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2 CRITÉRIOS DE PROJETO 2.1 Requisitos Básicos de Projeto Qualquer estrutura, seja parte dela ou em sua totalidade, deve resistir com margem de segurança a todos as solicitações provenientes de carregamentos aplicados, além de não apresentar deformações excessivas ou fissuração indesejável que possa comprometer sua utilização e durabilidade. A segurança das estruturas envolve a verificação da capacidade de carga, da estabilidade e da capacidade de utilização e durabilidade durante a vida útil prevista. 2.1.1 Agressividade do Ambiente A agressividade do meio ambiente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas de concreto. Tabela 1: Classes de agressividade ambiental (NBR 6118). Classe de agressividade ambiente Agressividade Classificação geral do tipo de ambiente para efeito de projeto Risco de deterioração da estrutura Rural I Fraca Submersa Insignificante II Moderada Urbana1), 2) Pequeno Marinha1) III Forte Industrial1), 2) Grande Industrial1), 3) IV Muito Forte Respingos de Maré Elevado Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 14 1) Pode-se admitir um micro clima com uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura). 2) Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras de regiões de clima seco, com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente. 3) Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias químicas. Nos projetos das estruturas correntes, a agressividade ambiental deve ser classificada de acordo com o apresentado na Tabela 1 e pode ser avaliada, simplificadamente, segundo as condições de exposição da estrutura ou de suas partes. 2.1.2 Critérios de Projeto que Visam a Durabilidade Segundo a NBR 6118 2.1.2.1 Simbologia específica desta seção De forma a simplificar a compreensão e, portanto, a aplicação dos conceitos estabelecidos nesta seção, os símbolos mais utilizados, ou que poderiam gerar dúvidas, encontram-se definidos: minc - cobrimento mínimo nomc - cobrimento nominal (cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução) UR - umidade relativa do ar ∆c - Tolerância de execução para o cobrimento 2.1.2.2 Qualidade do concreto de cobrimento da armadura Atendidas as demais condições estabelecidas nesta seção, a durabilidade das estruturas é altamente dependente das características, como espessura e qualidade do concreto e cobrimento da armadura; Ensaios comprobatórios de desempenho da durabilidade da estrutura frente ao tipo e nível de agressividade previsto em projeto devem estabelecer os parâmetros mínimos a serem atendidos. Na falta destes e devido à existência de uma forte correspondência entre a relação água/cimento, a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade, permite-se adotar os requisitos mínimos expressos na Tabela 2. Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 15 Tabela 2: Correspondência entre classe de agressividade e qualidade do concreto (NBR 6118). Classes de agressividade Concreto Tipo I II III IV CA ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45 Relação água/cimento em massa CP ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45 CA ≥ C20 ≥ C25 ≥ C30 ≥ C40 Classe de concreto (NBR 8953) CP ≥ C25 ≥ C30 ≥ C35 ≥ C40 NOTAS 1 O concreto empregado na execução das estruturas deve cumprir os requisitos estabelecidos na NBR 12655. 2 CA corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto armado. 3 CP corresponde a componentes e elementos estruturais de concreto protendido. Para edificações, deverão ser seguidas recomendações para a escolha da espessura da camada de cobrimento da armadura de acordo com a Tabela 3 a serem exigidos para diferentes tipos de elementos estruturais, visando a garantir um grau adequado de durabilidade para a estrutura. Tabela 3: Correspondência entre classe de agressividade ambiental e cobrimento nominal para ∆c = 10mm. Classe de Agressividade I II III IV 3) Tipo de Estrutura Elemento Cobrimento Nominal (mm) Laje 2) 20 25 35 45 Concreto Armado Viga/Pilar 25 30 40 50 Concreto Protendido 1) Todos 30 35 45 55 1) Cobrimento nominal da armadura passiva que envolve a bainha ou os fios, cabos e cordoalhas sempre superiores ao especificado para o elemento de concreto armado, devido aos riscos de corrosão fragilizante sob tensão. 2) Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos tipo carpete e madeira, com argamassa de revestimento e acabamento tais como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos, pisos asfálticos e outros tantos, as exigências desta tabela podem ser substituídas por 7.4.7.5, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15 mm. 3) Nas faces inferiores de lajes e vigas de reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras em ambientes químicos são intensamente agressivos, a armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45 mm. Os requisitos das tabelas 2 e 3 são válidos para concretos executados com cimento Portland que atenda, conforme seu tipo e classe, às especificações das NBR 5732, NBR 5733, NBR 5735, NBR 5736, NBR 5737, NBR 11578, NBR 12989 ou NBR 13116, com consumos mínimos de cimento por metro cúbico de concreto de acordo com a NBR 12655; Não é permitido o uso de aditivos contendo cloreto na sua composição em estruturas de concreto armado ou protendido; Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 16 A proteção das armaduras ativas externas deve ser garantida pela bainha, completada por graute, calda de cimento Portland sem adições, ou graxa especialmente formulada para esse fim; Atenção especial deve ser dedicada à proteção contra a corrosão das ancoragens das armaduras ativas; Para o cobrimento deve ser observado: o Para atender aos requisitos estabelecidos na NBR 6118, o cobrimento mínimo da armadura é o menor valor que deve ser respeitado ao longo de todo o elemento considerado e que se constitui num critério de aceitação; o Para garantir o cobrimento mínimo ( minc ) o projeto e a execução devem considerar o cobrimento nominal ( nomc ), que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução (∆c). Assim, as dimensões das armaduras e os espaçadores devem respeitar os cobrimentos nominais, estabelecidos na Tabela 3, para ∆c = 10 mm; o Nas obras correntes o valor de ∆c deve ser maior ou igual a 10 mm; o Quando houver um adequado controle de qualidade e rígidos limites de tolerância da variabilidadedas medidas durante a execução pode ser adotado o valor ∆c = 5 mm, mas a exigência de controle rigoroso deve ser explicitada nos desenhos de projeto. Permite-se, então, a redução dos cobrimentos nominais prescritos na Tabela 3 em 5 mm; o Os cobrimentos nominais e mínimos estão sempre referidos à superfície da armadura externa, em geral à face externa do estribo. O cobrimento nominal de uma determinada barra deve sempre ser: a) φ≥nomc barra (armadura passiva); b) φ≥nomc feixe = nφ = nφ (feixe de armadura passiva); c) φ5,0≥nomc bainha (armadura ativa). o A dimensão máxima característica do agregado graúdo utilizado no concreto não pode superar em 20% a espessura nominal do cobrimento, ou seja, dmáx ≤ 1,2 nomc ; o No caso de elementos estruturais pré-fabricados, os valores relativos ao cobrimento das armaduras (Tabela 3) devem seguir o disposto na NBR 9062. 2.1.2.3 Detalhamento das armaduras As barras devem ser dispostas dentro do componente ou elemento estrutural, de modo a permitir e facilitar a boa qualidade das operações de lançamento e adensamento do concreto; Para garantir um bom adensamento é vital prever no detalhamento da disposição das armaduras espaço suficiente para entrada da agulha do vibrador. Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 17 2.2 Estados Limites (NBR 6118) O estado limite é definido como aquele em que a estrutura se apresenta em condições inadequadas para seu uso. Os estados limites se apresentam em dois grupos: Estados Limites Últimos e Estados Limites de Utilização. 2.2.1 Estados Limites Últimos (ELU) Estados Limites Últimos são aqueles relacionados ao colapso, ou a qualquer outra forma de ruína estrutural, que determine a paralisação do uso da estrutura. Como a ocorrência de um estado limite último, pode envolver perda de vidas humanas, portanto, sua probabilidade de ocorrência deve ser muito baixa. A segurança das estruturas de concreto deve sempre ser verificada em relação aos seguintes estados limites últimos: Resistência: quando a resistência de uma ou mais regiões da estrutura é atingida, resultando no colapso parcial ou total; Perda de Equilíbrio: estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo rígido (esse estado limite não depende das resistências dos materiais e corresponde ao início da movimentação das estruturas, ou parte dela , como corpo rígido); Formação de um mecanismo: ocorre quando a estrutura se transforma num mecanismo devido à formação de rótulas plásticas em número suficiente de regiões, tornando a estrutura instável; Flambagem: flambagem local ou parcial da estrutura causada por deformações; Fadiga: ocorre em estruturas sujeitas a tensões cíclicas. Embora ocorra em situações de cargas de serviço, a fadiga é considerada como estado limite último porque ela causa a ruptura do material; outros estados limites últimos que eventualmente possam ocorrer em casos especiais. 2.2.2 Estados Limites de Utilização (Serviço) Estados Limites de Serviço são aqueles relacionados à durabilidade das estruturas, aparência, conforto do usuário e da boa utilização funcional da mesma, seja em relação aos usuários, seja as máquinas e aos equipamentos utilizados. A segurança das estruturas de concreto pode exigir a verificação de alguns dos seguintes estados limites de serviço: Estado de deformação excessiva: estado em que as deformações ultrapassam os limites aceitáveis para a utilização da estrutura. Estas deformações podem causar danos inaceitáveis em elementos não estruturais ou uma aparência indesejável à estrutura. Estado de fissuração inaceitável: estado em que as fissuras se apresentam com abertura prejudicial ao uso ou a durabilidade da estrutura. Vibrações excessivas: ocorre quando as vibrações atingem intensidade inaceitável, podendo causar desconforto ou perda da utilidade da estrutura. Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 18 2.3 Ações (NBR 6118) As ações (F) são qualquer causa capaz de provocar esforços ou deformações nas estruturas. Na análise estrutural deve-se levar em conta todas as ações que possam produzir efeitos significativos para a segurança da estrutura em exame, levando-se em conta os possíveis estados limites últimos e serviço. As ações podem ser : Diretas: constituída por forças; Indiretas: oriundas de deformações impostas. Segundo a variabilidade no tempo, as ações são classificam de acordo com a NBR 8681 em permanentes, variáveis e excepcionais. 2.3.1 Ações Permanentes Ações permanentes são aquelas que ocorrem com valores praticamente constantes durante toda a vida útil da construção. Também são consideradas como permanentes as ações que crescem no tempo, tendendo a um valor limite constante. As ações permanentes devem ser consideradas com seus valores representativos mais desfavoráveis para a segurança. 2.3.1.1 Ações permanentes diretas (Fg) As ações permanentes diretas são constituídas pelo peso próprio dos elementos construtivos permanentes, peso próprio da estrutura, equipamentos fixos, empuxos devido ao peso próprio de terras e hidrostático em casos particulares. 2.3.1.2 Ações permanentes indiretas (Fε) As ações permanentes indiretas são constituídas pelas deformações impostas por retração e fluência do concreto, deslocamentos de apoio, imperfeições geométricas e protensão. 2.3.2 Ações Variáveis (Fq) São as ações que ocorrem com valores que apresentam variações significativas em torno de sua média, durante a vida da construção, tais como: Cargas acidentais (pessoas, mobiliário, veículos, etc.); Forças de frenagem, de impacto e centrífugas; Variações de temperatura; Atrito nos aparelhos de apoio; Pressão do vento; Pressões hidrostáticas e aerodinâmicas (em geral). Em função de sua probabilidade de ocorrência se classificam em: Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 19 Ações variáveis normais: probabilidade de ocorrência suficientemente grande para que sejam obrigatoriamente consideradas no projeto das estruturas de um dado tipo de estruturas. Ações variáveis especiais: ações sísmicas ou cargas acidentais de natureza ou intensidade especiais. 2.3.3 Ações Excepcionais As ações decorrem de causas tais como: Explosões; Choque de veículos; Incêndios; Enchentes ou sismos excepcionais. 2.4 Solicitações (NBR 6118) Os esforços que provocam solicitações na estrutura são: momentos fletores, forças cortantes, forças normais, momentos torçores. Onde: gS são provocadas por gF (ações permanentes diretas) qS são provocadas por qF (ações variáveis) εS são provocadas por εF (ações permanentes diretas) 2.5 Valores Característicos e de Cálculo (NBR 6118) 2.5.1 Valores Característicos Os valores característicos das resistências dos materiais ( kR ), das ações ( kF ) e das solicitações ( kS ) são valores que apresentam uma probabilidade prefixada de não serem ultrapassados. kR é um valor que tem 95% de probabilidade de ser ultrapassado no sentido favorável (i.e., existe uma probabilidade de 95% dos resultadosindividuais obtidos nos ensaios de corpos de prova serem superiores a kR ). kF é um valor que apresenta 5% de probabilidade de ser ultrapassado durante a vida útil da estrutura. Os valores nominais fixados para as ações a serem considerados no cálculo estão indicados nas normas: NB-5: cálculo de edifícios NB-6: pontes rodoviárias NB-7: pontes ferroviárias NB-599: ação do vento Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 20 Logo, kS é efeito de kF . 2.5.2 Valores de Cálculo Os valores de cálculo das ações, solicitações e da resistência dos materiais são os valores a serem adotados no cálculo nos Estados Limites. 2.5.2.1 Valores de Cálculo das Ações e Solicitações Os valores são calculados pelas equações: kfd FF γ= kfd SS γ= (1) onde: fγ = coeficiente de segurança que leva em consideração: variações desfavoráveis das ações e solicitações; aproximações inevitáveis das hipóteses de cálculo; imprecisões geométricas da construção. Se o cálculo das solicitações for feito por processo linear o coeficiente fγ poderá ser aplicado à ação característica ou diretamente a solicitação característica: ( )kfd FSS γ= ou ( )kfkfd FSSS γγ == onde: ( )kf FS γ representa o efeito de kf Fγ . Se o cálculo da solicitação for feito por processo não linear, o coeficiente fγ será aplicado à ação característica: ( )kfd FSS γ= 2.5.2.2 Valores de fγ da NBR-6118 (11.7.1) Carga permanente: 4,1=fγ em geral 9,0=fγ quando a influência da carga permanente for favorável Carga acidental: 4,1=fγ acrescido de impacto quando houver Deformações impostas: 2,1=fγ O cálculo no estado limite último é feito então com a mais desfavorável das seguintes solicitações: kqkgkd SSSS ε2,14,14,1 ++= kqkgkd SSSS ε2,14,19,0 ++= (2) Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 21 No cálculo de edifícios, pode ser considerado apenas a primeira destas expressões. Observação: No caso de ações acidentais de diferentes origens com pouca probabilidade de ocorrência simultânea que causam as solicitações ....321 qkqkqk SSS ≥≥ , pode-se considerar: ( )...8,0 32 +++= qkqkgkd SSSS 2.5.2.3 Cálculo nos Estados Limites de Utilização Considera-se: kqkgkd SSSS εχ ++= A observação acima também se aplica neste caso. χ é um coeficiente que leva em conta a probabilidade de ocorrência dos valores máximos de qkS . 7,0=χ para estruturas de edifícios 5,0=χ para as demais 2.5.2.4 Valores de Cálculo das Resistências dos Materiais Concreto: cckcd ff γ= compressão ctktd ff γ= tração Aço: sykyd ff γ= tração syckycd ff γ= compressão cγ e sγ são coeficientes de ponderação das resistências. Levam em conta: variação dos materiais defeitos de ensaios correlação entre os corpos de prova e a realidade 15,1=sγ desde que sejam obedecidas as exigências da EB-3. 25,1=sγ em obras de pequena importância quando as exigência da norma EB-3 não são obedecidas. 4,1=cγ em geral. 3,1=cγ no caso de peças pré-moldadas em usinas. 5,1=cγ no caso de peças em condições desfavoráveis de execução. 2.6 Cálculo Segundo a NBR 6118 A condição de segurança no estado limite último é dada pela expressão ( ) kssscc SRRR γγγ ≥, Construções de Concreto Capítulo 2 – Critérios de Projeto - 22 A resistência interna de uma seção, onde cR e sR são as resistências oferecidas pelo concreto e o aço, deve ser maior ou igual a solicitação de cálculo nela atuante. Os coeficientes cγ , sγ e fγ tem os valores indicados nos itens anteriores. 2.7 Etapas do Dimensionamento Estrutural As etapas do dimensionamento estrutural compreendem: Definição das necessidades e prioridades do cliente; Elaboração do esquema estrutural (lançamento da estrutura), fixando a disposição geral, condições de apoio, dimensões, etc; Estabelecimento das hipóteses de carga: combinações das ações que atuam na estrutura de modo a obterem-se as situações mais desfavoráveis; Determinação dos esforços solicitantes; Cálculo das seções (via de regra, apenas as seções críticas); Verificação dos estados limites de utilização.