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Direito Penal Aula 02


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Aula 02
Curso: Direito Penal p/ TRF 3ª Região (Técnico Judiciário - Área Administrativa)
Professor: Renan Araujo
Direito Penal ʹ TRF 3º REGIÃO (2013) ʹ PÓS-EDITAL
TÉCNICO JUDICIÁRIO ʹ ÁREA ADMINISTRATIVA
Teoria e exercícios comentados 
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AULA 02: CRIME: ELEMENTOS (PARTE II): 
CULPABILIDADE (IMPUTABILIDADE); ERRO; 
PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO. AÇÃO PENAL. 
SUMÁRIO PÁGINA 
Apresentação da aula e sumário 01 
I ± Culpabilidade 02 
II ± Punibilidade e sua extinção 23 
III ± Ação Penal 33 
Lista das Questões 55 
Questões Comentadas 64 
Gabarito 85 
Olá, meus caros amigos concurseiros! Devorando os papiros? 
Na última aula nós iniciamos o estudo do Crime, seu conceito e 
elementos, estudando os dois primeiros deles: O fato típico e a 
ilicitude. 
Hoje, a matéria é hard. Vamos finalizar o estudo dos elementos do 
Crime (Parte II - Culpabilidade), bem como a Imputabilidade 
(para a maioria, integrante da Culpabilidade) e a Punibilidade. 
Veremos, ao fim, a Ação penal. 
Bons estudos! 
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I ± CULPABILIDADE 
 
A culpabilidade nada mais é que o juízo de reprovabilidade acerca 
da conduta do agente, considerando-se suas circunstâncias 
pessoais. 
Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros elementos (fato 
típico e ilicitude), onde se analisa o fato, na culpabilidade o objeto de 
estudo não é o fato, mas o agente. Daí alguns doutrinadores 
entenderem que a culpabilidade não integra o crime (por não estar 
relacionada ao fato criminoso, mas ao agente). Entretanto, vamos 
trabalhá-la como elemento do crime. 
Quatro teorias existem acerca da culpabilidade: 
A) Teoria psicológica ± Para essa teoria a culpabilidade era 
analisada sob o prisma da imputabilidade e da vontade (dolo e 
culpa). Esta teoria entende que o agente seria culpável se era 
imputável no momento do crime e se havia agido com dolo ou 
culpa. Vejam que essa teoria só pode ser utilizada por quem adota 
a teoria naturalística da conduta (pois o dolo e culpa estão na 
culpabilidade). Para os que adotam a teoria finalista (nosso Código 
penal), essa teoria acerca da culpabilidade é impossível, pois a 
teoria finalista aloca o dolo e a culpa na conduta, e, portanto, no 
fato típico; 
B) Teoria normativa ou psicológico-normativa ± Possui os 
mesmos elementos da primeira, mas agrega a eles a 
inexigibilidade de FRQGXWD�GLYHUVD��TXH�p�D�³SRVVLELOLGDGH�GH�DJLU�
FRQIRUPH�R�'LUHLWR´��3DUD�HVVD�WHRULD��PDLV�HYROXtGD��DLQGD�TXH�R�
agente fosse imputável e tivesse agido com dolo ou culpa, só seria 
culpável se no caso concreto lhe pudesse ser exigido um outro 
comportamento que não o comportamento criminoso; 
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C) Teoria normativa pura ± Essa já muda de ares. Já não mais 
considera o dolo e culpa como elementos da culpabilidade, mas do 
fato típico (seguindo a teoria finalista da conduta). Para esta 
teoria, os elementos da culpabilidade são: a) imputabilidade; b) 
potencial consciência da ilicitude; c) inexigibilidade de conduta 
diversa. A potencial consciência da ilicitude seria a análise 
concreta acerca das possibilidades que o agente tinha de conhecer 
o caráter ilícito de sua conduta. Vamos estudar cada um desses 
elementos mais à frente; 
D) Teoria limitada ± É A ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL. Possui 
os mesmos elementos da teoria normativa pura, mas difere dela 
ao tratar as descriminantes putativas. 
 
Assim, vamos estudar cada um dos elementos da culpabilidade e, ao 
final, o tratamento conferido por esta teoria às descriminantes putativas. 
 
1) IMPUTABILIDADE PENAL 
 
O Código Penal não define o que seria imputabilidade penal, apenas 
descreve as hipóteses em que ela não está presente. 
A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade 
mental de entender o caráter ilícito da conduta e de comportar-se 
conforme o Direito. 
Existem três sistemas acerca da imputabilidade: 
¾ Biológico ± Basta a existência de uma doença mental ou 
determinada idade para que o agente seja inimputável. É 
adotado no Brasil com relação aos menores de 18 anos. Trata-
se de critério meramente biológico: Se agente tem menos de 
18 anos, é inimputável; 
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¾ Psicológico ± Só se pode aferir a imputabilidade (ou não), na 
análise do caso concreto; 
¾ Biopsicológico ± Deve haver uma doença mental (critério 
biológico, legal, objetivo), mas o Juiz deve analisar no caso 
concreto se o agente era ou não capaz de entender o caráter 
ilícito da conduta e de se comportar conforme o Direito (critério 
psicológico). Essa foi a teoria adotada como REGRA pelo nosso 
Código Penal. 
 
Cuidado! A imputabilidade penal deve ser aferida quando do fato. 
Assim, se A (menor com 17 anos e 11 meses de idade) sequestra B e o 
sequestro só termina quando A já era maior de 18 anos, este responde 
pelo crime, pois nos crimes permanentes, entende-se que o tempo do 
crime é o momento em que cessa a atividade criminosa. 
Entretanto, imaginemos que Alfredo (com 17 anos) efetua disparos 
de arma de fogo contra Poliana, que entra em coma e vem a falecer seis 
meses depois, quando Alfredo já era maior de 18 anos. Nesse caso, 
Alfredo não responde pelo crime de homicídio, mas por ato infracional, 
nos termos do ECA, pois o crime se considera praticado quando da 
conduta, ainda que outro seja o momento do resultado. 
As causas de inimputabilidade estão previstas nos arts. 26, 27 e 28 
do CP: 
 
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental 
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, 
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de 
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de 
acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
Redução de pena 
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Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, 
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era 
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou 
de determinar-se de acordo com esse 
entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Menores de dezoito anos 
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente 
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na 
legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Emoção e paixão 
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Embriaguez 
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou 
substânciade efeitos análogos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, 
de 11.7.1984) 
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, 
proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao 
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de 
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de 
acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
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§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o 
agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou 
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da 
omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito 
do fato ou de determinar-se de acordo com esse 
entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
Percebam que os critérios biológicos (circunstâncias que 
presumidamente retiram a capacidade de discernimento) estão 
grifados em preto, e os critérios psicológicos (análise efetiva da 
ausência de discernimento quanto à ilicitude do fato e 
possibilidade de agir conforme o Direito) estão grifados em 
vermelho. 
Para facilitar, ainda, o estudo de vocês, grifei em azul as hipóteses 
de semi-imputabilidade. 
Vamos explicar as hipóteses de inimputabilidade: 
 
A) Menor de 18 anos 
 
Esse é um critério meramente biológico e taxativo: Se o agente é 
menor de 18 anos, responde perante o ECA não se aplicando a ele o CP< 
nos termos do art. 27 do CP. 
 
B) Doença mental e Desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado 
 
No caso dos doentes mentais, deve-se analisar se o agente era 
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da conduta ou se era 
parcialmente incapaz disso. No primeiro caso, será inimputável, ou seja, 
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isento de pena. No segundo caso, será semi-imputável, e será aplicada 
pena, porém, reduzida de um a dois terços. 
Além dos doentes mentais, nesse grupo encontram-se ainda os 
silvícolas (índios), que são imputáveis (caso integrados à sociedade), 
semi-imputáveis (caso parcialmente integrados à sociedade), ou 
inimputáveis (caso não tenham se integrado de maneira nenhuma à 
sociedade, ou muito pouco). 
Nos dois casos acima, se o agente for inimputável, exclui-se a 
culpabilidade e ele é isento de pena. Se for semi-imputável, será 
considerado culpável (não se exclui a culpabilidade), mas sua pena será 
reduzida de um a dois terços. 
No caso de o agente ser inimputável, por ser menor de 18 anos, não 
há processo penal, respondendo perante o ECA. No caso de ser 
inimputável em razão de doença mental ou desenvolvimento incompleto, 
será isento de pena (absolvido), mas o Juiz aplicará uma medida de 
segurança (internação ou tratamento ambulatorial). Isso é o que se 
chama de sentença absolutória imprópria. 
No caso de o agente ser semi-imputável, ele não será isento de 
pena! Será condenado a uma pena, que será reduzida. Entretanto, a lei 
permite que o Juiz, diante do caso, substitua a pena privativa de 
liberdade por uma medida de segurança (internação ou tratamento 
ambulatorial). 
CUIDADO! O semi-imputável não pode cumprir a pena e depois a 
PHGLGD�GH�VHJXUDQoD��DQWLJR�VLVWHPD�GR�³GXSOR�ELQiULR´���$WXDOPHQWH��D�
medida de segurança só poder substitutiva da pena privativa de liberdade 
(sistema vicariante). 
 
C) Embriaguez 
 
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Segundo o CP, a embriaguez não é uma hipótese de 
inimputabilidade, salvo se decorrente de caso fortuito ou força maior. 
Assim, imaginem que Poliana é embriagada por Carlos (que coloca álcool 
em seus drinks). Sem saber, Poliana ingere as bebidas alcoólicas e 
comete crime. Nesse caso, Poliana poderá ser inimputável ou semi-
imputável, a depender de seu nível de discernimento quando da prática 
da conduta. 
Assim: 
Embriaguez: 
 
Voluntária 
Culposa 
 
Acidental (caso fortuito ou força maior) 
 
 
Em qualquer dos dois casos de embriaguez acidental, não será 
possível aplicação de medida de segurança, pois essa visa ao tratamento 
do agente considerado doente, e que oferece risco à sociedade. No caso 
da embriaguez acidental, o agente é são, tendo ingerido álcool por caso 
fortuito ou força maior. 
 
2) POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE 
 
A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade de o agente, de 
acordo com suas características, conhecer o caráter ilícito do fato. Não se 
trata do parâmetro do homem médio, mas de uma análise da pessoa do 
agente. Assim, aquele que é formado em Direito, em tese, tem 
maior potencial consciência da ilicitude que aquele que nunca saiu 
Não excluem a 
imputabilidade 
COMPLETA ± agente 
é inimputável 
PARCIAL ± agente é 
semi-imputável 
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de uma aldeia de pescadores e tem pouca instrução. É claro que 
isso varia de pessoa para pessoa e, principalmente, de crime para crime, 
pois alguns são do conhecimento geral (homicídio, roubo), e outros nem 
todos conhecem (bigamia, por exemplo). 
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é ilícita, 
comete erro de proibição (art. 21 do CP). 
O erro de proibição pode ser: 
¾ Escusável ± Nesse caso, era impossível àquele agente, 
naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrária ao 
Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente é 
isento de pena; 
¾ Inescusável ± Nesse caso, o erro do agente quanto à 
proibição da conduta não é tão perdoável, pois era possível, 
mediante algum esforço, entender que se tratava de conduta 
ilícita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo 
crime, com pena diminuída de um sexto a um terço (conforme 
o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). 
 
3) EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA 
 
Não basta que o agente seja imputável, que tenha potencial 
conhecimento da ilicitude do fato, é necessário, ainda, que o agente 
pudesse agir de outro modo. 
Desta maneira, imagine a situação de uma mãe que vê seu filho 
clamar por comida e, diante disso, rouba um cesto de pães. Nesse caso, a 
mãe era maior de idade, sabia que a conduta era ilícita, mas não se podia 
exigir que, naquelas circunstâncias, agisse de outro modo. Dessa forma, 
nesse caso, sua culpabilidade estaria excluída (isso sem comentar o 
princípio da bagatela, que excluiria a própria tipicidade, por ausência de 
lesão tutelável); 
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Esse elemento da culpabilidade fundamenta duas causas de exclusão 
da culpabilidade: 
¾ Coação moral irresistível ± É o ato no qual uma pessoa 
coage outra a praticardeterminado crime, sob a ameaça de lhe 
fazer algum mal grave. Ex.: Alberto coloca uma arma na 
cabeça de Poliana e diz que se ela não atirar em Romeu, 
matará seu filho, que está seqüestrado por seus comparsas. 
Nesse caso, não se pode exigir de Poliana que deixe de atirar 
em Romeu, pois está sob ameaça de um mal gravíssimo 
(morte do filho). Cuidado! O STF entende que se a coação é 
resistível (o mal não é tão grave assim), o coagido responde 
juntamente com o coator. Ex.: No mesmo caso anterior, 
imagine que ao invés de ameaçar matar o filho de Poliana, 
Alberto ameaçasse dar um tapa em Poliana caso ela não 
atirasse. Ora, nesse caso, o mal não é tão grave, e Poliana 
deveria tê-lo suportado ao invés de atirar. Se atirar e matar 
Romeu, responderá juntamente com Alberto por homicídio. 
Esse é o entendimento do STF! 
¾ Obediência hierárquica ± É o ato cometido por alguém em 
cumprimento a uma ordem ilegal proferida por um superior 
hierárquico. Cuidado! A ordem não pode ser 
MANIFESTAMENTE ILEGAL. Se aquele que cumpre a ordem 
sabe que está cometendo uma ordem ilegal, responde pelo 
crime juntamente com aquele que deu a ordem. Se a ordem 
não é manifestamente ilegal aquele que apenas a cumpriu 
estará acobertado pela excludente de culpabilidade da 
inexigibilidade de conduta diversa. Ex.: Um Delegado 
experiente determina a dois policiais novatos que entre na casa 
de Marcelo e realizem sua prisão. Entretanto, o Delegado não 
possuía um mandado judicial para isso. Nesse caso, os policias 
não tinha como contrariar a ordem do Delegado, nem saber 
que ela era ilegal. 
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Cuidado! Nesse caso, só se aplica aos funcionários públicos, 
não aos particulares! 
 
4) ERRO 
 
A) ERRO DE TIPO 
 
Sabemos que o crime, em seu conceito analítico, é formado 
basicamente por três elementos: Fato típico (para alguns, tipicidade), 
ilicitude e culpabilidade. 
Quando o agente comete um fato que se amolda perfeitamente à 
conduta descrita no tipo penal (direta ou indiretamente), temos um fato 
típico e, como disse, estará presente, portanto, a tipicidade. 
Pode ocorrer, entretanto, que o agente pratique um fato típico por 
equívoco! Isso mesmo! O agente pratica um fato considerado típico, mas 
o faz por ter incidido em erro sobre algum de seus elementos. 
O erro de tipo é a representação errônea da realidade, na qual 
o agente acredita não se verificar a presença de um dos elementos 
essenciais que compõem o tipo penal. 
Por exemplo: Imaginemos o crime de desacato: 
 
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função 
ou em razão dela: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 
 
Imaginemos que o agente desconhecesse a condição de funcionário 
público da vítima. Nesse caso, houve erro de tipo, pois o agente incidiu 
em erro sobre elemento essencial do tipo penal. 
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O erro de tipo pode ocorrer, também, nos crimes omissivos 
impróprios (comissivos por omissão), pois o agente pode 
desconhecer sua condição de garantidor (aquele que tem o dever de 
impedir o resultado). Por exemplo: Imagine que uma mãe presencie o 
estupro da própria filha, mas nada faça, por não verificar tratar-se de sua 
filha. Nesse caso, a mãe incidiu em erro de tipo, pois errou na 
representação da realidade fática acerca de elemento que constituía o tipo 
penal. 
 
 
PRESTEM ATENÇÃO, GALERA! Quando o erro 
incidir sobre elemento normativo do tipo, há 
divergência na Doutrina! Parte entende que 
continua se tratando de erro de tipo. Outra 
parte da Doutrina entende que não se trata de 
erro de tipo, mas de erro de proibição, pois o 
agente estaria errando acerca da licitude do 
fato. Exemplo: O art. 154 do CP diz o seguinte: 
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, 
segredo, de que tem ciência em razão de 
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja 
revelação possa produzir dano a outrem: Pena - 
detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
NessH� FDVR�� R� HOHPHQWR� ³VHP� MXVWD� FDXVD´� p�
elemento normativo do tipo. Se o médico revela 
um segredo do paciente para um parente, 
acreditando que este poderá ajudá-lo, e faz isso 
apenas para o bem do paciente, acreditando 
haver justa causa, quando na verdade o 
parente é um tremendo fofoqueiro que só quer 
difamar o paciente, o médico incorreu em erro 
de tipo, pois acreditava estar agindo com justa 
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causa, que não havia. Porém, como disse a 
vocês, parte da doutrina entende que aqui se 
trata de erro de proibição. Mas a teoria que 
prevalece é a de que se trata mesmo de erro de 
tipo. 
 
O erro de tipo pode ser: 
x Escusável ± Quando o agente não poderia conhecer, de fato, 
D� SUHVHQoD� GR� HOHPHQWR� GR� WLSR�� ([HPSOR�� ³$´� HQWUD� QXPD�
loja e ao sair, verifica que esqueceu sua bolsa. Ao voltar, A 
encontra uma bolsa idêntica à sua, e a leva embora. 
(QWUHWDQWR�� ³$´� QmR� VDELD� TXH� HVVD� EROVD� HUD� GH� ³%´�� TXH�
estava olhando revistas distraído, tendo sua bolsa sido levada 
por outra pessoa no momento em que saiu da loja pela 
primeira vez. 1HVVH� FDVR�� ³$´� QmR� WLQKD� FRPR� LPDJLQDU� TXH�
alguém, em tão pouco tempo, haveria roubado sua bolsa e 
que outra pessoa deixaria no mesmo lugar uma bolsa 
idêntica. Nesse caso, a incorreu em erro de tipo escusável, 
pois não poderia, com um exercício mental razoável, saber 
que aquela não era sua bolsa; 
x Inescusável ± Ocorre quando o agente incorre em erro sobre 
elemento essencial do tipo, mas poderia, mediante um esforço 
mental razoável, não ter agido desta forma. Exemplo: 
Imaginemos que Marcelo esteja numa repartição pública e 
acabe por desacatar funcionário público que lá estava. 
Marcelo não sabia que se tratava de funcionário público, mas 
mediante esforço mental mínimo poderia ter chegado a esta 
conclusão, analisando a postura da pessoa com quem falava e 
o que a pessoa fazia no local. Assim, Marcelo incorreu em erro 
de tipo inescusável, e responderia por crime culposo, caso 
houvesse previsão de desacato culposo (não há); 
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Assim, lembrem-se: 
 
 
 
 
 
Pode ser que a banca utilize o termo ³(UUR� VREUH� HOHPHQWR�
FRQVWLWXWLYR�GR�WLSR�SHQDO´. Eu prefiro essa nomenclatura, mas ela não 
é muito utilizada, principalmente em concursos que não são de nível 
muito elevado (É mais utilizada em concursos para Juiz, Defensor, 
Promotor). 
 
A.1) ERRO DE TIPO ACIDENTAL 
 
O erro de tipo acidental é aquele que recai sobre circunstâncias 
diversas dos elementos que constituem a infração penal. Recaem sobre 
circunstâncias irrelevantes da figura típica, que permanece íntegra. O errode tipo acidental pode ser: 
9 ERRO SOBRE A PESSOA (ERROR IN PERSONA) ± Aqui o 
agente pratica o ato contra pessoa diversa da pessoa visada, 
por confundi-la com a pessoa que deveria ser o alvo do delito. 
Neste caso, o erro é irrelevante, pois o agente responde como 
se tivesse praticado o crime CONTRA A PESSOA VISADA. 
Essa previsão está no art. 20, §3° do CP; 
9 ERRO SOBRE O NEXO CAUSAL (ABERRATIO CAUSAE) ± 
Aqui temos o que se chama de DOLO GERAL OU 
SUCESSIVO. É o engano no que se refere ao meio de 
Agente comete o fato 
típico por incidir em 
erro sobre um dos 
elementos que 
compõem o tipo penal 
ERRO DE 
TIPO 
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execução do delito. Ocorre quando o agente, acreditando já ter 
ocorrido o resultado pretendido, pratica outra conduta, mas ao 
final verifica que esta última foi a que provocou o resultado. 
Ex.: O agente atira contra a vítima, visando sua morte. 
Acreditando que a vítima morreu, a atira num rio, visando 
esconder o corpo. Mais tarde, descobre-se que esta última 
conduta foi a que causou a morte da vítima, por afogamento, 
pois ainda estava viva. A Doutrina majoritária entende que o 
agente responde pelo crime originalmente previsto (homicídio 
doloso consumado, e não homicídio tentado c/c homicídio 
culposo), embora, na verdade, tivéssemos um homicídio 
tentado (a primeira conduta) e um homicídio culposo 
consumado (a segunda conduta); 
9 ERRO NA EXECUÇÃO (ABERRATIO ICTUS) ± Aqui o 
agente atinge pessoa diversa daquela que fora visada, mas não 
por confundi-la, mas por ERRAR NA HORA DE PRATICAR O 
DELITO�� ,PDJLQH�TXH�R� DJHQWH�� WHQWDQGR�DFHUWDU� ³$´�� HUUR� R�
WLUR� H� DFDED� DFHUWDQGR� ³%´��1R� HUUR� VREUH� D� SHVVRD� R� DJHQWH�
QmR� ³HUUD� R� DOYR´�� HOH� ³DFHUWD� R� DOYR´�� PDV� R� DOYR� foi 
confundido. SÃO COISAS DIFERENTES! Nesse caso, assim 
como no erro sobre a pessoa, o agente responde pelo crime 
originalmente pretendido. Esta é a previsão do art. 73 do CP. O 
erro na execução pode ser: a) Com unidade simples ± O 
agente atinge somente a pessoa diversa daquela visada; b) 
Com unidade complexa ± O agente atinge a vítima não 
visada, mas atinge também a vítima originalmente pretendida. 
Nesse caso, responde pelos dois crimes, em CONCURSO 
FORMAL; 
9 ERRO NO CRIME (ABERRATIO DELICTI) ± Aqui o 
agente pretendia cometer um crime, mas acaba cometendo 
outro. Imagine que alguém atire uma pedra num veículo 
parado, com o dolo de danificá-lo (art. 163 do CP). Entretanto, 
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o agente erra o alvo e atinge o dono, que estava perto 
(cometendo lesões corporais, art. 129 do CP). Nesse caso, o 
agente acaba por cometer CRIME DIVERSO DO PRETENDIDO. 
Responderá apenas pelo crime praticado efetivamente (lesão 
corporal culposa). Aplica-se a mesma regra do erro na 
execução: Se o agente atingir ambos os bens jurídicos (o 
pretendido e o não pretendido) responderá por AMBOS OS 
CRIMES, em CONCURSO FORMAL (art. 70 do CP). 
 
B) ERRO DE PROIBIÇÃO 
 
A culpabilidade (terceiro elemento do conceito analítico de crime) é 
formada por alguns elementos, dentre eles, a POTENCIAL 
CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE. 
A POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE é a possibilidade de 
o agente, de acordo com suas características, conhecer o caráter ilícito do 
fato. Não se trata do parâmetro do homem médio, MAS DE UMA 
ANÁLISE DA PESSOA DO AGENTE. Assim, aquele que é formado em 
Direito, em tese, tem maior potencial consciência da ilicitude que aquele 
que nunca saiu de uma aldeia de pescadores e tem pouca instrução. É 
claro que isso varia de pessoa para pessoa e, principalmente, de crime 
para crime, pois alguns são do conhecimento geral (homicídio, roubo), e 
outros nem todos conhecem (bigamia, por exemplo). 
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é ilícita, 
comete ERRO DE PROIBIÇÃO (art. 21 do CP). 
O erro de proibição pode ser: 
¾ Escusável ± Nesse caso, era impossível àquele agente, 
naquele caso concreto, saber que sua conduta era contrária ao 
Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente é 
isento de pena; 
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¾ Inescusável ± Nesse caso, o erro do agente quanto à 
proibição da conduta não é tão perdoável, pois era possível, 
mediante algum esforço, entender que se tratava de conduta 
ilícita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo 
crime, com pena diminuída de um sexto a um terço (conforme 
o grau de possibilidade de conhecimento da ilicitude). 
 
Assim, imaginem a seguinte hipótese: Um cidadão, lá do interior, 
encontra um bem (relógio de ouro, por exemplo) e fica com ele para si. 
Entretanto, mal sabe ele que essa conduta é crime, previsto no CP 
(apropriação de coisa achada). Vejamos: 
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu 
poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 
Parágrafo único - Na mesma pena incorre: 
(...) 
Apropriação de coisa achada 
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou 
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo 
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no 
prazo de 15 (quinze) dias. 
 
Percebam que até mesmo uma pessoa de razoável intelecto é capaz 
de não conhecer a ilicitude desta conduta. Assim, o agente, 
diferentemente do que ocorre no erro de tipo, REPRESENTA 
PERFEITAMENTE A REALIDADE (Sabe que a coisa não é sua, é uma 
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coisa que foi perdida por alguém), mas ACREDITA QUE A CONDUTA É 
LÍCITA. 
Imaginem, no mesmo exemplo, que o camarada que achou o relógio, 
na verdade, soubesse que não podia ficar com as coisas dos outros, mas 
acreditasse que o relógio era um relógio que ele tinha perdido horas antes 
(quando, na verdade, era o relógio de outra pessoa). Nesse caso, o 
agente VDELD�TXH�QmR�SRGLD�SUDWLFDU�D�FRQGXWD�GH�³VH�DSURSULDU�GH�FRLVD�
DOKHLD�SHUGLGD´��Não há, portanto, erro de proibição), mas acreditou 
TXH�D�FRLVD�QmR�HUD�³DOKHLD´��DFKDQGR�TXH�IRVVH�VXD��HUUR�GH�WLSR���Ficou 
clara a diferença? 
 
 
 
 
 
C) AS TEORIAS DA CULPABILIADE E O TRATAMENTO DADO AO 
ERRO DE TIPO E AO ERRO DE PROIBIÇÃO 
 
A teoria limitada, que é a adotada pelo CP, difere da teoria normativa 
pura com relação ao tratamento dado às descriminantes putativas. 
As descriminantes putativas são tratadas nos arts. 20, § 1° e 21 do 
CP: 
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado 
pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, 
tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro 
deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo 
(...) 
Agente comete o fato não 
por incidir em erro sobre 
a realidade,mas POR 
ACHAR QUE A CONDUTA 
NÃO É PROIBIDA 
ERRO DE 
PROIBIÇÃO 
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Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a 
ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, 
poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 
 
Para a teoria normativa pura, as descriminantes putativas serão 
sempre erro de proibição. Ou seja, sempre que um agente supor que 
existe uma situação fática que legitima sua ação, e esta não existir, 
estará errando com relação à licitude do fato, logo, comete erro de 
proibição, o que pode afastar a culpabilidade. 
Já a teoria limitada (adotada pelo CP), divide as descriminantes em 
dois blocos: 
¾ De fato ± O agente supõe que existe um fato que legitima sua 
ação. Por exemplo: Agente pega um relógio que está sobre a 
mesa, acreditando que é seu. Na verdade, o relógio era de 
outra pessoa. Nesse caso, o agente cometeu um erro de fato, 
não de Direito, pois sabe que furtar é errado, apenas acreditou 
se tratar de bem a ele pertencente. Nesse caso, há erro de 
tipo, logo, não se chega nem a ter fato típico, desde que se 
trate de erro escusável. Se o erro for inescusável, o agente 
responde pelo crime na modalidade culposa, se houver. No 
exemplo, não responderia, pois não há o crime de furto 
culposo; 
¾ De Direito ± São tratadas como erro de proibição. Aqui, o 
agente representa fielmente a realidade (não se engana quanto 
aos fatos), mas acredita que mesmo assim sua ação é legítima. 
No exemplo acima, imaginem que o agente pega o relógio 
sabendo que não é seu, mas acredita que furtar não é crime. 
Assim, nesse caso, o erro não é de fato, mas de direito. Se o 
erro for escusável (O agente não tinha condições de saber que 
era ilícito), está excluída a culpabilidade. Se for erro 
inescusável (o agente tinha como saber que era ilícito), 
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responderá pelo crime, com pena diminuída de um sexto a um 
terço. 
 
Vejam que há implicações práticas, principalmente se o erro for 
inescusável, pois no erro de tipo inescusável o agente responde por crime 
culposo, se houver (se não houver, o fato é atípico). Já no erro de 
proibição inescusável o agente responde pelo crime doloso, só que com 
pena diminuída (no caso acima, responderia por furto, com pena 
diminuída). 
Assim, o fato de ter-se adotado a teoria limitada tem reflexos 
práticos na configuração da conduta criminosa, não apenas doutrinários. 
 
 CUIDADO!! Não confundam Descriminantes Putativas com delito 
putativo. 
As descriminantes putativas são QUAISQUER SITUAÇÕES NAS 
QUAIS O AGENTE INCIDA EM ERRO POR ACREDITAR QUE ESTÁ 
PRESENTE UMA SITUAÇÃO QUE TORNE A SUA CONDUTA LEGÍTIMA 
(SEJA UMA SITUAÇÃO FÁTICA OU UMA SITUAÇÃO JURÍDICA). As 
descriminantes putativas podem ser relativas à suposta existência de uma 
causa de exclusão da tipicidade, da ilicitude ou da culpabilidade. 
Assim, se o agente furta uma mala de terceira pessoa, acreditando 
que é sua, age com erro, pois vislumbra uma situação que, se existisse 
(se a mala fosse sua, como imaginou), tornaria sua ação legítima 
(Descriminante putativa por erro de tipo). 
Imagine, agora, que o agente está numa casa de festas e ouça gritos 
GH� ³IRJR´�� 6Xpondo haver um incêndio, corre atropelando pessoas, 
agredindo quem está na frente, para poder se salvar. Na verdade, tudo 
não passava de um trote. Nesse caso, o agente agrediu pessoas 
(moderadamente, é claro), para se salvar, supondo haver uma situação 
que, se existisse (incêndio) justificaria a sua conduta (estado de 
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necessidade). Dessa forma, há uma descriminante putativa por estado de 
necessidade putativo (causa de exclusão da ilicitude putativa). 
Por fim, imagine que o Harold Van Dame, holandês, está no Brasil e 
GHFLGH� ³SX[DU� XP� EDVHDGR´�� +DUROG�� HQWUHWDQWR�� LPDJLQD� TXH� LVVR� p�
permitido no Brasil. No entanto, ele não sabe que no Brasil isto é crime 
(art. 28 da Lei 11.343/06). Nesse caso, Harold incidiu em erro, pois 
acreditou estar presente uma situação (legalidade da conduta) que, se 
existisse, tornaria sua conduta legítima (Logo, há uma descriminante 
putativa por erro sobre a ilicitude do fato, portanto, ERRO DE 
PROIBIÇÃO). Essa descriminante putativa exclui a culpabilidade. 
NO DELITO PUTATIVO acontece EXATAMENTE O OPOSTO. O 
agente acredita que está cometendo o crime, quando, na verdade, está 
cometendo um INDIFERENTE PENAL. 
Imagine a seguinte situação: Um cidadão, sem querer, esbarra no 
carro de um terceiro, causando dano. Com medo de ser preso, foge. Na 
verdade, ele acredita que está cometendo crime de DANO CULPOSO, 
mas não sabe que o CRIME DE DANO CULPOSO NÃO EXISTE. 
Portanto, há, aqui, DELITO PUTATIVO POR ERRO DE PROIBIÇÃO. 
 
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Ficou clara a diferença, galera? 
Não confundam isso na hora da prova, hein! 
 
II ± PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO 
 
Quando alguém comete um fato definido como crime, surge para o 
Estado o poder-dever de punir. Esse direito de punir chama-se ius 
puniendi. 
Em regra, todo fato típico, ilícito e praticado por agente culpável, é 
punível. No entanto, o exercício do ius puniendi encontra limitações de 
diversas ordens, sendo a principal delas a limitação temporal (prescrição). 
Desta forma, o Estado deve exercer o ius puniendi da maneira 
prevista na lei (através do manejo da Ação Penal no processo penal), bem 
como deve fazê-lo no prazo legal. 
Para o nosso estudo interessam mais as hipóteses de extinção da 
punibilidade. Vamos analisá-las então! 
O art. 107 do CP prevê que: 
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Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei 
nº 7.209, de 11.7.1984) 
I - pela morte do agente; 
II - pela anistia, graça ou indulto; 
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato 
como criminoso; 
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; 
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos 
crimes de ação privada; 
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; 
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. 
 
O primeiro caso é bem simples. Falecendo o agente, extingue-se a 
punibilidade do crime, pois, como vimos, no Direito Penal vigora o 
princípio da intranscendência da pena, ou seja, a pena não pode passar 
da pessoa do criminoso. Assim, com a morte deste, cessa o direito de 
punir do Estado. 
A anistia, a graça e o indulto são modalidades muito parecidas de 
extinção dapunibilidade. Entretanto, não se confundem. 
A anistia exclui o próprio crime, ou seja, o Estado determina que 
as condutas praticadas pelos agentes não sejam consideradas crimes. A 
anistia pode ser concedida pelo Poder Legislativo, e pode ser conferida a 
qualquer momento (inclusive após a sentença penal condenatória 
transitada em julgado). 
Já a Graça e o indulto são bem mais semelhantes, pois não 
excluem o crime em si, mas apenas extinguem a punibilidade em 
relação àqueles casos específicos, e só podem ser concedidos pelo 
Presidente da República. 
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A Graça é conferida de maneira individual, e o indulto é conferido 
coletivamente (a um grupo que se encontre na mesma situação). 
A anistia só pode ser causa de extinção total da punibilidade (pois, 
como disse, exclui o próprio crime). Já a Graça e o indulto podem ser 
parciais. 
Pode ser extinta a punibilidade, também, pelo fenômeno da abolitio 
criminis, nos termos do art. 107, III do CP. Como vimos, a abolitio 
criminis ocorre quando surge lei nova que deixa de considerar o fato 
como crime. 
Pode ocorrer, ainda, de o ofendido, nos crimes de ação penal 
privada, renunciar ao direito de oferecer queixa, ou conceder o 
perdão ao acusado. Nesses casos, também estará extinta a 
punibilidade. 
A renúncia ao direito de queixa ocorre quando, dentro do prazo de 
seis meses de que dispõe o ofendido para oferecê-la, este renuncia a este 
direito, de maneira expressa ou tácita. A renúncia tácita ocorre quando o 
ofendido pratica algum ato incompatível com a intenção de processar o 
agente (quando, por exemplo, se casa com ele). 
O perdão, por sua vez, é muito semelhante à renúncia, com a 
ressalva de que o perdão só pode ser concedido quando já ajuizada a 
ação penal privada, e que o simples oferecimento do perdão, por si só, 
não gera a extinção da punibilidade, devendo o agente aceitar o perdão. 
Ocorrendo a renúncia ao direito de queixa, ou o perdão do 
ofendido, e sendo este último aceito pelo querelado (autor do 
fato), estará extinta a punibilidade. 
Em determinados crimes o Estado confere o perdão ao infrator, por 
HQWHQGHU�TXH�D�DSOLFDomR�GD�SHQD�QmR�p�QHFHVViULD��e�R�FKDPDGR�³SHUGmR�
MXGLFLDO´��e�R�TXH�RFRUUH��SRU�H[HPSOR��QR�FDVR�GH�KRPLFtGLR�Fulposo no 
qual o infrator tenha perdido alguém querido (Lembram-se do caso 
Herbert Viana?). Essa hipótese está prevista no art. 121, § 5° do CP: 
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§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de 
aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o 
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne 
desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) 
Então, nesse caso, ocorrendo o perdão judicial, também estará 
extinta a punibilidade. Além disso, o art. 120 do CP diz que se houver o 
perdão judicial, esta sentença que concede o perdão judicial não é 
considerada para fins de reincidência. 
Nos termos do inciso VI do art. 107, a retratação do agente 
também é hipótese de extinção da punibilidade, nos casos em que a 
lei a admite. Acontece isto, por exemplo, nos crimes de calúnia ou 
difamação, nos quais a lei admite a retratação como causa de extinção da 
punibilidade, se realizada antes da sentença. Nos termos do art. 143 do 
CP: 
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata 
cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de 
pena. 
Por fim, temos a clássica e mais comum hipótese de extinção da 
punibilidade: a prescrição. A prescrição é a perda do poder de exercer um 
GLUHLWR�HP�UD]mR�GD�LQpUFLD�GR�VHX�WLWXODU��2X�VHMD��p�R�IDPRVR�³FDPDUmR�
TXH�GRUPH�D�RQGD�OHYD´� 
A prescrição pode ser dividida basicamente em duas espécies: 
Prescrição da pretensão punitiva e prescrição da pretensão 
executória. 
A primeira pode ocorrer quando ainda não há sentença penal 
condenatória transitada em julgado, e a segunda pode ocorrer 
somente depois de já haver sentença penal condenatória 
transitada em julgado. Vamos estudá-las em tópicos separados. 
 
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A) Prescrição da pretensão punitiva 
 
Aqui o Estado ainda não aplicou (em caráter definitivo) uma sanção 
penal ao agente que praticou a conduta criminosa. 
Mas qual é o prazo de prescrição? O prazo prescricional varia de 
crime para crime, e é definido tendo por base a pena máxima 
estabelecida, em abstrato, para a conduta criminosa. Nos termos do art. 
109 do CP: 
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença 
final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-
se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao 
crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 
2010). 
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; 
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito 
anos e não excede a doze; 
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro 
anos e não excede a oito; 
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e 
não excede a quatro; 
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, 
sendo superior, não excede a dois; 
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) 
ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). 
Prescrição das penas restritivas de direito 
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Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os 
mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Assim, no crime de homicídio simples, por exemplo, para o qual a lei 
estabelece pena máxima de 20 anos (art. 121 do CP), o prazo 
prescricional é de 20 anos, pois a pena máxima é superior a 12 anos. O 
crime de furto simples, por exemplo, (art. 155 do CP) prescreve em oito 
anos, pois a pena máxima prevista é quatro anos. 
 
 
Portanto, não confundam: O prazo de prescrição do crime não é 
igual à pena máxima a ele estabelecida, mas é calculado através de 
uma tabela que leva em consideração a pena máxima! 
 
Mas Renan, quando começa a correr o prazo prescricional? 
Simples, meus caros. A resposta para esta pergunta está no art. 111 do 
CP: 
 
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença 
final, começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei 
nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade 
criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
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III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a 
permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de 
assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou 
conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
Apenas um comentário em relação a este artigo: A regra, aqui, é que 
o prazo prescricional comece a fluir no dia em que o crime se consuma. 
CUIDADO! Lembrem-se que o crime se considera praticado (tempo do 
crime) quando ocorre a conduta, e não a consumação. Assim: 
Tempo do crime ± Momento da conduta 
Início do prazo prescricional ± Momento da consumação 
Prestem atenção para não errarem isso, pois esta é uma pegadinha 
que pode derrubar vocês no concurso. 
Como nos crimes tentados não há propriamente consumação (pois 
não há resultado naturalístico esperado), o prazo prescricional começa a 
fluir da data em que cessa a atividade criminosa, mesmo critério 
utilizado para os crimes permanentes. 
Vejam que no que se refere aos crimes permanentes, o início do 
prazo prescricional coincide com o tempo do crime. Lembram-se do 
verbete n° 711 da súmula de jurisprudência do STF? Então, esse verbete 
diz que se considera praticado o crime quando da cessação da atividade 
criminosa. Assim, nesses crimes, o tempo do crime e o início do 
prazo prescricional ocorrem simultaneamente! 
Na hipótese de pena de multa, como calcular o prazo prescricional? 
Se a multa for prevista ou aplicada isoladamente, o prazo será de dois 
anos. Porém, se a multa for aplicada ou prevista cumulativamente com a 
pena de prisão (privativa de liberdade), o prazo de prescrição será o 
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mesmo estabelecido para a pena privativa de liberdade. Isto é que se 
extrai do art. 114 do CP: 
Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: (Redação 
dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) 
I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou 
aplicada; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) 
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena 
privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou 
cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada. 
(Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) 
 
B) Prescrição da pretensão executória 
 
Como disse a vocês, a prescrição pode ocorrer antes do trânsito 
em julgado (pretensão da pretensão punitiva) ou depois do 
trânsito em julgado (quando teremos a prescrição da pretensão 
executória). Esta última ocorre quando o Estado condena o indivíduo, de 
maneira irrecorrível, mas não consegue fazer cumprir a decisão. 
Nos termos do art. 110 do CP: 
Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a 
sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se 
nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de 
um terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei 
nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
Assim, na hipótese do crime de homicídio, conforme o exemplo dado 
acima, antes de transitar em julgado a sentença condenatória, o prazo 
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prescricional é regulado pela pena máxima cominada ao crime em 
abstrato, de acordo com a tabelinha do art. 109 do CP. Após o trânsito 
em julgado, o parâmetro utilizado pela lei para o cálculo do prazo 
prescricional deixa de ser a pena máxima prevista e passa a ser a pena 
efetivamente aplicada. 
Assim, se no crime de homicídio simples, que tem pena prevista de 
06 a 20 anos, se o agente for condenado a apenas 06 (seis) anos de 
reclusão, o prazo prescricional passa a ser de apenas 12 (doze) anos, nos 
termos do art. 109, III do CP. 
O art. 112 do CP estabelece o marco inicial (termo a quo) do prazo 
prescricional da pretensão executória: 
 
Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição 
começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, 
para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da 
pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o 
tempo da interrupção deva computar-se na pena. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
C) Disposições gerais sobre a prescrição 
 
O CP prevê, ainda, hipóteses nas quais a prescrição não corre, tanto 
no que se refere à prescrição da pretensão punitiva quanto à prescrição 
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da pretensão executória, embora as circunstâncias sejam diferentes para 
cada uma delas. Nos termos do art. 116 e seu § único, do CP: 
 
Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição 
começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, 
para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da 
pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o 
tempo da interrupção deva computar-se na pena. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença 
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o 
condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei 
nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
Assim, nestes casos, o prazo prescricional não se inicia. Pode 
ocorrer, ainda, de o prazo prescricional se iniciar, mas ser interrompido, 
em razão da ocorrência de alguns fatos. É o que prevê o art. 117 do CP: 
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
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III - pela decisão confirmatória da pronúncia; (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios 
recorríveis; (Redação dada pela Lei nº 11.596, de 2007). 
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; 
(Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) 
VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 
1º.4.1996) 
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a 
interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos 
os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do 
mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a 
qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V 
deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do 
dia da interrupção. (Redação dada pelaLei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
A interrupção é uma causa de paralisação do prazo 
prescricional, assim como a suspensão. Entretanto, na interrupção o 
prazo prescricional, cessado o motivo que levou à interrupção, volta a 
correr desde o início, e não de onde havia parado. 
Exemplo: Imagine que Poliana esteja sendo acusada pelo crime de 
homicídio simples (prescrição em 20 anos). O prazo prescricional vem 
IOXLQGR�QRUPDOPHQWH�DWp�TXH�R�-XL]�³SURQXQFLD´�3ROLDQD��GHFLVmR�QD�TXDO�R�
Juiz diz que o caso deve ser levado à Júri popular). Nesse caso, se o 
prazo prescricional estava já com 04 anos, por exemplo, ele será 
interrompido e voltará a ser contado do zero (mais 20 anos), e não 
apenas os 16 (dezesseis) anos que faltavam. 
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III ± DA AÇÃO PENAL 
 
Quando alguém pratica um fato criminoso, surge para o Estado o 
poder-dever de punir o infrator. Esse poder-dever, esse direito, é 
chamado de ius puniendi. 
Entretanto, o Estado, para que exerça validamente e legitimamente o 
seu ius puniendi, deve fazê-lo mediante a utilização de um mecanismo 
que possibilite a busca pela verdade material (não meramente a verdade 
formal), mas que ao mesmo tempo respeite os direitos e garantias 
fundamentais do indivíduo. Esse mecanismo é chamado de Processo 
Penal. 
Mas, professor Renan, onde entra a Ação Penal nisso? A ação 
penal é, nada mais nada menos, que o ato inicial desse mecanismo todo 
chamado processo penal. 
 
I.a) Condições da Ação Penal 
 
Tal qual ocorre no processo civil, no processo penal a ação também 
deve obedecer a algumas condições. Sem elas a ação penal ajuizada deve 
ser rejeitada de imediato pelo Juiz. Nesse sentido temos o art. 395, II do 
CPP: 
 
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação 
dada pela Lei nº 11.719, de 2008). 
(...) 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício 
da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). 
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São condições da ação penal: 
 
A) Possibilidade Jurídica do pedido 
 
Para que esteja configurada essa condição da ação, basta que a ação 
penal tenha sido ajuizada com base em conduta que se amolde em fato 
típico. Assim, não se exige que a conduta tenha sido típica, ilícita e o 
agente culpável. Mesmo se o titular da ação penal (MP ou ofendido) 
verificar que o crime foi praticado em legítima defesa, por exemplo, 
(exclui a ilicitude) a conduta é típica, estando cumprido o requisito da 
possibilidade jurídica do pedido. 
 
B) Interesse de Agir 
 
Se no processo civil o interesse de agir é caracterizado como a 
necessidade da prestação da tutela jurisdicional, devendo a parte autora 
comprovar que não há outro meio para a resolução do litígio que não seja 
a via judicial, no processo penal é um pouco diferente. 
No processo penal a via judicial é obrigatória, não podendo o Estado 
exercer o seu ius puniendi fora do processo penal. O processo civil é 
facultativo, podendo as partes resolver a lide sem a intervenção do 
Judiciário. O processo penal, por sua vez, é obrigatório, devendo o titular 
da ação penal provocar o Judiciário para que a lide seja resolvida. 
Há quem defenda, inclusive, que não necessariamente há lide no 
processo penal (a lide é o fenômeno que ocorre quando uma parte possui 
uma pretensão que é resistida pela outra parte), pois ainda que o 
acusado reconheça que deve ser punido, a punição só pode ocorrer após 
o processo penal, dado o interesse público envolvido. 
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No processo penal o interesse de agir está mais ligado a questões 
como a utilização da via adequada. Assim, não pode o membro do MP 
oferecer queixa em face de alguém que praticou homicídio, pois se trata 
de crime de ação penal pública. Nesse caso, o MP é parte legítima, pois é 
o titular da ação penal. No entanto, a via escolhida está errada (deveria 
ter sido ajuizada ação penal pública). 
Alguns autores entendem que o interesse de agir no processo penal 
está relacionado à existência de lastro probatório mínimo (existência de 
indícios de autoria e prova da materialidade). Esses elementos, no 
entanto, formam o que outra parte da Doutrina entende como justa 
causa. 
Obviamente que os autores que entendem serem estes elementos 
LQWHJUDQWHV� GR� FRQFHLWR� GH� ³LQWHUHVVH� GH� DJLU´�� HQWHQGHP� WDPEpP� TXH�
não existe a justa causa como uma condição autônoma da ação penal. 
O CPP, no entanto, em algumas passagens, prevê a existência da 
justa causa: 
 
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
(...) 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
 
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: 
I - quando não houver justa causa; 
 
Percebam, no entanto, que em nenhum momento o CPP trata a justa 
causa como uma condição da ação. Mais que isso, no momento em que o 
art. 395, II do CPP diz que a denúncia ou queixa será rejeitada quando 
faltar alguma das condições da ação penal, e, logo após, em inciso 
diverso, diz que também será rejeitada a denúncia ou queixa quando 
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faltar justa causa, está, implicitamente, considerando que a justa causa 
não é uma condição da ação penal. 
O tema é bem polêmico, e vocês devem saber que há divergência. 
Em provas discursivas, vale a pena se alongar sobre isso. Em provas 
objetivas, vocês devem ter em mente que, pela literalidade do CPP, a 
justa causa não é condição da ação, sendo assim considerada 
apenas por parte da Doutrina. 
 
C) Legitimidade ad causam ativa e passiva 
 
A legitimidade (e aqui nos aproximamos do processo civil) é o que se 
pode chamar de pertinência subjetiva para a demanda. Assim, a presença 
do MP no pólo ativo de uma denúncia pelo crime de homicídio é 
pertinente, pois a Constituição o coloca como titular exclusivo da Ação 
Penal, o que é corroborado pelo CPP. Também deve haver legitimidade 
passiva, ou seja, quem deve figurar no pólo passivo (ser o réu da ação) é 
quem efetivamente praticou o crime, ou seja, o sujeito ativo do crime. 
Cuidado! O sujeito ativo do crime (infrator) será, no processo penal, 
o sujeito passivo do processo! 
Parte da Doutrina entende que os inimputáveis são partes ilegítimas 
para figurar no pólo passivo da ação penal. Entretanto, essa posição 
merece algumas considerações. 
A inimputabilidade por critério meramente biológico é somente uma, 
e refere-se à menoridade penal. Ou seja, somente o menor de 18 anos 
será sempre inimputável, sem que se exija qualquer análise do mérito da 
demanda. De plano se pode considerar sua ilegitimidade, conforme prevê 
o art. 27 do CP: 
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente 
inimputáveis, ficando sujeitosàs normas estabelecidas na 
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legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
 
Assim, se o titular da ação penal ajuíza a ação em face de um menor 
de 18 anos, falta uma das condições da ação, que é a imputabilidade 
penal, pois de maneira nenhuma pode o menor de 18 anos responder 
criminalmente, estando sujeito às normas do ECA. 
Entretanto, se estivermos diante dos demais casos de 
inimputabilidade, a hipótese não é de ilegitimidade passiva, pois a análise 
da imputabilidade do agente dependerá da avaliação dos fatores, das 
circunstâncias do delito, podendo se concluir pela sua inimputabilidade. É 
o que ocorre com os doentes mentais que ao tempo do crime eram 
inteiramente incapazes de compreender o caráter ilícito da conduta e se 
comportar conforme o direito. 
A prova mais cabal de que nesse caso não há ilegitimidade é que, 
considerando o Juiz que o agente era inimputável à época do fato, não 
rejeitará a denúncia ou queixa (o que deveria ser feito, em razão do art. 
395, II do CPP), mas absolverá o acusado e aplicará medida de segurança 
(absolvição imprópria). Assim, o Juiz adentrará ao mérito da causa. Ora, 
se a ausência de condição da ação obsta a apreciação do mérito, fica claro 
que nessa hipótese não há ilegitimidade. 
Quanto à pessoa jurídica, é pacífico o entendimento 
doutrinário e jurisprudencial no sentido de que a Pessoa Jurídica 
pode figurar no pólo ativo do processo penal, até porque há previsão 
expressa nesse sentido: 
 
Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente 
constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser 
representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos 
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designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou 
sócios-gerentes. 
 
Quanto à possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito passivo no 
processo penal, ou seja, quanto à sua legitimidade passiva, a Doutrina se 
divide, uns entendendo não ser possível, outros pugnando pela 
possibilidade. 
O STF e o STJ entendem que a Pessoa Jurídica pode figurar no 
pólo passivo de ação penal por crime ambiental, conforme previsto 
no art. 225, § 3° do CP, regulamentado pela Lei 9.605/98. Quanto aos 
crimes contra a ordem econômica, por não haver regulamentação legal, a 
jurisprudência não vem admitindo que a pessoa jurídica responda por tais 
crimes. 
 
I.b) Espécies de Ação Penal 
 
A ação penal pode ser pública incondicionada, condicionada, ou 
privada. Nos termos do art. 100 do Código Penal: 
 
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei 
expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, 
dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido 
ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei 
nº 7.209, de 11.7.1984) 
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§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa 
do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes 
de ação pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no 
prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
A regra é a de que a ação penal seja pública, nos termos do caput do 
art. 100 do CP, só sendo privada quando a lei expressamente assim 
disser. 
Conforme o esquemático, para facilitar a compreensão de vocês: 
 
 
 
Assim pode se resumir, graficamente, as espécies de ação penal 
previstas no Código Penal e no Código de Processo Penal - CPP. A 
Doutrina cita, ainda, a ação penal popular, prevista na Lei 1.079/50, mas 
essa espécie é polêmica e não possui previsão nem no CP, nem no CPP, 
motivo pelo qual, não será objeto do nosso estudo. 
Vamos estudar, agora, cada uma das seis espécies de ação penal: 
 
AÇÃO PENAL 
PÚBLICA 
PRIVADA 
INCONDICIONADA CONDICIONADA 
REPRESENTAÇÃO DO 
OFENDIDO 
REQUISIÇÃO DO MINISTRO 
DA JUSTIÇA 
EXCLUSIVA PERSONALÍSSIMA SUBSIDIÁRIA DA 
PÚBLICA 
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A) Ação penal pública incondicionada 
 
É a regra no ordenamento processual penal brasileiro. Sua 
titularidade pertence ao Ministério Público, de forma privativa, nos termos 
do art. 129, I da Constituição da República. Além disso, o próprio § 1° 
do art. 100 do CP estabelece ser do MP a atribuição para o ajuizamento 
da ação penal pública. 
Alguns princípios regem a ação penal pública incondicionada: 
x Obrigatoriedade ± Havendo indícios de autoria e prova da 
materialidade do delito, o membro do MP deve oferecer a 
denúncia, não podendo deixar de fazê-lo, pois não pode dispor 
da ação penal. Atualmente esta regra está excepcionada pela 
previsão de transação penal nos Juizados especiais (Lei 
9.099/95), que é hipótese na qual o titular da ação penal e o 
infrator transacionam, de forma a evitar o ajuizamento da 
demanda. A previsão não é inconstitucional, pois a própria 
Constituição a prevê, em seu art. 98, I. A Doutrina admite que, 
estando presentes causas excludentes da ilicitude, de maneira 
inequívoca, poderá o membro do MP deixar de oferecer 
denúncia; 
x Indisponibilidade ± Uma vez ajuizada a ação penal pública, 
não pode seu titular dela desistir ou transigir, nos termos do 
art. 42 do CPP: Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir 
da ação penal. Esta regra também está excepcionada pela 
previsão de transação penal e suspensão condicional do 
processo, que são institutos previstos na Lei dos Juizados 
Especiais (Lei 9.099/95); 
x Oficialidade ± A ação penal pública será ajuizada por um 
órgão oficial, no caso, o MP. Entretanto, pode ocorrer de, 
transcorrido o prazo legal para que o MP ofereça a denúncia, 
este não o faça nem promova o arquivamento do IP, ou seja, 
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fique inerte. Nesse caso, a lei prevê que o ofendido poderá 
promover ação penal privada subsidiária da pública (que 
estudaremos melhor daqui a pouco). Assim, podemos concluir 
que a ação penal pública é exclusiva do MP, durante o prazo 
legal. Findo este prazo, a lei estabelece um prazo de seis 
meses no qual tanto o MP quanto o ofendido pode ajuizar a 
ação penal, numa verdadeira hipótese de legitimação 
concorrente: Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de 
ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo 
ao Ministério Público aditara queixa, repudiá-la e oferecer 
denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, 
fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, 
no caso de negligência do querelante, retomar a ação como 
parte principal. Findo este prazo de seis meses no qual o 
ofendido pode ajuizar a ação penal privada subsidiária da 
pública, a legitimidade volta a ser do MP, exclusivamente, 
desde que ainda não esteja extinta a punibilidade; 
x Divisibilidade ± Havendo mais de um infrator (autor do 
crime), pode o MP ajuizar a demanda somente em face um ou 
alguns deles, reservando para os outros, o ajuizamento em 
momento posterior, de forma a conseguir mais tempo para 
reunir elementos de prova. Não nenhum óbice quanto a isso, e 
esta prática não configura preclusão para o MP, podendo aditar 
a denúncia posteriormente, a fim de incluir os demais autores 
do crime ou, ainda, promover outra ação penal em face dos 
outros autores do crime; 
 
O art. 101 do CP traz uma regra inócua, desnecessária, mas que 
vocês devem saber: 
 
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Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou 
circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos, 
constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde 
que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por 
iniciativa do Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 7.209, 
de 11.7.1984) 
 
Trata-se da ação penal no crime complexo, que é o crime 
formado pela junção de dois outros tipos penas. Exemplo: Roubo = furto 
+ lesão corporal ou ameaça. Assim, se um dos crimes for de ação penal 
pública incondicionada, ainda que o outro não o seja, caberá ação penal 
pública. 
A regra é completamente inútil, na medida em que o crime complexo 
é um crime autônomo. Assim sendo, das duas uma: a) Ou a lei nada dirá 
acerca da ação penal relativa a este crime, e a ação penal será pública 
incondicionada (e o art. 101 será inútil); b) Ou a lei especificará a ação 
penal para o crime (e por ser específica, será aplicada, ao invés do art. 
101, que é genérico). Assim, este art. 101 do CP não serve para 
absolutamente nada (só para cair em concurso, rs). 
 
B) Ação penal pública condicionada (à representação do 
ofendido e à requisição do Ministro da Justiça) 
Trata-se de duas hipóteses pertencentes à mesma categoria de ação 
penal, a ação penal pública condicionada. 
Aplica-se a esta espécie de ação penal tudo o que foi dito a respeito 
da ação penal pública, havendo, no entanto, alguns pontos especiais. 
Aqui, para que o MP (titular da ação penal) possa exercer 
legitimamente o seu direito de ajuizar a ação penal pública, deverá estar 
presente uma condição de procedibilidade, que é a representação do 
ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, a depender do caso. 
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Frise-se que, em regra, a ação penal é pública e incondicionada. 
Somente será condicionada se a lei expressamente dispuser neste 
sentido. 
Para facilitar o estudo de vocês, elaborei os seguintes quadros com 
as peculiaridades da ação penal pública condicionada, tanto no caso de 
condicionamento à representação do ofendido quanto no caso de 
requisição do Ministro da Justiça: 
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO 
¾ Trata-se de condição imprescindível, nos termos do art. 24 do CPP; 
¾ É representação admite retratação, mas somente até o 
oferecimento da denúncia (cuidado! Costumam colocar em provas 
de concurso que a retratação pode ocorrer até o recebimento da 
denúncia. Isto está errado! É uma pegadinha! No vocabulário 
internetês��³e�XPD�FLODGD��%LQR�´�± risos). Isso está no art. 102 do 
CP e 25 do CPP; 
¾ Caso ajuizada a ação penal sem a representação, esta nulidade 
processual pode ser sanada posteriormente, caso a vítima a 
apresente em Juízo (desde que realizada dentro do prazo de 
seis meses que a vítima possui para representar, nos termos 
do art. 38 do CPP); 
¾ Não se exige forma específica para a representação, bastando que 
seja escrita e descreva claramente a intenção de ver o infrator ser 
processado. A jurisprudência admite que o simples registro de 
ocorrência em sede policial, desde que conste informação de 
que a vítima pretende ver o infrator punido, PODE ser 
considerada como representação; 
¾ A representação não pode ser dividida quanto aos autores do fato. 
Ou se representa em face de todos eles, ou não há representação, 
pois esta não se refere propriamente aos agentes que praticaram o 
delito, mas ao fato. Quando a vítima representa, está manifestando 
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seu desejo em ver o fato ser objeto de ação penal para que sejam 
punidos os responsáveis. Entretanto, embora não possa haver 
fracionamento da representação, isso não impede que o MP 
denuncie apenas um ou alguns dos infratores, pois um dos 
princípios da ação penal pública é a divisibilidade, lembram-
se? 
¾ A legitimidade para oferecer a representação é do ofendido, se 
maior de 18 anos e capaz (art. 34 do CP). Embora o dispositivo 
legal estabeleça que se o ofendido tiver mais de 18 e menos de 21 
anos tanto ele quanto seu representante legal possam apresentar a 
representação, este artigo perdeu o sentido com o advento do 
Novo Código Civil em 2002, que estabeleceu a maioridade civil em 
18 anos. 
¾ Se o ofendido for menor ou incapaz, terá legitimidade o seu 
representante legal. Porém, se o ofendido não possuir 
representante legal ou os seus interesses colidirem com o do 
representante, o Juiz deve nomear curador, por força do art. 33 do 
CPP (por analogia). Este curador não está obrigado a oferecer 
a representação, devendo apenas analisar se é salutar ou 
não para o ofendido (maioria da Doutrina entende isso, mas 
é controvertido); 
¾ Se ofendido falecer, aplica-se a ordem de legitimação prevista no 
art. 24, § 1° do CP: § 1o No caso de morte do ofendido ou quando 
declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará 
ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. (Parágrafo único 
renumerado pela Lei nº 8.699, de 27.8.1993). É importante observar 
que essa ordem deve ser observada. Assim, havendo cônjuge, e 
este resolvendo não representar, não poderá o pai do falecido 
representar. A Doutrina equipara o companheiro ao cônjuge; 
O prazo para representação está no art. 38 do CPP e também no 
art. 103 do CP: Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou 
Direito Penal ʹ TRF 3º REGIÃO (2013) ʹ PÓS-EDITAL 
TÉCNICO JUDICIÁRIO ʹ ÁREA ADMINISTRATIVA 
Teoria e exercícios comentados 
Prof. Renan Araujo ʹ Aula 02 
 
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seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de 
representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, 
contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso 
do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da 
denúncia (...)Art.