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Aula 6 - Sociologia Aplicada

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SOCIOLOGIA APLICADA
SOCIOLOGIA APLICADA
Graduação
SOCIOLOGIA APLICADA
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CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES
UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
Muito bem, pessoal! Aqui vocês encontrarão alguns dos conceitos e
expressões muito utilizados no campo da Sociologia.
OBJETIVOS DA UNIDADE:
Conceituar e diferenciar os principais conceitos da ciência sociológica
observando sua dinâmica a fim de instrumentalizar-se para a compreensão
da mesma.
PLANO DA UNIDADE:
• ACOMODAÇÃO
• E adaptação?
• ALIENAÇÃO: Você já ouviu falar em alienação?
• ANTAGONISMO SOCIAL
• ASSIMILAÇÃO
• CIDADANIA
• COMPETIÇÃO
• CONFLITO
• CONSCIÊNCIA DE CLASSE
• COOPERAÇÃO
• DIREITOS FUNDAMENTAIS
• INTERAÇÃO SOCIAL
• JUSTIÇA SOCIAL
• MOBILIDADE SOCIAL
• MOVIMENTOS SOCIAIS
Bons estudos!
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
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A nossa preocupação foi articular esses conceitos com letras de música,
textos de historiadores, poetas, jornalistas, pois é a partir da
contextualização que os significados se tornam mais claros.
ACOMODAÇÃO
A acomodação é um processo pelo qual os indivíduos se ajustam formal
e exteriormente a uma sociedade, muitas vezes de forma imposta e
obrigatória. Desenvolve-se a acomodação quando as pessoas ou grupos
julgam necessário agir em conjunto, apesar das diferenças e divergências.
É uma situação que pode ter vida curta ou perdurar séculos. É um processo
que pode acompanhar, reduzir ou evitar um conflito, o que não significa que
a solução gere satisfação para ambos os contendores. Repare como Gilberto
Freire (1984, p.163) aborda esse assunto:
“Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das
iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando-
se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo
deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de
tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram
penando.”
E ADAPTAÇÃO?
A adaptação é um processo pelo qual o indivíduo se ajusta à sociedade,
podendo-se afirmar que esse ajuste ocorre em três níveis: o afetivo, o
biológico e o cognitivo. Há de salientar-se que o primeiro está relacionado
aos valores prezados pela sociedade, os afetivos em relação aos pais, aos
namorados, a pátria, etc. - que geram inclusive datas comemorativas. O
segundo refere-se aos hábitos de um povo e o terceiro, aos padrões
desenvolvidos por ela, como, por exemplo, os padrões morais.
Em relação ao patriotismo, percebe-se que os próprios poetas trataram
de cultivá-lo e difundi-lo, muitas vezes até de formas diversas. Veja como
esse sentimento se revela nos versos extraídos do poema “Pátria Minha”,
de Vinícius de Moraes (1998, p.179)
(...)
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
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De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
(...)
O segundo e o terceiro níveis podem ser ilustrados pelo seguinte poema
(Oswald de Andrade, 1971, p.84) que trata da chegada dos portugueses ao
Brasil. Veja a estranheza que os hábitos e os padrões de comportamento
dos índios causam aos portugueses:
(...)
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
ALIENAÇÃO: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM ALIENAÇÃO?
Naturalmente, sim. Alienação é um afastamento ou separação de partes
ou do todo da personalidade em relação à realidade exterior na qual se
insere. Esse fato pode ser exemplificado a partir dos versos de Bertolt Brecht
(1982, p.183) em “O analfabeto político”:
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa
Dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das
decisões políticas.
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O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o
peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da
sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra,
corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
ANTAGONISMO SOCIAL
Antagonismo social é a incompatibilidade de convívio harmonioso entre
as classes sociais, sendo cada uma destas, tal como Karl Marx afirmava, o
conjunto dos agentes sociais colocados nas mesmas condições no processo
de produção com afinidades ideológicas e políticas. Dessa forma, uma tenta
manter seus privilégios, e a outra, superar a dominação tanto política quanto
econômica que sofre por parte da primeira.
Não é isso que Cazuza retrata em seus versos “Brasil”?
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
 ASSIMILAÇÃO
A assimilação é um processo pelo qual um conjunto de traços culturais
é abandonado e um novo conjunto é adquirido. Este entendido como padrões
de comportamento, sentimentos e tradições. Pode ocorrer não só entre
povos distintos, mas também entre classes sociais. Como exemplo, pode
ser citado o caso de determinadas construções lingüísticas próprias das
camadas socialmente desprestigiadas que acabam influenciando o linguajar
das mais abastadas. Repare como Oswald de Andrade (1971, p.112) trata
dessa questão:
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Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
E também em Erro de Português, do mesmo autor, com um tom, porém,
bastante irônico:
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
 (Ibid., p.123)
CIDADANIA
Da forma como abordada por Thomas Marshall, o conceito de cidadania
pode ser compreendido a partir da articulação de três tipos distintos de
direito:
1) direitos civis, que incluem os direitos fundamentais à vida, à
liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei.
2) direitos políticos, se referem à participação do cidadão na vida
política da sociedade. Consistem na capacidade do cidadão
participar da organização dos partidos políticos de votar e de
ser votado.
3) direitos sociais, se referem aos direitos que garantem sua
participação na riqueza coletiva. São direitos sociais: a
educação, a saúde, o trabalho, o salário, a segurança pública,
a habitação, o lazer, etc.
Portanto, na ótica de Marshall, seria considerado cidadão pleno aquele
que usufruísse dos três tipos de direito. Cidadãos incompletos seriam os
que parcialmente usufruíssem alguns dos direitos. Os que não se
beneficiassem de nenhum direitonão seriam considerados cidadãos.
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É o que se verifica nas estrofes de Ferreira Gullar (1980, p.137) em
seu poema O Açúcar:
O branco açúcar que adoçará meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu no açucareiro por milagre.
(...)
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
(...)
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.”
COMPETIÇÃO
Você já reparou como os indivíduos competem entre si na sociedade
em maior ou menor intensidade, porque seus desejos e necessidades são
diferentes? A competição se faz presente quanto maior for a escassez dos
recursos ou mesmo quando existem poucos lugares para muitos. A
competição é a luta que ocorre quando as pessoas tentam maximizar suas
vantagens a expensas dos demais.
A competição pode ser pessoal, como quando dois rivais lutam para
vencerem uma eleição; ou pode ser impessoal, como nos concursos públicos,
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em que os concorrentes nem ao menos têm a consciência da identidade dos
outros.
Todas essas tentativas de melhorar de vida ou de atingir uma posição
mais significativa na sociedade tem por base uma competição.
No inciso II, do art. 37, da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, encontra-se a seguinte determinação:
(...) a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos,
de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
Nasce desse dispositivo, então, uma intensa luta entre candidatos por
uma vaga no serviço público. Ao se empenharem nos estudos, tentam através
destes alcançar seu objetivo, excluindo assim o uso da força e da violência.
CONFLITO
Conflito é um processo que pode ser definido como um processo em
que os envolvidos procuram obter recompensas pela eliminação ou
enfraquecimento dos competidores. É um processo que revela uma grande
tensão entre os indivíduos, já que o objetivo a ser alcançado visa à lesão,
neutralização e eliminação dos rivais.
Isso torna-se freqüente quando os privilégios de uma classe social
chegam a tal ponto que a menos favorecida já consegue obter o mínimo
necessário para a sobrevivência.
A todo momento a imprensa noticia os conflitos entre os fazendeiros e
os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra:
MST e ruralistas entram em conflito em Cascavel
O conflito no campo teve mais um capítulo de tensão ontem:
integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)
afirmam terem sido agredidos após pararem em um bloqueio
promovido por ruralistas em Cascavel, no Oeste do Paraná. Os
supostos agressores negam e acusam os sem-terra de terem
agido com violência. O resultado da confusão: vários feridos.
Os sem-terra se dirigiam para a fazenda experimental da Sygenta
Seeds, desapropriada pelo governo estadual, em Santa Tereza
do Oeste, quando foram parados quilômetros antes do destino
por um bloqueio da Sociedade Rural Oeste (SRO) na BR-277.
Segundo a assessoria do MST, os integrantes tiveram que descer
dos veículos e atravessar a pé os tratores e caminhões parados
na pista, momento em que alguns teriam sido atingidos por
pauladas. A viagem somente pôde prosseguir no fim da tarde,
quando a pista começou a ser liberada.
Já o presidente da SRO, Alessandro Meneghel, afirma que os
cerca de 150 produtores rurais não agrediram ninguém e que,
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ao contrário, teriam sido alvejados por pedras. “Uma delas
acertou um homem de 70 anos”, contou. “Chegaram a mostrar
arma para nós”. O MST promovia uma marcha de encerramento
da 1ª Jornada de Educação na Reforma Agrária, que teve início
no último domingo (26), no Centro de Convenções e Eventos
de Cascavel. A manifestação dos ruralistas aconteceu em frente
ao Parque de Exposições Celso Garcia Cid. Disponível em: <http:/
/www.terradedireitos.org.br>. Acesso em: 27/12/2006
Outro caso remete a uma situação particular que desde tempos
remotos vem preenchendo as páginas da literatura universal – o tão
malfadado triângulo amoroso. Confira em “Domingo no Parque”, de Gilberto
Gil:
(...)
A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar capoeira
Não foi pra lá, pra Ribeira, foi namorar
(...)
Foi no parque que ele avistou Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
(...)
Olha a faca! (olha a faca!)
Olha o sangue na mão (ê, José)
Juliana no chão (ê, José)
Outro corpo caído (ê, José)
Seu amigo João (ê, José)
Amanhã não tem feira (ê, José)
Não tem mais construção (ê, João)
Não tem mais brincadeira (ê, José)
Não tem mais confusão (ê João)
CONSCIÊNCIA DE CLASSE
Já ouviu falar de consciência de classe? Pois bem. De acordo com Karl
Marx, é um processo pelo qual os membros de uma classe – o proletariado
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- se tornam consciente de si mesmos como classe. Tornam-se conhecedores
de sua condição de vendedores de sua força de trabalho aos detentores
dos meios de produção e, conseqüentemente, lutam pelo rompimento dos
privilégios e da dominação política e econômica que estes últimos exercem
sobre eles. Assim, não há como separar conhecimento da realidade e o
resultado deste, que vem no bojo da luta entre dominantes e dominados.
Para ilustrar o exposto, cabe a leitura de um fragmento de “Operário
em Construção”, de Vinícius de Moraes (1998, p.335):
“Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem
É um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
(...)
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
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— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
(...)
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
(...)
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
COOPERAÇÃO
É um processo pelo qual se visa à realização de um objetivo comum. É
o esforço coordenado para atingir objetivos comuns. Pode ser temporária
quando os indivíduos ou grupos se reúnem num determinadoperíodo de
tempo para executar a ação ou contínua quando os indivíduos ou grupos
se reúnem freqüentemente, pois necessitam sempre da colaboração entre
eles. Pode ser direta quando os indivíduos fazem atividades semelhantes
ou indireta quando fazem atividades diferentes e necessitam uns dos outros.
Quando os detentores dos cargos eletivos se reuniram em Assembléia
Constituinte em 1988 para a elaboração da nossa atual Carta Magna, o
fizeram temporária e diretamente. Naquele momento, a sociedade ansiava
por uma Constituição que extirpasse todo o autoritarismo dos governos
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militares, trazendo como um de seus pontos altos a ampliação e defesa dos
direitos de cidadania.
 Outro exemplo relaciona-se a uma fábrica que se volta para uma
atividade complexa, que exige fases diversas, desenvolvendo-se numa forma
contínua e indireta, pois a etapa seguinte depende da anterior e,
evidentemente, cada momento tem um trabalhador especializado.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Naturalmente você já deve ter ouvido falar em Direitos Fundamentais.
São aqueles direitos considerados indispensáveis à pessoa humana,
necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igual. Direitos
Individuais são limitações impostas pela soberania popular aos poderes
constituídos, para resguardar direitos indispensáveis à pessoa humana. Após
os governos militares, fez-se questão de que a Constituição Federal, também
denominada “Constituição Cidadã”, deixasse explícitos esses direitos,
conforme se verifica no artigo 5º:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)
INTERAÇÃO SOCIAL
É o processo que ocorre quando pessoas agem sob a influência
recíproca de um contexto social. Pode ocorrer por meio de comunicação. Saiba
que a esse conceito relacionam-se cooperação, competição e conflito.
Observe a seguinte estrofe de Bertolt Brecht (1982):
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo
da revolta
e me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
que me foi dado viver sobre a terra.”
JUSTIÇA SOCIAL
Numa concepção ampla, justiça é um conceito que remete a idéia de
eqüidade, ou seja, o processo em que as pessoas almejam obter aquilo que
merecem. Do ponto de vista jurídico, por exemplo, justiça assume o sentido
de tratamento imparcial de todos perante a lei, com vistas a garantir os
direitos prescritos nas normas legais instituídas em uma determinada
sociedade.
Você já deve ter observado que o termo tem sido empregado para
designar uma realidade determinada, uma justiça específica.
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Há uma divisão clássica que distingue três espécies da justiça nas
relações entre os homens:
a) as relações entre grupos ou pessoas particulares;
b) as relações entre a sociedade e seus membros;
c) as relações entre os membros das sociedades como tais
ligadas à justiça regida pelo direito, isto é, justiça legal.
Tem sido freqüente, no entanto, o emprego dessa expressão para a
distribuição igualitária das riquezas, a justa remuneração, que incluiria as
condições mínimas de sobrevivência, a distribuição da propriedade privada
e dos seguros sociais. E não havendo isso, haverá naturalmente injustiça
social, fato elucidado por Émile Zola (1978, p.209), ao tratar do dia-a-dia
dos trabalhadores de uma mina de carvão no século XIX, em O Germinal:
Na rua estava escuro, era noite fechada, e a lua, entre as nuvens,
iluminava a terra de uma maneira sinistra. Em vez de atalhar pelos
jardins, a mulher [ esposa de Maheu, que saiu de casa para implorar
comida para a família de 10 pessoas] fez a volta, desesperada, não
ousando entrar em casa. Mas, ao longo das fachadas mortas, todas as
portas ressudavam fome e inércia. De que adiantava bater? A miséria
estava por toda parte. Havia semanas que não se comia mais, o próprio
cheiro de cebola tinha desaparecido, esse cheiro forte que de longe,
do campo, anunciava a aldeia; agora só havia um odor de porões
bolorentos, de buracos úmidos onde ninguém vive. Os ruídos vagos
iam esmorecendo aos poucos: eram lágrimas abafadas, pragas soltas
ao léu. E o silêncio era cada vez mais pesado, sentia-se avançar o
sono da fome, o esquecimento dos corpos jogados nas camas sob os
pesadelos dos estômagos vazios (...)
MOBILIDADE SOCIAL
É o movimento ascendente ou descendente próprio das sociedades
estratificadas. Segundo Cherkaoui (1995, p.183) pode-se considerar a
mobilidade como resultado de uma seleção de indivíduos através de uma
série de mecanismos próprios de certos agentes como a família, a escola, a
Igreja, as burocracias. Essas instâncias controlam, orientam, determinam
diretamente a posição dos indivíduos dentro da sua estratificação própria.
O lugar e a importância desses agentes de seleção variam de sociedade
para sociedade. Para determinada mobilidade social, a família constitui
instância de orientação mais importante; para outra, é a Igreja ou o exército;
para uma terceira, é a escola e a competência adquirida no seio de certas
organizações.
MOVIMENTOS SOCIAIS
Segundo Alain Touraine (1995), os movimentos sociais se identificam
simultaneamente por um modo de ação, por um tipo de participantes e,
sobretudo, por um desafio. Segundo ele, os movimentos sociais consistem
de fato numa: 1- “ação conflitual”, 2- conduzida por um “ator de classe”, 3-
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que se opõe a seu adversário de classe com vistas a fazer prevalecer uma
nova ordem de vida e de sociedade.
Exemplo de movimento social é o Movimento dos Sem-Terra no Brasil.
Este movimento consiste em um movimento político-social brasileiro cujos
integrantes vêm ocupando as terras improdutivas como forma de pressão
pela reforma agrária, reivindicando também empréstimos e ajuda para que
possam realmente produzir nessas terras. Apesar dos constantes conflitos
e massacres, hoje existem escolas em sua área de assentamento e
acampamento e um trabalho de alfabetização de jovens e adultos sem-terra.
Tem-se notícia também da formação de técnicos e de educadores em cursos
de nível médio e superior, assim como diversas outras iniciativas de formação
de sua militância e do conjunto da família Sem-Terra.
É interessante notar que a Constituição da República Federativa, em
seu inciso XXIII, do art. V, determina que a propriedade atenderá a sua
função social, ainda que o inciso anterior garanta o direito de propriedade.
Caso contrário, em se tratando de propriedade rural, haverá desapropriação
para fins de reforma agrária.
Assim, esperamos que você daqui para frente comece também a
associar esses conceitos com a sua realidade e o mundo que o envolve. Boa
sorte!
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no
processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as
respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco!
LEITURA COMPLEMENTAR:
ANDRADE, C. D. de. Obra Completa. 4ª edição. Rio de Janeiro:
Nova Aguillar, 2000. 163p.
ANDRADE, O. A Descoberta. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Civilização brasileira. 1971. 253p.
BOURDON, R. & Bourricaud F. Dicionário Crítico de Sociologia.
2ª edição. São Paulo: Ática, 2002. 653p.
BRECHT, B. Poemas. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1982. 224p.
CHAUÍ, M. Conviteà filosofia. 13ª edição. São Paulo: Ática,
1995. 424p.
FERREIRA G. Toda poesia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1980. 300p.
FREIRE, G. Casa grande & senzala. 7ª edição. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1984. 294p.
UNIDADE 6 - CONCEITOS E EXPRESSÕES FREQÜENTES UTILIZADAS NA SOCIOLOGIA
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MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. 1ª edição.
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.232p.
MORAES, V. de. Poesia completa e prosa. 4ª edição. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1988. 1597p.
ZOLA, É. Germinal. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978.280p.
Terminamos nesta unidade os nossos estudos sobre a Sociologia
Aplicada. Daqui para frente, nos dedicaremos ao estudo da Sociologia
Aplicada ao Direito (como texto complementar).

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