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Unidade II – Avaliação Clínica e Bioquímica Disciplina: Avaliação Nutricional Prof. Alessandra Frasnelli Faria Nutricionista Mestre em Patologia Os quatro principais componentes da história nutricional incluem 1) História Clínica Doença atual, história médica e cirúrgica pregressa, história familiar, medicações (suplementos vitamina e minerais, hormônios, uso crônico de álcool, glicocorticóides, imunossupressores, laxantes, estimulantes e supressores de apetite, cafeína, etc) 2) Fatores Socioeconômicos Contribuem para o desenvolvimento da desnutrição 3) História Familiar Pertinentes à obesidade e co-morbidades 4) História Dietética Pertinentes à desnutrição, obesidade e co-morbidades Avaliação Físico Nutricional • É um método clínico utilizado para detectar sinais e sintomas associados à desnutrição • Esses sinais e sintomas apenas se desenvolvem em estágios avançados de depleção nutricional • O diagnóstico da deficiência nutricional não deve basear-se exclusivamente neste método • Algumas doenças apresentam sinais e sintomas semelhantes aos apresentados na desnutrição, sendo, então, importante conhecer a história clínica do paciente para evitar um diagnóstico nutricional incorreto • Vantagens: baixo custo, relativa simplicidade e o fato de não serem invasivos Exame Físico → detectar sinais de: • Anemia, Desidratação • Icterícia • Febre • Atrofia temporal (↓ mastigação) • Perda da bola gordurosa de Bichart • Alterações da cavidade oral • Abdome escavado • Edemas (Cacifro ou Sinal de Godet), etc Massa muscular e tecido subcutâneo • Na vigência de desnutrição, observa-se perda de massa muscular nos músculos quadríceps e deltóide • Perda de tecido subcutâneo é visível na face, tríceps, coxa e cintura Atrofia da musculatura temporal bilateral • Demonstra que o paciente parou de mastigar ou deixou de usar a mastigação como fonte principal de ingestão alimentar Perda da bola gordurosa de Bichart • Relaciona-se com redução prolongada da reserva calórica, excetuando-se os casos de alteração unilateral • Como na sequela de paralisia facial ou de perda e dentição Exame da Pele • O exame da pele pode fornecer informações excelentes acerca do estado nutricional • Deve ser observada quanto a: – Pigmentação – Coloração anormal – Contusões – Lesões – Edema • Deve-se também observar: – Temperatura – Presença de úlceras de decúbito – Turgor (hidratação) – Presença de feridas (má cicatrização) Icterícia • Impregnação de pigmentos biliares na pele e mucosa, principalmente esclerótica e sublingual, conferindo uma coloração amarelada característica Unhas • Devem ser examinadas quanto a: – Forma e contorno – Ângulo – Existência de lesões • Normal: – Superfície é plana ou ligeiramente arredondada, bordas lisas e regulares • Unhas côncavas: – Podem indicar deficiência de ferro • Coiloníquia: – Termo que descreve unhas em formato de colher, quebradiças e finas • Unhas de aparência irregular e mosqueada: – Podem refletir deficiências de vitaminas • Para verificar a circulação: – As unhas devem ser apertadas delicadamente – Se tornam brancas quando apertadas – Ao serem soltas retornam a cor rósea inicial – O tempo de retorno à coloração normal é chamado enchimento capilar, o qual normalmente é menor do que três segundos Língua • Devem ser observadas: – Cor, fissuras, cortes, umidade, textura e simetria • Características: quando esticada para fora da cavidade oral, deve estar protusa simetricamente • Simetria: anormalidades podem significar problemas com o nervo craniano XII (hipoglosso), que podem afetar a habilidade do paciente de mastigar certos alimentos adequadamente • Normal: rosada e úmida, sem cortes ou fissuras, e sua textura deve ser ligeiramente áspera, devido às papilas gustativas • Atrofia Filiforme: as papilas se apresentam enrugadas, e a língua lisa e escorregadia • Glossite: vermelha, atrófica e dolorosa • Qualquer outra coloração (magenta, por exemplo) pode significar distúrbio nutricional Edema • Refere-se ao acúmulo de líquido nos tecidos corporais • Na maior parte dos casos, esse acúmulo de líquido ocorre no espaço extracelular, mas o edema intracelular também ocorre com certa frequência • Sinal de cacifo ou de godet Abdômen Tipos de Abdome • Abdome globoso: – Apresenta-se globalmente aumentado com predomínio nítido do diâmetro antero- posterior sobre o transversal – Gravidez avançada, ascite, obesidade, obstrução intestinal, tumores policísticos do ovário – Ocorre nas distensões gasosas, há aumento em todas as direções, não alterando sua forma conforme a posição (Bevilacqua, 1991) • Abdome em avental: – Encontrado em pessoas obesas, sendo consequência do acúmulo de tecido gorduroso na parede abdominal, cai como um avental sobre as coxas do paciente • Abdome pendular: – Estando o paciente de pé, as vísceras pressionam a parte inferior da parede abdominal produzindo uma protusão – Flacidez do abdômen no período puerperal Tipos de Abdome • Abdome escavado: – Percebe-se nitidamente que a parede abdominal está retraída – Ocorre quando há espasmo tônico dos músculos parietais, desaparecimento do panículo adiposo, diarréia e vômitos acentuados e também quando há aderências entre peritônio parietal e as vísceras (Bevilacqua, 1991) Tipos de Abdome • Abdome plano: – Apresentando ligeira depressão na parte superior e uma ligeira proeminência na inferior Tipos de Abdome Trato Gastrintestinal (TGI) • Náusea • Vômito • Regurgitação • Constipação • Diarréia • Flatulência • Distensão abdominal • Peristalse: – pode ser encontrada: • Aumentada • Diminuída • Ausente • Halitose: é o hálito desagradável ou “mau hálito”: – Cetônico: ocorre nas acidoses principalmente na cetoacidose diabética, e seu odor lembra o da acetona – Urêmico: ocorre nas insuficiências renais com grande retenção nitrogenada e seu odor lembra o da urina – Hepático: ocorre nas insuficiências hepáticas graves e seu cheiro é adocicado, lembrando maçã • Odinofagia: dor durante a deglutição dos alimentos. Acontece, sobretudo quando existe um processo inflamatório podendo ser infeccioso (herpes, candidíase, etc); ou químico (ingestão de cáusticos) • Disfagia: dificuldade de deglutição e ou do trânsito dos alimentos pelo esôfago • Hematêmese: vômito com sangue • Melena: perda de sangue pelo reto • Dispepsia: termo genérico utilizado para descrever um desconforto epigástrico após as refeições • Epigastralgia: dor na “boca” do estômago – Pirose: sensação de dor em queimação na região retroesternal podendo resultar de qualquer estímulo irritativo localizado no terço inferior do esôfago (Reis, 2003) Trato Gastrintestinal (TGI) Sistema Cardio-respiratório • Dispnéia: pode ser definida como consciência de dificuldade respiratória (Bevilacqua, 1991), da necessidade de um esforço respiratório aumentado • Hemoptise: é a eliminação através da glote de sangue procedente do aparelho respiratório, podendo ser da laringe, traquéia, brônquios, ou pulmão • Gasometria: consiste na leitura do pH e das pressões parciais de O2 e CO2 em uma amostra de sangueSinais físicos indicativos de desnutrição e carências de nutrientes Sinais Possíveis deficiências Cabelo Alopecia Quebradiços Despigmentado Ressecados Arrancados com facilidade Proteína, vitamina A, zinco Biotina (B7) Zinco Vitamina E e A Zinco Pele Dermatose pelagra Lesões acneiformes Ceratose folicular Xerose (pele seca) Equimoses Petéquias intradérmicas Eritema Hiperpigmentação Dermatite seborréica Palidez Dificuldade de cicatrização Ac. Nicotínico (B3) Vitamina A Vitamina A Vitamina A, Biotina (B7), ácido linoléico, Zn Vitamina C ou K Vitamina C ou K Niacina (B3) Niacina Riboflavina, piridoxina (B6), zinco Fe, vitamina B12, Folato (B9) Vitamina A, vitamina C e zinco Face Seborréia nasolabial Edema de face (face em lua cheia) Vitamina B2 Ferro Olhos Palpebrite angular Manchas de Bitot Xerose conjuntival, xerose de córnea Cegueira noturna Vitamina B2 Vitamina A Vitamina A Vitamina A, Zn Lábios Estomatite angular Queilose Escaras de ângulo Vitaminas B2, B3, B6 Vitamina B2 Vitamina B2 Gengiva Esponjosa e sangrante Vitamina C Dentes Perda do esmalte Má dentição, cárie dentária Flúor, Zn Flúor Língua Glossite Atrofia e hipertrofia das papilas Língua magenta Língua escarlate e inflamada Hipogeusia Vitaminas B6, B9, B12 B6, B9 Vitamina B2 B6 Zinco Unhas Coiloníquia (forma de colher) Quebradiças, rugosas Ferro Sistema músculo esquelético Atrofia muscular Alargamento epifisário, persistência da abertura da fontanela anterior, perna em X Flacidez das panturrilhas Vitaminas D, B1, Ca Vitamina D Tiamina (B1) Sistema cardiovascular Cardiomegalia, taquicardia Vitamina B1 Sistema nervoso Alterações psicomotoras Alterações sensitivas, fraqueza motora, Formigamento das mãos e pés (parestesia) Demência Vitaminas B1, B6, B12 B1 B1 Vitaminas B12, B6, B1 Sistema gastrintestinal Hepatoesplenomegalia Kwashiorkor Deficiência de Zinco • Dermatite e queilite angular Deficiência de Vitamina A • Mancha de Bitot Deficiência de vitamina C • Escorbuto Deficiência de Vitamina K • Síndrome Hemorrágica Deficiência de Niacina (B3) • Pelagra Deficiência de Vitamina D e Cálcio • Raquitismo Avaliação Bioquímica • CFN na resolução nº 306/2003 de 25 de fevereiro de 2003, estabeleceu critérios sobre as solicitações de exames laboratoriais na área de nutrição clínica, onde, Art. 1o “compete ao nutricionista a solicitação de exames laboratoriais necessários à avaliação, à prescrição e à evolução nutricional do paciente; Parágrafo único: II – considerar diagnósticos, laudos e pareceres dos demais membros da equipe multiprofissional, definindo com estes, sempre que pertinente, outros exames laboratoriais; V – solicitar exames laboratoriais cujos métodos e técnicas tenham sido aprovados cientificamente.” 1) Proteínas Totais • A redução da [ ] sérica de ptn, pode ser um bom indicador de DEP • Limitações: variações do estado de hidratação, hepatopatias, hipercatabolismo, infecção ou inflamação, entre outros • Principais ptns utilizadas: 1.1) Albumina 1.2) Transferrina 1.3) Pré-Albumina 1.4) Ptn C Reativa (PCR) 1.5) Somatomedina C (Fator de Crescimento-1 semelhante à insulina ou IGF-1 REF.: 6,4 – 8,1 g/dl 1.1) Albumina • Síntese: Hepatócito • Vida Média: 18 - 20 dias • Função: ptn transportadora, manter pressão coloidosmótica do plasma • Limitações: ↓ nas doenças hepáticas; longa vida média (pouco sensível); ptn de fase aguda negativa na presença de inflamação e infecção Valores de Referência (Blackburn) Normal > 3,5 Depleção Leve 3,0 - 3,5 Depleção moderada 2,4 - 2,9 Depleção Grave < 2,4 1.2) Transferrina • Síntese: Hepatócito • Vida Média: 7 - 8 dias • Função: ptn transportadora de Ferro no plasma • Limitações: ↓ nas doenças hepáticas crônicas; em várias anemias (falciforme); neoplasias; sobrecarga de Fe; ptn de fase aguda negativa na presença de inflamação e infecção • ↑ na carência de Fe; gravidez; hepatite aguda e sangramento crônico Valores de Referência (Aspen) Normal 200 - 400 mg/dl Depleção Leve 150 - 120 Depleção moderada 100 - 150 Depleção Grave < 100 1.3) Pré-Albumina • Síntese: Hepatócito • Vida Média: 2 - 3 dias • Função: transportar hormônio da tireóide (tiroxina); geralmente é saturada com a ptn carreadora de retinol e com a vitamina A • Limitações: ↓ nas doenças hepáticas crônicas e na presença de inflamação e infecção • ↑ na Insuficiência Renal (é parcialmente catabolizada no rim) • Influenciada pela disponibilidade de T4 Valores de Referência (Aspen) Normal 20 mg/dl Depleção Leve 10 - 15 Depleção moderada 5 - 10 Depleção Grave < 5 1.4) Proteína C Reativa (PCR) • É uma das principais ptn de fase aguda, tendo sua concentração aumentada rapidamente no estresse agudo (4 a 6h depois do trauma) • Indicador objetivo de fase aguda • Meia vida: 8 - 12h • Utilidade: monitorar o progresso das reações de estresse e iniciar uma intervenção nutricional mais agressiva quando este indicador mostrar que as reações inflamatórias estão diminuindo. Contra prova para as demais ptn plasmáticas (Chemin, 2007) REF.: < 0,8 mg/dl 1.5) Somatomedina C (Fator de Crescimento-1 semelhante à insulina ou IGF-1 • Mediador da ação do GH • Estimula síntese de colágeno • Hormônio capaz de responder rapidamente a alterações do EM mesmo durante processos inflamatórios • Vida Média: 4 horas • Limitações: ↓ doenças hepáticas, renais e por algumas doenças auto-imunes • DEP = ↓ níveis de Somatomedina C Valores de Somatomedina C sanguínea na Avaliação Nutricional Faixa etária Até 6 anos 20 - 200 ng/ml De 6 anos a 12 anos 88 - 450 ng/ml De 13 anos a 16 anos 200 - 900 ng/ml De 17 anos a 24 anos 180 - 780 ng/ml De 25 anos a 39 anos 114 - 400 ng/ml De 40 anos a 54 anos 90 - 360 ng/ml Acima de 54 anos 70 - 290 ng/ml (Waitzberg, 2002) 2) Índice Creatinina-Altura (ICA) • Creatina: sintetizada a partir da Arginina, Metionina e Glicina; acumulada no músculo • Creatinina: metabólito da Creatina; liberada pelas células musculares; meia vida de 4h • Dosagem de Creatinina urinária de 24h correlaciona-se com a massa muscular esquelética • Clearance de Creatinina/dia é constante: – Homens → 23 mg/Kg/24h – Mulheres → 18 mg/Kg/24h • DEP aumenta perda muscular → ↓ clearance de Creatinina 2) Índice Creatinina-Altura (ICA) • Limitações: Insuficiência Renal; consumo de dieta onívora; perdas pela transpiração; difícil obtenção de amostras urinárias de 24 horas ICA (%) = creatinina urinária 24h (mg) x 100 creatinina urinária ideal 24h (mg) Valores de Referência Depleção Leve 80 - 90% Depleção moderada 60 - 80% Depleção Grave < 60% Excreção de creatinina urinária por peso ideal Altura (cm) Homens (anos) 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 146 1258 1169 1079 985 896 807 718 148 1284 1193 1102 1006 915 824 733 150 1308 1215 1123 1025 932 839 747 152 1334 1240 1145 1045 951 856 762 154 1358 1262 1166 1064 968 872 775 156 1390 1291 1193 1089 990 892 793 158 1423 1322 1222 1115 1014 913 812 160 1452 1349 1246 1137 1035 932829 162 1481 1376 1271 1160 1055 950 845 164 1510 1403 1296 1183 1076 969 862 166 1536 1427 1318 1203 1094 986 877 168 1565 1454 1343 1226 1115 1004 893 170 1598 1485 1372 1252 1139 1026 912 172 1632 1516 1401 1278 1163 1047 932 174 1666 1548 1430 1305 1187 1069 951 176 1699 1579 1458 1331 1211 1090 970 178 1738 1615 1491 1361 1238 1115 992 180 1781 1655 1529 1395 1269 1143 1017 182 1819 1690 1561 1425 1296 1167 1038 184 1855 1724 1592 1453 1322 1190 1059 186 1894 1759 1625 1483 1349 1215 1081 188 1932 1795 1658 1513 1377 1240 1103 190 1968 1829 1681 1542 1402 1263 1123 Altura (anos) Mulheres (anos) 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 140 858 804 754 700 651 597 548 142 877 822 771 716 666 610 560 144 898 841 790 733 682 625 573 146 917 859 806 749 696 638 586 148 940 881 827 768 713 654 600 150 964 903 848 787 732 671 615 152 984 922 865 803 747 685 628 154 1003 940 882 819 761 698 640 156 1026 961 902 838 779 714 655 158 1049 983 922 856 796 730 670 160 1073 1006 944 877 815 747 686 162 1100 1031 968 899 835 766 703 164 1125 1054 990 919 854 783 719 166 1148 1076 1010 938 871 799 733 168 1173 1099 1032 958 890 817 749 170 1199 1124 1055 980 911 835 766 172 1224 1147 1077 1000 929 853 782 174 1253 1174 1102 1023 951 872 800 176 1280 1199 1126 1045 972 891 817 178 1304 1223 1147 1065 990 908 833 180 1331 1248 1171 1087 1011 927 850 Fonte: Walser, 1987 3) Avaliação da Competência Imunológica • Existe uma evidente relação entre estado nutricional e imunidade • A alimentação inadequada provoca a diminuição do substrato para a produção de imunoglobulinas e células de defesa, que apresentam sua síntese diminuída proporcionalmente ao estado nutricional, podendo o indivíduo tornar-se anérgico • Teste imunológico utilizado: 3.1) Contagem Total de Linfócitos (CTL) ou Linfocitometria • Mede as reservas imunológicas momentâneas • Pode ser calculada a partir do leucograma: CTL = % linfócitos x Leucócitos 100 3) Avaliação da Competência Imunológica 3.1) Contagem Total de Linfócitos (CTL) ou Linfocitometria • Limitação: a CTL sofre influência de fatores não nutricionais como infecções, doenças (cirrose, hepatite, queimaduras, entre outros) e medicações Valores de Referência: 2000 - 5000/mm³ Depleção Leve 1200 - 2000/mm³ Depleção moderada 800 - 1199/mm³ Depleção Grave < 800/mm³
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