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PARKINSON, Lisa. Mediación y Conflicto in Mediación Familiar Teoría e Práctica: Principios Y Estrategias Operativas. México: Gedisa Editorial, 2005. Resenha Lisa Parkinson é mediadora, treinadora e consultora, atualmente vice- presidente da Associação de Mediadores da Família na Inglaterra e País de Gales, desde a década de 1970 está envolvida no debate e na mediação de conflitos familiares e é autora do livro Mediação Familiar Teoria e Prática: Princípios e Estratégias Operativas. O presente texto refere-se ao Capítulo I – Mediação e Conflito da citada obra. Para fazer mediação é necessário uma teoria que proporcione uma orientação que seja coerente com a prática da mediação. Para a autora essa orientação deve conter os valores que são fundamentais para a mediação “sua prática se assenta sobre crenças e princípios cardeais sobre as pessoas e os conflitos”, para ela essas crenças e princípios organizam as respostas ao púbico da mediação e influenciarão no que o mediado faz e diz. Para a autora muito mais que conseguir um acordo na mediação é necessário abrir uma porta para a comunicação para um dos lados. Qual é o objetivo de uma mediação? Nesse sentido ela sugere uma dicotomia entre fixar a disputa ou resolver o conflito. É preciso destacar que os mediadores familiares tem origem em disciplinas notadamente do direito e ciências humanas, o que de certa forma influenciará o processo de mediação, o enfoque de cada um influenciará na mediação e depende em grande parte de quem está mediando e como concebe o seu papel. Aqueles mediadores que tem origem no direito tende a considerar a mediação como um processo contratual. Já os mediadores que procedem da psicologia consideram a mediação “como um processo de gestão de conflitos”, o que leva em consideração a subjetividade das partes. Portanto a teoria da mediação deve ter como objetivo explicar a dinâmica do processo independente de seu resultado. Para a autora essa teoria deve dar conta de como funciona e como deveria funcionar a mediação. Para ela os mediadores costumam se perguntar por que o conflito familiar ou familiar? E compara o conflito com uma turbulência onde se consome muita energia e se cria obstáculos, porém o conflito em si não é necessariamente destrutivo “pode provocar mudanças e crescimentos”. É importante ressaltar que um processo de separação consome muita energia e gera uma transformação nas partes, cabendo ao mediador ajudar os dois lados a conservarem suas energias para alçar voos, chegando inclusive a fazerem trabalho de equipe no processo de mediação. 1 É claro que esse não é um trabalho fácil para casais que estão se separando, pois nesse momento os dois lados querem mais ficar longe um do outro. A autora continua a comparar o processo de separação dentro da mediação com a turbulência, e destaca que essa energia pode ser usada para gerar mais turbulência ou controlar a mediação, cabe aos mediadores usarem essa energia do casal de forma construtiva ou destrutiva. Uma característica importante da turbulência é o de produzir resultados imprevisíveis e muito variáveis, já que uma das características a se ser observadas na mediação é a subjetividade do casal. A autora continua a explorar o processo de mediação a partir da teoria do caos, a qual oferece novas perspectivas para os mediadores familiares e faz a provocação do porque seguindo os mesmos passos na mediação conseguem-se resultados diferentes com casais em processo de separação, e ela destaca que a mediação é uma ciência de processo e não estática, é uma ciência de mudança, de transformação e não de ser, o que nos permite raciocinar de que o resultado da mediação será uma mudança processual (não jurídica) e de transformação dos seres que estão nessa „turbulência‟. Nesse mundo cheio de turbulências e conflitos violentos é necessário formas pacíficas de resolução de conflitos. Naturalmente o ser humano é atingido por esses conflitos, cabendo a eles “lutar ou escapar”, é provável a evitação no conflito como forma de um se render ao outro, nesse caso ao mais forte. Na sociedade moderna é necessário criar maneiras mais sofisticadas de tratar o conflito, a autora destaca os casos de “negociação e a arbitragem”, porém a utilização desses mecanismos têm sido pouco diante da demanda de conflitos que nossa sociedade enfrenta, o que acabam por ter saídas mais primitivas dos conflitos e geram consequências danosas para as partes. A autora destaca que a existência de conflitos não pode ser considerado um fator positivo ou negativo, sendo portando necessário superar essa visão dicotômica, o conflito precisa ser encarado como uma força natural e necessária para o crescimento e mudança, pois uma vida sem conflito seria uma vida parada, estática. A questão importante nesse processo é como resolver ou superar esse conflito. Não há a necessidade de ser destrutivo, desde que seja bem manejado o conflito, sendo possível transforma essa energia em construtiva, o que de certa forma fortalece as relações. Lisa Parkinson segue o raciocínio do budismo que afirma passamos a maior parte de nossas vidas analisando nossas diferenças. Agora precisamos concentrar-se nas similitudes, naquilo que há de comum...e não nos contrários”. É nessa lógica que surge a mediação, como um caminho do meio, um caminho do equilíbrio, entre aqueles que pensam diferentes. Para isso, o mediador precisa se colocar numa posição centrada e equilibrada entre as duas partes, a fim de buscar canalizar suas energias para soluções no lugar da luta. A autora, portando, define mediação “em que duas ou mais partes em disputa recebem a ajuda de um ou mais pessoas imparciais (mediadores) para dialogar e alcançar por si mesmos um acordo mutuamente aceitável sobre o que está em disputa”. 2 Sendo necessário explorar as opções disponíveis e as decisões tomadas devem satisfazer as necessidades de todos os interessados. A mediação ainda é vista como uma novidade para resolver conflitos, o natural tem sido delegar a responsabilidade para uma terceira pessoa (o Juiz) tomar a decisão por um ou outro lado do conflito. Mas, é importante lembrar que a mediação não é algo novo na história da humanidade, tem-se notícias que antes de Cristo no Século V, já se tinha notícia da resolução de problemas utilizando-se esse mecanismo. A autora destaca que na atualidade em alguns países a mediação é um hábito comum de resolver disputas, como é o caso da China em que há mediadores para disputas de questões familiares, comunitárias e trabalhistas. Não se podem fazer comparações simplistas entre mediação e litígios, pois se corre o risco de considerar uma boa e outra mal. É preciso lembrar que a mediação é apropriada quando é possível desde que conduza a um acordo, porém ela tem suas limitações, em que é preciso o litígio, ou seja, o processo judicial. Porém a autora destaca que muitos tribunais adotam procedimentos em busca de um acordo, a mediação, e isso tem ocorrido muito em cortes brasileiras. A autora faz uma diferenciação entre litigação (as partes são adversárias, papel do advogado, a polarização separa as partes, o processo se orienta por normas jurídicas, requer tempo, as partes confiam nos advogados, prolongamento do conflito e tensão...) e mediação (busca o interesse mútuo, no terreno comum, os participantes explicam os assuntos com suas palavras, os participam falam e escutam, reduz as diferenças, se constrói pontes, é informal, confidencial e flexível, acordos são conseguidos rapidamente, resolve o conflito e reduz a tensão, explora alternativas...). Ela continua agora fazendo a diferenciaçãoentre negociação, arbitragem e mediação. No caso da negociação, há a direta (processo bilateral em que as partes negociam diretamente entre si, sem a intervenção de outras pessoas) e a indireta (considera a ruptura da relação e comunicação, recorrendo a advogados e a negociação ocorre entre seus representantes). Arbitragem (é quando as partes recorrem a um especialista que ditará uma resolução ou uma recomendação). No caso da mediação é um processo em que uma terceira pessoa totalmente imparcial ajuda aos envolvidos na separação, no caso de uma mediação familiar, principalmente os filhos, a comunicar-se melhor entre eles e tomar as decisões em conjunto. A mediadora e escritora Lisa Parkinson destaca a necessidade se ter alguns princípios fundamentais na mediação familiar: participação voluntária, imparcialidade do mediador, revelação de qualquer conflito de interesse por parte do mediador, fortalecimento da tomada de decisão dos participantes, respeitar a individualidade e a diversidade cultural, segurança pessoal e proteção a riscos, confidencialidade, focar no futuro e não no passado, dar ênfase nos interesse mútuos em detrimento dos individuais, considerar as necessidades de todos interessados inclusive 3 dos filhos envolvidos e que o mediador tenha competência. São não somente princípios, mas, características necessárias para uma boa mediação. Fazendo um comentário sobre o papel do mediador familiar, tão importante para uma mediação, a autora destaca “são formados como conselheiros matrimoniais, terapeutas familiares, psicólogos ou trabalhadores sociais”, para tanto é necessário que os conhecimentos e a experiência de sua formação de origem são essenciais, que lhe darão tanto um suporte teórico como uma experiência prática que o ajudará a atuar no processo de mediação familiar. 4 PARKINSON, Lisa. Diferentes Modelos de Mediación Familiar in Mediación Familiar Teoría e Práctica: Principios Y Estrategias Operativas. México: Gedisa Editorial, 2005. A mediação tem como característica principal a concentração nos interesses e não na posição das partes. Para a autora uma posição é um desejo de resultado de uma das partes. Ao mesmo tempo, ela considera um interesse a submetido a uma meta que tem que se satisfazer. E explicita melhor que “uma posição seria exigir uma proporção fixa dos bens conjugais e um interesse é uma necessidade de dinheiro suficiente para conseguir um alojamento adequado”. Portanto uma mediação deve ser sempre orientada por um acordo, primeiro convidando as partes a exporem suas posições e interesses, o mediador deve identificar e entender os interesses e ajudar as partes que podem ter interesses e necessidades comuns, mesmo estando sob conflito, inclusive necessidades psicológicas. Nesse sentido a autora sugere a observação de alguns princípios por parte do mediador: separar as pessoas do problema, priorizar os interesses ao invés das posições e criar opções de benefícios mútuos. Uma mediação que é orientada para se chegar a um acordo deve obrigatoriamente seguir alguns passos, de forma simples ela sugere quatro passos: 1. Definição dos temas: os participantes explicam suas posições. 2. Indagação fática: recolher e compartilhar as informações. 3. Explorar as opções: considerando as necessidades, preocupações e consequências. 4. Alcançar um acordo: negociar um resultado mutualmente aceitável. Nesse ponto a autora faz uma comparação entre dois tipos de acordo que podem surgir na mediação: o MAAN (Melhor Alternativa a um Acordo Negociado) e o PAAN (Pior Alternativa a um Acordo Negociado). É claro que o bom senso deve sempre se orientar para buscar a primeira alternativa. É importante destacar, que as mediações feitas por advogados tendem a se orientar pelo desejo de se obter um determinado resultado, podem dirigir as partes até uma solução por eles pretendida no lugar de buscar um acordo mutualmente satisfatório. A autora destaca a existência da mediação transformadora que é apropriada para certos tipos de disputas. É aquela em que os participantes definem qual direção o mediador deve seguir, ao invés de esperar que o mesmo defina a direção a ser seguida pelas partes. Nesse sentido há dois componentes centrais: escutar as partes e as partes se escutarem e se ouvirem. A partir de Folger e Bush (1996), destaca características da mediação transformadora: revalorização e reconhecimento com os objetivos principais do 5 processo e do papel do mediador, a responsabilidade pelo resultado é das partes, não ser crítico com as opiniões e decisões dos participantes, ter uma visão otimista das atitudes e motivos das partes, permitir e dar respostas a expressão de emoções, aceitar e explorar as incertezas dos participantes, está concentrado no aqui e agora da interação do conflito, ser sensível as declarações sobre eventos passados, entender a intervenção como um ponto de uma sequência maior de interação do conflito e manifestar um sentimento de êxito quando se produz a revalorização e o reconhecimento. Outro conceito importante é a chamada mediação familiar terapêutica em que se dar ênfase em uma avaliação prévia. É necessário portanto, levar em consideração que há lado que nem sempre está preparado para entrar diretamente em um processo de mediação, sendo necessário ser preparado para trabalhar esse processo. Através de reuniões em separado ao invés de considerar como incapaz para mediação. A autora recorre a um modelo proposto por Irving e Benjamin: Avaliação (comprovar se ambas as partes entendem e podem participar da mediação, manter discussão frente a frente), Pré mediação , Negociação e seguimento. Modelo ecossistêmico de mediação familiar, a qual deve considerar a família como um sistema e levar em consideração os filhos nesse processo, como indivíduos com direitos e necessidades próprias que devem ser levados em conta. Mediação com família em transição são mediações que ocorrem em família que estão passando por processo de mudanças, muitas delas de forma dramática e traumática. Há pais que tem relações estáveis e conseguem compreender um processo de separação e que após continuam cooperando entre si, porém há aqueles que recorrem aos tribunais para lutar por seus direitos e a separação acaba sendo traumática para ambos, inclusive para os filhos. A autora destaca um fato importante que a mediação familiar deve se diferenciar de uma intervenção de aconselhamento ou terapia, destaca que “a mediação pode chegar a ter efeitos terapêuticos, porém a terapia não deve ser o foco da mediação”. O efeito de ecossistema da mediação familiar contribui para que os membros da família possam manejar as mudanças e as comunicações entre eles para uma tomada de decisões. No modelo narrativo de mediação se baseia na ideia de que os mediadores e os participantes “exercem uma influência recíproca ao longo de seu diálogo”. Nesse sentindo é importante convidar os participantes a contarem suas histórias com o objetivo de envolvê-los nos processo e a chegarem a uma visão compartilhada. Nesse processo é importante destacar que cada participante de um processo de mediação – as duas partes interessadas e o mediador trazem consigo uma complexidade de entendimentos do próprio processo, essa diversidade se compara a um 6 caleidoscópio, precisa-se entender do ponto de vista conceitual a relação entre os três, que se influenciarão mutualmente. A autora citando Greatbatch e Dingwall (1994) afirma que os mediadores passam por três mudanças nesse processo: resistência verbal, conformidade verbal e o silêncio.Para a autora de “Mediación e Conflicto” a eficácia dos mediadores vai depender da sua capacidade de análises e avaliação das situações e das oportunidades de intervenções para fazer a gestão do conflito. Nesse ponto ela faz uma comparação da necessidade de os mediadores precisarem de um mapa para orientar sua atuação, como um mapa de estradas que indique o caminho, os bloqueios, rotas alternativas... É destacado ainda as diferentes formas de mediação: A co-mediação – reflete a atuação de dois mediadores, mas que precisam está com suas opiniões coadunadas para evitar divergências durante o processo. Pode servir a diversos propósitos: um mediador mais experiente ajudar outro menos experiente, fazer supervisão durante a mediação, proporcionar equilíbrio e apoio, de gênero e cultural, aumentar o nível de conhecimento e de técnicas para a mediação, mudar a dinâmica do processo. A co-mediação permite ainda o equilíbrio entre as partes, ampliar as perspectivas e de diferentes pontos de vistas, um apoio para os mediadores, permitir estilos e técnicas complementares, equilíbrio de gênero e transcultural, a partir de pontos de vistas diferentes, é possível construir um modelo, manter a qualidade. Porém, a autora destacam também algumas desvantagem na co-mediação tais como os custos da mediação, a logística necessária, o tempo necessário para a mediação tende a aumentar, o emprego de recursos, caso os mediadores seguem trajetórias diferentes podem causar confusões, corre-se um risco de que um dos lados de forma consciente ou não tomar partido de determinado mediador e a força dos dois mediadores podem influenciar a decisão de uma parte mais frágil. Mediação de ancoradouro – nessa proposta os mediadores prestam um serviço de forma isolado ou em com-mediação, nesse caso o mediado é considerado uma âncora, mas ele poderá solicitar o apoio de outro mediador e de formação diferente. Mediação diplomática – consiste em realizar reuniões em separado com cada parte, sendo que o mediador é que se reúne em separado com uma e com outra parte. Presença de advogado na mediação – há casos em que os advogados desejam acompanhar seus clientes nas sessões de mediações. A participação destes em mediação familiar apresenta desvantagem quando os advogados não entendem o processo de mediação, é bem provável que tentem tomar o controle da situação, negociando ou discutindo entre si e impedindo que seus clientes tomem posição. 7 Por fim a autora questiona se a mediação é uma ciência ou uma arte. Ela é aceita cada vez como uma disciplina com um corpo teórico e prático, com princípios e regras. A mediação tem acumulado um conjunto de conhecimentos baseado em estudos e classificação de casos e na análise de seus resultados, podendo ser classificadas em exitosa, parcialmente exitosa ou infrutífera. Quando a mediação é concebida enquanto ciência se põe ênfase em compreensão intelectual da mediação, conhecimentos: jurídicos, econômicos, fiscais e psicológico, negociação e suas técnicas, formação em disciplina de mediação. Quando a mediação é concebida enquanto arte é considerado a empatia, capacidade de relação das pessoas, maturidade e experiência de vida teórico e prático, habilidade para responder as necessidades emocionais, estilo pessoal de flexibilidade, interesse pela família como um todo, habilidade comunicativas. Portanto ela conclui que a mediação familiar é uma ciência e uma arte, pois os mediadores precisam mesclar vários conhecimentos, ter compreensão humana e habilidades especiais para ajudar. TÁCITO PEREIRA DOS SANTOS
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