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é sempre opção do autor, que pode preferir o juízo comum. No Juizado, poderá escolher entre três foros competentes, de acordo com a Lei n. 9.099, de 1995: o do domicílio do réu, o do local em que ele exerce as suas atividades ou o do seu estabelecimento. A lei traz algumas situações de foro especial no art. 4º. Embora não haja menção às ações que versam direito real sobre bens imóveis — que hoje podem ser aforadas no Juizado Especial Cível —, segue-se a regra geral da competência absoluta do foro de situação da coisa. 6. A MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA A competência absoluta não pode ser modificada nem pelas partes, nem por circunstâncias processuais. Só há modificação de competência relativa. De quatro maneiras distintas pode operar-se esse fenômeno: prorrogação, derrogação, conexão e continência. Como visto, são hipóteses de competência relativa as de foro, apuradas de acordo com o critério territorial, exceto no caso do CPC, art. 95. A competência de juízo é sempre absoluta, como também a funcional e a territorial estabelecida com fundamento no art. 95 (ações que versam direito real sobre bem imóvel). 6.1. Prorrogação A incompetência relativa não pode ser conhecida pelo juiz de ofício. É preciso a expressa arguição pelo réu, feita por meio de exceção de incompetência, a ser apresentada no prazo de resposta. Se ele não o fizer, haverá prorrogação, com o que o foro originalmente incompetente torna-se competente. A prorrogação deriva, pois, de uma preclusão: a da oportunidade para o réu arguir a incompetência relativa. 6.2. Derrogação É o fenômeno que se verifica quando as partes, em contrato, escolhem o foro de eleição. Consiste na escolha de um foro que será o competente para a propositura de futuras ações. Decorre de convenção das partes. O CPC, art. 111, limita a eleição de foro às ações oriundas de direitos e obrigações, ou seja, àquelas fundadas em direito das obrigações. O § 1º determina que a cláusula deve constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. Não se permite a eleição de foro em ações que versem sobre direito real ou sobre direitos e interesses indisponíveis, como as que se referem ao estado ou à capacidade das pessoas. Inexiste vedação expressa a que se promova a eleição de foro em contratos de adesão ou naqueles regidos pelo Código de Defesa do Consumidor. No entanto, há certas limitações à liberdade de eleição nesse tipo de contrato. Nos de consumo, a cláusula deve vir em destaque e não pode ser abusiva, nem impor ao consumidor restrições ao seu direito de defesa. Nos de adesão, a cláusula só valerá se não trouxer prejuízo ao aderente, nem dificultar em demasia o seu acesso ao Judiciário. Não nos parecem acertadas as decisões judiciais que a vedam, por completo, nos contratos de adesão. O que não se admite é que elas possam criar uma situação tal que fira a igualdade das partes, seja no que se refere à facilidade para a propositura da demanda, seja para a apresentação de defesa. Caso a cláusula seja nula, o juiz poderá declará-la de ofício, declinando de sua competência para o juízo de domicílio do réu (CPC, art. 112, parágrafo único). Esse dispositivo, introduzido pela Lei n. 11.280, de 16 de fevereiro de 2006, traz certa perplexidade. As nulidades podem ser declaradas de ofício, e não era preciso que a nova lei autorizasse o juiz a fazê-lo. Mas se permite que ele vá além, para declarar-se incompetente e remeter os autos ao juízo do domicílio do réu. Ora, ainda que nula a cláusula, a incompetência decorrente seria relativa, pois fundada no domicílio do réu. Como tal, não poderia ser reconhecida de ofício. Mas, diante dos termos peremptórios da lei, permite-se que, nesse caso, o juiz o faça. No entanto, a lei parece atribuir apenas uma faculdade ao juiz, o que vem confirmado pelo art. 114, que determina: "Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na forma do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser exceção declinatória nos casos c prazos legais". O legislador criou uma situação híbrida: o juiz pode declarar a nulidade da cláusula de eleição de foro, nos contratos de adesão, de ofício e mandar os autos ao juízo competente; mas, se preferir, pode não fazê-lo, caso em que caberá à parte opor exceção, no prazo, sob pena de prorrogação. Conclui-se que a incompetência decorrente da nulidade da cláusula é relativa, mas o juiz pode reconhecê-la de ofício, se assim o desejar. Trata-se, pois, da única hipótese de incompetência relativa, que, por força de determinação legal expressa, pode ser reconhecida pelo juiz, de ofício. Mesmo que exista foro de eleição, haverá prorrogação se a demanda for proposta em outro foro e não for apresentada exceção no prazo. Nada impede, ainda, que o autor renuncie ao foro de eleição e proponha a ação no domicílio do réu, caso em que faltará a este interesse para opor a exceção. A eleição de foro não prevalece sobre a conexão. Por isso, uma demanda poderá ser remetida ao juízo prevento, ainda que esteja correndo no foro eleito. Têm-se verificado, com alguma frequência, contratos em que as partes não se limitam a eleger o foro competente, mas procuram escolher o próprio juízo. As partes estipulam cláusula pela qual fica eleito não o foro da capital, mas o foro central. Isso, porém, não é possível, pois as regras de competência de juízo são absolutas, inalteráveis por derrogação. Em casos assim, o juiz deverá considerar válida apenas a eleição do foro, não a de juízo. A ação processar-se-á na capital, não necessariamente no foro central, mas no juízo competente, de acordo com as leis estaduais de organização judiciária. Nos termos do CPC, art. 111, § 2°, o foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. A sucessão a que alude esse dispositivo abrange a mortis causa, proveniente de herança ou legado, e a inter vivos. 6.3. Conexão É uma relação que se estabelece entre duas ou mais demandas. As ações têm três elementos identificadores: as partes, o pedido e a causa de pedir. Haverá conexão entre elas quando tiverem o mesmo pedido ou quando coincidirem os respectivos fundamentos (causa de pedir). Basta, pois, que as duas ações tenham um desses elementos em comum para que sejam consideradas conexas. Não o serão, porém, se o único elemento comum forem as partes. Manda a lei que, havendo ações conexas, elas sejam reunidas para julgamento conjunto (CPC, art. 105). Essa determinação se justifica por razões de economia processual e para evitar decisões conflitantes. Com a reunião, forma-se um processo único, com uma instrução e, ao final, uma só sentença. Além disso, as ações conexas são aquelas que têm similitude, algo em comum. Não seria conveniente que fossem julgadas por juízes diferentes, correndo-se o risco de decisões conflitantes. Essas razões são de tal ordem que justificam a permissão legal para que a conexão seja reconhecida de ofício. Apesar de ela só poder modificar a competência relativa, o CPC, art. 105, atribui ao juiz poderes para reunir os processos sem requerimento das partes. A conexão não precisa ser arguida por meio de exceção, nem no prazo de resposta. Pode ser alegada a qualquer tempo, cabendo ao réu invocá-la como preliminar em contestação (art. 301, VII). Porém, se não o fizer, inexistirá preclusão. Como a finalidade principal da conexão é evitar decisões conflitantes, tem-se decidido que não cabe mais a reunião se em um dos processos já foi proferida sentença (nesse sentido, STJ, 4a Turma, REsp 193.766-SP, rei. Min. Ruy Rosado). Embora haja grande controvérsia sobre a matéria, parece-nos que se há duas ações conexas, uma na justiça federal e outra na estadual, não há como reuni-las. A conexão só permite a alteração da competência relativa, e a da justiça federal é exclusiva