá atingir os microrganismos;
Ausência de ação corrosiva e tintorial (que cause manchas) sobre instrumentos cirúrgicos – se os instrumentos ficarem muito tempo expostos a iodo em alta concentração perdem o corte;
Poder desodorante – que amenize o odor fétido;
Disponibilidade no mercado e preço acessível.
Relação de anti-sépticos e desinfetantes:
- ácido fênico 2,5 a 5%;
- hipocloreto de sódio – líquido a 0,5% e gás;
- álcool etílico 60 a 70% GL;
- iodo 2%;
- álcool iodado – álcool a 70% e iodo a 2%;
- polivinilpirrolidona-iodo 1% - Povidini;
- mercurocromo – não possui boa penetração;
- merthiolato ou timerosal – 1% ou 1:2000;
- fenol a 10%;
- éter etílico – muito bom para desengorduramento da pele;
- água de cal a 20% - bom para instalações, principalmente rurais;
- água oxigenada 3 vol/%;
- azul de metileno 5% - excelente anti-séptico para faringe e laringe;
- violeta de genciana 1% - para lavagem uterina;
- cresol (creolina e lisol) 2%;
- nitrato de prata 1:1000 – anti-séptico oftálmico;
- permanganato de potássio 1:10.000 – cirurgia uterina;
- soda caustica 10%;
- cloro 1:1.000.000 – para água;
- formaldeido (formalina) 3 a 8%;
- formaldeido + álcool 960/70º GL;
- formaldeido + hexaclorofeno
- hexaclorofeno (Fisiohex);
- formol 5 a 10%;
- germekil (metanol + etanol) – bom para anti-sepsia da pele;
- cidex (Germekil) 20/30 min;
- sulfato de cobre – cirurgias podais, pedilúvio, habronema;
- ácido salicílico 1:1000.
	O desinfetante e o anti-séptico promovem a desidratação do protoplasma (interior) celular; o calor desidrata e coagula o microorganismo; o formol e o álcool desidratam o germe; os ácidos e os sabões modificam o pH interno da bactéria, acidificando e alterando o metabolismo; as radiações (infra-vermelho, raios gama, raio X) agem modificando o DNA da célula. Alguns são mistos.
Desinfecção de material, instrumental e ambiente
Os fios cirúrgicos, hoje em dia, já vêm esterilizados – alguns fios, como catgut (fios absorvíveis), são sensíveis, não podem ser expostos ao calor porque se desfazem, devendo-se usar desinfetante. Mas atualmente já não se usa mais a desinfecção de fios. Os inabsorvíveis e os metálicos suportam bem o calor;
A panaria (panos de campo, compressas e capotes) são esterilizados em autoclave;
O gorro, máscara, luvas, seringas e agulhas são descartáveis;
As sondas são esterilizadas no calor ou em imersão;
Os instrumentos são colocados em estufas, autoclave ou imersão;
Nos ambientes são usados desinfetantes, em ambientes cirúrgicos usa-se aspersão (formol, ácido fênico, hipoclorito) ou pulverização –ultra-violeta não é eficiente para sala de cirurgia. Pode-se colocar compressas molhadas com formol a 10% no chão e nas mesas;
Desinfestação – retirada de baratas, ratos, moscas;
A equipe cirúrgica passa pelo processo de paramentação, sabonagem, escovagem e anti-sepsia;
O operando (paciente) deve (se possível) passar por um banho geral, tricotomia, desengorduramento (se necessário), anti-sepsia e no momento da cirurgia, nova anti-sepsia.
A colocação dos panos de campo auxiliam na prevenção à contaminação da ferida cirúrgica. Geralmente usam-se 4 panos, dois transversais e dois longitudinais – em relação à secção. Em cada ângulo coloca-se uma pinça de bakals, prendendo o pano a pele. Existem também os panos já fenestrados (com abertura).
Aspectos da cirurgia:
Cirurgia limpa: é aquela em que os aparelhos gastrintestinal, respiratório ou urinário não estão envolvidos, ou seja, os tecidos são abertos sem o envolvimento de órgãos cavitários (como esôfago, estômago e intestinos, que possuem grande carga microbiana). Ex: incisão de músculo, tendão, artrotomia para remoção de fratura exposta;
Cirurgia contaminada limpa: além de outros tecidos, a cirurgia envolve órgãos cavitários, mas estes não são abertos (a mucosa é afetada, mas não se chega à luz do órgão, não havendo derrame significativo de conteúdo contaminado). Ex: torção gástrica, deslocamento de víscera;
Cirurgia contaminada: a luz do órgão cavitário é aberta, levando a derrame de conteúdo contaminado, ou existe uma inflamação aguda. Ex: ferimentos traumáticos recentes;
Cirurgia suja: além do conteúdo da luz do órgão cavitário, envolve exsudato purulento (presença de pus), que extravasa para a cavidade abdominal ou torácica. Ex: apendicite supurado (pode causar peritonite e levar a contaminação grave), pericardite traumática.
Pré-operatório
São todas as medidas e providências que tomamos no período que antecede a operação. O caso em questão e a resposta do paciente são os fatores que vão determinar a duração dos procedimentos pré-operatórios. A estabilização e a preparação pré-operatória dos pacientes cirúrgicos minimiza o risco e o potencial de complicações no período pós-operatório.
O pré-operatório pode ser classificado em:
Mediato – não é um caso de urgência e tem-se mais tempo para corrigir anormalidades que o paciente possa apresentar.
Imediato – casos de extrema urgência, onde a cirurgia deve ser imediata.
Os casos mediatos permitem pré-operatórios mais detalhados. As fases do pré-operatório são:
Anamnese: a anamnese é fundamental. É o momento de contato do cirurgião com o proprietário onde deve-se colher o maior número de informações sobre o animal e o caso apresentado (a queixa principal).
Exame clínico geral: (ectocospia) é o próximo passo. Será avaliado o estado geral do paciente: a atitude, hidratação e estado nutricional. Serão observados anormalidades ligadas à raça (que podem complicar a cirurgia ou a anestesia), lesões, escoriações, mucosas, ectoparasitos, se é portador de edema generalizado, etc.
Exame clínico regional: também é fundamental, examinando o animal por regiões, devendo terminar pela avaliação da área afetada e dos sistemas afins. Verificar se há infartamento ganglionar, edemas, inturgescência da jugular (cardiopatas), fraturas, freqüência respiratória, ascite, presença de hérnias, tumorações, retenção fecal ou de urina, etc.
Exames complementares: fornecem conhecimento mais aprofundado do quadro clínico do animal, além de auxiliarem em decisões a serem tomadas no monitoramento durante o ato cirúrgico e no pós-operatório – coagulograma (se estiver alterado deve ser corrigido antes de operar), plaquetometria, índice hematimétrico (VGM, CHGM), leucograma (se há infecções – se estiver com leucopenia poderá ter problemas no pós-operatório; portanto, este é um exame muito importante), pesquisas parasitárias (alguns parasitos são altamente espoliadores), urinálise, glicose (em animais diabéticos não aplicar soro glicosado), creatinina (verificar alteração de filtração glomerular), proteinograma, equilíbrio hidrossalino (em animais com hipovolemia não se deve aplicar glicose) e outros.
Exames específicos: podem ser solicitados nesta fase de acordo com a necessidade: raios-X, ultra-sonografia, tomografia.
Risco operatório: após todos os exames pré-operatórios, pode-se calcular se o risco é pequeno, médio ou grande. O risco está ligado à resistência do paciente e ao vulto da operação.
Reposição de fatores nutritivos: pode-se usar a via parenteral (ao lado do intestino: intra-venosa, intra-peritonial) ou via enteral, caso o alimento passe pelo tubo digestivo.
Higiene geral: banho (solicitar ao dono que banhe o animal na véspera da cirurgia – salvo se for de emergência).
Foco de infecção: primeiro deve-se corrigir a infecção (se possível) para depois marcar a cirurgia. Ex: flebite infecciosa, pneumonia infecciosa, miíase.
Medicação pré-operatória: sua necessidade é indicada pela análise do quadro apresentado (re-hidratação, terapêutica, transfusão). A neomicina (antibiótico) é indicada 24 horas antes de cirurgias de órgãos ocos, pois são contaminados, promovendo uma esterilização biológica. No pós-operatório deve-se recuperar a flora intestinal normal. Em gestantes, deve-se ter maior atenção ao tipo de medicamento a ser administrado, principalmente no que diz respeito ao tipo de anestesia e mais ainda se estiver no fim da gestação. A contenção deve estressar o mínimo possível a paciente, e a exposição aos raios-X deve ser evitada, pois no início da gestação pode provocar desenvolvimento fetal anormal.
Jejum: deve ser primordialmente requisitado. Não se faz nenhum procedimento em que ocorra anestesia sem jejum. Em grandes animais, a suspensão da alimentação deve ser de 24 a 48 horas; em pequenos animais de 8 a 12 horas e para jejum hídrico 3 a 4 horas. Os miorrelaxantes só devem ser usados em ruminantes com a total certeza de que o animal está em jejum, caso contrario certamente o animal irá apresentar timpanismo. Pelo mesmo motivo, não se aplica cloridrato de xilazina (Rumpum) em ruminantes, se não estiverem em jejum. Se for uma emergência, ter a mão um trocater para perfurar o rumem e liberar o gás.
Exoneração intestinal e cateterismo vesical: podem ser utilizados se o cirurgião achar conveniente dependendo do caso. O esvaziamento gastrintestinal pode ser feito de duas formas: laxante (menos indicada, pois a diarréia leva a perda de eletrólitos e água) ou enema (lavagem via retal). A retirada da urina da bexiga é feita com cateterismo, podendo-se deixar ou remover o cateter. Se deixar chama-se sonda de espera. Possui um manguito (balão) para inflar e não permitir a saída de urina (evitando que extravase para o peritônio). A sonda mais usada é a de Foley (para bexiga e útero). Na cistite infecciosa a sonda funciona tanto para retirar a urina, quanto para injetar antibiótico.
Pré-anestésico: é utilizado para tranqüilizar, diminuir o metabolismo basal, evitar a passagem busca do estado normal para a inconsciência (e vice-versa) e para ajudar a diminuir o volume da anestesia a ser empregada. É uma rotina, poucos são os casos em que não se faz, inclusive porque auxilia na contenção.
Anestesia: após a anestesia, na sala, o paciente deve ser monitorado constantemente em um ambiente previamente preparado. No campo, a operação não deve ser feita ao sol ou em ambientes muito frios. O ideal é que seja sobre gramado, palha, em locais não muito duros nem pedregosos (forrar com lona).
Estação e decúbito: os decúbitos mais apropriados são:
Dorsal: (de costas para a mesa) facilita operar o ventre e as paredes laterais do corpo;
Ventral;
Lateral direito;
Lateral esquerdo;
Trendelenburg: plano que coloca a cabeça mais baixa que o corpo, evitando falsa via, aumentando oxigenação do cérebro e o campo de visão da cavidade abdominal;
Trendelemburg em canivete: paciente em decúbito lateral, auxilia em operação de rim;
Litotomia: decúbito dorsal com membros posteriorespara diante, muito usada na obstetrícia.
OBS: Antes de levar o paciente para a sala de cirurgia, proceder a tricotomia, desengorduramento, anti-sepsia local. Na sala de cirurgia, proceder nova anti-sepsia e isolamento do campo cirúrgico.
Atenção: o proprietário deve preencher e assinar uma ficha declarando estar ciente de todos os riscos que o animal está correndo. Principalmente se houver grande risco cirúrgico, se o animal for de grande valor comercial ou se houver necessidade de mutilação.
Nos casos imediatos (casos de urgência), o transporte do animal deve ser feito de maneira muito cuidadosa e na maioria dos casos a internação e a cirurgia são imediatas.
	O exame clínico e laboratorial nem sempre é possível. O que normalmente ocorre é uma rápida conversa com o proprietário enquanto o animal passa por degermação, tricotomia e anti-sepsia.
	A avaliação das funções vitais nunca pode deixar de ser feita, mesmo na emergência (pressão arterial, freqüência cardíaca, freqüência respiratória, pulso e temperatura).
O período crítico se dá nas primeiras 24 à 48h.
O quarto, quinto e sexto dias compreendem o período intermediário, onde o animal está adquirindo melhores condições, ou seja, está se recuperando.
No oitavo dia ocorre a melhora, a cicatrização. Compreende o período final.
Trans e pós-operatório
São os parâmetros a serem avaliados no ato cirúrgico e no pós-operatório:
Diérese – conjunto de manobras utilizadas para seccionar (cortar) o tecido.
Hemostasia – conjunto de manobras utilizadas para prevenir, evitar ou corrigir o sangramento.
Síntese – conjunto de manobras para unir ou aproximar os tecidos.
Exerese – conjunto de manobras para retirar um órgão, parte dele ou tecido.
- Trans-operatório: inicia-se na diérese e termina na síntese.
- Pós-operatório: inicia-se a partir da síntese. Divide-se em mediato (não tem prazo para acabar, varia de acordo com o tipo de cirurgia) e imediato (logo após a cirurgia, assim que o animal recupera suas funções vitais).
No trans-operatório ocorre o monitoramento e a avaliação das funções vitais do paciente:
Sistema respiratório: freqüência respiratória e amplitude respiratória (expansão da cavidade torácica);
Sistema cardiovascular: freqüência cardíaca, pressão arterial, pulso e perfusão sanguínea (capacidade de se difundir pelos tecidos – teste de capilaridade);
Sistema urinário: sonda de espera, laparotomia para visualizar a bexiga enchendo;
Sistema nervoso: análise dos reflexos;
Temperatura: conseqüência de todos os outros fatores.
Alguns aspectos podem ser observados pelo cirurgião (no campo cirúrgico), caso alguma alteração esteja ocorrendo com o animal e não seja possível a orientação do anestesista:
Se o animal não estiver respirando, o campo cirúrgico ficará cianótico;
Se a pressão aumentar, o sangramento também aumentará e vice-versa;
O pulso pode ser controlado visualizando a artéria pulsando no campo cirúrgico.
Diante de qualquer uma destas alterações, testa-se os reflexos (levar em consideração que a maioria dos anestésicos deprime alguns sinais vitais e deprime o SNC). 
Procedimentos de suporte ao paciente durante o ato cirúrgico:
Hemoterapia ou transfusão sanguínea: em pacientes anêmicos ou debilitados, fornecer 2,2ml/kg de sangue ao receptor para aumentar em 1% de sangue o hematócrito.
Soroterapia: promove uma via de acesso rápida e mantém a volemia, estabilizando assim a pressão e a função renal (a maioria das drogas possui excreção renal). Durante o ato cirúrgico, para pequenos animais, administrar 10 a 20ml/kg/h. Para grandes animais, 2 a 6ml/kg/h (uma gota contem 0,03ml de soro) – pequenos animais possuem o metabolismo mais acelerado do que os grandes animais e estes possuem uma reserva hídrica maior que os pequenos. A dosagem de soro administrada deve ser a ideal, pois se aplicarmos em excesso pode levar a formação de edema pulmonar e o animal começará a tossir.
Oxigenioterapia: deve ser administrado na dose certa, caso contrário causa apnéia por inibição do bulbo.
Antibioticoterapia: para profilaxia da infecção, evitando complicações no pós-operatório. Sua aplicação é endovenosa.
Principais complicações no trans-operatório (alterações nas funções vitais):
Parada cardíaca: uma provável causa é o colapso circulatório (alteração do fluxo sanguíneo para menos devido à hipotensão). Neste caso faz-se a intubação, ventilação, oxigenioterapia, massagem cardíaca, bicarbonato de sódio para diminuir a acidose, antiarrítmicos (lidocaina), epinefrina (estimula os batimentos cardíacos e faz vasoconstrição periférica) e atropina (aumenta o débito cardíaco). Se necessário, desfibrilação. Se o animal voltar, administrar corticóide.
Colapso circulatório: provocado por hipotensão arterial. Intubação, ventilação, oxigenioterapia, reposição da volemia (soro), dopamina/dobutamina (aumentam a força contrátil-inotropismo positivo e fazem vasodilatação periférica) e controle da pressão arterial.
Hipotensão: pode ser causada por hipovolemia, septicemia, choque e algumas drogas como barbitúricos e agentes inalatórios. Intubação, ventilação, oxigenioterapia, reposição da volemia, dopamina/dobutamina e controle da pressão arterial.
Hipertensão: pode ser causada por dor, febre e drogas como a ketamina. Intubação, ventilação, oxigenioterapia, nitroprussiato de sódio (promove hipotensão por ser diurético) e controle da pressão arterial.
Bradicardia: causada por hipertensão, hipotermia e drogas como a xilazina e narcóticos. Intubação, ventilação, oxigenioterapia e sulfato de atropina.
Parada respiratória (apnéia): proveniente de hipotermia, paralisia músculo-esquelética, hiperventilação e drogas como ketamina, propofol e barbitúricos. Intubação, ventilação, oxigenioterapia e doxapram (estimulante do centro respiratório).
Reações anafiláticas: provocada por causas individuais. Administrar Prometazina (anti-histamínico – Fenergan) e corticosteróides.
Espasmo laríngeo: provocado por trauma e reações anafiláticas individuais. Administrar Xilocaina spray ou fazer traqueotomia.
Convulsões: provocada por causas individuais e drogas como ketamina. Intubação, ventilação, oxigenioterapia e Diazepam ou barbitúrico.
Hipotermia: causada por hipotensão, bradicardia e hemorragia. Aplicar soluções venosas (soro) aquecidas (temperatura corporal) e tratar a causa.
Traumatismo visceral: provocado por não uso adequado das técnicas cirúrgicas. Observar os princípios de Halsted.
Hemorragias: pode ter diversas causas. Repor a volemia e corrigir a hemorragia.
Vômitos: provocado por ausência de jejum. Utilizar a posição de Trendelemburg.
Aspiração de sólido ou líquido: provocado por vômitos. Fazer aspiração traqueal e administrar antibiótico para evitar pneumonia.
Timpanismo: provocado por ausência de jejum. Fazer centese.
Traumatismo por decúbito: proveniente de decúbito prolongado ou traumático (local inadequado). Fazer correção de decúbito e posterior tratamento da pele.
Pós-operatório – cuidados imediatos:
A fluidoterapia pode ser feita com soro glicosado 5% ou hipertônica, Ringer com lactato, soro fisiológico, soluções protéicas ou manitol (diurético).
No despertar da anestesia, durante a recuperação da consciência, monitorar e avaliar o retorno das funções vitais normais.
No suporte ao paciente deve-se oferecer um local tranqüilo, escuro e calmo, para o retorno da anestesia. O decúbito deve ser confortável (esternal).
Se necessário, podem ser utilizadas a hemoterapia, soroterapia, oxigenioterapia e antibioticoterapia.
A antitoxina tetânica pode ser administrada em eqüinos, suínos, muares, bovinos, etc., que tenham sido operados a campo.
	 
Pós-operatório mediato:
Monitorar e avaliar o paciente;
Antibioticoterapia;
Se necessário utilizar pensos (curativos que auxiliam na cicatrização), bandagem, e dreno (retirar secreções da cavidade). Todos aceleram o processo de cicatrização;
Proteção contra auto-traumatismo, evitando mutilações (comocolares);
Limitação dos movimentos – dependendo da cirurgia é necessário limitar os movimentos do animal no pós-operatório;
Reavaliação do paciente – verificar se ficaram seqüelas da cirurgia, se o animal se recuperou bem.
Principais complicações no pós-operatório:
Hemorragia: provocada pelo não uso correto da técnica cirúrgica, auto-traumatismo ou distúrbios de coagulação (podendo ser provocados por protozoários). Para evitar esse problema, deve-se proceder a cirurgia utilizando a técnica cirúrgica correta e fornecer proteção contra auto-traumatismo. No tratamento utilizar anti-hemorrágicos.
Eventração ou evisceração: eventração é a exposição da víscera através da musculatura sem ultrapassar a pele, e evisceração é quando a víscera ultrapassa a pele e é exposta. Pode ser provocada pelo não uso das técnicas cirúrgicas, por auto-traumatismo e ausência de repouso. Para evitar, deve-se proceder a cirurgia utilizando corretamente as técnicas cirúrgicas, utilizar proteção contra traumatismos e usar bandagens.
Infecção: causada por não observação de técnicas de assepsia e anti-sepsia, por feridas ou por cirurgias sujas ou contaminadas. Deve-se observar as técnicas de assepsia e anti-sepsia e fazer uso de antibióticos.
Edemas: são provocados por não observação dos princípios de Halsted e por cirurgias traumáticas. Deve-se utilizar drenos, bandagens, anti-inflamatórios e observar os princípios de Halsted.
Auto-traumatismo: deve-se oferecer proteção ao local operado.
Miíases: provocadas por larvas de moscas. Fazer uso de repelentes na ferida cirúrgica e pensos.
Controle da dor no pós-operatório:
A dor pode ser um fator de defesa, para forçar o repouso do animal. Outras fontes defendem que o controle da dor acelera o processo de recuperação do animal.
A dor é proporcional ao trauma causado pela cirurgia ou pelo fator traumático. Pode-se usar dipirona, derivados de morfina ou antiinflamatórios não esteroidais (AINES) para aliviar a dor. Deve-se ter cuidado com o uso de AINES, pois estes podem causar lesão gastrintestinal.
A retirada dos pontos deve ser, em média, sete dias, mais o ideal é prolongar ao máximo (10 a 15 dias). Se a ferida estiver contaminada, não deve-se retirar os pontos. Trata-se a infecção primeiro. A fisioterapia e a quimioterapia (caso de neoplasias) podem ser solicitadas se necessário.
Medicação Pré-anestésica (MPA)
MPA consiste na utilização de medicamentos antes da anestesia, para aumentar a segurança do ato anestésico, com o objetivo de preparar (tranqüilizar) o animal para o ato anestésico. É de extrema importância o cálculo correto da dosagem desta medicação.
Estágios anestésicos de Guedel:
1o estágio – analgesia. Este estágio pode ser evitado.
2o estágio – euforia, excitação. É um estágio perigoso, pois a descarga simpática é aumentada, o que faz com que as reações de luta e fuga fiquem fora de controle e aumentem, deixando o animal violento, podendo desenvolver convulsões e arritmias (se o animal for cardiopata é ainda mais perigoso). Este estágio pode e deve ser evitado.
3o estágio – anestesia cirúrgica. Pulando os dois estágios anteriores, chega-se direto neste estágio, que se subdivide em:
	1o plano – anestesia muito superficial;
	2o plano – anestesia superficial;
	3o plano – anestesia mediana;
	4o plano – anestesia profunda.
	Trabalha-se entre o segundo e o terceiro planos. No quarto plano, ocorre a parada respiratória. O centro respiratório está localizado na região bulbar (ponte e bulbo). O centro cardiovascular também, podendo ser deprimido, causando parada cardiovascular, levando a morte.
	Para pular os primeiro e segundo estágios, usam-se as drogas pré-anestésicas, próprias para isso (MPA - tranqüilizantes e ansiolíticos).
Indicações:
Para que o animal passe o segundo estágio de Guedel sem ficar excitado, agressivo ou agitado, ou seja, tranqüilizar o animal (sedação, contenção);
Diminuir a dose do anestésico geral, diminuindo a intoxicação causada por este anestésico;
Por usar uma dose menor, o retorno da anestesia é mais tranqüilo;
Permite o uso de anestésico volátil (com máscara), sem o uso de barbitúricos;
Diminuir a dor no pré e pós-operatórios;
Permitir procedimentos com anestésico local;
Evitar ou induzir o vômito, de acordo com a necessidade – dependendo da medicação usada;
Relaxamento muscular – facilitando a cirurgia;
Diminuir as secreções.
Principais grupos farmacológicos:
Fármacos anticolinérgicos: seu principal uso é para diminuir as secreções (salivação).
Fármacos tranqüilizantes: são sedativos, não concedem analgesia.
Fármacos ansiolíticos: são relaxantes.
Fármacos hipnoanalgésicos: possuem efeito hipnótico e analgésico.
Outros fármacos.
Anticolinérgicos
Os anticolinérgicos são também chamados de antiparassimpáticos, colinolíticos, atropínicos ou parassimpatolíticos. Inibem os efeitos do parassimpático, ou seja, os efeitos da estimulação vagal.
Sua principal função é diminuir a salivação, impedindo a obstrução das vias respiratórias.
Quando a cirurgia for envolver estimulação do parassimpático, é necessário o uso pré-operatório de um medicamento anticolinérgico: alguns fármacos podem causar estimulação vagal; a manipulação do globo ocular; pressão em vísceras; manipulação da glote; entre outros.
Principais efeitos do parassimpático (estimulação vagal):
Aumento do peristaltismo, bradicardia, vasodilatação, broncoconstrição, miose, aumento da salivação, hipotensão.
O anticolinérgico reverte estes sintomas, causando: diminuição do peristaltismo, taquicardia, vasoconstrição periférica, broncodilatação, midríase, leve salivação e hipertensão.
Os fármacos anticolinérgicos são competitivos (nos receptores) da acetilcolina. São comercializados em ampolas de 0,25ml (1/4 de ml). Seu tempo de ação é de ± 1h. São metabolizados no fígado e excretados pelo rim.
Em pequenos animais são usados tranqüilamente. Em aves não causam midríase. Em doses clínicas não causam alteração na pressão arterial.
Em grandes animais:
Ruminantes – quase nunca são usados, pois torna a saliva mais viscosa, o que pode levar a obstrução das vias respiratórias. Em pequenos ruminantes até se usa, mas em pequenas doses. Deve-se ter cuidado com o timpanismo, já que diminui o peristaltismo.
Eqüinos – pode-se usar, mas deve-se ter cuidado com cólicas, pois diminui o peristaltismo.
Anticolinérgicos mais usados:
Atropina:
Mais usada na rotina. 
Dose indicada: 0,044mg/kg (distribuídas em ampolas de 0,25ml).
Aplicação via intramuscular, subcutânea ou via intravenosa.
0,044mg _____ 1kg
0,25mg ______ 1ml
Para calcular a dose, segue o exemplo de um animal de 10kg:
0,044mg ____ 1kg				0,25mg ____ 1ml
0,44mg _____ 10 kg			0,44mg ____ X
X = 0,44/0,25 = 1,76ml
Escopolamina:
Ou Hioscina. Pertence ao mesmo grupo da atropina e também é derivada de planta. Possui efeito mais fulgás (rápido), levando em torno de 15 min para fazer efeito. Possui maior poder de ação nas glândulas secretoras (diminuindo a salivação) do que no sistema cardiovascular. Causa leve sonolência, pois possui algum poder de ação no SNC (o que a difere ainda mais da atropina), sendo mais indicada como MPA se houver necessidade de tranqüilizar o animal. É encontrada no Buscopam.
A atropina é mais usada na rotina do que a escopolamina.
Pode ser aplicada por via intramuscular ou subcutânea.
Dose indicada: 0,01 a 0,02 mg/kg (SC).
Glicoperrolato (Robinul):
Praticamente não tem ação cardiovascular, sendo o mais indicado para uso em cardiopatas. Sua principal ação é evitar salivação (antissialagogo).
Dose indicada: cão – 0,011 mg/kg.
Tranqüilizantes
São os neurolépticos, deprimem o SNC, agindo principalmente na substância reticular mesencefálica, que é responsável pelo ciclo do sono e da vigília (o animal pode até dormir, mas acorda facilmente).
Não são analgésicos, não sendo indicados para procedimentos cruentos. Não são miorrelaxantes e não possuem efeito sobre o sistemarespiratório.
Suas principais ações são:
Diminuem a resposta motora aos estímulos externos, causando sonolência e lentidão;
Inibem o centro do vômito (ação antiemética).
Possuem ação anti-histamínica;
Estimulam o sistema extrapiramidal podendo provocar convulsões;
Promovem estímulo vagal (vasodilatação periférica - hipotensão);
Possuem forte estímulo colinérgico e pouca ação adrenérgica.
OBS: Deve-se ter muito cuidado com a aplicação destes fármacos em eqüinos, pois, por atuarem no feixe extrapiramidal, levam a excitação, podendo causar reação bifásica antes da sedação, levando o animal a ter reações como empinar, dar coices e até fugir.
Tranqüilizantes mais usados:
Derivados da fenotiazina - Fenotiazínicos (poder de ação de 4 a 6 horas):
Acepromazina (Acepran):
Provocam sonolência, sedação, apatia e diminuição da resposta a estímulos nervosos (estímulos motores - lentidão). Não possuem ação sobre a respiração.
Provocam hipotensão, portanto não devem ser usados em animais hipotensos (que apresentem hemorragia, choque, desidratação). Leva a taquicardia compensatória.
São metabolizados pelo fígado e eliminados pelo rim. Possuem em torno de 4 a 6h de efeito. Animais hepatopatas levam mais tempo para metabolizar, podendo prolongar o efeito por 24 ou até 48h. O ideal é não utilizá-lo em animais que apresentem hepatopatias, mas pode ser utilizado se for muito necessário.
Possuem ação anti-emética, anti-arrítmica e pouca ação anti-histamínica.
Também pode ser aplicada por via oral, apesar de ser menos usada.
Sua distribuição é em frascos de 1%, ou seja, 1g por 100ml. Passando para mg teremos: 1000mg para 100ml; reduzindo teremos 10mg para 1ml, que é o que encontramos no frasco de Acepromazina.
Os sinais clínicos após a aplicação do fármaco são:
Pequenos animais: o animal fica tonto, sonolento, dismétrico (“bambeira”), apresenta deangulação, decúbito external seguido de decúbito lateral.
Grandes animais: observa-se o afastamento dos membros posteriores, exposição do pênis e relaxamento da vulva, afastamento do quadrilátero de apoio. Neste caso não deve-se forçar o animal a andar devido a deangulação. A Xilazina, em grandes animais, é mais usada que a Acepromazina.
Dose indicada:
Pequenos animais – 0,1 a 0,2 mg/kg (IV, IM ou SC).
Bovinos e eqüinos – até 0,1 mg/kg.
Para calcular a dose, segue exemplo de um animal de 10kg:
Dose: 0,1mg por kg.
Animal de 10kg
1mg
Como o frasco de Acepram possui 10mg para 1ml:
10mg ____ 1ml
1mg _____ X
X = 0,1ml
Outro exemplo: Um eqüino de 300kg.
Dose: 0,1mg por kg.
Animal de 300kg
30mg
Frasco com 10mg/ml
10mg ____ 1ml
30mg ____ X
X = 3ml
OBS: a medicação IV possui efeito mais imediato, em compensação é metabolizada mais rápido (mais depressa o animal retorna). IM possui efeito mais prolongado, mas inicia mais lentamente.
Clopramazina (Amplictil):
Seu mecanismo de ação e efeito é semelhante ao da Acepromazina, além de causar diminuição da freqüência respiratória, diminuição da temperatura e sudorese (devido à diminuição do metabolismo basal).
Dose indicada: IM, IV lenta.
Ruminante – 0,2 a 0,5 mg/kg
Eqüino – 0,5 a 1 mg/kg
Cão, gato e suíno – 1 a 2 mg/kg
Prometazina (Fenergan):
Age principalmente como anti-histamínico. É usado quando algum fármaco que foi administrado ao animal provoca liberação de histamina (opióides). Causa sonolência e é um poderoso anti-emético.
É oleosa, sendo irritante nos tecidos, Se a aplicação for intramuscular, deve ser profunda, diminuindo esta irritação. Sua administração pode ser via intravenosa (diluído e administrado lentamente, evitando a hipotensão que seria causada caso aplicasse rapidamente), via intramuscular profunda ou subcutânea.
Dose indicada: 1 mg/kg
Derivados das butirofenonas:
Droperidol: poder de ação de aproximadamente uma hora, se administrado via IV ou IM. Possui efeito menos prolongado que os derivados da fenotiazinas. Age como a Acepran, só que causa menos convulsão. Em associação ao Fentanil provoca neuroleptoanalgesia.
Dose indicada: 1 a 2 mg/kg
Azaperone (via IM profunda): é basicamente usado em suínos, para transportá-los, pois são animais muito estressados. Provoca diminuição dos estímulos a mecanismos externos. Pode ser usado em eqüinos, porem estes animais ainda ficam um pouco estressados. Em cães, praticamente não tem efeito.
Dose indicada: 1 a 4 mg/kg (para transporte: 2 a 3 mg/kg)
OBS: sempre que for calcular a dose, primeiro calcula-se a dosagem pelo peso do animal, depois em relação a concentração do frasco.
Ansiolíticos
São os Benzodiazepínicos. Atuam nos receptores gaba (que são inibidores do SNC), facilitando as sinapses gabaérgicas, causando a inibição do SNC. O efeito provocado é de diminuição da ansiedade e da agressividade. Provocam sonolência (mais leve que a causada pelos tranqüilizantes), agindo no sistema límbico (centro das emoções). Possuem ação ansiolítica, miorrelaxante de ação central, é anti-convulsivante, hipnótico e causa amnésia.
Ansiolíticos mais usados:
Diazepam:
Seu efeito gira em torno de 40 min, dependendo do metabolismo do animal. Também causa leve analgesia. Não é indicado para intervenções cruentas.
Sua administração oral não tem efeito eficaz em animais, tendo efeito mínimo, sendo usado apenas para promover um leve efeito analgésico em animais que serão transportados em viagens.
Não é hepato nem nefrotóxico. Não causa alterações no sistema cardiovascular nem no respiratório.
Por via IV possui ação mais potente. Se for usado em associação com neuroléptico causa sinergismo, produzindo uma excelente sedação, excluindo o uso dos barbitúricos, podendo usar anestésico de inalação.
É muito oleoso e precipita se misturado a outro fármaco, portanto não se deve misturá-lo, mas aplicar em separado. A via IM é muito dolorosa, não sendo utilizada. Apenas em casos extremos de convulsão, onde não se consegue pegar a veia, pode-se aplicar. Neste caso a dose usada é maior: 5mg/kg.
Dose indicada: 1 a 2 mg/ kg IV ou oral.	
Bromazepam (Lexotan):
Costuma ser usado apenas para diminuir a agressividade, não tendo muita utilidade como MPA, não sendo, portanto, muito utilizado na rotina.
Dose indicada: 0,1mg/kg (IV)
Midazolan (Dormonid):
É o melhor e mais indicado como MPA quando se deseja uma maior sedação e tranqüilização do animal, não possuindo efeito colateral. Serve como indutor da anestesia. O animal dorme e tem amnésia.
Não é hepato nem nefrotóxico. É anti-convulsivante, miorrelaxante e faz controle de alucinações.
Associado a Ketamina (Ketapam), inibe os efeitos colaterais desta.
Dose indicada:
Eqüinos – 0,02 a 0,044mg/kg
Cão – 0,22 a 0,44mg/kg
Hipnoanalgésicos
Causam leve hipnose e excelente analgesia (agem no SNC elevando o limiar da dor). Provocam liberação de histamina.
Em doses baixas, provocam hipnose e analgesia; em doses altas, excitação (as drogas); em doses muito altas (overdose) causam morte – são dose-dependentes.
Hipnoanalgésicos mais usados:
Opiáceos:
Derivados do ópio. É a morfina. Quase não é usada. Provoca vômito (principalmente em gatos), depressão respiratória, salivação exagerada, relaxa os esfíncteres causando defecação e micção.
Dose indicada: cão – 0,1 a 0,5 mg/kg
Opióides:
Derivados sintéticos da morfina (do ópio), também chamados de morfinomiméticos:
Meperidina (Dermerol, Dolantina):
Causa menos depressão respiratória que a morfina, analgesia, hipotensão (estímulo vagal).
Dose indicada:
Cães: 1 a 5mg/kg (IM)
Eqüino: 1 a 2mg/kg (IV)
Fentanil (Leptanal):
Possui efeito analgésico muito maior que a morfina e maior que a meperidina, tendo menor efeito respiratório. Causa sonolência. Não causa vômito nem salivação, mas causa relaxamento dos esfíncteres. Em dose clínica não causa hipotensão.
Dose indicada: pequenos animais – 0,04 mg/kg
OBS: todos os opióides e opiáceos são liberadores de histamina. 
Outros fármacos
Alfa2 (α 2) agonistas:
O receptor de α2 está relacionado com níveis de consciência e estímulos externos. Um agonista de α2 promoverá sedação e potencializará a ação de outros fármacos com função sedatória. Deprime o simpático (estímulo vagal), promove salivação, causa vômito (estômago e intestino ativos), hipotensão, é miorrelaxante central, analgésico (principalmente visceral) e sedativo (causa sonolência).
Associado a quetamina (anestesia periférica) promove analgesia mais completa (por causa do relaxamento muscular).
Detomidina (Domosedan):
Mais usado em eqüinos. Causa reação semelhante a do Acepram: relaxamento muscular, abertura de trem posterior, o animal perde sua postura altiva.
Dose indicada: 20 a 40 µl/kg (IM ou IV)
Romifidina (Sedivet):
Usado em eqüinos como relaxante muscular.
Xilazina (Rompum):
Relaxante muscular. Causa analgesia visceral, sendo usado contra cólica. É muito usado em bovinos e gatos, que respondem bem a este fármaco.
Dose indicada:
Cão e gato – 1mg/kg (IM)
Bovino – 0,1mg/kg (IM)
Eqüino – 0,44 a 1mg/kg (IM ou IV)
Neuroleptoanalgesia
É provocada pela utilização de um fármaco neuroléptico (hipnótico) associado a um analgésico. É indicado para animais deprimidos ou quando se quer fazer a indução sem utilizar um barbitúrico.
Se utilizar dois fármacos que causem efeito vagal, deve-se utilizar a atropina antes (com exceção dos bovinos).
Por via IV consegue-se até uma indução anestésica: coloca-se a máscara para anestesia geral e em seguida entubar. Dependendo do procedimento, não é necessário entubar, mantendo só a mascara.
Droperidol (butirofenona) + Fentanil (opióide): nome comercial: Innoval ou Innovarvet.
Tiletamina (benzodiazepínico) + Flumazepan (dissociativo): Isoletil.
 
OBS: para intubar o animal, só após anestésico geral. O animal apenas em sedação (como causada por todos os MPA) não permite intubação.
Analgesia Cirúrgica
(Anestesia parcial ou local)
Introdução
Conceito: Ausência de dor. Métodos utilizados para impedir a transmissão nervosa em um feixe nervoso, bloqueando assim a sensibilidade em uma região do corpo. (É importante principalmente para grandes animais).
Métodos: podem ser físicos, mecânicos ou químicos.
Físicos: substâncias que diminuam a temperatura local: gelo, éter, cloreto de etila.
Mecânico: garrote.
Químicos: substâncias que impeçam de maneira reversível a transmissão do impulso nervoso em um feixe ou tecido nervoso (é a definição de anestesia local).
Histórico: Os Incas mascavam folhas de coca, pois causada dormência na boca. Era usada para dor de dente. Em 1860 foi isolada a cocaína. Em 1864 Freud e Koeller comprovaram os efeitos da cocaína. Em 1884, Hamested sugeriu a cocaína para bloqueio anestésico e em seguida Koeller efetuou a primeira anestesia espinhal. Em 1902 foi publicado um trabalho sobre os efeitos dependentes da cocaína. Em 1905 foi sintetizada a procaína.
Farmacologia dos anestésicos locais
Estrutura química – se divide em três partes: lipofílica (anel benzeno), éster ou amida (na cadeia de carbono) e um sal (hidrossolúvel).
Mecanismo de ação – a porção lipofílica serve para ultrapassar a membrana da célula. O sal é um ácido forte somado a uma base fraca. Quando o anestésico é aplicado no tecido orgânico, este tem um pH ligeiramente alcalino, que reage com o ácido, que por sua vez libera a base, que bloqueia o canal de cálcio da célula nervosa. Tecidos inflamados possuem pH ácido, portanto não reage com o ácido do fármaco, não liberando a base, portanto o fármaco não funciona. Derivados do éster são metabolizados no fígado e no plasma (acetilcolinesterase), portanto tem metabolismo mais rápido, permitindo mais aplicações. Os derivados de amida são metabolizados exclusivamente no fígado, demorando um tempo maior.
Concentração – 0,25% a 0,4% - injetável. O uso tópico (sem agulhas) permite uma concentração maior, até 10%. Quanto maior a concentração, maior a toxicidade. Pode-se fazer diluição ou associação com outras drogas para aumentar a potência e a duração do efeito.
Toxicidade – sempre que fizer anestesia local, introduzir a agulha e puxar o êmbolo para verificar se atingiu algum vaso sangüíneo (se atingiu, retira-se e não aplica). Uma overdose ou aplicação errada de anestésico local pode atuar no SNC, levando a uma fase de excitação seguida de depressão. A fase de excitação pode gerar convulsões e excitação com tremores. A fase de depressão leva a letargia, coma e apnéia.
Obs: O grau de toxicidade é proporcional à concentração da droga.
Associação de anestésicos locais com outras substâncias
Primeira substância: Vasoconstritores: adrenalina, epinefrina.
Naturalmente se promove uma vasodilatação que acelera a absorção. Com a vasoconstrição, diminui a absorção e aumenta o tempo de duração.
Doses: 1:200.000 – adrenalina
	 1:100.000 – epinefrina
Não se utiliza vasoconstritores em extremidades, pois pode levar a necrose. Não se usa em cardiopatas graves (deve-se evitar). Não se usa em pacientes com doenças sistêmicas, como diabetes e hipertireoidismo.
Segunda substância: Hialuronidase: Aumenta a capacidade de difusão do anestésico nos tecidos (vasodilatador), promovendo efeito mais rápido, porém mais curto.
Terceira substância: Vitamina B1: aumenta a capacidade de difusão.
Requisitos desejáveis de um anestésico local
Baixo custo.
Ser de pouca ou nenhuma toxicidade aos tecidos e não ser irritante.
Possui tempo hábil e conhecido para proceder a intervenção.
Ser reversível.
Ser solúvel e estável em água – para evitar lesão tecidual.
Ser auto-clavável (resistir ao calor).
Ser compatível com vasopressores.
Principais anestésicos locais empregados
Procaína (novocaína): derivado do éster. Possui um efeito de início (de ação) de 6 a 10 minutos e lipossolubilidade de pouco a moderada.
Dose máxima permitida: 10mg/kg
Concentração (no comércio): 2 a 4%
Lidocaína (xilocaína): início da ação de 2 a 6 minutos. Lipossolubilidade moderada (maior que a procaína).
Dose máxima: 7mg/kg
Concentração: 0,5 a 1% bloqueador
		 2 a 10% spray ou viscosa para uso tópico.
A dose máxima, associada a vasoconstrição pode ser de 9mg/kg. A duração de ação é em torno de 1h ou 2h se associada a vasoconstritor (a procaína é um pouco menos).
Prilocaína (citanest): doses e concentrações semelhantes a da lidocaína.
Tetracaína (amatocaína, pantocaína): potente anestésico tópico, muito usado em oftalmologia. Altamente lipossolúvel (aumenta a velocidade de efeito, tem maior penetração).
Dose máxima: 1mg/kg
Concentração: 0,5% para anestesias oculares. 1 a 2% para mucosas.
Bupivacaina (marcaína, neocaína): altamente lipossolúvel.
Dose máxima: 2mg/kg
Concentração: 0,25 a 0,5%
Obs: Os derivados do éster são: cocaína, procaína, tetracaína. As demais são aminas.
Classificação das anestesias parciais
Podem ser classificadas de acordo com o local onde se aplica o anestésico:
Tópica – aplicada sobre a pele ou mucosa.
Infiltrativa – se subdivide em:
Intradérmica – feita na derme. É usada para pequenas incisões na pele, retiradas de pequenos nódulos, ou ainda para biópsias de pele.
Subcutânea – é a mais empregada por ser de fácil aplicação. Normalmente obedece às seguintes infiltrações: em cordão (para incisões), em botão (para biópsias), em L, circulares ou outras formas geométricas (retirada de tumores cutâneos e cistos ou feridas cutâneas).
Profunda – as figuras geométricas usadas para efetuar um bloqueio de um processo são tridimensionais: em pirâmide, em leque (de acordo com o desenho que fizer).
Circular – esta técnica é sugerida em todos os corpos de forma cilíndrica, tais como membros ou cauda (pode ser ao redor de todo o membro).
Entre garrotes – esta técnica é requerida em animais novos (potros, bezerros) em adultos (cães) quando não se pode exceder a dose máxima permitida ou quando o paciente é de alto risco, pois diminui a absorção e aumenta o tempo de anestesia.(o garrote não pode ficar por mais de 1 hora).
Intrarticular – quando aplicada dentro de uma articulação.
Paravertebral – bloqueio dos dois nervos que saem entre as vértebras (raiz dorsal e ventral).
Perineural (bloqueio) – anestesiará toda a área que este nervo inervar.
Intra-venosa (BIER) – faz-se um garrote do membro, introduz uma agulha na veia, sangra este membro (pela agulha) e coloca-se o anestésico , que irá preencher o espaço que era do sangue. Outra técnica: coloca-se uma faixa elástica garroteando o membro e “sobe” com ela (removendo o sangue de baixo para cima) e depois solta. Mas esse método é mais difícil, pois dificulta pegar a veia depois. Obs: Não se solta o garrote antes de 20 a 25 minutos e não o deixa por mais de 1 hora.
Espinhal – é uma anestesia regional, segmentar, temporária, produzida por fármacos anestésicos em diferentes concentraçoes e doses e depositadas no canal espinhal.
Cabeça
Bloqueio do nervo supra-orbitário (sobre a órbita ocular).
Bloqueio do nervo infra-orbitário.
Bloqueio do nervo mandibular.
Bloqueio do nervo óptico (retirada do olho).
Bloqueio da pálpebra superior e inferior.
Bloqueio do nervo cornual – distância média entre o processo cornual e a órbita. (para mochar).
Bloqueio infiltrativo ao redor do chifre (para mochar).
Bloqueio do nervo facial (ângulo de 90º com a comissura labial e a linha dos dentes.
Membros anteriores (cirurgia de extremidades)
Bloqueio dos nervos digitais – região anterior da mão.
Bloqueio dos nervos palmares – região posterior dos membros.
Bloqueio do nervo radial – posição lateral.
Bloqueio do nervo ulnar
Bloqueio do nervo mediano
Membros posteriores (cirurgia de extremidades)
Bloqueio dos nervos plantares
Bloqueio dos nervos digitais
Bloqueio do nervo tibial anterior
Bloqueio do nervo tibial posterior
Bloqueio dos nervos fibulares
Tórax
Bloqueio do plexo braquial – espaço entre a 1ª articulação costo-condral com escapulo-umeral (introduz a agulha neste ponto, paralela a coluna vertebral). Indicação: cirurgia do membro anterior.
Bloqueio dos nervos tóraco-laterais – articulação costo-condral. Indicação: cirurgias do prepúcio (usada em grandes animais). O nervo tóraco-lateral sai da 8ª vértebra e segue caudalmente (no eqüino) e da 6ª vértebra no bovino, inervando toda a região caudo-lateral e ventralmente a ela.
Abdome
Bloqueio em L invertido
Bloqueio retangular
A anestesia é feita após as costelas, após a vértebra T13.
Anestesia paravertebral
Bloqueio dos dois nervos que saem entre as vértebras (raiz dorsal e ventral). Localiza-se os dois processos transversos (de cada vértebra). Introduz a agulha entre os dois, irá sentir o ligamento transverso, passa o ligamento e aplica de 10 a 15ml, sobe a agulha e aplica o restante do anestésico. Pode ser feito entre T13 e L1, L1 e L2, L2 e L3. Após L3 não, pois o animal pode cair.
A paravertebral também promove uma anestesia visceral. Aplica-se do lado em que será feita a cirurgia. Indicações: cesariana, laparotomia.
Obs: Na orquiectomia faz-se o bloqueio no cordão espermático e no local da incisão.
Anestesias Espinhais
Conceito e modalidades
Deposição da droga anestésica no canal vertebral. São procedimentos onde se deposita a droga anestésica dentro do canal vertebral, porém por fora da dura-máter (esta anestesia espinhal se chama peridural, epidural ou raquidiana – fora da ráquia). Quando a droga anestésica é colocada para dentro da dura-máter, na aracnóide, se chama subaracnóide ou raquiana (dentro da ráquia).
Aspecto anatomopatológico
A dura-máter, no crânio, está junto ao periósteo. Do forame magno (primeira vértebra cervical) para trás, a dura-máter se afasta do periósteo, originando um espaço chamado epidural. Se prolonga até as primeiras vértebras coccígeas. Se une novamente (ou na metade do osso sacro ou para trás), formando o cone dural, onde saem os nervos que formam a cauda eqüina.
Este espaço apresenta pressão negativa. Ao ser atingido com a agulha (em grandes animais) pode-se ouvir um sibilo. O espaço é preenchido por gordura. Entre a aracnóide e a pia mater existe o espaço subaracnóide, preenchido pelo líquido céfalo-raquidico. Por onde se deslocar esse líquido, levará o anestésico junto, pois se mistura com este. Se acaso atingir o bulbo, leva a parada respiratória, tendo que socorrer o animal imediatamente. Na epidural não há este risco, pois a droga não entra em contato com o bulbo. O máximo que o anestésico pode chegar, neste caso, é ao forame magno.
Nos eqüinos, bovinos e ruminantes em geral, a medula termina aproximadamente na metade do osso sacro. Se usar uma técnica que aplique a anestesia após essa região, não atingirá a medula.
Em cães, suínos e felinos a medula termina na altura de L6 ou L7.
O líquido céfalo-raquiano equilibra a pressão e evita traumas (amortece impactos) na coluna e cérebro. Circula crânio-cauldalmente e caudo-cranialmente, eliminando sobras metabólicas. Há desconfiança que ele possua imunoglobulinas.
Epidural:
Grandes animais – sacro-coccígeo.
Pequenos animais – espaço lombo-sacral.
O espaço sacro coccígeo é o lugar eleito para anestesia peridural em eqüinos e bovinos. Se no eqüino esse espaço estiver fusionado, faz-se então entre a 1ª e a 2ª vértebras coccígeas, no espaço inter-coccígeo. Em pequenos animais se faz no espaço lombo-sacral.
Subaracnóide:
Grandes animais – espaço lombo-sacral.
Pequenos animais – espaço inter-lombar, entre L6 e L7.
Obs: Em bovinos e eqüinos a última lombar é a L6.
		Em pequenos animais (cão, gato, suínos) a última é a L7.
MPA – medicação pré-anestésica: é importante para tranqüilizar o animal.
Anestesia suplementar: em animais sangüíneos deve-se fazer também uma anestesia suplementar com anestésico geral (barbitúrico, volátil). Auxilia na execução da anestesia espinhal e facilita o trabalho.
Fatores que influenciam na analgesia extra e intra dural
Posição do animal: decúbito lateral, aproximando os 4 membros, ajuda a aplicação, pois com a flexão da coluna (fica fletida) os processos espinhais se afastam, facilitando a introdução da agulha. Outra posição é fletir a coluna do animal na borda da mesa: só não é indicada para pacientes com tumor abdominal, gestação ou bexiga repleta.
Escolha do interespaço: depende do tipo da anestesia e de que região será anestesiada.
Bombeamento: retirar a mesma quantidade de liquor que será injetada de droga anestésica. Essa retirada deve ser muito lenta, evitando descompressão brusca. O bombeamento consiste em, na mesma seringa que irá injetar o anestésico, puxar essa mesma quantidade do liquor e os líquidos irão se misturar na seringa. Após feito isso, injeta-se a mistura novamente.
Volume e concentração: de acordo com o caso clínico, pode-se baixar o volume e aumentar a concentração (menor alteração de pressão, maior tempo de anestesia, maior intoxicação). Maior volume com menor concentração causa menos intoxicação, mas o tempo da anestesia é menor e a alteração de pressão é maior.
Velocidade de injeção: deve ser pequena, principalmente na aracnóide. Se for rápido pode levar a compressão do cérebro e da medula.
Densidade da solução: ligada à concentração. É estudada em comparação com o liquor. Se for mais denso que o liquor irá progredir mais devagar por ele. Se for menos denso, progredirá mais rápido.
Duração da analgesia: volume baixo com concentração baixa – pouco tempo de duração. Pode-se fazer reinjeções na ráquia ou peridural. É calculada de acordo com o tempo da cirurgia. Existem drogas que associadas ao anestésico aumentam a duração da anestesia (adrenalina: vasoconstritor), podendo-se com isso diminuir o volume e a concentração. Vitamina B1 (aumenta a área de difusão) e hialuronidase (diminui a duração – vasodilatador).
Postura pós-injeção: ligada a subaracnóide. Pode progredir até o bulbo e levar a apnéia instantânea. Por esse motivo deve-se elevar a cabeça do animal acima do corpo (assim queaplicar a anestesia) após ± 10 a 15 minutos o anestésico se fixa a célula nervosa, podendo-se baixar a cabeço do animal e proceder a cirurgia.
Material e instrumental
Anti-séptico, material para tricotomia, agulha, seringa, anestésico e o paciente. O ideal é usar agulha com mandril. Mandril é um filete metálico que corre por dentro da agulha para evitar entupimento. Essa agulha com mandril possui uma maior proteção contra infecção.
Técnica
Conhecimento anatômico e fisiológico. Localizado o local (espaço) da introdução da agulha, introduzi-la verticalmente (após introduzi-la na pele), pois o processo espinhoso é inclinado para trás. A agulha irá ultrapassar a pele, celular subcutâneo, ligamento interespinhoso, ligamento amarelo, espaço peridural e, se perfurar a dura-máter, espaço subaracnóide.
Passado o ligamento amarelo, sente-se como se a agulha tivesse caído no vazio (pressão negativa – facilita sugar o líquido). Antes de chegar neste espaço, sente-se resistência na introdução da agulha.
Condição “sine quanon” para saber se chegou a aracnóide: ao sugar com a seringa, vem liquor. Se tiver sangue é porque atingiu um vaso. Neste caso penetra a agulha mais um pouco. É um processo muito lento, deve ser feito devagar.
Indicações
Peridural – alta e baixa (concentração ou volume ou ambos): a diferença de volume e concentração a classificam como alta ou baixa. Aplicação sacro-coccígea: bloqueio de todos os nervos que inervam o períneo, cauda, bolsa excrotal, vulva, parte posterior da vagina, reto, ânus, face posterior da coxa. A 1ª parte a ser anestesiada é a cauda (por ficar pêndula, facilita a descida do anestésico). Indicada para: caudectomia, tumor, abscesso.
Subaracnóide – qualquer indicação cirúrgica do diafragma para trás.
Se usar o espaço sacro-coccígeo com a peridural (alta), também pode-se conseguir uma anestesia maior, aumentando principalmente o volume (mais que a concentração).
A subaracnóide é uma via mais severa e mais sujeita a complicações, mas é uma opção.
Na peridural alta ou na subaracnóide o trem posterior cai (pois atinge o plexo lombo-sacro). Deve-se ter um cuidado maior no pós-operatório, pois o animal pode sofrer acidentes ao tentar se levantar, como fraturar, escoriações, luxações, cortes e meningite, cefaléia (aplicação rápida da anestesia). Pode causar paralisia, ou paresia (se atingir um nervo).
A meningite pode ser asséptica ou séptica, que pode evoluir para encefalite. A asséptica ocorre por traumatismo das meninges na aplicação. A séptica ocorre por infecção causada pela agulha contaminada.
Anestesia Geral
Anestésicos injetáveis (barbitúricos e não barbitúricos)
Conceito: é a abolição temporária da dor com perda da consciência após a administração de uma droga.
Histórico:
Egípcios: usavam ópio e vinho.
Chineses: haxixe e caiamo (flor da Canabis).
Itália: usavam métodos mais drásticos: traumatismo craniano, hipóxia, asfixia.
1628: Willian Harley comprovou que se podia injetar medicamentos IV.
1845: Hine: invenção da seringa.
1846: Um dentista (Morgan) fez a primeira cirurgia sem dor (extração dentária), usando éter como anestésico volátil.
Hidrato de cloral: Primeiro anestésico geral injetável (Hambert).
Efeitos desejáveis dos anestésicos gerais – analgesia (não sentir dor), amnésia (redução do trauma pós-cirúrgico), hipnose (perda da consciência – para o paciente não reagir) e relaxamento muscular (não oferecer resistência e facilitar a ampliação do campo cirúrgico). Nem sempre se consegue os quatro efeitos.
Requisitos desejáveis – Potência (boa analgesia), baixa toxicidade, boa margem de segurança (relação entre a dose clínica e a fatal), rápido metabolismo, indução rápida, tranqüila e segura, que proporcione despertar pronto e tranqüilo, baixo custo, não proporcionar efeitos colaterais, não promover sangramento capilar.
Principais reflexos avaliados em anestesia
Cardíacos e Respiratórios – freqüência respiratória e amplitude respiratória (expansão da cavidade torácica), freqüência cardíaca, pressão arterial, pulso e perfusão sanguínea (capacidade de se difundir pelos tecidos – teste de capilaridade);
Óculo-palpebral (reflexo da córnea, palpebral e pupilar – toca-se com o dedo próximo ao olho e ele fecha, pisca);
Interdigital (ou podálico) – que consiste em comprimir a membrana existente entre os dedos para avaliar a analgesia;
Reflexo laringo-traqueal (da deglutição e da tosse);
Anal (o grau de relaxamento do esfíncter anal).
Estes reflexos servem para avaliar o grau de depressão do SNC, para evitar uma parada cardiorespiratória.
Estágios da anestesia (estágios de Guedel)
Utilizou o éter como referência, mas mesmo com novas drogas ainda serve como parâmetro.
Estágio 1 – estágio de perda da consciência. Começa com a aplicação da droga e termina com a perda da consciência.
Estágio 2 – estágio da excitação. Começa com a perda da consciência e acaba com a normalização dos movimentos respiratórios. Nesta fase ocorre excitação, euforia, taquicardia, taquipnéia, podem ocorrer contrações tônicas da musculatura, convulsões, andar cambaleante, descoordenação.
O estágio 2 deve ser suprimido com uma MPA.
Obs: os estágios 1 e 2 correspondem à indução anestésica.
Estágio 3 – inicia-se com a normalização dos movimentos respiratórios e acaba em apnéia. Chamado de estágio cirúrgico. Divide-se em 4 planos.
1º Plano: Normalização da freqüência respiratória e acaba quando essa freqüência se torna tóraco-abdominal profunda.
2º Plano: Começa com a respiração tóraco-abdominal profunda e acaba com a respiração tóraco-abdominal superficial (como em sono profundo). Só se deve operar o animal a partir desse plano.
3º Plano: Começa com a respiração tóraco-abdominal superficial e acaba com uma respiração diafragmática (depressão do bulbo).
4º Plano: Começa com a respiração diafragmática e acaba em apnéia.
Estágio 4 – começa em apnéia e, se não reverter, termina em morte.
OBS: A tabela abaixo se refere às alterações provocadas pelos diferentes estágios da anestesia geral.
	
	Respiração
	Movimento ocular
	Pupila
	Reflexos oculares
	Tônus muscular
	Resposta respiratória a incisão cutânea
	Estágio I
	Normal
	Voluntário
	Normal
	Normal
	Normal
	Normal
	Estágio II
	Rápida e regular
	Errático
	Dilatada
	Palpebral ausente
	Aumenta
	Normal
	Estágio III
	
	
	
	
	
	
	Plano 1
	Automática e regular
	Ausente
	Miose
	Corneal ausente
	Perda gradual do tônus muscular
	Ausente
	Plano 2
	Superficial e regular
	Ausente
	Miose
	Pupilar a luz ausente
	Perda gradual do tônus muscular
	Ausente
	Plano 3
	Torácica
	Ausente
	Normal
	Sem reflexo a luz
	Perda gradual do tônus muscular
	Ausente
	Plano 4
	Torácica até parada respiratória
	Ausente
	Dilatada
	Sem reflexo a luz
	Perda gradual do tônus muscular
	Ausente
	Estágio IV Morte iminente
	Apnéia
	Ausente
	Totalmente dilatada
	Ausente
	Flacidez
	Ausente
Anestesia barbitúrica
Os barbitúricos são obtidos através da adição de uréia a um ácido, o ácido molônio.
Propriedades farmacológicas:
Altamente lipossolúvel;
Metabolismo hepático e excreção renal;
pH muito alto (são alcalinos);
São utilizados exclusivamente por via intravenosa;
São carreados pela albumina.
Obs: Se for aplicado em artérias (erroneamente) pode causar espasmo da parede da artéria e necrose do membro.
Contra indicações:
Pacientes com acidose metabólica (aumenta sua potência);
Pacientes gestantes, pois os fetos não oferecem resistência a metabolização do barbitúrico;
Pacientes com hipoproteinemia (pois é carreado pela albumina);
Pacientes hepatopatas;
Pacientes nefropatas;
Pacientes cardiopatas (provocam uma ligeira taquicardia e hipotensão);
Pacientes com uremia (uréia no sangue; entram em acidose metabólica)
Provocam bradipnéia, são extremamente lipofílicos e de metabolismo no organismo lento.
Obs: Os barbitúricos são primeiramente distribuídos para os

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