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Diálogo Socrático

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ABREU , Cristiano, GUILHARDI, Hélio, Terapia comportamental e cognitivo-
comportamental, Práticas clínicas, São Paulo, Roca. 2004. 
 
Diálogo Socrático 
Maria Cristina 0. S. Miyazaki 
 
1. PRINCÍPIOS 
 
O Dialogo Socrático e um importante recurso na pratica clinica e uma das 
principais caraterísticas da Terapia Cognitiva. Inicialmente, Dialogo Socrático se 
referia a um questionamento intenso sobre determinado tema, como uma espécie de 
sabatina ou chamada oral cujo objetivo era levar o individuo a perceber falhas em 
seu raciocínio ou a admitir sua ignorância. Seu objetivo era fazer com que as 
conclusões fossem tiradas a partir de um raciocínio logico e, embora pudesse ser 
esclarecedor, podia ser também uma experiência humilhante para quem estava 
sendo questionado (Dobson, 2001; Overholser, 1993a). 
Em Psicologia, atualmente, o Dialogo Socrático (também denominado Método 
Socrático ou Questionamento Socrático) se refere a exploração cooperativa de 
determinado tema. Tem um papel fundamental na pratica da Terapia Cognitiva e 
pode, inclusive, ser considerada uma de suas principais características (Beck, 
Wright, Curwen, Palmer e Ruddell, 2000; Falcone, 2001; Overholser, 1993a/ 1993b). 
A técnica do Dialogo Socrático pode ser definida como uma serie de questões 
cuidadosamente elaboradas para levar a conclusões logicas em relação a um 
problema e para fornecer diretrizes adequadas para futuras ações (Corsini, 1999, 
pag. 921). 
Na pratica da Terapia Cognitiva, as questões formuladas pelo terapeuta tem 
vários objetivos, como obter informações, conhecer o problema trazido pelo cliente, 
obter uma visão geral acerca do seu estilo de vida atual, avaliar estratégias de 
enfrentamento. Avaliar os estressores e o funcionamento global, traduzir queixas 
vagas em problemas concretos, decidir sobre tipo de enfoque a ser utilizado em 
relação ao problema, auxiliar o cliente a avaliar as consequências de seus 
comportamentos disfuncionais e de possíveis mudanças, identificar cognições 
especificas associadas a emoções ou comportamentos disfuncionais, avaliar o 
significado atribuído pelo cliente a eventos específicos, suas auto verbalizações ou 
auto-avaliações negativas e, finalmente, explorar áreas de difícil acesso (Beck, 
Rush, Shawe Emery, 1979). 
Assim, em vez de fornecer respostas, confrontar, debater percepções ou 
interpretações, o terapeuta cognitivo formula questões visam a dirigir a atenção do 
cliente para uma área especifica e avaliar as suas respostas em relação ao tema, 
esclarecer ou definir o problema, auxiliar a identificar pensamentos, imagens e 
crenças, examinar o significado atribuído pelo cliente aos eventos e avaliar as 
consequências de pensamentos ou comportamentos (J. Beck, 1997; Curwen, 
Palmer e Ruddell, 2000; Weishaar, 1993). Essa exploração cooperativa auxilia na 
modificação de padrões disfuncionais de pensamento, facilitando mudanças 
comportamentais, ambientais e biológicas (Padeski e Greenberger, 1995). Além 
disso, na medida em que o cliente identifica questões para as quais desconhece as 
respostas, pode se motivar a aprender e tentar descobrir soluções para as suas 
dificuldades (Overholser, 1993a). 
Embora o Diálogo Socrático possa ser útil isoladamente, e habitualmente 
utilizado em conjunto com outras técnicas e empregado durante todo o processo 
terapêutico. 
 
2. DESCRIÇÃO 
 
Uma descrição detalhada do procedimento e atribuída frequentemente a 
Overholser (J. Beck, 1997; Beck et ai, 1993; Dobson, 2001). Para Overholser 
(1993a/1993b/1994), o Dialogo Socrático contem três componentes básicos: (a) 
questionamento sistemático; (b) raciocínio indutivo; e (c) definições universais. 
 
2.1 QUESTIONAMENTO SISTEMÁTICO 
 
O questionamento sistemático envolve a formulação de uma serie de questões 
cujo objetivo e desenvolver, no cliente, habilidades para pensar de forma 
independente. Essas questões podem ser analisadas em relação a forma, ao 
conteúdo e também como processo (Overholser, 1993a). 
A forma de uma questão pode envolver memoria (“Quando o problema 
começou?”), tradução (“O que isso significa para você?”), interpretação (“O que 
essas duas situações difíceis tem em comum?”), aplicação (“O que você já tentou 
fazer para lidar com esse problema?”), analise (“O que torna essa situação pior? E o 
que a torna mais fácil?”), síntese (“De que forma você pode encarar essa situação?”) 
e avaliação (“O que você espera desse relacionamento?”) (Overholser, 1993a). 
Embora uma questão possa conter apenas uma dessas formas, a integração de 
formas diversas e habitualmente utilizada em questões mais complexas. 
O conteúdo da questão, por sua vez, pretende desenvolver no cliente 
estratégias racionais para solucionar problemas. Uma integração entre Dialogo 
Socrático e treino em solução de problemas “utiliza o questionamento sistemático 
para auxiliar o cliente a aprender, ao mesmo tempo em que aplica os estágios do 
treino em solução de problemas, isto e, a definição do problema, o desenvolvimento 
de estratégias de enfrentamento, a tomada de decisões e a implementação das 
decisões” (Overholser, 1993a, pag. 69). 
Cinco elementos são identificados por Overholser (1993a) em relação ao 
questionamento sistemático como processo: questão principal, explicação, defesa, 
progressão sequencial e sequencias curtas. A questão principal focaliza a atenção 
do cliente em determinado tema (“Você acha que discutir o problema com o seu 
colega vai ajudar a encontrar uma solução ou vai causar mais atrito entre vocês?”). 
Uma explicação e necessária quando o cliente não compreendeu a questão 
principal. A defesa consiste na explanação do cliente em relação ao seu ponto de 
vista e a progressão sequencial e a formulação de uma nova questão principal, para 
manter a discussão progredindo em direção ao objetivo inicial. O questionamento 
sistemático deve ser realizado em sequencias curtas e ser alternado com diálogos 
não socráticos, uma vez que a utilização excessiva de questionamentos pode limitar 
a espontaneidade do cliente, tornar a entrevista semelhante a um interrogatório e 
prejudicar o relacionamento terapeuta-cliente (Blank e White, 1986; Overholser, 
1993a). 
 
2.2 RACIOCÍNIO INDUTIVO 
 
Raciocínio indutivo e o processo “de derivar inferências e princípios gerais a 
partir de observações particulares” (Corsini, 1999, pag. 483). O desenvolvimento de 
inferências gerais a partir da experiência com eventos específicos auxilia o cliente a 
“ir além da sua experiência e construir uma visão mais ampla da realidade” 
(Overholser, 1993b, pag. 75). 
A analise de semelhanças e diferenças entre situações específicas auxilia 
ainda a “desenvolver expectativas realistas e estratégias de enfrentamento em um 
nível abstrato” (Overholser, 1993b, pag. 75). A utilização do raciocínio indutivo pode 
ocorrer, por exemplo, a partir da identificação de uma categoria geral que se aplica a 
todos os membros de um grupo, com base na experiência com apenas um dos 
membros desse grupo. Esse tipo de generalização e frequentemente realizado de 
forma inadequada, principalmente quando o cliente testa crenças a respeito de si 
próprias, fazendo com que muitas cognições distorcidas se desenvolvam e se 
perpetuem. Nesse caso, a terapia encoraja o cliente a buscar um numero maior de 
informações antes de realizar uma generalização. 
 
2.3 DEFINIÇÕES UNIVERSAIS 
 
Definição universal se refere a descrição de um conceito e de suas 
propriedades, de forma que ele possa ser utilizado e compreendido mesmo quando 
as circunstancias variam (Overholser, 1994). O conceito de independência, por 
exemplo, pode ser amplamente definido como ausência de controlee, portanto, ser 
aplicado tanto a um adolescente que luta por autonomia como a um adulto que 
decide se mudar para uma outra cidade. A utilização de definições universais 
durante o processo terapêutico auxilia a “reduzir ambiguidades e vieses” 
(Overholser, 1994, pag. 286), assegurando que o terapeuta e o cliente tenham a 
mesma compreensão acerca dos conceitos discutidos. Durante a terapia, 
frequentemente, e importante auxiliar o cliente a definir conceitos (por exemplo, 
agressividade, justiça, sucesso, fracasso) e avaliar a definição dos conceitos 
utilizados, sendo que essa avaliação pode sugerir a necessidade de auxiliar o cliente 
a criar definições mais adequadas. O questionamento envolvido no esclarecimento 
de definições auxilia o terapeuta a compreender crenças e evita o erro de acreditar 
que as respostas a determinadas questões são obvias. Além disso, auxilia o cliente 
a identificar e questionar as suas crenças. 
 
3. DESCRIÇÃO DA UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA EM CASOS CLÍNICOS 
 
As entrevistas relatadas a seguir exemplificam a utilização do Dialogo Socrático 
na pratica da Terapia Cognitiva. A primeira, realizada com uma menina de 9 anos 
(Miyazaki, 2000), ilustra a utilização da estratégia com crianças e a necessidade de 
adequar o procedimento ao nível cognitivo do cliente. A segunda e a terceira ilustram 
o uso do Dialogo Socrático com clientes com diagnostico de abuso de substancias e 
transtorno psicótico. 
 
Caso 1 - Utilização com crianças 
 
Problema da cliente: depressão e déficit de habilidades sociais. 
Terapeuta: “Acho que isso que você esta sentindo e tristeza, o que você acha?” 
Cliente: “Acho que sim...” 
Terapeuta: “Sabe, as vezes, tem coisas que fazem a gente se sentir mal e que 
guardamos só para nos. Mas se a gente dividir com alguém pode ser mais fácil. E 
como dividir o peso de uma sacola com alguém, cada um pega em uma alça e fica 
mais fácil de carregar...” 
Cliente: “Eu estou triste. A R. não fica mais comigo na hora do recreio. Ela 
agora tem outras amigas e não liga mais pra mim.” 
Terapeuta: “O que aconteceu? Talvez, se você me contasse o que aconteceu 
no recreio, eu pudesse entender melhor para dividir isso com você.” Cliente: “Nos 
estávamos sentadas tomando lanche e umas meninas vieram chamar a gente pra 
jogar queimada. A R. quis ir e eu fiquei sozinha.” Terapeuta: “E o que você achou 
disso?” 
Cliente: “Eu achei que ela não deveria ir. Que ela deveria ficar comigo porque 
as outras já tinham companhia e eu estava sozinha.” 
Terapeuta: “Elas chamaram vocês duas?” 
Cliente: “E...” 
Terapeuta: “E por que você não foi junto com a R.?” 
Cliente: “Eu não sei...” 
Terapeuta: “Vamos ver isso como uma espécie de problema para resolver, com 
um monte de possíveis soluções ou respostas para ele, tudo bem?” 
Cliente: “Tudo bem.” 
Terapeuta: “Vamos pensar nos diferentes tipos de comportamentos ou em tudo 
que uma menina poderia fazer quando um grupo de colegas da escola a chamam 
para brincar. Vamos pensar.. .o que você acha que poderia fazer?” 
Cliente: “Poderia ir... ou não ir.” 
Terapeuta: “E isso mesmo. Se você fosse, o que faria?” 
Cliente: “Não sei.., acho que eu poderia falar ‘Tudo bem/” 
Terapeuta: “E o que iria acontecer se você falasse tudo bem e fosse com 
elas?” 
Cliente: “Acho que eu iria ficar com um pouco de vergonha no começo... mas 
acho que poderia melhorar depois de jogar um pouquinho.” 
Terapeuta: “Muito bem. E se você não fosse?” 
Cliente: “Eu iria ficar sozinha.” 
Terapeuta: “E se você ficasse sozinha, o que ficaria pensando?” 
Cliente: “Que ninguém gosta de mim, que eu não tenho amigas.” 
Terapeuta: “Pensando nestas duas possíveis respostas para o nosso problema 
- ir ou não ir jogar com as meninas - e nas consequências de cada uma, que tipo de 
resposta você acha que daria um resultado melhor? Quer dizer, um resultado que 
faria você se sentir melhor?” 
Cliente: “Ir jogar com elas, eu acho.” 
Terapeuta: “Você gostaria de treinar algumas respostas para a próxima vez 
que elas te chamarem?” 
Cliente: “Eu não sei...” 
Terapeuta: “Vamos pensar... Se você tivesse uma prova de matemática, você 
se sentiria melhor para fazer a prova se tivesse estudado ou não?” 
Cliente: “Se tivesse estudado, claro.” 
Terapeuta: “E a mesma coisa. Eu sei que você faz bale. Quando o seu grupo 
vai fazer uma apresentação você se sente melhor se ensaiou bastante e sabe o que 
fazer ou se não ensaiou quase nada?” 
Cliente: “Se ensaiei bastante, claro.” 
Terapeuta: “Você sabe, algumas pessoas tem mais facilidade que as outras 
para fazer certas coisas. Por exemplo, não tem gente na sua classe que tem 
dificuldade em matemática?” 
Cliente: ‘Tem...” 
Terapeuta: “E não tem gente que acha que matemática e fácil?” 
Cliente: “Tem, eu acho que e fácil.” 
Terapeuta: “E fácil para você, mas não e fácil para todo mundo, não e?” 
Cliente: “E.” 
Terapeuta: “Então. E a mesma coisa em relação a fazer amigos, tem gente que 
acha que e fácil e tem gente que acha que e difícil.” 
Cliente: “E? Você acha que tem mais gente que se preocupa porque acha difícil 
arrumar amigos?” 
Terapeuta: “Tem sim. Alguns se preocupam porque acham difícil fazer amigos, 
outros se preocupam porque tem dificuldade em matemática e outros se preocupam 
por outras coisas. Lembra que você me contou daquela sua coleguinha que chora 
quando tira nota baixa? Para tirar notas melhores o que você precisa fazer?” 
Cliente: “Prestar atenção no que a professora esta explicando, fazer as tarefas 
e estudar todo dia.” Terapeuta: “Isso mesmo. E para a gente fazer amigos?” 
Cliente: “Não sei... acho que agente precisa ter jeito para isso...” 
Terapeuta: “Como estudar para tirar nota, tem algumas coisas que a gente 
pode fazer para facilitar o relacionamento da gente com os colegas.” 
Cliente: “Você acha?” 
Terapeuta: “Eu acho sim. Que tal se a gente tentasse praticar um pouco 
algumas dessas coisas para você ver o que acontece? E como aprender qualquer 
outra coisa, você tem que saber o que fazer e ai começar a praticar.” 
Cliente: “Tudo bem, então eu quero tentar.” 
Terapeuta: “Vamos começar com alguma coisa bem fácil e depois passar para 
coisas mais difíceis. Uma das coisas que a gente precisa praticar e conversar com 
as outras crianças da escola. Fazer uma pergunta para alguém, por exemplo, você 
acha isso difícil?” 
Cliente: “Não sei... talvez perguntar as horas não seja difícil.” 
Terapeuta: “Você acha que perguntar as horas seria fácil?” 
Cliente: “Acho que sim.” 
Terapeuta: “Você acha que daria para você perguntar as horas para alguém?” 
Cliente: “Acho que sim. Mas para quem eu iria perguntar?” 
Terapeuta: “O que seria mais fácil, perguntar para alguém da sua classe ou 
para alguém de outra classe?” 
Cliente: “Perguntar para alguém da minha classe.” 
Terapeuta: “Você acha que da para fazer isso?” 
Cliente: “Acho que da.” 
Terapeuta: “Quer praticar um pouco aqui comigo?” 
Cliente: “Não precisa, acho que e fácil.” 
Terapeuta: “Tudo bem, você anota no seu diário. Você acha que da para 
perguntar três vezes durante a semana, como tarefa de casa?” 
Cliente: “Da...” 
Terapeuta: “Ótimo. Você escreve no seu diário a pergunta, seus pensamentos 
e sentimentos, tudo bem?” 
Cliente: “Tudo bem.” 
 
Caso 2 - Utilização com adultos 
 
Problema do cliente: abuso de substancias (entrevista extraída de Beck et al, 
1993, pag. 104). 
Terapeuta: “C, você usou algum tipo de droga durante este ultimo final de 
semana?” 
Cliente: “Não. Faz mais de um mês que eu não uso nada.” 
Terapeuta: “E o analgésico que o dentista receitou pra você?” 
Cliente: “Que e que tem o remédio?” 
Terapeuta: “Tem algumas coisas que eu gostariade perguntar sobre isso. 
Primeiro: você esta usando exatamente a dose que o dentista passou ou esta 
tomando mais? Você esta tomando o remédio no horário que deve tomar ou com 
uma frequência maior?” 
Cliente: “Não se preocupe, estou fazendo tudo direitinho.” 
Terapeuta: “Você sabe por que eu estou perguntando? Por que isso e 
importante?” 
Cliente: “Sei, você me disse que o analgésico e como uma droga.” 
Terapeuta: “Não como uma droga, e uma droga. E um narcótico leve.” 
Cliente: “E eu poderia ficar dependente?” 
Terapeuta: “Isso mesmo. E você sabe por que eu estou preocupado com a 
quantidade e frequência com que você esta tomando o remédio?” 
Cliente: “Não.” 
Terapeuta: “Pense um pouco. Por que você acha que a gente deveria estar 
preocupado com isso?” 
Cliente: “Não sei.” 
Terapeuta: “Bom, talvez você não saiba exatamente o porque, mas será que 
pode tentar pensar em alguns motivos? Eu vou dizer os meus motivos, mas gostaria 
que você me dissesse primeiro o que pensa.” 
Cliente: ‘Acho que e porque se eu tomar mais do que devo posso ficar 
dependente mais depressa?” 
Terapeuta: “Isso mesmo. O que mais?” 
 
Caso 3 - Utilização com adultos 
 
Problema do cliente: transtorno psicótico (entrevista extraída de Haddock e 
Slade, 1996, pag. 110). 
Cliente: “Eu estou sendo seguida em todos os lugares...” 
Terapeuta: “Que tipo de pessoas geralmente são seguidas?” 
Cliente: “Pessoas que estão sendo aterrorizadas por alguém.” 
Terapeuta: “Pense nos filmes que já assistiu e nos livros que já leu. Que tipo de 
pessoas são seguidas?” 
Cliente: “Espiões, terroristas, políticos, a família real, cantores famosos.” 
Terapeuta: “Você não se enquadra em nenhum desses tipos de pessoas, não é 
mesmo?” 
Cliente: “Não, mas eu me sentia como se fosse da família real quando era mais 
nova e minha irmã gêmea estava sempre comigo, em tudo.” 
Terapeuta: “Talvez isso de estar sendo seguido esteja relacionado com a sua 
separação da sua irmã. O que nos realmente precisamos saber e se você tem a 
sensação de estar sendo seguido ou se realmente tem alguém lá. Você pode anotar 
a aparência exata das pessoas que estão te seguindo (roupas, expressões faciais 
etc.) e as circunstancias cada vez que isso acontecer. Anote no seu diário, todos os 
dias (tarefa de casa: ‘teste de realidade’) ”. 
 
4. COMENTÁRIOS 
 
A utilização do Dialogo Socrático vai além da utilização de questões com o 
objetivo de obter dados acerca de fatos e de detalhes. Como enfatiza Overholser 
(1993a), as questões devem ser elaboradas para encorajar o cliente a “analisar, 
sintetizar e avaliar diferentes fontes de informação” (pag. 72), bem como 
desenvolver habilidades para solucionar problemas. 
Levar o cliente a pensar sobre o problema em discussão e tentar encontrar 
uma solução para isso e provavelmente uma das principais razoes pelas quais o 
Dialogo Socrático e considerado tão útil em terapia. Além disso, a utilização 
adequada do método impede que o terapeuta tenha certeza acerca das distorções 
cognitivas do cliente, enquanto o cliente continua com duvidas e preocupações não 
abordadas na sessão (Dobson, 2001). Um boa forma de desenvolver habilidades 
para aprender a utilizar o Dialogo Socrático e ouvir sessões gravadas de 
atendimento, parar a fita cada vez que o terapeuta tiver feito uma observação ou 
uma pergunta fechada e tentar elaborar uma questão com o mesmo objetivo, mas de 
forma mais proveitosa (Dobson, 2001). Embora seja, sem duvida, uma excelente 
estratégia, o Dialogo Socrático não deve ser utilizado excessivamente, mas sim 
alternado com diálogos não socráticos, para não limitar a espontaneidade do cliente 
cuja comunicação fica limitada em responder questões (Overholser, 1993a) e, 
também, para não prejudicar a relação terapeuta-cliente. Portanto, durante o 
processo terapêutico deve haver um equilíbrio entre Dialogo Socrático e a utilização 
de outras formas de intervenção, como esclarecimentos, fornecimento de feedback e 
uso de estratégias educativas (Beck et al, 1993). 
 
5. REFERÊNCIAS 
 
BECK, A. T., WRIGHT, F. D., NEWMAN, C. F., LIESE, B. S. Cognitive Therapy 
of substance abuse. New York: Guilford, 1993. 
BECK, A. T., RUSH, A. J., SHAW, B. F., EMERY, G. Cognitive therapy of 
depression. New York: Guilford, 1979. 
BECK, J. S. Terapia Cognitiva. Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Medicas, 
1997. 
BLANK, M., WHITE, S. Questions: a powerful but misused form of classroom 
exchange. Topics in Language Disorders, 6:1-12, 1986. 
CORSINI, R. J. The dictionary of psychology. Philadelphia: Brunner-Mazel, 
1999. 
CURWEN, B., PALMER, S., RUDDELL, P. Brief Cognitive Behaviour Therapy. 
London: SAGE, 2000. 
DOBSON, K. S. Handbook of Cognitive-Behavioral Therapies. 2.ed. New York: 
Guilford, 2001. 
FALCONE, E. Psicoterapia Cognitiva. In: RANGE, B. (Org.) Psicoterapias 
Cognitivo-comportamentais. Um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 
2001. p.49-61. 
HADDOCK, G., S LAD E, P. D. Cognitive-behaviouraI interventions with 
psychotic disorders. London: Routledge, 1996. 
MIYAZAKI, M. C. O. S. A depressão infantil. In: SILVARES, E. F. M. (Org.) 
Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil, v.2. Campinas: 
Papirus, 2000. p.43-62. 
OVERHOSLSER, J. C. Elements of the socratic method: I. Systematic 
questioning. Psychotherapy, 30:67-74, 1993a. 
OVERHOSLSER, J. C. Elements of the socratic method: il. Inductive reasoning. 
Psychotherapy, 30:75-85, 1993b. 
OVERHOLSER, J. C. Elements of the socratic method: III. Universal 
Definitions. Psychotherapy, 31:286-293, 1994. 
PADESKI, C. A., GREENBERGER, D. Clinician's guide to Mind Over Mood. 
New York: Guilford, 1995. 
WEISHAAR, M. E. Aaron T. Beck. London: Sage, 1993.

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