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2018 COORDENAÇÃO ROGÉRIO SANCHES CUNHA LEANDRO BORTOLETO PAULO LÉPORE Carreiras Policiais DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL Apresentação da Coleção Revisaço “REVISAÇO” é a consagrada coleção de questões comentadas da Editora Juspodivm. Com cuidado, pensamos num formato que fosse além dos comentários das questões. Algo que real- mente pudesse ajudar o aluno no estudo de concursos ou Exames de Ordem, principalmente na revisão final. Para isso, estabelecemos a seguinte estrutura didática: • Questões divididas por matéria e assunto, comentadas assertiva por assertiva, item por item, demonstrando tanto o que está certo como o que está errado na questão; • Sempre que possível, há uma “nota do autor” em cada questão trazendo comentários que vão além do assunto abordado no exercício. Ao final das disciplinas apresentamos: • Dicas de estudo, funcionando como verdadeiro resumo da matéria; • Súmulas dos Tribunais Superiores; • Informativos do STF, STJ e TST; • Orientações Jurisprudenciais. A ideia, portanto, é apresentar a prática do concurso ou Exame da Ordem (questões), a doutrina para estudo (dicas) e a jurisprudência (súmulas e informativos), formando a tríade necessária para uma revisão (verdadeiro REVISAÇO!) rumo ao sucesso na aprovação. Vários livros compõem a coleção e, para todos, chamamos grandes nomes, professores experientes, profissionais de destaque e especialistas em cada área para que organizassem as obras e comentassem as questões. Acreditamos que essa coleção será bastante útil aos candidatos de concursos públicos e Exame de Ordem. EDITORA JUSPODIVM www.editorajuspodivm.com.br Direito Penal 29 ÉQUESTÕES 1. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO 01. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens seguintes, é apre- sentada uma situação hipotética, seguida de uma asser- tiva a ser julgada. No dia 1°/3/1984, Jorge foi preso em flagrante por ter vendido lança-perfume (cloreto de etila), substân- cia considerada entorpecente por portaria do Minis- tério da Saúde de 27/1/1983. Todavia, no dia 4/4/1984, houve publicação de nova portaria daquele Ministério excluindo o cloreto de etila do rol de substâncias entor- pecentes. Posteriormente, em 13/3/1985, foi publicada outra portaria do Ministério da Saúde, incluindo nova- mente a referida substância naquela lista. Nessa situa- ção, de acordo com o entendimento do STF, ocorreu a chamada abolitio criminis, e Jorge, em 4/4/1984, deveria ter sido posto em liberdade, não havendo retroação da portaria de 13/3/1985, em face do princípio da irretroati- vidade da lei penal mais severa. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. O dispositivo que pune o tráfico de drogas é classificado como norma penal em branco própria (ou em sentido estrito ou heterogênea), isto é, que depende de complementação que, por sua vez, não emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa (no caso específico, portaria do Ministério da Saúde). Se uma substância é inserida na lista de psicotrópicos e, em seguida, retirada, os indiví- duos que respondiam a processo criminal são beneficia- dos pela abolitio criminis. Ainda que, logo em seguida, a substância volte a integrar a lista, não haverá retroativi- dade porque a lei (no caso do exemplo, o complemento da norma penal em branco) não pode retroagir para prejudicar o indivíduo. O STF, aliás, já se pronunciou especificamente sobre o tema exposto na questão (HC 68904/SP, j. 17/12/1991). 02. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens a seguir, é apresen- tada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Roberval foi definitivamente condenado pela prá- tica de crime punido com reclusão de um a três anos. Após o cumprimento de metade da pena a ele aplicada, adveio nova lei, que passou a punir o crime por ele pra- ticado com detenção de dois a quatro anos. Nessa situa- ção, a lei nova não se aplicará a Roberval, tendo em vista que sua condenação já havia transitado em julgado. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. Inicialmente, é necessário destacar que a aplicação de eventual lei benéfica ao autor de infração penal independe do trân- sito em julgado da sentença. Se, durante a execução de pena definitiva pela prática de determinado crime sobrevier lei reduzindo a reprimenda cominada, nova dosimetria deverá ser feita para adequar a execução penal à norma posterior mais favorável. No exemplo citado, ademais, a lei não retroage porque, não obstante tenha modificado a pena de reclusão para detenção, o que, para estabelecer o regime inicial de cumprimento, poderia eventualmente ser considerado benéfico, aumentou os limites mínimo e máximo abstratamente cominados, caracterizando-se, portanto, novatio legis in pejus, irretroativa. 03. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) Acerca dos crimes contra o meio ambiente e de lavagem de dinheiro, julgue os itens a seguir. Considere a seguinte situação hipotética. Ins- taurou-se inquérito policial contra Jorge, sendo ele indiciado pela prática de crime contra a flora (art. 46, parágrafo único, da Lei n.° 9.605, de 12/2/1998), por haver sido flagrado, em 23/9/1997, transportando uma partida de toras de madeira com uma autorização de transporte de produto florestal inválida. Por ocasião da infração penal, estava em vigor a Lei n.° 4.771/1965, que previa como mera contravenção penal o transporte de Direito Penal Rogério Sanches Rogério Sanches30 madeira sem licença válida. Nessa situação, em face do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, a Lei n.° 9.605/1998 não poderá ser aplicada. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. A nova lei que, de qualquer modo, prejudica o réu (lex gravior) é irre- troativa, devendo ser aplicada a lei vigente quando do tempo do fato. Trata-se de observância da lei ao prin- cípio da anterioridade, corolário do princípio da legali- dade. No exemplo citado, a lei não retroage porque o fato, tratado à época do cometimento como contraven- ção penal, era punido com prisão simples de três meses a um ano. Com a entrada em vigor da Lei nº 9.605/98, o art. 46 elevou a conduta à natureza criminal e estabe- leceu pena de detenção de seis meses a um ano. Vê-se, pois, que recrudesceu o tratamento antes conferido pela lei à conduta de transportar madeira sem licença válida, razão pela qual se aplica só a fatos cometidos a partir de 12 de fevereiro de 1998, quando entrou em vigor. 04. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) À luz dos direitos penal, processual penal e previdenciário, julgue os itens a seguir. Considere a seguinte situação hipotética. Pablo foi denunciado em dezembro de 1.999 pela prática de crime contra a seguridade social, consistente em deixar de recolher, na época própria, contribuição ou outra importância devida à seguridade social e arre- cadada dos segurados ou do público (art. 95, d, da Lei n.° 8.212/1991). Sabendo que o art. 3.° da Lei n.° 9.983, de 14/7/2000, revogou as alíneas do art. 95 da Lei n.° 8.212/91, acrescentando à Parte Especial do Código Penal (CP) o seguinte dispositivo: "Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhi- das dos contribuintes, no prazo e forma legal ou con- vencional", então, nessa situação, e de acordo com o STJ, ocorreu a abolitio criminis em favor de Pablo, que é causa de extinção da punibilidade. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva, pois, no exemplo citado, não houve abolitio criminis, mas tão somente a transferência da figura típica de um diploma legal para outro, no que se denomina princípio da continuidade normativo-típica. Mantém-se o caráter proibido da con- duta, porém com o deslocamento do conteúdo crimi- noso para outro tipo penal. A intenção do legislador, nesse caso, é de que a conduta permaneça criminosa. O ato de deixar de recolher, na época própria, contribui- ção ou outraimportância devida à seguridade social e arrecadada dos segurados ou do público não deixou de ser crime somente porque o art. 95 da Lei nº 8.212/91 foi revogado; embora com redação diversa, a conduta permaneceu criminosa, mas por meio do art. 168-A do Código Penal. 2. EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELA- ÇÃO ÀS PESSOAS 05. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) Em cada um dos itens subsequentes, é apresentada uma situação hipotética relativa à aplica- ção da lei penal no espaço, seguida de uma assertiva a ser julgada. Whesley, cônsul honorário no Brasil do país BBB, exasperou-se com a secretária no consulado daquela República por causa de um ex-namorado dela, tendo-a constrangido, mediante violência, a manter com ele conjunção carnal e cópula anal. Nessa situação, pelo fato de o autor dos eventos ser funcionário consular, aplicar-se-á a lei do país BBB. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. Não se deve con- fundir o agente diplomático com o agente consular. Os agentes consulares, em razão das suas funções mera- mente administrativas, não desfrutam de imunidade diplomática. A sua imunidade é restrita aos atos de ofí- cio, por isso chamada de imunidade funcional relativa. Dentro desse espírito, tratando-se de crime comum, será punido de acordo com a lei brasileira; já no caso de delito funcional, isto é, relacionado diretamente com a função consular (v.g fraude na concessão de passapor- tes), incide a imunidade. No exemplo citado no enun- ciado, em que houve crime de estupro (comum, por- tanto), o cônsul será punido na forma da lei brasileira. 3. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO 06. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens a seguir, é apresen- tada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Um cidadão sueco tentou matar o presidente do Brasil, que se encontrava em visita oficial à Suécia. Nessa hipótese, o crime praticado não ficará sujeito à lei bra- sileira. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva porque, nos ter- mos do art. 7º, inciso I, a, do Código Penal, ficam sujei- tos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República. Trata-se de uma hipótese de extraterritoria- lidade incondicionada, ou seja, a lei brasileira, para ser aplicada, não depende do preenchimento de nenhum requisito. Verificada a infração penal, aplica-se a lei bra- sileira, não importando se o autor foi absolvido ou con- denado no estrangeiro. Direito Penal 31 07. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) Em cada um dos itens subsequentes, é apresentada uma situação hipotética relativa à aplica- ção da lei penal no espaço, seguida de uma assertiva a ser julgada. Em águas territoriais do Brasil, a bordo de um navio mercante que ostentava a bandeira da Argentina, um brasileiro praticou um homicídio contra um argentino, ambos tripulantes da embarcação. Nessa situação, apli- car-se-á a lei penal argentina. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. De acordo com o art. 5º, § 2º, do Código Penal, a lei brasileira é aplicável a crimes cometidos a bordo de aeronaves ou embar- cações estrangeiras de propriedade privada que se acharem em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente ou em porto ou mar terri- torial do Brasil. No exemplo mencionado no enunciado, um brasileiro cometeu homicídio contra um argentino em embarcação privada que, embora ostentasse ban- deira estrangeira, navegava em águas territoriais brasi- leiras. Neste caso, aplica-se, pois, a lei brasileira. 08. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) Em cada um dos itens subsequentes, é apresentada uma situação hipotética relativa à aplica- ção da lei penal no espaço, seguida de uma assertiva a ser julgada. Em alto-mar, a bordo de uma embarcação de recreio que ostentava a bandeira do Brasil, Júlio prati- cou um crime de latrocínio contra Lauro. Nessa situação, aplicar-se-á a lei penal brasileira. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Considera-se extensão do território nacional, nos termos do art. 5º, § 1º, do Código Penal, as embarcações e as aeronaves brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, em alto mar ou no espaço aéreo correspondente. Por esta razão, o autor de latrocí- nio cometido a bordo de embarcação privada brasileira que navega em alto-mar será submetido à lei brasileira. 09. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) Em cada um dos itens subsequentes, é apresentada uma situação hipotética relativa à aplica- ção da lei penal no espaço, seguida de uma assertiva a ser julgada. Augusto, diplomata em serviço na embaixada do Brasil no país CCC, exigiu de alguns fornecedores estrangeiros a importância de US$ 1.200 para agilizar o pagamento de serviços prestados e de mercadorias adquiridas pela embaixada. Nessa situação, Augusto ficará sujeito à lei penal brasileira. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Nos termos do art. 7º, inc. I, 1º, c, do Código Penal, ficam sujeitos à lei bra- sileira os delitos cometidos no estrangeiro contra a administração pública por quem está a seu serviço. Se Augusto, diplomata na embaixada do Brasil em outro país, exigiu vantagem indevida de fornecedores estran- geiros que prestariam serviços e forneceriam mercado- rias à embaixada, cometeu delito de concussão e será processado de acordo com a lei brasileira. A aplicação, no caso, da nossa Lei, também pode ser fundamentada na imunidade diplomática. O diplomata que violar lei penal estrangeira fica sujeito ás consequências penais do seu país de origem. 4. TEORIA DO DELITO 10. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013) No que se refere à teoria geral do crime, julgue o pró- ximo item. Segundo a teoria causal, o dolo causalista é conhe- cido como dolo normativo, pelo fato de existir, nesse dolo, juntamente com os elementos volitivos e cogni- tivos, considerados psicológicos, elemento de natureza normativa (real ou potencial consciência sobre a ilici- tude do fato). |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Para a teoria neo- clássica (uma evolução dentro do próprio causalismo), o conceito analítico de crime é composto por três partes: fato típico, antijuridicidade e culpabilidade. É, portanto, tripartite. É somente no terceiro substrato do crime que se deve analisar, segundo o causalismo, o dolo ou culpa. A culpabilidade, conceituada como vínculo psíquico entre o autor e o resultado, seria composta de dois elementos: a imputabilidade e a culpabilidade dolosa ou a culpabilidade culposa. Já que a culpabilidade é o elemento valorativo do conceito de crime causalista, o dolo será denominado dolo normativo (em oposição aos finalistas, que adotarão o dolo natural). 5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 11. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) Em relação ao concurso de agentes, à desistência voluntária e ao arrependimento eficaz, bem como à cominação das penas, ao erro do tipo e, ainda, à teoria geral da culpabilidade, julgue os itens subsecu- tivos. No arrependimento eficaz, é irrelevante que o agente proceda “virtutis” amore ou “formidine poence”, ou por motivos subalternos, egoísticos, desde que não tenha sido obstado por causas exteriores independen- tes de sua vontade. Rogério Sanches32 |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Previsto no artigo 15, 2ª parte, do Código Penal, o arrependimento eficaz (arrependimento ativo ou resipiscência) ocorre quando os atos executórios já foram todos praticados, porém, o agente, decidindo recuar na atividade delituosa cor- rida, desenvolve nova conduta com o objetivo de impe- dir a produção do resultado (consumação). Para que se caracterize o arrependimento eficaz, contenta-se o legislador com a voluntariedade do agente, isto é, dis- pensa-se a espontaneidade, o que significaque o insti- tuto não se desnatura quando a decisão, livre de coação, sofre influência subjetiva externa. Da mesma forma, não se perscrutam os motivos que levaram o sujeito ativo a se arrepender; se o arrependimento, voluntário, for efi- caz para evitar a consumação, aplicam-se os efeitos do art. 15 do Código Penal. 12. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) Em cada item a seguir, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser jul- gada com base no direito penal. Três criminosos interceptaram um carro forte e dominaram os seguranças, reduzindo-lhes por com- pleto qualquer possibilidade de resistência, mediante grave ameaça e emprego de armamento de elevado calibre. O grupo, entretanto, encontrou vazio o cofre do veículo, pois, por erro de estratégia, efetuara a aborda- gem depois que os valores e documentos já haviam sido deixados na agência bancária. Por fim, os criminosos acabaram fugindo sem nada subtrair. Nessa situação, ante a inexistência de valores no veículo e ante a ausên- cia de subtração de bens, elementos constitutivos dos delitos patrimoniais, ficou descaracterizado o delito de roubo, subsistindo apenas o crime de constrangimento ilegal qualificado pelo concurso de pessoas e emprego de armas. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva, pois se carac- teriza, no caso, o crime de roubo tentado. A ocasional inexistência de valores em poder da vítima de assalto, inviabilizando a consumação, traduz caso de improprie- dade relativa do objeto, o que caracteriza a tentativa, e não a figura do crime impossível. Neste sentido: “Nos termos da jurisprudência desta Corte, ainda que não exista nenhum bem com a vítima, o crime de roubo, por ser delito complexo, tem iniciada sua execução quando o agente, visando a subtração de coisa alheia móvel, realiza o núcleo da conduta meio (constrangimento ile- gal/lesão corporal ou vias de fato), ainda que não con- siga atingir o crime fim (subtração da coisa almejada)” (STJ – REsp 1340747/RJ, j. 13/05/2014). 6. ERRO 13. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens seguintes, é apre- sentada uma situação hipotética, seguida de uma asser- tiva a ser julgada. O médico Caio, por negligência que consistiu em não perguntar ou pesquisar sobre eventual gravidez de paciente nessa condição, receita-lhe um medicamento que provocou o aborto. Nessa situação, Caio agiu em erro de tipo vencível, em que se exclui o dolo, ficando isento de pena, por não existir aborto culposo. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva, embora não se trate exatamente de “isenção de pena”, pois o erro de tipo incide na tipicidade, não na culpabilidade. O erro de tipo está previsto no artigo 20, caput, do Código Penal: “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime cul- poso, se previsto em lei”. Nesse caso, o agente ignora ou tem conhecimento equivocado da realidade. Cuida-se de ignorância ou erro que recai sobre as elementa- res, circunstâncias ou quaisquer dados que se agre- gam a determinada figura típica. O erro de tipo pode ser essencial ou acidental. No essencial, o erro recai sobre os dados principais do tipo penal, enquanto que no acidental recai sobre dados secundários. No pri- meiro, se avisado do erro, o agente para de agir crimino- samente; no segundo, o agente corrige os caminhos ou sentido da conduta e continua agindo de forma ilícita. As consequências do erro de tipo essencial, de que trata a questão, vão depender de ser ele inevitável ou evitá- vel: a) inevitável: também conhecido como justificável, escusável ou invencível, configura o erro imprevisível, excluindo o dolo (por não haver consciência) e culpa (pois ausente a previsibilidade); b) evitável: também conhecido como injustificável, inescusável ou vencível, cuida-se do erro previsível, só excluindo o dolo (por não existir consciência), mas punindo a culpa (se pre- vista como crime), pois havia possibilidade de o agente conhecer do perigo. No exemplo da questão, o médico não tinha conhecimento da realidade porque, ao recei- tar o medicamento potencialmente abortivo, ignorava que o fazia a uma gestante. Trata-se de um erro vencí- vel (ou evitável) porque o médico foi negligente ao não adotar as necessárias precauções que, na sua condição, eram exigíveis para evitar o resultado danoso (aborto). Nestas situações, o erro de tipo exclui o dolo, mas per- mite a punição por crime culposo se a lei penal assim determinar. Ocorre que, no caso do aborto, não se tipifica a forma culposa, razão pela qual o médico não sofrerá punição criminal. 7. EXCLUSÃO DA ILICITUDE 14. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens. Direito Penal 33 Considere que João, maior e capaz, após ser agre- dido fisicamente por um desconhecido, também maior e capaz, comece a bater, moderadamente, na cabeça do agressor com um guarda-chuva e continue desferindo nele vários golpes, mesmo estando o desconhecido desacordado. Nessa situação hipotética, João incorre em excesso intensivo. |COMENTÁRIOS|. Errado. Assumindo que a agressão contra João tenha sido injusta, sua reação moderada, para dela se afastar, poderia ser abarcada pela legítima defesa. Se, no entanto, após iniciar sua defesa de forma legítima João se excedeu e continuou a agredir aquele que o ata- cou mesmo após este indivíduo perder a consciência, há o que a doutrina denomina excesso extensivo, conceitu- ado como aquele em que o agente inicia sua conduta sob os efeitos da descriminante e, cessada esta situação, continua a atuar. O excesso pode ser doloso ou culposo. Utilizando o mesmo exemplo do enunciado, se João efetivamente pretendia prolongar sua agressão contra o indivíduo que o atacou, responderia por lesão corpo- ral dolosa ou por homicídio doloso, conforme o resul- tado de sua conduta. Se, por outro lado, prolongou sua agressão por não ter observado os cuidados necessários para simplesmente se defender, responderia, conforme o caso, por lesão corporal culposa ou por homicídio culposo. O excesso intensivo, mencionado na asser- tiva, é aquele em que não se verificam, efetivamente, os requisitos da descriminante na conduta do agente. Segundo parte da doutrina, não se trata, na verdade, de excesso, pois, se não estavam presentes os requisitos da descriminante, é impossível que nela o sujeito tenha se excedido. 15. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens. Ocorre legítima defesa sucessiva, na hipótese de legítima defesa real contra legítima defesa putativa. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. É sabido que a legítima defesa pressupõe agressão injusta, razão por que não é possível duas pessoas, simultaneamente, agirem, uma contra a outra, na legítima defesa de seu interesse. Nada impede, no entanto, que o originário injusto agressor repila o excesso cometido por aquele que se defendia de sua injusta agressão. Esta é a legí- tima defesa sucessiva: o agressor se vê obrigado a se defender do excesso (abuso) dos meios defensivos utili- zados pelo agredido. 16. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens a seguir, é apresen- tada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Para prenderem em flagrante pessoa acusada de homicídio, policiais invadiram uma residência em que entrara o acusado, danificando a porta de entrada e sem mandado de busca e apreensão. Nessa situação, os policiais não responderão pelo crime de dano, pois agi- ram em estrito cumprimento do dever legal, que é causa excludente da ilicitude. |COMENTÁRIOS|. Nota do autor: as descriminantes estão des- critas principalmente na Parte Geral do Código Penal, mais precisamenteno artigo 23. Entretanto, é possível encontrar causas de exclusão de ilicitude na Parte Espe- cial do Código, como se percebe no artigo 128, que trata das hipóteses de aborto autorizadas pela lei. Neste caso, estamos diante de uma “descriminante especial”. Nada impede, de igual modo, que a legislação penal extra- vagante preveja hipóteses justificantes, como faz, por exemplo, a Lei nº 9.605/98. Certo. Está correta a assertiva. Os agentes públi- cos, no desempenho de suas atividades, muitas vezes, devem agir interferindo na esfera privada dos cidadãos, exatamente para assegurar o cumprimento da lei (em sentido lato). Essa intervenção pode redundar em agres- são a bens jurídicos. Dentro de limites aceitáveis, tal intervenção é justificada pelo estrito cumprimento do dever legal. É o caso do exemplo mencionado no enun- ciado, em que não haveria crime de dano ou mesmo, antes ainda, violação de domicílio. Para Zaffaroni, a conduta dos policiais, no problema proposto, sequer é típica, criando a tese da tipicidade conglobante. A pro- posta da teoria da tipicidade conglobante é harmonizar os diversos ramos do Direito, partindo-se da premissa de unidade do ordenamento jurídico. É uma incoerên- cia o Direito Penal estabelecer proibição de comporta- mento determinado ou incentivado por outro ramo do Direito (isso é desordem jurídica). Dentro desse espírito, para se concluir pela tipicidade penal da conduta cau- sadora de um resultado, é imprescindível verificar não apenas a subsunção formal fato/tipo e a relevância da lesão ou perigo de lesão, mas também se o compor- tamento é antinormativo, leia-se, não determinado ou incentivado por qualquer ramo do Direito. Ex.: para Zaffaroni, o oficial de justiça, no cumprimento de uma ordem, ao executar a penhora e o sequestro de um qua- dro de propriedade de um devedor, apesar de presentes a tipicidade formal e a tipicidade material, não pratica fato típico, pois não existe tipicidade penal. O ato do ofi- cial não é antinormativo, mas normativo, determinado por lei. Não se pode admitir que na ordem normativa uma norma ordene o que outra proíbe. Da sua lição, conclui-se que a tipicidade conglobante tem como con- sequência a transferência do estrito cumprimento de um dever legal e do exercício regular de direito incenti- vado da ilicitude para a tipicidade, servindo como suas causas de exclusão. Rogério Sanches34 8. CULPABILIDADE 17. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013) Considerando a distinção doutrinária entre culpabili- dade de ato e culpabilidade de autor, julgue o seguinte item. Tratando-se de culpabilidade pelo fato individual, o juízo de culpabilidade se amplia à total personalidade do autor e a seu desenvolvimento. |COMENTÁRIOS|. Nota do autor: a posição da culpabilidade na estrutura do crime (conceito analítico) depende da corrente que se adota. Para a corrente bipartite, a cul- pabilidade não integra o crime. O crime existe com os requisitos “fato típico” e “ilicitude”, mas só será ligado ao agente se este for culpável. Dentro desse espírito, a cul- pabilidade é pressuposto da pena, juízo de reprovação e censurabilidade. Assim entendem Julio Fabbrini Mira- bete e Damásio de Jesus. Já para a corrente tripartite, a culpabilidade aparece como o terceiro substrato do crime. Trata-se de juízo de reprovação. A tipicidade, ili- citude e a culpabilidade são pressupostos de aplicação da pena e, portanto, elementos constitutivos do crime. Errado. Está errada a assertiva. Ao tratar da cul- pabilidade, Rogério Greco ensina que, apesar da adoção de um moderado direito penal do fato, é possível distin- guir-se culpabilidade de ato e culpabilidade de autor: “A culpabilidade do ato seria a reprovação do homem por aquilo que ele fez, considerando-se a sua capacidade de autodeterminação; já na culpabilidade do autor, o que se reprova é o homem como ele é, e não aquilo que fez”. Conclui o autor, com amparo em Hans-Hein- rich Jescheck, que o mais adequado é a união de ambas as concepções: “O núcleo do conceito de culpabilidade somente pode ser a culpabilidade pelo fato individual, mas o Direito Penal deve ter em conta também muitas vezes a culpabilidade do autor” (Curso de Direito Penal – Parte Geral, p. 383). 18. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Com relação à parte geral do direito penal, julgue os seguintes itens. O sujeito ativo que pratica crime em face de embria- guez voluntária ou culposa responde pelo crime prati- cado. Adota-se, no caso, a teoria da conditio sine qua non para se imputar ao sujeito ativo a responsabilidade penal. |COMENTÁRIOS|. Nota do autor: embriaguez é a intoxicação transitória causada pelo álcool ou substância de efei- tos análogos. Temos embriaguez voluntária quando o agente ingere a substância alcoólica com a intenção de embriagar-se; surge a embriaguez culposa quando o agente, por negligência ou imprudência, acaba por embriagar-se. Pode ser completa (retirando do agente, no momento da conduta, a capacidade de entendi- mento e autodeterminação) ou incompleta (dimi- nuindo a capacidade de entendimento e autodetermi- nação). Seguindo a orientação do nosso Código Penal, a embriaguez não acidental jamais exclui a imputabili- dade (art. 28, II), seja ela completa ou incompleta. Errado. Está errada a assertiva, pois a conditio sine qua non é teoria concernente à relação de causa- lidade. A teoria que fundamenta a punição do agente no caso de embriaguez voluntária ou culposa é a actio libera in causa. Em resumo, o ato transitório revestido de inconsciência (momento do crime, em que o agente se encontra embriagado) decorre de ato antecedente que foi livre na vontade (momento de ingestão da bebida ou substância análoga), transferindo-se para esse momento anterior a constatação da imputabilidade e da voluntariedade. A constatação da imputabilidade + vontade do agente no momento em que ingeria a bebida evita a responsabilidade penal objetiva: se bebeu prevendo o resultado, querendo a sua produção, haverá crime doloso; se bebeu, prevendo o resultado, e aceitou sua produção, temos o dolo eventual; se bebeu e previu o resultado, o qual acreditou poder evitar, con- figura-se a culpa consciente; se não previu, mas era pre- visível, culpa inconsciente; se imprevisível, fato atípico. 19. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) Em cada um dos itens que se seguem, é apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Dimas, psicopata com interdição decretada, matou Jair, fato esse presenciado por um agente de polícia. Nessa situação, o agente de polícia deverá efetuar a pri- são de Dimas, em face do flagrante próprio. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Inicialmente, des- taca-se que se trata, efetivamente, de flagrante pró- prio, pois o agente foi surpreendido no momento em que cometia o delito (art. 302, inciso I, do Código de Processo Penal). Pode ser efetuada a prisão, ademais, porque o fato de Dimas ter sido interditado civilmente não acarreta, necessariamente, a inimputabilidade. Para que se declare o agente inimputável é necessário que, no processo penal, seja ele submetido a perícia que constate a incapacidade de entendimento e de deter- minação, no momento da ação delituosa, em razão de doença mental ou de desenvolvimento mental incom- pleto ou retardado. Deve ser ressaltado, além disso, que psicopatia não é doença mental, mas transtorno de per- sonalidade que, portanto, não retira do agente, por si só, a capacidade de entendimento e de determinação. Direito Penal 35 9. EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE 20. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) Em relação ao concurso de agentes, à desistência voluntária e ao arrependimento eficaz, bem como à cominação das penas, ao erro do tipo e, ainda, à teoria geral da culpabilidade, julgue os itens subsecu- tivos. De acordo com a teoria extremada da culpabili- dade, o erro sobreos pressupostos fáticos das causas descriminantes consiste em erro de tipo permissivo. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. De acordo com a teoria extremada (ou estrita) da culpabilidade, o erro sobre os pressupostos fáticos das causas de justifica- ção deve ser tratado como erro de proibição (indireto ou erro de permissão). Justificam que o art. 20, § 1º, do CP, em se tratando de erro inevitável, não exclui dolo ou culpa (como exige o erro e tipo), mas isenta o agente de pena (como manda o erro de proibição). Elimina, nessa hipótese (erro escusável), a culpabilidade do sujeito que sabe exatamente o que faz (no nosso exemplo, “matar alguém”). É para a teoria limitada da culpabilidade que a descriminante putativa sobre pressupostos da situa- ção fática tem a mesma natureza do erro de tipo (art. 20 do CP). Se inevitável, além do dolo, exclui a culpa (isentando o agente de pena); se evitável, exclui o dolo, mas não isenta o agente de pena, subsistindo o crime culposo quando previsto em lei (culpa imprópria). 10. CONCURSO DE PESSOAS 21. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) Em relação ao concurso de agentes, à desistência voluntária e ao arrependimento eficaz, bem como à cominação das penas, ao erro do tipo e, ainda, à teoria geral da culpabilidade, julgue os itens subsecu- tivos. Configura autoria por convicção o fato de uma mãe, por convicção religiosa, não permitir a realização de transfusão de sangue indicada por equipe médica para salvar a vida de sua filha, mesmo ciente da imprescindi- bilidade desse procedimento. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Há autoria por convicção quando o agente, conhecedor da norma, des- cumpre-a por razões de consciência religiosa, filosófica, política. No exemplo citado, há autoria por convicção porque a mãe tinha consciência tanto de sua obrigação de cuidado (tanto que submeteu a filha aos cuidados médicos) quanto da imprescindibilidade do procedi- mento para evitar a morte, mas, por razões de ordem religiosa, se recusou a permiti-lo. O STJ já decidiu, em situação desta natureza, que os pais não deveriam res- ponder por homicídio: “Na espécie, como já assinalado nos votos vencidos, proferidos na origem, em sede de recurso em sentido estrito e embargos infringentes, tem-se como decisivo, para o desate da responsabiliza- ção criminal, a aferição do relevo do consentimento dos pacientes para o advento do resultado tido como deli- tivo. Em verdade, como inexistem direitos absolutos em nossa ordem constitucional, de igual forma a liberdade religiosa também se sujeita ao concerto axiológico, acomodando-se diante das demais condicionantes valorativas. Desta maneira, no caso em foco, ter-se-ia que aquilatar, a fim de bem se equacionar a expressão penal da conduta dos envolvidos, em que medida teria impacto a manifestação de vontade, religiosamente inspirada, dos pacientes. No juízo de ponderação, o peso dos bens jurídicos, de um lado, a vida e o superior interesse do adolescente, que ainda não teria discer- nimento suficiente (ao menos em termos legais) para deliberar sobre os rumos de seu tratamento médico, sobrepairam sobre, de outro lado, a convicção religiosa dos pais, que teriam se manifestado contrariamente à transfusão de sangue. Nesse panorama, tem-se como inócua a negativa de concordância para a providência terapêutica, agigantando-se, ademais, a omissão do hospital, que, entendendo que seria imperiosa a inter- venção, deveria, independentemente de qualquer posi- ção dos pais, ter avançado pelo tratamento que enten- diam ser o imprescindível para evitar a morte. Portanto, não há falar em tipicidade da conduta dos pais que, tendo levado sua filha para o hospital, mostrando que com ela se preocupavam, por convicção religiosa, não ofereceram consentimento para transfusão de sangue – pois, tal manifestação era indiferente para os médicos, que, nesse cenário, tinham o dever de salvar a vida. Con- tudo, os médicos do hospital, crendo que se tratava de medida indispensável para se evitar a morte, não pode- riam privar a adolescente de qualquer procedimento, mas, antes, a eles cumpria avançar no cumprimento de seu dever profissional” (HC 268.459/SP, j. 28/10/2014). 22. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens a seguir, é apresen- tada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Júlio e Lúcio combinaram entre si a prática de crime de furto, ficando ajustado que aquele aguardaria no carro para assegurar a fuga e este entraria na residência — que, segundo pensavam, estaria vazia — para sub- trair as joias de um cofre. Ao entrar na residência, Lúcio verificou que um morador estava presente. Lúcio, que tinha ido armado sem avisar Júlio, matou o morador para assegurar a prática do crime. Depois de fugirem, Júlio e Lúcio dividiram as joias subtraídas. Nessa situ- ação, Júlio responderá pelo crime de furto, enquanto Lúcio responderá pelo crime de roubo. |COMENTÁRIOS|. Nota do autor: define-se o concurso de agen- tes como a reunião de uma pluralidade de pessoas com o objetivo de concorrer para a prática de determinado Rogério Sanches36 crime. Trata-se do chamado “concursus delinquentium”, que se distingue do denominado “concursus delicto- rum”, hipótese em que se observa a imputação de vários delitos a um único sujeito ativo. Certo. Está correta a assertiva, que trata da deno- minada cooperação dolosamente distinta, desvio subje- tivo de condutas ou desvio entre os agentes em que um dos concorrentes do crime pretendia integrar ação cri- minosa menos grave do que aquela efetivamente prati- cada. Neste caso, ser-lhe-á aplicada a pena do crime que pretendia cometer, aumentada até metade na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (o que não parece ser o caso do exemplo, em que Júlio sequer sabia que Lúcio estava armado). 23. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Com relação à parte geral do direito penal, julgue os seguintes itens. De acordo com o sistema adotado pelo Código Penal, é possível impor aos partícipes da mesma ativi- dade delituosa penas de intensidades desiguais. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. A teoria ado- tada pelo Código Penal no concurso de pessoas foi a monista, estabelecendo-se a existência de apenas um crime e a responsabilidade de todos os que concorrem para a sua prática. O artigo 29 do Código Penal, toda- via, em sua parte final, faz uma ressalva no sentido de que todos incidem nas penas cominadas ao crime “na medida de sua culpabilidade”. É certo que a adoção da teoria monista representa um princípio de justiça, pois impõe imputação equivalente a todos os que concor- reram para o mesmo fato. A menção à culpabilidade constitui um plus, possibilitando, no momento da apli- cação da pena, a justa punição pela conduta criminosa, analisando-se o concurso de pessoas à luz do dolo e da culpa, bem como da censurabilidade da conduta. É com base na culpabilidade, aliás, que os parágrafos do art. 29 trazem algumas exceções ao caput ao tratarem da participação de menor importância e da cooperação dolosamente distinta. 11. PENA DE MULTA 24. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013) A respeito da pena pecuniária, julgue o item abaixo. A multa aplicada cumulativamente com a pena de reclusão pode ser executada em face do espólio, quando o réu vem a óbito no curso da execução da pena, respeitando-se o limite das forças da herança. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. O art. 5º, inciso XLV da Constituição Federal estabelece o princípio da intransmissibilidade das penas, que, em caráter abso- luto, dispõe que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. A penade multa, embora atualmente executada como dívida de valor, mantém seu caráter penal e, por isso, uma vez morto o agente, extingue-se a punibilidade sem a pos- sibilidade de que a cobrança recaia nos herdeiros, ainda que respeitados os limites da herança. 12. EFEITOS DA CONDENAÇÃO 25. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013) Em relação aos efeitos da condenação, julgue o item que se segue. Considere que uma mulher, maior e capaz, chegue a casa, logo após ter sido demitida, e, nervosa, agrida, injustificada e intencionalmente, seu filho de dois anos de idade, causando-lhe lesões corporais de natureza leve. Nessa situação hipotética, caso essa mulher seja condenada pela referida agressão após o devido pro- cesso legal, não caberá, como efeito da condenação, a decretação de sua incapacidade para o exercício do poder familiar, nos termos do CP. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. É efeito específico da condenação a incapacidade do condenado para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela (art. 92, II, do CP). A incidência desse efeito, no entanto, pressupõe agente condenado definitivamente por crime doloso, punido com reclusão (não importando o quantum), pra- ticado contra filho, tutelado ou curatelado. No exemplo citado, embora a mulher tenha sido condenada por cometer lesão corporal contra seu filho, este delito é punido com detenção tanto na forma básica do caput do art. 129 do Código Penal quanto na forma qualificada do § 9º do mesmo dispositivo, que, pensamos, seria a subsunção mais adequada à conduta. 13. PRESCRIÇÃO 26. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens. Suponha que determinada sentença condenató- ria, com pena de dez anos de reclusão, imposta ao réu, tenha sido recebida em termo próprio, em cartório, pelo escrivão, em 13/8/2011 e publicada no órgão oficial em 17/8/2011, e que tenha sido o réu intimado, pesso- almente, em 20/8/2011, e a defensoria pública e o MP intimados, pessoalmente, em 19/8/2011. Nessa situação hipotética, a interrupção do curso da prescrição ocorreu em 17/8/2011. Direito Penal 37 |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. A publicação da sentença condenatória recorrível interrompe o prazo prescricional, ainda que total ou parcialmente refor- mada pelo Tribunal. “Publicação” não deve ser con- fundida com divulgação na imprensa oficial, sendo compreendida nos termos do artigo 389 do Código de Processo Penal: “A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo, registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim”. Desse modo, considera-se publicada a sentença quando o escrivão procede à juntada desta aos autos – na sentença ou acórdão proferidos na própria audiên- cia ou sessão, a publicação ocorre neste ato (STJ: “Para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se refere o art. 117, IV, do CP, conside- ra-se como publicado o “acórdão condenatório recorrí- vel” na data da sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação no Diário da Justiça ou em meio de comunicação congênere” (HC 233.594, Sexta Turma, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira, j. 16/04/2013). 27. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens. Considere que Jorge, Carlos e Antônio sejam con- denados, definitivamente, a uma mesma pena, por terem praticado, em coautoria, o crime de roubo. Nessa situação, incidindo a interrupção da prescrição da pre- tensão executória da referida pena em relação a Jorge, essa interrupção não produzirá efeitos em relação aos demais coautores. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está errada a assertiva, pois, por expressa disposição do art. 117, § 1º, do Código Penal, a inter- rupção do prazo da prescrição executória não produz efeitos sobre todos os agentes. A extensão dos efeitos da interrupção ocorre pelo recebimento da denúncia ou da queixa, pela pronúncia, pela decisão confirmatória da pronúncia e pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis. 28. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) No que se refere às causas de exclusão de ilicitude e à prescrição, julgue os seguintes itens. A detração é considerada para efeito da prescrição da pretensão punitiva, não se estendendo aos cálculos relativos à prescrição da pretensão executória. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. Os tribunais supe- riores têm vedado, quando da interpretação do artigo 113 do Código Penal, a sua ampliação para permitir o cômputo do tempo de prisão provisória (detração) no cálculo do prazo prescricional. Nesse sentido, entende o STF: “A prescrição regulada pela pena residual (CP, art. 113) não admite o cômputo do tempo de prisão provi- sória e só abrange as hipóteses de evasão do conde- nado ou revogação do livramento condicional. O prazo de prescrição da pretensão executória é o previsto no art. 110, caput, do Código Penal, ou seja, calcula-se com base na pena aplicada. A detração (CP, art. 42) é feita quando do cumprimento da pena” (RHC 84.177/SP, Dj 20/08/2004). No STJ, confira-se: “O período de prisão provisória somente é levado em conta para o desconto da pena a ser cumprida, sendo irrelevante para fins de conta- gem do prazo prescricional, ressaltando-se que o cálculo aplicado em decorrência do contido no art. 113 do Estatuto Repressivo somente incide nas hipóteses de evasão do ape- nado ou de revogação do livramento condicional, que não é o caso dos autos. Precedentes" (EDcl no AgRg no REsp 1.564.309/MS, j. 24/04/2018). 14. LESÃO CORPORAL 29. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens a seguir, é apresen- tada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Como forma de punir um ex-membro de sua qua- drilha que o havia delatado à polícia, um traficante de drogas espancou um irmão do delator, em plena rua, quando ele voltava do trabalho para casa. Nessa situa- ção, o referido traficante praticou crime de tortura. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. Trata-se do crime de lesão corporal, em que se pune a conduta de ofen- der, direta ou indiretamente, a integridade corporal ou a saúde de outrem, quer causando uma enfermi- dade, quer agravando a que já existe. Para que o ato de “punição” fosse tratado como tortura, a vítima haveria de estar sob guarda, poder ou autoridade do agente e, nessa condição, ter sido submetida, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal. Não é, evidentemente, o que ocorre no exemplo citado. 15. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO 30. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) Com relação aos crimes previstos no CP, julgue os itens que se seguem. O delito de sequestro e cárcere privado, inserido entre os crimes contra a pessoa, constitui infração penal de ação múltipla, e a circunstância de ter sido prati- cado contra menor de dezoito anos de idade qualifica o crime. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. O crime de sequestro ou cárcere privado é de ação única, pois o art. 148 do Código Penal traz somente uma ação nuclear típica: privar. Em tempo, a distinção entre ambas as for- Rogério Sanches38 mas de privar a liberdade de alguém traz certa confu- são. Aníbal Bruno explica: “De dois modos se pode exer- cer sobre a vítima essa privação da liberdade que con- siste em anular ou reduzir a sua capacidade de mover- -se livremente de um para outro lugar: o sequestro e o cárcere privado. O sequestro é a forma geral dessa espécie punível, da qual o cárcere privado é um modo particular da execução, que se distingue porque nele a detenção da vítima se faz em recinto fechado, dentro de um aposento, no interiorde uma casa, donde não lhe é permitido sair. O sequestro executa-se por qualquer modo que consista em pôr o indivíduo em situação de não poder locomover-se livremente. A vítima pode ficar estritamente presa, atada a um tronco, amarrada de pés e mãos, retida dentro de um aposento isolado” (Crimes contra a pessoa, p. 358-359). 16. EXTORSÃO 31. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens a seguir, é apresen- tada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada. Túlio constrangeu Wagner, mediante emprego de arma de fogo, a assinar e lhe entregar dois cheques seus, um no valor de R$ 1.000,00 e outro no valor de R$ 2.500,00. Nessa situação, Túlio praticou crime de roubo qualificado pelo emprego de arma de fogo. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva. Se Túlio constran- geu Wagner, com emprego de arma de fogo, a assinar e a lhe entregar dois cheques, sua conduta se subsume ao art. 158 do Código Penal, que tipifica a extorsão. A conduta do crime de extorsão reside no verbo nuclear constranger, isto é, obrigar, coagir alguém a fazer algo, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa, o que se dá mediante violência (física) ou grave ameaça. Tratando-se de extorsão cometida com o emprego de arma de fogo, a pena é aumentada de um terço até a metade. Assim como ocorre no crime de roubo, o subs- tantivo arma gera controvérsia na doutrina. Para uns, a expressão abrange somente os objetos produzidos (e destinados) com a finalidade bélica (ex.: arma de fogo). Outros, realizando interpretação extensiva, compreen- dem também os objetos confeccionados sem finalidade bélica, porém capazes de intimidar, ferir o próximo (ex.: faca de cozinha, navalha, foice, tesoura, guarda-chuva, pedra etc.). Prevalece na doutrina e jurisprudência o sentido amplo, abrangendo as duas acepções (todo o objeto ou utensílio que sirva para matar, ferir ou ame- açar, seja qual for a forma ou o seu destino principal). Com o advento da Lei 13.654/18, percebe-se uma discrepância: no roubo, para haver o aumento de pena pelo emprego de arma, a arma deve ser de fogo. O legis- lador alterou a majorante do roubo, mas não o fez na extorsão, em que continua sendo suficiente, para gerar o aumento, o emprego de arma em sentido amplo. 17. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUES- TRO 32. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2004 – Adaptada) Em cada um dos itens seguintes, é apre- sentada uma situação hipotética, seguida de uma asser- tiva a ser julgada. Rômulo sequestrou Lúcio, exigindo de sua família o pagamento de R$ 100.000,00 como resgate. Nessa situação, o crime de extorsão mediante sequestro prati- cado por Rômulo é considerado crime habitual. |COMENTÁRIOS|. Errado. Está errada a assertiva, pois a extorsão mediante sequestro é crime permanente, em que a exe- cução se protrai no tempo por determinação do sujeito ativo. Não se confunde com crime habitual, aquele que se configura mediante a reiteração de atos, ou seja, repetição da conduta que revele ser aquela atividade um procedimento costumeiro por parte do agente. 33. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) Acerca dos crimes contra o patrimônio e a administração pública, julgue os itens abaixo. Considere a seguinte situação hipotética. Sílvio interceptou o veículo de Mariana e, mediante grave ameaça exercida com o emprego de um revólver, pri- vou-a de sua liberdade de locomoção. O fato ocorreu em Brasília – DF. Oito horas após a abordagem, Sílvio entrou em contato com a família de Mariana e exigiu como con- dição para libertá-la a importância de R$ 150.000,00 em dinheiro, a ser entregue na cidade de Goiânia – GO. No dia seguinte, enquanto Mariana permaneceu no cati- veiro em Brasília, Sílvio deslocou-se até a cidade de Goi- ânia, onde foi preso em flagrante no momento em que iria receber o dinheiro do resgate. Nessa situação, Sílvio responderá pelo crime de extorsão mediante sequestro, na forma consumada. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. O crime de extor- são mediante sequestro é formal, consumando-se com a privação da liberdade da vítima, configurando o rece- bimento do resgate mero exaurimento, a ser conside- rando pelo magistrado na dosagem da pena (nesse sen- tido: STF, informativo 27). No exemplo do enunciado, a vítima estava privada de sua liberdade há horas e houve a exigência do resgate. Mesmo que o agente não tenha conseguido receber aquela importância, o delito já estava consumado. 18. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVI- DENCIÁRIA 34. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) À luz dos direitos penal, processual penal e previdenciário, julgue os itens a seguir. Direito Penal 39 Considere a seguinte situação hipotética. Flávio dei- xou de recolher contribuições por ele devidas à seguri- dade social, que integraram custos relativos à venda de produtos. Antes do início de qualquer ação fiscal e do oferecimento de denúncia, Flávio, espontaneamente, declarou e confessou, perante a autarquia previdenci- ária, os valores não-repassados, efetuando o integral pagamento das contribuições apropriadas e prestando as informações devidas. Nessa situação, o juiz deverá declarar a extinção da punibilidade. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Há, no exemplo citado, o crime do art. 168-A, § 1º, inciso II, do Código Penal, em que o contribuinte (empresário) contabiliza no preço final do produto que comercializa o valor da con- tribuição devida em razão da manutenção de funcioná- rios, não promovendo, porém, o devido recolhimento. Assim procedendo, o agente obtém dupla vantagem, pois “recupera” no momento da venda do seu produto um montante que nem mesmo chegou a ser escritu- rado como despesa. Há de se ressaltar, no entanto, que a extinção da punibilidade pelo pagamento não segue, atualmente, o texto expresso do art. 168-A, § 2º, do Código Penal. De acordo com a orientação adotada pelo STF (HC 85.452/SP), em razão do disposto no art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/03, o pagamento de tributo realizado a qualquer tempo gera a extinção da punibilidade. Note- -se que não se confunde esta situação com o parcela- mento do débito, que, segundo o disposto no art. 83 da Lei nº 9.430/96, com redação dada pela Lei nº 12.382/11, somente suspende a pretensão punitiva se o pedido tiver sido formalizado antes do recebimento da denún- cia. Cumprido este requisito, se efetuado o pagamento integral dos débitos oriundos dos tributos e acessórios que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento, extingue-se a punibilidade. De acordo com o STF, convi- vem ambos os dispositivos legais (HC 116.828/SP). 19. ESTELIONATO 35. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2013 – Adaptada) Com relação aos crimes previstos no CP, julgue os itens que se seguem. No estelionato perpetrado em detrimento de enti- dade de direito público, admite-se a incidência da figura privilegiada (pequeno valor do prejuízo) por ser circuns- tância de natureza objetiva. |COMENTÁRIOS|. Anulada. No gabarito preliminar, a assertiva havia sido considerada incorreta. Ocorre que, como a própria organizadora do concurso apontou posteriormente, o Supremo Tribunal Federal já decidiu pela possibilidade de aplicar o privilégio referente ao pequeno valor do prejuízo no estelionato majorado na forma do art. 171, § 3º, do Código Penal, em procedimento análogo àquele já amplamente adotado para o privilégio no furto quali- ficado: “ Crime cometido em detrimento de entidade de direito público. Estelionato qualificado (CP, art. 171, § 3º). Prejuízo de pequeno valor. Privilégio reconhecido (CP, art. 171, § 1º), mesmo cuidando-se de delito qualificado. Analogia ao privilégio aplicável ao crime de furto de bem de pequeno valor (CP, art. 155, § 2º). Precedentes desta Corte” (AP 481/PA, j. 08/09/2011). 36. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002) Em cada um dos itens que se seguem, é apresentada uma situação hipotética,seguida de uma assertiva a ser julgada. Dorival alienou a Joaquim uma quitinete de que era proprietário, recebendo, no ato da lavratura da escritura de compra e venda, a importância de R$ 50.000,00 em dinheiro. Por estar passando por sérias dificuldades financeiras, Dorival, no mesmo dia, vendeu a mesma quitinete a Magda, recebendo, pela transação, a impor- tância de R$ 40.000,00. Magda dirigiu-se ao cartório de registro de imóveis e providenciou a transcrição da escritura de compra e venda. Joaquim, quando tentou registrar a sua escritura, verificou que tinha sido vítima de uma fraude e dirigiu-se à autoridade policial, apre- sentando uma delatio criminis. A autoridade policial instaurou inquérito policial e indiciou Dorival pela prá- tica do crime de estelionato, na modalidade de dispo- sição de coisa alheia como própria. Sabendo que, para ocorrer a aquisição da propriedade imóvel, é necessária a transcrição do título de transferência no registro de imóveis, então, nessa situação, Dorival não praticou a infração penal pela qual a autoridade policial o indiciou. |COMENTÁRIOS|. Certo. Está correta a assertiva. Para que se trans- mita a propriedade de bem imóvel, nos termos do art. 1.245 do Código Civil, é preciso que se providencie o registro do título translativo no Registro de Imóveis. Enquanto esta providência não é adotada, o alienante continua a figurar como dono do imóvel (§ 1º). No exemplo citado, portanto, em que Dorival alienou o bem a duas pessoas no mesmo dia, antes que a primeira efetuasse o registro, não há o crime de estelionato na modalidade de disposição de coisa alheia como própria, pois o imóvel, à luz do ordenamento jurídico, ainda era dele. Sua conduta se subsume, todavia, à forma básica do estelionato por ter obtido, para si, vantagem ilícita em prejuízo alheio, induzindo a erro os adquirentes ao lhes vender o mesmo imóvel como se estivesse livre e desembaraçado. 37. (Cespe – Delegado de Polícia Federal – DPF/2002 – Adaptada) À luz dos direitos penal, processual penal e previdenciário, julgue os itens a seguir. No caso de prática de crime de estelionato contra autarquia da previdência social, aplica-se a circunstân- cia especial de aumento prevista no CP, ou seja, a pena aumenta-se de um terço. Direito Penal 49 Direito Penal Rogério Sanches • O funcionalismo é um movimento da atualidade, uma corrente doutrinária que visa a analisar a real função do Direito Penal. Muito embora não haja pleno consenso acerca da sua teorização, sobres- saem-se dois segmentos importantes: o funciona- lismo teleológico e o funcionalismo sistêmico. Para o funcionalismo teleológico (ou moderado), que tem como maior expoente Claus Roxin, a fun- ção do Direito Penal é assegurar bens jurídicos, assim considerados aqueles valores indispensáveis à convivência harmônica em sociedade, valendo-se de medidas de política criminal. Já de acordo com o funcionalismo sistêmico (ou radical), defendido por Günther Jakobs, a função do Direito Penal é a de assegurar o império da norma, ou seja, resguar- dar o sistema, mostrando que o direito posto existe e não pode ser violado. Quando o Direito Penal é chamado a atuar, o bem jurídico protegido já foi violado, de modo que sua função primordial não pode ser a segurança de bens jurídicos, mas sim a garantia de validade do sistema. • A teoria garantista penal de Ferrajoli tem sua base fincada em dez axiomas ou implicações dêon- ticas que não expressam proposições assertivas, mas proposições prescritivas; não descrevem o que ocorre, mas prescrevem o que deva ocorrer; não enunciam as condições que um sistema penal efe- tivamente satisfaz, mas as que deva satisfazer em adesão aos seus princípios normativos internos e/ ou a parâmetros de justificação externa. Cada um dos axiomas do garantismo proposto por Luigi Fer- rajoli se relaciona com um princípio. Vejamos: ÉDICAS 1. NOÇÕES GERAIS DE DIREITO PENAL • Diferenças entre Direito Penal, Criminologia e Polí- tica Criminal: Direito penal Criminologia Política criminal Analisando os fatos humanos i n d e s e j a d o s , define quais devem ser rotu- lados como infra- ções penais, anun- ciando as respecti- vas sanções. Ciência empírica que estuda o crime, a pessoa do criminoso, da vítima e o com- portamento da sociedade. Trabalha as estra- tégias e meios de controle social da criminalidade. Se ocupa do crime enquanto norma Se ocupa do crime enquanto fato Se ocupa do crime enquanto valor • A “privatização” do direito penal é a expressão uti- lizada por parte da doutrina para destacar o (atual e crescente) papel da vítima no âmbito criminal. Depois de anos relegada ao segundo (ou terceiro) plano, passou a vítima a ter inúmeros institutos penais e processuais penais criados sob seu enfo- que, preponderando seu interesse sobre o punitivo do Estado. O dano causado pelo crime finalmente encontra-se na linha de ação do juízo criminal. Pare- ce-nos que o divisor de águas veio com a criação da Lei 9.099/95, prevendo uma etapa de composição civil entre os envolvidos no crime, acordo que, uma vez homologado, conduz à renúncia do direito de queixa ou representação (art. 74 da Lei dos Juizados Especiais. Axioma Princípio correlato Nulla poena sine crimine Princípio da retributividade ou da consequencialidade da pena em relação ao delito Nullum crimen sine lege Princípio da legalidade Nulla lex (poenalis) sine necessitate Princípio da necessidade ou da economia do direito penal Nulla necessitas sine injuria Princípio da lesividade ou da ofensividade do evento Nulla injuris sine acione Princípio da materialidade ou da exterioridade da ação Nulla actio sine culpa Princípio da culpabilidade Nulla culpa sine judicio Princípio da jurisdicionariedade Nullum judicio sine accusatione Princípio acusatório Nullum accusatio sine probatione Princípio do ônus da prova ou da verificação Nulla probatio sine defensione Princípio da defesa ou da falseabilidade Rogério Sanches50 2. FONTES DO DIREITO PENAL • A Constituição Federal situa-se no rol das fontes imediatas. Muito embora a lei detenha a exclusivi- dade no tocante à criação das infrações penais e das respectivas sanções, não se pode deixar de consta- tar que a Carta Magna nos revela direito penal, esta- belecendo alguns patamares abaixo dos quais a intervenção penal não se pode colocar. Esses pata- mares são verdadeiros mandados de criminalização, porque vinculam o legislador ordinário, reduzindo a sua margem de atuação para obrigá-lo a proteger (de forma suficiente/eficiente) certos temas (bens ou interesses). É o que ocorre, por exemplo, com o crime de racismo (art. 5º, XLII, CF/88), com os crimes hediondos e equiparados (art. 5º, XLIII, CF/88), com a ação de grupos armados contra a ordem constitu- cional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV, CF/88) e com os crimes ambientais (art. 225, § 3º, CF/88). • Flávio Monteiro de Barros, concordando com Luiz Vicente Cernichiaro, inclui também, como fonte mediata do Direito Penal, os atos administrativos. Observa ser comum à sua utilização nas chama- das normas penais em branco, servindo de com- plemento da conduta criminosa (art. 33 da Lei nº 11.343/06, em que se necessita de complemento para definir que substâncias podem ser definidas como drogas). • Importante esclarecer que os tratados e conven- ções não são instrumentos hábeis à criação de cri- mes ou cominação de penas para o direito interno (apenas para o direito internacional). Assim, antes do advento das Leis 12.694/12 e 12.850/13 (que defi- niram, sucessivamente, organização criminosa), o STF manifestou-se pela inadmissibilidade da utili- zação do conceito de organização criminosa dado pela Convenção de Palermo, trancando a ação penal que deu origem à impetração, em face da ati- picidade da conduta (HC nº 96007). • Qual a finalidade do costume no ordenamento jurídico-penal? Apesar de não possuir o condão de criar ou revogar crimes e sanções, o costumeé importantíssimo vetor de interpretação das normas penais. Em outras palavras, é possível o uso do cos- tume segundo a lei (secundum legem), atuando den- tro dos limites do tipo penal. Esse costume interpre- tativo possibilita a adequação do tipo às exigências éticas coletivas, v.g., como ocorre na definição do que seja repouso noturno, expressão constante do artigo 155, § 1º, do Código Penal. Neste caso, é evi- dente a importância do costume, já que, em gran- des centros urbanos, o período de descanso será diverso daquele observado em pequenas comuni- dades do interior. 3. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL • Resumo das formas de interpretação da lei penal: Interpretação quanto ao sujeito Interpretação quanto ao modo Interpretação quanto ao resultado Autêntica ou Legislativa Doutrinária Jurisprudencial Literal Teleológica Histórica Sistemática Progressiva Lógica Declarativa Restritiva Extensiva • Sobre a interpretação da lei penal, destaca-se a extensiva, mais precisamente, a discussão se pode (ou não) ser em prejuízo do réu. Lembremos que a interpretação extensiva se dá quando o intérprete amplia o significado de uma palavra para alcançar o real significado da norma. Para Nucci, é indiferente se a interpretação extensiva beneficia ou prejudica o réu, “pois a tarefa do intérprete é conferir aplica- ção lógica ao sistema normativo, evitando-se con- tradições e injustiças” (Manual de Direito Penal. 6ª ed. São Paulo: RT, 2009, p. 91-92). Luiz Regis Prado, partidário do mesmo entendimento, citando nosso Código Penal, dá alguns exemplos: “o art. 130 do Código Penal (perigo de contágio venéreo) inclui não só o perigo, mas também o próprio contágio de moléstia grave; no art. 168 (apropriação indébita), a expressão “coisa alheia” inclui a coisa comum; o art. 235 (bigamia) refere-se não apenas à bigamia, mas também à poligamia; o art. 260 (perigo de desastre ferroviário) envolve, além do serviço ferroviário, o serviço de metrô” (Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 1. 8ª ed. São Paulo: RT, 2008, p. 179). • A interpretação sui generis se subdivide em exofó- rica e endofórica, dependendo do conteúdo que complementará o sentido da norma interpretada. Exofórica ocorre quando o significado da norma interpretada não está no ordenamento normativo. A palavra “tipo”, por exemplo, presente no art. 20 do CP, tem seu significado extraído da doutrina (e não da lei). Será endofórica quando o texto norma- tivo interpretado toma de empréstimo o sentido de outros textos do próprio ordenamento, ainda que não sejam da mesma Lei. Esta espécie está presente na norma penal em branco (assunto que aprofun- damos no tópico princípio da legalidade). 4. TEORIA GERAL DA NORMA PENAL • Os princípios podem ser explícitos, positivados no ordenamento, ou implícitos, quando derivam daqueles expressamente previstos e que decorrem de interpretação sistemática de determinados dis- positivos. Como exemplo dos primeiros, temos o da individualização da pena, insculpido no artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal, do qual deriva, implicitamente, o da proporcionalidade, segundo o qual se deve estabelecer um equilíbrio entre a gravidade da infração praticada e a severidade da pena, seja em abstrato, seja em concreto. Direito Penal 51 • Quando se pensa em princípio da legalidade (art. 1º do CP), não basta a existência de lei que institua o crime e que comine a pena, sendo imprescindível a concorrência de outros subprincípios: a) lei ante- rior (praevia): é vedada a edição de leis incrimina- doras com aplicação retroativa. Uma vez em vigor, a lei somente poderá ser aplicada sobre fatos a ela supervenientes, e não sobre acontecimentos passa- dos, salvo se para beneficiar o agente; b) lei escrita (lex scripta): veda-se a utilização do direito consue- tudinário quando se trata de norma incriminadora; c) lei estrita (lex stricta): se a incriminação de deter- minado fato não foi prevista expressamente pelo legislador, é vedado ao intérprete aplicar a analogia para estender a abrangência de outra norma para punir ou agravar a pena do autor desse fato. O que se proíbe, portanto, é a analogia in malam partem, sendo possível se para beneficiar o réu; d) lei certa (lex certa): a lei penal não pode ser indeterminada, provida de conteúdo demasiadamente genérico e que dificulte sua interpretação, especialmente no que tange à conduta incriminada. • Não se confundem os princípios da responsabili- dade pessoal, da responsabilidade subjetiva e da culpabilidade: a) responsabilidade pessoal: proíbe- -se o castigo penal pelo fato de outrem, ainda que a pena seja estritamente pecuniária (pena de multa). Inexiste, portanto, responsabilidade penal coletiva no Direito Penal; b) princípio da responsabilidade subjetiva: não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, só podendo haver responsa- bilização se o fato foi querido, desejado, previsível; c) princípio da culpabilidade: postulado limitador do direito de punir. Assim, só pode o Estado punir agente imputável, com potencial consciência da ili- citude, quando dele exigível conduta diversa. • A proporcionalidade deve ser observada em dois momentos distintos: a) no plano abstrato: deve o legislador, ao tornar típico determinado fato, aten- tar-se para o liame existente entre a conduta e suas consequências, a fim de estabelecer a reprimenda em patamar adequado não somente à reparação pelo dano ao bem jurídico tutelado como também para atender integralmente às finalidades da pena; b) no plano concreto: não é só o legislador quem está obrigado a observar o princípio da proporcio- nalidade, mas também o julgador. Este, antes de estabelecer a reprimenda, deverá observar, dentro dos limites estabelecidos pela lei, as circunstâncias e as características da prática da infração penal, para, somente após, aplicá-la em concreto. Assim, por exemplo, deve ser mais severamente punido o agente que, num crime de roubo, emprega violên- cia, do que aquele que, nas mesmas circunstâncias, efetua a subtração somente mediante grave ame- aça. • De acordo com o Estatuto de Roma (Decreto nº 4.388/2002), podemos enumerar três consequ- ências extraídas do princípio da presunção de inocência: (A) Qualquer restrição à liberdade do investigado/acusado somente se admite após sua condenação definitiva, não evitando, porém, a prisão cautelar ao longo da persecução criminal, desde que imprescindível, exigindo-se adequada fundamentação; (B) Cumpre à acusação o dever de demonstrar a responsabilidade do réu, e não a este comprovar sua inocência (o ônus da prova incumbe sempre ao titular da ação penal); (C) A condenação deve derivar da certeza do julgador, sendo que eventual dúvida será interpretada em favor do réu (in dubio pro reo). • A lei penal em branco (própria ou imprópria) pode ser complementada por normas oriundas de ins- tâncias federativas diversas (Poderes Executivo ou Legislativo Federal, Estadual ou Municipal). O art. 63 da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), por exemplo, pune com reclusão, de 1 a 3 anos, e multa, “alterar aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial em razão de seu valor paisa- gístico, ecológico, turístico ou artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade com- petente ou em desacordo com a concedida”. Nestes casos, a lei ou ato administrativo criado para prote- ger a edificação pode ser municipal. • Da sucessão de leis no tempo podem advir cinco possibilidades: 1)novatio legis incriminadora: é irre- troativa; 2) novatio legis in pejus (lex gravior): também é irretroativa; 3) novatio legis in mellius (lex mitior): é retroativa; 4) lei intermediária: a lei intermediária (ou intermédia) é aquela que deverá ser aplicada porque benéfica ao réu, muito embora não fosse a lei vigente ao tempo do fato, tampouco seja a lei vigenteno momento do julgamento; 4) abolitio cri- minis: trata-se da revogação de um tipo penal pela superveniência de lei descriminalizadora e conse- quente extinção do jus puniendi (direito de punir) e jus punitionis (direito de executar a punição). • A lei penal não incriminadora pode ser dividida em: 1) permissiva justificante: a lei penal não incri- minadora que torna lícita determinadas condutas que, normalmente, estariam sujeitas à reprimenda estatal, como ocorre, por exemplo, com a legítima defesa; 2) permissiva exculpante: elimina a culpa- bilidade, como é o caso da embriaguez acidental completa; 3) explicativa ou interpretativa: desti- na-se a esclarecer o conteúdo da norma, como o artigo 327 do Código Penal, que trata do conceito de funcionário público para fins penais; 4) comple- mentar: que tem a função de delimitar a aplicação das leis incriminadoras, como ocorre com o artigo 5º do Código Penal, que dispõe sobre a aplicação da lei penal no território brasileiro; 5) lei penal de extensão ou integrativa: utilizada para viabilizar a tipicidade de alguns fatos, como fazem os artigos 14, II e o artigo 29 do Código Penal – a tentativa e a participação seriam condutas atípicas não fossem tais normas. Rogério Sanches136 • Há ainda outras condutas tipificadas na Lei nº 13.260/16: a) a promoção, constituição, integração ou presta- ção de auxílio, pessoalmente ou por interposta pes- soa, a organização terrorista (art. 3º). Organizações terroristas, segundo definição apresentada pela Lei nº 13.260/16 no art. 1º, § 2º, inciso II, da Lei nº 12.850/13, são aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. b) a realização de atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito (art. 5º). Pune-se neste caso a preparação da prepa- ração. Por exemplo: o agente é surpreendido fabri- cando um explosivo que será utilizado num ato de terrorismo. Pode ser punido com base no art. 5º em virtude de um ato que se encontra numa fase ainda anterior à que normalmente seria tratada como preparação (nesse contexto, aquela fase em que o agente efetivamente se dirige ao local do ato por- tando o explosivo). No mesmo art. 5º são tipificadas as condutas de recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade; e de fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade. c) as condutas de receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recur- sos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a prepa- ração ou a execução dos crimes previstos na Lei nº 13.260/16 (art. 6º). Punem-se também os atos de oferecer ou receber, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro, com a finalidade de financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, associa- ção, entidade, organização criminosa que tenha como atividade principal ou secundária, mesmo em caráter eventual, a prática dos crimes previstos na mesma Lei. Trata-se do crime mais grave tipificado nesta Lei, pois enseja reclusão de quinze a trinta anos, contra doze a trinta anos dos atos de terro- rismo. • De acordo com expressa disposição do art. 11 da Lei nº 13.260/16, os crimes de terrorismo são praticados contra o interesse da União. Por isso, a investigação é atribuição da Polícia Federal e a competência de julgamento é da Justiça Federal. • A Lei nº 13.260/16 manda aplicar aos crimes de terrorismo as técnicas de investigação e os meios extraordinários de obtenção de prova previstos na Lei 12.850/13 – organizações criminosas (art. 3o) – destacando-se: a) colaboração premiada; b) capta- ção ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; c) ação controlada; d) acesso a regis- tros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comer- ciais; e) interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica; f) afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; g) infil- tração, por policiais, em atividade de investigação; h) cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de pro- vas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal. É SÚMULAS DO SUPREMO TRIBU- NAL FEDERAL E DO SUPERIOR TRI- BUNAL DE JUSTIÇA 1. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO 1.1. STF • Súmula nº 711 – A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 1.2. STJ • Súmula nº 501 – É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidên- cia das suas disposições, na íntegra, seja mais favo- rável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. 2. EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELA- ÇÃO ÀS PESSOAS 2.1. STF • Súmula vinculante nº 45 – A competência consti- tucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusiva- mente pela constituição estadual. • Súmula nº 702 – A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau. • Súmula nº 451 – A competência especial por prer- rogativa de função não se estende ao crime come- tido após a cessação definitiva do exercício funcio- nal. 3. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 3.1. STF • Súmula nº 145 – Não há crime, quando a prepara- ção do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. Direito Penal 137 4. CONCURSO DE PESSOAS 4.1. STF • Súmula nº 245 – A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa. 5. APLICAÇÃO DA PENA 5.1. STF • Súmula nº 719 – A imposição do regime de cumpri- mento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea. • Súmula nº 718 – A opinião do julgador sobre a gra- vidade em abstrato do crime não constitui motiva- ção idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada. 5.2. STJ • Súmula nº 545 – Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal. • Súmula nº 493 – É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição especial ao regime aberto. • Súmula nº 444 – É vedada a utilização de inquéri- tos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. • Súmula nº 443 – O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstan- ciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes. • Súmula nº 442 – É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo. • Súmula nº 440 – Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime pri- sional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito. • Súmula nº 269 – É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais. • Súmula nº 241 – A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simul- taneamente, como circunstância judicial. • Súmula nº 231 – A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. • Súmula nº 171 – Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniá- ria, é
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